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CENTRO UNIVERSITÁRIO AUGUSTO MOTTA – UNISUAM CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO AVALIAÇÃO A2 - ESTUDOS INTERDISCIPLINARES DE DIREITO PRIVADO Profº MARCOS ROCHA Aluno: Vinícius Inocêncio Donadio Matrícula: 16100092 15 de Junho de 2020 1ª Questão Para o melhor entendimento e análise da Súmula 302 do Superior Tribunal de Justiça (STJ), deve-se primeiramente fazer uma rápida descrição do que seria a Teoria do Diálogo das Fontes e também o que seria a Função Social dos Contratos. Com a Teoria do Diálogo das fontes surge a ideia de que as leis devem ser aplicadas de forma isolada umas das outras, onde o ordenamento jurídico deve ser interpretado de forma unitária. A Teoria do Diálogo das Fontes foi criada na Alemanha pelo Jurista Erik Jayme em 1995 e trazida para o Brasil por Claudia Lima Marques, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Ela surge para fomentar a ideia de que o Direito deve ser compreendido como um todo de uma maneira sistemática e coordenada, ou seja, uma norma jurídica não excluiria a aplicação da outra, como ocorre com a adoção dos critérios clássicos para solução dos conflitos de normas, conforme foram idealizados por Norberto Bobbio. A ideia básica que se pretende alcançar por esta teoria é que as normas jurídicas não se excluem simplesmente por pertencerem a ramos jurídicos distintos, pelo contrário, ela se complementam, aplicando a premissa de uma visão unitária do ordenamento jurídico. Assim aduz Drª Claudia Lima que: [...] “diálogo” em virtude das influências recíprocas, “diálogo” porque há aplicação conjunta das duas normas ao mesmo tempo e ao mesmo caso, seja complementarmente, seja subsidiariamente, seja permitindo a opção voluntária das partes pela fonte prevalente (especialmente em matéria de convenções internacionais e leis modelos) ou mesmo a opção por ter uma solução flexível e aberta, de interpenetração, ou a solução mais favorável ao mais fraco da relação. Marcos Tadeu Gambera, aduz em seu artigo Função Social do Contrato que: "A função social do contrato originou-se à partir do momento que o Estado deixou de ser totalmente liberal, e passando a intervir nas relações entre os particulares para a aplicação de normas e preceitos fundamentais e de interesse público. A Função Social do Contrato originou-se à partir do momento que o Estado deixou de ser totalmente liberal, e passando a intervir nas relações entre os particulares para a aplicação de normas e preceitos fundamentais e de interesse público. O liberalismo econômico gerou muita insegurança quando, os particulares, detentores de direitos individuais, os utilizavam sem respeitar os interesses sociais, da coletividade. E, após as guerras, percebeu-se a importância de limitar estes direitos individuais, aos direitos coletivos, sociais. Em compasso com esta mudança que se originou a teoria da função social do contrato, pois, passando o Estado a ser intervencionista, poder-se-ia pensar em limitação à liberdade contratual, não podendo as partes deixar de observar os interesses sociais, desde às normas morais e éticas, até aquelas fixadas em leis. No Direito Brasileiro, surgiu no Código Civil de 2002, no artigo 421, em razão do Código anterior não tratar do tema, a jurisprudência já havia firmado entendimento deste princípio, por isso e pela construção doutrinária a respeito, houve a inclusão deste princípio no atual Código Civil. À luz desse diálogo de complementaridade entre os dois sistemas – permitindo a aplicação simultânea, coerente e coordenada das plúrimas fontes legislativas. Prevê a referida súmula que “é abusiva a cláusula contratual de plano de saúde que limita no tempo a internação hospitalar do segurado”. O princípio da função social do contrato é de importância vital para a criação e manutenção dos contratos, seja para as partes envolvidas contratantes ou para toda a sociedade, como a proteção à vida, saúde, segurança, trabalho e proteção ao meio ambiente. A Súmula 302 do Superior Tribunal de Justiça considera abusiva a cláusula contratual de plano de saúde que limita o tempo de internação do consumidor. Ao adotar este posicionamento o STJ reconhece como sendo inválidas as cláusulas presente em contratos de plano de saúde, mesmo que estejam expressas ou constem de contratos firmados anterior à Lei 9.656/98. A publicação da Súmula, além de representar a consolidação do entendimento do Tribunal na matéria, significa o reconhecimento da vulnerabilidade do paciente/consumidor, a prevalência do princípio da boa-fé objetiva e opção por uma solução humanista para o problema. A Súmula decorre de julgados proferidos em diversos precedentes, que consideraram a abusividade da cláusula limitativa do tempo de internação, especialmente quando essa internação se dava em Unidade de Terapia Intensiva: EREsp 242.550, DJ 02.11.2002; REsp 158728, DJ 17.5.1999; REsp 249.423, DJ 05.3.2001; REsp 251.024, DJ 04.02.2002 e REsp 402.727 , DJ 02.02.2004. A cláusula de limitação de internação poderia ser considerada abusiva conforme art. 424 do CPC/15, visto que o contrato assume forma de adesão, sendo o seu conteúdo imposto de forma unilateral pelo plano de saúde. Partindo-se para a análise principiológica da referida súmula, observa-se, de imediato, que a mesma traz aplicação direta do princípio da função social dos contratos, relativizando a força obrigatória (efeito inter partes). Por fim não se pode esquecer que a cláusula é nula, mas deve ser preservado todo o resto do contato, aplicando-se diretamente o art. 51§ 2º do Código de Defesa do Consumidor, que consagra o princípio da conservação contratual na ótica consumerista. A Súmula atende àquela visualização personalizada do Direito Contratual, pela qual o principal objetivo dos negócios jurídicos patrimoniais é atender aos interesses da pessoa. Isso, sintonizada, com o Direito Civil Constitucional e os seus três princípios máximos: a proteção da dignidade humana (art. 1º, III, da CF/88), a solidariedade social (art. 3º, I, da CF/88) e a igualdade em sentido amplo (art. 5º, caput, da CF/88). 2ª Questão Jurisprudências AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL - AÇÃO REVISIONAL - DECISÃO MONOCRÁTICA QUE CONHECEU DO AGRAVO PARA NEGAR PROVIMENTO AO RECLAMO.INSURGÊNCIA RECURSAL DA DEMANDADA. 1. Para alterar as conclusões contidas no decisum e acolher o inconformismo recursal no sentido de verificar a apontada afronta à liberdade de contratar, seria imprescindível a interpretação de cláusulas do contrato celebrado entre as partes e a incursão no conjunto fático e probatório dos autos, providências que atraem os óbices estabelecidos pelas Súmulas 5 e 7 do STJ. Precedentes. 1.1. Ademais, a jurisprudência deste Tribunal Superior é firme no sentido de que o princípio da pacta sunt servanda pode ser relativizado, visto que sua aplicação prática está condicionada a outros fatores, como, por exemplo, a função social, a onerosidade excessiva e o princípio da boa-fé objetiva dos contratos. Incidência da Súmula 83/STJ. 2. Segundo a jurisprudência desta Corte, a aferição do percentual em que cada litigante foi vencedor ou vencido ou a conclusão pela existência de sucumbência mínima ou recíproca das partes é questão que não comporta exame em recurso especial, por envolver aspectos fáticos e probatórios, aplicando-se à hipótese a Súmula 7/STJ. Precedentes. 3. Agravo interno desprovido. (AgInt MP AREsp 1506600/RJ AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL 2019/0143036-4 - Rel. Min. MARCO BUZZI, Julgado em 12/12/2019) O julgado acima aponta que para alterar as conclusões contidas no decisum e acolher o inconformismo recursal no sentido de verificar a apontada afronta à liberdade de contratar, seria imprescindível a interpretação de cláusulas do contrato celebrado entre as partese a incursão no conjunto fático e probatório dos autos, providências que atraem os óbices estabelecidos pelas Súmulas 5 e 7 do STJ. . Ademais, a jurisprudência deste Tribunal Superior é firme no sentido de que o princípio da pacta sunt servanda pode ser relativizado, visto que sua aplicação prática está condicionada a outros fatores, como, por exemplo, a função social, a onerosidade excessiva e o princípio da boa-fé objetiva dos contratos. Incidência da Súmula 83/STJ.. Segundo a jurisprudência desta Corte, a aferição do percentual em que cada litigante foi vencedor ou vencido ou a conclusão pela existência de sucumbência mínima ou recíproca das partes é questão que não comporta exame em recurso especial, por envolver aspectos fáticos e probatórios, aplicando-se à hipótese a Súmula 7/STJ. Em relação a segunda jurisprudência, seguem os seguintes esclarecimentos a saber: AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER. PLANO DE SAÚDE. 1. PLANO COLETIVO EMPRESARIAL QUE BENEFICIA APENAS DUAS PESSOAS FÍSICAS. CONDUTA ABUSIVA. FALTA DE MOTIVAÇÃO IDÔNEA. DEVER DE MANUTENÇÃO DO CONTRATO. OBSERVÂNCIA DA BOA-FÉ. SÚMULA N.83/STJ. 2. PEDIDO DE NOVA CONDENAÇÃO AO PAGAMENTO DE HONORÁRIOS RECURSAIS. IMPOSSIBILIDADE. VERBA JÁ CONTEMPLADA NA DECISÃO MONOCRÁTICA. 3. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. INEXISTÊNCIA. 4. AGRAVO IMPROVIDO. 1. A jurisprudência do STJ é no sentido de que "é válida a cláusula que prevê resilição unilateral de contrato de plano de saúde coletivo empresarial com menos de trinta beneficiários, condicionada a motivação idônea" (AgInt no AREsp n. 1.132.794/SP, Relator o Ministro Raul Araújo, Quarta Turma, julgado em 12/3/2019, DJe 20/3/2019). 1.1. No caso, não se admite a resilição sem motivação idônea do contrato de plano de saúde coletivo, uma vez que a empresa conta apenas com dois beneficiários - a sócia-administradora e sua mãe -, estando, portanto, em observância aos princípios da função social do contrato e da boa-fé objetiva. 2. Fixados os honorários recursais no primeiro ato decisório, não cabe novo arbitramento nas demais decisões que derivarem de recursos subsequentes, apenas consectários do principal, tais como agravo interno e embargos de declaração. 3. Conforme entendimento desta Corte, a interposição de recursos cabíveis não implica "litigância de má-fé nem ato atentatório à dignidade da justiça, ainda que com argumentos reiteradamente refutados pelo Tribunal de origem ou sem alegação de fundamento novo" (AgRg nos EDcl no REsp n. 1.333.425/SP, Relatora a Ministra Nancy Andrighi, DJe 4/12/2012). 4. Agravo interno desprovido. (AgInt no REsp 1834839/SP. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL 2019/0256211-3) A Jurisprudência do STJ é a favor de que é válida a cláusula que prevê resilição unilateral de contrato de plano de saúde coletivo empresarial com menos de trinta beneficiários, condicionada a motivação idônea" (AgInt no AREsp n. 1.132.794/SP, Relator o Ministro Raul Araújo, Quarta Turma, julgado em 12/3/2019, DJe 20/3/2019). No caso, não se admite a resilição sem motivação idônea do contrato de plano de saúde coletivo, uma vez que a empresa conta apenas com dois beneficiários - a sócia-administradora e sua mãe -, estando, portanto, em observância aos princípios da função social do contrato e da boa-fé objetiva. Conforme entendimento desta Corte, a interposição de recursos cabíveis não implica "litigância de má-fé nem ato atentatório à dignidade da justiça, ainda que com argumentos reiteradamente refutados pelo Tribunal de origem ou sem alegação de fundamento novo" (AgRg nos EDcl no REsp n. 1.333.425/SP, Relatora a Ministra Nancy Andrighi, DJe 4/12/2012). REFERENCIA BIBLIOGRAFICA GAGLIANO, Pablo Stolze. Manual de Direito Civil: volume único / Pablo Stolze Gabliano e Rodolfo Pamplona Filho - São Paulo: Saraiva, 2017. GAMBERA. Marcos Tadeu. Função Social do Contrato, São Paulo-SP. Disponível em: https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-civil/funcao-social-do- contrato/. Acesso em: 15 jun 2020. OLIVEIRA. Amanda Flávio De. Súmula 302/STJ - Limite de tempo de internação em UTI. Disponível em: https://jurisway.jusbrasil.com.br/noticias/2302968/sumula-302-stj- limite-de-tempo-de-internacao-em-uti. Acesso em: 15 jun 2020. MARQUES, Cláudia Lima. Três tipos de diálogos entre o código de defesa do consumidor e o código civil de 2002: superação das antinomias pelo “diálogo das fontes”. Código de defesa do consumidor e o código civil de 2002: convergências e assimetrias. Roberto A.C. Pfeiffer; Adalberto Pasqualotto (Coord.). São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. MORAES, Carlos Alexandre. A Aplicação da Teoria do Diálogo das Fontes no Direito do Consumidor Brasileiro. Disponível em: http://genjuridico.com.br/2018/05/23/a-aplicacao-da-teoria-do-dialogo-das-fontes-no- direito-do-consumidor-brasileiro/#_ftn60 Acesso em: 05 jun 2020. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA https://scon.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?livre=FUN%C7%C3O+SOCIAL+D O+CONTRATO&ref=SUM&indx=%28%28SUM%29.indx.+ou+%28%40cdoc+nao+le g.indx.%29%29&b=ACOR&thesaurus=JURIDICO&p=true. Acesso em: 15 jun 2020. TARTUCE, Flavio. A função social dos contratos, a boa-fé objetiva e as recentes súmulas do Superior Tribunal de Justiça Conteúdo Jurídico, Brasilia-DF. Disponivel em: https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/15862/a-funcao- social-dos-contratos-a-boa-fe-objetiva-e-as-recentes-sumulas-do-superior-tribunal-de- justica. Acesso em: 15 jun 2020. http://genjuridico.com.br/2018/05/23/a-aplicacao-da-teoria-do-dialogo-das-fontes-no-direito-do-consumidor-brasileiro/#_ftn60 http://genjuridico.com.br/2018/05/23/a-aplicacao-da-teoria-do-dialogo-das-fontes-no-direito-do-consumidor-brasileiro/#_ftn60 https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/15862/a-funcao-social-dos-contratos-a-boa-fe-objetiva-e-as-recentes-sumulas-do-superior-tribunal-de-justica https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/15862/a-funcao-social-dos-contratos-a-boa-fe-objetiva-e-as-recentes-sumulas-do-superior-tribunal-de-justica https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/15862/a-funcao-social-dos-contratos-a-boa-fe-objetiva-e-as-recentes-sumulas-do-superior-tribunal-de-justica TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil - 10. ed. - Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2020.
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