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A Tomada de Consciência Nacionalista Africana

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1 
 
UNIVERSIDADE KATYAVALA BWILA 
INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO DO CUANZA 
SUL 
_____________________________________________________________________ 
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS 
 
MONOGRAFIA PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE LICENCIATURA 
EM CIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO. 
 
Opção: História 
Regime: Regular 
 
A TOMADA DE CONSCIÊNCIA NACIONALISTA EM 
ÁFRICA, UM SUBSÍDIO PARA O PROGRAMA DA 9ª 
CLASSE, NA DISCIPLINA DE HISTÓRIA, CASO DO 
COLÉGIO 2 DE MARÇO DO SUMBE. 
 
Autor: Almeida Miguel Ageu de Carvalho 
 
 
Registo Nº_______ /________/DAC 
 
 
SUMBE/2019 
2 
 
UNIVERSIDADE KATYAVALA BWILA 
INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO DO CUANZA 
SUL 
_____________________________________________________________________ 
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS 
 
 
MONOGRAFIA PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE LICENCIATURA 
EM CIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO. 
 
Opção: História 
Regime: Regular 
 
A TOMADA DE CONSCIÊNCIA NACIONALISTA EM 
ÁFRICA, UM SUBSÍDIO PARA O PROGRAMA DA 9ª 
CLASSE, NA DISCIPLINA DE HISTÓRIA, CASO DO 
COLÉGIO 2 DE MARÇO DO SUMBE. 
 
 
 
Autor: Almeida Miguel Ageu de Carvalho 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMBE / 2019 
 
3 
 
 
 
 
 
 
Combati um bom combate, terminei a minha carreira e guardei a fé “Apóstolo 
Paulo de Tarso” 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
II 
4 
 
AGRADECIMENTOS 
Endereço eterna gratidão ao mentor e protector da minha vida (Deus). Aos meus 
pais: José de Carvalho e Rosária Miguel. Aos meus irmãos pelo contínuo apoio 
material e espiritual. 
Ao Excelentíssimo Mestre em Ciências senhor professor Jacob Lussento Cupata 
(nas vestes de tutor), pelo acompanhamento íntegro. Ao magnífico senhor 
professor João Patrício Diniz que sempre brindou-me com a sua afável 
disponibilidade. 
Aos excelentíssimos professores das distintas cadeiras que envolviam o plano 
curricular do curso de História, pois, souberam transmitir sapientemente 
conhecimentos valiosos ao longo de quatro anos e que serão aplicados de hoje 
aos tempos provindos. 
A todos que suam para que o globo Universitário Katyavala Bwila gire, com maior 
especificidade para a os que integram a Unidade Orgânica do Instituto Superior 
de ciências de Educação do Cuanza Sul, sobretudo os do Departamento de 
Ciências Sociais, Repartição de História. 
Às entidades consultadas que não hesitaram em responder algumas perguntas 
por mim levantadas. À direcção da escola (Colégio 2 de Março do Sumbe), em 
que foi direccionada a investigação. 
A todos aqueles que também puderam contribuir com o seu silêncio no âmbito da 
prossecução deste trabalho, lembrar ainda o impacto da actuação dos meus 
egrégios colegas, amigos e familiares: Carvalho José Neto, Armando Candumbo, 
Paulo Miguel Cambundo, José Pedro Menezes, Armando Kizenga Donga, 
Magalhães Tomás Júnior, Sandra de Carvalho, Joaquim Marques, Rita Paixão, Zé 
Troco, Maria Reis (Wanga), Martins Raúl Quiteque, Cecília Paixão Francisco, 
Manuel Kicomba, Jorge Virgílio, Afonso Senteio, Póstumo Narciso Nobre, Valódia 
de Carvalho Patrício, Virgínea Júlio Sarmento, bem como àqueles que de forma 
directa ou indirecta contribuíram para o êxito da minha formação. Ab in mocord! 
III 
5 
 
DEDICATÓRIA 
Dedico este trabalho a todos àqueles que não hesitaram em dar as suas mãos no 
processo da investigação e execução deste trabalho, aos aspirantes do saber e à 
toda comunidade académica em geral, especialmente aos alunos do Colégio 2 de 
Março do Sumbe. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
IV 
6 
 
ÍNDICE 
Pensamento 
 
 
II 
Agradecimento III 
Dedicatória IV 
 
Índice V 
Introdução 01 
CAPÍTULO I – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 05 
1.2. Definição dos termos e conceitos 05 
1.3. A Tomada de Consciência Nacionalista Em África 06 
1.3.1. A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) 10 
1.3.2. Os Congressos Pan-Africanistas 12 
1.3.3. A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) 21 
1.3.4. A Política dos Estados Unidos da América 24 
1.3.5. A Política da URSS 26 
1.3.6. A Acção da ONU 27 
1.3.7. A Conferência de Bandung 28 
1.3.8. O Exemplo da Ásia 33 
1.3.9. O Exemplo da África do Norte 34 
1.3.10. As Contradições Internas do Colonialismo 34 
1.3.11. Os Sindicatos Africanos 35 
1.3.12. A Acção dos Intelectuais 36 
1.3.13.Os Movimentos dos Estudantes 37 
1.3.14. Os Movimentos Religiosos 38 
1.3.15. Os Partidos Políticos 40 
1.3.16. Os Movimentos de Reabilitação Cultura 40 
VII 
7 
 
Conclusões 41 
Referências Bibliográficas 
Apêndices 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
INTRODUÇÃO 
O presente trabalho de pesquisa científica foi levada a cabo com vista a alcançar 
o título de licenciatura em ciências de educação, especialidade de História. Antes 
de indagarmos no tema que nos propusemos (a tomada de consciência 
nacionalista africana), começamos por apresentar as características gerais do 
continente berço. 
A África apresenta 30.230.000 km² de extensão territorial (sendo o terceiro 
continente mais extenso após a Ásia e a América), cobrindo 20,3% da área total 
da terra firme do planeta, distribuídos em 55 países, sendo a Nigéria o mais 
populoso. O maior país é a Argélia, enquanto as ilhas Seychelles o país mais 
pequeno. O ponto mais alto da África é o Kilimanjaro (5895 m). O Lago Assal em 
Djibuti é o mais baixo (155 m abaixo do nível do mar) (Keita, 2009: p. 5-7). 
É o segundo continente mais populoso do mundo, nela existem diversidades 
culturais e recursos naturais e são estes recursos que irão aliciar o interesse das 
potências após a sua descoberta aquando da procura de uma via alternativa que 
os levasse até a Índia. 
Foi assim que, o século XV testemunhou a descoberta não premeditada de África 
pelos europeus, mas após terem-se apercebido de que o que para eles constituía 
via alternativa para Índia, seria na verdade o palco das mais variadas riquezas por 
eles almejada, começaram a desenvolver uma série de acções que irão mudar a 
História dos dois continentes e do mundo. (Ki-Zerbo, 1972). 
Com efeito, em 1482, após a tripulação de Diogo Cão ter atracado na foz do rio 
Zaire, os tempos a seguir foram de relações diplomáticas e amigáveis. Nesta 
altura, em África já existiam grandes Estados e Impérios como o Ghana, Mali, 
Songhay, Monomotapa e outros (Ki-Zerbo, 2002). 
Desde os primeiros contactos entre os europeus e africanos e as primeiras 
tendências de conquista (dos territórios africanos pelos europeus), os africanos 
jamais ficaram de braços cruzados. E esta informação torna-se oficial, ao 
lembrarmo-nos das grandes revoltas que os africanos levavam a cabo, muito 
antes das duas grandes guerras mundiais (por um lado). Por outro se 
associarmos as palavras proferidas por Menelique II da Etiópia ao dizer que «Não 
9 
 
tenho a intenção de assistir de braços cruzados a chegada das potências de 
além-mar com intenção de dividirem entre si a África» (Ki-Zerbo, 2002; p: 62). 
São todas estas acções que quando bem analisadas, podem ser consideradas 
como exemplos de nacionalismo africano no período que antecede as duas 
grandes guerras mundiais. Este nacionalismo que irá passar por várias fases para 
o seu aprimoramento como se circunscrevem no âmago da temática em epígrafe. 
Aproveita-se inferir que a relação entre o colono e o colonizado, constituiu um 
ingrediente extremamente fundamental para se justificar o nacionalismo africano, 
se termos em conta que os africanos viviam opressos dos seus direitos em sua 
própria pátria. 
Assim, após séculos de colonização de África, os africanos ofegantes dos maus-
tratos que de forma subsequente recebiam dos colonizadores, começam a 
compreender que a independência jamais seria um presente do colonizador (Ki-
Zerbo, 2002). 
Não obstante haja um interesse exacerbado por parte das potências europeias ao 
afirmar que as independências africanas se solidificou graças a boa vontade dos 
colonos, a realidade está muito aquémdeste teorato que visa apagar a 
determinação dos africanos e o espírito nacionalista com que arquitectaram as 
suas independências (ibidem). 
Assim sendo no primeiro capítulo abordaremos genericamente sobre a forma 
como foi processada a tomada de Consciência Nacionalista Africana, que não 
teve um único padrão em todo o continente, sendo que para alguns territórios foi 
mais rápido e para outros mais lentos, (ibidem). 
Uma vez que, falar da tomada de consciência nacionalista africana é de interesse 
de todos os africanos que se preocupam em saber do percurso histórico do 
continente berço e esta abordagem fornece igualmente instrumentos para 
contrapor algumas teorias eurocêntricas que visam denegrir o bom nome do 
continente africano. 
O tema em performance, reveste-se de grande importância, sendo que, em 
primeiro lugar fornece aos estudantes, professores e não só, uma nova visão 
relativamente a tomada de consciência nacionalista africana; em segundo lugar, 
10 
 
pelo facto de que, os conteúdos nele contidos servirão de suporte aos 
professores, alunos da 9ª Classe e não só. Em terceiro lugar, porque, esta 
pesquisa foi desenvolvida subjectivamente para que todos os africanos tenham 
argumentos de defesa face as tendências eurocêntricas que procuram 
incansavelmente denegrir o posicionamento heróico dos africanos na libertação 
de África. 
Pois, é de salientar que o trabalho não é um produto acabado devido a escassez 
de fontes que abordam profundamente a tomada de consciência nacionalista em 
África no período em destaque, apesar de estarmos ciente que a África é um 
continente muito rico em informações desde aos primórdios da humanidade. 
Porém, foi possível elaborar o trabalho através de consultas bibliográficas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
CAPÍTULO I – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 
1.2. Definição dos Termos e Conceitos 
Tomada de Consciência: é o resultado da reflexão em torno de um problema ou 
situação, ou seja, corresponde a acção de compreensão de um determinado 
acontecimento ou situação (o partidismo resultante da análise de uma 
determinada questão). 
Nacionalista, é a pessoa que pratica o nacionalismo, sendo o nacionalismo uma 
ideologia segundo a qual o indivíduo deve lealdade e devoção ao Estado 
nacional, compreendido como um conjunto de pessoas unidas num mesmo 
território por tradições, língua, cultura, religião ou interesses comuns, que constitui 
uma individualidade política com direito de se autodeterminar (Andrade, 1997). 
Durante a idade moderna, foi um movimento que preconizava a criação do Estado 
Nacional como indispensável para realizar as aspirações sociais, culturais de um 
povo. O nacionalismo prolonga-se ao conceito de Estado Nação, já constituído 
com a deslocação do eixo prioritário para a defesa da independência e da 
afirmação da sua grandeza. O fundo ideológico comum organiza-se em torno de 
quatro temas principais: Soberania, Unidade, Passado Histórico e Pretensão à 
Universalidade (Alexandre. 2007). 
Segundo Maxime Rodinson, citado por Mário Pinto de Andrade (1997), o termo 
nacionalismo aplica-se quer a “ideologia de estado-nação, de tipo 
contemporâneo, quer aos desenvolvimentos ideológicos mais teóricos, mais 
agressivos, mais libertos, emanando dos diversos grupos étnicos. 
África, alguns historiadores afirmam que o termo «África» viria do nome de um 
povo berbere que se fixaram perto de Cartago (fundada em 825 a. C, ). 
Denominaram-no «Afrig», de onde se teria obtido «Afriga» ou «Afrika» (como o 
habitat de todos afrigs). Com tempo o termo passou a ser utilizado à todo o 
continente, ultrapassando o seu sentido inicial. O seu nome é geralmente 
relacionado com os fenícios como afar, que significa “poeira”, embora uma teoria 
de 1981 tenha afirmado que o nome também deriva de uma palavra berberes, ifri, 
palavra que significa caverna, em referência à gruta onde residiam. Massey 
12 
 
(1881), afirma que o nome deriva do egípcio af-rui-ka, que significa “para virar em 
direcção a abertura do ka.” O ka é o dobro energético de cada pessoa e a 
abertura do ka, remete para o útero ou berço. África seria para os egípcios “o 
berço”. Segundo Leão O Africano (1488-1554), a palavra África é de origem grega 
«aphrike», que significa “sem frio (Keita, 2009: p. 13). 
Subsídio: trata-se de um reforço, ou ainda algo que se acresce ao já existente. 
Programa: um mapa no qual se encontram descritas as actividades a serem 
realizadas em conformidade com o elemento cronológico, ou seja, a distribuição 
sistemática das actividades a serem desenvolvidas consoante o tempo. 
História: segundo Marco Túlio Cícero, é «a mestra da vida, a luz da verdade, a 
testemunha dos dias que não voltarão». 
Classe: refere-se a uma categoria social ou profissional, ou a divisão de um 
determinado grupo, mas neste contexto, classe refere-se a um nível de ensino. 
Colégio 2 de Março: é uma instituição de ensino primário e secundário, uma vez 
que, na mesma lecciona-se também as classes correspondentes ao primeiro 
ciclo, a mesma existe há mais de 40 anos, no Bairro do Chingo, município do 
Sumbe. 
Sumbe: é um dos doze municípios da província do Cuanza Sul e 
concomitantemente a capital da referida província. O termo Sumbe deriva do 
dialecto dos povos autóctones que para designar as trocas comerciais, exprimiam 
com bastante frequência “Kussumba”. Devido a influência do português, o termo 
evoluiu até chegar a palavra Sumbe que é a designação oficial da cidade. 
1.3. A Tomada de Consciência Nacionalista em África 
É bastante vulgar e credível, a ideia, por haver sido extensivamente difundida pela 
literatura colonialista, que a África era uma espécie de vazio político onde tinha 
livre curso, a anarquia, a selvajaria sangrenta e gratuita, a escravidão, a 
ignorância bruta e a miséria. Os agentes da civilização europeia, eram 
considerados unicamente como cavaleiros da civilização e do progresso (Ki-
Zerbo, 2002: p. 83). 
13 
 
Outra ideia falsa, proclama a ausência total de sentimento nacional entre os 
africanos. Mas contrapõe-se a esta infâmia afirmação uma vez que, depois das 
primeiras tentativas de penetração, o nacionalismo africano, sob formas múltiplas, 
por vezes desajeitadas, por vezes ambíguas, sempre se exprimiu sem interrupção 
até a reconquista da independência ou seja, sob as cinzas do colonialismo, 
dormia um fogo vivo e revela-se de tempos a tempos com intensidade (Ki-Zerbo, 
2002: p.5). 
A atitude dos africanos quando da chegada dos europeus no século XV, foi muito 
variada. Na verdade, durante séculos, tinha chegado aos recantos mais afastado 
do continente rumores contando que homens brancos (Nassaras, Outubabus, 
Mzungus), chegavam por vezes, vindos da grande água. Jamais estes negreiros 
penetraram muito no interior, salvo por intermédio dos pombeiros na África 
Central. A primeira reacção dos negros em face destes brancos raramente foi de 
hostilidade. A hostilidade pode provir, entre outras coisas, das circunstâncias de o 
tráfico de escravos haver atingido sobretudo as pequenas tribos desorganizadas e 
destas terem tendências para ver qualquer expedição conduzida por estrangeiro 
como prelúdio ao comércio negreiro (Ki-Zerbo, 2002: p.5). 
As resistências dos africanos contra a ocupação dos territórios, começaram desde 
a chegada dos primeiros europeus em África. Os africanos nunca aceitaram a 
ocupação das suas terras pelos colonialistas, nem a exportação das suas 
riquezas. Sempre resistiram à escravatura, às culturas obrigatórias e ao trabalho 
forçado (Nsiangengo & Santana, 2012: p. 68). 
Os povos africanos, nunca aceitaram a dominação colonial, por isso, as suas 
revoltas foram crescendo dia após dia. As resistências dos africanos, assumiu 
diversas formas, tais como: a recusa ao pagamento de imposto, a destruição de 
máquinas e outros instrumentos de trabalho, greves e formação de pequenos 
grupos para fazer frente ao colonialismo(ibidem). 
Esgotada após séculos do tráfico negreiro, a África estava no entanto, longe de se 
haver tornado uma terra colonizável sem resistência. E o século XIX vai ver surgir, 
imediatamente antes ou no momento preciso da conquista europeia, chefes de 
envergadura excepcional, que vão procurar virar o curso implacável do destino 
(mesmo quando disto não estavam explicitamente conscientes) e criar de novo 
14 
 
grandes conjuntos políticos supra-tribais, tais como eles existiam durante 
«grandes séculos». É este o sentido da epopeia de Chaka Zulu. Será esta a linha 
de uma plêiade de africanos que se manifestou em todas as regiões da África 
Negra: Chaka, Usman da Fodio, El Hadj Omar, Samouri, Madi e Menelique II (da 
Etíopia) (KI-Zerbo, 2002: p.5). 
Em toda a extensão do continente africano, os exércitos europeus tiveram 
algumas derrotas no campo de batalha. Essas vitórias militares dos africanos, 
embora poucas, foram muito significativas. A vasta bibliografia sobre a matéria 
ilustra o grau de preparação dos africanos e a sua capacidade de organização. 
Os objectivos dessa luta são claros: a manutenção da independência e das 
soberanias nacionais. Isso é patente em todas as regiões da África (Lopes, & 
Capumba, 2006: p.42). 
O nacionalismo africano não deve ser assimilado aos sentimentos chauvinistas 
que em numerosos estados europeus conquistaram correntes inteiras da opinião 
pública e se manifestaram por medidas económicas (autarcias e proteccionismo 
aduaneiro de Bismark ou de Méline em França), por decisões político-militares 
que vão até ao imperialismo (pangermanismo, fascismos, etc.), até por tiradas de 
desforra nacional como, as de Déroulède (Ki-Zerbo, 2002). 
Segundo Domenach, citado por Ki-Zerbo «o nacionalismo só é justificável quando 
um povo se encontra oprimido. Ele concentra-se então numa aspiração bruta nas 
diversas forças sociais, igualmente humilhadas e que vivem na esperança. Mas 
uma vez libertados, esse povo, já não pode o nacionalismo fornecer respostas 
sérias aos problemas reais, não passa de excitações estéreis e de contradições 
indefinidas, torna-se o álibi dos privilegiados que recorrem ao mito da totalidade 
nacional, para fazer esquecer as desigualdades reais.» 
Trata-se na verdade, de um despertar nacional, do risorgimento de uma 
personalidade que tenta afirmar-se, opondo-se ao puder estabelecido. Neste 
sentido, o nacionalismo africano, principiou com os primeiros antagonismos com 
os estrangeiros e nunca desapareceu por completo. O período colonial constituiu 
no entanto, uma fase histórica durante a qual este nacionalismo domesticado ou 
esmagado, só se podia exprimir sob a forma de revolta. Novas circunstâncias 
históricas vão-lhe conferir a estatura de revolução (ibidem). 
15 
 
À luz da minha percepção, considero que «antes das duas guerras mundiais já 
existia no seio dos africanos o espírito nacionalista e o mesmo era manifestado 
através de revoltas, greves e negação a pagamento de imposto». 
A autodeterminação dos povos é um direito que as populações habitantes de um 
determinado território que compõe ou não um estado-nação (tríade Estado, Povo, 
Território) têm de afirmarem perante todas as outras populações sua capacidade 
de se auto-governarem, manterem a criação cultural e tradições próprias, e terem 
soberania, e de constituírem as suas próprias leis (Lopes & Capumba, 2006). 
Não estamos acostumados a pensar uma África caracterizada pela diversidade 
cultural, política, religiosa e linguística que lhes são próprias. As imagens que 
temos do continente é exactamente aquela que o historiador africano Ali A. Mazrui 
expressa, ao afirmar que “alguns não temeram ofender simultaneamente as 
mulheres e a África, chegando ao ponto até de denominar esta última como „o 
continente - mulher‟, em alusão a uma suposta passividade e penetrabilidade” 
(Hernandez, 2003). 
Hoje não seria estranho ainda encontrar pessoas que se espantem ou duvidem 
da informação referente ao engajamento dos africanos e suas respectivas 
colónias na Segunda Guerra Mundial, e que não estavam motivados pela fúria de 
seus colonizadores em caso de resistência, e sim pela vontade de querer 
defender seus territórios, povos e respectivas culturas, além de alimentar 
esperanças de dias melhores (ibidem). 
Em razão de que um facto histórico não se dá por acaso ou de forma súbdita e 
sem precedentes, entende-se que, a tomada de consciência nacionalista africana, 
foi um processo mais ou menos longo de acordo com as circunstâncias concretas 
de cada país colonizador. Iniciada com a I Guerra Mundial em 1914, confirmada 
pelos congressos Pan-Africanistas, acelerada pela II Guerra Mundial e culminará 
com a independência da maioria dos Estados africanos (Ki-Zerbo, 2002). 
Assim sendo, em seguida, elucidamos os principais acontecimentos que 
contribuíram para o surgimento e a propagação do nacionalismo africano: 
 
16 
 
1.3.1. A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) 
A Primeira Guerra Mundial (1914-1918), que envolveu as potências coloniais, 
exerceu profundas influências no continente africano. Muitos negros africanos 
tinham atravessado o atlântico para ajudar as potências europeias envolvidas no 
conflito (com a excepção da Alemanha), o que desenvolveu no seu seio um novo 
tipo de consciência sobre as desigualdades da sua posição em relação aos 
soldados brancos muitas vezes com capacidades inferiores que às dos seus 
compatriotas negros (Nsiangengo & Kianzowa, 2012; p:44). 
“Muitos (…) soldados, como outros africanos, nomeadamente os europeizados, 
esperavam que a participação numa guerra que não lhes dizia respeito fosse 
recompensada com melhorias constitucionais, económicas e sociais nos seus 
territórios de origem. Não o foram, o que deu azo a radicalização de um 
anticolonialismo latente. As elites africanas esperavam que os princípios da 
autodeterminação (e, de certo modo, a antecipação do princípio da nacionalidade) 
enunciados pelo presidente norte-americano T. W. Wilson em 1918 e outros 
também viessem a ser aplicados em África, o que só sucederia passados muitos 
anos; depois da Grande Guerra Mundial de 1939-1945. (Amaral, 2000:58) ”. 
A entrada dos africanos na 1ª Guerra Mundial (ou a Guerra de 1914-1918, 
também dito, entre Nações colonialistas) aconteceu devido à necessidade dos 
europeus, em conflito, tentarem reverter a seu favor o desenrolar da guerra. 
Como se sabe, as partes litigantes estavam enquadradas em duas distintas 
alianças ou blocos; de um lado a “Tríplice Aliança” (ou Potências Centrais, que 
englobava a Prússia – ora avante dito Alemanha – os Impérios Austro-Húngaro e 
Otomano e a Itália – esta depois trocou de bloco político-militar) e pela “Tríplice 
Entente” (ou Entente Cordiale), que associava o Reino Unido, a França, a Rússia 
– que depois abandona o bloco, devido à revolução Bolchevique – e os EUA, 
estes desde 1917, além de outros países como Portugal, Bélgica, Brasil ou 
Japão) (Almeida, 2004:56-58). 
Deste grave conflito, onde, pela primeira vez, participaram tropas coloniais ao 
lado das diferentes potências colonizadoras, emergirá uma linhagem política que 
irá ter repercussões; ao retornarem às suas regiões de origem, os intelectuais 
17 
 
coloniais que participaram no conflito levaram ao início de movimentos nacionais 
de libertação, em nome da própria ideologia liberal europeia: era a génese da 
Descolonização em África e na Ásia (Almeida, 2004: 64-79). 
O aspecto mais importante da experiencia que os africanos descobriram na 
Europa, foi o tratamento amigável que os negros receberam na Inglaterra e na 
França, tendo chegado a conclusão de que afinal o branco não era racista por 
natureza. No decorrer da guerra, os africanos, ficaram a conhecer a imperfeição 
do branco, pelas fraquezas que foram apresentando. Ao ocuparem Ruhr, 
província Alemã, esta acção aumentou veementemente a auto-estima dos 
africanos. Os soldadosafricanos que participaram da I Guerra Mundial, ao 
regressarem da Europa, vão estimular uma série de agitações. Os europeus que 
estavam a viver fora da Europa, em África e, especialmente na América, podiam 
viver sem racismo se quisessem (Ki-Zerbo, 2002). 
Constatando a harmonia racial que eles experimentaram na Europa, quando 
começaram a voltar para a África e para a América, constituíram uma das forças 
que contribuiu grandemente para a obtenção das independências em seus 
respectivos países (Nsiangengo & Kianzowa, 2011, pag.44). 
Ora, no desenrolar da I Guerra Mundial, algumas potências colonizadoras 
recrutavam soldados africanos, em que na primeira fase, foi de forma voluntária e 
mais tarde de forma obrigatória. No caso da França, em 1912 mobiliza mais de 
16.000 homens e, em 1915 a 1916, mais de 50.000 homens. A Inglaterra, na 
primeira fase da Guerra utilizou os africanos como forças locais. Em 1915, após a 
aprovação do decreto da autorização das tropas africanas para ajudar os 
britânicos, abrindo por conseguinte o cenário da inserção integral dos africanos 
nos exércitos das potências coloniais (Ki-Zerbo, 2002). 
Em África, com a inclusão de soldados negros nos seus exércitos, considerando 
os seus interesses económicos, foram obrigados a encontrarem métodos que 
diminuíssem a resistência dos povos nas suas colónias, sobretudo através de leis 
que atenuassem as reivindicações espontaneamente surgidas. Assim aboliram o 
indigenato e o trabalho forçado. Os africanos inseridos nos exércitos das 
potências coloniais, esperavam portanto que, fossem promovidos socialmente, 
boas considerações por parte dos brancos, direitos sociais, honra, medalhas, bem 
18 
 
como as suas liberdades. Mas tiveram esperanças frustradas no final da I Guerra, 
tendo causado fracasso económico, político, transformações nas sociedades, 
assim como o despovoamento. “A guerra modificou as relações entre os europeus 
e africanos, alterando radicalmente a imagem do branco” (Nsiangengo & 
Kianzowa, 2001, p.44). 
Assim, na minha visão, apesar de esta guerra ter tido como principal palco o 
continente europeu, não deixou de contar com a participação directa ou indirecta 
de várias nações do mundo, pois, as colónias africanas não estiveram de fora. 
Com efeito, a participação de alguns africanos neste magno, sangrento e 
inolvidável acontecimento, contribuiu para o desabrochar do nacionalismo 
africano. 
1.3.2. Os Congressos Pan-Africanistas 
O pan-africanismo teve uma importância vital para o surgimento do nacionalismo 
africano, bem como para a formação da “Organização da Unidade Africana” e de 
sua sucessora, a “União Africana”. Esse movimento foi crucial na constituição da 
identidade negra, tendo sido um instrumento de unidade de luta destes por 
reconhecimento, direitos humanos, igualdade racial e depois como elemento 
agregador na luta pela independência (nacionalismo) através de seus congressos, 
e também como componente aglutinador para formação de uma instituição 
continental que também tinha como um dos seus objectivos a descolonização de 
todo território africano (De Almeida, 2007). 
A concepção de unidade dos africanos no período de formação da OUA foi 
fomentada, pelo pensamento pan-americanista. O pan-americanismo surge como 
um movimento que tinha como objectivo “fazer com que os próprios negros se 
entendessem como um povo”. Ou seja, o pan-americanismo tinha como conceito 
central a ideia de raça, a ideia de que uma vez que uma pessoa tenha a cor da 
pele negra ela faz parte de um povo negro. Mas do que um pensamento o pan-
americanismo se constituiu num “movimento político-ideológico centrado na 
noção de raça, noção que se torna primordial para unir aqueles que a despeito de 
suas especificidades históricas são assemelhados por sua origem humana e 
negra” (ibidem). 
19 
 
O pan-americanismo enquanto movimento político e ideológico organizado surge 
na verdade fora da África, ele ganha força com os negros da diáspora que se 
unem contra a discriminação e subjugação a que eram sujeitos nas colónias 
americanas e isso ainda no século XIX (Ki-Zerbo, 2002: p. 387). 
Podemos citar como antecedentes desse movimento na África intelectuais 
negros, na sua maioria provenientes da África Ocidental sob domínio colonial 
inglês. Devido ao intenso intercâmbio entre esses estudantes africanos ocidentais 
e pensadores do pan-africanismo, especialmente nos EUA, os líderes dessa 
região foram fortemente influenciados, implicando assim num diferencial em 
relação as lideranças das outras colónias. Outro aspecto importante do 
movimento pan-africano nessa região foi o papel desempenhado pela imprensa 
que se incumbiu de difundir as condições sob - humanas impostas pelo regime 
colonial aos negros (op cit., p. 388). 
Dessa forma, o movimento pan-africano logo no seu surgimento era composto por 
um selecto grupo de africanos com formação no ensino superior nas metrópoles 
europeias e nos EUA. Sua manifestação se deu de diferentes formas sendo as 
principais as conferências e congressos, publicações em jornais, discursos, livros 
e formação de associações (ibidem, p. 388-389). 
A fundamentação teórica do pan-africanismo é iniciada por Alexander Cromwell 
que tem no cerne de seu pensamento o conceito de raça que por sua vez será a 
directriz de sua visão para os negros e para a África. Para ele «a África é a pátria 
da raça negra e que como negro tinha direito de falar, agir e programar o futuro 
desse continente como seu legítimo representante. a ideia da África enquanto 
uma unidade decorria do facto dela ser a pátria dos negros». 
Esse pensamento de Cromwell manifestado em seus textos inaugurou o discurso 
do pan-africanismo, pois ele traduz exactamente a ideia da existência de um povo 
negro que por sua vez constituía uma unidade que teria no continente africano o 
seu lugar. Ele tinha a concepção, que vai se perpetuar no século XIX, da 
existência de uma unidade política natural, ou seja, uma vez que se tenha um 
único povo reunido num mesmo lugar consequentemente se tem uma unidade 
política. Nesse sentido Cromwell também foi considerado um dos pais do 
nacionalismo africano. Além disso, ele defendia a adopção da língua inglesa 
20 
 
como a língua a ser empregada na construção de um estado negro africano 
(Nsiangengo & Kianzoa, 2011, p. 53-55). 
Com essa atitude estava resgatando ou simplesmente reproduzindo o espírito do 
nacionalismo europeu que previa a utilização de uma única língua a fim de 
promover a unidade nacional. No caso da África existia muitas línguas e essas 
por sua vez não poderiam suprir essa necessidade. Segundo Cromwell, citado por 
Ki-Zerbo (2002) «haveria um único idioma para proporcionar a unidade da África 
Ocidental», logo o melhor caminho, na concepção de Cromwell, era a adopção da 
língua inglesa, que na verdade, também segundo o mesmo era superior e por isso 
a “melhor opção”. 
A trajectória do pan-africanismo está entrelaçada com a trajectória do 
nacionalismo africano, dessa forma assim como o pan-africanismo tem como eixo 
de sua formação o conceito de raça o mesmo acontece na construção do 
nacionalismo na África (ibidem). 
Embora falemos do conceito de raça como fundamental componente do 
movimento Pan-Africanistas e sua influência no nacionalismo africano. Entende-
se por raça um conceito diferenciador dos homens que por sua vez, a partir de 
critérios físicos ou morais determina a diferença entre os mesmos. Derivado 
desse termo surgiu a palavra racismo, este termo está associado a um 
comportamento moral de não somente diferenciação a partir do critério de raça, 
mas a partir do estabelecimento de uma hierarquia sobre as mesmas onde há a 
implicação de que algumas raças seriam inferiores ou superiores as outras 
resultando num tratamento diferenciado das mesmas (De Almeida, 2007). 
Como já afirmamos o pan-africanismo teve a sua fundamentação teórica a partir 
doconceito de raça, dessa forma traz consigo o pressuposto da aceitação dessa 
diferenciação e dessa hierarquia. No entanto, vamos continuar esclarecendo os 
termos referentes a raça. Kwame Anthony Apiah descreve que existe uma 
diferença entre os termos frequentemente utilizados nos assuntos concernentes a 
raça, ele diferencia racialismo e racismo. Para este autor o racialismo seria a 
visão de que existem características hereditárias, possuídas por membros de 
nossa espécie, que nos permitem dividi-lo num pequeno conjunto de raças, de tal 
modo que todos os membros dessas raças compartilhem entre si certos traços e 
21 
 
tendências que eles não têm em comum com membros de nenhuma outra raça. 
(Appiah, pág. 33) 
Esses traços e tendências característicos de uma raça constituem, segundo a 
visão racialista, uma espécie de essência racial; e faz parte do teor do racialismo 
que as características hereditárias essenciais das “Raças do Homem” respondam 
mais do que características morfológicas visíveis com base nas quais formulamos 
nossas classificações informais. (ibidem) 
 O racialismo em si, não seria um conceito que contemplaria um problema moral e 
sim cognitivo, pois se trata de entender um mundo em que existam diferenças, 
mas um mundo em que essas diferenças podem ser respeitadas, ou seja, as 
diferenças não dão lugar a uma hierarquia moral das diferentes raças, mas cada 
uma teria o seu espaço e também a sua contribuição. A partir desse conceito 
foram formuladas outras doutrinas denominadas de “racismo”, essas por sua vez 
já resultaram em questões morais e até mesmo criminosas ao longo da história 
(Wolfgang, 2002). 
Cromwellse apropriou de uma concepção moderna de raça para justificar a sua 
visão, a concepção de hereditariedade biológica e também de “uma nova 
compreensão do povo como nação, e do papel da cultura na vida das nações”. 
Para Appiah, Cromwell era racialista e racista e, embora, segundo ele, não se 
possa ter certeza quanto a qual tipo de racismo ele manifestava, afirma que 
quanto ao pan-africanismo, esse era, supostamente, embasado num racismo 
intrínseco. E isso significa que o pan-africanismo se apoiava no fato de uma 
solidariedade racial onde aqueles que se enxergavam como negros deveriam ser 
solidários entre si, dando preferência ao que fossem de sua própria raça (Ki-
Zerbo, 2002). 
Assim como Crummell, Edward Wilmont Blyden, também tinha a raça como 
conceito norteador de seu pensamento e defende a existência de uma civilização 
negra - africana. Isso significa que ele condena o racismo extrínseco contra os 
africanos, afirmando que os mesmos não eram inferiores, mas possuíam uma 
própria história e “elementos constitutivos na construção de uma personalidade 
africana”. Explicava as diferenças entre africanos e ocidentais devidas as 
22 
 
diferentes circunstâncias que vivenciaram, se opondo a ideia de que as diferenças 
seriam resultado de uma inaptidão intrínseca ao povo africano (Wolfgang, 2002). 
Blyden defendeu em 1884, numa declaração em Freetow, a recolonização da 
África a partir da Libéria afirmando que “só em África a raça negra pode realizar o 
seu destino”. Para ele a Libéria seria o primeiro estado africano independente 
construído por negros e a partir daí construiriam uma grande nação negra. 
Demonstrando, assim, um carácter anticolonialista, que só vai influenciar mais 
incisivamente o movimento pan -africano após a Segunda Guerra Mundial 
(Decranene, 1962). 
Outro importante pensador e difusor do movimento pan - africano foi William 
Edward Du Bois, para ele a raça é um conceito associado à construção histórica 
comum e ao factor biológico, no entanto considera o primeiro elemento ainda 
mais importante. E que cada raça contribui de forma diferente para a humanidade, 
negando assim a inferioridade da “raça negra”, tendo a função de apresentar a 
humanidade algo que só ela tem a oferecer. Admite a diferença, mas nega a 
existência de superiores e inferiores, defende a ideia de complementaridade. Para 
ele a contribuição negra ao mundo não é só diferente, mas única e valiosa 
(ibidem). 
William Du Bois foi na verdade a primeira figura a lançar bases teóricas mais 
organizadas e práticas para o movimento pan - africano. Estabelecendo 
sistematicamente as suas intenções que além de defender uma igualdade racial, 
incluía a luta “pela autodeterminação nacional, pela liberdade individual e por um 
socialismo democrático.” Opunha-se radicalmente a ideia utópica de repatriação 
dos negros dos EUA para retornar a África, ideia essa fomentada por Blyden e 
defendida por outro ícone do movimento pan - africano, o jamaicano Marcus 
Garvey (Ki-Zerbo, 2002: p. 388). 
Este foi responsável pela criação da Associação Universal para o Aprimoramento 
do Negro (UNIA) e caracterizado como líder carismático de um movimento que se 
propôs a promover a emigração de negros de volta para a África, elegendo, 
então, a Libéria como a pátria ideal para início da constituição de uma nação 
negra. Segundo Ki-Zerbo “Não hesitou em colaborar com os racistas do Ku Klux 
23 
 
Klan, que como ele, mas por razões inversas, preconizavam que os Negros 
americanos fossem mandados para a África” (ibidem). 
O conceito de unidade racial da UNIA envolvia um projecto político e defendia a 
ideia de uma “federação imperial geopoliticamente determinada” sendo possível 
de ser alcançada pela “unidade imperial entre a Grã-Bretanha e suas colónias”. 
Percebemos que até então não existiam no discurso pan - africanista uma 
perspectiva anti-colonial e que a ideia de unidade se restringia basicamente a 
África Ocidental de colonização britânica, pelo menos como ponto de partida para 
o restante do continente (ibidem). 
Embora pressionado quanto à oposição ao movimento e também problemas na 
administração da UNIA, Garvey juntamente com Du Bois representou um papel 
fundamental na divulgação da luta dos negros por reconhecimento enquanto uma 
cultura negra, não somente nos Estados Unidos da América e Antilhas, mas 
também na Europa e na África (ibidem). 
O pan-africanismo na África de colonização francesa apresentava uma 
abordagem diferenciada quanto àquela desenvolvida pelo pan-africanismo de 
vertente anglófona, tinha duas principais preocupações: a construção de uma 
identidade que fizesse frente às mazelas do colonialismo e a fundamentação 
intelectual e política que viabilizasse futuramente a “emancipação política”. 
O pan-africanismo da África francófona difere da de colonização britânica em três 
aspectos, primeiramente o pan-africanismo nessa região foi elaborado mais 
tardiamente em relação ao outro, sendo este no período entre guerras. Além de 
permanecerem apenas mais contundentemente em Paris do que propriamente no 
continente africano e finalmente ficou mais restrito a um selecto grupo de 
intelectuais, artistas e políticos africanos com formação europeia (Appiah, 1999: 
p.44). 
Podemos destacar desta vertente a participação fundamental da obra literária 
como difusora das realidades da actuação colonial francesa em África, se 
tornando assim um instrumento de denúncia na Europa bem representados na 
figura de René Maran e André Gide (op cit, p. 46). 
24 
 
A maior expressão de um movimento pan - africano da África colonial francesa foi 
o movimento denominado de negritude. Movimento literário que vem resgatar as 
tradições culturais do continente africano. Encontrando em Leopold Seghor e 
Aimé Césaire seus principais representantes. A principal ideia desse movimento é 
a de que “todos os povos de ascendência africana tinham um património cultural 
comum”. Dessa forma, esse movimento também tem sua centralidade na noção 
de raça (ibidem). 
Assim como houve uma diferença no processo de colonização das colónias 
britânicas e das colónias francesas, houve também uma diferença na forma que 
se desenvolveu o pan-africanismo nessas duas vertentes o que também vai 
delinearo perfil político continental desses dois blocos que vão ter seus papéis 
mais definidos no período que antecedeu as suas independências. No entanto, o 
movimento pan - africano passou a se manifestar de forma mais prática quando 
iniciou a realização de uma série de congressos, se tornando um dos principais 
instrumentos para expansão do movimento (ibidem). 
As realizações desses congressos manifestam o carácter da primeira etapa do 
movimento pan - africano que ainda se encontrava mais restrito aos EUA, Caribe 
e Europa, e ainda a uma tímida participação dos negros africanos. Prova disso é 
que nenhum dos congressos desse período foi realizado na África e apenas no 
último é que foram iniciados discursos anticoloniais, antes disso os congressos 
basicamente promoviam a reunião para reivindicar direitos civis dos negros e 
igualdade racial (ibidem). 
A primeira Conferência pan - africana ocorreu em 1900 em Londres e com o 
intervalo de 19 anos deu-se início a uma série de realizações de Congressos pan 
- africano, cinco ao todo começando em Paris, 1919 e findando após a Segunda 
Guerra Mundial, em 1945, esse realizado em Manchester. Todos organizados por 
Du Bois (Ki-Zerbo, 2002, p. 388). 
A participação nos congressos foi aumentando a medida que os mesmos foram 
conquistando a atenção dos negros e de suas lideranças tanto nas colónias 
americanas e caribenhas como no próprio continente africano. O primeiro contou 
com a participação de “57 delegados negros dos territórios africanos sob 
colonização francesa e britânica, das Antilhas e dos EUA.” No quarto já contava 
25 
 
com a maior participação até então em congressos, 208 delegados provenientes 
de 22 Estados americanos e de uma dezena de países europeus (ibidem). 
As principais reivindicações realizadas nesses congressos foram: 
A adopção de um “código de protecção internacional dos indígenas da África; 
O direito à terra, à educação e ao trabalho livre; e a abolição dos castigos 
corporais nas colónias; a “Declaração ao Mundo” que em sua essência, 
reclamava para os negros iguais direitos aos dos brancos; a assinatura de um 
manifesto final com um “Apelo ao Mundo” pela igualdade e cooperação de todas 
as raças e pela justiça e solidariedade universal e a criação da “Associação 
Internacional Africana”; Um manifesto que formulava reivindicações para o 
tratamento dos negros como homens, caminho condutor para a paz e para o 
progresso, e também se referia ao desarmamento mundial e à organização do 
comércio e indústria, já assumindo assim uma visão global do mundo; E ainda “a 
representação e participação dos negros nos governos que os representam, a 
justiça adaptada às condições locais, a extensão do ensino primário gratuito e um 
desenvolvimento do ensino técnico”. 
Após esse período houve um intervalo extenso na realização dos congressos que 
só vai voltar a se realizar com o término da Segunda Guerra Mundial. Nessa 
ocasião muitos africanos lutaram pela liberdade, ironicamente, de suas 
metrópoles e a partir de então as ideias independentistas foram se tornando cada 
vez mais concretas. 
Durante esse período de permanência dos negros africanos na Europa eles se 
aperceberam que além de ter em comum o anseio pela independência da Europa 
eram vistos como uma unidade, um povo, os africanos. Esse momento então 
representou uma maior identificação com o movimento pan-africano que até então 
era um movimento de solidariedade racial mais especificamente fora da África, 
contra a discriminação sofrida nas colónias americanas e no Caribe. Agora passa 
a ser um instrumento na luta anticolonial e pela emancipação (Ki-Zerbo, 2002). 
Podemos dizer que a vontade de realizar a independência das colónias europeias 
na África fortaleceu a ideia de uma identidade africana, de uma unidade do povo 
negro que agora luta por um objectivo comum, a descolonização. Esse aspecto 
26 
 
fortalece no movimento pan - africano o espírito de unir forças para alcançar os 
objectivos. Verificamos, então, que o conceito de raça foi um “princípio 
organizador central” nesse período de aspiração pela descolonização da África, 
princípio este que se manifestou tanto no pan-africanismo caracteristicamente 
afro-americano e caribenho como no francófono tendo a negritude como seu 
maior expoente (ibidem). 
Cabe aqui ressaltar o quinto Congresso pan - africano que já será realizado em 
1945, após a guerra, quando já se estava configurando um outro cenário no 
contexto internacional, as potências europeias enfraquecidas, a formação de uma 
bipolaridade política, económico e ideológica e também a organização e 
fortalecimentos de movimentos de resistências anticoloniais (De Almeida, 2007). 
O “Congresso pan - africano de Manchester” já pode contar com a presença de 
“políticos, sindicalistas e estudantes, basicamente representantes das colónias 
inglesas e a independência imediata e incondicional foi enfatizada como a maior 
de todas as reivindicações”, destacando a presença de lideranças africanas como 
Francis Kwame Nkrumah, Wallace Johnson, da Serra Leoa, e Jomo Kenyatta 
(ibidem). 
Pela primeira vez há uma manifestação objectiva e clara “anticolonialista e anti-
imperialista”, sendo reivindicada “a independência nacional” e já um 
direccionamento, um “alinhamento junto ao socialismo ou socialismo-marxista”. 
George Padmore “propõea adopção de um manifesto em que se opunha à 
discriminação racial e condenava o apartheid na África do Sul além de afirmar que 
os africanos estavam resolvidos a serem livres, conclamando a unir-se contra o 
colonialismo”. Nesse ponto percebemos nas palavras de Padmore o componente 
de unidade racial característico do pan-africanismo. Ele conclama o povo negro, o 
povo africano, para se unir contra um inimigo comum, o colonialismo (KI-ZERBO, 
2002). 
E ainda nesse congresso a Resolução Final “assumiu a condenação global do 
capitalismo europeu nos territórios africanos.” Adoptando claramente uma postura 
de influência marxista que vai influenciar inúmeros intelectuais e líderes políticos 
africanos tanto nesse período como pós-independência (ibidem). 
27 
 
A partir do Congresso de Manchester foi dado um novo impulso ao pan-
africanismo, que agora passa a ter uma participação africana mais directa, o pan-
africanismo passa a ser um instrumento significativo para os africanos que 
passam a utilizar a concepção de solidariedade racial para promover a luta pela 
independência do continente africano (De Almeida, 2007). 
Da realização do V Congresso pan - Africano houve um intervalo de mais de 10 
anos para a realização de uma série de conferências e congressos que vão 
acabar resultando na constituição da OUA, nesse intervalo ocorreu um importante 
encontro que foi a Conferência de Bandung. O movimento Pan-Africanistas vai se 
tornar mais actuante, especialmente no continente africano, após a realização 
dessa conferência que embora não fosse um encontro estritamente de interesse 
das colónias africanas tem directa relação ao continente africano por representar 
“o marco do aparecimento formal do Terceiro Mundo como uma unidade 
ideológica” (ibidem). 
1.3.3. A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) 
A Segunda Guerra mundial, como postulam alguns historiadores, foi, de certa 
forma, uma continuação da Primeira, haja vista que alguns dos motivos eram 
similares, como o desejo de expansão imperialista da Alemanha, que, sob o jugo 
de Hitler, declarou-se como o III Reich (terceiro império). Porém, segundo Timothy 
Snider, citado por Ki-Zerbo (2002), a devastação e o morticínio dessa guerra 
foram inigualáveis, sem contar as atrocidades que foram cometidas fora da zona 
de combate, como o holocausto nazista e os gulags soviéticos, já que tanto 
nazistas quanto comunistas desejam levar a cabo a construção de um império 
global. 
Assim, a guerra, que acabava pela revelação apocalíptica da energia nuclear 
sobre a Hiroshima e Nagasaqui(1945), representava uma viragem decisiva na 
História universal e em particular na História de África. Centenas de milhares de 
negros participaram nela em teatros de operações tão variados como a Líbia, a 
Itália, a Normandia, a Alemanha, o Médio Oriente, a Indochina, a Birmânia, etc.. 
as reservas do Banco de França haviam , de resto, sido retiradas e guardadas em 
Kyes (Mali), muito mais do que durante a primeira guerra mundial, entrava a 
28 
 
África Negra em contacto de maneira decisiva com o mundo inteiro, num contexto 
de estremecimento geral (Ki-Zerbo, 2002, p. 158). 
Quinhentos e vinte mil (520.000) soldados coloniais tinham participado na guerra 
de 1914-1918. Em 1940, havia 127 mil e 320 atiradores da África Ocidental 
Francesa (AOF), 15 mil e 500 da África Equatorial Francesa e 34 mil de 
Madagáscar. A quando do armistício, falavam 24271 (senegaleses) e 4350 
(malgaxes) (ibidem). 
A partir de 3 de Setembro de 1939, quando a Grã-Bretanha e a França 
declararam guerra à Alemanha. Os Aliados recrutaram nas suas colónias cerca 
de meio milhão de soldados e operários. Soldados coloniais de toda a África 
subsaariana e do norte do continente tiveram de lutar contra as tropas alemãs e 
italianas no norte de África e na Europa durante a guerra. Mais tarde também 
combateram contra os japoneses na Ásia e no Pacífico (Cornevin, 1979). 
No dia 1° de Setembro de 1939, as forças armadas da Alemanha atacaram a 
Polónia sob ordens de Adolf Hitler – supostamente em represália a atentados 
poloneses. No dia 3 de Setembro, França e Grã-Bretanha, que eram aliadas da 
Polónia, declararam guerra à Alemanha, mas não intervieram no conflito (Ki-
Zerbo, 2002). 
Em 1939, o exército francês recrutou cerca de 100 mil africanos ocidentais para 
combates na França, na Alemanha e em Itália. O que é certo é que os soldados 
africanos acabaram por ter contacto com soldados europeus e com a vida na 
Europa. Isso teve um impacto na sua consciencialização e, consequentemente, 
também na sua acção política nos países de origem (ibidem). 
Foi essa, para centenas de milhares de negros a ocasião de uma descoberta 
brutal do homem branco, na sua verdade, sem máscara imperial, nem ouropéis 
proconsulares (Nsiangengo & Kianzoa, 2011). 
À semelhança da I Guerra Mundial, a II Guerra Mundial contribuiu grandemente 
para o fomento da consciência nacionalista em África, pois neste evento aumenta 
o número de africanos negros inseridos nos exércitos europeus, pelo que, esta 
inserção fá-los-á conhecer a verdadeira identidade do homem branco. Pois os 
negros voltaram a observar melhor que os brancos também temiam o medo, 
29 
 
traiam-se uns aos outros, sentiam-se também atormentados pela fome e pela 
sede, havia heróis, como também cobardes, Os brancos trabalhavam com as 
suas mãos. Suavam. Tinham relações carnais os que torturavam, os que traíam e 
os que matavam-se uns aos outros com raiva. Tudo o que viram, fê-los lembrar a 
célebre frase proferida no século XIX por David Livingstone: “os negros não são 
melhores, nem piores que os homens de outras regiões do globo” (Ki-Zerbo, 
2002; p: 158). 
Esta simples frase revolucionará no século XIX, tomava em 1942, um sentido 
límpido e cru para milhões de africanos. Os brancos confundidos em África na 
dominação e na superioridade colonial, revelavam-se assim, verdadeiros lobos 
uns para com os outros. E no desprezo bestial em que Adolfo Hitler englobava os 
brancos não - germânicos e os negros descobriam subitamente o seu próprio 
valor e atingiam ao mesmo tempo a estatura e o estatuto dos cavaleiros de uma 
causa que traçava a verdadeira linha de demarcação entre os homens: a linha da 
dignidade humana (Ki-Zerbo, 2002). 
Os soldados africanos foram grandes artesãos da emancipação africana. Tanto 
aqueles que foram tragados pela tormenta, como aqueles que regressaram 
mutilados ou não, alguns dos quais tomaram partem activa nos movimentos 
políticos mais avançados dos seus países. Muitos infelizmente, haviam deixado 
os ossos nas terras frias do Norte (ibidem). 
Segundo o jornalista alemão Karl Rössel, citado por Cornevin (1979), «essas 
experiências tiveram consequências vastas. "O facto de os soldados coloniais 
terem testemunhado, pela primeira vez, que a chamada 'raça superior' sofreu e 
morreu, na lama e na imundice, mostrou-lhes que não há diferenças entre as 
pessoas". "Isso fez com que muitos apoiassem os movimentos independentistas 
nos seus países"» (ibidem). 
Após a Segunda Guerra Mundial as revoltas e reivindicações vão merecer grande 
importância, pois que, nesta altura já se contava com a intervenção de intelectuais 
nos momentos do seu planeamento. Estes intelectuais eram aquelas pessoas que 
receberam as suas formações no exterior especificamente nos países de cada 
potência colonizadora ou em cidades que já eram desenvolvidas como os EUA 
(ibidem). 
30 
 
Assim no âmbito do planeamento das suas revoltas, os movimentos 
revolucionários, mas com maior destaque aos intelectuais, já haviam percebido o 
caminho que os levaria para a liberdade. Uma vez que a tomada da consciência 
nacionalista dependeu das políticas aplicadas pelas potências colonizadora, os 
caminhos para as independências, dependerá de igual maneira das 
circunstâncias concretas de cada colónia. Com efeito, para as colónias inglesas, 
as independências foram progenitas pela via diplomática e, foram igualmente 
paridas pela mesma via. Para as demais colónias, como é o caso das que 
pertenciam a França, Portugal, foi preciso a coercibilidade para a gestação das 
mesmas e consequentemente coercibilidade para pari-las (Ki-Zerbo, 2002). 
Mas tanto a independência alcançada por vias diplomáticas como as que foram 
conquistadas através do uso da força, não se aceita a intenção maliciosa de que 
elas foram outorgadas pela boa-fé das potências colonizadoras. Vemos desta 
maneira que o nacionalismo africano manifestou-se nas lutas levadas a cabo 
pelos africanos para a emancipação das suas independências (ibidem). 
Neste processo, destacamos também a magna actuação da figura dos líderes 
intelectuais Francis Kwame-Krumah do Gana, Sekou Touré da Guiné Konakry, 
Patrice Lumumba do Congo Leopoldiville (ibidem). 
Neste diapasão, importa inferir que, após a guerra, a Europa estava totalmente 
debilitada, tanto do ponto de vista de perdas matérias, quanto humanas, 
endividada com a África, a Europa dominava ainda o mundo durante a primeira 
metade do século XX, a partir daí cede lugar aos grandes: os Estados Unidos da 
América EUA e A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas URSS, cujo 
poderio industrial crescera de maneira prodigiosa por causa da própria guerra. 
Ora estes dois colossos, por razões diferentes, apregoavam um anticolonialismo 
sem equívocos findas as hostilidades (ibidem). 
1.3.4. A Política dos Estados Unidos da América 
Os Estados Unidos da América, que tinham deitado os olhos sobre a América 
Latina e sobre as Ilhas do Pacífico até ao Japão, confiado ao procônsul Mac 
Arthur, encaravam então os problemas africanos com uma atitude liberal, que era 
o resultado, em primeiro lugar da tradição anticolonial e democrática das suas 
31 
 
próprias origens políticas, além disso, como sublinhava R. G. Woolbert, «OS EUA, 
têm interesses evidentes em pedir a manutenção da porta aberta, tanto na Etiópia 
como nos outros territórios africanos» (Ki-Zerbo, 2002: p. 159). 
Muitos autores americanos, prossegue ele, encaram a noção de 
internacionalização como razoável. Na verdade torna-se necessário cobrir o vazio 
relativo que a cedência europeia iria criar em África em matérias de 
investimentos. Tanto mais que – e este terceiro motivo do anticolonialismo 
americano – surgia os riscos de os russos se adiantarem se fossem eles os 
únicos a tomarem a defesa da África. Em resumo, os EUA, abandonavam de 
forma definitiva a política do esplêndido isolamento que fizera da África da Europa 
(ibidem).Após a primeira guerra mundial, tendo a Alemanha sido considerada indigna de 
conservar as suas colónias, havia o presidente Wilson, na linha da sua política 
idealista e generosa do direito dos povos a disporem de si mesmo, proposto a 
administração dessas colónias por um organismo internacional até à 
independência. Esta fórmula julgada impraticável, foi corrigida para dar lugar ao 
princípio do mandato internacional. Os territórios assim definidos (Togo, 
Camarões, Sudoeste Africano, Tanganica), eram administrados por uma potência 
mandatária sob controlo da Sociedade da Nações (SDN) (op cit.: p. 160). 
Na conferência de Moscovo (Outubro de 1943), a delegação americana, 
apresentou na mesma a tradição, uma proposta de largo alcance. Devia não 
somente ser restituída a independência aos países que a haviam perdido por 
causa de uma agressão, mas também, garantir a possibilidade prática de se 
tornarem independentes os povos que aspirassem a tal (ibidem). 
Esta proposta bem acolhida pelo URSS, ficou adiada por causa da Grã-Bretanha. 
Desenrolou-se então uma controvérsia activa nos Estados Unidos, opondo, por 
exemplo, Summer Welles a Walter LIppmann. O primeiro, num artigo de 23 de 
Março de 1945 em New York herard tribune, não hesitava em escrever: «em 
qualquer parte onde governos estrangeiros controlam povos submetidos que não 
estão ainda preparados para a autonomia, deveriam, os governos em causa 
provar à trustee ship internacional que administram essas regiões em proveito dos 
indígenas e que preparam seus protegidos para a autonomia ou a 
32 
 
independência». Retomava em suma, a ideia de Wilson. Mas, no mesmo jornal, 
Walter Lippmann, lançava um apelo ao realismo (ibidem). 
Assim, portanto, o texto da conferência de São Francisco (Maio de 1945), ao 
elaborar-se o regime de tutela internacional (trust Ship), falará de «favorecer 
igualmente a sua evolução progressiva para a capacidade de se administrarem (a 
si mesmos) ou para a independência, tendo em conta as condições particulares 
de cada território», etc. Visará isto assegurar a igualdade de tratamento no campo 
económico, social e comercial à todos os membros da organização e aos seus 
cidadãos. A trust ship consagrava, portanto, o regime da porta aberta no sentido 
da igualdade económica das nações ricas perante certos mercados africanos 
(ibidem). 
Os homens de negócios americanos verificavam com efeito, que 25% a 75% das 
matérias-primas essências para as suas indústrias, se encontravam nas 
possessões coloniais das outras grandes potências. «Temos interesses precisos 
nestas regiões coloniais, escrevia Ernest Lindley em Washington post de 15 de 
Janeiro de 1945, « na medida em que ela constituem fontes de matérias-primas e 
possíveis mercados. Eis uma das grandes razões pelas quais os americanos 
propuseram e defenderam a trust ship e o seu indispensável complemento, o 
regime de igualdade económica.» a política americana em África oscilará sempre 
entre estas aspirações liberais e estas atitudes ditadas por interesses económicos 
preciosos (ibidem). 
A particular atenção dedicada à África, será precipitada de certos altos 
funcionários como Georges C. Mc Guee. O empenhamento americano nesta 
matéria será activado pela aceleração da emancipação africana a partir de 1957. 
A viagem espectacular do vice-presidente R. Nixon à África, inscreve-se assim no 
quadro guerra fria, na obsessão de que o vazio criado pela retirada europeia 
viesse a criar uma zona de baixas pressões que atraísse o vento do Leste 
(ibidem). 
1.3.5. A Política da URSS 
A política anticolonial da URSS, assenta em bases ideológicas mais sólidas: já 
Karl Marx, fazendo-se eco dos doutrinários da convenção francesa, havia 
declarado que «um povo que oprime outros povos, não se pode considerar livre». 
33 
 
Já Lenine, definia o imperialismo como sendo «uma fase histórica particular do 
capitalismo», fase essa que qualifica de «monopolista, parasitária e agonizante». 
E prossegue: «a partilha territorial do mundo (das colónias) terminou. Começou a 
partilha económica do mundo pelos cartéis internacionais». A revolução Soviética 
de Outubro, constituiu uma data importante para a História dos povos colonizados 
(Ki-Zerbo, 2002:p. 161). 
 Estaline, em o Marxismo e a Questão Nacional e Colonial, depois de ter fustigado 
o chauvinismo metropolitano dos socialistas das nações dominantes que não 
querem combater os seus governos imperialistas nem apoiar a luta dos povos 
oprimidos das suas colónias, preconiza uma acção anti-imperialista com base no 
internacionalismo proletário. Mas, na prática, é sobretudo na Ásia que se vai 
exercer a acção da URSS (ibidem). 
Em África, a influência comunista exerce-se essencialmente, de início, por 
intermédio dos partidos comunistas dos países colonizadores e dos sindicatos e 
associações de obediência Marxista. Com a emancipação política, a presença 
Soviética, afirmou-se por vezes de maneira muito nítida, seja deitando a espada 
na balança, como em 1956, aquando do desembarque franco-britânico após a 
nacionalização do canal de Suez por Nasser, seja ocupando o vazio deixado pela 
retirada voluntária ou forçada do país colonizador (ibidem). 
O anticolonialismo soviético é apresentado não apenas como tarefa de libertação 
mais também como uma contribuição para a paz mundial. Estaline, num texto que 
deixa entrever que a defesa da paz está de resto forçosamente ligada aos 
interesses da URSS, já declarava em 1946: «Se, se tivesse pedido proceder 
periodicamente a novas partilhas das matérias-primas e dos mercados entre os 
países consoante o seu peso económico e de harmonia com pacíficas decisões 
tomadas de comum acordo, poderia talvez ter sido evitada esta guerra, mas isso 
é impossível nas condições capitalistas actuais da economia mundial» (ibidem). 
1.3.6. A Acção da ONU 
A Organização das Nações Unidas (ONU), criada na Conferência de São 
Francisco em Maio de 1945, devia desempenhar também um papel 
preponderante no desenrolar do nacionalismo africano. A organização tinha, com 
34 
 
efeito, inscrito no artigo I da sua carta, entre os objectivos, o seu ideal de 
«desenvolver entre as nações relações amigáveis, baseadas no respeito do 
princípio da igualdade de direito dos povos e do seu direito a disporem de 
disporem de si próprios» (Ki-Zerbo, 2002: p. 162). 
 Muito depressa, se tornará a ONU, uma tribuna mundial para os porta-vozes dos 
povos colonizados, começando pelos naturais dos países sob tutela e isso no 
quadro da comissão de Tutela da organização internacional. Caixa de 
ressonância sem precedentes para atingir a opinião pública inteiro, o edifício da 
organização tornar-se-á numa espécie de altifalante que amplificava a voz dos 
fracos. Muito mais do que isto, ainda, a ONU, ultrapassando nesse ponto as 
veleidades da Sociedade das Nações (SDN) (ibidem). 
A ONU, pela sua abertura ao mundo proporciona aos africanos, pelas missões de 
inquéritos que pode introduzir até no antro Sul-Africano do racismo, pelas suas 
múltiplas comissões ad hoc e pelas instituições especializadas como a UNESCO, 
através do mar de discursos e das montanhas de relatórios, trabalha no sentido 
do despertar nacional africano (ibidem). 
1.3.7. A Conferência de Bandung 
A Conferência de Bandung, realizada na Indonésia. Entre os dias 18 a 24 de Abril 
de 1955, foi organizada pelos países asiáticos e contou com apoio de países 
africanos como a Etiópia, Líbia, Libéria e Egipto. Teve como líderes Sukarno (da 
Indonésia), Chu En-Lai (da China) e Nasser (do Egipto). A Conferência se 
propunha a promover uma cooperação económica e cultural afro-asiática, com o 
objectivo de formar uma base sólida de oposição ao que era considerado 
colonialismo ou neocolonialismo. Pela primeira vez em uma conferência o racismo 
e o imperialismo são denunciados como crime e também nessa mesma 
conferência o não-alinhamento é estabelecido como um posicionamentopolítico a 
ser adoptado em oposição aos mesmos. Apesar do não-alinhamento todos os 
países declararam que eram socialistas, mas não iriam se alinhar ou sofrer 
influência Soviética (Nsiangengo & Kianzoa, 2011). 
Durante o encerramento da Conferência de Bandung ficou previsto a realização 
de uma outra conferência a ser realizada no Cairo entre 26 de Dezembro de 1957 
35 
 
a 1 de Janeiro de 1958. O neutralismo assume um papel importante nesse 
momento, pois irá se traduzir numa aproximação com a URSS que a partir da 
Conferência do Cairo exercerá uma maior influência comparada a Bandung nas 
colónias e ex-colónias africanas já dando inicio a um posicionamento claramente 
estratégico da Guerra Fria. E ainda afirma as intenções de Nasser então 
presidente do Egipto, na conquista de uma liderança na África do Norte com uma 
perspectiva pan – arabista (Ki-Zerbo, 2002). 
O Cairo ocorre uma modificação na denominação dos encontros que deixam de 
se chamar conferência entre estados passando a ser conhecido como 
“Conferências dos Povos”. O objectivo aqui era possibilitar “a mobilização das 
forças revolucionárias contra as soberanias” e mobilizar um maior número de 
pessoas ou grupos contra o colonialismo, era uma luta “contra a raça branca” 
prioridade que transcendia o princípio nacionalista (ibidem). 
Baseando-se no princípio da autodeterminação, o movimento afro-asiático 
articula-se com o sentimento anticolonialista, procurando encaminhar para a 
emancipação imediata todos os povos ainda colonizados. No entanto, esse 
pensamento não é hegemónico no continente africano, embora todos os estados 
africanos estivessem ávidos pela descolonização, para muitos o nacionalismo era 
uma prioridade e a formação de uma unidade nacional baseada naquilo que os 
unia era fundamental, logo a autodeterminação dos povos se tornará um ponto de 
discussão entre os grupos que irão se desenhar nesse momento para traçar os 
rumos nesse novo contexto do continente (Nsiangengo & Kianzoa, 2011). 
Foram realizadas três Conferências dos Povos Africanos, a primeira em Acra, em 
1958, em que estiveram no cerne das questões a conquista da liberdade e da 
independência, consolidação e criação de uma unidade africana que viabilizasse 
a constituição de uma comunidade dos “Estados livres de África” e ainda investir 
na reestruturação económica social deste continente. Foi criado um secretariado 
permanente que tinha como principal função “acelerar a libertação de África” e 
“desenvolver um sentimento de solidariedade pan-africano”. As bases da futura 
Organização de Unidade Africana foram assim lançadas (ibidem). 
A segunda ocorre em Tunes (Tunísia) em 1960 e a terceira ocorreu em Março de 
1961 no Cairo já no contexto de definição de dois grupos antagónicos o grupo de 
36 
 
Casablanca e o grupo de Brazzaville. Estes grupos já começaram a ser definidos 
a partir do congresso de Manchester, quando foram classificados, 
respectivamente, de maximalistas e minimalistas. O maximalismo, com uma 
postura definida como mais radical defendia a superação das fronteiras que 
haviam sido definidas pela Conferência de Berlim. E ainda propunha a formação 
de uns «Estados Unidos da África» e esteve representado pela liderança de 
Francis Kwame-Nukrumah. Já a concepção minimalista ou moderada não 
questionava a divisão de fronteiras estabelecidas na Conferência de Berlim e 
defendia a constituição de Estados Nacionais com soberanias internas e externas 
(ibidem). 
Em Abril de 1958 foi realizada em Acra outra Conferência de Estados Africanos 
Independentes (CEAI) sob a liderança de Nkrumah e de George Padmore, 
contando com representantes tanto da África do Norte como da Subsaariana. Já 
nessa conferência aparece na ordem do dia “a criação de um organismo pan-
africano “permanente” entre outros itens “a discriminação racial, (...), a 
colaboração económica e técnico - cultural entre os países independentes do 
continente negro, a manutenção da paz mundial”. Ainda em Acra foram 
estabelecidas directrizes importantes para o movimento anticolonialista com 
destaque para a reafirmação da não adesão a nenhum bloco político-ideológico 
(Hernandez, 2002). 
Já em Julho, ainda no mesmo ano, ocorreu o Congresso de Cotonou (Benim) 
reafirmando um carácter essencialmente pan-africano e anticolonialista esse 
congresso tinha “a intenção de constituir o Partido do Reagrupamento Africano”. 
Foram deixados bem claro suas pretensões de uma “independência imediata” e a 
formação dos “ Estados Unidos de África” e ainda “a supressão de todas as 
fronteiras estabelecidas após a Conferência de Berlim de 1885, para que os 
povos africanos pudessem unir as suas complementaridades e manifestaram 
vontade de concretizar a união do Cairo a Joanesburgo” (ibidem). 
Em 1960 foi realizada a 2ª Conferência de Estados Africanos Independentes em 
Adis Abeba (Etiópia) em que a proposta de unidade africana antes defendida foi 
negada pela delegação da Nigéria que só acatou e concordou com a proposta de 
criação de dois bancos inter - africanos. Outro aspecto importante foi a aprovação 
37 
 
do embargo à África do Sul incluindo boicotes comerciais e diplomáticos pela sua 
prática racial segregacionista, embora essas decisões não tenham chegado a ser 
colocadas em prática efectivamente. Será realizada ainda uma terceira CEAI em 
1962 já no ano anterior a formação da OUA (ibidem). 
As Conferências dos Povos Africanos de 1961, realizada no Cairo, promovida 
pelo grupo de Casablanca vão ressaltar Palrice Lumumba como herói africano e 
revelar duas vertentes dentro do Congo: os congueses os quais apoiavam 
Kasavubu e Tchombé de imperialistas (grupo associado aos interesses coloniais) 
e os lumumbistas (grupo que nega a continuação das relações com os interesses 
coloniais e defende os interesses nacionais), liderados por Gizenga de 
nacionalistas africanos. Esse é um aspecto importante, pois a questão do Congo 
foi um dos pontos de discordância entres os dois grupos já mencionados, 
maximalistas e minimalistas (ibidem). 
O Congo belga se tornou um importante componente nesse período que 
antecedeu a formação da OUA. Colonizado pela Bélgica numa orquestração 
magistral de Leopoldo II o Congo tem uma história muito particular no continente 
africano e o processo de sua independência se tornou marcante na história do 
continente. Na década de 1950 por concessão da Bélgica puderam ser formados 
os primeiros partidos políticos na colónia e inúmeros movimentos separatistas 
foram criados. Nesse mesmo contexto foi criado o Movimento Nacional Congolês 
na liderança de Patrice Lumumba que se opunham as tendências separatistas, 
defendia o unitarismo, Estado Centralizado, e principalmente lutava pela 
independência. Inúmeros conflitos ocorreram no período que antecedeu a 
independência dessa colónia e como resultado para acalmar os ânimos foram 
convocadas eleições em 1960 que elegeram Lumumba como primeiro-ministro e, 
seu opositor, o federalista Kasavubu como presidente da República (Hernandez, 
2002). 
Em Julho de 1959, em Sanniquellé (Libéria), foi criada a “Comunidade dos 
Estados Africanos Independentes” uma união realizada por Gana, Guiné e Libéria 
(maximalistas) que não terá vida longa. Já nessa ocasião vai ficando cada vez 
mais claro as dificuldades de manter uma postura radical, quanto a uma ideologia 
Pan-Africanistas militante dos maximalistas devido às dificuldades dos próprios 
38 
 
estados recém-independentes e a Libéria, por exemplo, ainda bem ligada aos 
Estados Unidos. Não havia por parte desses estados estrutura suficiente para dar 
suporte a essa empreitada. Além do grupo resistente a essa concepção que foi 
crescendo e criando bases mais fortes de oposição (ibidem). 
Uma evidência dessa afirmação é a realização no ano seguinte da Conferência de 
Brazaville, de 15 a 19 de Dezembro, encontro esse de inicialmente doze estados 
conservadores recém-independentesda França (Congo-Brazzaville, Senegal, 
Chade, República Centro-Africana, Costa do Marfim, Níger, Alto Volta, Mauritânia, 
Gabão, Benin, Camarões e Madagáscar) que fundaram a União Africana e 
Malgaxe (UAM) (ibidem). 
O isolamento das posições pan-africano radicais, junto com o encaminhamento 
dos conflitos na Argélia e no Congo e uma mudança na política do Ocidente 
acerca da secessão de Katanga, contribuiu para uma reconciliação de diversos 
Estados, culminando na formação da Organização da Unidade Africana (OUA) em 
1963. (Wolfgang, 2002, p. 9). 
A formação da Organização da Unidade Africana vai afirmar basicamente a 
postura do Grupo de Monróvia. A conferência que deu origem a instituição abriu 
oportunidades para ambos os grupos colocarem suas propostas, sendo vencedor 
os minimalistas que defendiam arduamente a não - ingerência nos estados 
africanos independentes e a não revisão das fronteiras herdadas do período 
colonial. Abaixo se segue uma parte do discurso de “inauguração” da OUA, 
palavra do imperador Halie Salassie (Etiópia), figura única do continente africano 
e governante do país que se tornou sede da organização, 
"Reunimo-nos para reforçar o nosso papel na condução dos assuntos do 
mundo e para cumprir o nosso dever para com este grande continente... O 
conhecimento da nossa história é indispensável para estabelecer a nossa 
personalidade e a nossa identidade de africanos. Proclamamos hoje aqui 
que a nossa maior tarefa consiste na libertação definitiva de todos os 
nossos irmãos africanos que se encontram ainda sob o jugo da exploração 
e do domínio estrangeiro... Sejamos isentos de recriminação e de rancor... 
Que a nossa acção (SIC) se coadune com a dignidade que reclamamos 
para nós próprios como africanos orgulhosos das nossas qualidades 
próprias, das nossas características e das nossas capacidades. Temos de 
evitar, antes de tudo, cair nas ciladas do tribalismo. Se nos dividirmos entre 
nós numa base tribal, isso constitui um convite à intervenção estrangeira, 
com todas as consequências nefastas que daí advém. “Reconhecendo que 
o futuro deste continente reside em última instância, numa reunião política, 
39 
 
devemos reconhecer também que são numerosos e difíceis os obstáculos 
a vencer para lá chegar”. “Por consequência, é inevitável um período de 
transição”... Certas organizações regionais devem assumir funções e 
satisfizer necessidades que não poderiam ser satisfeitas de outra maneira. 
Mas o que existe de diferente aqui é que reconhecemos estas situações no 
seu justo valor, isto é, como sucedâneos e expedientes temporários de que 
nos servimos até o dia em que tivermos atingido as condições que tornem 
possível a unidade africana total ao nosso alcance... Esta conferência não 
pode terminar sem a adopção de uma carta africana única. Não nos 
podemos separar sem criar uma organização africana una que reúna os 
atributos que descrevemos. A carta africana de que falamos deve ficar de 
harmonia com a das Nações Unidas." (Ki-Zerbo, 1972). 
1.3.8. O Exemplo da Ásia 
A emancipação da Ásia desempenhará um papel muito mais directo ainda neste 
campo. Depressa, com efeito, se instaurou uma solidariedade natural entre os 
dois continentes habitados por povos de cor, subdesenvolvido, por povos 
colonizados. A derrota do Japão consagrava o recuo da Ásia imperialista. Ora, ao 
evacuar as suas aquisições de guerra, e para semear ratoeiras debaixo dos pés 
dos ex-colonizadores europeus, o Japão considera a independência à todos os 
povos que controlava. Operou-se nestes países uma descolonização mais ou 
menos sangrenta (sendo os dois casos extremos a Birmânia e a Indochina 
Francesa). No Vietname, a derrota francesa de Dien Bien Phu (1954), teve 
profunda repercussão em África, quanto mais não fosse porque havia ali lutado 
contra os vietnamizes, sob controlo francês, umas boas dezenas de milhares de 
Negros (Ki-Zerbo, 2002). 
Os dois gigantes da Ásia, cujo peso demográfico constitui um terço da 
humanidade (a Índia e a China), vão também exercer um papel de primeiro plano 
no nacionalismo negro-africano. A independência da Índia (1947), apesar das 
circunstâncias deploráveis que a rodearam e das chacinas da sua divisão, irá 
influenciar fortemente os africanos, sobretudo os anglófonos. A personalidade do 
Maatma Gandhi, cuja força moral fez ceder o leão britânico popularizou nos 
tópicos as técnicas da luta política não violenta. A China de Mao Tsé-Tun, pelo 
contrario reinterpretando a teoria de Marx para mobilizar o mais espantoso 
formigueiro humano, e a reeditar numa escala superior o milagre económico 
alcançada no Japão por vias capitalistas 
1.3.9. O Exemplo da África do Norte 
40 
 
No norte de África, há que se considerar algumas figuras como: o coronel Gamal 
Abd el-Nasser (do Egipto), destacado pela nacionalização da Companhia do 
Canal de Suez, Bourguiba (da Tunísia), Mohammed Bem Yussef, que 
encabeçaram diversas lutas no protectorado do Magrebe(em Marrocos) (Ki-Zerbo, 
2002: p. 164). 
Em minha opinião, após estes proclamarem suas independências, vão se 
solidarizar com o resto do continente que ainda se encontrava sob julgo colonial, 
facto que irá fomentar o nacionalismo noutros cantos do continente. 
1.3.10. As Contradições Internas do Colonialismo 
Assim, os próprios princípios coloniais, inculcados pela educação e prática 
administrativa, iriam conduzir a reivindicação anti-colonialista. Por exemplo: os 
franceses diziam, em suma, aos africanos: «somos todos iguais». Os 
nacionalistas negros ao exigirem esta igualdade até ao fim revelavam o absurdo 
desta posição. Também os negros anglófonos pegaram, por assim dizer, nas 
próprias palavras dos ingleses, propondo-lhes: «pois que vós quereis que 
sejamos diferentes, vamos até ao fim. Queremos ser diferentes mesmo 
politicamente» (Ki-Zerbo, 2002). 
As duas atitudes conduziram à secessão. Portanto, directa ou indirectamente, por 
meio tanto da prática como da teoria colonial, a colonização ia conduzir ao 
anticolonialismo e negava-se nele (ibidem). Thomas Hodgkin, «salientou as 
contradições impulsionadoras que existiam entre os princípios e a prática nos 
actos dos países colonizadores, por exemplo, entre o princípio da indirect rule, 
utilizando as instituições locais e as necessidades de ter em conta as classes 
médias de africanos destribalizados, assim, como entre o principio francês da 
igualdade sem restrições raciais e, por outro lado, a necessidade de conservar 
para a França a sua identidade e o seu poder de direcção. Não esqueçamos 
também, que os países colonizadores não apresentavam uma frente homogénea 
a este respeito (ibidem). 
Desde a origem das colónias, sempre se houve europeus que se insurgiam contra 
os crimes da colonização ou mesmo contra a própria colonização. E, justamente 
ao acabar a guerra, os países da Europa Ocidental, vêm chegar ao poder partidos 
41 
 
da esquerda, tradicionalmente anticolonialistas (partido trabalhista em Inglaterra, 
governo de colonização em França). Estes partidos não podiam preconizar nos 
seus países, um programa social ousado (voto das mulheres, segurança social, 
nacionalização, etc.) (ibidem). 
1.3.11. Os Sindicatos Africanos 
Em África, certas categorias sociais mais sensibilizadas aos problemas gerais, 
vão tornar-se intérpretes naturais e catalisadores das aspirações difusas das 
massas: são os sindicatos e os intelectuais. 
O movimento sindical, conheceu um desenvolvimento tardio na África Negra. A 
maturação económica que é a condição prévia e indispensável, encontrava-se em 
atraso, pois a industrialização era praticamente interdita pela essência do «pacto 
colonial». Somente por volta de 1930, reconhecerá a Grã-Bretanha, o direito 
sindical no seu império (Ki-Zerbo, 2002). 
Não será demasiado sublinhar o papel destes sindicatos no crescimento do 
nacionalismo africano. A mínima análise do fenómeno colonial, no seu aspecto de 
dominação económica,

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