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Introdução ao Estudo do Direito Privado Docente: Ricardo Maurício Aluno: Rafael Diniz Gonçalves Ferrero Teoria da Norma Jurídica, Noções Gerais 1 - Sociedade: Conceito e tipologias Tipos de sociedade: Humana e não humana 2 - Determinismo vs Liberdade As sociedades não humanas são regidas pelo determinismo biológico e por conta disso as ações sociais estão sempre pré definidas pela estrutura genética. As sociedades humanas são regidas pelo princípio de liberdade, visto que os seres humanos podem a todo instante adotar soluções novas, inéditas e imprevisíveis para as situações sociais. 3 - Controle social: Conceito e elementos Trata-se do processo de adequação do comportamento humano aos padrões normativos socialmente aceitos. Serve para organizar as esferas de liberdade. O controle social se compõe de dois elementos: As instituições e as normas. 4 - Mundo normativo e a lógica do dever-ser As normas sociais estabelecem modelos ideais de conduta, o dever-ser. O mundo do ser é o mundo real e não guarda coerência com o dever-ser. O mundo do dever-ser deve sempre buscar acompanhar o mundo do ser. 5 - Normas técnicas vs Normas éticas Normas técnicas: São normas sociais que disciplinam a conduta humana tendo em vista a prevalência dos fins em detrimento dos meios. Regulam o comportamento humano de forma neutra, sem preocupação com os valores que levam em conta a dignidade humana. Normas éticas: São normas sociais que regulam o comportamento humano priorizando os meios socialmente legítimos para a realização de fins, tendo em vista a preservação da dignidade humana e a realização da justiça. Para a técnica os fins justificam os meios , para a ética os meios tem que ser respeitados para chegar em um fim não doloso a dignidade humana. 6 - Tipos de normas éticas Normas de etiqueta ou cortesia: As normas de etiqueta ou cortesia também chamadas de Folkways, são normas que tratam de aspectos secundários ou acessórios, normas que visam hábitos de decoro no trato com as pessoas ou coisas. Normas morais/mores: Refere-se a normas importantes de convivência que não tem punição prevista na lei. Deve ser punido com uma sanção difusa aplicada por qualquer agente social do seu meio de forma espontânea. As punições podem ser gestos, olhares, palavras duras, desavenças em redes sociais... Normalmente é a primeira sanção a ser aplicada. Observações: 1 - As normas éticas variam no tempo e no espaço refletindo a diversidade histórico-cultural. 2 - O direito pode se apropriar dos padrões de normatividade moral para formular as normas jurídicas. 3 - Nem sempre as normas éticas coincidem. 4 - Embora a sanção jurídica seja aplicada pelo estado em regime de monopólio, nas sociedades contemporâneas, excepcionalmente a ordem jurídica confere ao particular a prerrogativa de aplicação de uma punição. São as normas que integram o chamado mínimo ético, estando situadas como a última barreira do sistema de controle social. Só é aplicada depois de seguir um processo jurídico, o devido processo legal. Visa seguir as leis e não a moralidade. Ilicitude - sanção organizada - prevista na lei. Aplicadas pelo monopólio estatal. ● Tudo que não está juridicamente proibido está juridicamente permitido. ● O estado tem o monopólio do uso legítimo da força - Max Weber. ● Qualquer sujeito pode invocar a legítima defesa em caso de lesão ou possível lesão ao bem jurídico. Características ● Propedêutica (introdutória) ● Enciclopédica (multidisciplinar) ● Zetética: Abordagem aberta, crítica, questionadora. Feita com responsabilidade é a abordagem mais adequada. Baseada em valores fundamentais. Pode gerar insegurança. ● Dogmática: Aceitação de alguns princípios como inalteráveis. Acrítica, sem questionamento. Juiz boca de lei. ● Epistemológica: Condição de cientificidade do conhecimento jurídico. Direito vs Moral: Critérios Distintivo 1) Bilateralidade x Unilateralidade: O direito é bilateral pois as normas jurídicas disciplinam relações intersubjetivas, atribuindo direitos e deveres aos sujeitos. Isto torna um dever jurídico exigível institucionalmente, através dos mecanismos e procedimentos estabelecidos na ordem jurídica. Por outro lado, as normas morais regulam unilateralmente a vida humana, sem que haja um dever moral a ser exigido institucionalmente. A bilateralidade do dever jurídico gera a exigibilidade do mesmo. A possibilidade de exigir institucionalmente o cumprimento do dever jurídico. A unilateralidade da moral se dirige à consciência subjetiva de cada um. 2) Heteronomia x Autonomia Heteronomia é do direito a Autonomia e da moral Os preceitos da normatividade jurídica são impostos geralmente por uma outra instituição dependente dos sujeitos de direito. Por sua vez, as normas morais são autônomas pois os seus preceitos são postos pelo próprio indivíduo como decorrência da sua liberdade. A moral é autônoma porque tem preceitos de escolha livre dos indivíduos 3) Exterioridade x Interioridade Exterioridade (direito): As normas jurídicas são exteriores pois elas incidem toda vez que houver um comportamento já exteriorizado no mundo dos fatos e dos valores sociais. O direito não regula os aspectos internos do psiquismo humano. Isso cabe a moral. Interioridade (moral): Por sua vez, a moral é interior pois a consciência moral incide independentemente da realização de um comportamento no mundo externo. 4) Maior coercitividade x Menor coercitividade (coerção - medo) Coercitividade é a ameaça de aplicação de um castigo ético. O direito se revela mais coercitivo que a moral nas sociedades ocidentais contemporâneas. A coerção atua preventivamente. 5) Maior coatividade x Menor coatividade (coação - dor) Coação é a manifestação concreta da força, ou a aplicação concreta de um castigo. A coação atua repressivamente. O direito é mais coativo. 6) Sanção organizada x Sanção difusa Sanções jurídicas são organizadas enquanto as Sanções morais são difusas. A sanção difusa é aplicada pelos agentes sociais do meio e não pelo estado. A sanção organizada atua exclusivamente em atos ilícitos. RESUMO: O Direito é bilateral, heterônomo, exterior, mais coercitivo, mais coativo e de sanção organizada. Moral é unilateral, autônoma, interior, menos coercitiva, menos coativa e de sanção difusa. *Jurisprudência: Conjunto de decisões judiciais feitas no mesmo sentido. Inclinação. *Competência: Extensão de uma jurisdição. "Não é competência de tal juiz" *Verba volant, scripta manent - "Palavras faladas voam, palavras escritas permanecem" *Dura lex, sed lex - "A lei é dura mas é a lei" *Ubi societas, ibi jus - "Onde está a sociedade está a lei" *Bens jurídicos de igual valor em disputa: uma vida vale o mesmo que outra vida. *O direito tem espaço para teatralidade no tribunal. *O júri tem a palavra final. Atuam em crimes dolosos contra a vida. importante conquistar o júri. Teoria dos Círculos Éticos Trata-se da parte da teoria da norma jurídica que se propõe a estudar a distinção entre direito e moral no mundo ético. A concepção dos círculos éticos concêntricos (idade antiga e média) Trata-se da visão segundo a qual o direito estaria inserido no mundo moral, como um núcleo da moralidade social. Haveria assim uma coincidência absoluta destas esferas éticas. Tal concepção foi difundida no âmbito da idade antiga e da idade média. A concepção dos círculos éticos separados (idade moderna) Direito e a Moral seriam incomunicáveis/não teriam qualquer zona de intercessão, o direito não pode se contaminar com a moral individual Pode trazer injustiças, já que o direito passa a ser aplicado de forma dogmática e injusta (nazismo, facismo) Positivismo Jurídico. summum jus est summa injuria - "o máximo do direito, o máximo da injustiça" A concepção dos círculos éticos secantes (idade contemporânea) Direito e a Moral apresentam uma zona de intercessão. Pós-Positivismo Jurídico. Após a segunda guerra mundial se vê a necessidade de reconectar o direito da moral = Internacionalização dos Direitos Humanos (conexão do direito coma moral). Positivação dos direitos humanos nas constituições democráticas. O problema é que a zona de intercessão muitas vezes faz com que o direito e moral se misturem e percamos o papel de cada um, e o direito acaba colonizando a moral. O círculo do direito fica dentro do círculo da moral. Jusnaturalismo: é a concepção do direito como produto de uma moralidade inerente à humanidade. Conceitos Jurídicos Validade: é o atributo normativo que designa a adequação vertical de uma norma jurídica inferior com uma norma jurídica superior. O exame da validade costuma ser feito a partir da pirâmide normativa proposta por Hans Kelsen. Pirâmide normativa proposta por Hans Kelsen: 1 Constituição 2 Legislação 3 Atos Administrativos 4 Normas Individualizadas (contratos, testamentos e decisões judiciais) Vigência: É o tempo de validade das normas jurídicas. Existem dois tipos de norma: as normas de vigência determinada e as normas de vigência indeterminada. Normas de vigência determinadas: Normas jurídicas que estabelecem previamente o término de sua validade. Nesse caso a cessação da sua vigência se dará pelo fenômeno da caducidade. Normas de vigência indeterminada: São normas que não estabelecem o término de sua validade. Exemplo a constituição federal de 1988. Nesse caso a cessação de sua vigência ocorrerá pela revogação. Revogação: Consiste na substituição de uma norma jurídica por outra norma jurídica que trata do mesmo tema de modo diverso. Exemplo: Código civil de 2002 revogou o código civil de 1916. A revogação pode ser: Expressa ou tácita - A revogação será expressa toda vez que um novo diploma normativo modificar textualmente o diploma normativo anterior. A revogação tácita é uma revogação não expressa, toda vez que um diploma normativo se revelar logicamente contrário a um diploma normativo anterior. Total ou parcial: A revogação será total toda vez que um novo diploma normativo modifica todos os dispositivos do diploma normativo anterior. A revogação é parcial quando um novo diploma normativo modifica alguns dispositivos do diploma normativo anterior. Vigência vs Incidência Incidência: Consiste na relação entre o momento da publicação e o início da vigência. Pode ser: Imediata: Quando o início da vigência coincide com o momento da publicação. Mediata: É uma norma que inicia sua vigência após a data de sua publicação, prevendo um período de vacatio legis - "vacância normativa". *Obs: A lei de introdução às normas do direito brasileiro LINDB (DECRETO-LEI Nº 4.657, DE 4 DE SETEMBRO DE 1942.) estabelece uma importante regra sobre incidência no artigo primeiro a saber: Art. 1o Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada. § 1o Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada. Eficácia: É a possibilidade concreta de produção de efeitos jurídicos. Existem dois tipos de eficácia: Técnica (aplicabilidade): É aquela que não necessita da criação de outra norma jurídica. Por sua vez, quando a norma jurídica necessita da criação de outra norma, ela não terá aplicabilidade. Por exemplo: Norma sem aplicabilidade - CF/88 Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre: VII - grandes fortunas, nos termos de lei complementar" Com aplicabilidade - Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. Social (efetividade): Consiste na relação existente entre as normas jurídicas e fatos da realidade social. Legitimidade: É a adequação valorativa da norma jurídica, que se refere a sua vinculação à ideia de justiça em dado contexto histórico/cultural. Exemplo: A legitimidade da Lei da Ficha Limpa. Legitimidade vs Efetividade Embora sejam conceitos próximos, legitimidade e efetividade não se confundem . Visto que é possível constatar norma efetiva sem legitimidade e norma legítima sem efetividade. Vigor: É a força vinculante da norma jurídica. É a capacidade da norma jurídica de regular as situações sociais ocorridas durante a sua vigência. Fundamenta-se em 3 princípios gerais do direito. ● Princípio da segurança jurídica (o direito tem que ser previsível). ● Princípio de que o tempo rege o ato (tempus regit actum). As normas vigentes durante um determinado acontecimento são as normas que se aplicam a este acontecimento. ● Princípio da irretroatividade. É a impossibilidade de uma norma jurídica alcançar uma situação do passado. Obs: A sistemática do vigor comporta exceções previstas pela ordem jurídica. A mais importante exceção é aquela prevista na legislação penal: Uma nova lei pode retroagir caso beneficie o réu. Caso prejudique não retroage. Classificação das Normas Jurídicas Podem ser classificadas: 1) Quanto ao sistema Normas jurídicas externas: São produzidas fora do limite de um dado estado soberano. Exemplo: A Constituição Portuguesa. Normas jurídicas estrangeiras. Normas jurídicas internas: São produzidas no âmbito de uma norma jurídica nacional, dentro do limite de um dano estado soberano. Exemplo: A Constituição Federal de 1988. 2) Quanto a relação com a vontade dos destinatários Normas cogentes: Normas que impõem preceitos obrigatórios para os sujeitos de direito. Exemplo: A legislação tributária. Normas dispositivas: Normas que estabelecem um espaço de liberdade para que os destinatários possam modular os seus efeitos. Exemplo: Os regimes matrimoniais do casamento do Código Civil. 3) Quanto a relação das normas entre si Normas primárias: São normas jurídicas que regulam diretamente o comportamento humano. Seja para permitir, para proibir, seja para obrigar a realização de uma dada conduta. Exemplo: O artigo 121 do Código Penal Brasileiro. Norma secundária (ou de organização): É a norma jurídica que regula o modo de criação, interpretação e aplicação das normas primárias. Exemplo: O artigo primeiro da LINDB - "Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada.". 4) Quanto a estrutura Regras: São normas dotadas de estrutura fechada que estabelecem marcos de segurança e de previsibilidade para as relações sociais, através da descrição de situações específicas e determinadas. Exemplo: Artigo 18, parágrafo primeiro da constituição - "Brasília é a capital federal". Outro exemplo: "O mandato do presidente da república é de 5 anos". Fechada Princípios: São normas dotadas de estrutura semântica aberta e dotadas de grande carga valorativa que aproximam o direito da moral propiciando um amplo espaço para a realização da justiça. Exemplo: O princípio da cidadania, art 1 da constituição. Outro exemplo: O princípio da igualdade, art 5 da constituição. Aberta. 5) Quanto a sistematização legal Podemos classificar em 3 tipos: Normas codificadas: São normas jurídicas que estabelecem dispositivos em códigos: Leis dotadas de grande generalidade e grande coesão interna que procuram regular de forma abrangente um conjunto de relações sociais. Exemplo: Código Civil Brasileiro de 2002. Códigos são leis. Estão no segundo grau da pirâmide de Kelsen. Normas consolidadas (ou consolidação): Consolidação é uma reunião de normas esparsas feita sem a mesma racionalidade dos códigos. Ainda que apresente, também, uma grande abrangência nas relações sociais. Exemplo: A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Um ajuntamento de leis já existentes. Uma gororoba jurídica. "Roupa velha" nas palavras do professor. Normas esparsas (ou extravagantes): As leis esparsas configuram os micro ordenamentos jurídicos. 6) Quanto a aplicabilidade Normas de aplicabilidade plena Trata-se de norma jurídica que produz seus efeitos independentemente da criação de outra norma jurídica. Exemplo: Artigo 13 da constituição federal de 88 "A língua portuguesa é o idioma oficial da República Federativa do Brasil.". Normas de aplicabilidade contida (ou restringível) É aquela que produz inicialmente amplos diretos e imediatosefeitos jurídicos, mas autoriza a criação de uma norma jurídica posterior para restringir o sentido e o alcance da norma original. Exemplo: O artigo 5º, em seu inciso XIII, afirma que "é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer”. Posteriormente a legislação incluiu a necessidade do exame de ordem para o exercício da advocacia. Normas de aplicabilidade limitada É a norma jurídica cuja produção de efeitos depende necessariamente da criação de outra norma jurídica, enquanto não for elaborada a segunda norma jurídica a constituição não poderá produzir os amplos efeitos jurídicos da primeira. Exemplo: Artigo 153 Inciso 7 da constituição federal de 88 "Compete à União introduzir imposto sobre grandes fortunas nos termos de lei complementar". Normas de aplicabilidade exaurida São normas jurídicas que estabelecem e produzem seus efeitos no mundo dos fatos para posteriormente eles se consumaram. Exemplo: "ATO DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS Art. 4º. O mandato do atual Presidente da República terminará em 15 de março de 1990." Outro exemplo: "Art. 2º. No dia 7 de setembro de 1993 o eleitorado definirá, através de plebiscito, a forma (república ou monarquia constitucional) e o sistema de governo (parlamentarismo ou presidencialismo) que devem vigorar no País." Quanto aos âmbitos de validade Validade espacial - normas gerais x normas especiais Normas gerais: São as que alcançam a totalidade do território de um estado soberano. Exemplo: A constituição federal de 1988. Normas especiais: São as que alcançam parcelas específicas do território de um estado soberano. Exemplo: A lei orgânica do município de Salvador. Validade pessoal - normas genéricas x normas individualizadas Normas genéricas: Normas que se dirigem a toda comunidade jurídica, encontrando assim destinatários indefinidos. Quanto maior a hierarquia da norma jurídica maior a sua generalidade. Exemplo: Código penal ou civil ou a constituição. Normas individualizadas: ****Normas que se dirigem a destinatários identificados. Quanto menor a hierarquia, maior a individualização. Exemplo: Testamento e contratos. Validade material - normas de direito público x normas de direito privado Normas de direito público: São aquelas normas jurídicas que disciplinam relações entre os órgãos estatais ou relações entre o estado e os cidadãos. Tendo em vista a realização do princípio da supremacia do interesse da coletividade. As normas de direito público são geralmente normas cogentes que não podem ser afastadas pela vontade das partes. Exemplos: CF/ 88 - Art. 2º "São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário."; Art. 196. "A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.". Normas de direito privado: São aquelas normas jurídicas que disciplinam relações entre os particulares, tendo em vista a realização de interesses individuais. As normas de direito privado são normas geralmente dispositivas, que admitem a modulação dos seus efeitos pela vontade dos agentes privados. Exemplo: Normas de direito civil e normas de direito comercial. CC, Art. 421. "A liberdade contratual será exercida nos limites da função social do contrato." Art. 425. "É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código.". Obs: O direito público e o direito privado não estão mais isolados em esferas estanques, havendo um processo crescente de privatização do direito público e de publicização do direito privado. Neste sentido, esta divisão vem sofrendo relativizações. Validade temporal: normas retroativas x normas irretroativas; normas de vigência determinada x normas de vigência indeterminada; normas de incidência imediata x normas de incidência mediata Normas retroativas: São normas jurídicas que excepcionalmente alcançam as situações sociais ocorridas antes da sua vigência. Exemplo: A lei penal mais benéfica ao réu. Normas irretroativas: São normas jurídicas que não alcançam situações ocorridas no passado, reproduzindo seus efeitos a partir do presente e em direção ao futuro. Exemplo: O pacote anti crime, por não beneficiar o réu. Normas de vigência determinada: São normas jurídicas que estabelecem o tempo de validade. Exemplo: As medidas provisórias (duração de 60 dias, devendo ser convertida em lei nesse período) Normas de vigência indeterminada: São normas jurídicas que não estabelecem o tempo de validade, produzindo seus efeitos até que sejam revogadas. Normas de incidência imediata: São normas que iniciam sua vigência na mesma data de sua publicação. Exemplo: A constituição de 88. Normas de incidência mediata: São normas que preveem o prazo de vacatio legis. Exemplo: O código civil. **Avaliação da Primeira Unidade: até aqui!!!** Fontes do Direito 1. Conceito: Trata-se dos diversos modos de manifestação da normatividade jurídica, que exprimem os diversos fatores presentes na realidade social. 2. Etimologia: A palavra "fonte" vem do latim fons (origem, nascedouro gênese). 3. O Debate Monismo Jurídico x Pluralismo Jurídico: Dentro da teoria das fontes jurídicas existem dois tipos de paradigmas. De um lado os monistas sustentam quê o direito seria um produto exclusivo do estado. Esta é a visão defendida pelo positivismo, que foi a escola predominante no período da idade moderna até o final da segunda guerra mundial. Por outro lado, o pluralismo jurídico consiste num paradigma que sustenta a convivência do direito estatal com o direito não estatal. Esta se tornou a visão prevalecente no mundo ocidental após a segunda grande guerra. Esta relação entre direito estatal e não estatal seria caracterizada por uma tensão permanente entre fontes estatais e fontes não estatais. 4. Tipologias de Fontes do Direito: 4.1 Fontes Materiais x Fontes Formais Fontes materiais: São elementos extra normativos de natureza econômica, política e ideológica quê oferecem a matéria prima para a criação das normas jurídicas. Exemplo: A pandemia, uma guerra... Fontes formais: As normas jurídicas propriamente ditas quê resultam da institucionalização das fontes materiais do direito. 4.2. Fontes Estatais x Fontes Não-Estatais Fontes estatais: São fontes formais derivadas do estado. Exemplo: A legislação e a jurisprudência. Fontes não-estatais: São fontes formais diretamente oriundas da sociedade civil. Obs: Para os monistas só haveriam as fontes estatais. Para os pluralistas as fontes estatais conviveriam com as fontes não estatais. Ler: https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/157/edicao-1/fontes-do-direito 5. Espécies de Fontes do Direito: Trata-se de fonte formal estatal que compreende todas aquelas espécies normativas qualificadas como leis: diplomas escritos, genéricos, impessoais, geralmente oriundos de um parlamento que disciplinam as relações públicas e privadas dos agentes sociais. A lei é a principal fonte jurídica dos sistemas de CIVIL LAW (sistema romano-germânico). 5.1. Legislação (jus scriptum - direito escrito): No direito brasileiro, o termo legislação abarca: constituição (federal e estadual); emendas constitucionais; leis federais ordinárias; leis federais complementares; leis federais delegadas; leis estaduais; leis municipais; medidas provisórias; decretos legislativos; resoluções parlamentares. 5.2. Jurisprudência: Trata-se do conjunto de decisões judiciais no mesmo sentido, formando um padrão de interpretação capaz de inspirar futuros julgamentos. Neste sentido os precedentes podem embasar decisões futuras do poder judiciário sobre casos semelhantes. Eis aqui a principal fonte jurídica dos sistemas de COMMON LAW (sistema anglo-americano). No Brasil a jurisprudência vem adquirindo enorme força após a constituição federal de 1988 por conta do fortalecimento do sistemade justiça e da ampliação do hall dos direitos fundamentais, a ponto de se falar hoje de um sistema híbrido que articula tanto a lei quanto a jurisprudência. Obs: A jurisprudência tem a capacidade de adaptar o sistema jurídico à nova realidade social, tornando o direito mais legítimo e efetivo. Neste sentido contribui para o desenvolvimento aberto do direito. Muitas inovações jurisprudenciais acabaram tendo grande impacto no https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/157/edicao-1/fontes-do-direito direito brasileiro, a exemplo da guarda compartilhada, da união homo afetiva, das ações afirmativas e da proteção aos direitos das minorias. O código de processo civil de 2015 - 2016 valoriza o uso da jurisprudência e impõe o dever de coerência decisória. Overruling: A mudança da jurisprudência de um determinado tema a partir de uma releitura do sentido das normas jurídicas. Súmulas: São enunciados interpretativos que sintetizam a jurisprudência dos tribunais. Podem ser persuasivas (não obrigatórias) ou vinculantes (obrigatórias). O Brasil adotou as Súmulas Vinculantes a partir da emenda 45 de 2004. Súmula é produto da jurisprudência. Vantagens da Súmula Vinculante: 1ª A Súmula Vinculante é a celeridade (rapidez processual). 2ª A Súmula Vinculante contribui para o reforço da segurança jurídica. 3ª Contribui para o princípio da isonomia. 4ª Realização do princípio da economia processual. 5ª As Súmulas Vinculantes tornam o judiciário mais previsível, facilitando o investimento do grande capital. Desvantagens da Súmula Vinculante: 1ª A Súmula Vinculante violaria o princípio da separação dos poderes. 2ª A Súmula Vinculante violaria o princípio do livre convencimento judicial. 3ª As Súmulas Vinculantes bloqueiam o aparecimento de uma jurisprudência mais crítica e mais progressista da base do sistema judicial. 4ª A Súmula Vinculante dificulta o debate de ideias típico de um regime democrático. 5ª O STF é um tribunal que costuma decidir de modo conservador em consonância com as elites econômicas, políticas e culturais. Quando o STF produz uma súmula todos os juízes de todos tribunais têm que seguir essa jurisprudência, ou seja, são vinculantes. Só o STF pode fazer súmulas vinculantes.* Um dos segredos para dar aula é saber encadear (organizar) os temas 5.3. Costume: Trata-se do conjunto de práticas sociais reiteradas que formam um padrão interpretativo e não escrito que atribui direitos e deveres políticos aos agentes sociais. Os costumes jurídicos surgem assim da repetição de condutas no plano moral que gradativamente adquirem importância no mundo jurídico. Compõe-se assim dois elementos: o elemento objetivo (repetição de condutas) e o elemento subjetivo (convicção de sua necessidade jurídica). Exemplo: O surgimento do 13º salário no direito do trabalho brasileiro; A utilização do cheque pré-datado no âmbito do direito empresarial brasileiro. Súmula 370, do STJ: "Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque pré-datado". Existem ramos jurídicos que são mais afetados pela força dos costumes jurídicos, a exemplo do direito comercial, do trabalho e do internacional. 5.4. Negócio Jurídico: São manifestações de vontades, escritas ou não escritas, unilaterais ou bilaterais, que disciplinam as relações entre particulares, tendo em vista a observância dos princípios da liberdade e da autonomia privada. São exemplos os testamentos e contratos. Neste sentido, uma vez observados os limites legais, as declarações de vontade podem produzir efeitos no mundo do Direito. 5.5. Doutrina: Consiste no conjunto de obras e pareceres dos grandes estudiosos do direito que oferecem propostas de interpretação da ordem jurídica. Configura a chamada "comum opinião dos doutos". No mundo do direito a doutrina pode ser invocada por outras áreas do conhecimento. A importância da doutrina é ainda maior em novos ramos jurídicos 5.6. Poder Normativo dos Grupos Sociais: Trata-se da prerrogativa conferida pela ordem jurídica às instituições sociais para que possam produzir os seus próprios códigos normativos a fim de disciplinar as relações internas e externas, exemplo: regulamentos de empresas e convenções condominiais. Estes micro-ordenamentos jurídicos deverão contudo respeitar os limites pré-fixados na lei. Teoria do Ordenamento Jurídico Noção de Sistema Jurídico: Ordenação racional de elementos normativos do direito. Sistema - É uma criação posterior. A realidade é ordenada naturalmente pelo caos. O Problema da Completude: Trata-se do debate acerca da possibilidade do direito oferecer respostas para as relações sociais. Os positivistas defendem a completude do sistema jurídico, ausência de lacunas jurídicas. Por sua vez os pós-positivistas defendem incompletude da ordem jurídica, a existência de lacunas jurídicas. Argumentos Positivistas: 1 - O direito seria completo pois seria sempre possível utilizar o argumento "tudo que não está juridicamente proibido está juridicamente permitido" (Hans Kelsen). 2 - Não haveriam lacunas pois o julgador sempre poderia decidir e assim oferecer a norma individualizada para o caso concreto. 3 - O direito seria completo pois a própria ciência jurídica oferece os instrumentos de integração do direito (analogia, costume, princípios gerais do direito e equidade). Argumentos Pós-Positivistas 1 - "O direito está no último vagão do comboio das transformações sociais" - Condorcet 2 - O direito seria incompleto pois a existência dos instrumentos de integração seria a prova cabal da existência de lacunas. 3 - O direito só seria completo se houvesse um legislador dotado de perfeição racional, e não há tal. Lacunas Jurídicas Conceito: Trata-se de qualquer imperfeição que compromete a ideia da completude do sistema jurídico. Tipologia Normativas: Se manifestam toda vez que não há norma que trate especificamente de um dado tema. Exemplo: A falta de regulação normativa da chamada "deep web". Fáticas: Ocorre toda vez que a norma vigente perde contato com os fatos da vida social (perda de efetividade). Valorativas: São lacunas jurídicas que se verificam toda vez que o direito deixa de ser considerado justo, perdendo assim legitimidade. Integração do Direito Conceito: Consiste em uma atividade de preenchimento das lacunas jurídicas Instrumentos - A ciência jurídica oferece quatro instrumentos para a integração jurídica: analogia, costumes, princípios gerais do direito, equidade. Tais meios integrativos podem ser usados isoladamente ou em conjunto. O direito brasileiro reconhece todos estes instrumentos de integração. Analogia: É a aplicação de uma norma jurídica que trata de uma dada situação social a uma outra situação social semelhante, que não está regulada expressamente. Costumes: São práticas sociais repetidas cujas normas não escritas podem ser usadas para o preenchimento de lacunas. Exemplo: A interpretação dos contratos com base nos usos e costumes. Princípios Gerais do Direito: São normas gerais, abertas e dotadas e carga valorativa que aproximam o direito da moral potencializando a realização da justiça. Exemplo: aplicação do princípio da insignificância no âmbito do direito penal brasileiro. Equidade: Sentimento de justiça do julgador diante do caso concreto (bom senso do julgador). https://www.conjur.com.br/2015-mar-09/lacunas-lei-podem-preenchidas-analogia-normas Problema da Coerência do Ordenamento Jurídico: Trata-se do debate sobre a existência e a solução dos conflitos entre normas jurídicas Antinomias Jurídicas: São conflitos normativos que geram situações de indecibilidade toda vez que uma norma permite que uma norma proíba o mesmo comportamento humano. Critérios de Solução das Antinomias Jurídicas Hierárquico: Havendo conflito entre norma superior e norma inferior, ambas da mesma hierarquia, prevalecerá a norma jurídica superior. Exemplo: Prevalência da norma jurídica constitucional em face do edital de um concurso público. (Mais importante e primeiro critério de solução). Cronológico: Havendo conflito entre norma jurídica posteriore anterior prevalece a chamada Norma Jurídica Posterior, sendo ambas de mesma hierarquia. Exemplo: Conflito entre o Código Civil de 1916 e o Código de Defesa do Consumidor de 1990. Especialidade: Havendo conflito entre norma jurídica geral e norma jurídica especial, ambas da mesma hierarquia, prevalece a norma jurídica especial. Exemplo: Conflito entre o Código de Defesa do Consumidor (1990) e o Estatuto do Idoso (2003) em matéria de transporte público para idosos. Obs a Antinomia de Segundo Grau: Existe uma situação específica toda vez que uma norma Anterior Especial entra em conflito com uma norma Posterior Geral, sempre ambas de mesma hierarquia. Neste caso não haverá um metacritério para resolver um conflito entre o critério da especialidade e o critério cronológico, um problema sem solução no âmbito da ciência jurídica. Ponderação de Bens e Interesses: Trata-se de critério utilizado para a solução de conflitos entre princípios constitucionais diante da impossibilidade de utilização dos critérios hierárquico, cronológico e de especialidade. Exemplo: Conflito entre o direito à vida e o direito à liberdade religiosa em matéria de transfusão de sangue para pacientes Testemunha de Jeová. Ponderar: Consiste em estabelecer uma relação de prioridade concreta entre os princípios atingidos através da valoração dos fatos sociais estabelecidos no caso concreto. Ponderar é estabelecer uma maior ou menor relação de peso entre normas principiológicas que estejam em choque com o caso concreto. Relação Jurídica https://www.conjur.com.br/2015-mar-09/lacunas-lei-podem-preenchidas-analogia-normas Conceito: Relação Jurídica é aquele vínculo intersubjetivo que se estabelece toda vez que uma norma jurídica se materializa no mundo dos fatos polarizando de um lado um sujeito ativo (titular de um direito subjetivo) e de outro lado um sujeito passivo obrigado ao cumprimento de um dever jurídico. Bem como o nexo que justifica a aplicação de uma sanção jurídica para aquele infrator que pratica uma ilicitude. Exemplo: relação entre o proprietário e o trabalhador de uma empresa; relação entre o estado e o contribuinte; relação entre o proprietário e o locador de um veículo. Características: A relação jurídica comporta duas características, a bilateralidade e a exterioridade. Bilateral porque ela comporta interações comportamentais. Exterior porque ela compreende condutas já exteriorizadas no mundo dos fatos. Elementos Constitutivos: Fato Jurídico: É todo e qualquer evento natural (involuntário ou humano) que materializa a hipótese abstrata da norma jurídica, produzindo assim as consequências no mundo do direito. Sujeitos de Direito: São entes que integram os pólos ativo e passivo da relação jurídica. No direito o sujeito ativo é sempre titular de um direito subjetivo e o sujeito passivo é o sujeito obrigado ao cumprimento de um dever Entes personalizados: Pessoas físicas e jurídicas (Pessoas: São entes capazes de interagir socialmente). Pessoas físicas: Dotadas de existência corporal. Pessoas jurídicas: Dotadas de existência abstrata. Podem atuar no direito privado (empresas, associações) ou público (municípios, estados, federação...). Entes despersonalizados: São aqueles entes do direito que não possuem personalidades. Exemplo: Nascituros; Espólios. Direito Subjetivo Conceito: É o conjunto de poderes conferidos pela normatividade jurídica (direito objetivo) para a atuação do sujeito ativo no âmbito da licitude humana. Constitui um feixe de faculdades ou prerrogativas que a ordem jurídica oferece ao sujeito ativo. O objeto de um direito subjetivo é sempre o comprimento de um dever jurídico correlato. Exemplo: o direito subjetivo de propriedade; e as faculdades de usar, gozar, dispor e reaver um dado bem. Características: Tipologias de Direito Subjetivo: Direitos Subjetivos Patrimoniais vs Extrapatrimonais Patrimoniais: São direitos subjetivos que apresentam um conteúdo econômico. Exemplo: o direito de propriedade privada. Extrapatrimoniais: São direitos que não apresentam conteúdo econômico. Exemplo: a vida; a integridade física. Direitos Subjetivos Públicos vs Privados Públicos: São direitos exercidos no âmbito de relações entre o estado e os particulares. Exemplo: o direito de crédito (tributação). Privados: São direitos exercidos no âmbito de uma relação entre particulares. Exemplo: direito de crédito do comerciante de sacar um cheque. Direitos Subjetivos Absolutos vs Relativos Absoluto: É aquele direito subjetivo exercido perante toda a comunidade jurídica (sujeito passivo indeterminado). Exemplo: direito à vida. Relativos: É aquele direito subjetivo exercido contra sujeitos passivos determinados. Exemplo: direito de crédito comercial exercido por um comerciante contra um consumidor específico. Direitos Subjetivos Materiais e Processuais Material: É aquele direito relacionado ao conteúdo de uma relação jurídica. Exemplo: o direito de crédito trabalhista (salário). Processual: É aquele direito que diz respeito aos instrumentos existentes para a proteção de um dado direito material de uma relação jurídica. Exemplo: o direito de ação judicial. Elementos Constitutivos: Dever Jurídico: É o conjunto de obrigações assumidas pelo sujeito passivo da relação jurídica. Existem três tipos de obrigações jurídicas: obrigação de fazer; obrigação de dar; e obrigação de não fazer. Obrigação de Fazer: É a obrigação de realizar um dado comportamento . Exemplo: prestação de um serviço. Obrigação de Dar: É a obrigação de entregar um bem. Exemplo: qualquer pagamento. Obrigação de Não Fazer: É a obrigação de abstenção. Exemplo: preservação do sigilo profissional. Tipologias do Dever Jurídico Dever Jurídico Sucessivo vs Dever Jurídico Instantâneo Dever Jurídico Sucessivo: É aquele dever jurídico que se projeta ao longo do tempo . Exemplo: o pagamento parcelado de uma dívida. Dever Jurídico Instantâneo: É aquele dever jurídico que se consuma num único ato. Exemplo: o pagamento à vista de uma dívida. Dever Jurídico Patrimonial vs Dever Jurídico Extrapatrimonial Dever Jurídico Patrimonial: É o dever jurídico que apresenta conteúdo econômico. Exemplo: pagamento de um tributo. Dever Jurídico Extrapatrimonial: É aquele dever jurídico que não possui um conteúdo econômico. Exemplo: o respeito a vida alheia ou integridade física alheia. Dever Jurídico Público vs Direito Jurídico Privado Dever Jurídico Público: É o dever jurídico cumprido no âmbito entre o estado e o cidadão. Exemplo: a obrigação do contribuinte pagar o tributo; a obrigação do estado de fornecer medicamentos em face do direito à saúde. Direito Jurídico Privado: É o dever jurídico cumprido no âmbito de uma relação privada. Exemplo: pagamento de pensão alimentícia. Dever Jurídico Positivo vs Dever Jurídico Negativo Dever Jurídico Positivo: É o dever jurídico que compreende a obrigação de fazer e/ou de dar. Exemplo: pagamento de um tributo; prestação de serviço. Dever Jurídico Negativo: É o dever jurídico que corresponde à obrigação de não fazer. Exemplo: a preservação do sigilo profissional. Ilicitude: Trata-se do comportamento que ofende preceitos de normatividade jurídica. Pode se manifestar tanto através do abuso de direitos como também através do chamado inadimplemento. A ilicitude é a mais grave forma de infração ética. Nas sociedades ocidentais verifica-se uma tendência progressiva de substituição da ilicitude penal em favor da ilicitude civil (ilicitude não penal) - Émile Durkheim. Abuso de Direito: O exercício desproporcional ou desarrazoado de m direito subjetivo Inadimplemento: Descumprimento de um dever jurídico por um sujeito passivo. Exemplo: falta de pagamento de um tributo; falta de pagamento de um aluguel. Sanção Jurídica: É uma consequência imputada ao ilícito. Existem dois tipos de sansão jurídicas: as sanções pessoais e as sanções patrimoniais. Sanções Jurídicas Pessoais: As que recaem sobre o infrator. Sanções Jurídicas Patrimoniais: As que atingem o patrimônio do infrator. Exemplo: multas. No mundoocidental contemporâneo a sanção jurídica possui natureza organizada Sanções Jurídicas Negativas: Correspondem às punições. Sanções Jurídicas Positivas ou Premiais: São estímulos oferecidos pela ordem jurídica para induzir um comportamento lícito. Exemplo: liberdade condicional; isenções fiscais. Escolas do Pensamento Jurídico 1. Jusnaturalismo Conceito: Trata-se de escola doutrinária que sustenta a existência de direitos naturais: direito inatos, absolutos e universais que correspondem a um código ético de justiça que estaria gravado na essência humana. Para o Jusnaturalista o chamado "direito positivo" (direito criado pelo estado) deveria observar os preceitos do direito natural, os quais estariam num patamar superior dentro do sistema jurídico. A justiça seria o padrão ético único em qualquer tempo e espaço, compreendendo a totalidade dos direitos naturais. Fases do Jusnaturalismo: Cosmológico (idade antiga): O fundamento dos direitos naturais seria a harmonia com o universo. Esta foi a concepção predominante na antiguidade grego/latina. Teológico (idade média): Aponta como fundamento para os direitos naturais a vontade de Deus. Racionalista ou Antropocêntrico (idade moderna): A razão humana ; empatia. Não violarei a propriedade privada do meu vizinho porque não quero que violem a minha. Cosmopolita/conteúdo variável (idade contemporânea): Trata-se da etapa jusnaturalista surgida após a segunda grande guerra mundial por força do processo de internacionalização dos direitos humanos e de positivação constitucional dos direitos fundamentais. Após a segunda grande guerra os direitos naturais passaram a repousar na ideia de um consenso dos diversos países e das diversas nações do mundo admitindo-se, contudo, a possibilidade de adaptação dos direitos naturais às diversas culturas. Os direitos naturais passaram a ser chamados de direitos humanos e hoje estão presentes nas constituições como Direitos Fundamentais. Críticas Positivas: 1 - O Jusnaturalismo possibilita o desenvolvimento de um debate sobre a justiça que consiste na razão de ser do próprio direito. 2 - O jusnaturalismo contribuiu com a ideia de hierarquia do sistema jurídico. 3 - O jusnaturalismo é fonte doutrinária para compreensão dos direitos humanos fundamentais. Negativas: 1 - Não existe um padrão absoluto de justiça, pois o justo varia no tempo e no espaço. (Calcanhar de Aquiles do Jusnaturalismo. Não existe uma única ideia de justiça em qualquer tempo e espaço. A noção de justiça varia). 2 - O Jusnaturalismo confunde validade com legitimidade. Para o Jusnaturalismo uma lei injusta não tem validade. 3 - A expressão "Direitos Naturais" é bastante vaga, o que gera insegurança jurídica. 2. Positivismo Legalista (Exegetismo) Conceito: Trata-se de escola doutrinária que sustenta a primazia do direito positivo expresso nas leis. Historicamente foi o produto do contexto das revoluções liberais burguesas dos séculos XVII e XVIII. Atingiu o seu apogeu na França após a revolução francesa com a chamada Escola de Exegese. Teses Fundamentais: 1 - Defesa da lei como única fonte do direito (o legalismo). 2 - Defesa do Monismo Jurídico. 3 - Defesa do mito do legislador racional. 4 - Defesa da completude do sistema legal (ausência de lacunas jurídicas). 5 - Defesa da coerência do sistema jurídico (ausência de antinomias), a lei seria perfeita.. 6 - A separação entre direito e moral (teoria dos círculos éticos separados). 7 - Neutralização valorativa do poder judiciário (juiz boca de lei). 8 - Valorização da interpretação gramatical do direito Crítico. Positivas: 1 - A defesa da legalidade trouxe a segurança jurídica necessária para o desenvolvimento da democracia e do capitalismo. 2 - Os direitos naturais geram incerteza, diferentemente da estabilidade gerada pela lei no âmbito das relações sociais. 3 - Contribuiu para o avanço da ciência jurídica, principalmente no direito civil . 4 - O positivismo legalista permitiu o desenvolvimento da doutrina como atividade profissional. Negativas: 1 - A lei não é a única fonte do direito, existem diversas outras fontes jurídicas. 2 - O sistema legal é incompleto e incoerente. 3 - A neutralização judicial gera um dogmatismo que oportuniza a aplicação de um direito injusto. 4 - Inadequação com o sistema de common law. 3. Historicismo Jurídico Conceito: Trata-se de uma escola de pensamento jurídico surgida no século XIX (Alemanha) através do pensamento do grande jurista Carl von Savigny. Foi a primeira reação ao positivismo legalista no mundo ocidental. Teses Fundamentais: 1- Afirmação do costume como principal fonte do direito . 2 - Defesa do espírito do povo (volksgeist) como fundamento do direito costumeiro. 3 - Defesa do pluralismo jurídico. 4 - Defesa da incompletude do sistema legal (a sociedade está sempre se transformando e a lei tentando se adaptar às mudanças). 5 - Defesa da incoerência do sistema legal (existência das antinomias jurídicas). 6 - Valorização de uma interpretação histórica do direito. 7 - Valorização do direito romano para o ensino jurídico. Críticas Positivas: 1 - Teve o mérito de demonstrar a imperfeição do legislador e da lei. Colocou por terra essa ideia equivocada de que o legislador e a lei seriam perfeitos. 2 - Realçou o atributo normativo da efetividade (abertura das normas jurídicas a realidade dos fatos sociais). 3 - O resgate do direito romano foi importante para o desenvolvimento da ciência jurídica. 4 - Reconhece o protagonismo do estado na criação do direito. Negativas: 1 - Os costumes como fontes não escritas trazem insegurança jurídica. 2 - O Conceito de Espírito do Povo é vago, não apresentando maiores utilidades e reproduzindo muitas vezes estereótipos. 3 - A interpretação histórica pode petrificar a evolução do direito subordinando as tradições 4 - O risco da confusão entre validade e efetividade. "A democracia é a pior forma de governo, com exceção de todas as demais..." Winston Churchill. 4. Sociologismo Jurídico Conceito: Trata-se de uma corrente que se opôs ao positivismo legalista na segunda metade do século XIX, historicamente surgiu na França com a criação da sociologia de Augusto Comte. O pai do sociologismo jurídico foi o pensador francês Émile Durkheim. A partir da França o sociologismo se espalhou pelo mundo (Estados Unidos, Rússia, Países Escandinavos, América Latina... Entre outros). Teses Fundamentais 1 - Tratamento do direito como fato social - Mundo do ser (Observa a realidade; os fatos). 2 - Valorização da efetividade como principal atributo das normas jurídicas. 3 - Defesa do pluralismo jurídico. A centralidade da sociedade civil na criação do direito (a sociedade quem criaria as normas jurídicas). 4 - Valorização da jurisprudência como a principal fonte do direito como fonte que consegue atualizar o direito às novas demandas sociais. *O historicismo olha para o passado, o sociologismo para o futuro a partir do presente. 5 - Utilização da opinião pública como referencial para a jurisprudência. 6 - Reconhecimento da imperfeição do legislador e da lei (incompletude e incoerência dos diplomas legais). 7 - ****valorização da interpretação do direito (adequação do direito à realidade social). Críticas Positivas: 1 - Teve o mérito de demonstrar a importância da sociedade na criação do direito (recusa ao monismo estatal). 2 - Demonstra o reducionismo legalista (o direito não se esgota na lei, existe um mundo mais amplo; a lei é apenas um produto final de um processo sociológico muito mais amplo). 3 - ****A jurisprudência contribui para a atualização jurídica. Negativas: 1 - ****O sociologismo confunde validade com efetividade. 2 - A valorização da jurisprudência pode conduzir a um governo dos juízes (juristocracia). 3 - A opinião pública não é um referencial consistente para a interpretação judicial. 5. Teoria Pura do Direito Conceito: Consiste na manifestação do positivismo lógico da primeira metade do século XX. O seu maior expoente foi o professor Hans Kelsen. Talconcepção representou uma reação ao Jusnaturalismo; ao Historicismo; e ao Sociologismo Jurídico. A teoria pura do direito propunha uma ciência jurídica de base exclusivamente normativa, excluindo assim o estudo dos fatos e valores sociais. Kelsen queria desenvolver uma ciência jurídica segura e previsível: O direito deve ser estudado de forma individual, sem interferências de valores como moral, política, realidade social, opinião pública, etc. Teses Fundamentais 1 - Proposição de uma ciência jurídica de natureza exata e objetiva fundada no estudo da norma jurídica. 2 - Separação entre o direito e a moral (teoria dos círculos éticos separados). 3 - Utilização da lógica do dever ser para o estudo da norma jurídica. 4 - Afirmação da validade como único atributo normativo. 5 - Proposição da ordem jurídica como uma pirâmide normativa. 6 - Reconhecimento da impossibilidade racional de um conceito de justiça. 7 - Rejeição do conceito de direitos naturais. 8 - Defesa do monismo jurídico (origem estatal do direito). 9 - A negação do debate interdisciplinar (diálogo do direito com outros saberes). Críticas Positivas 1 - Teve o mérito de promover um grande avanço no âmbito do direito, com novos conceitos, novas teorias e novas classificações. Grande avanço científico. 2 - Restaurou a autonomia da ciência jurídica ameaçada pelas escolas anteriores. Identidade Epistemológica. 3 - A teoria pura do direito oferece ferramentas teóricas de grande utilidade para a prática jurídica. *A pirâmide normativa de Kelsen é a tabuada do direito. Negativas 1 - A teoria pura do direito promove um esvaziamento ético do debate sobre a justiça. 2 - A teoria pura do direito foi utilizada pelos regimes totalitários no início do século XX. Exemplo: Nazismo e ditadura militar de 1964 no Brasil. *Não compete ao jurista se atentar para o conteúdo da norma. 3 - Os fatos e valores sociais não podem ser afastados do mundo jurídico. 4 - Inadequação da pirâmide normativa ao sistema de common law. 6. Pós-positivismo Jurídico Conceito: Trata-se de corrente de pensamento surgida após a segunda guerra mundial que procura harmonizar as corrente anteriores (jusnaturalismo; positivismo (legalista e teoria pura); historicismo e sociologismo). No Brasil o Pós-positivismo Jurídico se iniciou após a constituição federal de 1988. Teses Fundamentais 1 - Afirmação da ciência jurídica como uma ciência cultural. 2 - Afirmação do direito como uma experiência normativa, fática e valorativa, experiência tridimensional. 3 - Valorização do direito como um objeto cultural. 4 - Harmonização dos atributos de validade, efetividade e legitimidade. 5 - Valorização da investigação zetética (crítica) do direito. 6 - Aplicação do direito numa perspectiva interdisciplinar (diálogo com outros saberes humanos). 7 - Defesa do pluralismo jurídico: não é só o estado que produz direito mas também a sociedade. 8 - Defesa do ativismo judicial. 9 - Utilização dos princípios constitucionais na interpretação jurídica. 10 - Valorização da hermenêutica jurídica 11 - Reconhecimento da incompletude e da incoerência do sistema jurídico (lacunas e antinomias). Críticas Positivas 1 - O Pós-positivismo restaura o diálogo interdisciplinar do direito com outros saberes, algo essencial para o exame da complexidade da sociedade contemporânea. 2 - Aplicação dos preceitos constitucionais potencializa a construção de decisões mais justas. 3 - Teve o mérito de resgatar a compreensão tridimensional do direito (superação destas visões unilaterais do fenômeno jurídico). Negativas 1 - O ativismo judicial pode resultar num governo dos juízes (risco da juristocracia). *Ativismo Judicial: reconhecimento da união homoafetiva pelo STF. 2 - A aplicação dos princípios pode gerar insegurança jurídica. 3 - O Pós-positivismo não tem identidade epistemológica (colcha de retalhos teóricos). Avaliação Primeira Unidade PAIS NÃO PODEM DEIXAR DE VACINAR FILHOS POR QUESTÕES IDEOLÓGICAS, DECIDE TJ-SP Por Tadeu Rover Fonte: CONJUR - 12 de agosto de 2019, 9h25 Pais não podem deixar de vacinar uma criança por liberdade filosófica ou religiosa, pois esse direito não têm caráter absoluto quando atinge terceiros. Assim entendeu o Tribunal de Justiça de São Paulo ao obrigar um casal a regularizar a vacinação do filho de três anos. Caso a decisão não seja cumprida em até 30 dias, o Conselho Tutelar deverá fazer busca e apreensão da criança para garantir a imunização. "A tutela da saúde da criança tem prioridade absoluta no que diz respeito à proteção dos interesses do menor, prevalecendo sobre interesses particulares ou decorrentes de posições ideológicas próprias dos genitores", afirmou o relator, desembargador Fernando Torres Garcia. O caso foi levado ao Judiciário pelo Ministério Público de São Paulo após o Conselho Tutelar informar que a criança nunca foi vacinada por opção dos pais. Segundo o MP-SP, o casal disse que optou por um crescimento com “intervenções mínimas”, que o filho estava saudável e que ele não ia à escola, portanto, estaria “longe de riscos de infecções”. Além disso, os pais apontaram a existência de substância cancerígena na conservação das vacinas, o que traria risco ao menor. A sentença de primeira instância foi favorável aos pais, reconhecendo a existência concreta de riscos graves e proporcionalmente superiores aos benefícios da vacinação, a justificar a opção do casal. O juiz entendeu ainda não haver negligência no caso, pois a criança recebe acompanhamento médico, não sendo permitida, portanto, a intervenção do Estado quando há atuação suficiente dos pais na tutela da saúde da criança. Por fim, reconheceu a existência de opção da família em assumir os riscos decorrentes da não vacinação. A sentença, porém, foi derrubada pela Câmara Especial do Tribunal de Justiça de São Paulo. "No aspecto fático, não se justifica a conduta dos genitores, por não haver base científica na afirmação de risco concreto e suficiente a afastar os benefícios decorrentes da imunização das crianças", afirmou o desembargador Torres Garcia, lembrando que o estudo que apontava os riscos da substância cancerígena na conservação das vacinas foi desmentido pela própria revista que o publicou. Além disso, apontou que a falta de vacinação fez aumentar o número de epidemias de doenças já erradicadas. Por isso, publicações especializadas têm recomendado a imposição de vacinação mandatória como forma de garantir a saúde dos cidadãos em geral. https://www.conjur.com.br/2019-ago-12/pais-nao-podem-deixar-vacinar-filhos-questoes-ideologicas#author "Não há evidências científicas, impende repisar, que justifiquem a conduta dos pais que optam, por mera convicção pessoal, pela não vacinação do filho, muitas vezes amparados em informações não fidedignas propagadas na rede mundial de computadores." Limites do poder familiar Em seu voto, Torres Garcia também afirma que a liberdade de exercer o poder familiar encontra limites absolutos no interesse objetivo da saúde, do bem-estar e da integridade da criança, prevalecendo tais interesses sobre o exercício de direitos individuais que, a princípio, dizem respeito exclusivamente aos pais. "Equivale dizer que escolhas feitas pelos genitores, em virtude de convicções particulares e individuais e que tenham efeitos sobre os filhos menores, não poderão representar a estes qualquer prejuízo em relação aos interesses maiores descritos na Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do Adolescente." O relator destacou também que a recusa de se proceder à vacinação obrigatória, seja do sujeito em si, seja das crianças e adolescentes que estejam sob sua responsabilidade, não caracteriza o exercício legítimo de um direito perante o Estado, mas ato ilícito, por ofensa a normas específicas de tutela individual da saúde da criança e da incolumidade pública. Segundo ele, a doutrina penal classifica como crime de perigo abstrato a conduta do agente que dificulta determinação do poder público para impedir a vacinação obrigatória. O desembargadortambém refuta o argumento de um possível conflito de direitos fundamentais, como o de liberdade de convicção filosófica dos pais e do direito à solução interna das questões familiares. Segundo ele, o limite do exercício desses direitos esbarra na ofensa a normas de ordem pública. "Prevalece, nestes casos, a tutela de ordem pública sobre a saúde, ensejando, em casos extremos, até a suspensão ou destituição do poder familiar, consubstanciado no descumprimento de obrigações decorrentes do poder familiar", afirmou. À luz dos assuntos estudados na disciplina, responda: 1. A mencionada decisão tomada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo pode ser considerada um exemplo de aplicação dogmática do direito? Fundamente (Valor: 5,0). Sim, é um exemplo de aplicação dogmática. Pois, apesar de ter abordado valores subjetivos, como o direito a liberdade individual e ideológica, e questões científicas (como a não comprovação dos riscos relacionados a vacinação), o desembargador o fez para responder aos argumentos dos genitores e do juiz da primeira instância. A sentença do desembargador é sustentada pelo ECA, que diz no artigo 14, parágrafo primeiro que "É obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias". A lei do ECA é, também, amparada pela constituição no artigo 196, tornando a abordagem do Tribunal de Justiça de São Paulo dogmática. 1. À luz da teoria dos círculos éticos, como se pode descrever a relação entre direito e moral no caso vertente? Fundamente (valor: 5,0). Considero o caso vertente dentro do círculo ético secante, já que os genitores e o juiz da primeira instância tiveram uma abordagem baseada em princípios morais e ideológicos e o Tribunal de Justiça de São Paulo uma abordagem majoritariamente baseada no direito, dando ao caso, espaço para a moral e para o direito. Artigo 196 da constituição: A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. Artigo 14 do ECA: § 1 o É obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias. (Renumerado do parágrafo único pela Lei nº 13.257, de 2016) Contra legem - Contra o que está escrito. Avaliação Segunda Unidade Iniciamos esta discussão a dizer que a população indígena é fito de dessemelhança, objeção e injustiça desde o desembarque dos europeus nas "Américas Selvagens". A passar séculos deste episódio emblemático, o Estado brasileiro tem mantido suas normas jurídicas ancoradas nas desigualdades sociais, culturais, políticas, econômicas, ideológicas, simbólicas, etc. Nesse viés paradigmático, o pluralismo jurídico representa uma negação, como podemos perceber na tese dos pesquisadores Luciano Roberto Gulart Cabral Júnior e Francisco Quintanilha Véras Neto (2018, p. 125) [1], na qual "a perspectiva é descentralizadora, antidogmática, pretendendo a supremacia dos fundamentos ético-político-sociológicos sobre critérios tecno-formais positivistas". Apesar de toda esta adversidade histórica e contemporânea, a sociedade indígena tem resistido ao cerco do imperialismo aniquilador, que busca sistematicamente uma necropolítica [2] ou ainda um de estado de exceção [3] para, assim sendo, a posteriori proporcionar um verdadeiro etnocídio. Situar o Direito indígena em contexto brasileiro ainda é um grande desafio para os juristas, antropólogos, sociólogos e demais pesquisadores, ou seja, causa um certo estranhamento, incerteza e inquietação, pois, a maioria do público acredita no Direito tradicional como o único instrumento viável e válido para julgar crimes efetuados por populações indígenas em diferentes horizontes. Portanto, muito tem se falado sobre este tema ainda caro à comunidade científica como todo, assim sendo, a maior dúvida encontra-se na punição propriamente dita. Diante disto, incumbe sintetizar que enxergar a cultura indígena como sendo algo simples é um erro grave, haja vista, que são complexas, heterogêneas e multíplices. Dada a problemática, Wolkmer (2009, p.186) [4] define o pluralismo jurídico "como multiplicidade de práticas existentes ocorrem num mesmo espaço sociopolítico, interagidas por conflitos ou consensos, podendo ser ou não oficiais e tendo sua razão de ser, nas necessidades existenciais, materiais e culturais". Destarte, como proceder diante desta perspetiva? Mediante os fatos expostos, a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 [5], sobretudo se levarmos em consideração o caput do artigo 5º, onde emana que "todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza (assimilação jurídica dos povos indígenas), garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à segurança e à propriedade (…)". Dito isto, cabe corroborar que todas as constituições formuladas em território brasileiro desde a época colonial (imperial), embasam seus princípios fundamentais na igualdade formal — igualdade perante a lei. As epistemologias jurídicas dos "brancos" têm causado enormes problemas nas culturas indígenas — a educação mudou mediante a interculturalidade, mas o Direito permanece conservador, sem abrir brechas para os novos. Tendo em vista os aspectos descritos, torna-se evidente que o sistema jurídico brasileiro ainda não detém meios ou recursos específicos para solucionar os conflitos que emergiram e possam imergir no seio da cultura indígena. À vista disto, um dos elementos centrais referem-se as conflagrações entre indígenas e não indígenas (os brancos), principalmente, em decorrência das demarcações de terras em diferentes horizontes, onde os direitos indígenas foram e estão sendo violentamente atacados e os envolvidos não punidos, no qual abre precedência para outros desregramentos. Ainda cabe enfatizar que cada cultura indígena possui a sua particularidade, especificidade, normativa, portanto, o pluralismo jurídico precisa seguir este itinerário, sem inserir seus conceitos dentro de uma mesmo pressuposto básico, assim, a essência seria a diferenciação. Exemplos de ataques aos direitos indígenas no Brasil não faltam: os inúmeros assassinatos e agressões sofridas por lideranças Guarani e Kaiowá gestados por guerrilheiros de ruralistas no Mato Grosso do Sul (Dourados, Caarapó, Amambai, Antônio João, Paranhos, Rio Brilhante, etc); garimpos ilegais em territórios indígenas no coração da Floresta Amazônica; os retornos de grilagens em comunidades indígenas em meio a grave crise sanitária e econômica; negligências de algumas instituições de governos municipais, estaduais e federal (Funai), apenas para citar alguns. Partindo dessa perspectiva, torna-se óbvio que o jargão ou arcabouço jurídico tradicional (modernidade, Estado-nação, homogeneização cultural e monismo) estruturado no individualismo está alquebrado — totalmente ineficiente para oportunizar retornos e resoluções suficientes ou adequados para as comunidades indígenas. Ainda para evidenciar os direitos indígenas no Brasil, falaremos da pandemia da Covid-19, que tem gerado inquietação, dúvida e reflexão nas principais lideranças indígenas em todo o Brasil, "nosso futuro é incerto, ainda não sabemos onde iremos parar", nos disse Xe Ha Concianza — jovem liderança indígena Guarani/Kaiowá da Aldeia Panambizinho, no município de Dourados, Mato Grosso do Sul. Certamente, tais indagações não são diferentes para as maiorias das populações indígenas do Brasil, muitas comunidades estão isoladas, não orientadas por autoridades municipais, estaduais ou federais, mas pelas próprias iniciativas dos indígenas, que, infelizmente, mais uma vez estão jogados com a própria sorte. Mas, felizmente, as articulações das populações indígenas têm se efetivado de maneira intensa — as tecnologias (WhatsApp, Facebook Messenger, Twitter, Instagram e o "velho" e-mail) têm sido aliadas importantes, sobretudo a ajudar a realizar debates ininterruptosneste processo de instabilidade e ameaças de direitos. Mas voltando para a ideia inicial, na sociedade judaica-cristã-ocidental dificilmente se fala em direitos sem a presença do Estado, mas isso é uma prática comum na sociedade indígena, haja vista que o julgamento e a futura punição segue uma lógica própria, específica e inerente. Tal estatuto indígena é aglutinado por narrativas, memórias e cosmologias, ou seja, os princípios muitas vezes não se encontram em materiais palpáveis (papéis). Na atualidade contemporânea, os julgamentos de indígenas ainda são fortemente marcados por etnocentrismo jurídico, um verdadeiro tribunal de inquisição, em que os julgados sequer dominam as linguagens envoltas nos processos, a deixar de lado os direitos ontológicos culturais. Em decorrência destes processos, ainda cabe corroborar que o Estatuto do Índio (1973) [6] possui um viés de aculturação, assimilação, integração, portanto carece de reformulação, sobretudo precisa reconhecer a multiculturalidade, pois ainda nega os direitos diferenciados. Em virtude dos fatos, o conceito de pluralismo jurídico é desinente da sincronia de dois ou mais modelos jurídicos díspares, ambos fadados pela valência, pelo menos em matéria (tese), na mesma espacialidade-temporal-geográfica. Partindo desse pressuposto, claramente a organização social indígena segue uma diretriz distinta da Constituição e outras leis em cursos, também há uma presença-ausência do Estado brasileiro, fazendo com que os ilícitos executados sejam julgados pelos usos e costumes indígenas. Aqui defendemos que é necessário haver uma interação entre ambos, ou seja, uma ressignificação das leis, mas para isto é preciso existir consenso entre as lideranças indígenas e juristas juntamente com os três poderes — Executivo, Judiciário e Legislativo. Ainda nessa óptica interpretativa, para discernir ou ampliar o pluralismo jurídico é suma importância levar em conta o Direito consuetudinário — que são os direitos costumeiros, isto é, as tradições culturais transformam-se em leis. Oficialmente apenas três países aderem integralmente a essa prática jurídica: Mongólia, Sri Lanka e Andorra [7]. Nesse contexto, um dos entraves para instrumentalizar o pluralismo jurídico ou reconhecimento de múltiplos direitos nuns determinados espaços são justamente a sua procedência que decorrem vias elementos orais, não materializados — esta situação tem marginalizado a principiologia jurídica indígena em diferente esfera. Neste sentido, cabe destacar que a (Jus) diversidade é uma ação reconhecida pela Constituição Federal de 1988, todavia ainda encontra resistência na sociedade envolvente, apesar de alguns tribunais já ter abertas algumas exceções para esta nova forma de enxergar os direitos considerados intransferíveis e intransmissíveis, ou melhor, uma jurisprudência cosmológica que sempre acompanhou a cultura ameríndia ao desenrolar da história humana. Portanto, o pluralismo jurídico transfigura-se como um elo fundamental nesta conjuntura, a contrariar o monismo estatal, buscando distinguir-se pela igualdade e por legítimo estado democrático de direitos — que de acordo com a nossa ótica seria um novo marco na história já jurisprudência, desta vez dotado de memórias poéticas ameríndias. É bom ressaltar que não estamos na contramão da estrutura jurídica vigente, apenas a angariar uma alternativa plausível, com objetivo de atingir as imensas demandas dos povos indígenas que há séculos se reinventam a cada dia. Desta forma, temos por finalidade, adquirir uma "proposta de um novo Direito contra-hegemônico, que se direcione a transcender a ordem elitista (positivista, tecnicista, centrada, formalista, conservadora)", como corroboram Luciano Roberto Gulart Cabral Júnior e Francisco Quintanilha Véras Neto (2018, p. 125). Finalizamos a dizer que para toda essa problemática concretizar-se efetivamente, é essencial levar em consideração o perspectivismo e multinaturalismo indígena de Eduardo Viveiros de Castro (2002) [8] — teoria amplamente difundida pela Antropologia, pela História e pelas demais ciências humanas e sociais, mas ainda ignorada pelo Direito positivo brasileiro. 1) Para os autores do texto, a lei escrita seria a principal fonte do direito indígena? Por que ? Fundamente (Valor: 5,0) Não, ao longo do texto os autores defendem a complexidade e heterogeneidade das culturas indígenas e mostram como a nossa legislação atual não acompanha e protege o modo de vida desses povos tradicionais. Afinal, o caput do artigo 5º da Constituição Federal de 1988 diz "todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza (...)". A igualdade é algo justo e correto, mas tendo em vista as diversas tentativas de assimilação cultural que sofreram os índios "desde o desembarque dos europeus nas "Américas Selvagens"", tratá-los como iguais seria, na verdade, dar a eles a possibilidade de viver a sua maneira, com seu direito baseado em seus costumes, histórias, tradições, religiões; assim como nós o fazemos. A fonte formal do direito (lei escrita), utilizada em nossa sociedade, não se faz valer nas sociedades indígenas. Em parte, porque o estado não busca sua aplicação e, em parte, por Antinomias Jurídicas entre a Constituição Federal de 1988 e o Estatuto do Índio (1973). O artigo 231 da CF diz que "São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam (...)". Como garantir aos índios os direitos previstos no artigo 231 da CF e ao mesmo tempo o caput do artigo 5º onde "todos são iguais perante a lei sem distinção de qualquer natureza"?. Como garantir o direito dos povos indígenas de manter sua organização social, costumes, crenças e tradições e ao mesmo tempo “integrá-los, progressiva e harmoniosamente, à comunhão nacional."? É claramente incompatível. As fontes formais estatais do direito brasileiro já se mostraram incapazes de preservar os direitos dos índios dada sua complexidade cultural. Um direito mais plural, de fonte formal e não estatal, que reconheça os índios, de fato, como membros da sociedade civil, seria o ideal para a conservação de seus povos e culturas. Fonte Formal: São aquelas através da qual o direito se manifesta. São oriundas das fontes materiais do direito. Fonte Material: Fato que condiciona a formação das normas jurídicas. Fatos sociais, históricos, políticos, naturais, econômicos, morais... Exemplo: uma guerra, uma pandemia, um desastre natural, um etnocídio... Fontes Estatais: Fonte do direito formal oriunda do estado. As fontes estatais podem ser subdivididas em legislativas (leis, decretos, regulamentos...) e jurisprudenciais (sentenças, precedentes judiciais, súmulas...) Fontes Não-Estatais: Fonte do direito formal oriunda da sociedade civil. Compreende o direito consuetudinário (costume jurídico), o direito científico (doutrina) e os negócios jurídicos. LEI Nº 6.001, DE 19 DE DEZEMBRO DE 1973. . Art. 1º "Esta Lei regula a situação jurídica dos índios ou silvícolas e das comunidades indígenas, com o propósito de preservar a sua cultura e integrá-los, progressiva e harmoniosamente, à comunhão nacional." CF, caput do artigo 5º, "todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à segurança e à propriedade (…)". CF, artigo 231, 1988 - "São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens." 2) Os autores do texto podem ser considerados defensores do positivismo jurídico? Por que ? Fundamente (Valor: 5,0) Não, logo no primeiro parágrafo a posição dos autores é posta como favorável ao pluralismo jurídico em detrimento do positivismo jurídico ao citarem os pesquisadores Luciano Roberto Gulart Cabral Júnior e Francisco QuintanilhaVéras Neto, sobre o pluralismo jurídico: "a perspectiva é descentralizadora, antidogmática, pretendendo a supremacia dos fundamentos ético-político-sociológicos sobre critérios tecno-formais positivistas". A citação mostra vantagens do pluralismo, como uma visão mais ampla, zetética, multipolar e baseada em fatores étnicos e sociais. A defesa da utilização do pluralismo jurídico, com ênfase na situação dos povos indígenas, é feita ao longo do texto. O pluralismo jurídico acredita na existência de direitos inerentes a condição humana, os chamados direitos fundamentais. Caracterizado por sistemas jurídicos múltiplos e compostos que regem uma sociedade simultaneamente; convivência do direito estatal com o direito não estatal. Ampara a tese da vinculação do direito com a moral em casos de princípios humanos mais gerais e universais, reconhecendo através da racionalidade alguns princípios morais: os direitos humanos (teoria dos círculos éticos secantes). Valoriza uma interpretação histórica e social do direito; valoriza a interdisciplinaridade do direito. Visão mais zetética do direito. O positivismo jurídico é uma teoria do direito de caráter monista que nega a existência de direitos naturais e acredita na lei criada pelo estado como única fonte do direito. Separa o direito da moral (teoria dos círculos éticos separados); valoriza interpretações de caráter gramatical; não reconhece a possibilidade de um conceito racional de justiça; nega o debate do direito com outras ciências. Contribuiu com a cientificação do direito e tem como seu principal expoente Hans Kelsen, autor da Teoria Pura do Direito. Visão mais dogmática do direito. Os autores também chamam atenção ao mecanismo do Estado de Exceção como forma de se praticar um etnocídio contra povos indígenas. Cabe lembrar que o Estado de Exceção foi usado no século XX por regimes autoritários, adeptos a escola da Teoria Pura do Direito, que se utilizam da lógica positivista e seus mecanismos para praticar verdadeiros etnocídios ancorados na supressão de direitos permitida pelo Estado de Exceção. Estado de Exceção: Suspensão do direito existente em prol de uma ação mais eficaz do estado para manutenção da ordem em períodos de anormalidade constitucional.
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