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0 A PRODUÇÃO DE TEXTO DISSERTATIVO- ARGUMENTATIVO Colatina 2019 Disciplina: Língua Portuguesa Prof.ª: Regina Célia Vago 1 A PRODUÇÃO DE TEXTO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO. Dissertar é expor um assunto, esclarecendo as verdades que o envolvem e ao mesmo tempo discutindo a problemática que nele reside. Para isso é preciso analisar objetivamente um assunto através da sequência lógica de ideias. Pode-se dizer que Dissertar é o mesmo que desenvolver ou explicar, discorrer sobre determinado tema. Assim, o texto dissertativo pertence ao grupo dos textos expositivos, juntamente com o texto de apresentação científica, o relatório, o texto didático, o artigo enciclopédico. Em princípio, o texto dissertativo não está preocupado com a persuasão e sim, com a transmissão de conhecimento, sendo, portanto, um texto informativo. Os textos argumentativos, ao contrário, têm por finalidade principal persuadir o leitor sobre o ponto de vista do autor a respeito do assunto. Quando o texto, além de explicar, também persuade o interlocutor e modifica seu comportamento, temos um texto dissertativo-argumentativo. Quando a dissertação for argumentativa (e a grande maioria é) implicará, também, uma defesa de princípios e tomada de decisões (persuasão). Isso significa apresentar opiniões positivas e negativas sobre o assunto (tema) em questão, provando tais opiniões por meio de fatos, razões e justificativas, ou seja, argumentos que visem convencer ao interlocutor (persuadir). O TEXTO ARGUMENTATIVO Antes de tratarmos do texto dissertativo, propriamente dito, convém apresentarmos uma discussão em torno da noção de “argumentação”, já que um dos principais recursos da dissertação-argumentativa é o uso do tipo textual argumentativo. Convém, também, lembrar que as tipologias textuais pertencem a um número reduzido e se encontram constituindo a infinidade de gêneros textuais existentes. Tipos textuais são determinados por suas características linguísticas, formais, enquanto gêneros textuais são determinados por suas características funcionais. Isso significa que falamos por meio de gêneros, que são práticas sócio-históricas, não por meio de tipos. Porém, é dentro de um gênero que vamos encontrar um ou vários (quase sempre) tipos textuais (heterogeneidade tipológica). Segundo teóricos como Werlich e Marchuschi, podemos considerar, no mínimo, cinco tipos textuais básicos: descritivo, narrativo, expositivo, argumentativo e injuntivo. Uma dissertação pode contar com a presença dessas diversas tipologias; porém, a presença dos tipos argumentativo e expositivo é fundamental e predominante. Como esse texto tem por objetivo apresentar subsídios que possam contribuir para a elaboração do texto dissertativo-argumentativo, passamos a expor, a partir de agora, algumas questões relativas à argumentação que muito contribuirão para o nosso intento. 2 A QUESTÃO DA ARGUMENTAÇÃO Segundo Antônio Soares Abreu, autor de livros como “A arte de argumentar”, entre outros, argumentar é a arte de CONVENCER e PERSUADIR. Convencer é saber gerenciar informação, é falar à razão do outro, demonstrando e provando. Já persuadir é saber gerenciar relação, é falar à emoção do outro. Dessa forma, convencer é construir algo no campo das ideias e persuadir é construir algo no terreno das emoções. Quando convencemos alguém, “esse passa a pensar como nós, quando persuadimos alguém, esse alguém realiza algo que desejamos que ele realize”. Persuadir, portanto, é sensibilizar o outro para agir da forma como queremos que ele haja. Conforme o autor, ARGUMENTAR é, pois, a arte de gerenciando informação, convencer o outro de alguma coisa no plano das ideias e de, gerenciando relação, persuadi-lo, no plano das emoções, a fazer alguma coisa que nós desejamos que ele faça. Para a teoria da comunicação de Jakobson, a comunicação se concretiza mediante a intervenção de seis fatores: o emissor, o receptor, a mensagem, o código, o canal e o referente. Entretanto, as coisas não são tão simples. Segundo Fiorin (1996), há uma diferença bem marcada entre comunicação recebida e comunicação assumida. Como comunicar é agir sobre o outro, quando comunicamos não queremos somente que o receptor receba e compreenda a mensagem, mas também que a aceite, que creia nela e que faça o que nela se pede. Isso significa que comunicar não é tão somente um fazer saber, é também um fazer crer e um fazer fazer, como nos sugeriu Soares de Abreu. Fiorin (op. cit) nos fala em dois tipos de argumentação: um (o qual o autor chama de argumentação em sentido latu) apresenta-se explicitamente em textos como o da propaganda; o outro (argumentação em sentido restrito) utiliza-se mais de raciocínios lógicos e se coloca como discurso de busca e comunicação do conhecimento, como o discurso científico. Seja a argumentação considerada em sentido mais amplo ou em sentido restrito, a verdade é que, quando bem usada, dá consistência ao discurso, produz uma sensação de realidade ou impressão de verdade que tornam o texto muito mais convincente. Dessa maneira podemos afirmar que “argumentar” é todo procedimento linguístico/pragmático que visa a convencer, a persuadir, a fazer o receptor aceitar o que lhe foi comunicado, a levá-lo a crer no que foi dito e a fazer o que foi proposto. O TEXTO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO O texto dissertativo argumentativo tem uma estrutura convencional, formada por três partes essenciais: introdução, desenvolvimento e conclusão. Introdução Apresenta o assunto e o posicionamento do autor, ou seja, apresenta a ideia que vai ser discutida e a tese a ser defendida. É ao se posicionar que o autor formula a tese ou a ideia principal do texto. Cabe à introdução situar o leitor a respeito da postura 3 ideológica de quem o redige acerca de determinado assunto. O importante é que a sua introdução seja completa e esteja em consonância com os critérios de paragrafação. Não misture ideias. No mito das sereias, o irresistível canto dessas criaturas atrai os marinheiros em direção aos rochedos que circundam a ilha em que elas estão entrincheiradas, inevitavelmente sendo o naufrágio das embarcações o desfecho. A música emitida por esses seres tem análogo na contemporaneidade: o capitalismo. Esse modo de produção apresenta três desencadeamentos que também levam o homem à ruína: o consumismo, a valorização do ter em detrimento do ser e a efemeridade das relações. Desenvolvimento Formado pelos parágrafos que fundamentam a tese. Normalmente, em cada parágrafo, é apresentado e desenvolvido um argumento. Cada um deles pode estabelecer relações de causa e efeito ou comparações entre situações, épocas e lugares diferentes, pode também se apoiar em depoimentos ou citações de pessoas especializadas no assunto abordado, em dados estatísticos, pesquisas, alusões históricas, etc. O consumismo é o responsável pela profusão de galerias e shoppings centers que permeia a sociedade atual. Comprar tornou-se o principal passatempo – tal qual ilustram seriados como “Gossip girl” – e também a raiz dos demais problemas capitalistas. A hipervalorização da aquisição de produtos originou a “escravidão materna” de pessoas em fábricas, empregada como solução para baratear custos e ampliar a produção, e os golpes de lojas sediadas na rede a consumidores ávidos por descontos monumentais, irreais. Apesar disso, o dinheiro passou a comprar felicidade. Empresas capitalistas desenvolvem novos produtos constantemente e o prazer instantâneo proporcionado por uma nova televisão ou geladeira acaba por superpor-se ao deleite duradouro de uma amizade. Assim, o nível de felicidade atribuído a uma pessoa baseia-se primordialmente em suas posses, e não em sua essência.Essa lógica inédita também norteia o estabelecimento de novos laços entre as pessoas, agora tendo a paridade econômica entre seus integrantes como pedra angular. Rarefazem-se amizades como a entre os personagens Berta, uma menina pobre, e Linda e Afonso, ricos irmãos da obra “Til”. Essa nova característica das relações sociais é acompanhada pela efemeridade. Segundo o sociólogo alemão polonês Zygmunt Bauman, a sociedade líquida contemporânea solubiliza os laços entre as pessoas. De fato, a manutenção da relação entre dois indivíduos está sujeita à continuidade de ambos no mesmo patamar econômico. A ascensão financeira de uma das pessoas imediatamente a alçará a uma nova categoria da sociedade, e, consequentemente, ao relacionamento com indivíduos mais pujantes, como ilustra a trajetória de antigos premiados pela Mega Sena. 4 Conclusão Geralmente retoma a tese, sintetizando as ideias gerais do texto ou propondo soluções para o problema discutido. Mais raramente, a conclusão pode vir acompanhada por um elemento-surpresa. No caso da interrogação, ela é meramente retórica e deve já ter sido respondida pelo texto. O elemento surpresa consiste quase sempre em uma citação científica, filosófica ou literária, em uma formulação irônica ou em uma ideia reveladora que surpreenda o leitor e, ao mesmo tempo, dê novos significados ao texto. O capitalismo inerente à maioria das nações contemporâneas trouxe conseqüências aterradoras para seus cidadãos. A felicidade atribuída ao ato de comprar desencadeou diversas mazelas atuais, dentre elas, a sobreposição do “ter” em relação ao “ser”. Assim tendo seu valor intrínseco associado às posses, as pessoas começam a relacionar-se de forma efêmera, em um mundo onde apenas os endinheirados vivem prazerosamente. Se Descartes vivesse no século XX, alteraria sua afirmação para “tenho, logo existo”. ATENÇÃO: a linguagem do texto dissertativo-argumentativo costuma ser impessoal, objetiva e denotativa. Entretanto, mais raramente, há a combinação da objetividade com recursos poéticos, como metáforas e alegorias. Predominam formas verbais no presente do indicativo e emprega-se o padrão culto e formal da língua. Resumindo as características do texto dissertativo-argumentativo: O Parágrafo Além da estrutura global do texto dissertativo-argumentativo, é importante conhecer a estrutura de uma de suas unidades básicas: o parágrafo. Parágrafo é uma unidade de texto organizada em torno de uma ideia-núcleo, que é desenvolvida por ideias secundárias. O parágrafo pode ser formado por uma ou mais frases, sendo seu tamanho variável. No texto dissertativo-argumentativo, os parágrafos devem estar todos relacionados com a tese ou ideia principal do texto, geralmente apresentada na introdução. Expõe uma ideia ou um ponto de vista sobre determinado assunto; pode também conceituar ou definir um objeto, seja ele concreto ou abstrato; Apresenta intenção persuasiva; Convencionalmente, apresenta três partes essenciais: tese (ou ideia principal), desenvolvimento e conclusão; Linguagem geralmente clara, direta, objetiva e impessoal; Predomínio do padrão culto e formal da língua; Verbos predominantemente no presente do indicativo. 5 Observações gerais em relação a correções de redação. a) Quanto à apresentação do texto. Legibilidade e erro: escreva sempre com letra legível. Prefira a letra cursiva. A letra de imprensa poderá ser usada desde que se distingam bem as iniciais maiúsculas e minúsculas. No caso de erro, risque com um traço simples, o trecho ou o sinal gráfico e escreva o respectivo substituto. Atenção: não use parênteses para esse fim. - Respeito às margens e indicação dos parágrafos; Para dar início aos parágrafos, o espaço de mais ou menos dois centímetros é suficiente. Observe as margens esquerda e direita na folha para o texto definitivo. Não crie outras. Não deixe “buracos” no texto. Na translineação, obedeça às regras de divisão silábica. - Limite máximo de linhas; Além de escrever seu texto em local devido (folha definitiva), respeite o limite máximo de linhas destinadas a cada parte da prova, conforme orientação da banca. As linhas que ultrapassarem o limite máximo serão desconsideradas ou qualquer texto que ultrapassar a extensão máxima será totalmente desconsiderado. b) Eliminação do candidato; Seu texto poderá ser desconsiderado nas seguintes situações: - ultrapassagem do limite máximo de linhas. - ausência de texto: quando o candidato não faz seu texto na FOLHA PARA O TEXTO DEFINITIVO. - fuga total ao tema: analise cuidadosamente a proposta apresentada. Estruture seu texto em conformidade com as orientações explicitadas no caderno da prova discursiva. - registros indevidos: use uma linguagem que se distancie da norma popular, coloquial, mas que condene o pedantismo, o purismo, o preciosismo. Ou seja: analisar, escrever sobre um tema que nos seja oferecido usando preferencialmente a linguagem com a qual nos comunicamos (norma padrão), mas sem gírias, palavrões, lugares-comuns, clichês, os quais empobrecem o texto. Anotações do tipo “fim”, “the end”, “O senhor é meu pastor, nada me faltará” ou recados ao examinador, rubricas e desenhos, jamais devem ser usados. O DESENVOLVIMENTO DO TEMA Apresentam-se os argumentos ordenadamente, analisando detidamente as ideias e exemplificando de maneira rica e suficiente o pensamento. É no desenvolvimento, por meio dos argumentos, que organizamos o pensamento em favor da tese apresentada na introdução, utilizando-nos de estratégias de argumentação. 6 ESTRATÉGIAS DE ARGUMENTAÇÃO São recursos linguísticos utilizados com a finalidade de convencer/persuadir. O argumento de autoridade O argumento da autoridade se baseia na recorrência de citações de autores renomados e ou autoridades num certo domínio do saber ou numa área da atividade humana, para corroborar uma tese, um ponto de vista. Por um lado, esse tipo de estratégia cria a imagem de que o falante conhece bem o assunto que está discutindo, porque já leu o que outros pensadores já disseram sobre o mesmo. Por outro lado, torna os autores citados fiadores da veracidade de um dado ponto de vista. O argumento por princípio Trata-se de argumentos baseados em proposições evidentes por si mesmas e, que, por isso mesmo, não dependem de demonstrações: “o todo é maior do que parte”, “duas quantidades iguais a uma terceira são iguais entre si”. Podemos também trabalhar com máximas ou proposições que prescindem de demonstrações por serem aceitas como verdades numa certa época. Tais proposições (evidentes por si ou universalmente aceitas) podem ser usadas como recursos de argumentação, entretanto não podemos confundir argumento baseado em consenso com lugares-comuns, clichês ou frases prontas. É preciso muito cuidado para distinguir o que é uma ideia que prescinde de demonstração e ideias baseadas no senso- comum. Argumentos baseados em provas concretas/ exemplos Segundo Fiorin, as opiniões pessoais expressam apreciações, pontos de vista, julgamentos, que exprimem aprovação ou desaprovação. Contudo, essas opiniões serão de pouco valor se não estiverem apoiadas em fatos. O autor nos lembra as campanhas políticas que costumam fazer acusações genéricas contra candidatos tais como: incompetente, corrupto, ladrão. É preciso que essas opiniões venham acompanhadas de fatos comprobatórios para que o argumento tenha muito mais peso. Vale lembrar que os exemplos apresentados devem ser pertinentes, suficientes, adequados e fidedignos, ou seja, não se podem apresentar conclusões incompatíveis com os exemplos apresentados. A exemplificação não apenas constitui um elemento de persuasão, mas também auxiliaa formular o raciocínio, podendo diminuir problemas de clareza que possam ocorrer na apresentação de nossas ideias. Argumento pelo raciocínio de causa e consequência / premissa e conclusão: Motivos, razões, fundamentos, alicerces, os porquês/ conseqüências, efeitos, repercussões, reflexos; Chamamos de causas, os fundamentos, as justificativas de nossa 7 opinião. E de consequências, as decorrências, os desdobramentos da opinião, do ponto de vista que defendemos. Argumento por comparações e contrastes (analogia): diferenças e semelhanças entre elementos; O raciocínio por meio de comparações e contrastes permite concluir que o que vale para X, provavelmente vale para Y, visto que eles são semelhantes em muitos aspectos. Argumento por enumerações estatísticas (Evidência): Trata-se da apresentação de dados (estatísticos e numéricos) e fatos (pesquisas). Os dados e fatos colhidos das mais diferentes fontes – revistas, jornais, livros, institutos de pesquisa, etc. – constituem uma espécie de alicerce de nossos textos dissertativos, uma vez que tornam as ideias corretas, materializadas, vivas diante de nossos interlocutores. Observações em relação ao desenvolvimento do tema 1) Estabelecimento de conexões lógicas entre os argumentos. Apresentação dos argumentos de forma ordenada, com análise detida das ideias e exemplificação de maneira rica e suficiente do pensamento. Para garantir as devidas conexões entre períodos, parágrafos e argumentos, empregar os elementos responsáveis pela coerência e unicidade, tais como operadores de sequenciação, conectores, pronomes. Procurar garantir a unidade temática. (ver anexo 1). 2) Objetividade de argumentação frente ao tema / posicionamento O texto precisa ser articulado com base nas informações essenciais que desenvolverão o tema proposto. Dispensar as ideias excessivas e periféricas. Planejar previamente a redação definindo antecipadamente o que deve ser feito. Recorrer ao banco de ideias é um passo importante. Listar as ideias que lhe vier à cabeça sobre o tema.. Estabelecer a tese que será defendida. Selecionar cuidadosamente entre as ideias listadas, aquelas que delimitarão o tema e defenderão o seu posicionamento. 3) Estabelecimento de uma progressividade textual em relação à sequência lógica do pensamento. O texto deve apresentar coerência sequencial satisfatória. Quando se proceder à seleção dos argumentos no banco de ideias, deve-se classificá-los segundo a força para convencer o leitor, partindo dos menos fortes parta os mais fortes. 8 SUGESTÃO DE PRODUÇÃO DE TEXTO COM BASE EM ESQUEMAS. Pode-se afirmar que é possível (e bem mais tranqüilo) desenvolver um texto dissertativo a partir da elaboração de esquemas. Por mais simples que lhes pareça, a redação elaborada a partir de esquema permite-lhes desenvolver o texto com sequência lógica, de acordo com os critérios exigidos no comando da questão (número de linhas, por exemplo). ESQUEMA I 1º parágrafo: TEMA + TESE 2° parágrafo: desenvolvimento do argumento 1 3° parágrafo: desenvolvimento do argumento 2 4° parágrafo: desenvolvimento do argumento 3 5° parágrafo: expressão inicial + reafirmação do tema + observação final. ESQUEMA II 1º parágrafo: TEMA + TESE + argumento 1 + argumento 2 + argumento 3 2° parágrafo :desenvolvimento do argumento 1 3° parágrafo: desenvolvimento do argumento 2 4° parágrafo: desenvolvimento do argumento 3 5° parágrafo: expressão inicial + reafirmação do tema + observação final. EXEMPLO: TEMA: Chegando ao terceiro milênio, o homem ainda não conseguiu resolver graves problemas que preocupam a todos. POR QUÊ? *arg.1: Existem populações imersas em completa miséria. *arg.2: A paz é interrompida freqüentemente por conflitos internacionais. *arg. 3: O meio ambiente encontra-se ameaçado por sério desequilíbrio ecológico. Texto definitivo Chegando ao terceiro milênio, o homem ainda não conseguiu resolver os graves problemas que preocupam a todos, pois existem populações imersas em completa miséria, a paz é interrompida freqüentemente por conflitos internacionais e, além do mais, o meio ambiente encontra-se ameaçado por sério desequilíbrio ecológico. Embora o planeta disponha de riquezas incalculáveis – estas, mal distribuídas, quer entre Estados, quer entre indivíduos – encontramos legiões de famintos em pontos específicos da Terra. Nos países do Terceiro Mundo, sobretudo em certas regiões da África, vemos com tristeza, a falência da solidariedade humana e da colaboração entre as nações. Além disso, nesta últimas décadas, temos assistido, com certa preocupação, aos conflitos internacionais que se sucedem. Muitos trazem na memória a triste lembrança das guerras do Vietnã e da Coréia, as quais provocaram grande extermínio. Em nossos dias, testemunhamos conflitos na antiga Iugoslávia, em alguns membros da 9 Comunidade dos Estados Independentes, sem falar da Guerra do Golfo, que tanta apreensão nos causou. Outra preocupação constante é o desequilíbrio ecológico, provocado pela ambição desmedida de alguns, que promovem desmatamentos desordenados e poluem as águas dos rios. Tais atitudes contribuem para que o meio ambiente, em virtude de tantas agressões, acabe por se transformar em local inabitável. Em virtude dos fatos mencionados, somos levados a acreditar que o homem está muito longe de solucionar os graves problemas que afligem diretamente uma grande parcela da humanidade e indiretamente a qualquer pessoa consciente e solidária. É desejo de todos nós que algo seja feito no sentido de conter essas forças ameaçadoras, para podermos suportar as adversidades e construir um mundo que, por ser justo e pacífico, será mais facilmente habitado pelas gerações vindouras. Se vocês seguirem a orientação dada por esse esquema, desde o 1º parágrafo, verão que não há como se perder na redação, nem fazer a introdução maior que o desenvolvimento, já que a introdução apresenta, de forma embrionária, o que será desenvolvido no corpo do texto. E lembre-se de que a conclusão sempre retoma a ideia apresentada na introdução, reafirmando-a, apresentando propostas, soluções para o caso apresentado. Com essa noção clara, de estrutura de texto, também é possível melhorar o seu desempenho nas provas de compreensão e interpretação de textos. COMO COMEÇAR UMA DISSERTAÇÃO? Geralmente a dissertação é iniciada por meio da apresentação do tema e da tese. A apresentação do tema e da tese (parágrafo introdutório ou parágrafo inicial) pode ser obtida através de alguns procedimentos: para tanto, são usadas definições simples, afirmações, citações, sequências interrogativas, comparações de características históricas, sociais ou geográficas. Para se elaborar a tese, deve-se ter preocupação fundamental com o tema oferecido, levando-se em conta que o parágrafo introdutório é o norteador de toda a estrutura dissertativa, aquele que carrega uma ideia nuclear a ser utilizada de maneira pertinente em todo o desenvolvimento do texto. Podemos iniciar nossa dissertação de várias maneiras: 1. Conceituando (definindo) algo (um processo, uma ideia, uma situação). É a forma mais comum de começar. Exemplo: "Violência é toda ação marginal que nos atinge de maneira irreversível: um tiro que se nos é dado, um assalto sem que esperemos, nosso amigo ou conhecido que perde a vida inesperadamente através de ações inomináveis..." 2. Fazendo uso de linguagem metafórica ou figurativa Esta tese é utilizada basicamente em redações dissertativas de cunho reflexivo: "Sorteio de vagas na educação... triste Brasil! Tristes e desamparadas criaturas que se transformam em números sem particularidade individual e acabam, como num bingo do analfabetismo, preenchendo cartelas da ignorância. Triste Brasil que em vez de fazer10 florescer intelectos, faz gerar o desconsolo e o descontentamento, impede o progresso intelectual e faz ressaltar a maior das misérias: a marginalidade que se cria fora do saber." 3. Narrando, através de flashes, acontecimentos, ações Bem conduzida, esta sequência integra apenas o parágrafo introdutório. Cuidado! Não se desvie da dissertação introduzida dessa forma. O perigo é, sob pressão, continuar a narração. "Durante nove meses, agentes do serviço secreto da presidência da República realizaram gravações clandestinas na rede de telefones usada pelas diretorias do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no centro do Rio de Janeiro. Por mais de 30 semanas, os espiões da Abin, Agência Brasileira de Inteligência, gravaram conversas do presidente Fernando Henrique Cardoso, de ministros, dirigentes estatais e empresários. Depois se soube que a divulgação parcial dessas fitas detonou uma crise política e acabou na demissão do então ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros." 4. Apresentando uma interrogação ou uma sequência de interrogações É comum o aluno dirigir-se ao professor indagando se este tipo de introdução não empobrece a dissertação do vestibular. Não se for bem conduzida. Em primeiro lugar, na hora do "branco", é sempre melhor começar interrogando que não começar; em segundo lugar, tome cuidado com o número de interrogações: todas deverão ser respondidas por você nos parágrafos argumentativos pois, afinal, é você quem estará opinando e não deve esperar respostas de ninguém, muito menos de seu corretor "É verdade que, depois da porta arrombada, uma tranca é sempre nela colocada? Foi pensando assim que o governo nomeou, na última semana, a procuradora aposentada Anadyr de Mendonça Rodrigues para comandar a Corregedoria Geral da União, que tem status de ministério porque visa à apuração de todas as irregularidades cometidas no país." 5. Contestando definições, citações ou opiniões. Engano de o aluno imaginar que não possa contrariar o tema proposto; ele pode (e deve) expressar livremente suas opiniões. Só assim haverá registro real de seu pensamento. Não mistificar o que pensa sobre os fatos, acontecimentos, é fundamental para a obtenção de boa nota. Nós só encontramos coerência verbal eficaz quando somos verdadeiros no que dizemos. "Embora se divulgue largamente que a mulher está conquistando espaços tipicamente masculinos, é preciso observar que isso nem sempre se configura como realidade. O posto mais importante deste país, quer na vida pública, quer em empresas privadas, são sempre ocupados pelo sexo masculino. As pessoas parecem não confiar muito no trabalho da mulher; embora saibamos que ela é tão competente quanto o homem. " 11 6. Organizando uma trajetória que vá do passado ao presente, do presente para o passado, ao comparar social, histórica, geograficamente fatos, ações humanas, ideologias. "Na Idade Média, no Renascimento ou até mesmo durante o Século das Luzes, a mulher esteve sempre à disposição da família, dos trabalhos domésticos e da criação dos filhos; somente no século XX ela ganha, ainda que não suficientemente, coragem para inserir- se no "mundo dos homens": pilota, dirige grandes empresas, constrói edifícios. " 7. Evidenciando uma série de argumentos que futuramente serão usados como expansores de parágrafos argumentativos "Poucas vagas para as crianças, muita propaganda na tevê, um número exorbitante de adultos analfabetos, um país fingindo que sabe ler..." Observação: cada um dos argumentos acima numerados podem, individualmente, ser transformados em um parágrafo argumentativo que discuta, por exemplo, a falta de vagas na escola. 8. Comparando social, geográfica ou historicamente nações, ações, acontecimentos, circunstâncias O que poderia haver de comum entre jovens pobres do Harlem no final do século XX e um poeta italiano do século XIII? A equipe de McClintock mostrou que Dante, como eles, também era rebelde, incompreendido, pressionado. (Gilberto Dimenstein, Projeto Aprendiz, via Internet) "Enquanto que em países desenvolvidos como o Japão ou I tália o índice de mortalidade infantil é inferior a 2%, na América Latina há regiões em que atinge os imorais 6,4%, como em alguns bolsões de miséria absoluta no Piauí, sul do Pará e Maranhão." "Antigamente se dizia do FGTS que se tratava de uma "poupança forçada". Estávamos no regime militar e, sempre que possível, punha-se ênfase no fato de que as coisas eram "forçadas". Mas o tempo passou, e o FGTS acabou promovido "patrimônio do trabalhador", inclusive com os sindicatos participando de sua gestão." (Gustavo Franco, revista Veja) 9. Caracterizando aspectos físicos ou espaços (fechados e abertos), descrevendo-os "Um corredor superlotado, pessoas deitadas pelo chão, nas macas, sobre pias, em péssimas condições de higiene e de saúde: eis uma fotografia da perversa realidade brasileira na área da saúde." 10. Além desses tipos que agora aprendemos, você poderá utilizar-se de um expediente interessante quando começar suas redações: mesclar os dez tipos que temos disponíveis. Que tal, por exemplo, interrogar e descrever? Quem poderia supor Miss Brasil 2001 totalmente biônica? Quem poderia apostar numa miss quase robótica produzida a partir de 19 cirurgias plásticas? Pois foi o que 12 aconteceu. Juliana Borges, a gaúcha vencedora do concurso, arrumou as orelhas de abano, sugou excessos na barriga, costas e quadris, injetou silicone nas maçãs do rosto e nos lábios, além de dezenas de outras "arrumadinhas" antes de vestir o maiô e desfilar, encantadora, quase perfeita, pela passarela." Anexo 1 Períodos, parágrafos e argumentos bem articulados: Para garantir as devidas conexões entre períodos, parágrafos e argumentos é necessário empregar os elementos responsáveis pela coerência e unicidade do texto, tais como operadores de sequenciação e conectores: 1) Indicadores de oposição, contraste: mas, porém, todavia, entretanto, no entanto, embora, ainda que, mesmo que, apesar de, … 2) Indicadores de causa e conseqüência: porque, visto que, em virtude de, uma vez que, devido a , graças a, … 3) Indicadores de finalidade: para que, a fim de que, com vistas a, … 4) Indicadores de esclarecimento: vale dizer, ou seja, isto é , quer dizer, … 5) Indicadores de proporção: à medida que, à proporção que, … 6) Indicadores de tempo: sempre que, assim que, quando, logo que, … 7) Indicadores de condição: se, caso, a menos que, contanto que, … 8) Indicadores de conclusão: portanto, então, logo, assim, por conseguinte, sendo assim, diante desse quadro, nesse contexto, diante do que foi exposto, ante os fatos mencionados... 9) Indicadores de acréscimo: além disso, outro fator, é importante destacar também, é possível abordar ainda