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1 UNIVERSIDADE KATYAVALA BWILA INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO DO CUANZA SUL _____________________________________________________________________ DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS MONOGRAFIA PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE LICENCIATURA EM CIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO. Opção: História Regime: Regular A TOMADA DE CONSCIÊNCIA NACIONALISTA EM ÁFRICA, UM SUBSÍDIO PARA O PROGRAMA DA 9ª CLASSE, NA DISCIPLINA DE HISTÓRIA, CASO DO COLÉGIO 2 DE MARÇO DO SUMBE. Autor: Almeida Miguel Ageu de Carvalho Registo Nº_______ /________/DAC SUMBE/2019 2 UNIVERSIDADE KATYAVALA BWILA INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO DO CUANZA SUL _____________________________________________________________________ DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS MONOGRAFIA PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE LICENCIATURA EM CIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO. Opção: História Regime: Regular A TOMADA DE CONSCIÊNCIA NACIONALISTA EM ÁFRICA, UM SUBSÍDIO PARA O PROGRAMA DA 9ª CLASSE, NA DISCIPLINA DE HISTÓRIA, CASO DO COLÉGIO 2 DE MARÇO DO SUMBE. Autor: Almeida Miguel Ageu de Carvalho SUMBE / 2019 3 Combati um bom combate, terminei a minha carreira e guardei a fé “Apóstolo Paulo de Tarso” II 4 AGRADECIMENTOS Endereço eterna gratidão ao mentor e protector da minha vida (Deus). Aos meus pais: José de Carvalho e Rosária Miguel. Aos meus irmãos pelo contínuo apoio material e espiritual. Ao Excelentíssimo Mestre em Ciências senhor professor Jacob Lussento Cupata (nas vestes de tutor), pelo acompanhamento íntegro. Ao magnífico senhor professor João Patrício Diniz que sempre brindou-me com a sua afável disponibilidade. Aos excelentíssimos professores das distintas cadeiras que envolviam o plano curricular do curso de História, pois, souberam transmitir sapientemente conhecimentos valiosos ao longo de quatro anos e que serão aplicados de hoje aos tempos provindos. A todos que suam para que o globo Universitário Katyavala Bwila gire, com maior especificidade para a os que integram a Unidade Orgânica do Instituto Superior de ciências de Educação do Cuanza Sul, sobretudo os do Departamento de Ciências Sociais, Repartição de História. Às entidades consultadas que não hesitaram em responder algumas perguntas por mim levantadas. À direcção da escola (Colégio 2 de Março do Sumbe), em que foi direccionada a investigação. A todos aqueles que também puderam contribuir com o seu silêncio no âmbito da prossecução deste trabalho, lembrar ainda o impacto da actuação dos meus egrégios colegas, amigos e familiares: Carvalho José Neto, Armando Candumbo, Paulo Miguel Cambundo, José Pedro Menezes, Armando Kizenga Donga, Magalhães Tomás Júnior, Sandra de Carvalho, Joaquim Marques, Rita Paixão, Zé Troco, Maria Reis (Wanga), Martins Raúl Quiteque, Cecília Paixão Francisco, Manuel Kicomba, Jorge Virgílio, Afonso Senteio, Póstumo Narciso Nobre, Valódia de Carvalho Patrício, Virgínea Júlio Sarmento, bem como àqueles que de forma directa ou indirecta contribuíram para o êxito da minha formação. Ab in mocord! III 5 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a todos àqueles que não hesitaram em dar as suas mãos no processo da investigação e execução deste trabalho, aos aspirantes do saber e à toda comunidade académica em geral, especialmente aos alunos do Colégio 2 de Março do Sumbe. IV 6 ÍNDICE Pensamento II Agradecimento III Dedicatória IV Índice V Introdução 01 CAPÍTULO I – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 05 1.2. Definição dos termos e conceitos 05 1.3. A Tomada de Consciência Nacionalista Em África 06 1.3.1. A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) 10 1.3.2. Os Congressos Pan-Africanistas 12 1.3.3. A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) 21 1.3.4. A Política dos Estados Unidos da América 24 1.3.5. A Política da URSS 26 1.3.6. A Acção da ONU 27 1.3.7. A Conferência de Bandung 28 1.3.8. O Exemplo da Ásia 33 1.3.9. O Exemplo da África do Norte 34 1.3.10. As Contradições Internas do Colonialismo 34 1.3.11. Os Sindicatos Africanos 35 1.3.12. A Acção dos Intelectuais 36 1.3.13.Os Movimentos dos Estudantes 37 1.3.14. Os Movimentos Religiosos 38 1.3.15. Os Partidos Políticos 40 1.3.16. Os Movimentos de Reabilitação Cultura 40 VII 7 Conclusões 41 Referências Bibliográficas Apêndices 8 INTRODUÇÃO O presente trabalho de pesquisa científica foi levada a cabo com vista a alcançar o título de licenciatura em ciências de educação, especialidade de História. Antes de indagarmos no tema que nos propusemos (a tomada de consciência nacionalista africana), começamos por apresentar as características gerais do continente berço. A África apresenta 30.230.000 km² de extensão territorial (sendo o terceiro continente mais extenso após a Ásia e a América), cobrindo 20,3% da área total da terra firme do planeta, distribuídos em 55 países, sendo a Nigéria o mais populoso. O maior país é a Argélia, enquanto as ilhas Seychelles o país mais pequeno. O ponto mais alto da África é o Kilimanjaro (5895 m). O Lago Assal em Djibuti é o mais baixo (155 m abaixo do nível do mar) (Keita, 2009: p. 5-7). É o segundo continente mais populoso do mundo, nela existem diversidades culturais e recursos naturais e são estes recursos que irão aliciar o interesse das potências após a sua descoberta aquando da procura de uma via alternativa que os levasse até a Índia. Foi assim que, o século XV testemunhou a descoberta não premeditada de África pelos europeus, mas após terem-se apercebido de que o que para eles constituía via alternativa para Índia, seria na verdade o palco das mais variadas riquezas por eles almejada, começaram a desenvolver uma série de acções que irão mudar a História dos dois continentes e do mundo. (Ki-Zerbo, 1972). Com efeito, em 1482, após a tripulação de Diogo Cão ter atracado na foz do rio Zaire, os tempos a seguir foram de relações diplomáticas e amigáveis. Nesta altura, em África já existiam grandes Estados e Impérios como o Ghana, Mali, Songhay, Monomotapa e outros (Ki-Zerbo, 2002). Desde os primeiros contactos entre os europeus e africanos e as primeiras tendências de conquista (dos territórios africanos pelos europeus), os africanos jamais ficaram de braços cruzados. E esta informação torna-se oficial, ao lembrarmo-nos das grandes revoltas que os africanos levavam a cabo, muito antes das duas grandes guerras mundiais (por um lado). Por outro se associarmos as palavras proferidas por Menelique II da Etiópia ao dizer que «Não 9 tenho a intenção de assistir de braços cruzados a chegada das potências de além-mar com intenção de dividirem entre si a África» (Ki-Zerbo, 2002; p: 62). São todas estas acções que quando bem analisadas, podem ser consideradas como exemplos de nacionalismo africano no período que antecede as duas grandes guerras mundiais. Este nacionalismo que irá passar por várias fases para o seu aprimoramento como se circunscrevem no âmago da temática em epígrafe. Aproveita-se inferir que a relação entre o colono e o colonizado, constituiu um ingrediente extremamente fundamental para se justificar o nacionalismo africano, se termos em conta que os africanos viviam opressos dos seus direitos em sua própria pátria. Assim, após séculos de colonização de África, os africanos ofegantes dos maus- tratos que de forma subsequente recebiam dos colonizadores, começam a compreender que a independência jamais seria um presente do colonizador (Ki- Zerbo, 2002). Não obstante haja um interesse exacerbado por parte das potências europeias ao afirmar que as independências africanas se solidificou graças a boa vontade dos colonos, a realidade está muito aquémdeste teorato que visa apagar a determinação dos africanos e o espírito nacionalista com que arquitectaram as suas independências (ibidem). Assim sendo no primeiro capítulo abordaremos genericamente sobre a forma como foi processada a tomada de Consciência Nacionalista Africana, que não teve um único padrão em todo o continente, sendo que para alguns territórios foi mais rápido e para outros mais lentos, (ibidem). Uma vez que, falar da tomada de consciência nacionalista africana é de interesse de todos os africanos que se preocupam em saber do percurso histórico do continente berço e esta abordagem fornece igualmente instrumentos para contrapor algumas teorias eurocêntricas que visam denegrir o bom nome do continente africano. O tema em performance, reveste-se de grande importância, sendo que, em primeiro lugar fornece aos estudantes, professores e não só, uma nova visão relativamente a tomada de consciência nacionalista africana; em segundo lugar, 10 pelo facto de que, os conteúdos nele contidos servirão de suporte aos professores, alunos da 9ª Classe e não só. Em terceiro lugar, porque, esta pesquisa foi desenvolvida subjectivamente para que todos os africanos tenham argumentos de defesa face as tendências eurocêntricas que procuram incansavelmente denegrir o posicionamento heróico dos africanos na libertação de África. Pois, é de salientar que o trabalho não é um produto acabado devido a escassez de fontes que abordam profundamente a tomada de consciência nacionalista em África no período em destaque, apesar de estarmos ciente que a África é um continente muito rico em informações desde aos primórdios da humanidade. Porém, foi possível elaborar o trabalho através de consultas bibliográficas. 11 CAPÍTULO I – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 1.2. Definição dos Termos e Conceitos Tomada de Consciência: é o resultado da reflexão em torno de um problema ou situação, ou seja, corresponde a acção de compreensão de um determinado acontecimento ou situação (o partidismo resultante da análise de uma determinada questão). Nacionalista, é a pessoa que pratica o nacionalismo, sendo o nacionalismo uma ideologia segundo a qual o indivíduo deve lealdade e devoção ao Estado nacional, compreendido como um conjunto de pessoas unidas num mesmo território por tradições, língua, cultura, religião ou interesses comuns, que constitui uma individualidade política com direito de se autodeterminar (Andrade, 1997). Durante a idade moderna, foi um movimento que preconizava a criação do Estado Nacional como indispensável para realizar as aspirações sociais, culturais de um povo. O nacionalismo prolonga-se ao conceito de Estado Nação, já constituído com a deslocação do eixo prioritário para a defesa da independência e da afirmação da sua grandeza. O fundo ideológico comum organiza-se em torno de quatro temas principais: Soberania, Unidade, Passado Histórico e Pretensão à Universalidade (Alexandre. 2007). Segundo Maxime Rodinson, citado por Mário Pinto de Andrade (1997), o termo nacionalismo aplica-se quer a “ideologia de estado-nação, de tipo contemporâneo, quer aos desenvolvimentos ideológicos mais teóricos, mais agressivos, mais libertos, emanando dos diversos grupos étnicos. África, alguns historiadores afirmam que o termo «África» viria do nome de um povo berbere que se fixaram perto de Cartago (fundada em 825 a. C, ). Denominaram-no «Afrig», de onde se teria obtido «Afriga» ou «Afrika» (como o habitat de todos afrigs). Com tempo o termo passou a ser utilizado à todo o continente, ultrapassando o seu sentido inicial. O seu nome é geralmente relacionado com os fenícios como afar, que significa “poeira”, embora uma teoria de 1981 tenha afirmado que o nome também deriva de uma palavra berberes, ifri, palavra que significa caverna, em referência à gruta onde residiam. Massey 12 (1881), afirma que o nome deriva do egípcio af-rui-ka, que significa “para virar em direcção a abertura do ka.” O ka é o dobro energético de cada pessoa e a abertura do ka, remete para o útero ou berço. África seria para os egípcios “o berço”. Segundo Leão O Africano (1488-1554), a palavra África é de origem grega «aphrike», que significa “sem frio (Keita, 2009: p. 13). Subsídio: trata-se de um reforço, ou ainda algo que se acresce ao já existente. Programa: um mapa no qual se encontram descritas as actividades a serem realizadas em conformidade com o elemento cronológico, ou seja, a distribuição sistemática das actividades a serem desenvolvidas consoante o tempo. História: segundo Marco Túlio Cícero, é «a mestra da vida, a luz da verdade, a testemunha dos dias que não voltarão». Classe: refere-se a uma categoria social ou profissional, ou a divisão de um determinado grupo, mas neste contexto, classe refere-se a um nível de ensino. Colégio 2 de Março: é uma instituição de ensino primário e secundário, uma vez que, na mesma lecciona-se também as classes correspondentes ao primeiro ciclo, a mesma existe há mais de 40 anos, no Bairro do Chingo, município do Sumbe. Sumbe: é um dos doze municípios da província do Cuanza Sul e concomitantemente a capital da referida província. O termo Sumbe deriva do dialecto dos povos autóctones que para designar as trocas comerciais, exprimiam com bastante frequência “Kussumba”. Devido a influência do português, o termo evoluiu até chegar a palavra Sumbe que é a designação oficial da cidade. 1.3. A Tomada de Consciência Nacionalista em África É bastante vulgar e credível, a ideia, por haver sido extensivamente difundida pela literatura colonialista, que a África era uma espécie de vazio político onde tinha livre curso, a anarquia, a selvajaria sangrenta e gratuita, a escravidão, a ignorância bruta e a miséria. Os agentes da civilização europeia, eram considerados unicamente como cavaleiros da civilização e do progresso (Ki- Zerbo, 2002: p. 83). 13 Outra ideia falsa, proclama a ausência total de sentimento nacional entre os africanos. Mas contrapõe-se a esta infâmia afirmação uma vez que, depois das primeiras tentativas de penetração, o nacionalismo africano, sob formas múltiplas, por vezes desajeitadas, por vezes ambíguas, sempre se exprimiu sem interrupção até a reconquista da independência ou seja, sob as cinzas do colonialismo, dormia um fogo vivo e revela-se de tempos a tempos com intensidade (Ki-Zerbo, 2002: p.5). A atitude dos africanos quando da chegada dos europeus no século XV, foi muito variada. Na verdade, durante séculos, tinha chegado aos recantos mais afastado do continente rumores contando que homens brancos (Nassaras, Outubabus, Mzungus), chegavam por vezes, vindos da grande água. Jamais estes negreiros penetraram muito no interior, salvo por intermédio dos pombeiros na África Central. A primeira reacção dos negros em face destes brancos raramente foi de hostilidade. A hostilidade pode provir, entre outras coisas, das circunstâncias de o tráfico de escravos haver atingido sobretudo as pequenas tribos desorganizadas e destas terem tendências para ver qualquer expedição conduzida por estrangeiro como prelúdio ao comércio negreiro (Ki-Zerbo, 2002: p.5). As resistências dos africanos contra a ocupação dos territórios, começaram desde a chegada dos primeiros europeus em África. Os africanos nunca aceitaram a ocupação das suas terras pelos colonialistas, nem a exportação das suas riquezas. Sempre resistiram à escravatura, às culturas obrigatórias e ao trabalho forçado (Nsiangengo & Santana, 2012: p. 68). Os povos africanos, nunca aceitaram a dominação colonial, por isso, as suas revoltas foram crescendo dia após dia. As resistências dos africanos, assumiu diversas formas, tais como: a recusa ao pagamento de imposto, a destruição de máquinas e outros instrumentos de trabalho, greves e formação de pequenos grupos para fazer frente ao colonialismo(ibidem). Esgotada após séculos do tráfico negreiro, a África estava no entanto, longe de se haver tornado uma terra colonizável sem resistência. E o século XIX vai ver surgir, imediatamente antes ou no momento preciso da conquista europeia, chefes de envergadura excepcional, que vão procurar virar o curso implacável do destino (mesmo quando disto não estavam explicitamente conscientes) e criar de novo 14 grandes conjuntos políticos supra-tribais, tais como eles existiam durante «grandes séculos». É este o sentido da epopeia de Chaka Zulu. Será esta a linha de uma plêiade de africanos que se manifestou em todas as regiões da África Negra: Chaka, Usman da Fodio, El Hadj Omar, Samouri, Madi e Menelique II (da Etíopia) (KI-Zerbo, 2002: p.5). Em toda a extensão do continente africano, os exércitos europeus tiveram algumas derrotas no campo de batalha. Essas vitórias militares dos africanos, embora poucas, foram muito significativas. A vasta bibliografia sobre a matéria ilustra o grau de preparação dos africanos e a sua capacidade de organização. Os objectivos dessa luta são claros: a manutenção da independência e das soberanias nacionais. Isso é patente em todas as regiões da África (Lopes, & Capumba, 2006: p.42). O nacionalismo africano não deve ser assimilado aos sentimentos chauvinistas que em numerosos estados europeus conquistaram correntes inteiras da opinião pública e se manifestaram por medidas económicas (autarcias e proteccionismo aduaneiro de Bismark ou de Méline em França), por decisões político-militares que vão até ao imperialismo (pangermanismo, fascismos, etc.), até por tiradas de desforra nacional como, as de Déroulède (Ki-Zerbo, 2002). Segundo Domenach, citado por Ki-Zerbo «o nacionalismo só é justificável quando um povo se encontra oprimido. Ele concentra-se então numa aspiração bruta nas diversas forças sociais, igualmente humilhadas e que vivem na esperança. Mas uma vez libertados, esse povo, já não pode o nacionalismo fornecer respostas sérias aos problemas reais, não passa de excitações estéreis e de contradições indefinidas, torna-se o álibi dos privilegiados que recorrem ao mito da totalidade nacional, para fazer esquecer as desigualdades reais.» Trata-se na verdade, de um despertar nacional, do risorgimento de uma personalidade que tenta afirmar-se, opondo-se ao puder estabelecido. Neste sentido, o nacionalismo africano, principiou com os primeiros antagonismos com os estrangeiros e nunca desapareceu por completo. O período colonial constituiu no entanto, uma fase histórica durante a qual este nacionalismo domesticado ou esmagado, só se podia exprimir sob a forma de revolta. Novas circunstâncias históricas vão-lhe conferir a estatura de revolução (ibidem). 15 À luz da minha percepção, considero que «antes das duas guerras mundiais já existia no seio dos africanos o espírito nacionalista e o mesmo era manifestado através de revoltas, greves e negação a pagamento de imposto». A autodeterminação dos povos é um direito que as populações habitantes de um determinado território que compõe ou não um estado-nação (tríade Estado, Povo, Território) têm de afirmarem perante todas as outras populações sua capacidade de se auto-governarem, manterem a criação cultural e tradições próprias, e terem soberania, e de constituírem as suas próprias leis (Lopes & Capumba, 2006). Não estamos acostumados a pensar uma África caracterizada pela diversidade cultural, política, religiosa e linguística que lhes são próprias. As imagens que temos do continente é exactamente aquela que o historiador africano Ali A. Mazrui expressa, ao afirmar que “alguns não temeram ofender simultaneamente as mulheres e a África, chegando ao ponto até de denominar esta última como „o continente - mulher‟, em alusão a uma suposta passividade e penetrabilidade” (Hernandez, 2003). Hoje não seria estranho ainda encontrar pessoas que se espantem ou duvidem da informação referente ao engajamento dos africanos e suas respectivas colónias na Segunda Guerra Mundial, e que não estavam motivados pela fúria de seus colonizadores em caso de resistência, e sim pela vontade de querer defender seus territórios, povos e respectivas culturas, além de alimentar esperanças de dias melhores (ibidem). Em razão de que um facto histórico não se dá por acaso ou de forma súbdita e sem precedentes, entende-se que, a tomada de consciência nacionalista africana, foi um processo mais ou menos longo de acordo com as circunstâncias concretas de cada país colonizador. Iniciada com a I Guerra Mundial em 1914, confirmada pelos congressos Pan-Africanistas, acelerada pela II Guerra Mundial e culminará com a independência da maioria dos Estados africanos (Ki-Zerbo, 2002). Assim sendo, em seguida, elucidamos os principais acontecimentos que contribuíram para o surgimento e a propagação do nacionalismo africano: 16 1.3.1. A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) A Primeira Guerra Mundial (1914-1918), que envolveu as potências coloniais, exerceu profundas influências no continente africano. Muitos negros africanos tinham atravessado o atlântico para ajudar as potências europeias envolvidas no conflito (com a excepção da Alemanha), o que desenvolveu no seu seio um novo tipo de consciência sobre as desigualdades da sua posição em relação aos soldados brancos muitas vezes com capacidades inferiores que às dos seus compatriotas negros (Nsiangengo & Kianzowa, 2012; p:44). “Muitos (…) soldados, como outros africanos, nomeadamente os europeizados, esperavam que a participação numa guerra que não lhes dizia respeito fosse recompensada com melhorias constitucionais, económicas e sociais nos seus territórios de origem. Não o foram, o que deu azo a radicalização de um anticolonialismo latente. As elites africanas esperavam que os princípios da autodeterminação (e, de certo modo, a antecipação do princípio da nacionalidade) enunciados pelo presidente norte-americano T. W. Wilson em 1918 e outros também viessem a ser aplicados em África, o que só sucederia passados muitos anos; depois da Grande Guerra Mundial de 1939-1945. (Amaral, 2000:58) ”. A entrada dos africanos na 1ª Guerra Mundial (ou a Guerra de 1914-1918, também dito, entre Nações colonialistas) aconteceu devido à necessidade dos europeus, em conflito, tentarem reverter a seu favor o desenrolar da guerra. Como se sabe, as partes litigantes estavam enquadradas em duas distintas alianças ou blocos; de um lado a “Tríplice Aliança” (ou Potências Centrais, que englobava a Prússia – ora avante dito Alemanha – os Impérios Austro-Húngaro e Otomano e a Itália – esta depois trocou de bloco político-militar) e pela “Tríplice Entente” (ou Entente Cordiale), que associava o Reino Unido, a França, a Rússia – que depois abandona o bloco, devido à revolução Bolchevique – e os EUA, estes desde 1917, além de outros países como Portugal, Bélgica, Brasil ou Japão) (Almeida, 2004:56-58). Deste grave conflito, onde, pela primeira vez, participaram tropas coloniais ao lado das diferentes potências colonizadoras, emergirá uma linhagem política que irá ter repercussões; ao retornarem às suas regiões de origem, os intelectuais 17 coloniais que participaram no conflito levaram ao início de movimentos nacionais de libertação, em nome da própria ideologia liberal europeia: era a génese da Descolonização em África e na Ásia (Almeida, 2004: 64-79). O aspecto mais importante da experiencia que os africanos descobriram na Europa, foi o tratamento amigável que os negros receberam na Inglaterra e na França, tendo chegado a conclusão de que afinal o branco não era racista por natureza. No decorrer da guerra, os africanos, ficaram a conhecer a imperfeição do branco, pelas fraquezas que foram apresentando. Ao ocuparem Ruhr, província Alemã, esta acção aumentou veementemente a auto-estima dos africanos. Os soldadosafricanos que participaram da I Guerra Mundial, ao regressarem da Europa, vão estimular uma série de agitações. Os europeus que estavam a viver fora da Europa, em África e, especialmente na América, podiam viver sem racismo se quisessem (Ki-Zerbo, 2002). Constatando a harmonia racial que eles experimentaram na Europa, quando começaram a voltar para a África e para a América, constituíram uma das forças que contribuiu grandemente para a obtenção das independências em seus respectivos países (Nsiangengo & Kianzowa, 2011, pag.44). Ora, no desenrolar da I Guerra Mundial, algumas potências colonizadoras recrutavam soldados africanos, em que na primeira fase, foi de forma voluntária e mais tarde de forma obrigatória. No caso da França, em 1912 mobiliza mais de 16.000 homens e, em 1915 a 1916, mais de 50.000 homens. A Inglaterra, na primeira fase da Guerra utilizou os africanos como forças locais. Em 1915, após a aprovação do decreto da autorização das tropas africanas para ajudar os britânicos, abrindo por conseguinte o cenário da inserção integral dos africanos nos exércitos das potências coloniais (Ki-Zerbo, 2002). Em África, com a inclusão de soldados negros nos seus exércitos, considerando os seus interesses económicos, foram obrigados a encontrarem métodos que diminuíssem a resistência dos povos nas suas colónias, sobretudo através de leis que atenuassem as reivindicações espontaneamente surgidas. Assim aboliram o indigenato e o trabalho forçado. Os africanos inseridos nos exércitos das potências coloniais, esperavam portanto que, fossem promovidos socialmente, boas considerações por parte dos brancos, direitos sociais, honra, medalhas, bem 18 como as suas liberdades. Mas tiveram esperanças frustradas no final da I Guerra, tendo causado fracasso económico, político, transformações nas sociedades, assim como o despovoamento. “A guerra modificou as relações entre os europeus e africanos, alterando radicalmente a imagem do branco” (Nsiangengo & Kianzowa, 2001, p.44). Assim, na minha visão, apesar de esta guerra ter tido como principal palco o continente europeu, não deixou de contar com a participação directa ou indirecta de várias nações do mundo, pois, as colónias africanas não estiveram de fora. Com efeito, a participação de alguns africanos neste magno, sangrento e inolvidável acontecimento, contribuiu para o desabrochar do nacionalismo africano. 1.3.2. Os Congressos Pan-Africanistas O pan-africanismo teve uma importância vital para o surgimento do nacionalismo africano, bem como para a formação da “Organização da Unidade Africana” e de sua sucessora, a “União Africana”. Esse movimento foi crucial na constituição da identidade negra, tendo sido um instrumento de unidade de luta destes por reconhecimento, direitos humanos, igualdade racial e depois como elemento agregador na luta pela independência (nacionalismo) através de seus congressos, e também como componente aglutinador para formação de uma instituição continental que também tinha como um dos seus objectivos a descolonização de todo território africano (De Almeida, 2007). A concepção de unidade dos africanos no período de formação da OUA foi fomentada, pelo pensamento pan-americanista. O pan-americanismo surge como um movimento que tinha como objectivo “fazer com que os próprios negros se entendessem como um povo”. Ou seja, o pan-americanismo tinha como conceito central a ideia de raça, a ideia de que uma vez que uma pessoa tenha a cor da pele negra ela faz parte de um povo negro. Mas do que um pensamento o pan- americanismo se constituiu num “movimento político-ideológico centrado na noção de raça, noção que se torna primordial para unir aqueles que a despeito de suas especificidades históricas são assemelhados por sua origem humana e negra” (ibidem). 19 O pan-americanismo enquanto movimento político e ideológico organizado surge na verdade fora da África, ele ganha força com os negros da diáspora que se unem contra a discriminação e subjugação a que eram sujeitos nas colónias americanas e isso ainda no século XIX (Ki-Zerbo, 2002: p. 387). Podemos citar como antecedentes desse movimento na África intelectuais negros, na sua maioria provenientes da África Ocidental sob domínio colonial inglês. Devido ao intenso intercâmbio entre esses estudantes africanos ocidentais e pensadores do pan-africanismo, especialmente nos EUA, os líderes dessa região foram fortemente influenciados, implicando assim num diferencial em relação as lideranças das outras colónias. Outro aspecto importante do movimento pan-africano nessa região foi o papel desempenhado pela imprensa que se incumbiu de difundir as condições sob - humanas impostas pelo regime colonial aos negros (op cit., p. 388). Dessa forma, o movimento pan-africano logo no seu surgimento era composto por um selecto grupo de africanos com formação no ensino superior nas metrópoles europeias e nos EUA. Sua manifestação se deu de diferentes formas sendo as principais as conferências e congressos, publicações em jornais, discursos, livros e formação de associações (ibidem, p. 388-389). A fundamentação teórica do pan-africanismo é iniciada por Alexander Cromwell que tem no cerne de seu pensamento o conceito de raça que por sua vez será a directriz de sua visão para os negros e para a África. Para ele «a África é a pátria da raça negra e que como negro tinha direito de falar, agir e programar o futuro desse continente como seu legítimo representante. a ideia da África enquanto uma unidade decorria do facto dela ser a pátria dos negros». Esse pensamento de Cromwell manifestado em seus textos inaugurou o discurso do pan-africanismo, pois ele traduz exactamente a ideia da existência de um povo negro que por sua vez constituía uma unidade que teria no continente africano o seu lugar. Ele tinha a concepção, que vai se perpetuar no século XIX, da existência de uma unidade política natural, ou seja, uma vez que se tenha um único povo reunido num mesmo lugar consequentemente se tem uma unidade política. Nesse sentido Cromwell também foi considerado um dos pais do nacionalismo africano. Além disso, ele defendia a adopção da língua inglesa 20 como a língua a ser empregada na construção de um estado negro africano (Nsiangengo & Kianzoa, 2011, p. 53-55). Com essa atitude estava resgatando ou simplesmente reproduzindo o espírito do nacionalismo europeu que previa a utilização de uma única língua a fim de promover a unidade nacional. No caso da África existia muitas línguas e essas por sua vez não poderiam suprir essa necessidade. Segundo Cromwell, citado por Ki-Zerbo (2002) «haveria um único idioma para proporcionar a unidade da África Ocidental», logo o melhor caminho, na concepção de Cromwell, era a adopção da língua inglesa, que na verdade, também segundo o mesmo era superior e por isso a “melhor opção”. A trajectória do pan-africanismo está entrelaçada com a trajectória do nacionalismo africano, dessa forma assim como o pan-africanismo tem como eixo de sua formação o conceito de raça o mesmo acontece na construção do nacionalismo na África (ibidem). Embora falemos do conceito de raça como fundamental componente do movimento Pan-Africanistas e sua influência no nacionalismo africano. Entende- se por raça um conceito diferenciador dos homens que por sua vez, a partir de critérios físicos ou morais determina a diferença entre os mesmos. Derivado desse termo surgiu a palavra racismo, este termo está associado a um comportamento moral de não somente diferenciação a partir do critério de raça, mas a partir do estabelecimento de uma hierarquia sobre as mesmas onde há a implicação de que algumas raças seriam inferiores ou superiores as outras resultando num tratamento diferenciado das mesmas (De Almeida, 2007). Como já afirmamos o pan-africanismo teve a sua fundamentação teórica a partir doconceito de raça, dessa forma traz consigo o pressuposto da aceitação dessa diferenciação e dessa hierarquia. No entanto, vamos continuar esclarecendo os termos referentes a raça. Kwame Anthony Apiah descreve que existe uma diferença entre os termos frequentemente utilizados nos assuntos concernentes a raça, ele diferencia racialismo e racismo. Para este autor o racialismo seria a visão de que existem características hereditárias, possuídas por membros de nossa espécie, que nos permitem dividi-lo num pequeno conjunto de raças, de tal modo que todos os membros dessas raças compartilhem entre si certos traços e 21 tendências que eles não têm em comum com membros de nenhuma outra raça. (Appiah, pág. 33) Esses traços e tendências característicos de uma raça constituem, segundo a visão racialista, uma espécie de essência racial; e faz parte do teor do racialismo que as características hereditárias essenciais das “Raças do Homem” respondam mais do que características morfológicas visíveis com base nas quais formulamos nossas classificações informais. (ibidem) O racialismo em si, não seria um conceito que contemplaria um problema moral e sim cognitivo, pois se trata de entender um mundo em que existam diferenças, mas um mundo em que essas diferenças podem ser respeitadas, ou seja, as diferenças não dão lugar a uma hierarquia moral das diferentes raças, mas cada uma teria o seu espaço e também a sua contribuição. A partir desse conceito foram formuladas outras doutrinas denominadas de “racismo”, essas por sua vez já resultaram em questões morais e até mesmo criminosas ao longo da história (Wolfgang, 2002). Cromwellse apropriou de uma concepção moderna de raça para justificar a sua visão, a concepção de hereditariedade biológica e também de “uma nova compreensão do povo como nação, e do papel da cultura na vida das nações”. Para Appiah, Cromwell era racialista e racista e, embora, segundo ele, não se possa ter certeza quanto a qual tipo de racismo ele manifestava, afirma que quanto ao pan-africanismo, esse era, supostamente, embasado num racismo intrínseco. E isso significa que o pan-africanismo se apoiava no fato de uma solidariedade racial onde aqueles que se enxergavam como negros deveriam ser solidários entre si, dando preferência ao que fossem de sua própria raça (Ki- Zerbo, 2002). Assim como Crummell, Edward Wilmont Blyden, também tinha a raça como conceito norteador de seu pensamento e defende a existência de uma civilização negra - africana. Isso significa que ele condena o racismo extrínseco contra os africanos, afirmando que os mesmos não eram inferiores, mas possuíam uma própria história e “elementos constitutivos na construção de uma personalidade africana”. Explicava as diferenças entre africanos e ocidentais devidas as 22 diferentes circunstâncias que vivenciaram, se opondo a ideia de que as diferenças seriam resultado de uma inaptidão intrínseca ao povo africano (Wolfgang, 2002). Blyden defendeu em 1884, numa declaração em Freetow, a recolonização da África a partir da Libéria afirmando que “só em África a raça negra pode realizar o seu destino”. Para ele a Libéria seria o primeiro estado africano independente construído por negros e a partir daí construiriam uma grande nação negra. Demonstrando, assim, um carácter anticolonialista, que só vai influenciar mais incisivamente o movimento pan -africano após a Segunda Guerra Mundial (Decranene, 1962). Outro importante pensador e difusor do movimento pan - africano foi William Edward Du Bois, para ele a raça é um conceito associado à construção histórica comum e ao factor biológico, no entanto considera o primeiro elemento ainda mais importante. E que cada raça contribui de forma diferente para a humanidade, negando assim a inferioridade da “raça negra”, tendo a função de apresentar a humanidade algo que só ela tem a oferecer. Admite a diferença, mas nega a existência de superiores e inferiores, defende a ideia de complementaridade. Para ele a contribuição negra ao mundo não é só diferente, mas única e valiosa (ibidem). William Du Bois foi na verdade a primeira figura a lançar bases teóricas mais organizadas e práticas para o movimento pan - africano. Estabelecendo sistematicamente as suas intenções que além de defender uma igualdade racial, incluía a luta “pela autodeterminação nacional, pela liberdade individual e por um socialismo democrático.” Opunha-se radicalmente a ideia utópica de repatriação dos negros dos EUA para retornar a África, ideia essa fomentada por Blyden e defendida por outro ícone do movimento pan - africano, o jamaicano Marcus Garvey (Ki-Zerbo, 2002: p. 388). Este foi responsável pela criação da Associação Universal para o Aprimoramento do Negro (UNIA) e caracterizado como líder carismático de um movimento que se propôs a promover a emigração de negros de volta para a África, elegendo, então, a Libéria como a pátria ideal para início da constituição de uma nação negra. Segundo Ki-Zerbo “Não hesitou em colaborar com os racistas do Ku Klux 23 Klan, que como ele, mas por razões inversas, preconizavam que os Negros americanos fossem mandados para a África” (ibidem). O conceito de unidade racial da UNIA envolvia um projecto político e defendia a ideia de uma “federação imperial geopoliticamente determinada” sendo possível de ser alcançada pela “unidade imperial entre a Grã-Bretanha e suas colónias”. Percebemos que até então não existiam no discurso pan - africanista uma perspectiva anti-colonial e que a ideia de unidade se restringia basicamente a África Ocidental de colonização britânica, pelo menos como ponto de partida para o restante do continente (ibidem). Embora pressionado quanto à oposição ao movimento e também problemas na administração da UNIA, Garvey juntamente com Du Bois representou um papel fundamental na divulgação da luta dos negros por reconhecimento enquanto uma cultura negra, não somente nos Estados Unidos da América e Antilhas, mas também na Europa e na África (ibidem). O pan-africanismo na África de colonização francesa apresentava uma abordagem diferenciada quanto àquela desenvolvida pelo pan-africanismo de vertente anglófona, tinha duas principais preocupações: a construção de uma identidade que fizesse frente às mazelas do colonialismo e a fundamentação intelectual e política que viabilizasse futuramente a “emancipação política”. O pan-africanismo da África francófona difere da de colonização britânica em três aspectos, primeiramente o pan-africanismo nessa região foi elaborado mais tardiamente em relação ao outro, sendo este no período entre guerras. Além de permanecerem apenas mais contundentemente em Paris do que propriamente no continente africano e finalmente ficou mais restrito a um selecto grupo de intelectuais, artistas e políticos africanos com formação europeia (Appiah, 1999: p.44). Podemos destacar desta vertente a participação fundamental da obra literária como difusora das realidades da actuação colonial francesa em África, se tornando assim um instrumento de denúncia na Europa bem representados na figura de René Maran e André Gide (op cit, p. 46). 24 A maior expressão de um movimento pan - africano da África colonial francesa foi o movimento denominado de negritude. Movimento literário que vem resgatar as tradições culturais do continente africano. Encontrando em Leopold Seghor e Aimé Césaire seus principais representantes. A principal ideia desse movimento é a de que “todos os povos de ascendência africana tinham um património cultural comum”. Dessa forma, esse movimento também tem sua centralidade na noção de raça (ibidem). Assim como houve uma diferença no processo de colonização das colónias britânicas e das colónias francesas, houve também uma diferença na forma que se desenvolveu o pan-africanismo nessas duas vertentes o que também vai delinearo perfil político continental desses dois blocos que vão ter seus papéis mais definidos no período que antecedeu as suas independências. No entanto, o movimento pan - africano passou a se manifestar de forma mais prática quando iniciou a realização de uma série de congressos, se tornando um dos principais instrumentos para expansão do movimento (ibidem). As realizações desses congressos manifestam o carácter da primeira etapa do movimento pan - africano que ainda se encontrava mais restrito aos EUA, Caribe e Europa, e ainda a uma tímida participação dos negros africanos. Prova disso é que nenhum dos congressos desse período foi realizado na África e apenas no último é que foram iniciados discursos anticoloniais, antes disso os congressos basicamente promoviam a reunião para reivindicar direitos civis dos negros e igualdade racial (ibidem). A primeira Conferência pan - africana ocorreu em 1900 em Londres e com o intervalo de 19 anos deu-se início a uma série de realizações de Congressos pan - africano, cinco ao todo começando em Paris, 1919 e findando após a Segunda Guerra Mundial, em 1945, esse realizado em Manchester. Todos organizados por Du Bois (Ki-Zerbo, 2002, p. 388). A participação nos congressos foi aumentando a medida que os mesmos foram conquistando a atenção dos negros e de suas lideranças tanto nas colónias americanas e caribenhas como no próprio continente africano. O primeiro contou com a participação de “57 delegados negros dos territórios africanos sob colonização francesa e britânica, das Antilhas e dos EUA.” No quarto já contava 25 com a maior participação até então em congressos, 208 delegados provenientes de 22 Estados americanos e de uma dezena de países europeus (ibidem). As principais reivindicações realizadas nesses congressos foram: A adopção de um “código de protecção internacional dos indígenas da África; O direito à terra, à educação e ao trabalho livre; e a abolição dos castigos corporais nas colónias; a “Declaração ao Mundo” que em sua essência, reclamava para os negros iguais direitos aos dos brancos; a assinatura de um manifesto final com um “Apelo ao Mundo” pela igualdade e cooperação de todas as raças e pela justiça e solidariedade universal e a criação da “Associação Internacional Africana”; Um manifesto que formulava reivindicações para o tratamento dos negros como homens, caminho condutor para a paz e para o progresso, e também se referia ao desarmamento mundial e à organização do comércio e indústria, já assumindo assim uma visão global do mundo; E ainda “a representação e participação dos negros nos governos que os representam, a justiça adaptada às condições locais, a extensão do ensino primário gratuito e um desenvolvimento do ensino técnico”. Após esse período houve um intervalo extenso na realização dos congressos que só vai voltar a se realizar com o término da Segunda Guerra Mundial. Nessa ocasião muitos africanos lutaram pela liberdade, ironicamente, de suas metrópoles e a partir de então as ideias independentistas foram se tornando cada vez mais concretas. Durante esse período de permanência dos negros africanos na Europa eles se aperceberam que além de ter em comum o anseio pela independência da Europa eram vistos como uma unidade, um povo, os africanos. Esse momento então representou uma maior identificação com o movimento pan-africano que até então era um movimento de solidariedade racial mais especificamente fora da África, contra a discriminação sofrida nas colónias americanas e no Caribe. Agora passa a ser um instrumento na luta anticolonial e pela emancipação (Ki-Zerbo, 2002). Podemos dizer que a vontade de realizar a independência das colónias europeias na África fortaleceu a ideia de uma identidade africana, de uma unidade do povo negro que agora luta por um objectivo comum, a descolonização. Esse aspecto 26 fortalece no movimento pan - africano o espírito de unir forças para alcançar os objectivos. Verificamos, então, que o conceito de raça foi um “princípio organizador central” nesse período de aspiração pela descolonização da África, princípio este que se manifestou tanto no pan-africanismo caracteristicamente afro-americano e caribenho como no francófono tendo a negritude como seu maior expoente (ibidem). Cabe aqui ressaltar o quinto Congresso pan - africano que já será realizado em 1945, após a guerra, quando já se estava configurando um outro cenário no contexto internacional, as potências europeias enfraquecidas, a formação de uma bipolaridade política, económico e ideológica e também a organização e fortalecimentos de movimentos de resistências anticoloniais (De Almeida, 2007). O “Congresso pan - africano de Manchester” já pode contar com a presença de “políticos, sindicalistas e estudantes, basicamente representantes das colónias inglesas e a independência imediata e incondicional foi enfatizada como a maior de todas as reivindicações”, destacando a presença de lideranças africanas como Francis Kwame Nkrumah, Wallace Johnson, da Serra Leoa, e Jomo Kenyatta (ibidem). Pela primeira vez há uma manifestação objectiva e clara “anticolonialista e anti- imperialista”, sendo reivindicada “a independência nacional” e já um direccionamento, um “alinhamento junto ao socialismo ou socialismo-marxista”. George Padmore “propõea adopção de um manifesto em que se opunha à discriminação racial e condenava o apartheid na África do Sul além de afirmar que os africanos estavam resolvidos a serem livres, conclamando a unir-se contra o colonialismo”. Nesse ponto percebemos nas palavras de Padmore o componente de unidade racial característico do pan-africanismo. Ele conclama o povo negro, o povo africano, para se unir contra um inimigo comum, o colonialismo (KI-ZERBO, 2002). E ainda nesse congresso a Resolução Final “assumiu a condenação global do capitalismo europeu nos territórios africanos.” Adoptando claramente uma postura de influência marxista que vai influenciar inúmeros intelectuais e líderes políticos africanos tanto nesse período como pós-independência (ibidem). 27 A partir do Congresso de Manchester foi dado um novo impulso ao pan- africanismo, que agora passa a ter uma participação africana mais directa, o pan- africanismo passa a ser um instrumento significativo para os africanos que passam a utilizar a concepção de solidariedade racial para promover a luta pela independência do continente africano (De Almeida, 2007). Da realização do V Congresso pan - Africano houve um intervalo de mais de 10 anos para a realização de uma série de conferências e congressos que vão acabar resultando na constituição da OUA, nesse intervalo ocorreu um importante encontro que foi a Conferência de Bandung. O movimento Pan-Africanistas vai se tornar mais actuante, especialmente no continente africano, após a realização dessa conferência que embora não fosse um encontro estritamente de interesse das colónias africanas tem directa relação ao continente africano por representar “o marco do aparecimento formal do Terceiro Mundo como uma unidade ideológica” (ibidem). 1.3.3. A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) A Segunda Guerra mundial, como postulam alguns historiadores, foi, de certa forma, uma continuação da Primeira, haja vista que alguns dos motivos eram similares, como o desejo de expansão imperialista da Alemanha, que, sob o jugo de Hitler, declarou-se como o III Reich (terceiro império). Porém, segundo Timothy Snider, citado por Ki-Zerbo (2002), a devastação e o morticínio dessa guerra foram inigualáveis, sem contar as atrocidades que foram cometidas fora da zona de combate, como o holocausto nazista e os gulags soviéticos, já que tanto nazistas quanto comunistas desejam levar a cabo a construção de um império global. Assim, a guerra, que acabava pela revelação apocalíptica da energia nuclear sobre a Hiroshima e Nagasaqui(1945), representava uma viragem decisiva na História universal e em particular na História de África. Centenas de milhares de negros participaram nela em teatros de operações tão variados como a Líbia, a Itália, a Normandia, a Alemanha, o Médio Oriente, a Indochina, a Birmânia, etc.. as reservas do Banco de França haviam , de resto, sido retiradas e guardadas em Kyes (Mali), muito mais do que durante a primeira guerra mundial, entrava a 28 África Negra em contacto de maneira decisiva com o mundo inteiro, num contexto de estremecimento geral (Ki-Zerbo, 2002, p. 158). Quinhentos e vinte mil (520.000) soldados coloniais tinham participado na guerra de 1914-1918. Em 1940, havia 127 mil e 320 atiradores da África Ocidental Francesa (AOF), 15 mil e 500 da África Equatorial Francesa e 34 mil de Madagáscar. A quando do armistício, falavam 24271 (senegaleses) e 4350 (malgaxes) (ibidem). A partir de 3 de Setembro de 1939, quando a Grã-Bretanha e a França declararam guerra à Alemanha. Os Aliados recrutaram nas suas colónias cerca de meio milhão de soldados e operários. Soldados coloniais de toda a África subsaariana e do norte do continente tiveram de lutar contra as tropas alemãs e italianas no norte de África e na Europa durante a guerra. Mais tarde também combateram contra os japoneses na Ásia e no Pacífico (Cornevin, 1979). No dia 1° de Setembro de 1939, as forças armadas da Alemanha atacaram a Polónia sob ordens de Adolf Hitler – supostamente em represália a atentados poloneses. No dia 3 de Setembro, França e Grã-Bretanha, que eram aliadas da Polónia, declararam guerra à Alemanha, mas não intervieram no conflito (Ki- Zerbo, 2002). Em 1939, o exército francês recrutou cerca de 100 mil africanos ocidentais para combates na França, na Alemanha e em Itália. O que é certo é que os soldados africanos acabaram por ter contacto com soldados europeus e com a vida na Europa. Isso teve um impacto na sua consciencialização e, consequentemente, também na sua acção política nos países de origem (ibidem). Foi essa, para centenas de milhares de negros a ocasião de uma descoberta brutal do homem branco, na sua verdade, sem máscara imperial, nem ouropéis proconsulares (Nsiangengo & Kianzoa, 2011). À semelhança da I Guerra Mundial, a II Guerra Mundial contribuiu grandemente para o fomento da consciência nacionalista em África, pois neste evento aumenta o número de africanos negros inseridos nos exércitos europeus, pelo que, esta inserção fá-los-á conhecer a verdadeira identidade do homem branco. Pois os negros voltaram a observar melhor que os brancos também temiam o medo, 29 traiam-se uns aos outros, sentiam-se também atormentados pela fome e pela sede, havia heróis, como também cobardes, Os brancos trabalhavam com as suas mãos. Suavam. Tinham relações carnais os que torturavam, os que traíam e os que matavam-se uns aos outros com raiva. Tudo o que viram, fê-los lembrar a célebre frase proferida no século XIX por David Livingstone: “os negros não são melhores, nem piores que os homens de outras regiões do globo” (Ki-Zerbo, 2002; p: 158). Esta simples frase revolucionará no século XIX, tomava em 1942, um sentido límpido e cru para milhões de africanos. Os brancos confundidos em África na dominação e na superioridade colonial, revelavam-se assim, verdadeiros lobos uns para com os outros. E no desprezo bestial em que Adolfo Hitler englobava os brancos não - germânicos e os negros descobriam subitamente o seu próprio valor e atingiam ao mesmo tempo a estatura e o estatuto dos cavaleiros de uma causa que traçava a verdadeira linha de demarcação entre os homens: a linha da dignidade humana (Ki-Zerbo, 2002). Os soldados africanos foram grandes artesãos da emancipação africana. Tanto aqueles que foram tragados pela tormenta, como aqueles que regressaram mutilados ou não, alguns dos quais tomaram partem activa nos movimentos políticos mais avançados dos seus países. Muitos infelizmente, haviam deixado os ossos nas terras frias do Norte (ibidem). Segundo o jornalista alemão Karl Rössel, citado por Cornevin (1979), «essas experiências tiveram consequências vastas. "O facto de os soldados coloniais terem testemunhado, pela primeira vez, que a chamada 'raça superior' sofreu e morreu, na lama e na imundice, mostrou-lhes que não há diferenças entre as pessoas". "Isso fez com que muitos apoiassem os movimentos independentistas nos seus países"» (ibidem). Após a Segunda Guerra Mundial as revoltas e reivindicações vão merecer grande importância, pois que, nesta altura já se contava com a intervenção de intelectuais nos momentos do seu planeamento. Estes intelectuais eram aquelas pessoas que receberam as suas formações no exterior especificamente nos países de cada potência colonizadora ou em cidades que já eram desenvolvidas como os EUA (ibidem). 30 Assim no âmbito do planeamento das suas revoltas, os movimentos revolucionários, mas com maior destaque aos intelectuais, já haviam percebido o caminho que os levaria para a liberdade. Uma vez que a tomada da consciência nacionalista dependeu das políticas aplicadas pelas potências colonizadora, os caminhos para as independências, dependerá de igual maneira das circunstâncias concretas de cada colónia. Com efeito, para as colónias inglesas, as independências foram progenitas pela via diplomática e, foram igualmente paridas pela mesma via. Para as demais colónias, como é o caso das que pertenciam a França, Portugal, foi preciso a coercibilidade para a gestação das mesmas e consequentemente coercibilidade para pari-las (Ki-Zerbo, 2002). Mas tanto a independência alcançada por vias diplomáticas como as que foram conquistadas através do uso da força, não se aceita a intenção maliciosa de que elas foram outorgadas pela boa-fé das potências colonizadoras. Vemos desta maneira que o nacionalismo africano manifestou-se nas lutas levadas a cabo pelos africanos para a emancipação das suas independências (ibidem). Neste processo, destacamos também a magna actuação da figura dos líderes intelectuais Francis Kwame-Krumah do Gana, Sekou Touré da Guiné Konakry, Patrice Lumumba do Congo Leopoldiville (ibidem). Neste diapasão, importa inferir que, após a guerra, a Europa estava totalmente debilitada, tanto do ponto de vista de perdas matérias, quanto humanas, endividada com a África, a Europa dominava ainda o mundo durante a primeira metade do século XX, a partir daí cede lugar aos grandes: os Estados Unidos da América EUA e A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas URSS, cujo poderio industrial crescera de maneira prodigiosa por causa da própria guerra. Ora estes dois colossos, por razões diferentes, apregoavam um anticolonialismo sem equívocos findas as hostilidades (ibidem). 1.3.4. A Política dos Estados Unidos da América Os Estados Unidos da América, que tinham deitado os olhos sobre a América Latina e sobre as Ilhas do Pacífico até ao Japão, confiado ao procônsul Mac Arthur, encaravam então os problemas africanos com uma atitude liberal, que era o resultado, em primeiro lugar da tradição anticolonial e democrática das suas 31 próprias origens políticas, além disso, como sublinhava R. G. Woolbert, «OS EUA, têm interesses evidentes em pedir a manutenção da porta aberta, tanto na Etiópia como nos outros territórios africanos» (Ki-Zerbo, 2002: p. 159). Muitos autores americanos, prossegue ele, encaram a noção de internacionalização como razoável. Na verdade torna-se necessário cobrir o vazio relativo que a cedência europeia iria criar em África em matérias de investimentos. Tanto mais que – e este terceiro motivo do anticolonialismo americano – surgia os riscos de os russos se adiantarem se fossem eles os únicos a tomarem a defesa da África. Em resumo, os EUA, abandonavam de forma definitiva a política do esplêndido isolamento que fizera da África da Europa (ibidem).Após a primeira guerra mundial, tendo a Alemanha sido considerada indigna de conservar as suas colónias, havia o presidente Wilson, na linha da sua política idealista e generosa do direito dos povos a disporem de si mesmo, proposto a administração dessas colónias por um organismo internacional até à independência. Esta fórmula julgada impraticável, foi corrigida para dar lugar ao princípio do mandato internacional. Os territórios assim definidos (Togo, Camarões, Sudoeste Africano, Tanganica), eram administrados por uma potência mandatária sob controlo da Sociedade da Nações (SDN) (op cit.: p. 160). Na conferência de Moscovo (Outubro de 1943), a delegação americana, apresentou na mesma a tradição, uma proposta de largo alcance. Devia não somente ser restituída a independência aos países que a haviam perdido por causa de uma agressão, mas também, garantir a possibilidade prática de se tornarem independentes os povos que aspirassem a tal (ibidem). Esta proposta bem acolhida pelo URSS, ficou adiada por causa da Grã-Bretanha. Desenrolou-se então uma controvérsia activa nos Estados Unidos, opondo, por exemplo, Summer Welles a Walter LIppmann. O primeiro, num artigo de 23 de Março de 1945 em New York herard tribune, não hesitava em escrever: «em qualquer parte onde governos estrangeiros controlam povos submetidos que não estão ainda preparados para a autonomia, deveriam, os governos em causa provar à trustee ship internacional que administram essas regiões em proveito dos indígenas e que preparam seus protegidos para a autonomia ou a 32 independência». Retomava em suma, a ideia de Wilson. Mas, no mesmo jornal, Walter Lippmann, lançava um apelo ao realismo (ibidem). Assim, portanto, o texto da conferência de São Francisco (Maio de 1945), ao elaborar-se o regime de tutela internacional (trust Ship), falará de «favorecer igualmente a sua evolução progressiva para a capacidade de se administrarem (a si mesmos) ou para a independência, tendo em conta as condições particulares de cada território», etc. Visará isto assegurar a igualdade de tratamento no campo económico, social e comercial à todos os membros da organização e aos seus cidadãos. A trust ship consagrava, portanto, o regime da porta aberta no sentido da igualdade económica das nações ricas perante certos mercados africanos (ibidem). Os homens de negócios americanos verificavam com efeito, que 25% a 75% das matérias-primas essências para as suas indústrias, se encontravam nas possessões coloniais das outras grandes potências. «Temos interesses precisos nestas regiões coloniais, escrevia Ernest Lindley em Washington post de 15 de Janeiro de 1945, « na medida em que ela constituem fontes de matérias-primas e possíveis mercados. Eis uma das grandes razões pelas quais os americanos propuseram e defenderam a trust ship e o seu indispensável complemento, o regime de igualdade económica.» a política americana em África oscilará sempre entre estas aspirações liberais e estas atitudes ditadas por interesses económicos preciosos (ibidem). A particular atenção dedicada à África, será precipitada de certos altos funcionários como Georges C. Mc Guee. O empenhamento americano nesta matéria será activado pela aceleração da emancipação africana a partir de 1957. A viagem espectacular do vice-presidente R. Nixon à África, inscreve-se assim no quadro guerra fria, na obsessão de que o vazio criado pela retirada europeia viesse a criar uma zona de baixas pressões que atraísse o vento do Leste (ibidem). 1.3.5. A Política da URSS A política anticolonial da URSS, assenta em bases ideológicas mais sólidas: já Karl Marx, fazendo-se eco dos doutrinários da convenção francesa, havia declarado que «um povo que oprime outros povos, não se pode considerar livre». 33 Já Lenine, definia o imperialismo como sendo «uma fase histórica particular do capitalismo», fase essa que qualifica de «monopolista, parasitária e agonizante». E prossegue: «a partilha territorial do mundo (das colónias) terminou. Começou a partilha económica do mundo pelos cartéis internacionais». A revolução Soviética de Outubro, constituiu uma data importante para a História dos povos colonizados (Ki-Zerbo, 2002:p. 161). Estaline, em o Marxismo e a Questão Nacional e Colonial, depois de ter fustigado o chauvinismo metropolitano dos socialistas das nações dominantes que não querem combater os seus governos imperialistas nem apoiar a luta dos povos oprimidos das suas colónias, preconiza uma acção anti-imperialista com base no internacionalismo proletário. Mas, na prática, é sobretudo na Ásia que se vai exercer a acção da URSS (ibidem). Em África, a influência comunista exerce-se essencialmente, de início, por intermédio dos partidos comunistas dos países colonizadores e dos sindicatos e associações de obediência Marxista. Com a emancipação política, a presença Soviética, afirmou-se por vezes de maneira muito nítida, seja deitando a espada na balança, como em 1956, aquando do desembarque franco-britânico após a nacionalização do canal de Suez por Nasser, seja ocupando o vazio deixado pela retirada voluntária ou forçada do país colonizador (ibidem). O anticolonialismo soviético é apresentado não apenas como tarefa de libertação mais também como uma contribuição para a paz mundial. Estaline, num texto que deixa entrever que a defesa da paz está de resto forçosamente ligada aos interesses da URSS, já declarava em 1946: «Se, se tivesse pedido proceder periodicamente a novas partilhas das matérias-primas e dos mercados entre os países consoante o seu peso económico e de harmonia com pacíficas decisões tomadas de comum acordo, poderia talvez ter sido evitada esta guerra, mas isso é impossível nas condições capitalistas actuais da economia mundial» (ibidem). 1.3.6. A Acção da ONU A Organização das Nações Unidas (ONU), criada na Conferência de São Francisco em Maio de 1945, devia desempenhar também um papel preponderante no desenrolar do nacionalismo africano. A organização tinha, com 34 efeito, inscrito no artigo I da sua carta, entre os objectivos, o seu ideal de «desenvolver entre as nações relações amigáveis, baseadas no respeito do princípio da igualdade de direito dos povos e do seu direito a disporem de disporem de si próprios» (Ki-Zerbo, 2002: p. 162). Muito depressa, se tornará a ONU, uma tribuna mundial para os porta-vozes dos povos colonizados, começando pelos naturais dos países sob tutela e isso no quadro da comissão de Tutela da organização internacional. Caixa de ressonância sem precedentes para atingir a opinião pública inteiro, o edifício da organização tornar-se-á numa espécie de altifalante que amplificava a voz dos fracos. Muito mais do que isto, ainda, a ONU, ultrapassando nesse ponto as veleidades da Sociedade das Nações (SDN) (ibidem). A ONU, pela sua abertura ao mundo proporciona aos africanos, pelas missões de inquéritos que pode introduzir até no antro Sul-Africano do racismo, pelas suas múltiplas comissões ad hoc e pelas instituições especializadas como a UNESCO, através do mar de discursos e das montanhas de relatórios, trabalha no sentido do despertar nacional africano (ibidem). 1.3.7. A Conferência de Bandung A Conferência de Bandung, realizada na Indonésia. Entre os dias 18 a 24 de Abril de 1955, foi organizada pelos países asiáticos e contou com apoio de países africanos como a Etiópia, Líbia, Libéria e Egipto. Teve como líderes Sukarno (da Indonésia), Chu En-Lai (da China) e Nasser (do Egipto). A Conferência se propunha a promover uma cooperação económica e cultural afro-asiática, com o objectivo de formar uma base sólida de oposição ao que era considerado colonialismo ou neocolonialismo. Pela primeira vez em uma conferência o racismo e o imperialismo são denunciados como crime e também nessa mesma conferência o não-alinhamento é estabelecido como um posicionamentopolítico a ser adoptado em oposição aos mesmos. Apesar do não-alinhamento todos os países declararam que eram socialistas, mas não iriam se alinhar ou sofrer influência Soviética (Nsiangengo & Kianzoa, 2011). Durante o encerramento da Conferência de Bandung ficou previsto a realização de uma outra conferência a ser realizada no Cairo entre 26 de Dezembro de 1957 35 a 1 de Janeiro de 1958. O neutralismo assume um papel importante nesse momento, pois irá se traduzir numa aproximação com a URSS que a partir da Conferência do Cairo exercerá uma maior influência comparada a Bandung nas colónias e ex-colónias africanas já dando inicio a um posicionamento claramente estratégico da Guerra Fria. E ainda afirma as intenções de Nasser então presidente do Egipto, na conquista de uma liderança na África do Norte com uma perspectiva pan – arabista (Ki-Zerbo, 2002). O Cairo ocorre uma modificação na denominação dos encontros que deixam de se chamar conferência entre estados passando a ser conhecido como “Conferências dos Povos”. O objectivo aqui era possibilitar “a mobilização das forças revolucionárias contra as soberanias” e mobilizar um maior número de pessoas ou grupos contra o colonialismo, era uma luta “contra a raça branca” prioridade que transcendia o princípio nacionalista (ibidem). Baseando-se no princípio da autodeterminação, o movimento afro-asiático articula-se com o sentimento anticolonialista, procurando encaminhar para a emancipação imediata todos os povos ainda colonizados. No entanto, esse pensamento não é hegemónico no continente africano, embora todos os estados africanos estivessem ávidos pela descolonização, para muitos o nacionalismo era uma prioridade e a formação de uma unidade nacional baseada naquilo que os unia era fundamental, logo a autodeterminação dos povos se tornará um ponto de discussão entre os grupos que irão se desenhar nesse momento para traçar os rumos nesse novo contexto do continente (Nsiangengo & Kianzoa, 2011). Foram realizadas três Conferências dos Povos Africanos, a primeira em Acra, em 1958, em que estiveram no cerne das questões a conquista da liberdade e da independência, consolidação e criação de uma unidade africana que viabilizasse a constituição de uma comunidade dos “Estados livres de África” e ainda investir na reestruturação económica social deste continente. Foi criado um secretariado permanente que tinha como principal função “acelerar a libertação de África” e “desenvolver um sentimento de solidariedade pan-africano”. As bases da futura Organização de Unidade Africana foram assim lançadas (ibidem). A segunda ocorre em Tunes (Tunísia) em 1960 e a terceira ocorreu em Março de 1961 no Cairo já no contexto de definição de dois grupos antagónicos o grupo de 36 Casablanca e o grupo de Brazzaville. Estes grupos já começaram a ser definidos a partir do congresso de Manchester, quando foram classificados, respectivamente, de maximalistas e minimalistas. O maximalismo, com uma postura definida como mais radical defendia a superação das fronteiras que haviam sido definidas pela Conferência de Berlim. E ainda propunha a formação de uns «Estados Unidos da África» e esteve representado pela liderança de Francis Kwame-Nukrumah. Já a concepção minimalista ou moderada não questionava a divisão de fronteiras estabelecidas na Conferência de Berlim e defendia a constituição de Estados Nacionais com soberanias internas e externas (ibidem). Em Abril de 1958 foi realizada em Acra outra Conferência de Estados Africanos Independentes (CEAI) sob a liderança de Nkrumah e de George Padmore, contando com representantes tanto da África do Norte como da Subsaariana. Já nessa conferência aparece na ordem do dia “a criação de um organismo pan- africano “permanente” entre outros itens “a discriminação racial, (...), a colaboração económica e técnico - cultural entre os países independentes do continente negro, a manutenção da paz mundial”. Ainda em Acra foram estabelecidas directrizes importantes para o movimento anticolonialista com destaque para a reafirmação da não adesão a nenhum bloco político-ideológico (Hernandez, 2002). Já em Julho, ainda no mesmo ano, ocorreu o Congresso de Cotonou (Benim) reafirmando um carácter essencialmente pan-africano e anticolonialista esse congresso tinha “a intenção de constituir o Partido do Reagrupamento Africano”. Foram deixados bem claro suas pretensões de uma “independência imediata” e a formação dos “ Estados Unidos de África” e ainda “a supressão de todas as fronteiras estabelecidas após a Conferência de Berlim de 1885, para que os povos africanos pudessem unir as suas complementaridades e manifestaram vontade de concretizar a união do Cairo a Joanesburgo” (ibidem). Em 1960 foi realizada a 2ª Conferência de Estados Africanos Independentes em Adis Abeba (Etiópia) em que a proposta de unidade africana antes defendida foi negada pela delegação da Nigéria que só acatou e concordou com a proposta de criação de dois bancos inter - africanos. Outro aspecto importante foi a aprovação 37 do embargo à África do Sul incluindo boicotes comerciais e diplomáticos pela sua prática racial segregacionista, embora essas decisões não tenham chegado a ser colocadas em prática efectivamente. Será realizada ainda uma terceira CEAI em 1962 já no ano anterior a formação da OUA (ibidem). As Conferências dos Povos Africanos de 1961, realizada no Cairo, promovida pelo grupo de Casablanca vão ressaltar Palrice Lumumba como herói africano e revelar duas vertentes dentro do Congo: os congueses os quais apoiavam Kasavubu e Tchombé de imperialistas (grupo associado aos interesses coloniais) e os lumumbistas (grupo que nega a continuação das relações com os interesses coloniais e defende os interesses nacionais), liderados por Gizenga de nacionalistas africanos. Esse é um aspecto importante, pois a questão do Congo foi um dos pontos de discordância entres os dois grupos já mencionados, maximalistas e minimalistas (ibidem). O Congo belga se tornou um importante componente nesse período que antecedeu a formação da OUA. Colonizado pela Bélgica numa orquestração magistral de Leopoldo II o Congo tem uma história muito particular no continente africano e o processo de sua independência se tornou marcante na história do continente. Na década de 1950 por concessão da Bélgica puderam ser formados os primeiros partidos políticos na colónia e inúmeros movimentos separatistas foram criados. Nesse mesmo contexto foi criado o Movimento Nacional Congolês na liderança de Patrice Lumumba que se opunham as tendências separatistas, defendia o unitarismo, Estado Centralizado, e principalmente lutava pela independência. Inúmeros conflitos ocorreram no período que antecedeu a independência dessa colónia e como resultado para acalmar os ânimos foram convocadas eleições em 1960 que elegeram Lumumba como primeiro-ministro e, seu opositor, o federalista Kasavubu como presidente da República (Hernandez, 2002). Em Julho de 1959, em Sanniquellé (Libéria), foi criada a “Comunidade dos Estados Africanos Independentes” uma união realizada por Gana, Guiné e Libéria (maximalistas) que não terá vida longa. Já nessa ocasião vai ficando cada vez mais claro as dificuldades de manter uma postura radical, quanto a uma ideologia Pan-Africanistas militante dos maximalistas devido às dificuldades dos próprios 38 estados recém-independentes e a Libéria, por exemplo, ainda bem ligada aos Estados Unidos. Não havia por parte desses estados estrutura suficiente para dar suporte a essa empreitada. Além do grupo resistente a essa concepção que foi crescendo e criando bases mais fortes de oposição (ibidem). Uma evidência dessa afirmação é a realização no ano seguinte da Conferência de Brazaville, de 15 a 19 de Dezembro, encontro esse de inicialmente doze estados conservadores recém-independentesda França (Congo-Brazzaville, Senegal, Chade, República Centro-Africana, Costa do Marfim, Níger, Alto Volta, Mauritânia, Gabão, Benin, Camarões e Madagáscar) que fundaram a União Africana e Malgaxe (UAM) (ibidem). O isolamento das posições pan-africano radicais, junto com o encaminhamento dos conflitos na Argélia e no Congo e uma mudança na política do Ocidente acerca da secessão de Katanga, contribuiu para uma reconciliação de diversos Estados, culminando na formação da Organização da Unidade Africana (OUA) em 1963. (Wolfgang, 2002, p. 9). A formação da Organização da Unidade Africana vai afirmar basicamente a postura do Grupo de Monróvia. A conferência que deu origem a instituição abriu oportunidades para ambos os grupos colocarem suas propostas, sendo vencedor os minimalistas que defendiam arduamente a não - ingerência nos estados africanos independentes e a não revisão das fronteiras herdadas do período colonial. Abaixo se segue uma parte do discurso de “inauguração” da OUA, palavra do imperador Halie Salassie (Etiópia), figura única do continente africano e governante do país que se tornou sede da organização, "Reunimo-nos para reforçar o nosso papel na condução dos assuntos do mundo e para cumprir o nosso dever para com este grande continente... O conhecimento da nossa história é indispensável para estabelecer a nossa personalidade e a nossa identidade de africanos. Proclamamos hoje aqui que a nossa maior tarefa consiste na libertação definitiva de todos os nossos irmãos africanos que se encontram ainda sob o jugo da exploração e do domínio estrangeiro... Sejamos isentos de recriminação e de rancor... Que a nossa acção (SIC) se coadune com a dignidade que reclamamos para nós próprios como africanos orgulhosos das nossas qualidades próprias, das nossas características e das nossas capacidades. Temos de evitar, antes de tudo, cair nas ciladas do tribalismo. Se nos dividirmos entre nós numa base tribal, isso constitui um convite à intervenção estrangeira, com todas as consequências nefastas que daí advém. “Reconhecendo que o futuro deste continente reside em última instância, numa reunião política, 39 devemos reconhecer também que são numerosos e difíceis os obstáculos a vencer para lá chegar”. “Por consequência, é inevitável um período de transição”... Certas organizações regionais devem assumir funções e satisfizer necessidades que não poderiam ser satisfeitas de outra maneira. Mas o que existe de diferente aqui é que reconhecemos estas situações no seu justo valor, isto é, como sucedâneos e expedientes temporários de que nos servimos até o dia em que tivermos atingido as condições que tornem possível a unidade africana total ao nosso alcance... Esta conferência não pode terminar sem a adopção de uma carta africana única. Não nos podemos separar sem criar uma organização africana una que reúna os atributos que descrevemos. A carta africana de que falamos deve ficar de harmonia com a das Nações Unidas." (Ki-Zerbo, 1972). 1.3.8. O Exemplo da Ásia A emancipação da Ásia desempenhará um papel muito mais directo ainda neste campo. Depressa, com efeito, se instaurou uma solidariedade natural entre os dois continentes habitados por povos de cor, subdesenvolvido, por povos colonizados. A derrota do Japão consagrava o recuo da Ásia imperialista. Ora, ao evacuar as suas aquisições de guerra, e para semear ratoeiras debaixo dos pés dos ex-colonizadores europeus, o Japão considera a independência à todos os povos que controlava. Operou-se nestes países uma descolonização mais ou menos sangrenta (sendo os dois casos extremos a Birmânia e a Indochina Francesa). No Vietname, a derrota francesa de Dien Bien Phu (1954), teve profunda repercussão em África, quanto mais não fosse porque havia ali lutado contra os vietnamizes, sob controlo francês, umas boas dezenas de milhares de Negros (Ki-Zerbo, 2002). Os dois gigantes da Ásia, cujo peso demográfico constitui um terço da humanidade (a Índia e a China), vão também exercer um papel de primeiro plano no nacionalismo negro-africano. A independência da Índia (1947), apesar das circunstâncias deploráveis que a rodearam e das chacinas da sua divisão, irá influenciar fortemente os africanos, sobretudo os anglófonos. A personalidade do Maatma Gandhi, cuja força moral fez ceder o leão britânico popularizou nos tópicos as técnicas da luta política não violenta. A China de Mao Tsé-Tun, pelo contrario reinterpretando a teoria de Marx para mobilizar o mais espantoso formigueiro humano, e a reeditar numa escala superior o milagre económico alcançada no Japão por vias capitalistas 1.3.9. O Exemplo da África do Norte 40 No norte de África, há que se considerar algumas figuras como: o coronel Gamal Abd el-Nasser (do Egipto), destacado pela nacionalização da Companhia do Canal de Suez, Bourguiba (da Tunísia), Mohammed Bem Yussef, que encabeçaram diversas lutas no protectorado do Magrebe(em Marrocos) (Ki-Zerbo, 2002: p. 164). Em minha opinião, após estes proclamarem suas independências, vão se solidarizar com o resto do continente que ainda se encontrava sob julgo colonial, facto que irá fomentar o nacionalismo noutros cantos do continente. 1.3.10. As Contradições Internas do Colonialismo Assim, os próprios princípios coloniais, inculcados pela educação e prática administrativa, iriam conduzir a reivindicação anti-colonialista. Por exemplo: os franceses diziam, em suma, aos africanos: «somos todos iguais». Os nacionalistas negros ao exigirem esta igualdade até ao fim revelavam o absurdo desta posição. Também os negros anglófonos pegaram, por assim dizer, nas próprias palavras dos ingleses, propondo-lhes: «pois que vós quereis que sejamos diferentes, vamos até ao fim. Queremos ser diferentes mesmo politicamente» (Ki-Zerbo, 2002). As duas atitudes conduziram à secessão. Portanto, directa ou indirectamente, por meio tanto da prática como da teoria colonial, a colonização ia conduzir ao anticolonialismo e negava-se nele (ibidem). Thomas Hodgkin, «salientou as contradições impulsionadoras que existiam entre os princípios e a prática nos actos dos países colonizadores, por exemplo, entre o princípio da indirect rule, utilizando as instituições locais e as necessidades de ter em conta as classes médias de africanos destribalizados, assim, como entre o principio francês da igualdade sem restrições raciais e, por outro lado, a necessidade de conservar para a França a sua identidade e o seu poder de direcção. Não esqueçamos também, que os países colonizadores não apresentavam uma frente homogénea a este respeito (ibidem). Desde a origem das colónias, sempre se houve europeus que se insurgiam contra os crimes da colonização ou mesmo contra a própria colonização. E, justamente ao acabar a guerra, os países da Europa Ocidental, vêm chegar ao poder partidos 41 da esquerda, tradicionalmente anticolonialistas (partido trabalhista em Inglaterra, governo de colonização em França). Estes partidos não podiam preconizar nos seus países, um programa social ousado (voto das mulheres, segurança social, nacionalização, etc.) (ibidem). 1.3.11. Os Sindicatos Africanos Em África, certas categorias sociais mais sensibilizadas aos problemas gerais, vão tornar-se intérpretes naturais e catalisadores das aspirações difusas das massas: são os sindicatos e os intelectuais. O movimento sindical, conheceu um desenvolvimento tardio na África Negra. A maturação económica que é a condição prévia e indispensável, encontrava-se em atraso, pois a industrialização era praticamente interdita pela essência do «pacto colonial». Somente por volta de 1930, reconhecerá a Grã-Bretanha, o direito sindical no seu império (Ki-Zerbo, 2002). Não será demasiado sublinhar o papel destes sindicatos no crescimento do nacionalismo africano. A mínima análise do fenómeno colonial, no seu aspecto de dominação económica,