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“Ambiente: meio em que se vive.” Qualquer dicionário razoável lhe dará esta definição básica, podendo acrescentar “conjunto de coisas que nos cercam”. Já sabe que a Quero Saber existe para o ajudar a compreender melhor o mundo que nos rodeia – e foi assim que decidimos lançar a nossa primeira edição especial temática, dedicada ao Ambiente. São 212 páginas que continuarão a despertar a sua mente e a satisfazer a sua avidez por conhecimento. Surpreenda-se com a enorme quantidade e diversidade de factos e respostas incríveis à sua espera nesta “Especial Ambiente”: a compilação de artigos que tem nas mãos cobre os mais diversos e fascinantes temas dos reinos animal, geológico, climático, botânico, geográfico, ecossistémico, entre outros, do interior da Terra aos brincalhões e inteligentes golfinhos. Bem-vindo à Ambiente Por favor recicle esta revista quando terminar de a utilizar Editor Goody S.A. Sede Social, Edição, Redação e Publicidade Av. Infante D. Henrique, nº 306, Lote 6, R/C 1950-421 Lisboa Tel.: 218 621 530 - Fax: 218 621 540 Diretor Geral António Nunes assessor Da Direção Geral Fernando Vasconcelos CoorDenaDor eDitorial Nuno Catarino Diretora Rita Hasse Ferreira reDação e eDição Luís Filipe Costa, Mónica Marques Consultoria De projeto Miguel Crespo CoorDenaDora-Geral ComerCial Mariana Teixeira Tel: 218 621 545 E-mail: mariana.teixeira@goody.pt aCCounts Mónica Ferreira – Tel.: 218 621 539 E-mail: monica.ferreira@goody.pt Carla Pinheiro – Tel. 21 862 15 47 E-mail: carla.pinheiro@goody.pt assistente ComerCial Áurea Rebeca Tel.: 218 621 493 Fax: 218 621 495 E-mail: aurea.rebeca@goody.pt CoorDenaDor De proDução externa António Galveia CoorDenaDor De proDução interna Paulo Oliveira responsável GráfiCa Sofia Marques paGinaDora prinCipal Cláudia Correia traDução e revisão Inês Gonçalves, Marta Pinho, Nuno Assunção, Rita Santos estaGiária Catarina Almeida CoorDenaDor De CirCulação Carlos Nunes serviço De assinantes e leitores Marisa Martins Tel.: 218 621 543 E-mail: assinaturas@goody.pt Site: www.assineagora.pt Diretor aDm. e finanCeiro Alexandre Nunes ContabiliDaDe Cláudia Pereira apoio aDministrativo Tânia Rodrigues e Catarina Martins pré-impressão e impressão SOGAPAL Estrada das Palmeiras, Queluz de Baixo, 2745-578 Barcarena Distribuição Logista Portugal tiraGem 11.000 exemplares A Quero Saber é propriedade da Goody, S.A. Todos os artigos originais são propriedade da mesma. Os artigos adaptados da revista How It Works são propriedade da Imagine Publishing, estando a Goody, S.A. autorizada a reproduzi-los em Portugal. É proibida a reprodução total ou parcial de textos, fotografias ou ilustrações da revista Quero Saber para quaisquer fins, incluindo comerciais, sem autorização expressa do editor. FICHA TÉCNICA Boas leituras! 004 | Quero Saber SUMÁRIO © S ci en ce P h ot o Li br ar y Secções Joaninhas Supercélulas 46 96 A edição esp ecial que o d esperta para o Ambiente! Animais 10 Os animais mais inteligentes Acha que o seu cérebro o distingue dos demais? Olhe que a diferença é menor do que possa pensar. 14 Sanguessugas 14 Espiráculos / O camarão-mantis 15 No interior de uma termiteira 16 Percebes 16 Anatomia da carraça 17 Como flutuam os peixes? 17 O olfato das cobras 17 As uges 18 A maxila do hipopótamo Como é que estas criaturas amantes da água abrem tanto a boca? 19 O que é um tardígrado? 19 O incrível pombo-correio Como se orienta esta espantosa ave com GPS incorporado? 20 Como se formam os cardumes? 22 A tática do crocodilo 22 A muda de pele da cobra 23 O incompreendido abutre 24 O “melhor amigo” do homem A história e a anatomia do cão doméstico e de tudo aquilo que o faz mover e correr. 26 Os polvos, maravilhas de oito braços 28 A toca do texugo 28 Os sons dos golfinhos 29 A migração das aves Guiadas por estrelas e impelidas pelos genes, as aves embarcam em viagens anuais épicas. 30 O gafanhoto 30 Como nada a lula? 31 As abelhas Em declínio em todo o mundo, têm um papel crucial na preservação de ecossistemas. 32 O panda-gigante Saiba mais sobre este fascinante e encantador carnívoro que pensa que é herbívoro. 34 Micromonstros: ácaros, lepismas, piolhos e mais – conheça-os melhor! 38 O escorpião, caçador implacável 40 Alfaiates / Peixes-arqueiros 40 A viúva-negra 41 Como pescam os ursos? Precisa de apanhar um salmão de 15 quilos sem cana nem rede? Arranje um urso! 42 O pica-pau 43 Ligres e tigreões 43 O ciclo de vida anfíbio 44 Os golfinhos Muito populares devido à sua inteligência e espírito brincalhão, podem ser encontrados por todo o mundo, com os mais variados tamanhos, formas e temperamentos. 46 Joaninha, voa, voa... 47 A camuflagem do choco 47 Conheça “o” ladrão de cocos 48 Os mais velozes Da chita ao homem, colocamos os mais rápidos do reino animal no confronto de velocidade definitivo. 52 O incrível beija-flor 52 Será que chovem peixes e rãs?Orquídeas 200 10 Os animais mais inteligentes www.querosaber.com.pt Quero Saber | 005 © D K I m ag es © F ir 00 02 /F la gs ta ff ot os © M on ke y W or ld 2 01 0 O nosso amigo cão Diques de castores 24 65 53 Tudo sobre a pata felina 54 A vida dos elefantes Grandes em todos os sentidos da palavra, mas também muito sensíveis. A Quero Saber desfaz alguns mitos e explica o que os torna tão especiais. 58 No interior da colmeia 59 Como caça a águia-real? 60 O singular ornitorrinco É um castor? É um pato? É um lagarto? Não, é algo totalmente diferente…. 62 Estrela-do-mar... 63 Dentro do estômago da vaca 64 O “mistério” do peixe-balão revelado 65 O sonar dos morcegos 66 Anatomia da baleia-azul 68 Voar em bando 70 Como vivem os tubarões? Estas criaturas fascinantes e vulneráveis à extinção são muito mais do que os simples predadores irracionais que os filmes retratam. 74 Lesmas e caracóis / Camarão-pistola 75 Mosquitos à lupa 75 Porque ronrona o gato? 76 Os lobos Descubra a verdade sobre este predador tão temido, antepassado do melhor amigo do homem, social e bem equipado para a vida selvagem: será assim tão feroz? Clima 82 Climas extremos Um planeta, muitas regiões demarcadas por um conjunto de fenómenos meteorológicos que caracterizam o estado médio da atmosfera nessa zona. 86 O que são as sombras de chuva? 86 Como se forma e cai o granizo? 87 O que é o El Niño? A Quero Saber explica-lhe este fenómeno alterador do tempo atmosférico e recorda também as condições no La Niña. 88 Supertempestades 92 O ciclo da água A chuva que cai hoje passou milhões de anos a viajar entre as nuvens, os mares e o gelo da Terra. Explore este ciclo e os diferentes processos da água. 94 Como é previsto o tempo? 96 O que é uma supercélula? 98 Raios vs. relâmpagos Os raios são uma descarga altamente visível de eletricidade, com um potencial devastador. Mas como e porque surgem no céu? 102 Natureza em fúria 106 O que são as monções? 107 A velocidade do vento 107 Balões atmosféricos 108 Neblina vs. névoa vs. nevoeiro 109 A camada de ozono à lupa Certamente já ouviu falar muito dela e, sobretudo, de como estamos a destrui-la aos poucos, mas o que é a camada de ozono? 110 Tempo assassino A vida do elefante As abelhas 54 31 www.querosaber.com.pt 006 | Quero Saber 34 © DK Im ag es © Ja cq ue s R ou ge ri e A rc h it ec t Poder glaciar Poças de maré 166 206 SUMÁRIO A edição esp ecial que o d esperta para o Ambiente! Geologia 116 Anatomia de um vulcão São sinais espantosos, e muitas vezes devastadores, da permanente evolução da superfície da Terra. 118 Dunas que cantam 118 A captação de carbono 119 Como se formou o Havai? 120 Tectónica de placas Os terramotos são alertas pouco subtis de que a Terra está viva... e bem viva! 122 O que é a lava? 124 A formação das montanhas 126 O Grand Canyon É uma dasmaiores maravilhas naturais do mundo: um vasto desfiladeiro esculpido pelo poder de erosão da água. 127 O Supercontinente Pangeia 128 Tudo sobre as dunas de areia 130 A formação do carvão Saiba como os seus gadgets são alimentados por plantas anteriores aos dinossáurios! 132 Porque se mede o nível do mar? 132 Como ocorre a petrificação? 133 O Anel de Fogo do Pacífico 134 Como se forma o petróleo? A fonte energética mais preciosa e precária da Terra, o petróleo tem uma enorme procura mundial e vários países lutam ferozmente pelos direitos de explorar as suas reservas. Florestas húmidas Plantas letais Exploração oceânica Anatomia do tubarão 182 208 188 70 v Quero Saber | 007 © S ci en ce P h ot o Li br ar y Cogumelos venenosos 192 136 Quão mortal é a areia movediça? 137 Avalanche! 138 Viagem ao centro da Terra 142 Porque ocorrem as enxurradas? 143 Como se formam os algares? 144 Os rios Os fascinantes processos e as características intrigantes dos rios, da nascente à foz. 146 A formação dos cristais 148 Os géisers 150 Tudo sobre vulcões 156 Quando o solo se liquefaz... 157 Rubis, safiras e esmeraldas 160 No interior das grutas Formadas ao longo de milhões de anos, são fenómenos naturais espantosos e diversos. 162 Deslizamento de terras 164 Como se forma um buraco azul? 165 O que é um vulcão de lama? 166 Poder glaciar Descubra o incrível poder destes rios de gelo gigantescos. 168 As ondas Geral 172 Antártida explorada O que é grande, hostil e testava missões a Marte? A Antártida, o continente mais frio da Terra. 176 A vida numa charca 178 O mar Morto / O pólen 179 Anatomia da planta 180 O que é uma ecocasa? Descubra como as casas ditas ecológicas podem ajudar-nos a poupar dinheiro e recursos. 182 As preciosas florestas húmidas São um ambiente único e riquíssimo em vida, lar de mais de 50 por cento das espécies do nosso planeta, mas continuam a ser largamente desconhecidas. 186 Trufas / Musgo 186 O que é a biodegradação? 187 A vida do cato 188 Explorar os oceanos Mais de cem anos após o nascimento de Jacques-Yves Cousteau, os oceanos continuam maioritariamente por conhecer. Descubra algumas das vertentes da oceanografia atual. 192 Cogumelos venenosos / Remoinhos 193 A planta do café 194 O ciclo do carbono 196 Recifes de coral Uma riqueza biológica incrível nas águas mais pobres em nutrientes do mundo? Descubra o paradoxo dos recifes de coral. 200 Frutos vs. legumes 202 O ciclo do enxofre 204 Trepadeiras / O que é o smog? O ciclo do carbono 194 122 O que é a lava? ASSINE AGORA! Saiba como na página 210 www.querosaber.com.pt 008 | Quero Saber www.querosaber.com.pt © S ci en ce P h ot o Li br ar y © S te ve C h ild s 10 Animais inteligentes Acha que o seu cérebro o distingue dos demais? A diferença é menor do que possa imaginar... 14 Sanguessugas Como é que estes parasitas chupam o seu sangue? 16 Percebes Como sobrevivem estes crustáceos no mesmo local durante quase toda a vida? 16 Anatomia da carraça Descubra como estas sugadoras se alimentam do sangue quente dos hospedeiros 17 Como flutuam os peixes? Saiba como a bexiga natatória serve de sistema de lastro interno. 19 Pombo-correio Como se orienta esta espantosa ave com mapa e bússola incorporados? 22 Porque mudam as cobras de pele? O que faz com que estes répteis soltem tantas vezes a pele? 23 Os abutres Serão os necrófagos supremos, mas será que merecem a sua reputação de oportunistas? 24 O cão doméstico História e anatomia do melhor amigo do homem e de tudo aquilo que o faz mover. 30 Como nada a lula? Conheça melhor o sistema de propulsão deste molusco cefalópode. 34 Pequenos monstros Ácaros, piolhos, lepismas, térmitas – um exército de microrganismos vive ao nosso redor, nos nossos lares, na nossa comida e até no próprio corpo humano. 38 O escorpião Mascote favorita de supervilões Cardumes A tática do crocodilo Libélulas Os polvos 20 22 63 26 32 O panda-gigante AnimAiS A maravilha da biodivers idade © A n d re K ar w at h © S ia s v an S ch al k w yk Quero Saber | 009 ANIMAIS www.querosaber.com.pt © S ci en ce P h ot o Li b ra ry A migração das aves 29 de todo o mundo, esta criatura sinistra é um caçador implacável. 46 Joaninha... ... voa, voa... Descubra porque é esta heroína de capa vermelha uma ajudante preciosa do jardineiro e do agricultor. 47 A camuflagem dos chocos Como evitam ser detetados estes mestres do disfarce? 48 Os mais velozes Da chita ao homem, passando pelo falcão- -peregrino e besouro- -tigre, colocamos os mais rápidos do reino animal no confronto definitivo. 52 Chovem peixes e rãs? Sim, podem chover; descubra como e porquê! 54 A vida dos elefantes Grande em todos os sentidos da palavra, o mais corpulento mamífero terrestre da atualidade é também muito sensível. Desfazemos alguns mitos e explicamos o que o torna especial. 58 na colmeia De máscara e fumigador, recolha um quadro carregado de favos. 60 O singular ornitorrinco É um castor? É um pato? É um lagarto? Não, é algo totalmente diferente... O lobo A maxila do hipopótamo Anatomia do golfinho 76 18 44 ANIMAIS Criaturas inteligentes 010 | Quero Saber O homem é um animal inteligente. Não é o mais forte, nem o maior, nem o mais antigo, mas orgulha-se de ser o mais esperto. Isso é tão crucial para a nossa noção de superioridade que assumimos que a inteligência aumenta automaticamente as hipóteses de sobrevivência de qualquer animal. Mas, na verdade, não há provas sólidas disto. O cérebro é um órgão muito custoso de desenvolver e manter – 20% do que ingerimos diariamente é usado para manter o nosso cérebro vivo – e cérebros complexos demoram bastante a recolher informações antes de se tornarem úteis. Bactérias, plantas e fungos revelam mais diversidade e sucesso reprodutivo que nós, sem inteligência. Mas a inteligência oferece uma vantagem importante: flexibilidade. Os animais com sistemas nervosos simples podem ser muito bons naquilo que fazem, mas o seu repertório comportamental está impresso numa disposição de neurónios fixa à nascença. Novos comportamentos só podem emergir como resultado dos lentíssimos processos de mutação e seleção natural. Um animal inteligente improvisa. Novas estratégias para lidar com condições variáveis ou territórios recém-conquistados podem surgir quando necessário e técnicas de sucesso podem difundir-se por um grupo familiar ou tribo por observação ou imitação ao longo de dias ou semanas, em vez de aguardar gerações pelo desenvolvimento de novos genes. A maioria dos mamíferos nasce com cérebros já com 90% do seu peso final. Para acomodar novos comportamentos, contudo, os animais inteligentes têm de começar a vida com cérebros ainda não totalmente desenvolvidos. O cérebro de um chimpanzé recém-nascido tem 54% do seu peso adulto; o dos golfinhos 42,5% e o dos elefantes 35%. O elefante é então o animal que mais desenvolve o tamanho do seu cérebro ao longo da vida, depois do Homem, que nasce com apenas 28% da massa cerebral final. Em À Boleia Pela Galáxia, Douglas Adams escreveu que “o Homem sempre assumiu que era muito mais inteligente que os golfinhos por todos os seus feitos – a roda, Nova Iorque, Acha que o seu cérebro o distingue dos outros animais? A diferença é menor do que possa julgar… Os animais mais inteligentes O Monkey World reabilita macacos maltratados de todo o mundo. © M on ke y W or ld 2 01 0 www.querosaber.Com.pt “ Já se observou mais de uma dúzia de espécies a usar paus, pedras e espinhos para caçar alimento ou defesa.” 1. Clever Hans Este cavalo parecia responder a simples questões aritméticas batendo com o casco, mas soube-se que reagia a pistas inconscientes. 2. Rico Este Border Collie foi ensinado no Instituto Max Planck a reconhecer maisde 200 palavras e recordava os nomes dos objetos semanas depois. 3. Washoe Capturado pela Força Aérea dos EUA para o programa espacial, foi criado como uma criança humana e aprendeu 350 palavras em língua gestual. ESPERTO maiS ESPERTO O maiS ESPERTO No reino unido, o polvo é protegido pela legislação sobre crueldade para com os animais? Quero Saber | 011 © M on ke y W or ld 2 01 0 Quero Saber (QS): Fale-nos dos chimpanzés do Monkey World. alison Cronin (aC): Há atualmente 59 chimpanzés no parque, que foram resgatados do comércio ilegal de animais, de fotógrafos de praia, da indústria do entretenimento e de laboratórios. O Monkey World ajuda governos a travar o contrabando, abuso ou negligência de primatas. No parque, os refugiados destes negócios são reinseridos em grupos familiares naturais. QS: Pode dar-nos alguns exemplos de exibição de inteligência por parte destes chimpanzés? aC: Por definição, os chimpanzés são inteligentes e partilham todo o leque de emoções que o ser humano sente – pesar, medo, excitação, felicidade, etc. Compreender os sentimentos e as emoções de outros membros da comunidade é uma parte importante da vida de um chimpanzé, tal como na de um ser humano. Os chimpanzés são muito bons a usar ferramentas por serem espertos, serem bons a resolver problemas, terem uma boa coordenação pata/olho e um muito bom controlo da força das patas. Eles criam e usam utensílios a partir de ramos com folhas que lhes damos para pescar insetos dentro de troncos apodrecidos no seu recinto ou na termiteira artificial que colocámos lá para eles. Os tratadores dão-lhes muitos tipos de puzzles alimentares para os manter ocupados e os chimpanzés também são muito bons em jogos de treino “por cliques”, onde lhes pedimos para nos darem a orelha para usarmos um termómetro eletrónico. QS: O facto de os macacos serem tão espertos levou ao abuso de chimpanzés no entretenimento turístico ilegal – o que está a ser feito para travar isto? aC: O CITES é um tratado internacional que protege espécies ameaçadas. O Monkey World ajuda governos a aplicarem o tratado prestando apoio profissional para lidarem com, moverem e realojarem macacos que foram contrabandeados para os seus países. Houve um problema com fotógrafos de praia em Espanha, com crias de chimpanzés que tinham sido caçadas ilegalmente. Com a ajuda do Monkey World, esta situação foi travada e seguimos a pista dos contrabandistas até à Turquia, onde estamos agora em negociações com as autoridades. Há ainda um grande mercado negro no Médio Oriente, e no Egito em particular. QS: Que outros macacos no centro exibem mais inteligência? aC: Os mais inteligentes são, de longe, os orangotangos. São focados e pensativos, e é sempre um desafio mantê-los ocupados. ENTREViSTa Categoria de inteligência: Linguagem, uso de ferramentas, empatia, desilusão Peso do cérebro: 420 g Chimpanzés Os chimpanzés são os nossos parentes vivos mais próximos, pelo que a sua inteligência é a mais fácil de entender e medir. Na natureza, os chimpanzés utilizam ferramentas, caçam de forma cooperativa e exibem sinais de luto, amor romântico, apreciação de beleza natural e brincadeiras complexas. Os chimpanzés não têm um aparelho vocal que lhes permita dominar o discurso humano mas, em cativeiro, foram treinados para usar e entender a língua gestual americana. Há ainda algum debate científico sobre se entendem realmente a linguagem ou se respondem simplesmente a pistas, mas num estudo foi feita uma pergunta a um bonobo chamado Kanzi que ele nunca ouvira antes: “Consegues fazer o cão morder a cobra?”. Kanzi procurou entre os seus brinquedos por um cão e uma cobra, colocou a cobra na boca do cão e fechou-a usando um dedo e o polegar. Os chimpanzés têm sentido de humor e a sua própria versão de gargalhada (um som curto e ofegante); têm cócegas e usam-nas nas suas brincadeiras. Também usam bonecos simples, e paus e pedras de limpeza e mimos como se fossem bebés. Estes primatas são dotados de uma personalidade inteligente e confiante. Nível de inteligência: Os chimpanzés do Monkey World gostam do “treino por cliques”. guerras, etc. –, enquanto tudo o que os golfinhos alguma vez fizeram foi brincar na água. Por outro lado, os golfinhos sempre acharam ser bem mais inteligentes que o Homem – precisamente pelas mesmas razões.” Isto ilustra bem o problema de estudar a inteligência animal; tendemos a medi-la pela semelhança de comportamentos com os nossos. Somos construtores competitivos e gregários, pelo que animais relativamente solitários e pacíficos que não criam nada, como as baleias e os pandas-gigantes, são menosprezados a favor de animais como chimpanzés e golfinhos, que aprendem comportamentos. Para contrariar isto, os investigadores procuram vários traços ao avaliar a capacidade cognitiva animal. Ao nível mais básico, há testes de planeamento e resolução de problemas, como labirintos. Há provas de utilização de ferramentas na natureza. A dada altura, acreditava-se que o homem era o único animal a usar utensílios, mas já se observou mais de uma dúzia de espécies a usar paus, pedras e espinhos para caçar alimento, esmagar moscas ou defesa. Até os golfinhos, que não têm mãos nem pés preênseis, usam esponjas cónicas para protegerem os narizes ao procurarem comida no abrasivo leito marinho. O Homem não é o único animal a mentir, enganar, planear, apreciar beleza, criar brinquedos ou revelar autoconsciência. Quanto mais aprendemos sobre comportamento animal, mais inteligentes as outras espécies nos parecem... Nome: Alison Cronin Biografia: Diretora do Monkey World – Ape Rescue Centre. “O Monkey World foi inaugurado em 1987 pelo meu falecido marido, que queria proporcionar um lar a chimpanzés que tinham sido caçados da natureza para serem usados como adereços de um fotógrafo de praia em Espanha. Nos últimos 25 anos, o parque ajudou os governos de 21 países a evitarem o contrabando ou abuso de macacos.” Para saber mais sobre o trabalho de salvamento e reabilitação que decorre no Monkey World, visite www.monkeyworld.org. © M on ke y W or ld 2 01 0 SABIA QUE... Frente a Frente ESpécIES IntElIgEntES www.querosaber.Com.pt ANIMAIS Criaturas inteligentes 012 | Quero Saber “ o neocórtex do elefante é tão complexo como o do cérebro humano.” Abelhas As abelhas são insetos altamente sociais, com colónias de 30 mil ou mais indivíduos. Uma só abelha tem apenas cerca de 950 mil neurónios, mas se considerarmos toda a colmeia como uma única entidade difusa, são quase 30 mil milhões de neurónios (calcula-se que o cérebro humano tenha cerca de cem mil). As abelhas de regresso à colmeia usam uma dança especial para comunicarem as suas descobertas a outras obreiras e a colónia usa uma espécie de consenso democrático para escolher locais de procura de alimento e um novo local para a colmeia na altura de enxamear. Estudos revelaram que este método é consistente a alocar obreiras da forma mais eficaz. As abelhas conseguem ainda mapear as redondezas e tomar a rota mais curta entre vários pontos. Mostra-me o mel! Categoria de inteligência: Navegação Peso do cérebro: 0,1 g por abelha, 3.000 g por colmeia O maior nem sempre é o mais esperto Cérebro não é sinónimo de inteligência. Em qualquer animal, a função da maioria dos neurónios cerebrais é controlar os músculos e recolher informação sensorial de todas as terminações nervosas no corpo. Assim, um corpo maior requer um cérebro maior para coordenar o seu movimento e controlar o metabolismo basal. Em termos gerais, o tamanho do cérebro de um animal aumenta com o expoente de dois terços do peso corporal. Assim, duplicar o peso corporal aumenta 1,6 vezes o peso cerebral. Pode assumir-se que os animais com cérebros maiores que o previsto por esta fórmula têm tecido cerebral “remanescente” para raciocínio mais complexo.Aqui se incluem baleias, golfinhos, elefantes e primatas. Mas há problemas nesta teoria. O animal com o maior rácio de dimensão cerebral/corporal é o musaranho-arborícola-africano, e é possível que o seu cérebro desproporcional tenha outros fins que não o raciocínio, como um olfato altamente apurado. Nível de inteligência: Esquilos- -cinzentos Os esquilos têm a fama de serem tontos, enterrando aleatoriamente nozes e bolotas e esquecendo-se logo onde. Mas afinal isso é apenas uma fachada. A maior ameaça para um esquilo é outros esquilos descobrirem os seus esconderijos, por isso fingem enterrar nozes inexistentes para enganar possíveis ladrões. Estudos revelaram que a proporção de falsos enterros aumenta quando o esquilo julga que está a ser observado. A arte do engano. Categoria de inteligência: Engano Peso do cérebro: 6 g Nível de inteligência: Categoria de inteligência: Brincadeira Peso do cérebro: 1.600 g 2 x © M ac ro F re ak 2 00 7 As abelhas colaboram de forma inteligente. © O xf or d U n iv er si ty Criaturas criativas... Esquecido, não – desconfiado! Im ag en s d o cé re b ro © P at ri ck J Ly n ch Abelha - 0,1 g Polvo - 3-30 g Esquilo-cinzento - 6 g Corvo - 10-13 g Chimpanzé - 420 g Homem adulto - 1. 500 g Golfinho-roaz - 1.600 g Elefante - 4.700-6.000 g www.querosaber.Com.pt ELEFaNTES mÉDiCOS Os elefantes-africanos prenhes percorrem quilómetros para encontrar ervas silvestres da família da borragem. Mastigá-las liberta uma substância química que ajuda a induzir o parto. Os quenianos também usam a planta para o mesmo fim – um truque que aprenderam com o elefante. o cachalote tem o maior cérebro de todos os animais conhecidos, com cerca de 7,8 kg? Quero Saber | 013 Abelhas Golfinhos- -roazes Os golfinhos-roazes têm cérebros maiores que nós. Caçam cooperativamente e ajudam familiares feridos ou até nadadores humanos mantendo-os à superfície. Os golfinhos parecem ainda dedicar muita da sua inteligência a inventar jogos complexos. Por exemplo, nadam rapidamente em círculo e depois sopram ar para o vórtice criado, para que a bolha crie uma forma anelar. Umas vezes, admiram a sua criação, outras perseguem- na à medida que sobe e mordem-na. Experiências em que espelhos e imagens de vídeo são mostrados a golfinhos indicam que estes poderão ainda ter autoconsciência. Até à vista, e obrigado pelo peixe… Nível de inteligência: Elefantes O elefante é obviamente um animal grande, pelo que era de esperar que tivesse um cérebro grande. Mas a estrutura do cérebro elefante é mais surpreendente. O seu neocórtex é tão complexo e tem tantos neurónios como o do cérebro humano. Crê-se que esta parte do cérebro esteja relacionada com a inteligência e a resolução de problemas. Os elefantes têm ainda o maior hipocampo de qualquer animal, incluindo o Homem. O hipocampo está envolvido no processamento de memória e emoção. Os elefantes pertencem a sociedades muito coesas e foram vistos a enterrar os seus mortos e a vigiar a campa, como que a fazer o luto. Usam ainda ferramentas para esmagar moscas e cobrem pequenas poças de água com casca de árvore e areia para reduzir a evaporação. Nunca esquecem... Corvos Os corvos são as aves mais inteligentes. O corvo-da-nova-caledónia consegue moldar várias ferramentas arrancando e dobrando caules e galhos, e usando-os para extrair larvas e insetos dos seus ninhos. Em laboratório, dobram arame para formar um gancho para extrair uma recompensa de um recipiente estreito. A gralha-cinzenta usa migalhas como isco para apanhar peixe. No Japão, os corvos largam nozes em ruas movimentadas para que os carros as partam e esperam pacientemente que o semáforo fique vermelho para as recolherem. Têm muito de que se gabar. Polvos O polvo vive poucos anos e não tem contacto com os seus progenitores, logo, tem de aprender depressa e sozinho. É o invertebrado mais inteligente, e estudos revelaram que consegue resolver labirintos e que pode ser ensinado a desenroscar tampas. O sistema nervoso do polvo é bastante descentralizado: dois terços dos seus neurónios estão nos tentáculos, o que lhes permite agirem de forma semi-independente. O Amphioctopus marginatus apanha cascas de coco e usa-as para se proteger. Isto faz dele o único invertebrado a usar ferramentas. Os polvos também brincam, agarrando e soltando objetos apanhados em correntes circulares. Um cérebro em cada tentáculo. Nível de inteligência: Nível de inteligência: Nível de inteligência: Categoria de inteligência: Empatia, uso de ferramentas Peso do cérebro: 4.700 a 6.000 g Categoria de inteligência: Aprendizagem, uso de ferramentas Peso do cérebro: 3 a 30 g maiS DEZ aNimaiS ESPERTOS CãO Desejoso de agradar e fácil de treinar para uma série de tarefas. GaTO Muito mais independente que o cão, mas muito brincalhão. PORCO Pode aprender o que representa a imagem de um espelho e usa-a para obter informação. RaTO Exibe metaconhecimento – tomando decisões com base no facto de achar ser capaz de resolver um puzzle ou não. PaPaGaiO Consegue imitar discurso humano e até associar algumas palavras aos seus significados. BaLEia O seu cérebro tem células fusiformes, previamente encontradas apenas em grandes símios, elefantes e seres humanos. ORaNGOTaNGO Usa folhas para fazer sons fortes e ferramentas para extrair sementes das frutas. POmBO Consegue recordar centenas de imagens por vários anos. FORmiGa Forrageadores experientes, ensinam os novatos, pelo que a colónia depressa aprende sobre fontes de alimento. VaCa Forma relações de amizade dentro da manada e guarda rancor por meses ou anos. Mais alguns que esperava (ou não) ver incluídos no grupo dos inteligentes… Abel é um corvo selvagem. Aqui, cria e usa ferramentas que o ajudem a extrair alimento do fundo de um tubo vertical. Os elefantes são muito bons a utilizar ferramentas. © N ic k H ob go od 2 00 6 Categoria de inteligência: Uso de ferramentas Peso do cérebro: 10 a 13 g SABIA QUE...v www.querosaber.Com.pt ANIMAIS A ll im ag es © S PL Espiráculos / Camarão-mantis / Sanguessugas 014 | Quero Saber “O camarão-mantis é um predador exímio, capaz de esmagar e rachar a sua presa com uma eficácia brutal.” As baleias, os golfinhos e outros cetáceos passam as suas vidas debaixo de água. Contudo, ao contrário dos peixes, que têm guelras, os cetáceos são mamíferos e, por isso, têm pulmões. Assim, têm de vir à superfície de vez em quando para receberem oxigénio. O espiráculo é uma pequena abertura tipo narina localizada na região dorsal do mamífero, perto da cabeça, que permite ao animal respirar sem ter de parar e pôr a boca fora de água. Uma aba muscular cobre o espiráculo e permanece selada quando o animal está relaxado, para que os pulmões não se encham de água. Quando esta aba se contrai, o espiráculo abre-se para o animal exalar e voltar a respirar. Os cachalotes conseguem suster a respiração durante mais de uma hora. Quando o animal vem à superfície, o ar é expelido dos pulmões. À medida que este ar húmido e quente é libertado, o vapor de água condensa e emerge do espiráculo como um jato. A sanguessuga suga o sangue do hospedeiro mordendo a sua pele e encaixando uma ventosa na ferida. Uma vez fixa, segrega uma enzima anticoagulante (hirudina) para a corrente sanguínea do hospedeiro, que impede que o sangue coagule e permite que seja extraído mais facilmente. O sangue vai para o sistema digestivo da sanguessuga, que inclui uma bolsa grande, onde pode ser guardado durante vários meses. Algumas espécies de sanguessugas foram usadas em sangrias clínicas durante milhares de anos, com registos que remontam a 500 a.C. O seu uso derivou principalmente da teoria humoral da Grécia Antiga (a saúde é garantida pelo equilíbrio dos quatro humores: sangue, fleuma e bílis negra eamarela), que continuou a ser praticada na Europa medieval. Historicamente, a espécie Hirudo medicinalis era a mais comum nas sangrias, mas outras sanguessugas do mesmo género também foram utilizadas. Atualmente, são usadas pontualmente nalguns países para reduzir o inchaço de tecidos e facilitar a circulação de sangue oxigenado para áreas lesionadas. O camarão-mantis, que tem este nome devido à sua parecença com o louva-a-deus (mantis, em inglês), é uma das criaturas mais perigosas do oceano. Equipado com olhos incríveis, que incluem até dez mil omatídeos separados, e um par de garras capaz de se mover à velocidade de uma bala de calibre .22, é um predador exímio, capaz de esmagar e rachar a sua presa com uma eficácia brutal. As estatísticas dizem tudo o que precisa de saber para perceber a capacidade destrutiva deste crustáceo. Os membros anteriores – que existem em duas variedades, com ponta em lança ou “moca” – movem-se com uma aceleração de 10.400 g quando são lançados, o equivalente a 102.000 m/s², e com uma velocidade de 23 m/s de origem. Esta rapidez é possível porque o camarão gera bolhas de cavitação entre as garras e a superfície de colisão que, quando colapsadas, produzem forças imediatas de 1.500 newtons no contacto, bem como uma onda de choque secundária. Consequentemente, qualquer caracol, caranguejo, molusco ou peixe (todos comuns na dieta do camarão-mantis) apanhado por um golpe será horrivelmente trespassado ou agredido com uma força imensa. Para maximizar a capacidade de atacar as presas, os olhos do camarão-mantis tornaram-se os espécimes mais avançados do mundo. Cada olho, que se encontra no seu suporte individual, possui visão trinocular e perceção de profundidade – a última é particularmente importante para estender as garras. Além disso, ambos os olhos conseguem captar a luz polarizada e a visão a cores hiperespetral, permitindo que o camarão distinga a sua presa, que muitas vezes é transparente ou semitransparente, em ambientes de corais coloridos. Anatomia do espiráculo Sanguessugas O ataque mais rápido Porque é que os mamíferos marinhos têm um orifício no topo da cabeça? Como é que estes parasitas sugam o seu sangue? Porque é que o camarão-mantis é um crustáceo tão rápido e feroz?Uma sanguessuga medicinal (Hirudo medicinalis) a alimentar-se de uma mão humana. Olhos Os olhos do camarão- -mantis são tão potentes que conseguem captar luz polarizada e visão a cores hiperespetral. Carapaça Proteção endurecida que envolve a cabeça e de onde se projetam os membros anteriores e os olhos. Abdómen As manchas e cores que cobrem o abdómen do camarão-mantis funcionam como ferramentas de comunicação. Membros anteriores Estas garras permitem que o camarão perfure e esmague a sua presa a grande velocidade. Pleópodes Um par de pleópodes, pequenas estruturas tipo barbatanas debaixo do abdómen, ajudam no movimento. www.querosaber.com.pt Não deixe o cérebro a dormir ASSINE AGORA! A revista que desperta a sua mente Online: www.assineagora.pt Telefone: 21 862 15 43 Quero Saber | 015 É estimado que as térmitas causem cinco mil milhões de dólares de prejuízos, por ano, só nos EUA? © S ci en ce P h ot o Li b ra ry Uma térmita soldado em grande plano. Material de construção Termiteiras como esta são compostas por um misto de terra fina e matéria fecal, que endurece bastante ao secar. Localização As térmitas podem construir o seu lar no subsolo, em troncos de árvores ou em montes de terra altos. Estrutura Numa termiteira existe uma série de câmaras e passagens construídas pelos pequenos insetos para permitir a circulação de ar – e, com ele, de calor – e a sua saída pelo topo. As térmitas são insetos xilófagos que partilham semelhanças com formigas e abelhas, embora, talvez surpreendentemente, se julgue que o seu parente mais próximo seja a barata. Existem cerca de 2.750 espécies de térmitas no mundo, vivendo em habitats tão variados como as florestas tropicais e a savana africana, até à costa do Pacífico. Os hábitos alimentares das térmitas fazem delas insetos muito importantes num ecossistema. Ao consumirem estruturas de madeira e vida vegetal, ajudam a converter árvores mortas em matéria orgânica para gerar nova vida. Infelizmente, também podem roer suportes estruturais em edifícios, acabando por conduzir ao seu colapso. As térmitas evoluíram de forma a ingerir madeira sobretudo porque poucos outros animais o fazem; uma bactéria especial permite-lhes digerir as duras fibras de celulose. Este mecanismo de sobrevivência inato faz com que as colónias de térmitas possam existir por muito tempo – algumas duram cem anos. Uma termiteira atinge o seu tamanho máximo após quatro ou cinco anos, quando poderá albergar 200 mil espécimes. Como é que as térmitas constroem o seu lar? Termiteiras Jardim Na base da termiteira há um jardim de fungos, onde as térmitas transformam madeira e matéria vegetal, e mantêm um ambiente propício ao crescimento de fungos comestíveis. Realeza No centro do jardim de fungos está a câmara real, onde o rei e a rainha residem.© Ia n A rm st ro n g Algumas termiteiras podem atingir nove metros de altura. SABIA QUE... www.qUErosAbEr.com.pt ANIMAIS © Science Photo Library Percebes / Anatomia da carraça 016 | Quero Saber “ O percebe usa as suas delicadas antenas semelhantes a pelos para apanhar e filtrar partículas que passam a flutuar na água.” Os percebes (Pollicipes pollicipes) são crustáceos muito apreciados como alimento em Portugal. No início, as larvas são pequeninas e andam à deriva no mar. Quando chega à idade adulta, o percebe resigna-se a uma vida de imobilidade, fixando- se a uma rocha, barco ou outro corpo grande, como uma baleia. Os seus dias passam a ser vividos no mesmo local, alimentando-se de partículas orgânicas suspensas na água, como plâncton. O percebe usa as suas delicadas antenas (cirros) semelhantes a pelos para apanhar e filtrar partículas que passam a flutuar na água – um processo que também é útil para limpar a água. Um percebe adulto permanecerá no mesmo local pelo resto dos seus três a cinco anos de vida, graças ao fortíssimo cimento que usa para se fixar a um objeto. No longo e fino pedúnculo do percebe encontra-se uma glândula que produz esta substância incrivelmente aderente. O facto de estarem presos na mesma posição para o resto da vida faz com que os percebes não “saiam” muito. Cada um deve então acasalar com o seu vizinho mais próximo. Apesar de serem hermafroditas (têm órgãos reprodutores masculinos e femininos), os percebes precisam de reproduzir-se uns com os outros. Como é que, então, contornam o facto de estarem presos? Bem, são dotados de pénis incrivelmente longos e flexíveis. Percebes Como sobrevivem estes crustáceos no mesmo local durante quase toda a vida? Anatomia do percebe Cavidade do manto Pedúnculo Placas calcárias Boca Cirros Ovário Pénis Intestino Glândula adesiva Anatomia da carraça Descubra como estas sugadoras se alimentam do sangue quente dos hospedeiros. As carraças são parasitas muito pequenos que se alimentam do sangue rico em proteínas de outros animais, através de um processo chamado hematofagia. Sendo aracnídeos, têm oito patas; o primeiro par de patas inclui um recetor sensorial especial chamado órgão de Haller, que deteta as presas. Quando encontra um hospedeiro, a carraça fixa-se à vítima com as suas garras, patas espinhosas e ventosas especiais. Para perfurar a pele e chegar ao sangue, a carraça usa duas quelíceras tipo dentes e estica um longo probóscide denteado chamado hipostoma. O hipostoma faz com que seja difícil remover uma carraça fixa na pele porque está coberta de farpas retrodirigidas. A carraça suga o sangue do hospedeiro até o seu corpo, também conhecido como idiossoma, estar tão cheioque já não consegue consumir mais – o que pode levar alguns dias. Como remover a carraça Se suspeita que foi picado por uma carraça, consulte um médico. No entanto, o animal deve ser removido o mais cedo possível, pois as carraças transmitem doenças infeciosas como a chamada febre da carraça. Não toque na carraça; use uma pinça ou luvas protetoras. Depois, firme mas suavemente, pegue no aracnídeo o mais perto da pele possível e puxe-o, sem o esmagar – não o abane nem o gire, pois as peças bucais podem partir-se e ficar agarradas na pele. Depois de remover a carraça, limpe a pele com um antissético (água e sabão basta) para reduzir a hipótese de surgimento de uma infeção bacteriana. As carraças incham bastante após a refeição. © S ci en ce P h ot o Li b ra ryInchada Nesta imagem vemos uma carraça repleta de sangue. v 1 Em certas culturas asiáticas, a bexiga natatória dos grandes peixes de oceano é considerada uma verdadeira iguaria que se serve normalmente estufada. Deliciosa 2 Charles Darwin escreveu: “Não há razão para duvidar que a bexiga natatória evoluiu para pulmões [e que] os vertebrados com pulmões reais descendem de um protótipo antigo.” Origem 3 Nalguns peixes, a bexiga natatória está ligada ao ouvido interno por uma estrutura óssea a partir das vértebras, o que lhes permite sentir a pressão aquática e ouvir. Audição 4 A mistura de gases das bexigas natatórias varia. Nos peixes de águas rasas costuma ser semelhante à da atmosfera terrestre; já nos de alto mar os níveis de oxigénio aumentam. Gases 5 Os peixes cartilaginosos não têm pulmões nem bexigas natatórias. Pensa-se que ambos os órgãos se tenham formado há 420 milhões de anos, depois de essas espécies se terem separado das outras. Sem bexiga Quero Saber | 017 A Dasyatis brevicaudata, ou uge-de-cauda-curta, pode chegar aos dois metros de largura? Embora as cobras estejam equipadas com narinas e cavidades nasais, não as usam para cheirar. As cobras cheiram através de um órgão especializado situado na cavidade oral e de um movimento feito com a língua. O órgão em questão é o chamado órgão vomeronasal (ou órgão de Jacobson) e encontra-se no teto da cavidade oral das cobras. Por estar no interior do corpo, a cobra utiliza a sua língua bifurcada para fazer chegar ao órgão partículas de ar do ambiente em volta. Daí, o órgão vomeronasal traduz o cheiro para sinais elétricos, que são depois transmitidos ao cérebro da cobra, permitindo-lhe determinar se estão por perto presas ou predadores. Além disso, devido ao papel da língua como órgão olfativo, esta não é usada pela cobra no processo de deglutição. A uge é um tipo de raia, um peixe de corpo achatado conhecido pelo ferrão que tem no fim da cauda. Existem duas grandes famílias de uges, Dasyatidae e Urolophidae, cada uma com uma grande variedade de espécies. A dimensão dos indivíduos varia entre 25 cm de largura – como na Dasyatis sabina – e até acima dos dois metros, como na Dasyatis brevicaudata australiana. Estas raias habitam a maioria dos oceanos da Terra, desde o Atlântico Norte até ao Pacífico Sul. As uges encontram-se no fundo do mar, vivendo sempre perto do solo oceânico, e costumam camuflar-se contra os predadores permanecendo imóveis, deitadas no solo, parcialmente cobertas de areia e sedimentos. Este disfarce pode fazer com que sejam particularmente difíceis de avistar, especialmente para o homem; e uma vez que algumas espécies têm caudas com ferrões venenosos, podem ser perigosas quando provocadas acidentalmente. A dieta das uges consiste maioritariamente em pequenos invertebrados, os quais consomem com a boca que têm na parte inferior do corpo plano. A maioria das uges possui um ou mais ferrões serrilhados na cauda, uma espécie de dentículos dérmicos modificados. O ferrão pode superar os 35 cm e está equipado com uma série de glândulas venenosas na parte inferior. O veneno concentra-se no ferrão numa fina camada de pele. As bexigas natatórias são órgãos de flutuação presentes na maioria dos peixes ósseos. O órgão, situado na cavidade corporal do peixe, origina numa saída do sistema digestivo e está cheio de uma variedade de gases, incluindo oxigénio, dióxido de carbono, árgon e azoto, e funciona como um sistema de lastro biológico, permitindo ao peixe manter eficazmente a sua profundidade. A estrutura da bexiga natatória consiste em dois compartimentos situados na zona dorsal do peixe que, devido às paredes flexíveis, se expandem ou contraem consoante a pressão ambiente (profundidade). Estas paredes estão cobertas de cristais de guanina para as tornar impenetráveis aos gases auxiliares, sendo portanto estruturas em grande parte fechadas. O gás para expandir a bexiga natatória é produzido por uma glândula de gás, que segrega ácido láctico para produzir dióxido de carbono. A resultante acidez faz com que a hemoglobina no sangue do peixe liberte oxigénio – um processo conhecido como efeito Root – e o difunda parcialmente para dentro da bexiga. O nariz não funciona? Tudo bem! Como vivem estes peixes achatados que parecem vindos do fundo do mar? Saiba como a bexiga natatória serve de sistema de lastro interno. O olfato das cobras As uges explicadas Como flutuam os peixes? As uges vivem no solo e permanecem muitas vezes imóveis, cobertas de areia e sedimentos, constituindo um perigo para nadadores e mergulhadores. 3. Órgão vomeronasal Traduz as partículas para sinais sensoriais. 2. Cavidade oral As partículas de ar entram na boca pela ação da língua. 1. Língua A língua alongada redirige as partículas de ar do ambiente. Bexiga natatória A bexiga consiste em dois compartimentos cheios de gases variados. Entrada A única ligação à bexiga é através de uma saída do sistema digestivo. Dorsal A bexiga natatória está situada na zona dorsal do peixe. A bexiga natatória © D K Im ag es SABIA QUE... BExIgA nAtAtórIA cInco fActoS www.querosAber.com.pt ANIMAIS Cada lábio tem cerca de 60 cm de largura. O hipopótamo é um mamífero de grande porte, pertencente à família dos Hipopotamídeos, com um focinho comprido e uma boca grande, que pode abrir em sinal de agressão, do mesmo modo que o fazem outros animais, como os leões e os babuínos, uma vez que, ao fazê-lo, mostra as suas armas mais temidas: os dentes. Embora o hipopótamo se alimente de plantas, não usa para isso os dentes. Os seus caninos e incisivos gigantes são utilizados apenas para matar; para arrancar as plantas que ingere, usa os seus enormes lábios. O hipopótamo consegue abrir a boca até 150 graus e até 1,2 m de largura. A força do seu maxilar – que resulta numa mordida de cerca de 815 kg – é tanta que pode usar os dentes para despedaçar um crocodilo, um homem ou até um barco pequeno. Como é que estas criaturas amantes da água abrem tanto a boca? Caninos Os caninos semelhantes a presas não só são usados como armas como também intimidam possíveis predadores. Imponentes maxilas Incisivos Os incisivos afiados permitem-lhe rasgar a pele dos inimigos. Maxilas O hipopótamo abre a boca a uma largura de até 1,2 metros. Bocejo O aparente “bocejo” do hipopótamo é, na verdade, um alerta para a sua disposição agressiva. © R au l6 54 O hipopótamo tem caninos tipo presa que podem atingir o tamanho de um braço humano. 018 | Quero Saber “O hipopótamo consegue abrir a boca até 150 graus e até 1,2 m de largura.” Os maxilares do hipopótamo www.querOsaber.cOm.pt no mapa Os tardígrados estão em todo o lado! 1 Nos cumes dos Himalaias 2 No fundo da Fossa das Marianas, no Oceano Pacífico 3 Em florestas húmidas tropicais 4 No deserto de Atacama 5 Na Antártida, congelados 6 No musgo do seu quintal 1. Grylloblattodea Ordem de insetos sem asas que vivem em glaciares e estão de tal forma adaptados ao frio que o calor de umamão bastaria para os matar em minutos. Frente a Frente CRIaTURaS EXCECIonaIS 2. Verme- -de-Pompeia Este anelídeo poliqueta de 10 cm vive perto de fontes hidrotermais, protegido por uma camada de bactérias simbióticas. 3. Tardígrado Consegue sobreviver a temperaturas 270 °C mais frias que os Grylloblattodea, 70 °C mais quentes que o verme-de-Pompeia e níveis de radiação para nós fatais. o mais resisTenTemais resisTenTeresisTenTe © O p en Ca ge Mais rápido e fiável que muitos carteiros… Quero Saber | 019 Na I Guerra Mundial, o pombo Cher Ami entregou a sua última mensagem mesmo alvejado e gravemente ferido? Os tardígrados são pequenos invertebrados aquáticos, por vezes chamados ursos-de-água devido à forma como se movimentam. As maiores espécies têm 1,5 mm de comprimento; as mais pequenas menos de 0,1 mm. Apesar da sua aparência mole e vulnerável, são praticamente indestrutíveis. Experiências mostraram que conseguem sobreviver a pressões de seis mil atmosferas, temperaturas tão baixas como -272 °C ou tão altas como 151 °C e doses de radiação suficientes para matar um ser humano um milhar de vezes. Esta resistência advém do facto de desidratarem o corpo com um açúcar especial chamado trealose, que atua como armação protetora do conteúdo das células. A água no corpo baixa para 1% do normal e o metabolismo abranda 99,99%. O gelo não consegue formar-se num corpo tão seco e as reações químicas que poderiam prejudicá-lo dão-se demasiado lentamente para o afetar. Tardígrados Minúsculas e virtualmente indestrutíveis, serão estas as criaturas mais resistentes do planeta? O pombo-correio é uma variedade domesticada do pombo-das-rochas (Columba livia), que foi seletivamente criada desde a Idade Média com o objetivo de aumentar a sua capacidade natural para regressar ao ninho. O pombo precisa de duas coisas para se orientar no céu: uma mapa e uma bússola. O mapa diz-lhe onde se encontra a cada momento e a bússola mostra-lhe a direção certa a seguir para chegar a casa. A bússola utiliza a posição do Sol e a hora Como se orienta o pombo-correio As espantosas aves que têm mapa e bússola incorporados. 5 6 2 1 3 4 do dia, que é determinada pelo relógio biológico do pombo. Se o céu estiver enublado, os pombos também têm um sentido magnético fraco, que é captado pelo nervo trigémeo, na cabeça. O mapa é mais difícil de localizar. Algumas experiências provaram que os pombos usam marcos visuais, a direção do vento e os cheiros do ar para se orientarem. Estas pistas juntam-se para formar um mapa mental, que vai melhorando à medida que a ave é treinada e que pode estender-se por centenas de quilómetros. Sentidos Algumas espécies têm olhos muito simples, que não formam imagens, e pelos sensoriais. Boca Os tardígrados têm uma boca circular capaz de furar e sugar. A maioria alimenta-se de plantas. Número de células Os tardígrados são eutélicos, ou seja, todos os indivíduos da mesma espécie têm o mesmo número de células. Patas Os tardígrados têm oito patas. O seu nome significa “de andar lento”. Muda de pele Algumas espécies apenas defecam quando mudam a pele, deixando as fezes na pele antiga. © Sc ie nc e P ho to Li br ar y © R pg ch ,2 00 8 SaBIa QUE... www.querosAber.CoM.pt ANIMAIS 020 | Quero Saber Por que alguns peixes preferem manter-se juntos… Cardumes Como e porque é que grandes números de peixes se agrupam em cardumes? De todas as espécies de peixes do mundo, um quarto junta-se e/ou nada em cardume durante toda a vida, enquanto cerca de metade o fazem por períodos limitados. Isto significa que vastos tipos de peixes formam cardumes numa altura ou noutra, juntando-se para nadar em sincronia. Os peixes compõem este fenómeno por diversas razões. A primeira prende-se com aspetos sociais e genéticos, com os peixes a agregarem-se para facilitar a comunicação e reduzir o stress. Experiências revelaram que a frequência cardíaca baixa significativamente nos peixes em cardume, face aos isolados. A segunda vantagem é o facto de aumentar o sucesso do grupo na procura de comida, que se comprovou aumentar substancialmente em relação a um espécime solitário, já que o número de olhos à procura de alimento sobe drasticamente. Como cada peixe tem a capacidade de monitorizar o comportamento dos outros ao seu redor, quando um demonstra comportamento alimentar, os outros seguem-no. Por fim, a terceira – e principal – razão para os peixes de agruparem é para se protegerem. Juntando-se num grande padrão coeso, os peixes minimizam as chances de serem apanhados, gerando uma sobrecarga sensorial no canal visual do predador. A massa rodopiante de sinuosos peixes prateados cria um efeito de fusão que confunde o predador e dificulta que este siga um único alvo. www.querosaber.com.Pt Não deixe o cérebro a dormir ASSINE AGORA! A revista que desperta a sua mente Online: www.assineagora.pt Telefone: 21 862 15 43 Quero Saber | 021 as orcas costumam colaborar para conduzir cardumes à superfície, técnica conhecida como “captura em carrossel”? © S ci en ce P h ot o Li br ar y Esta imagem mostra um cardume colossal de Xenocys jessiae, espécie endémica das ilhas Galápagos, Equador. Os peixes agrupam‑se por diversas razões, incluindo proteção, interação social e vantagens na procura de alimento. SABIA QUE... www.querosaber.com.Pt ANIMAIS 022 | Quero Saber “ A espécie mais conhecida por se alimentar utilizando esta técnica é o crocodilo-do-nilo, comum no Egito.” A tática do crocodilo / Muda de pele da cobra Muitas vezes mal entendida, a tática que o crocodilo emprega contorcendo-se dentro de água serve para despedaçar/ desmembrar animais mortos, não para os matar. A espécie mais conhecida por se alimentar utilizando esta técnica é o crocodilo-do-nilo, comum no Egito. No rio Nilo, este crocodilo usa a sua camuflagem e velocidade para apanhar grandes presas e transportá-las para a água. Lá, o crocodilo segura o animal debaixo de água para o afogar. Quando a presa morre, o crocodilo rodopia de forma a arrancar pedaços de carne do corpo da presa de forma rápida e eficaz. Para tal, enterra os grandes dentes na carne do animal e dá voltas de 360 graus ao próprio corpo. A força muscular do corpo do crocodilo, em conjunto com os seus dentes afiados, desfaz a carne da presa, tarefa que seria difícil de realizar dentro de água sem o movimento giratório. Tática crocodilina Como é que o crocodilo se alimenta? As cobras mudam de pele por duas razões. Primeiro, para facilitar o crescimento, já que a sua pele não acompanha o crescimento do corpo – ao contrário do que acontece no ser humano, a quem caem constantemente milhões de células da derme a um nível microscópico e impercetível. As cobras não mudam de pele a este nível microscópico, pelo que crescem sempre para além da camada de pele mais externa. A frequência com que mudam de pele depende da fase do ciclo de vida em que estão; muito frequentes durante a infância e adolescência (em algumas espécies são mesmo bimensais), as mudas limitam-se a duas vezes por ano na idade adulta. A segunda razão para a muda de pele das cobras é a preservação da sua saúde. Algumas condições de vida menos favoráveis (falta de humidade ou vegetação, calor excessivo, etc.) e alimento inadequado podem levar a lesões cutâneas e parasitação. Se esta condição não for tratada durante muito tempo, na natureza, pode ser prejudicial para o bem-estar da cobra. Ao mudar a pele, a cobra elimina todas estas condições potencialmente prejudiciais e começa de novo, com uma nova pele. Curiosamente, o processo de muda traz consigo algumas complicações. Uma ou duas semanas antes da muda, a visão da cobra fica comprometida pela camada externa da pele que começa a soltar-se e uma semana ou duas após a muda a nova pele é bastante suave e vulnerável ao ataquede predadores. Por essa razão, as cobras costumam ter uma atitude mais protetora na altura da muda e manter-se o menos ativas possível. A cobra dá início ao processo de muda friccionando o corpo contra um objeto pontiagudo como uma rocha, de modo a perfurar a camada externa de pele. Porque mudam as cobras de pele? O que faz com que estes répteis soltem tantas vezes a pele? © S ia s v an S ch al k w yk Grande plano de uma pele de cobra solta. © M yl it tl ef in ge r Crocodilos a tomar banhos de sol... © K m an oj www.quErosAbEr.coM.pt 1. Abutre-rei Vive na América Central e do Sul e é popular no folclore maia. A carúncula amarela e vermelha no seu bico é usada em rituais de acasalamento. Frente a Frente ABUTRES exibicionistA Quero Saber | 023 Os abutres podem projetar vómito para se defenderem? O ácido é suficientemente forte para queimar pele. Os abutres vivem em ecossistemas compostos sobretudo por grandes herbívoros, o que constitui um problema para este carnívoro, dado que uma ave de 2 kg não consegue abater um búfalo de 500 kg. A solução é deixar que outros animais o façam por eles ou esperar pacientemente que morram de causas naturais. Os abutres têm asas de grande envergadura, adaptadas para planar em correntes de ar ascendentes, o que lhes permite cobrir uma vasta área de pasto, em busca de um animal morto ou moribundo. Os abutres não caçam mas, se se depararem com um animal enfraquecido, não se acanham de atacar de imediato, antecipando a morte da sua refeição. Depois de se empanturrarem, os abutres sonolentos empoleiram-se em rochas ou árvores, digerindo e aguardando que uma grande corrente de ar ascendente os ajude a levantar voo uma vez mais. Embora os abutres catartídeos e accipitrídeos sejam parecidos, tal deve-se ao facto de terem evoluído para lidar com o mesmo nicho evolutivo. Os catartídeos incluem os condores e geneticamente não são muito próximos dos accipitrídeos. O abutre alimenta-se mergulhando a cabeça nas cavidades corporais de grandes animais. Uma cabeça com penas ficaria coberta de sangue e fluidos, interferindo com a visão do abutre e arriscando infeções potencialmente letais. O desenvolvimento de uma cabeça nua teve como consequência o facto de o abutre poder usar o pescoço para regular a temperatura corporal, esticando-o e encolhendo-o de forma a ajustar a quantidade de calor perdido através da pele exposta. os abutres Podem ser os necrófagos supremos, mas será que merecem a sua reputação de oportunistas? Penas primárias Os espaços entre as penas de voo primárias (conhecidos como emarginação) reduzem a turbulência e aumentam a sustentação no voo planado. no mApA Onde encontrar abutres? 1 Sul da Europa e Norte de África 2 África subsariana 3 Médio Oriente 4 Subcontinente Indiano 5 EUA 6 América Central e do Sul 2 1 5 3 4 6 Abutre Tipo: Ave Dieta: Carnívoro Esperança média de vida em liberdade: 16 anos Peso: 2 kg Envergadura: 180 cm os números Patas Os abutres urinam propositadamente “pelas pernas abaixo”. O ácido úrico mata as bactérias que apanham por revolverem carcaças. Voz Os abutres não têm siringe – caixa vocal encontrada noutras aves – pelo que os únicos ruídos que produzem são roncos e silvos. Bico O bico adunco permite-lhes arrancar pedaços de carne. O nome “abutre” vem do latim vulture, que significaria “rasgador” ou “despedaçador”. Visão Os abutres-do-velho- -mundo (accipitrídeos) detetam animais mortos exclusivamente pela visão, dirigindo-se a animais parados e isolados do grupo. 2. Abutre-de- -cabeça-vermelha Encontrado no Nepal e na Índia, está em vias de extinção devido ao Diclofenac dado ao gado, tóxico para as aves. em risco 3. Abutre- -de-capuz Este abutre beneficiou da associação com humanos e encontra-se em grandes bandos em volta de aterros na África subsariana. lixeiro © P et ra K ar st ed t, 20 05 © V is h al S ab h ar w al , 2 00 7 estômago forte Os abutres alimentam-se de animais que podem estar mortos – de causas naturais – há várias semanas. Esta carne pútrida está tão cheia de bactérias que seria letal para qualquer outro animal. Mas o abutre tem duas importantes proteções. O ácido do seu estômago é quase dez vezes mais concentrado que o nosso, matando bactérias e vírus de forma tão eficaz que os excrementos do abutre são mais higiénicos que a comida que ingere. Por outro lado, as toxinas são absorvidas pelo revestimento da garganta do abutre e neutralizadas por anticorpos no sangue. Este termograma mostra a temperatura aumentada da cabeça exposta do abutre. © S ci en ce P h ot o Li br ar y SABIA QUE... Olfato Os catartídeos (ou abutres-do-novo- -mundo) são aves de rapina invulgares porque têm um olfato excelente. Conseguem detetar o gás etil mercaptano (etanotiol) libertado por animais mortos a cerca de 1,6 km. www.querOsaber.cOm.pt Os cães evoluíram há cerca de 15 mil anos na China e descendem do lobo asiático. Estudos de ADN revelaram que 95% dos cães em todo o mundo descendem das mesmas três fêmeas, provavelmente porque esses cães ancestrais possuíam uma característica especial que os tornava úteis aos humanos. Os cães são melhores que qualquer outro animal a reconhecer e interpretar pistas sociais humanas corretamente – melhores até que o nosso parente mais próximo, o chimpanzé, e muito melhores que o lobo. Isso verifica-se em cachorros com apenas nove semanas, o que mostra que esta é uma capacidade inata, e não algo aprendido na interação connosco. Inicialmente, os cães eram mantidos apenas pelo seu valor de caça e defesa, mas há cerca de 12 mil anos deu-se uma mutação que gerou raças de cães pequenos. Mais tarde, os criadores começaram a selecionar traços “adoráveis” para criar cães com características de cachorro na idade adulta, como focinhos mais redondos e orelhas descaídas. Ao mesmo tempo, muito do instinto de matilha de várias raças perdeu-se. Os cães tornaram-se animais de companhia, em vez de apenas armas. Os cães ostentam maior variação física entre raças que qualquer outro animal domesticado. Geneticamente, o lhasa-apso tibetano e o shih-tzu chinês são os mais próximos do cão ancestral, mas os primeiros cães terão sido lebreiros: com cabeças longas e esguias, e pernas altas, seguem a presa visualmente e apanham-na com pequenas explosões de velocidade. Mais tarde, surgiram os sabujos, com focinhos curtos e pernas baixas, para manter o nariz mais perto do solo. Caçam por distâncias maiores, seguindo um rasto e usando a sua resistência para esgotar a presa. 024 | Quero Saber O nosso amigo cão 12,5 cm 25,5 cm 38 cm 51 cm 63,5 cm 76 cm 89 cm Cães O que move o melhor amigo do Homem? O buldogue encarna o espírito britânico. Comparação canina Apesar das vastas diferenças de tamanho, todos os cães partilham os mesmos traços anatómicos. Buldogue Chihuahua Foxhound- -americano Grand-danois ANIMAIS “Os cães são melhores que qualquer outro animal a reconhecer e interpretar pistas sociais humanas corretamente.” www.querOsaber.cOm.pt 1. Mastim Apesar de o galgo-irlandês ser mais alto, os mastins são os cães mais pesados, atingindo os 155 kg – mais do que pesa um homem adulto! Frente a Frente raças de cães Mais pesado 2. Chihuahua Com apenas 15 a 23 cm do nariz à ponta da cauda, o chihuahua é o mais pequeno dos cães. Devido ao seu tamanho tornou-se um popular “acessório” das estrelas. 3. pastor-alemão Cães de guarda como o pastor-alemão têm latidos muito altos. O recorde de 108 decibéis pertence a um pastor-alemão chamado Daz. Mais ruidosoMais pequeno Quero Saber | 025 O chocolate, a cebola, a uva e a noz-macadâmia podem ser tóxicos para o sistema digestivo dos cães? Os cães são digitígrados: andam sobre as pontas dos dedos, e não sobre as “solas dos pés”. Isto aumenta o comprimento efetivo das pernas, permitindocorridas mais rápidas, mas mantendo as garras afastadas do solo e reduzindo o ruído dos passos. Os cães têm ainda uma adaptação chamada rete mirabile, uma rede de artérias e veias na base do pescoço, que liberta o calor corporal antes de este chegar ao cérebro, permitindo que os cães corram durante longos períodos sem sobreaquecerem. Os cães têm uma visão limitada em termos de cores, mas são classificados como dicromáticos por não distinguirem o verde e o vermelho. Os cães de focinho longo têm uma tira extremamente sensível ao longo da retina que lhes dá um amplo campo de visão. Nas raças de focinho curto, esta área sensível é mais circular e permite uma visão frontal mais detalhada. Independentemente da raça, todos os cães têm a mesma anatomia básica. sistema muscular Os cães têm 18 músculos distintos para erguer, inclinar e girar as orelhas. Para além de servirem para comunicar com o homem e com outros cães, as orelhas “manobráveis” permitem identificar depressa e com precisão de onde vem um som e ouvir quatro vezes mais longe do que nós. Órgãos internos Ao contrário dos felinos, os cães não são carnívoros compulsivos. O seu intestino é suficientemente comprido para digerir uma série de vegetais e grãos, e as proteínas vegetais perfazem grande parte de uma dieta saudável. Alguns alimentos, como o chocolate, são tóxicos para os cães. anatomia Carpo fundido Os ossos do carpo fundiram-se para se tornarem mais fortes. Esporão Esta garra vestigial corresponde ao polegar. Ombro separado Os cães não possuem clavícula, o que permite passos mais longos ao correr. Focinho 220 milhões de recetores olfativos cobrem uma pequena área de pele. Tapetum lucidum Esta camada por trás da retina reflete a luz para melhorar a visão noturna. Peito profundo Os lebreiros têm uma cavidade peitoral funda para suportar um coração grande e pulmões potentes. Cauda Muitas raças de cães têm caudas que dobram para cima. As dos lobos não o fazem. Pata As patas dos cães medem metade das dos lobos, face ao tamanho do corpo. O remake de Os Suspeitos do Costume não teve o sucesso esperado… Lindo menino! Quão inteligente é o nosso amigo de quatro patas? O cão doméstico pode exibir uma inteligência social rara no mundo animal, mesmo contando com o nosso parente mais próximo, o chimpanzé. Os cães podem aprender, logo podem ser treinados, seja por reforço (castigo e recompensa) ou por observação. Os cachorros aprendem a comportar-se mais depressa se seguirem os exemplos de cães mais velhos, e até aprendem observando os humanos. Os cães podem exibir um sofisticado conhecimento social associando pistas comportamentais a um significado abstrato. Em testes, localizaram com sucesso uma guloseima escondida sob um de dois baldes, através de uma série de sinais, incluindo pancadas, acenos e olhares, saindo-se melhor que chimpanzés, lobos e bebés humanos. © S ci en ce P h ot o Li b ra ry © C la ud io G en n ar i © D an C en tu ry Os cães conseguem realizar várias tarefas para auxiliar os humanos. saBIa QUe... www.querOsaber.cOm.pt ANIMAIS 026 | Quero Saber Maravilhas de oito braços “ Os machos morrem após acasalarem.” Conheça as capacidades incríveis destas maravilhas de oito braços. Super-heróis do reino animal, os polvos têm tantas habilidades e adaptações que chegam a causar inveja. São capazes de resolver labirintos, abrir frascos e usar ferramentas. Conseguem andar, nadar e até propelir-se a alta velocidade. Podem mudar de cor, imitar outros animais, esguichar tinta, injetar veneno e desfazer-se dos próprios braços. Quando se consegue fazer tudo isto, o que é que interessa se conseguem ou não prever os resultados de um jogo de futebol? Embora sejam moluscos, os polvos não têm concha nem ossos; a única parte dura dos seus corpos é um bico feito de queratina. É assim que conseguem passar por espaços muito pequenos: um polvo com um metro de comprimento consegue passar por um tubo com o diâmetro de uma moeda de dois euros. Os polvos comem principalmente caranguejos e pequenos peixes que extraem de fendas nas rochas e corais, mas também conseguem sufocar pequenos tubarões tapando-lhes as guelras. O sangue dos polvos tem um pigmento verde-azulado que contém cobre, chamado hemocianina, em vez da hemoglobina que temos no nosso sangue, à base de ferro. A hemocianina não transporta tanto oxigénio quanto a hemoglobina, mas é mais eficiente em baixas concentrações de oxigénio e em água fria. Apesar disto, os polvos têm uma circulação fraca e a sua energia esgota-se rapidamente. Talvez por isso sejam tão inteligentes – a energia não chega para fazer grandes perseguições, por isso, dependem do seu engenho. Tanto os machos como as fêmeas morrem após a reprodução. Os machos morrem até um mês após acasalarem. As fêmeas deixam de comer durante o período de desenvolvimento dos ovos para se dedicarem à sua proteção e oxigenação, e morrem após a eclosão dos mesmos (normalmente um mês após a postura). Ventosas Cada tentáculo tem duas filas de ventosas que permitem ao polvo agarrar-se a tudo e provar alimentos. Coloração O polvo-de-anéis-azuis pode adquirir a cor do solo ou piscar de repente os anéis para assustar os predadores. Cromatóforos As células da pele que mudam de cor têm uma forma afunilada. Ao apertar a tinta a partir de uma ampola na base da célula, o polvo consegue controlar o tamanho do ponto colorido à superfície. Olho É muito parecido ao nosso, com cristalino e íris, mas evoluiu de forma diferente. O polvo não tem um ângulo morto onde passa o nervo ótico, porque a posição da retina é diferente da nossa. Glândulas de veneno Evoluíram de glândulas salivares. Paralisam a presa e suavizam a sua carne, para que seja mais fácil de ingerir. Os polvos Polvo a jato Os polvos costumam nadar pulsando os tentáculos, como fazem as medusas com as suas campânulas. Este método é eficiente, mas não permite muita aceleração; quando um polvo precisa de se mover rapidamente, utiliza uma propulsão a jato: suga a água para dentro da cavidade do manto e esguicha-a a alta pressão através do sifão. É também assim que os polvos fazem circular a água pelas brânquias: inspiram profundamente e expiram com força. O sifão está posicionado de lado no corpo do polvo, mas pode ser manobrado como os motores de um jato militar – um método que o polvo também usa, por vezes, ao andar. © a lb er t k ok Uma forma útil de o polvo se movimentar quando precisa de velocidade extra. Ótimas para agarrar… © S ci en ce P h ot o Li br ar y Polvo Classe: Cefalópodes Dieta: Carnívoro Esperança média de vida em liberdade: 6 meses a 5 anos Peso: 28 g a 200 kg Comprimento: 3 cm a 9 m Os números © H Z el l © G ro n k www.querOsaber.cOM.pt 1. Polvo-mímico Para afugentar predadores e enganar presas, este polvo altera a sua forma e cor de modo a imitar cobras, medusas e até caranguejos. Frente a Frente TIPOS DE POLVOS ESPERTO Quero Saber | 027 Os polvos têm três corações? Dois bombeiam sangue para as brânquias e o outro para o resto do corpo. Defesas Algumas espécies de polvos injetam veneno paralisante pelo bico para dominarem as presas. O do polvo-de-anéis-azuis (Hapalochlaena maculosa), que só tem 10 cm de comprimento, pode matar um ser humano. Mas também têm predadores – e a maioria das suas adaptações serve para lhes escaparem. As células da pele que mudam de cor (cromatóforos) são usadas para se camuflarem ou assustar predadores com cores vivas. Muitas espécies têm pequenos músculos sob a pele para alterar a sua textura de modo a assemelhar-se a corais ou algas. O polvo-mímico pode mesmo usar os braços para nadar de forma semelhante a uma solha, uma serpente marinha ou até um peixe-leão venenoso. Se não resultar, o polvo esguicha uma nuvem de tinta à base de melanina, o que dificulta a visão einterfere com o olfato – muito usado pelos tubarões para localizar presas. Braços inteligentes Capazes de girar em qualquer direção, e com ventosas que aderem e se libertam individualmente, os tentáculos são demasiado complicados para serem controlados por um cérebro central. Assim, funcionam semiautonomamente. Um polvo é como uma pessoa a segurar umas quantas cobras treinadas: dá instruções que espera ver concretizadas e, de vez em quando, verifica se está tudo bem. Por isso, o polvo nunca sabe exatamente onde estão todos os braços, e não perceciona a forma de algo pelo toque, como fazem os humanos. Os polvos conseguem saborear pelas ventosas e podem desfazer-se de um braço quando precisam de fugir, e este volta a nascer. O polvo argonauta (Argonauta argo) utiliza um braço específico para depositar esperma. O tentáculo separa-se do corpo e nada sozinho até à fêmea. Anatomia do polvo Cérebro Apenas um terço dos neurónios do polvo está no cérebro. O resto está nos tentáculos, que possuem alguma inteligência. Papo Área contentora antes do estômago. Os alimentos são decompostos através de contrações externas do corpo. Gónada Os machos depositam o esperma na fêmea com um tentáculo. Em algumas espécies o terceiro tentáculo à direita é especializado para o efeito – o chamado hectocótilo. Sifão Um “tubo de escape” das brânquias e meio de propulsão a jato. nO maPa Onde se podem encontrar polvos? 1 Recifes de coral – Na imensidão de fendas dos corais vivem muitas criaturas das quais o polvo gosta de se alimentar. 2 Solos arenosos – São mais perigosos para os polvos. Alguns escavam buracos na areia, outros usam conchas de bivalves, como o caranguejo-eremita ou casa-alugada. 3 Abismos rochosos – O polvo-gigante-do-pacífico vive nos solos profundos e gelados do oceano Pacífico. 2 1 3 2. Polvo-comum Em cativeiro, o Octopus vulgaris, a espécie mais comum em Portugal, aprendeu a abrir frascos para chegar à comida neles contida. MAIS ESPERTO 3. Amphioctopus marginatus É o único invertebrado a fazer uso de ferramentas, transportando duas metades de casca de coco que lhe servem de abrigo quando sob ameaça. O MAIS ESPERTO Brânquia A água é sugada através das duas abas do manto, em ambos os lados do corpo, e passa através das brânquias. © DK Images © B ec km an n ja n © N h ob go od O polvo está longe de ser indefeso. © S te ve C h ild s SaBIa QUE... www.querOsaber.cOM.pt ANIMAIS 028 | Quero Saber “ A comunicação é feita através de ruídos de baixa frequência (0,2 a 50 kHz) que viajam a 1,4 km por segundo.” A toca do texugo / Comunicação entre golfinhos Os texugos vivem numa série de túneis e câmaras subterrâneas que constituem as suas tocas. Estas estruturas têm vários andares (o que facilita o fluxo do ar), ligados uns aos outros através de túneis que se estendem por centenas de metros. As tocas costumam ser escavadas em áreas dos bosques sem vegetação, com solo arenoso e fácil de escavar. Cada toca pode ter várias entradas, que costumam situar-se em terrenos inclinados de modo a facilitar a drenagem da água quando chove. As câmaras têm três utilizações principais: a câmara primária é usada para dormir e cuidar das crias; a primeira câmara secundária serve de local de acasalamento e a segunda câmara secundária de local de defecação. A qualidade de construção e o tamanho das tocas atrai outros animais que acabam por ali se instalar – com destaque para coelhos, furões e raposas, que utilizam as tocas como local de abrigo para cuidar das crias. Toca do texugo Porque criam os texugos estas estruturas labirínticas? Ambiente Os texugos preferem construir as tocas em solo arenoso e fácil de escavar. O calcário e o cré são muito populares, ao contrário da argila, que é húmida, pesada e instável. Entrada As entradas para a toca costumam estar em solo inclinado ou nas margens de rios e ribeiros, o que ajuda a drenar a água quando a entrada é afetada por chuvas fortes. Túneis Os túneis da toca podem ter centenas de metros, com toneladas de solo escavado para os construir. Um complexo de túneis com 310 metros já foi encontrado no Reino Unido. Câmaras As tocas têm várias câmaras espaçadas que são utilizadas para diferentes fins. A câmara primária serve para dormir e cuidar das crias, e as secundárias são usadas para acasalar e defecar. Ligações Os texugos são por natureza tímidos e desconfiados – só saem à noite – pelo que interligam os seus túneis a outros, para facilitar o movimento e a fuga aos predadores. Os golfinhos produzem sons graças a uma estrutura localizada na cavidade nasal, os “lábios fónicos” ou “lábios fonéticos”. Estes tecidos musculares, quando estimulados pela passagem do ar, permitem formular uma variedade de sons de diferentes frequências, como cliques, assobios e gemidos. É muito semelhante à forma como o ser humano exala o ar dos pulmões pela laringe, mas os golfinhos não moldam nem projetam os sons pela boca. Na realidade, recorrem a uma estrutura adiposa, conhecida como melão, que amplifica e focaliza o som. A comunicação é feita através de ruídos de baixa frequência (0,2 a 50 kHz) que viajam a 1,4 km/segundo – cerca de 4,5 vezes mais depressa que pelo ar. As frequências mais baixas viajam mais longe que as mais altas e, em conjunto com um assobio individual formado durante a infância, permitem aos golfinhos comunicar uns com os outros, mesmo a grandes distâncias. O som também é usado para a ecolocalização, um processo que permite aos golfinhos identificar objetos, animais e tipos de terreno através de uma sequência de ondas de som de alta frequência (ultrassons). Com frequências entre 40 e 130 kHz, duram normalmente 50 a 128 microssegundos. As ondas da ecolocalização são amplificadas e direcionadas pelo melão, e o respetivo eco (quando as ondas ressaltam num objeto) é percecionado pelo ouvido interno e depois enviado para o cérebro sob a forma de impulsos nervosos. Curiosamente, os golfinhos têm dois complexos de lábios fónicos, podendo comunicar e ecolocalizar ao mesmo tempo. Os sons do golfinho Como comunicam estes inteligentes mamíferos marinhos se não têm cordas vocais? © B ad ge rH er o © D K Im ag es O texugo não se contenta com um simples buraco. Lábios fónicos À medida que o ar é filtrado pela cavidade nasal, os lábios vibram para produzir som. Ouvido interno O golfinho não tem ouvido externo, mas o par interno deteta os ecos emitidos de obstáculos e criaturas. Melão O melão, grande e bolboso, ajuda o golfinho a focar as ondas sonoras na direção desejada. Ondas sonoras Têm frequências entre 0,2 e 150 kHz. Os sons de baixa frequência são para comunicar, e os de frequência mais alta ajudam à ecolocalização. Eco refletido As ondas sonoras passam pela água e ecoam quando batem num objeto sólido. Os golfinhos comunicam através de assobios, cliques e gemidos. www.querosAber.com.pt nO mapa Quero Saber | 029 Na sua migração pela Ásia, o ganso‑de‑cabeça‑listada viaja a uma altitude de nove mil metros? Guiadas por estrelas e impelidas pelos genes, as aves embarcam em viagens anuais épicas. Migração de aves As aves não migram por causa do frio. Um pouco de neve não as iria matar – mas a falta de alimentos sim. As aves migram para seguir animais como insetos, minhocas ou crias de coelhos. O “porquê” da migração, contudo, é menos fascinante do que o “como”. Existem duas capacidades que todas as aves migratórias têm: orientação e navegação. A orientação é a capacidade de determinar a direção para onde se deve viajar. As aves não têm bússolas nem GPS, mas orientam‑se através da posição do sol, durante o dia, e das estrelas, à noite. Algumas, como os pombos, orientam‑se através do campo magnético da Terra. Quanto à navegação, existem várias teorias sobre como se processa, mas não
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