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Gestão da informação e do conhecimento Eduardo Amadeu Dutra Moresi O valor da informação A importância da informação para as organizações é univer- salpente aceita, constituindo, senão o mais importante, pelo menos um dos recursos cuja gestão e aproveitamento estão diretamente relacionados ao sucesso desejado. A informação também é consi derada e utilizada em muitas organizações como um fator estrutu- rante e um instrumento de gestão. Portanto, a gestão efetiva de uma organização requer a percepção objetiva e precisa dos valores da informação e do sistema de informação. A aceitação de que a informação possui um valor da mesma forma que outros recursos da organização é, ainda, um assunto polêmico. As diferenças da informação em relação a outros recur sos dificultam ou impossibilitam a sua categorização em termos econômicos. Essas dificuldades motivam as organizações, como alter nativa ao gerenciamento da informação, a direcionar os seus esfor ços de gestão sobre as tecnologias da informação (King & Kraemer, 1988), por encontrarem aí maior aplicabilidade de seus modelos tradi cionais. Basicamente, a informação tem duas finalidades: para conhe cimento dos ambientes interno e externos de uma organização e pâfaatuaçãonessesambieiites(Chaumier,1986).Umaderivação dessa classificação deve ser feita em função do papel que a infor mação pode desempenhar nas atividades de uma organização, con forme é apresentado na figura 1. 112 Eduardo Amadeu Dutra Moresi Reconhecendo a importância da informação, muitas organiza ções não são sensíveis a alguns excessos na busca e na manutenção da informação. Os esforços principais de uma organização devem priorizar a busca e a manutenção da informação crítica, mínima e potencial, respectivamente. Em relação à informação sem interes se, o esforço é, obviàménte, no sentido de evitar-se desperdício de recursos na sua obtenção. A aceitação do princípio subjacente a classificações como esta é comum e utilizada em muitas aborda gens de gerenciamento da informação. Contudo, a operacionaliza- ção desse princípio é muito delicada, pois a classificação de uma dada informação, em particular, em uma destas classes é, obvia mente, um problema de difícil resolução prática. Para minimizar esta dificuldade na classificação, é imprescin dível compreender um outro princípio, o do valor da informação. Antes disso, é preciso definir qual o conceito aqui adotado para o termo informação. No contexto deste trabalho, o conceito mais adequado é o seguinte: estruturas significantes com a competência de gerar conhecimento no indivíduo, em seu grupo, ou na socieda de (Barreto, 1996). Figura 1 - A classificação da informação segundo a sua finalidade para uma organização Gestão da informação e do conhecimento 113 Como é possível admitir que a informação possua valor, é preciso definir parâmetros capazes de quantificá-lo, o que não é uma tarefa trivial. Uma das maneiras é por meio dos juízos de va lor, que, apesar de serem indefinidos, consideram que o valor varia de acordo com o tempo e com a perspectiva, e pode, em certos casos, ser negativo, como acontece na sobrecarga de informação. Sob essa perspectiva, o valor da informação pode ser classifi cado nos seguintes tipos (Cronin, 1990): - valor de uso: baseia-se na utilização final que se fará com a informação; - valor de troca: é aquele que o usuário está preparado para pagar e variará de acordo com as leis de oferta e de deman da, podendo também ser denominado valor de mercado; - valor de propriedade que reflete o custo substitutivo de um ^ bem;r - valor de restrição que surge no caso de informação secreta ou de interesse comercial, quando o uso fica restrito apenas a algumas pessoas. Muitas vezes não é possível quantificar o valor da informação ao estabelecer uma equivalência a uma quantia em dinheiro. Por ser um bem abstrato e intangível, o seu valor estará associado a um contexto. Assim, os valores de uso e de troca poderão ser úteis na definição de uma provável equivalência monetária. Por exemplo, uma empresa que atua em Bolsa de Mercadorias, mais especificamente no Mercado Futuro, terá grande interesse em informações relativas à produção agrícola de um determinado país ou região. Tal empresa, provavelmente, alocará recursos na t>usca sistemática desse tipo de informação, a qual será utilizada na determi nação de indicadores de uma tendência e fundamentará decisões sobre o tipo de investimento a ser realizado, o que caracterizará a importância dos valores de uso e de troca. ------Considerando que, a partir delas, poderá ser obtido algum tipo de vantagem competitiva ou de diferencial de mercado, tais infor mações assumirão um valor de restrição para que se possa preser var o sigilo da aplicação. 114 Eduardo Amadeu Dutra Moresi Entretanto, uma organização governamental ou não que reali ze censos demográficos, de estilo de vida ou algum outro tipo de pesquisa de acompanhamento, deverá manter, por razões legais, o armazenamento de dados e de séries históricas sem que haja uma explícita intenção de exploração ou de uso. Nesse caso, a informa ção terá um valor de propriedade. O ponto principal é perceber a informação como pertencentes a dois domínios (Van Wegen & De Hoog, 1996). No primeiro de les, ela deve atender às necessidades de uma pessoa ou de um gru po. Nesse casó, a disponibilização da informação deve satisfazer os seguintes requisitos: - ser enviada à pessoa ou ao grupo certos; - na hora certa e no local exato; - na forma correta. O segundo domínio é o da organização, a qual introduz ques tões a respeito da determinação do valor da informação. Nesse contexto, o valor da informação está relacionado ao seu papel no processo decisório. A determinação do valor somente do conteúdo parece um corolário natural do uso da informação como um insu- mo da tomada de decisão. Entretanto, ainda que a informação ad quira seu valor a partir de seu papel na tomada de decisão, o produto informacional como um todo também agrega valor a ou tras atividades no processamento da informação. Gabe então uma questão: a informação possui um valor eco nômico? Ela terá valor econômico quando levar à satisfação dos desejos humanos. Uma pequena parcela da informação disponível constitui-se em produtos finais, ou seja, aqueles que são consumi dos diretamente pelas pessoas, cujo valor deriva-se da oferta e da procura. A porção majoritária, porém, cabe aos bens intermediários, que são aqueles que conduzem a outros bens e serviços. Nesse caso, o valor estará diretamente relacionado ao dos bens e dos ser viços dos que deles se utilizam (Dertouzos, 1997). Da mesma maneira, a informação terá valor econômico para uma organização, se elà gerar lucros ou for alavancadora de vanta Gestão da informação e do conhecimento 115 gem competitiva. Cronin (1990) afirma que, de modo geral, a per cepção de valor pode ser influenciada pelos seguintes fatores: - identificação de custos; - entendimento da cadeia de uso; - incerteza associada ao retorno dos investimentos em infor mação; - dificuldade de estabelecer-se relações causais entre os insu- mos de informação e produtos específicos; - tradição de tratar-se a informação como uma despesa geral; - diferentes expectativas e percepções dos usuários; - fracasso em reconhecer o potencial comercial e o significa do da informação. Para concluir este item, é importante reconhecer que, de modo gepd, poucas decisões são tomadas com informação perfeita, em virtude de alguma insuficiência de informação e/ou de uma sobre carga de informação desnecessária. O valor da informação é uma função do efeito que ela tem sobre o processo decisório. Se a in formação adicional resultar em uma decisão melhor, então ela terá valor. Caso contrário, ela terá pouco ou nenhum valor (Wetherbe, 1987). A figura 2 sintetiza esses aspectos, ao mostrar que uma mesma informação poderá ter valor diferenciado, dependendo do contexto da organizações.Figura 2 - 0 valor da informação depende do contexto da organização (Fonte: Moresi, 2000, p. 17) 116 Eduardq.Àrnadçu Dutra Moresi Assim, o valor da informação pode ser traduzido em uma equação que contenha todos os fatores que influenciam a avaliação de valor da informação. É preciso definir quem é o cliente, qual a finalidade de utilização da informação, qual a utilidade para outros clientes e os resultados esperados. Portanto, a figura 3 apresenta uma ilustração dessa equação, que procura resumir a função que define o valor da informação (VI). VI = função (informação, organização, finalidade, ações e resultados) Figura 3 - A equação de valor da informação (Fonte: Moresi, 2000, p. 18) Os níveis hierárquicos da informação no processo decisório de uma organização A atividade máxima de qualquer executivo, independente mente de seu posicionamento hierárquico em uma organização, é a tomada de decisão. Este é ò momento no qual ele demonstra toda a sua capacidade de conduzir os seus subordinados e sua razão de ser dentro dela. Os executivos passam grande parte do seu tempo estudando o ambiente e procurando identificar as possíveis linhas de ação. A tomada de decisão é muito mais do que o momento final da escolha e é um processo complexo de reflexão, investigação e análise. No processo decisório, o volume de informações e de dados colocados à disposição do decisor deve ser na medida certa. Se esse volume for excessivo, os dados e as informações pertinentes à solução do problema serão mascarados por aqueles considerados espúrios. Para resolver este problema, é necessário escalonar a informação em uma hierarquia capaz de diferenciar as necessida des nas diversas situações, o que reforça a importância de reco nhecer que a informação possui valor. Gestão da informação e do conhecimento 117 Genericamente, o termo informação é usado para referir-se a todas as maneiras de descrição ou representação de sinais ou da dos. Mas é importante reconhecer que existem, de fato, quatro classes diferentes de informação, que são as seguintes: dados, in formação, conhecimento e inteligência. Então, é preciso entender as diferenças entre essas classes, porque elas possuem valores di ferentes no contexto do processo decisório. Os altos escalões de uma organização ou de uma empresa necessitam de informação qualitativa, que contenha um alto valor agregado, para que se possa obter uma visão global da situação. Já nos escalões inferio res, a necessidade será de informação, quantitativa de baixo valor agregado, que possibilite o desempenho das tarefas rotineiras. A figu ra 4 apresenta lyn diagrama dessa hierarquia das classes de infor mação. Dados compreendem a classe mais baixa de informação e incjnem os itens que representam fatos, textos, gráficos, imagens estáticas, sons, segmentos de vídeo analógicos ou digitais, etc. Os dados são coletados, por meio de processos organizacionais, nos ambientes interno e externo. Em suma, dados são sinais que não foram processados, correlacionados, integrados, avaliados ou interpretados de qualquer forma. Essa classe representa a matéria- prima a ser utilizada na produção de informações. A próxima classe é a da informação propriamente dita. Nesta classe os dados passam por algum tipo de processamento para serem exibidos em uma forma inteligível às pessoas que irão utilizá-los. Processar dados inclui a revelação de fotografias de um filme, as transmissões de rádio transformadas em um formato de relatório padronizado, a exibição de arquivos de computador como texto ou gráfico em uma tela, a grade de coordenadas em um mapa, etc. O processo de transformação envolve a aplicação de procedimentos que incluem formatação, tradução, fusão, impressão e assim por diante. A maior parte deste processo pode ser executada automaticamente. 118 Eduardo,Amadeu Dutra Moresi Figura 4 - Os níveis hierárquicos da informação (Fonte: Moresi, 2000, p. 18) Uma vez que dados tenham sido transformados em informa ções, pelo menos em uma interpretação inicial, é possível refinar as informações por meio de um processo de elaboração. As infor mações resultantes desse processo incluem características adi Gestão da informação e do conhecimento 119 cionais do problema, geram hipóteses, consequências das hipóte ses, sugerem soluções para problemas, explanação e justificativas de sugestões, crítica de argumentos, etc. Portanto, a transformação de dados em informações deve ser vista, simplificadamente, como um tipo de pré-processamento de um processo de elaboração. O próximo nível é o do conhecimento, o qual pode ser defini do como informações que foram avaliadas sobre a sua confiabili dade, sua relevância e sua importância. Nesse caso, o conhecimento é obtido pela interpretação e integração de vários dados e informa ções para iniciar a construção de um quadro de situação. O proces so de transformação é realizado por meio de avaliação de dados e de informações. Os insumos provenientes das diversas fontes são analisados e combinados na síntese de um produto final, o conhe cimento. É pór meio do conhecimento que aqueles que assessoram as decisões buscam uma compreensão mais efetiva da situação problema. O conhecimento não é estático: modifica-se por meio da inter ação com o ambiente e é denominado processo de aprendizado. Uma visão mais ampla é a de que o aprendizado é a integração de novas informações em estruturas de conhecimento, de modo a tor ná-las potencialmente utilizáveis em processos futuros de proces samento e de elaboração. Além disso, conhecimentos novos podem resultar de um processo de inferência na própria estrutura do co nhecimento. O nível mais alto dessa hierarquia é a inteligência, a qual pode ser entendida como a informação como oportunidade, ou seja, o conhecimento contextualmente relevante que permite atuar com vantagem no ambiente considerado. Também pode ser vista como o conhecimento que foi sintetizado e aplicado à determinada situa ção, para ganhar maior profundidade de consciência dela. Portan to, a inteligência resulta da síntese de corpos de conhecimentos, com o uso do julgamento e da intuição daquele que toma decisões, e obtém-se uma visualização completa da situação._____________ Idealmente, o entendimento de uma situação apoia o decisor na visualização do cenário e cria as condições para que o planeja mento possa ser realizado e as ações efetivadas. Além disso, podem ser revelados fatores críticos em qualquer situação, o que possibi- 120 Eduardo Amadeu Dutra Moresi lita a antecipação a eventos, por meio do reconhecimento das con- seqüências de desenvolvimentos novos ou iminentes ou dos efeitos de uma decisão. Por tudo isso, a inteligência deve ser a base do processo decisório, considerando que raramente é possível alcan çar a compreensão total. A transformação de conhecimento em inteligência é realizada por meio de síntese, o que é uma habilidade puramente humana, baseada em experiência e intuição, e vai muito além da capacidade de qualquer sistema especialista ou de inteligência artificial. Sínte se simplesmente não pode ser reduzida a procedimentos ou regras, por estes não considerarem o complexo. Por fim, a experiência pode ser definida como a efetividade da inteligência de uma organização, que é aperfeiçoada pelas decisões tomadas e consideradas como geradoras de algum tipo de vanta gem. Então, a experiência é uma agregação de valor ao processo decisório de uma organização, por refletir toda a sua capacitação para atuar com competitividade no seu ambiente externo. A estrutura do ambiente de informação das organizações Nesse momento será estudado o ambiente de informação de uma organização e seu relacionamento ao comportamento infor- macional. São apresentados quatro trabalhos de vulto: Taylor (1991), Katzer & Fletcher (1992), Rosenbaum (1996) e Davenport (1997). 0 ambiente de usò da informação segundo Taylor Taylor (1991) define o ambiente de uso da informação(IUE) como o conjunto daqueles elementos que (a) afetam o fluxo e o uso de mensagens de informação dentro e fora de qualquer entidade definível e (b) determinam o critério pelo qual o valor das mensa gens de informação será julgado. Além disso, ele descreve quatro categorias do IUE: grupo de pessoas, seus problemas, cenários típicos e resolução de problemas. Gestão da informação e do conhecimento 121 Na primeira categoria, grupo de pessoas, o autor identifica a divisão em quatro classes: profissões (engenheiros, advogados e administradores), empresários (fazendeiros, pequenos comerciantes), grupos de interesse especial (consumidores e cidadãos) e grupos socioeconômicos especiais (minorias e desinformados). Para estes grupos de pessoas, o autor recomenda a identificação daquelas variáveis demográficas as quais auxiliam a definir o ambiente e o comportamento informacional. Especificamente, ele sugere educa ção e status socioeconômico como variáveis demográficas prefe renciais em vez de idade, sexo e estado civil. Entre os termos não- demográficos, Taylor recomenda as seguintes variáveis como as mais importantes: uso da mídia, redes sociais e atitudes em relação à educação, novas tecnologias, riscos e inovação. Para a segunda categoria, o conjunto de estrutura e pressão de problemas que as pessoas tipicamente enfrentam, o autor declara qpe cada IUE definível tem sua própria classe discreta de proble mas e modificam-se com o tempo. Mais importante, problemas têm certas características, além do assunto específico, denominado dimensões do problema, o qual estabelece o critério para julgar a relevância da informação para um problema ou para uma classe de problemas. Nesse caso, “esse” critério pode ser usado para avaliar a utilidade da informação para uma determinada situação do usuá rio. Macmullin & Taylor (1984) identificaram 22 tipos distintos de dimensões de problema, apresentados como uma lista de onze categorias dicotômicas: 1) bem ou mal estruturado; 2) complexo ou simples; 3) concordância ou não das suposições; 4) familiar ou novos padrões; 5) projeto ou descoberta; 6) objetivos específicos ou amorfos; 7) entendimento ou não do estado inicial; 122 Eduardo Amadeu Dutra Moresi 8) suposições explícitas ou não; 9) magnitude da importância do risco ou não; 10) suscetível à análise empírica ou não; 11) imposição interna ou externa. Além disso, eles expõe o fato de estas dimensões não serem independentes umas das outras nem se aplicam a todas as situa ções. Adicionalmente, os autores esclarecem que a lista de dimen sões se baseia em uma análise apenas conceituai e as dimensões do problema podem não estar completas. Para a terceira categoria do IUE, cenários típicos, Taylor (1991) ressalta a importância do contexto físico e descreve como tal contexto afeta o modo de vida e de trabalho das pessoas, além da maneira como elas buscam e fazem uso da informação. Ele afirma que quatro fatores, em geral, influenciam o comportamento dos usuários de informação nas organizações: - a estrutura e o estilo da organização em termos de sua atitude em relação à informação e o efeito causai desta atitude no comportamento informacional dos empregados; - o domínio de interesse de cada unidade, ou seja, o tipo de necessidades pessoais de informação para execução de seus trabalhos; - o acesso à informação, isto é, as barreiras físicas e psicológi cas que podem inibir o acesso à informação; - o histórico e a experiência da organização, ou seja, a tendência da organização à burocratização, o que reduz o efeito de no vas informações. Para a quarta e última categoria, resolução de problemas, o autor enfatiza a necessidade de entender a maneira como as pessoas tipicamente antecipam as soluções para seus problemas.Existem dois componentes para isso. O primeiro refere-se ao modo como as pessoas usam informação para resolver seus problemas. A este respeito, identifica oito classes de uso da informação: 123Gestão da informação e do conhecimento - esclarecimento (o estado desejado para a informação e idéias sobre o contexto para obter sentido de uma situação); - entendimento do problema (melhor compreensão de pro blemas particulares); - instrumental (decisão sobre o que fazer e como fazer alguma coisa); - factual (a necessidade e conseqüente provisão de dados pre cisos); - confirmação (necessidade de verificar uma parte da infor mação); - projeção (relacionado com estimativas e probabilidades); - motivacional (envolvimento pessoal); - pessoal ou político (relacionamentos, status, reputação, rea lização pessoal). O segundo componente refere-se a como a informação deve sèr encapsulada e apresentada, visando a auxiliar pessoas a desco brir as soluções para seus problemas. Esse tratamento da informa ção representa atributos especiais que podem ser usados para definir os modos segundo os quais a informação pode ser identifi cada e apresentada. Além disso, esse tratamento pode estar relacio nado diretamente às dimensões de um problema. Em termos de tratamento da informação, identificam-se nove aspectos importantes (Macmullin & Taylor, 1984). Os autores de finem este tratamento como a forma característica de armazenar informação como descritores de temas. Os continuums são os se guintes: r r ( ( ( ( c ( ( ( c ( ( ( (' ( c ( ( c ( ( ( ( - quantitativo (de quantitativo até qualitativo); ^ - dados (de brutos até tratados); ^ - temporal (de históricos até previsões); ( - solução (de simples até soluções múltiplas); ç - foco (de factual até informações difusas); - especificidade de usõ (de teórica até aplicada); ^ - substantivo (de operacional até descritivo); ( - agregação (de informação detalhada até agregada); ç - causal/diagnóstico (de por que até o que está acontecendo). ( c 124 Eduardo Amadeu Dutra Moresi 0 ambiente informacionalde Katzer & Fletcher para gerentes Usando, assim, o contexto e o indivíduo como dois pontos de início razoavelmente fixos, Katzer & Fletcher (1992) formularam um modelo baseado nas características do modelo de Taylor (1991), denominado pessoas (isto é, gerentes), suas escolhas organizacio nais, seus problemas típicos e seus intervalos aceitáveis de resolução. O cerne do modelo é a noção de que gerentes, enquanto observam seus ambientes informaciònais, eònfròntam-se com situações proble máticas. Aqui, uma situação problemática é um subconjunto defi nido pessóalmenie do obscuro e inacabável fluxo de eventos e de significados que continuamente fluem por meio da vida de um indivíduo. Pela identificação de partes selecionadas deste fluxo, pela colocação de uma fronteira difusa em torno destas partes e pela rotulação destas partes como uma simples entidade que requer atenção e possível ação, as pessoas criam unia situação problemá tica. Uma situação problemática pode ser pensada como aquela que exigirá ação cognitiva e talvez comportamental para que seja resolvida separadamente. Apesar de uma situação problemática ser criada e definida por intermédio de um único indivíduo, ela é for matada pelas características de escolha. Assim, é por meio do con ceito de situações problemáticas que o IUE e o comportamento informacional estão correlacionados. De acordo com o modelo, por ocasião da resolução de situa ções problemáticas, os gerentes exibem seus comportamentos infor- macionais, os quais são ações que contribuem para a utilidáde da informação. Nesse sentido, os gerentes determinam a busca ou não da informação, qual informação buscar, onde buscá-la, como bus cá-la, quando buscá-la, como interpretá-la e como usá-la. As respostas pessoais a essas questões indicam o comportamento informacional. Além disso, como os gerentes apresentam um comportamento informacional, situações problemáticas mudam com o tempo. Ou seja, novas incertezas e preocupações podem surgir, atividades ou papéis diferentes tomam-se dominantes e outras dimensões aumentam em importância. Enquanto uma situação permanecenão resolvida, comportamentos informaciònais adicionais surgirão. Estes são Gestão da informação e do conhecimento 125 influenciados pelas definições atuais dos gerentes sobre a situação e pelas preferências atuais de atividades, papéis e dimensões. Este processo continua até a situação problemática estar resolvida na mente do gerente. O significado desse modelo é o de que ele tenta explicar como o IUE influencia o comportamento informacional, um tópico não muito claro na abordagem de Taylor (1991). Isto é feito por meio do conceito de situação problemática que provê um mecanismo para relacionar o cenário organizacional com o comportamento informacional dos gerentes. Entretanto, o modelo sugere relações causais unidirecionais entre o IUE e o comportamento informacional. Katzer & Fletcher (1992) ressaltam que isto é uma grande simplifica ção, muito provavelmente algumas das ligações são bidirecionais. Este modelo proporciona um bom entendimento da relação entre o ambiente e o comportamento informacional. O modelo de Rosenbaum Rosenbaum (1996) avança sobre o modelo de valor agregado de Taylor (1991) por meio de esclarecimentos adicionais da rela ção entre o IUE e o comportamento informacional. Em sua tese de doutorado, desenvolveu e verificou um novo referencial para des crever as necessidades e o uso de informação por gerentes em or ganizações do setor público. Ele recomenda o trabalho de Taylor sobre o ambiente de uso de informação como uma perspectiva a respeito das abordagens centradas no usuário e nos sistemas para determinação das necessidades e uso da informação. Porém, Ro senbaum expõe que os çonstructos de Taylor são ambíguos e a relação entre IUE e comportamento informacional necessitam ser elucidadas. Especificamente, Rosenbaum rejeita o poder de determinar e de gerar atributo aos IUE incluindo as habilidades de gerar pro- blemas, criar necessidades de informação e produzir comporta mentos informaciònais, como também refuta a definição de Taylor de comportamento informacional como um prodiito de quatro ele mentos do IUE (isto é, conjunto de usuários, problemas, cenários 126 Eduardo Amadeu Dutra Moresi e resolução de problemas), ém que é sugerida uma influência uni - direcional da estrutura sobre o comportamento, e não reconhece ura possível efeito de contra-influência do comportamento in- formacional no IUE. Além disso, ele não concorda com a inclusão do conjunto de pessoas no IUE. Para melhorar o modelo de Taylor, Rosenbaum recorre à teo ria de estruturação de Giddens (19$4). Esta última é uma teoria que atravessa o debate no campo da sociologia, se a sociedade molda o indivíduo ou se o indivíduo molda a sociedade. De acordo com Giddens, ambas são verdadeiras, indivíduos ativamente mol dam o mundo em que vivem, como o mundo, simultaneamente, molda-os. Existem três componentes primários da teoria de Giddens que Rosenbaum ressalta para melhorar o modelo de Taylor: interação, estrutura e dualidade de estrutura. Interação compreende a ação de duas ou mais pessoas. Aqui, somente pessoas podem agir e o resultado de suas ações geram a vida social. Pessoas são conside radas como atores esclarecidos que possuem conhecimento discur sivo e prático. O primeiro refere-se ao conhecimento que as pessoas podem articular, enquanto o último, ao conhecimento tácito das pessoas. Existe também o conhecimento mútuo - baseado em re gras processuais e normativas de interação social encontradas em pessoas conscientes e invocadas tacitamente na interação. Como as pessoas interagem, elas usam esses diferentes tipos de conhecimento os quais resultam em prática social; e tais práticas sociais recor rentes dénóminam-se sistemas sociais. Estrutura são as regras e os recursos relativos à produção e re produção dos sistemas sociais. De acordo com Giddens, a estrutura é reproduzida na interação social quândo as pessoas se engajam nas práticas sociais de rotina. A dualidade de estrutura é o processo pelo qual estrutura e interação inter-relacionam-se. A estrutura provê as regras e os re- cursos que influenciam as pessoas quando elas se interagem. En- tretanto, ela é livre para determinar regras e recursos alternativos; em geral, as pessoas, não. Em vez disso, elas atuam da mesma ma neira que atuou no passado, não intencionalmente, reverificando, assim, as regras e os recursos da estrutura e replicando práticas Gestão da informação e do conhecimento 127 sociais através do tempo e do espaço. Existe uma bidirecionalidade no relacionamento entre estrutura e interação à medida que uma depende da outra para sua existência. Com o uso da teoria de Giddens (1984), Rosenbaum identifica o conceito de Taylor (1991) sobre IUE como um componente estrutu ral e o comportamento informacional como uma ação orientada. Especificamente, ele desenvolve uma abordagem de valor adicio nado de informação estruturada para descrever as necessidades de informação e seu uso pelos gerentes. A figura 5 apresenta uma ilustração deste modelo de Rosenbaum. Estrutura organizacional: J^mbiente de uso da informação / \ V7 Interação social: Comportamento informacional Tempo Regras Recursos Problemas Resolução de problemas Produção Coleção Filtragem Compartilhamento Figura 5 - A abordagem de Rosenbaum No referencial de Rosenbaum, o IUE é estrutural por natureza e compreende regras, recursos, problemas e resolução de proble mas. Aqui, o IUE tem uma existência virtual até instanciar-se na ação e é rotineiramente produzida pelas práticas sociais ou com portamentos informacionais dos usuários. < ----- Comportamentos informacionais são descritos como ações orientadas, as quais existem fora da estrutura do IUE. Eles podem ser agrupados e vistos como práticas sociais existentes no mundo. Adicionalmente, comportamentos informacionais não são gerados 128 Eduardo Amadeu Dutra Moresi ou produzidos por um IUE, embora possam, certamente, ser com pelidos, moldados e facultados por um IUE. Além disso, existe uma bidireçionalidade no relacionamento entre o IUE e o comportamento informacional em que cada um influencia o outro. A existência de cada um torna o outro possível, e nem existe significado sem o outro. Nesse campo de estudo, Rosenbaum encontra evidências para sustentar seu modelo. Ele também identifica a extensão do com portamento informacional exibido por gerentes em seu estudo, que inclui produção, coleção, filtragem e compartilhamento da infor mação. Além . disso, ele nota divergências entre os elementos do IUE quando diferentes gerentes usam regras conflitantes, recursos e suposições sobre problemas e resolução de problemas. Um aspecto interessante sobre o referencial de Rosenbaum é que ele oferece uma explanação para a persistência no tempo do comportamento informacional nas organizações. Isso ocorré.quan do usuários tentam resolver situações problemáticas e se engajam em comportamentos informacionais. Eles esboçam as regras, os recursos, os problemas e as suposições da resolução de problemas do IUE. Entretanto, usuários podem optar em não ser influenciados pelos componentes do IUE, eles tendem não para, e, como um re sultado, acabam não intencionalmente reverificando a estrutura do IUE. Isso explica como o mesmo comportamento informacional de gerentes, isto é, a produção, a coleção, a filtragem e o comparti lhamento da informação são repliçaclos através do tempo e espaço nas organizações. O referencial de Rosenbaum é importante, uma vez que me lhora o modelo de valor agregado de Taylor de duas maneiras si gnificativas: 1) esclarece o relacionamento entre o IUE e o comporta mento informacional; 2) enfatiza a influência bidirécional desses dois constructos um no outro. Ele também é um valioso referencial conceituai que pode ser usado em ciência da informação para conduzir pesquisa sobre in formação nas organizações. Também oferece uma abordagem teó Gestão da informação e do conhecimento 129 rica proveitosa no aprendizadosobre as maneiras em que pessoas em uma grande variedade de cenários se engajam em comporta mentos informacionais, criando e recriando seus ambientes de uso de informação no tempo. O modelo de ecologia da informação de Davenport Um trabalho recente desenvolvido por Davenport (1997) en fatiza a necessidade de entender os ambientes de informação e a maneira como as pessoas usam a informação na execução de suas tarefas. Ele critica os esforços tradicionais de gerenciamento da informação, que dão grande ênfase ao uso de tecnologia ou suge rem que a informação seja como outro recurso corporativo valioso como capital e trabalho. Nesse trabalho, ele sugere uma novidade, umj^abordagem holística, denominada ecologia da informação, qüe enfoca a maneira como as pessoas criam, distribuem, enten dem e usam informação. A relevância do trabalho de Davenport está no entendimento de como os usuários se comportam em seus ambientes informacio nais. Ele sugere que os fornecedores de informação que desejam atende; às necessidades dos clientes não devem direcionar as pes soas a nenhum tipo particular de informação. Somente tom o co nhecimento de como as pessoas buscam, compartilham, estruturam e percebem a informação, é que os fornecedores de informação facilitarão seu uso efetivo. Para auxiliar as organizações a gerenciar a informação da melhor maneira, o autor propôs um modelo ecológico de gestão da informação. Este modelo consiste de três ambientes específicos: o ambiente informacional, o ambiente da organização e o ambiente externo. A figura 6 apresenta uma visão geral deste modelo. -130 Eduardo Amadéü Dutra Moresi Ambiente Externo Negócios, Tecnologia e Informação Ambiente da Organização Negócios, Espaço físico e Tecnologia Ambiente Informacionai • Estratégia da informação • Política da informação • Cultura e comportamento em relação à informação • Equipe especializada em informação • Processos de gerenciamento da informação ■ Arquitetura da informação Figura 6 - 0 modelo ecológico para gerenciamento da informação Nesse modelo, Davenport coloca o ambiente informacionai dentro dos ambientes externo e organizacional. O ambiente exter no consiste em informações sobre três tópicos fundamentais: mer cados de negócios em geral, mercados tecnológicos e mercados de informação. O ambiente organizacional consiste de fatores inter nos, tais como a situação global dos negócios, os investimentos em tecnologia e a distribuição física, em que todos eles afetam o am- / biente informacionai da organização. 0 ambiente informacionai está no núcleo da abordagem eco lógica e abrange os componentes mais críticos da ecologia da informação - estratégia, política, comportamento/cultura, equipe, pro- cessos e arquitetura._________ 0 primeiro componente, a estratégia da informação, refere-se à intenção informacionai de alto nível de uma organização acerca de itens, tais como conteúdo da informação, informação comum, processos de informação e novos mercados de informação. Davenport Gestão da informação e do conhecimento 131 (1997), de acordo com sua visão sobre mudança ecológica, diz que uma estratégia da informação deve ser flexível. Além disso, ele desenvolve um conjunto de princípios básicos, que são muito mais adequados para expressar a estratégia da informação de uma orga nização. O segundo componente, a política da informação, é compo nente crítico e envolve o poder proporcionado pela informação e as responsabilidades da direção em seu gerenciamento e uso. Em um trabalho anterior (Davenport et al., 1992), os autores alertam sobre o efeito da política no gerenciamento da informação. Eles descrevem como tentar criar organizações baseadas em informação e mostram que com freqüência as empresas procuram implementar estratégias ou iniciativas informacionais inconsistentes com sua estrutura política, o que leva ao fracasso. Eles identificam cinco modelos políticos de gerenciamento da informação: 1) utopias tg^ãocráticas, em que se admite o fato de a tecnologia poder resol ver todos, os problemas de gerenciamento; 2) anarquia, em que os indivíduos gerenciam as suas próprias informações, freqüente- mente assumindo seus próprios riscos; 3) feudalismo, em que os gerentes de cada unidade definem as suas necessidades de infor mação e compartilham de modo limitado as suas informações com o restante da organização; 4) monarquia, quando um indivíduo ou uma função central controla a maior parte das informações da or ganização, especifica os tipos de dados que são importantes, esta belece significados para elementos-chave e, até mesmo, procura controlar a maneira como a informação é interpretada; 5) federa lismo, quando existe consenso e negociação entre as diversas uni dades organizacionais sobre o uso da informação. Davenport prefere o federalismo, por causa de sua abrangência em relação à existência da política e de sua necessidade para negociações racio nais. Entretanto, ele alerta que esta abordagem não é apropriada para todas as organizações. O próximo componente, cultura e comportamento em relação à informação, refere-se a dois fatores que estão relacionados e são muito importantes na criação de um ambiente informacionai bem- sucedido - e talvez sejam os mais resistentes à mudança. 0 com portamento em relação à informação, positivo ou negativo, forma a r r C ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( c c í < j ( ; 4] --- - ( ! í ! c ( C I 132 Eduardo Amadeu Dutra Moresi cultura informacional de uma organização. Essa cultura determina se os envolvidos valorizam a informação, se a compartilham por meio das barreiras organizacionais, trocam-na interna e externa mente, capitalizam-na nos negócios. Além disso, Davenport identifica três espécies fundamentais de comportamento ligadas à informação que melhoram o ambiente informacional de uma organização: compartilhamento, administra ção da sobrecarga de informações e redução de significados múlti plos. Se as organizações pretendem criar culturas de informação que sejam saudáveis, seus funcionários precisam conhecer e utili zar esses três tipos de comportamento. O compartilhamento da informação é definido como o ato voluntário de colocá-la à disposição de outros. Compartilhar não pode ser confundido com relatar, que é uma troca involuntária de informações de maneira rotineira ou estruturada. O compartilha mento requer uma remoção ativa de várias barreiras políticas, emocionais e tecnológicas para o gerenciamento. A administração da sobrecarga de informações consiste no compromisso, um termo que Davenport usa para descrever a ne cessidade de transmitir a informação de uma forma que estimule as pessoas certas a reconhecê-la e a utilizá-la. Embora essa finalidade pareça óbvia, tal compromisso não é coisa simples. De acordo com Davenport, quase sempre obtemos êxito quando nos empenhamos na filtragem de informações, e é esta filtragem que auxilia as pes soas a gerenciar a sobrecarga de informações. O autor reconhece a dificuldade em tentar alcançar este tipo de compromisso. Ele ressalta um fato muito comum na vida das organizações: a maioria das informações é comunicada em forma visual ou de leitura. Assim, as pessoas recebem informação passi vamente. Até mesmo quando os fornecedores de informação procuram torná-la mais atraente - apelando para o uso de gráficos ou de resumos -, o usuário costuma notar apenas alguns desses atributos. Apresentar informação dessa maneira tem pouca chance de afetar o comportamento de alguém. Para abordar esse problema, Davenport recomenda o uso de táticas de alto nível na escala de compromisso da informação, que compreende, em ordem crescen te, a seguinte hierarquia: leitura/visualização, ação/discussão, ar Gestão da informação e do conhecimento 133 gumentação/defesa, apresentação/ensino e ao vivo/simulado. Além disso, ele lista atributos secundários que melhoram o compromis so. Estes atributos são o conteúdo, a fonte e a situação,tais como interesse emocional; originalidade e experiência percebida do for necedor de-informação. A maioria não apenas melhora a transfe rência da infòrmação, mas também reduz os efeitos da sobrecarga de'informações. O terceiro e último tipo de comportamento informacional, que é fundamental para a melhoria do ambiente de informação, refere- se à redução de significados múltiplos. O autor sugere que a exis tência de significados múltiplos para termos usados em uma orga nização não é sempre uma coisa ruim; muito pelo contrário, demonstra interesse por um item informacional. Entretanto, ele alerta existirem horas em que múltiplos significados devem ser gerenciados e controlados, o que necessita da cooperação dos fun- cigpários interessados no termo. " O quarto componente do ambiente de informação, a equipe especializada em informação, refere-se às pessoas de uma organi zação necessárias para fornecer e interpretar informação para ou tros funcionários. Estas pessoas não incluem apenas profissionais da área de tecnologia, mas especialistas de conteúdo, tais como bibliotecários e pesquisadores de mercado, e guias de informação, que auxiliam os usuários a identificar suas necessidades de infor mação e o acesso a múltiplos tipos de informação. Davenport res salta que o principal objetivo de tal equipe é tornar a informação significante. Portanto, ele recomenda à equipe conseguir atingir este objetivo por meio do fornecimento de informação que seja precisa, oportuna, acessível, aplicável e rara. Os processos de informação, o quinto componente, mostra como o trabalho é feito e consiste de todas as atividades realizadas pelos trabalhadores da informação. Tais atividades incluem a determina ção das exigências, obtenção, distribuição e utilização. Os proje tistas dos processos de informação necessitam focar nos problemas do usuário e na situação atual. O sexto e último componente é a arquitetura da informação. Ele o define como simplesmente um guia para estruturar e localizar a informação dentro de uma organização. Ele ressalta que a arqui 134 Eduardo Amadeu Dutra Moresi tetura tanto pode ser descritiva, tal como um mapa do ambiente informacional atual, ou prescritiva, como na criação de um modelo futuro do ambiente de informação. Além disso, ele acentua que a arquitetura deve ser legível para todos os funcionários, incorpore ambas as fontes de informação (baseadas em computador ou não) e influencie o comportamento e a cultura. A abordagem ecológica de Davenport para o gerenciamento da informação fornece uma descrição detalhada do ambiente de informação. Ela traz a consciência da importância do comporta mento informacional do usuário e oferece uma série de idéias para o contexto rico e complexo em que os usuários trabalham. O conhecimento nas organizações A criação de conhecimento organizacional pode ser definida como a capacidade que uma instituição tem de criar conhecimento, disseminá-lo na organização e incorporá-lo a produtos, serviços e sistemas. Criar novos conhecimentos também não é apenas uma questão de aprender com os outros ou adquirir conhecimentos ex ternos. O conhecimento deve ser construído por si mesmo, muitas vezes exigindo uma interação intensiva e laboriosa entre diversos membros da organização. Assim, diz respeito também tanto aos ideais como às idéias. Ele também pode ser definido na hora ("aqui e agora") com base na experiência direta e por meio da tentativa e erro, o que exige intensa e trabalhosa interação entre os membros de uma equipe. , O estudo do conhecimento humano é tão antigo quanto a pró pria história do homem. Tem sido o tema central da filosofia e epistemologia desde o período grego. O conhecimento também começou a ganhar uma redobrada atenção recentemente. Não só teóricos sòcioeconômicos.como Peter Drucker (1992) e Alvin Toffler (1990) chamaram a atenção para a importância do conhecimento como recurso e poder gerencial, como também um número cres cente de estudiosos nas áreas de organização industrial, gerencia mento da tecnologia, estratégia gerencial e teoria organizacional começou a teorizar sobre a administração do conhecimento. Gestão da informação e do conhecimento 135 O conhecimento organizacional pode ser classificado em dois tipos. Um é o conhecimento explícito, que pode ser articulado na linguagem formal, sobretudo em afirmações gramaticais, expres sões matemáticas, especificações, manuais e assim por diante. Esse tipo de conhecimento pode ser então transmitido, formal e facil mente, entre os indivíduos. Esse foi o modo dominante de conhe cimento na tradição filosófica ocidental. O segundo tipo, o conhecimento tácito, é difícil de ser articu lado na linguagem formal. É o conhecimento pessoal incorporado à experiência individual e envolve fatores intangíveis como, por exemplo, crenças pessoais, perspectivas e sistemas de valor. O conhe cimento tácito foi deixado de lado como componente crítico do com portamento humano coletivo. A dimensão cognitiva do conhecimento tácito reflete nossa imagem da realidade (o que é) e nossa visão do futuro (o que deveria ser). Apesar de não poderem ser articulados muito facilmente, esses modelos implícitos moldam a forma com qu^percebemos o mundo à nossa volta. Podemos considerar o conhecimento explícito e o conheci mento tácito como unidades estruturais básicas que se comple mentam. Mais importante, a interação entre essas duas formas de conhecimento é a principal dinâmica da criação do conhecimento em uma organização. A criação do conhecimento organizacional é um processo em espiral em que a interação ocorre repetidamente. Na filosofia dominante no Ocidente, o indivíduo é considera do como o principal agente, que possui e processa o conhecimento. Entretanto, podemos focalizar essa situação de um modo diferente, na qual o indivíduo interage com a organização por meio do co nhecimento. A criação do conhecimento ocorre em três níveis; do indivíduo, do grupo e da organização. As duas formas de interação, entre o conhecimento tácito e o conhecimento explícito e entre o indivíduo e a organização, reali zarão quatro processos principais da conversão do conhecimento, que, juntos, constituem a criação do conhecimento (Nonaka & Takeuchi, 1997). Afigura 7 apresenta uma ilustração destes quatro processos, que são os seguintes: - do tácito para o explícito (externalização), que é um pro cesso de articulação do conhecimento tácito em conceitos explícitos, ou seja, de criação do conhecimento perfeito, 136 Eduardo Amadeu Dutra Moresi à medida que o conhecimento tácito se torna explícito, ex presso na forma de analogias, conceitos, hipóteses ou mo delos; - do explícito para o explícito (combinação), cujo modo de conversão do conhecimento envolve a combinação de conjuntos diferentes de conhecimento explícito; - do explícito para o tácito (internalização), que é o processo de incorporação do conhecimento explícito no conheci mento tácito; - do tácito para o tácito (socialização), que é um processo de compartilhamento de experiências e, a partir daí, de criação do conhecimento tácito, como modelos mentais ou habilida des técnicas compartilhadas. Figura 7 - Os quatro processos de conversão do conhecimento Embora utilizemos a expressão criação do conhecimento or ganizacional, uma organização não pode criar conhecimento por si mesma sem a iniciativa do indivíduo e a interação que ocorre den tro do grupo. O conhecimento pode ser amplificado ou cristalizado Gestão da informação e do conhecimento 137 ao nível de grupo, por meio de discussões, compartilhamento de experiências e observação. A explicação sobre a criação do novo conhecimento resume-se à conversão do conhecimento tácito em conhecimento explícito. Ter uma idéia ou palpite altamente pessoal tem pouco valor para a organização, a não ser que o indivíduo possa convertê-lo em co nhecimento explícito, permitindo, assim, que seja compartilhado com outros indivíduosna organização. Uma pergunta parecer ser relevante nesse momento: onde está o valor da criação do conhecimento nas organizações? Uma res posta aparentemente óbvia e metafórica é a transformação de co nhecimento em ouro. De fato, é possível transformar matéria bruta e inanimada, dados e informação, em conhecimento e, posterior mente, em ouro. Um dos processos de criação de riqueza em uma organização é a transformação do conhecimento informal em conhecimento ^explícito. Nesse sentido, o especialista assume um papel funda mental como consultor interno. O aspecto mais relevante a ser consideradó é o de a inteligência do processo de consultoria, o conhecimento desenvolvido e gerado no processo de solução de problemas, pertencerá a um servidor desta organização. Dessa forma, a criação de necessidades e de soluções toma essa possibili dade de criação de riqueza a partir do nada uma realidade cotidiana, e a formação do valor (e a sua acumulação) uma função direta de mudanças qualitativas. A gestão do conhecimento A gestão do conhecimento pode ser vista como o conjunto de atividades que busca desenvolver e controlar todo tipo de conhe cimento em uma organização, visando à utilização na consecução de seus objetivos. Este conjunto de atividades deve ter como prin cipal meta o apoio ao processo decisório em todos os níveis. Para isso, é preciso estabelecer políticas, procedimentos e tecnologias que sejam capazes de coletar, distribuir e utilizar efetivamente o Eduardo Amadeu Dutra Moresi conhecimento, bem como representar fator de mudança no com portamento organizacional. Esta gestão pode ser comparada a outro tipo efetivo de geren ciamento, que se inicia com o planejamento estratégico. Para defi nição de seus objetivos, é preciso ter uma visão macro da missão da organização e de sua ambiência. Uma das maneiras de iniciar esse processo é pelo diagnóstico da situação atual, que pode ser realizado por meio da resposta às seguintes perguntas: □ “quais as categorias de conhecimento que são necessárias para apoiar as estratégias da organização?”; □ “qual é o estado atual do conhecimento no âmbito da orga nização?”; □ “como reduzir o hiato existente?”; □ “como deve ser gerenciado o conhecimento para assegurar o seu máximo retorno?”. A primeira pergunta é a mais crítica por requerer uma revisão completa da cadeia de valores da organização visando .a estabele cer quais departamentos e atividades são mais relevantes no cum primento de sua missão. Além disso, é preciso determinar como uma base de conhecimento representará um impacto positivo na organização. Para a segunda pergunta, a organização deve examinar os se guintes aspectos: □ como é o acesso rotineiro ao conhecimento; □ qual a importância do conhecimento nas estratégias da or- .ganização; □ onde estão localizadas as fontes potenciais de produção do conhecimento; □ identificar o conhecimento relevante que não é gerado in ternamente. A terceira pergunta apresenta um grande desafio para os ges tores do conhecimento: o de descobrir maneiras de transformar o estado atual da base de conhecimento da organização em uma nova Gestão da informação e do conhecimento 139 ( ( ( e poderosa ferramenta. Além disso, a redução do hiato pode ser ( atingida, inicialmente, por meio de contato pessoal ou remoto das ( pessoas envolvidas na produção e na utilização do conhecimento. ✓ A última pergunta não possui resposta certa ou errada. As so luções a ser implementadas dependerão de fatores, tais como o tipo C de organização, a cultura organizacional e as necessidades. Toda- ( via, a gestão efetiva do conhecimento deve ser direcionada para ^ aquelas soluções que consigam abranger todo o sistema: organiza ção, público interno e tecnologia. ( A partir dessas perguntas, é possível desenvolver um planeja- ( mento para obter-se o gerenciamento efetivo do conhecimento. ^ Inicialmente, não deve haver preocupação com o desenvolvimento de metodologias e de ferramentas de apoio ao gerenciamento, mas ( com a implantação de um projeto de gestão que vincule o conhe- (' cimento aos objetivos estratégicos da organização. ^ Com base na análise das respostas às perguntas anteriormente fdèiuladas, é possível definir possíveis metas para as atividades ( de gestão do conhecimento. Primeiramente, deve ser formulada ( uma política estratégica que possibilite o desenvolvimento e a ^ aplicação do conhecimento na organização como um todo. A se guir, é necessário definir e implementar estratégias de conheci- ( mento com a participação de todos os segmentos relevantes da ( organização. Por fim, tem de ser realizado um acompanhamento da ^ melhoria diária da organização e de seus processos organizacionais com o enfoque do uso e do desenvolvimento de conhecimento. ( Com base nessas metas principais, podem ser identificadas vá- ( rias ações que devem ser executadas diariamente em atividades de ^ gestão do conhecimento: ^ □ descobrir conhecimentos (experiências, práticas otimiza- ( das) de modo que todo indivíduo possa usá-los no contexto ( dos papéis da organização; ( □ assegurar que o conhecimento esteja disponível com -----------oportunidade nos locais de tomada de decisão;-------------- --------- C □ assegurar que o conhecimento esteja disponível com ( oportunidade sempre que for necessário no contexto dos ^ processos organizacionais; 140 ________ Eduardo Amadeu Putra Moresi □ facilitar o desenvolvimento efetivo e eficiente de conheci mentos novos (aprendizado baseado em casos históricos); □ assegurar que os conhecimentos novos sejam distribuídos a todos os segmentos da organização envolvidos em sua utilização; □ assegurar que todo o público interno da organização saiba onde os conhecimentos estão disponíveis e como acessá-los. Resumindo, pode ser observado que o objetivo mais impor tante da gestão dò conhecimento é ajustar a demanda de conheci mento como um recurso escasso pára as ofertas. Este ajuste é uma condição importante para desempenho eficiente das organizações e conduzirá à redução de tempo de execução de processos e à dimi nuição de custos. Além disso, a flexibilidade dé processos organi zacionais será aumentada em ambientes variáveis e a qualidade de produtos e serviços será melhorada. A figura 8 apresenta uma ilustração destas ações básicas para gestão do conhecimento. Figura 8 — Ações básicas para gestão do conhecimento Gestão da informação e do conhecimento 141 Referências bibliográficas AUSTER, Ethel e CHOO, Chun Wei. Managin Information for the competitive edge. Nova York: Neal Schuman, 1995. BERTALANFFY, Ludwig von. General systems theory: fonndation, development, applications. [s. 1.]: George Braziller, 1968. CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administra ção. 4. ed. 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Segundo Barclay & Murray (1997, p.17), as abordagens variam e podem ser culturais, com ênfase nas relações humanas, de reengenharia, com ênfase nas tecnologias de informação e processos de negócio, e as voltadas para o pensamento sistêmico, com ênfase na compreensão de todo o sistema e das interdependências dos fatores internos e externos que influenciam a organização. De forma análoga, Sveiby (1999) classifica as abordagens conforme a orientação em: orientadas para a gestão da informação e orientadas para aprendizagem organizacional e competências. De maneira abrangente, podem-se classificar os modelos quanto ao conteúdo em: descritivos e prescritivos; ou ainda em função da complexidade em: simples, intermediários e avançados (Allee, 1999). Neste capítulo, busca-se apresentar os principais modelos de gestão do conhecimento sem uma preocupação maior de classificá- los, e sim de procurar extrair o essencial de cada um deles para que se possa construir um arquétipo de sistema ou modelo genérico de gestão do conhecimento, com alto potencial de aplicabilidade nas organizações.
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