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CENTRO UNIVERSITÁRIO DO ESTADO DO PARÁ 
ÁREA DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS 
BACHARELADO EM DIREITO 
 
 
 
GUSTAVO PACHECO PAMPLONA 
LETÍCIA DE PAULO MARTINS BRAGA 
LEONARDO MARQUES MACEDO DA ROCHA 
MARIA EDUARDA TOURINHO PEREIRA 
PAULA EDUARDA CARDOSO LEITE 
STEPHANNIE SANTOS VASCONCELLOS 
 
 
 
 
Resenha avaliativa de Bioética e 
Biodireito, apresentado no curso de 
graduação do Centro Universitário do 
Pará sob orientação da Professora 
Andreza Casanova Von Grapp Santos. 
 
TURMA: DI2TB 
 
 
Belém/Pará 
2020 
No livro “A solidão dos moribundos”, o autor Norbert Elias retrata em seu 
capítulo “Envelhecer e morrer: alguns problemas sociológicos”, de forma clara o 
envelhecimento e suas dificuldades, principalmente na relação entre idosos e pessoas 
de outras faixas etárias. A visão de envelhecimento ofertada pelo livro não é a de 
vivência, mas sim a de um adulto analisando externamente a realidade da terceira 
idade, e deixa isso claro ao afirmar que apesar de a juventude reconhecer as 
dificuldades físicas de um idoso, não sabe na íntegra a sensação de perder o controle 
sobre os movimentos de um membro. O autor explica que há esse bloqueio em 
colocar-se no lugar dos mais velhos pois é difícil e perturbador imaginar a perda de 
vitalidade e frescor que o fim da juventude causa, com a chegada da velhice, e a 
resistência ao envelhecimento é de fato uma das mais fortes características dos 
jovens atuais. 
Um dos fatores citados é o medo dos longevos em se tornarem dependentes, 
seja por questões físicas ou psicológicas, a necessidade de ajuda para atividades que 
antes realizavam de forma autônoma pode ser um fator de estresse. Dessa forma, o 
autor cita ser comum entre eles a regressão a comportamentos infantis na tentativa 
de fugir da realidad	
O mesmo valeria no que diz respeito ao aspecto afetivo das relações de 
pessoas que estão envelhecendo, principalmente em relação as pessoas que estão 
prestes a morrer. É preciso que seja feito uma avaliação entre as pessoas moribundas 
e as que estão envelhecendo. 
Desta maneira poderemos notar uma grande diferença entre os dois grupos na 
sociedades industriais dos dias atuais e nas sociedades pré-industriais. Na última 
grande parte da população vivia em vilarejos e trabalhava em suas terras, a família 
acabava por lidar com os seus familiares moribundos e velhos, isto poderia ser feito 
de maneira amável ou brutal. 
Tudo que se diz a respeito sobre a morte ou o envelhecimento passou a 
acontecer de de maneira mais pública nas sociedades industriais e dentro do domínio 
das extensas famílias, o que em alguns casos inclui-se até mesmo os vizinhos. Porém 
cabe fazer um adendo sobre o tratamento que é dado dos jovens aos mais velhos, 
pois quando os primeiros chegam ao comando em alguns casos é possível notar não 
apenas a inversão de valores quanto aos cuidados, mas principalmente se nota um 
tratamento não adequado e até mesmo cruel destinado aos mais velhos. 
O Estado passou a intervir de uma maneira mais incisiva quanto a proteção do 
idoso ou moribundo, mas também qualquer outro cidadão, quando o assunto se trata 
de maus tratos ou violência física óbvia. Infelizmente a velhice acaba por isolar ainda 
mais estas pessoas da sociedade, família e círculo de amizades, tudo isso contribui 
ainda mais para a fraqueza dessas pessoas. 
Ocorreu um aumento nas procuras de lares que recebam estes idosos ou 
moribundo, fazendo com que ocorresse uma terceirização dos cuidados que os 
familiares lhe dariam. Ainda que o tratamento seja de excelência nada repara a solidão 
vivenciada por estes indivíduos, transformando desta maneira muitos asilos em 
“desertos de solidão”. 
No capítulo citado, o autor faz análises pertinentes no que diz respeito à terceira 
idade, uma vez que tanto anteriormente como hoje em dia, há uma preocupação 
bastante escassa quanto a forma como os idosos se sentem e como são tratados, 
seja por cuidadores ou mesmo familiares. Diante disso, Norbert Elias traz a reflexão 
de que desde de a antiguidade esse descaso é comum, apesar de que em muitas 
pinturas ou em mesmo filmes, seja evidenciado a família inteira no leito de morte do 
moribundo, no entanto a tese levantada pelo autor é que isso ocorria não por afeto e 
respeito àquele idoso, mas ao fato de que por retratar uma sociedade antiga, não 
havia outros cômodos, tampouco a liberdade e a ideia de individualidade de cada ente 
familiar para morarem separados como vemos na atualidade. 
Outro ponto aprofundado pelo autor diz respeito à indiferença a esse grupo da 
sociedade, posto que são vistos como “inválidos” muitas vezes e a maioria dos jovens 
– seja de anos atrás, até hoje em dia – não conseguem projetar que a velhice também 
será o futuro deles. Assim, pessoas da terceira idade tendem a sofrer, 
também, com um isolamento emocional muito grande. Isso ocorre também no que diz 
respeito a incapacidade das pessoas mais novas tentarem entender a mentalidade 
dos idosos ao encararem uma doença, posto que com o avanço das ciências, 
evidencia-se um grande avanço na medicina comparado a tempos anteriores, dessa 
forma, é normal que pessoas mais velhas, ao serem diagnosticadas com doenças 
como tuberculose, sofram com uma séria crise existencial para lidar com a 
doença, entrando rapidamente em pânico, já que até determinado momento se morria 
de tuberculose e isso era de certa forma normal. Esse é outro ponto interessante 
levantado por Norbert Elias. 
Sem medo de abordar temas polêmicos para a sociedade, Norbert Elias 
escreveu sobre envelhecimento e morte em sua obra literária “A solidão dos 
moribundos”, expondo as diversas mudanças e os diversos pensamentos que 
recorrem na mente e vida humana com o passar do tempo. A partir disso, é possível 
notar que em certa parte do livro o autor discorreu sobre a sua visão tanto a respeito 
da privatização do nascimento e da morte, como também sobre explicar tal 
acontecimento para as crianças. 
Ao discursar sobre o primeiro assunto, Elias relata que, com a vinda dos anos, 
a sociedade tornou-se repleta de indivíduos solitários, enquanto antigamente havia 
maior sociabilidade e interação entre cada ser, promovendo à nascença e ao óbito 
uma visão mais pública. Logo, tal temática relaciona com a segunda supracitada, visto 
que, ao ocorrer esta privatização, jovens não presenciam a morte como nas épocas 
anteriores. Com isso, cria-se um tabu e até mesmo medo em torno desta conversa 
com essa determinada parcela social, resultando, então, em uma ocultação da 
realidade que os mesmos terão que presenciar e entender no futuro. Logo, observa-
se que Norbert Elias identifica que isto decorre de uma apreensão dos responsáveis 
de transparecer uma angústia ao debater sobre a morte com as crianças, e, assim, 
ele afirma como é essencial que o público juvenil obtenha tal conhecimento para 
aceitar o envelhecimento e até mesmo o fim. 
O sub-capítulo 6 de maneira clara e robusta, traz comparações clássicas da 
forma como se encara a morte hoje e como se encarava no período literário barroco, 
mas essa comparação não é só de como se encarava e sim de como se expressava 
sobre a indesejada. 
O Barroquismo tem uma certa maturidade que por incrível que pareça hoje não 
é mais possível identificar, os poemas barrocos seriam rechaçados veementemente 
se por acaso fossem produzidos hoje em um lapso ultra-temporal. A forma grosseira 
e ao mesmo tempo irreverente, muitas das vezes trazendo as “vísceras” da morte pra 
fora, expondo inclusive a anatomia da decomposição corporal, com um certo 
romantismo descaracterizado, se contrapõe à forma solene, formal e medrosa como 
a morte é exposta hoje. Isso se motiva por hoje a morte ser algo muito mais particular 
do que antigamente, ser algo mais velado, mais distante, mais sigiloso. 
Já o sub-capítulo 7 ainda em forma de comparação à épocas passadas, traz à 
tona as dificuldades de expressão de sentimentosem relação aos moribundos e as 
pessoas que se fecham no luto. Hoje a informalidade das comunicações impõe 
enorme dificuldade para que as pessoas, principalmente os mais jovens, consigam 
expressar os sentimentos que envolvam fortes emoções ou que demandem esforço 
solidário para com o próximo, talvez pela falta de tato e costume com as situações ou 
até mesmo pela falta de repertório linguístico para isso. O fato é que ao longo dos 
séculos se acumulou expressões pré definidas para esses contextos de dor, angústia 
e sensibilidade, essas expressões foram se diminuindo a uma ou duas palavras ou 
uma oração simplória. Expressões como: “meus pêsames”, “força, vai dar certo” ou 
“meus sinceros sentimentos”, podem não mostrar tanta sinceridade assim, cai no 
conceito de clichê, do qual o jovem moderno tem medo de ser taxado. 
O autor nos mostra nesse capítulo um lindo texto em forma de carta do Rei 
Frederico para sua irmã que aguardava a partida, esse texto expressa tamanha 
sinceridade em suas palavras que é perceptível entender os sentimentos do rei ao 
emitir aquele enunciado. Recheado de individualidade, com linguagem rebuscada, 
porém de fácil elucidação. Mais uma vez é exposto o quanto “involuímos” com a nossa 
evolução para a informalidade e velocidade das comunicações. Talvez a nossa forma 
de se comunicar hoje acompanhe a evolução das comunicações sem profundos 
sentimentos, acompanhe as comunicações instantâneas, sem esforço solidário. 
Estamos ficando menos sensíveis ou com menos Tato de lidar com a morte ou 
proximidade dela e com aqueles que é clara a sua aproximação. 
O autor Norbert Elias, conclui nessa sua obra, onde ele reafirma que a 
morte biológica do Moribundo não é o maior pesadelo. O pior seria a dor de quem está 
agonizando no leito de morte, e consequentemente a dor sofrida pelos seus familiares 
ao ver a morte da pessoa amada. Ele explica na sua obra, que a grande tarefa que a 
família tem é tentar enfrentar os percalços e a agonia que temos que alimentar como 
envelhecer e morrer na realidade de uma vida biológica que tem fim. 
Norbert nos faz ter uma reflexão de inúmeros fatos tristes que envolvem o fato 
de envelhecer e morrer, com a ressalva do constrangimento social do desconforto 
cerca a esfera da morte nos dias atuais, sendo de pouca serventia para a mudança 
de atitudes e valores frente ao tema abordado, pois morrer é um ato de violência. Ele 
cita na sua obra um exemplo da morte do grande Psicanalista Freud, pois a sua morte 
demorada, em consequência de um câncer de laringe, pois a sua doença exalava um 
mal cheiro que até o seu cão se recusava a se aproximar, apenas a sua esposa que 
em seu amor pelo moribundo o ajudou nessas ultimas semanas, não o abandonado 
em momento nenhum. 
No seu livro o sociólogo Norbert Elias, apresenta uma reflexão sobre o 
pensamento educacional brasileiro, em propor uma vasta explicação sobre o contexto 
de isolamento dos velhos e dos moribundos nos dias atuais. Essa obra que possamos 
entender que o abandono e isolamento dos idosos em nossa sociedade não podem 
ser explicados unicamente a partir da idéia de que idoso é improdutivo 
economicamente. É preciso, então, considerar os aspectos emocionais que interferem 
no abandono dos velhos e moribundos. 
 No final do capítulo o autor afirma que sabe que os médicos tem pouco tempo 
para poder decidir entre a morte e o sofrimento do moribundo, o que se fazer: morrer 
em casa ou no hospital? Será que ele morrera mais rápido em casa? Sabemos que o 
pavor da morte e de tudo que lhe é associado é ensinado, muito cedo, às crianças os 
pais e professores evitam falar da morte, de pessoas que morrem ou estão morrendo; 
as crianças, asa vezes, são impedidas de verem pessoas mortas e de vivenciarem as 
emoções provocadas pela morte. A possibilidade de transformar a relação dos jovens 
com os velhos e moribundos passa, necessariamente, pela superação do ocultamento 
da morte durante a infância e pela inserção da criança em relações afetuosas e de 
amizade com as pessoas que se encontram próximas do fim da vida. 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
Norbert, Elias; Livro: Solidão dos moribundos: seguido de envelhecer e morrer. Ed. 
Zahar. 2001