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DAYANE MARIA DA SILVA MARIA JOSENARA BEZERRA DA SILVA “O DIA FATÍDICO”: NOTAS SOBRE LUTO E FENOMENOLOGIA NO CONTEXTO DA MORTE REPENTINA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Psicologia da Faculdade UniNassau–Caruaru como parte dos requisitos parciais para obtenção do título de Bacharel em Psicologia. A banca examinadora do Trabalho de Conclusão de curso, em sessão pública realizada em 13/12/2021, considerou o trabalho aprovado. BANCA EXAMINADORA Prof.ª Ma. Jéssica Caroline de Moraes Veríssimo. (Faculdade Maurício de Nassau) Prof.ª Esp. Carolina Alves Cruz. (Faculdade Maurício de Nassau) Prof.ª Ma. Danila Cristiny de Araújo Moura. (Faculdade Maurício de Nassau) CARUARU 2021 Dedico o presente trabalho à minha querida avó, Severina Maria da Conceição (in memorian), que com sua vida me mostrou a grandeza que há na simplicidade. Tenho a senhora como fonte de inspiração. Dayane Maria da Silva Dedico o presente trabalho ao meu amado pai, José Bezerra da silva (in memorian), que foi da sua lembrança eterna que tirei minhas maiores forças. O senhor foi a fonte de inspiração para esse artigo. Essa vitória é nossa. Maria Josenara Bezerra da Silva AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus por me abençoar a cada dia e me sustentar com a fé. Agradeço a minha querida avó Severina Maria da Conceição (in memorian), por ter me ensinado tantos valores, aprendizados e me dar tanto amor. Te amo eternamente. Agradeço grandemente a minha família que me apoiou em todos os momentos da minha trajetória acadêmica, especialmente às minhas irmãs e aos meus pais. Juntos formamos um alicerce, de mãos unidas, nos ajudando mutuamente. Sou grata por tê-los em minha vida, por todo carinho, paciência, atenção, amor, que me impulsionou a chegar até aqui. Amo vocês. Agradeço imensamente a minha dupla Maria Josenara Bezerra da Silva, pessoa a qual tenho muita admiração e carinho, por ter trilhado comigo esse caminho no desenvolvimento desta pesquisa, me amparado e acolhido em tantos momentos com muito afeto, até quando eu não tinha forças para prosseguir. A nossa jornada sempre foi de cumplicidade e trocas valiosas de amizade. Obrigada por segurar minha mão e caminhar junto comigo. Agradeço consideravelmente aos meus professores que transmitiram inúmeros ensinamentos ao longo desta jornada, em especial a nossa orientadora Jéssica Caroline de Moraes Veríssimo por ter aceitado o convite para guiar nosso trabalho com maestria, compartilhando saberes e permitindo abrir caminhos em nossa vida profissional com ética, comprometimento e afeto. Obrigada por tudo! É com muita gratidão e alegria que escrevo essas palavras, com satisfação pessoal por ter chegado até aqui, enfrentado tantas batalhas e vencido dificuldades. Meu agradecimento e respeito às pessoas que perderam alguém amado e vivenciaram a dor dilacerante do luto. Dayane Maria da Silva AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, que é o autor das minhas maiores superações, como também pilar essencial da minha existência. Agradeço ao meu pai José Bezerra da Silva (in memorian), por seu amor, no qual me sustento diariamente. Aprendi por meio do luto a importância do nosso amor, pois ele transcende a morte todos os dias. O senhor vive em mim. Agradeço a minha mãe Rosineide dos Santos Oliveira, esse trabalho é seu. Obrigada por sempre permanecer ao meu lado e acreditar em mim. Sem a senhora, eu não conseguiria. Agradeço ao meu pequeno grande amor, minha filha Ágatha Pietra Bezerra da Silva Oliveira, por seu amor e sua alegria. Desde o primeiro dia de seu nascimento, você é minha fonte de força e inspiração. Agradeço ao meu irmão José Bezerra da Silva Filho, que me deu forças para seguir meus sonhos e sempre acreditou no meu potencial. Agradeço ao meu marido e companheiro Maurício dos Santos Soares Silva, cuja presença foi primordial para a conclusão deste trabalho. Grata por seu apoio diário e acima de tudo obrigada por seu amor. Essa vitória também é sua. Agradeço de forma especial à minha dupla Dayane Maria da Silva, que sempre se manteve ao meu lado, pela amizade incondicional e pelo apoio demonstrado ao longo dessa trajetória. Gratidão por nossa caminhada, que foi uma fonte inesgotável de amizade e amor durante todo o processo. Agradeço aos meus professores, que foram essenciais ao longo de toda a minha trajetória acadêmica. De forma excepcional, agradeço a orientadora Jéssica Caroline de Moraes Veríssimo, professora de quem me orgulho muito de ser sempre minha escolha para a orientação. Muito além de ter auxiliado na construção desse artigo, me mostrou uma nova forma de fazer psicologia. Obrigada por ter sido a melhor orientadora. Por fim, meus agradecimentos e meu respeito a todos aqueles que, assim como eu, sofreram a dor de perder alguém que amam, e a partir desse momento ímpar sentiram como se o seu mundo estivesse vazio. Vocês fazem parte desse trabalho. Maria Josenara Bezerra da silva “Ser-para-a-morte é antecipar o poder- ser de um ente cujo modo de ser é, em si mesmo, o antecipar.” Martin Heidegger. RESUMO O luto e a morte são fenômenos inerentes à vida humana, no entanto são assuntos temidos e evitados, acompanhados de dor e sofrimento. O presente artigo se debruça sobre esta temática e tem como objetivo apresentar as contribuições da fenomenologia hermenêutica no enfrentamento da morte e do luto, no contexto das perdas repentinas. Esta abordagem compreende o luto como uma possibilidade da vida humana e tem interesse nas significações atribuídas à morte e ao morrer. Se interessa em entender os sentidos de cada existência que é única e particular a quem sente. No percurso metodológico, foram utilizadas pesquisas bibliográficas, exploratórias e descritivas de estudos científicos, bem como a análise das falas dos personagens das obras cinematográficas: Beleza Oculta (FRANKEL, 2016), Tão Forte e Tão Perto (DALDRY, 2011) e por fim, Um Ninho para Dois (MELFI,2021). A análise dos filmes se deu através do movimento de realização de Critelli (1996), em que foi possível recorrer a arte como via de acesso à narrativa de personagens que experienciaram a morte repentina, por meio da “Analítica do Sentido” (CRITELLI, 1996) foi possível elaborar acerca desta tematização de modo mais cuidadoso. Ambas fazem conexão com a realidade através da ficção, trazendo o entrelaçamento da arte com a existência. Este estudo é de extrema relevância e significância do ponto de vista social e acadêmico, pois traz conhecimento àqueles que inevitavelmente passarão por tal processo, refletindo sobre a importância de se pensar sobre a finitude, proporcionando um novo olhar para os sentidos que compõem a existência humana. Palavras-chave: Fenomenologia hermenêutica, Heidegger, luto, morte inesperada, arte. ABSTRACT Mourning and death are phenomena inherent to human life, however they are feared and avoided subjects, accompanied by pain and suffering. This article focuses on this theme and aims to present the contributions of hermeneutic phenomenology in coping with death and mourning, in the context of sudden losses. This approach understands mourning as a possibility of human life and has an interest in the meanings attributed to death and dying. He is interested in understanding the meanings of every existence that is unique and particular to those who feel. In the methodological path, bibliographic, exploratory and descriptive research escritive of scientific studies wasused, as well as the analysis of the speeches of the characters of the cinematographic works: Collateral Beauty (FRANKEL, 2016), Extremely Loud and Incredibly Close (DALDRY, 2011) and finally, The Starling (MELFI,2021). The analysis of the films occurred through critelli's movement of achievement (1996), in which it was possible to use art as a way of access to the narrative of characters who experienced sudden death, through the "Sense Analytics" (CRITELLI, 1996) it was possible to elaborate on this theme in a more careful way. Both make connection with reality through fiction, bringing the intertwining of art with existence. This study is extremely relevant and significant from the social and academic point of view, because it brings knowledge to those who will inevitably go through this process, reflecting on the importance of thinking about finitude, providing a new look at the meanings that make up human existence. Keywords: Hermeneutic phenomenology, Heidegger, mourning, unexpected death, art. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 12 2 METODOLOGIA ..................................................................................................... 14 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................................................. 18 3.1 Contexto sócio-histórico-cultural da morte e do luto ............................................ 18 3.1.1 Contexto sócio-histórico-cultural da morte e do luto na cultura brasileira .. 21 3.1.2 Morte no contexto da Pandemia da COVID-19 no Brasil ........................... 23 3.2 A fenomenologia hermenêutica compreendendo o Luto ..................................... 23 3.3 “Dia fatídico”: narrativas sobre a morte repentina em um olhar fenomenológico existencial.................................................................................................................. 26 3.3.1 “Luz, câmera e ação”: narrativas sobre a morte e o morrer. ...................... 27 3.3.2 “Querido amor, Adeus.” ............................................................................. 28 3.3.3 “Você é madeira petrificada em mim.”: encontro sobre a temporalidade. .. 30 3.3.4 “Ela não está aqui segurando a minha mão”. ............................................ 32 4 CONCLUSÃO ......................................................................................................... 37 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 40 12 1 INTRODUÇÃO De acordo com o Dicionário Houaiss (2009, p. 1320), o termo “morte” tem a etimologia: “Interrupção definitiva da vida de um organismo. [..] Fim, término de qualquer coisa. [...]. Assim, para o entendimento mais amplo sobre a finitude humana é de fundamental importância apurar as concepções da morte, desde a sua origem. Segundo Kovács (1992), ao longo da historicidade humana a morte e o morrer adquirem visões diferentes desde a antiguidade até a idade contemporânea. Dessa forma, desde os primórdios da humanidade, a temática vem sendo discutida, assim, envolvendo diversas questões culturais, filosóficas, sociais e psicológicas. Atualmente, o temor e o desespero fazem com que o assunto se torne um tabu, pouco falado e evitado. Entretanto, a morte é um acontecimento que não pode ser ignorado, sendo intrínseco à condição humana. A morte e o luto são acontecimentos inerentes à vida humana. São fenômenos universais a todos os seres humanos, sendo necessária a apropriação sobre essas situações para a possível ressignificação dos sentimentos. A morte pode ocorrer por diferentes causas, seja de forma natural, seguindo o ciclo vital de desenvolvimento, como também por desastres, acidentes, assassinatos, suicídio, situações de adoecimento, entre outras. O processo de luto caracteriza as reações que cada pessoa apresenta pela perda e é influenciado também da maneira como a mesma acontece. No presente artigo, as pesquisadoras irão se debruçar sobre as vivências de luto decorrentes de mortes súbitas dos entes queridos. Conforme Kovács (1992) nas mortes repentinas, as pessoas presenciam o luto de forma inesperada e forçada, sem imaginar previamente a ocorrência da perda, o que se torna um acontecimento impactante, tendo em vista o choque emocional recebido e a carga de sofrimento intenso. Nesse contexto, tomando como abordagem a fenomenologia hermenêutica, a qual compreende o luto como uma possibilidade da vida humana e tem interesse nas significações atribuídas à morte e ao morrer. Dessa forma, tal abordagem destaca-se nesse momento de extremo significado e angústia, pois inclina-se na possibilidade do acolhimento e cuidado do outro em sua totalidade, sem pré-julgamentos ou enquadramentos. 13 A fenomenologia hermenêutica, junto com o aporte teórico filosófico, aborda o fenômeno em seu atual desvelamento e completude. Visto que, a mesma pode contribuir para o entendimento das vivências da morte e do luto, e para a compreensão das perdas existenciais. Sendo a finitude humana inevitável, acolher as dores e afetações geradas nesse processo é essencial, pois são próprias da existência de cada ser-no-mundo. A psicologia fenomenológica hermenêutica está atenta aos possíveis fenômenos que se desvelam em cada existência, inclusive àqueles que se manifestam no processo da morte e do luto. Aberta para compreender os sentidos atribuídos ao morrer, que são diferentes a cada pessoa, acolhendo-os sem julgamentos e rotulações, possibilita dar voz às angústias e acessar o que foi vivido, emergindo assim novos significados. O autor escolhido para construção desse artigo foi o filósofo alemão Martin Heidegger, que, segundo Kahlmeyer-Mertens (2015), é conhecido como o grande edificador do pensamento filosófico contemporâneo, por sua vez, formulando uma filosofia transformadora. Martin Heidegger (1889-1976), quando publicou em 1927 sua grande obra Ser e Tempo, pretendia desvelar as questões do ser. De acordo com Brito (2018, p. 7) “O filósofo alemão deixou-se orientar nas suas exposições pela questão do ser, do sentido do ser, questão metafisica fundamental presente na filosofia desde seus primórdios.” Em vista disso, Heidegger (2015) em sua obra Ser e Tempo percebe que a morte é um fenômeno do cotidiano, pois todos somos ser-para-o-fim, dessa forma, quem nega esse procedimento coloca diante de si a impossibilidade da existência, já que todo ser é um ser-para-a-morte. Heidegger, em sua vasta obra filosófica traz condições excepcionais sobre a existência do ser enquanto Dasein, Ser-Lançado-No-Mundo, ser de relações e possibilidades que se constroem a cada vivência a partir das suas experiências. Assim, a finitude humana aponta para o cuidado que constitui cada pessoa em sua existência, visto que a chegada da morte representa a condição última que encerra a realização dessas construções e Modos-De-Ser. Esse estudo tem como objetivo, apresentar as contribuições da fenomenologia hermenêutica no enfrentamento da morte e do luto, no contexto das perdas repentinas. Bem como, investigar o contexto sócio-histórico-cultural da morte 14 e do luto, com isso discorrer brevemente sobre a morte repentina no contento da pandemia do COVID-19, assim apresentando o cenário das perdas repentinas, além disso, expor a análise de obras cinematográficas, e por fim, discorrer sobre a fenomenologia hermenêutica e a sua contribuição para o processo de enfrentamento da morte e do luto. É de extrema relevância o tema aqui trabalhado, pois a fenomenologia hermenêutica compreende o luto como uma possibilidade da vida humana, e se debruça em entender os sentidos de cada existência que é única e particular a quem sente. Sendo assim, a fenomenologia hermenêuticadestaca-se nesse ponto tão significativo e de extrema angústia, pois tal abordagem dedica-se à possibilidade do acolhimento e cuidado do outro em sua totalidade e sem pré-julgamentos. Esta pesquisa é de acentuada significância do ponto de vista social, pois traz conhecimento às existências que inevitavelmente passarão por tal processo. 2 METODOLOGIA 15 É chegado o momento de apresentar o enredo técnico desta pesquisa, indicar os caminhos percorridos, perpassa sobre o compromisso ético e cauteloso, enquanto pesquisadoras, ao detalhar acerca da elaboração desta obra. Esta é uma pesquisa que se delineia como uma investigação que se deu de uma pesquisa bibliográfica, bem como exploratória e descritiva de estudos científicos, de natureza qualitativa. Tem como base de pesquisa, mais especificamente, a literatura visando a fenomenologia hermenêutica, bem como a morte e o luto no contexto das perdas repentinas. Segundo Gil (2002, p. 44) “A pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, construído principalmente de livros e artigos científicos [...] há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas”. Por conseguinte, Gil (2002, p. 41), descreve o objetivo da pesquisa exploratória como “proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses. Estas pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de ideias ou a descoberta de intuições.” Assim, a pesquisa qualitativa se caracteriza por analisar aspectos subjetivos do fenômeno estudado, de acordo com Gil (2008), confere destaque à interpretação para conhecimento mais amplo dos dados pesquisados. Em conformidade, a pesquisa descritiva, como bem colocada por Gil (2002) tem por finalidade definir particularidades, como também aspectos de determinadas amostras. Ou seja, esse tipo de estudo é caracterizado por estudar especificidades de determinado grupo. Corroborando com a coleta de dados, foram utilizados artigos e livros encontrados nos bancos de pesquisa acadêmica Scielo (Scientific Eletronic Library Online), Lilacs (Literatura latino-americana e do caribe em ciências da saúde) e Google scholar (Google acadêmico). Como critérios de inclusão, foram considerados os materiais bibliográficos escritos em português, para artigos publicados de 2012 a 2020, os quais abordaram a morte e o luto em situações inesperadas, a fenomenologia hermenêutica de Heidegger, bem como o contexto sócio-histórico-cultural da morte e do luto. Quanto aos livros, não foi feita uma delimitação temporal. Sendo uma pesquisa fenomenológica, no acontecimento de sua realização buscou-se, antes de tudo, cautela, no sentido de se aproximar do fenômeno a ser compreendido. Diante da problemática anteriormente citada, utilizamos como 16 instrumento de análise das narrativas dos filmes a “Analítica do sentido” de Dulce Critelli (1996), uma vez que o movimento de realização se dá em cinco momentos diferentes e não necessariamente simultâneos. Sendo assim, nesta pesquisa tivemos o encontro com cinco diferentes momentos, seriam eles o: desvelamento, revelação, testemunho, veracização e autenticação (CRITELLI, 1996, p. 92). O desvelamento é compreendido como o modo que fomos sendo afetadas enquanto pesquisadoras, momento em que nos afetamos com o tema, bem como, momento dedicado à escolha dos filmes; assim, manifestamos nossa intenção de desenvolvermos uma pesquisa acerca do luto e da morte repentina, é o encontro com o sentido da pesquisa e o sentido que está sendo desvelado no pesquisar, sendo compreendido como o “sentido sentido” (CRITELLI, 1996, p. 92). A revelação é o momento em que o desvelamento do fenômeno nos provoca a ir cada vez mais em busca de. É o momento em que as pesquisadoras estão em busca de novas compreensões acerca do objeto de estudo, sendo este espaço extremamente significativo para o significado sentido (CRITELLI, 1996, p. 92). O testemunho foi outro momento fundamental para as pesquisadoras, uma vez que para Critelli (1996) este é o momento da literalização, espaço dedicado ao recorte das falas dos personagens dos filmes escolhidos por nós. Este é o momento dedicado a comunicar nossas afetações por meio das narrativas dos personagens. Ainda enquanto movimento fenomênico de realização, a veracização é um dos momentos em que acontecem as articulações das narrativas com a tessitura do referencial teórico, é o momento em que ocorre o entrelaçamento do pesquisar, como os nossos olhares enquanto pesquisadoras. Para Critelli (1996, p. 92-93) este é o momento da mostração argumentativa, sendo o início da mostração das nossas afetações ao longo da produção desta pesquisa. Por fim, e não menos importante, é chegado o momento da autenticação (CRITELLI, 1996), espaço dedicado ao momento em que levamos nossa pesquisa à público e a autenticamos através do compartilhamento desta pesquisa em Psicologia Fenomenológica Existencial. Para a discussão dos resultados do presente artigo, utilizou-se a análise dos filmes Beleza Oculta (FRANKEL, 2016), como também, Tão Forte e Tão Perto (DALDRY, 2011) e por fim, Um Ninho para Dois (MELFI,2021). Estes, foram escolhidos por apresentarem o luto em situações de morte inesperada, trazendo 17 importantes reflexões sobre as vivências das perdas, representando assim forte conexão com a realidade por meio da ficção e arte. Com isso, segundo Pompéia e Sapienza (2004) acontece a “reunião”, que seria a harmonia e as sensações despertadas no espectador por meio da obra de arte, ao ser tocado por ela. A análise das obras cinematográficas será feita através dos recortes das falas dos personagens, bem como de cartas, especificamente do filme Beleza Oculta (FRANKEL, 2016). Desse modo, serão mantidos os nomes, visto que se trata de obras fictícias. Para esse estudo, será utilizada a “Analítica do Sentido” de Dulce Critelli (2007). Com isso, se faz necessário ressaltar que tanto os artigos escolhidos como os livros, foram utilizados para a análise dos filmes. Como meio de investigação dos longas-metragens, se utilizará o método fenomenológico, o qual se volta à compreensão das experiências vividas por cada pessoa em sua subjetividade. Como forma de delimitação do artigo, foram utilizadas as palavras-chave: fenomenologia hermenêutica, Heidegger, luto, morte inesperada, arte. De modo a proporcionar que futuros pesquisadores tomem como base o presente trabalho acadêmico em seus estudos e observações. Com isso, foram excluídas aquelas que não abordam os tópicos supracitados. 18 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO É da condição humana, que, desde a infância, por meio do contexto sociocultural pode-se constituir um vínculo com a morte e com o luto, em que permeiam os contextos das experiências humanas, perspectivas familiares e as religiosidades, mesmo que não seja apropriado. Desse mesmo modo, a morte tem um significado amplo, no qual, a mesma está ligada à despedida, sofrimento, separação, ruptura, abandono, dor, e por vezes, alívio. O presente subtítulo a seguir, vai debruçar-se no contexto sócio-histórico- cultural da morte, onde seguirá um enredo ao longo da história até alcançar a idade contemporânea. 3.1 Contexto sócio-histórico-cultural da morte e do luto Meu luto não durará um ano, mas toda a vida, ó minha esposa! [...] Doravante não quero mais banquetes, nem festas animadas pela presença de amigos, nem coroas floridas, nem os cantos de alegria que guarneciam meu palácio. Nunca mais tocarão meus dedos as cordas da lira, nem minha voz se ouvirá ao som da flauta líbia; tu levarás contigo todo o encanto da minha vida. (EURÍPEDES, 2004, p. 47). Conforme Kovács (1992), ao longo da história, diversas concepções sobre a morte foramsendo construídas. Desde os tempos mais primitivos das civilizações, esta temática é debatida e acompanhada de questionamentos. As sociedades adotaram rituais próprios na tentativa de compreender os significados representados pela finitude humana. De acordo com Borges (2018), na antiguidade, as pessoas tinham uma relação de naturalidade com a morte, era considerada como um acontecimento glorioso. Vários elementos expressavam a preocupação que tinham em relação ao morrer, através da arte, escrita e religião. Segundo Coulanges (2006), para os Gregos e Romanos, não bastava enterrar somente o corpo, mas tudo aquilo que era considerado necessário, bem como, riquezas, roupas, alimentos e bebidas dentro da sepultura, para manter o conforto do morto, que iria continuar a viver sobre a terra. Essa tradição precisava ser seguida, pois não queriam correr o risco de desonrar os seus mortos, para que não voltassem furiosos a aterrorizá-los. 19 Sob o mesmo ponto de vista, os mortos eram considerados divindades, de modo que, se não oferecessem os seus rituais fúnebres, acreditavam que os mesmos surgiriam de seus túmulos com revolta e castigariam os vivos de alguma forma. Esses rituais fúnebres, que serviram ao povo tanto como uma aproximação dos que partiam, quanto para elaboração do luto dos que ficavam, sofreram muitas alterações acompanhando a mudança de mentalidade das sociedades, a quebra de paradigmas que com o passar dos séculos insistiam em ocorrer. Tais rituais serviram por séculos como regras de conduta, dever cívico, passível de punição a todos os vivos sem restrição, bastava que estes não respeitassem a tradição de seus antepassados. (BORGES, 2018, p.34). Outra civilização antiga que se destaca em seus rituais fúnebres e interesse pela temática da morte são os povos egípcios. Eles acreditavam na vida após a morte e desenvolveram celebrações peculiares para representação de suas crenças e costumes que possuíam forte teor religioso. Conforme citam Lima e Leal (2018, p. 3) “os egípcios viam os mortos como entidades com sabedoria e poderes capazes de iluminar a vida dos vivos”. Ainda segundo Lima e Leal (2018), no Egito Antigo foram criadas avançadas técnicas de conservação dos corpos como a mumificação e seguiam os rituais escritos no Livro dos Mortos, notável obra que reunia o conjunto de textos proferidos em cada celebração e que eram colocados junto aos moribundos em suas tumbas. A morte era uma passagem para a eternidade, o morto continuaria a viver sobre a terra. De acordo com Ariés (2012), na época medieval o homem morria dentro de casa em seu próprio quarto. Os rituais de reunir a família, se redimir de seus pecados, pagar os seus débitos, eram possíveis de serem organizados a tempo já que a morte avisaria sua chegada. Os sacerdotes eram chamados para fazer orações, com a participação dos familiares. [...] a morte é uma cerimônia pública e organizada. Organizada pelo próprio moribundo, que a preside e conhece seu protocolo. Se viesse a esquecer ou a blefar, caberia aos assistentes, ao médico, ou ao padre trazê-lo de volta a uma ordem, ao mesmo tempo cristã e tradicional. [...] Tratava-se também de uma cerimônia pública. O quarto do moribundo transformava-se, então, em lugar público, onde se entrava livremente. [...] Era importante que os parentes, amigos e vizinhos estivessem presentes (ARIÈS, 2012, p. 39). Segundo Ariés (2012), caracteriza esse período com a visão de “morte domada”. Esses rituais precisavam ser iniciados e finalizados, sendo considerado uma desgraça morrer subitamente, pois não daria tempo de se redimir com o perdão divino, 20 para fazer uma boa passagem. Seria uma desonra para o morto e para a sua família, com exceção de catástrofes como: doenças, assassinatos. Nesse período, de acordo com Ariés (2012) a religião tem grande importância nas concepções sobre o morrer, tendo a fé como ponto central, com a ascensão do Cristianismo. Os dogmas religiosos ditavam o que era necessário para se ter uma experiência de vida digna até os últimos dias. O homem precisaria seguir os seus deveres, ser temente a Deus, pois do contrário não alcançaria a salvação. Após a apresentação desse breve percurso histórico até a Idade Medieval, desse modo, importa considerar e trazer a visão de morte na idade contemporânea e em seguida apresentar também as concepções sobre a morte e o luto a partir da cultura Brasileira. Na contemporaneidade, a visão de morte passou por diversas modificações, sobretudo pelo desenvolvimento da ciência e das diversas transformações trazidas pelos avanços tecnológicos. O homem se identifica como detentor do conhecimento, aquele que pode prolongar a vida e adiar o fim através de todo aparato das técnicas científicas. Segundo Borges (2018), nesse sentido, a morte se torna um tabu, mesmo sendo inerente à vida, procura-se evitá-la e por muitas vezes ignorá-la. Com o desenvolvimento da ciência, o campo da medicina ampliou técnicas que possam de algum modo afastar a morte ou controlá-la. Ainda de acordo com Borges (2018), posteriormente, surgem os hospitais para fornecer o suporte necessário no cuidado à saúde, sendo locais de privilégio para o morrer, deixando de ser o quarto, na própria casa do moribundo. Já não se tem mais tanta familiaridade com a morte, visto que se busca evitá-la a todo custo. Seguindo esta linha de pensamento acerca da morte e do morrer, estas atitudes adotadas frente à terminalidade da vida são modos possíveis de compreender o afastamento e a negação. Várias mudanças se evidenciam também nos rituais fúnebres e na destinação dos corpos dos mortos. Diferentemente da Época Medieval em que os enterros eram concentrados nas Igrejas ou em propriedades pertencentes a elas, até a Idade Contemporânea foram sendo construídos outros locais para o sepultamento, com a construção de cemitérios que posteriormente se tornaram espaços comerciais ou de domínio das próprias famílias, conforme enfatiza Borges (2018). 21 Todavia, se partirmos para a cultura mexicana, desde seus primórdios até a contemporaneidade, a visão de morte e morrer têm um significado de extrema importância, sendo interpretada de maneira festiva. Todos os anos é comemorado no dia 02 de novembro o popular “Dia dos Mortos”, onde se reúnem para celebrar a memória daqueles que partiram. Acredita-se que nessa noite de festa, os mortos deixam suas tumbas e tomam tequila e outras bebidas junto com a comida que lhes foi deixada por seus familiares. Por isso a data é chamada de Festa dos Mortos, pois nesta data os falecidos podem ter acesso aos prazeres que foram abandonados há tempos por sua condição de mortos. Assim, esse dia se torna muito importante para aqueles que adotam tais crenças, pois, por não seguir o rito e seus preparativos, seu morto não apenas ficará privado de seus prazeres como terá que esperar mais um ano para gozá-los. (ALVES, 2016, p.06). Conforme Alves (2016), esses rituais são acompanhados de músicas, abundância de comida, bebidas, visitas aos cemitérios, onde levam flores para celebrar a memória daqueles que se foram; há risos e bom humor. Há uma diversidade de crenças que possuem forte teor religioso e se fundem em diferentes culturas oriundas da colonização do País. Desta forma, acompanhando as transformações ocorridas ao longo das décadas, na atualidade, ainda há o distanciamento, evitação e temor no debate sobre a morte, com isso sendo uma minoria os costumes que têm a morte como festa, na qual se refere a cultura mexicana. Tomando como referência a cultura brasileira, se faz importante ressaltar a maneira como alguns povos vivenciam a morte através de seus rituais, crenças e costumes. E por assim, serão destacadas as tradições: Indígenas, Escravos e Quilombolas. Cabe destacar que há uma imensa pluralidade de concepções de acordocom cada etnia, aqui serão abordados recortes com alguns exemplos para ilustrar as diversidades com que cada cultura lida com a morte e o luto. 3.1.1 Contexto sócio-histórico-cultural da morte e do luto na cultura brasileira A cultura Indígena possui grandes contribuições para a identidade da história Brasileira. No que se refere às tradições culturais envolvendo o fim da vida, existe um ritual fúnebre realizado por tribos indígenas do Xingu chamado Kuarup, nome dado a um tipo de madeira em que é utilizado para representar as pessoas falecidas da tribo. Na celebração, eles realizam cerimônias, lamentam seu pesar, utilizam esse ritual 22 para encerrar o seu processo de luto, sendo a sua despedida final. Entendem a morte como libertação. (GUERREIRO, 2015). Em contraste, referente ainda aos rituais fúnebres, apreende-se que a cultura dos povos escravos africanos reverberou diretamente na cultura Brasileira, quando os mesmos foram trafegados para o Brasil. Quando um deles[escravos] morrer, reúnem-se todos os homens, mulheres e crianças à porta do falecido e de lá saem dançando pelas ruas durante toda a noite ao som de pequenos tamborins e outros instrumentos cômicos, perguntando ao cantar: << ê ê ê, por que ele morreu? ê ê ê, faltou-lhe peixe?>>; e segue assim, passando por toda uma lista de comida e bebidas. Depois deste belo passeio enterram o cadáver, tão solenemente como possam. (SOLER et al. LIMA; ROCHA, 2018, p.05). Segundo Lima e Rocha (2018), tais considerações foram possíveis, visto que materiais como comidas e bebidas eram encontrados em torno do corpo ao desenterrá-lo. Com isso, é possível perceber na música entoada que esse povo buscava motivos para tal morte, bem como acompanhar o morto na sua passagem da vida para a morte, como forma de despedida. Todavia, é importante ressaltar que existiam diversas formas de rituais fúnebres dos povos escravos, conforme Lima e Rocha (2018), a supracitada, foi a mais usada por esse povo no século XVIII. Outro povo de origem africana são os Quilombolas, que conforme Souza (2017) tem uma forte ligação com a religião do Candomblé. Que em sua prática realiza oferendas para os ancestrais, bem como tem sua base nos seres que direcionam o mundo dos vivos, onde são nomeados de orixás. Acreditava-se que com a morte a energia vital poderia se dissipar. Para que isso não ocorresse era necessário realizar oferendas, preces e rituais fúnebres, com o objetivo de manter a energia vital mesmo depois da morte. (SOUZA, 2017, p.94). Dessa forma, segundo Souza (2017) é possível salientar a forte ligação da natureza e dos cosmos nos rituais fúnebres dos povos quilombolas. Onde, existem diversas variações dependendo do contexto epocal e territorial, mas sempre representando a crença de origem africana. Dito isto, a pesquisa se norteia enquanto referência no Brasil na contemporaneidade, usando estudos produzido no país já supracitado. No qual se faz 23 de extrema importância esse recorte histórico, para que com isso seja finalizada a trajetória proposta. 3.1.2 Morte no contexto da Pandemia da COVID-19 no Brasil Conforme Nascimento (2020), a pandemia do COVID-19 ocasionou milhões de mortes em todo o mundo, levando os seres humanos a não ignorar a tematização sobre a morte e o luto, pois os mesmos passaram a ser uma presença habitual, sendo contextualizada e caracterizada a nível mundial. Ainda segundo Nascimento (2020) houve impactos diretos nas demandas de saúde mental da população, com estudos desenvolvidos no contexto brasileiro. Nascimento (2020), enfatiza que a vivência do luto foi modificada, devido às recomendações das autoridades sanitárias, havendo a quebra dos rituais fúnebres, que se mostram de extrema importância para a despedida dos entes queridos, fator este que colabora para potencializar o sofrimento, pois estes momentos ritualísticos de cerimônia são importantes para as ressignificações da perda. Neste Cenário pandêmico, muitas mortes ocorreram de forma repentina, impactando de forma significativa a maneira de vivenciar o luto, bem como potencializou o sofrimento dos familiares, amigos e conhecidos, devido aos impactos causados pela ruptura brusca da parda e o contexto em que aconteceram. Desse modo, diversos atravessamentos surgiram nos processos de luto, gerando intenso sofrimento. As concepções sobre a morte e o morrer criadas ao longo da história estão presentes na forma como o homem tenta compreender os processos de finitude. Desse modo, as diversas transformações ocorridas influenciam o cenário contemporâneo, onde muitos costumes e tradições ainda permanecem. Sendo assim, acerca dos construtos acima apresentados, importa apresentar reflexões que contemplem a visão da psicologia na compreensão da finitude humana. O acolhimento psicológico se faz de grande importância nas situações de luto. 3.2 A fenomenologia hermenêutica compreendendo o Luto De acordo com Moreira (2020), de princípio se faz necessário ressaltar que termos como morte e angústia sempre foram discutidos, pensados e tidos como 24 misteriosos e enigmáticos. Não somente, na crônica da filosofia, como também de muitas outras esferas do pensamento, bem como no campo da Tanatologia, ou na Teologia, como também da Psicologia. Os processos de luto são vivências únicas e singulares a cada pessoa. A Psicologia é uma ciência que pode contribuir para o enfrentamento e ressignificação das perdas existenciais, que acompanham dor e pesar. Muitos autores se debruçaram sobre a temática e trouxeram grandiosas contribuições a respeito desse fenômeno complexo que é intrínseco à vida. Deste modo, serão explanadas as concepções de um dos autores pioneiros nos estudos sobre a finitude humana, o alemão Martin Heidegger que apresentou ao mundo em 1927 o estudo sobre “o-ser-para-a-morte”, através da sua obra Ser e Tempo. Heidegger (1927) compreende o ser como Dasein, o ser-aí, lançado à existência, que está em constante transformação em sua relação com o mundo, que pode refazer e dar significado à sua vida. Tem consciência da sua finitude, sabe que um dia a morte chegará e sendo um ser-para-a-morte, pode se questionar a respeito dos sentidos que compõem sua existência. O Ser dispõe de infinitas possibilidades e a todo momento estabelece relações por estar aberto ao mundo. Desse modo, o fim da existência representa a ruptura da continuidade do ser, onde cessam as possibilidades de estar-no-mundo, o que lhe remete a angústia de ser-no-mundo-com-os-outros. A constante construção do ser só estará completa com a chegada da morte, pois esta representa a condição última que encerra as possibilidades de realização dos modos-de-ser do Dasein. Ter essa compreensão da possibilidade intransponível da morte, torna o ser mais consciente e livre para viver de forma autêntica. Assim, a finitude humana aponta para o cuidado que constitui cada pessoa em sua existência. A morte é uma possibilidade ontológica que a própria presença sempre tem de assumir. Com a morte, a própria presença é impendente em seu poder- ser mais próprio. Nessa possibilidade, o que está em jogo para a presença é pura e simplesmente seu ser-no-mundo. Sua morte é a possibilidade de poder não mais ser presença [...] (HEIDEGGER, 2015, p. 326). Heidegger, em Ser e Tempo (2015), na primeira parte, segunda seção, estuda a morte dos outros entes enquanto experiência possível de ser analisada e compreendida sobre o que viria ser a completude do Dasein. 25 O que sabemos da morte sabemos pela morte dos outros, e esse saber, seguindo Heidegger, não deve ser justamente essencial para o "antecipar-se a si mesmo para a morte”, certamente não deve nem sequer ter importância. Diante disso, nada mais extremo se poderia dizer, de tal modo que a experiência da morte do outro nos confronta coma possibilidade e indeterminação radicais, porque essa experiência não se transfere para nós mesmos e também não permite receber nenhuma representação (FIGAL 2016 apud NASCIMENTO; BRAGA 2018). O morrer é o mesmo que deixar de ser-no-mundo, porém mesmo que sejamos testemunha da morte de um ente, do deixar de ser-no-mundo de outro Dasein, não nos torna passível de vivenciar essa experiência no ser-meu. Segundo Braga e Nascimento (2018, p. 06) “A questão da morte, tematizada na letra heideggeriana é sempre a morte minha, uma vez que é o ser-meu que está em jogo. É sempre o ser da minha existência que está em causa nessa questão.” O Dasein, como ser-no-mundo lançado na existência, findado a ek-sistir, com isso, o ser do Dasein pode não se perceber condenado a finitude. Podemos aqui ressaltar um Dasein que de acordo com Braga e Nascimento (2018, p. 06) é “desaguando-para-o-fim, na iminência de totalização.” Ainda com Braga e Nascimento (2018), o Dasein é um constante ser buscando o caminho para tornar-se completo. Portanto, o homem destinado a um vir- a-ser, ainda não é, mas pode-se conceber a totalização a qualquer instante. [..] o ek-sistir do Dasein significa sair de si, um esvaziar-se no percurso, até chegar ao fim. Um tipo de ser que se desvela como rumo ao fim, Dasein sempre moribundo. Morto, já não é mais Dasein, pela falta do aí que o constitui essencialmente. Como possui a morte, enquanto finitude, como condição essencial, viver para o Dasein significa morrer. (NASCIMENTO; BRAGA,2018, p.07). A temática da morte é uma questão evitada, pois ao entrarem em contato com este assunto surgem sentimentos de dor e sofrimento, gerando reflexões sobre a própria vida. Quando se fala de perdas de pessoas queridas, muitos aspectos da existência humana se entrelaçam em meio a dor da vivência do luto. São histórias e vivências que se romperam com a perda do existir. Demonstram a esmagadora realidade de não ter mais a pessoa querida. O luto é um processo de elaboração de novos significados a partir do rompimento do vínculo que a morte causou. Este, que é único a cada um que a experienciam, não linear e não possui tempo definido. 26 A vida da pessoa enlutada passa por diversas mudanças ao lidar com o vazio deixado pela ausência dos entes queridos. O luto necessita ser vivido, expressado, encontrar sentido em meio a dor dilacerante de perder alguém. Se faz de extrema importância o acolhimento, a escuta, um apoio a essas manifestações de dor. E em alguns casos a ajuda psicológica especializada é necessária. Desse modo, a seguir serão apresentadas a análise de narrativas dos personagens de filmes que representam vivências de luto em situações de mortes inesperadas. O tipo de morte influencia o processo de luto e nesses casos inesperados ele tende a ser mais prolongado e dificultoso em sua elaboração. 3.3 “Dia fatídico”: narrativas sobre a morte repentina em um olhar fenomenológico existencial. As mortes repentinas são momentos delicados que acompanham sofrimento e choque emocional intenso. A imprevisibilidade com que acontecem faz com que as pessoas precisem encarar as perdas de forma abrupta, o que potencializa o sofrimento dos enlutados. Como afirma Kovács (1992, p. 155) “Mortes inesperadas são bastante complicadas, pela sua característica de ruptura brusca, sem que pudesse haver nenhum preparo”. As mesmas podem ocorrer de diversas formas, por situações de enfermidade, acidentes, suicídio, assassinatos, desastres, entre outras. A maneira como ocorreu irá influenciar diretamente o processo de luto. No presente artigo, não será especificado um único processo de luto, considerando a pluralidade dos sofrimentos que atravessam as perdas inesperadas, se tornam necessários a sensibilidade e olhar atento às diferentes nuances que se apresentam. As mortes repentinas são aquelas que acontecem sem anúncios ou qualquer sinal prévio. De maneira súbita, a notícia do falecimento causa impacto aos familiares, amigos e conhecidos, que passam a vivenciar o luto de forma abrupta, forçada e inesperada. Para elucidar a questão deste estudo, é oportuno destacar a análise das produções cinematográficas que expressam de forma próxima à realidade a vivência dessas experiências. Para a discussão dos resultados do presente artigo, utilizou-se a análise dos filmes Beleza Oculta (FRANKEL, 2016), como também Tão Forte e Tão Perto 27 (DALDRY, 2011) e por fim Um Ninho para Dois (MELFI,2021). Estes, foram escolhidos por apresentarem o luto em situações de morte inesperada, trazendo importantes reflexões sobre as vivências das perdas, representando assim forte conexão com a realidade por meio da ficção e arte. 3.3.1 “Luz, câmera e ação”: narrativas sobre a morte e o morrer. Destinado aos encontros, este é um espaço extremamente significativo para as pesquisadoras. Foram realizados recortes dos filmes que representam também, nossas afetações ao nos debruçarmos sobre as cenas dos mesmos. Os filmes foram escolhidos por representarem através da arte a relevância da tematização da morte repentina e do luto. Importa apresentar ainda, a relevância da arte para apreendermos a relação do cinema com a vida, principalmente pelo caráter simbólico que nos possibilita compreendermos a vida em seu acontecimento e através da metaforizarão das cenas em si. Assim, é “nessa perspectiva, de alguém que é tocado pela arte que me ponho a falar aqui. Vejo o ‘ser tocado’ pela arte como algo que só pode acontecer porque há uma profunda relação entre a arte e a existência” (POMPÉIA; SAPIENZA, 2012, p. 17). Serão apresentadas a partir de agora, falas dos personagens dos três filmes, em todos foram preservados os nomes dos personagens, por se tratar de recursos de domínio público. Foram destacadas as alocuções de alguns protagonistas em “Beleza Oculta”, as quais destacamos as narrativas de Howard, Amy (amor), Raffi (tempo) e Brigitte (morte); em “Tão Forte e Tão Perto” (DALDRY, 2011) nos debruçamos sobre as narrativas de Oscar Shell e Linda Shell; e por fim, e não menos importante, em “Um Ninho para Dois” (MELFI,2021), tivemos um encontro significativo com as narrativas de Lily e Jack. Dessa forma, as pesquisadoras darão ênfase as narrativas por meio de três eixos temáticos principais, no que se refere ao amor, temporalidade e morte. Segundo Howard, personagem do filme Beleza Oculta (FRANKEL, 2016) expõe a reflexão: Amor. Tempo. Morte. Essas três abstrações conectam todos os seres humanos na Terra. Tudo que desejamos, tudo que tememos não possuir, tudo que, no fim, acabamos comprando é porque, no fim das contas, nós ansiamos por amor, desejamos ter mais tempo e tememos a morte. (Narrativa de Howard em Beleza Oculta). 28 A alocução supracitada “Amor. Tempo. Morte” nos remete a Boff (2014), quando o mesmo traz o cuidado como “ethos” humano, assim o cuidado “Representa uma atitude de ocupação, preocupação, de responsabilização e de envolvimento afetivo.” (BOFF 2014, p. 37). Com isso o autor expõe a “A Fábula-Mito do Cuidado”: Certo dia, ao atravessar um rio, Cuidado viu um pedaço de barro. Logo teve uma ideia inspirada. Tomou um pouco do barro e começou a dar-lhe forma. Enquanto contemplava o que havia feito, apareceu Júpiter. Cuidado pediu-lhe que soprasse espírito nele. O que Júpiter fez de bom grado. Quando, porém, Cuidado quis dar um nome à criatura que havia moldado, Júpiter o proibiu. Exigiu que fosse imposto o seu nome. Enquanto Júpiter e Cuidado discutiam, surgiu, de repente, a Terra. Quis também ela conferir o seu nome à criatura, pois fora feita de barro, material do corpo da Terra. Originou-se então uma discussão generalizada. De comum acordo pediram a Saturno que funcionasse como árbitro. Este tomou a seguinte decisão que pareceu justa: "Você, Júpiter, deu-lhe o espírito; receberá, pois,de volta este espírito por ocasião da morte dessa criatura. Você, Terra, deu-lhe o corpo; receberá, portanto, também de volta o seu corpo quando essa criatura morrer. Mas como você, Cuidado, foi quem, por primeiro, moldou a criatura, ficará sob seus cuidados enquanto ela viver. E uma vez que entre vocês há acalorada discussão acerca do nome, decido eu: esta criatura será chamada Homem, isto é, feita de húmus, que significa terra fértil. (BOFF, 2014, p. 51-52). Boff (2014), apresenta a fábula, expondo “Terra fértil” como sinônimo de natalidade, onde a mesma é possibilidade de vida, na qual viver é constituição de afetividade. A “Terra fértil” de Boff (2014) é nascimento, tornando início de possibilidade, em contraste com a morte, que é finitude. Dessa forma, essas tonalidades afetivas consistem em ser-no-mundo, abrindo o campo de possibilidades, onde o Dasein é um poder-ser, bem como deixar-de-ser. (FEIJOO, 2011). 3.3.2 “Querido amor, Adeus.” Neste eixo temático, se faz importante ressaltar a presença da afetividade nas relações. O homem ao estar-no-mundo-com-os-outros constrói vínculos afetivos, pois segundo Heidegger (2015), o ser é constituído de cuidado, onde o mesmo vem a priori de toda atitude e situação do Dasein. 29 Apresentamos a Carta de Howard para o amor, do filme Beleza Oculta (FRANKEL, 2016): “Querido amor, adeus.” Diálogo entre Howard e Amy (amor), do filme Beleza Oculta (FRANKEL, 2016): Amor: “Oi, Howard. “ Howard: “Você vai chorar de novo?” Amor: “Não gosta quando sou triste?” Howard: “Você não é sempre triste?” Amor: “Não. Posso ser outras coisas. Posso ser feliz. Posso ser inesperado e imprevisível, sexy, afetuoso, misterioso... E reconfortante. Posso ser reconfortante, lembra? Você se lembra de mim?” Howard: “Olha, toda essa besteira de tecido da vida, guarda isso para outra pessoa, tá?” Amor: “Não é besteira, olha eu sei que você não acredita em mim, mas você tem que confiar em mim. Howard: “Confiar em você? Confiar em você?” Amor: “Sim”. Howard: “Eu confiei em você. E você me traiu. Eu via você todos os dias nos olhos dela. Eu ouvia você na voz dela quando ela ria e sentia você dentro de mim quando ela me chamava de ‘papai’. E no final você me traiu. E você me magoou profundamente.” Amor: “Não. Eu estou em tudo isso. Eu sou a escuridão e a luz, sou a luz do sol e a tempestade. Sim, você tem razão, eu estava lá na risada dela, mas também estou aqui e agora na sua dor. Eu sou a razão pra tudo. Sou o único ‘porquê’. Não tente viver sem mim, Howard. Por favor, não.” (Diálogo entre Howard e Amy(amor), do filme Beleza Oculta). Jack do filme Um Ninho para Dois (MELFI,2021): Eu desisto de mim tão rápido e aí desisto das pessoas que me amam, quer dizer da minha esposa. A minha esposa não sabe desistir, ela não saberia por onde começar, ela continua esperançosa, acreditando, se mexendo por aí pelo mundo, eu a odeio por isso, eu a amo muito por isso ao mesmo tempo. Eu amo tanto que não quero desistir com ela, não por ela. Eu não quero desistir com ela. (Narrativa de Jack em um Ninho para Dois). Perante o exposto na fala de Jack em Um Ninho para Dois, a tonalidade afetiva percebida é a esperança, na qual ocorre na possibilidade de existir, assim o ek-sistir, é preocupar-se com o próprio viver, bem como cuidar e zelar por essa existência que por vezes pode se tornar sufocante. Boff (2014, p.38) quando remete ao cuidado de si como do ente discorre “Um modo-de-ser não é um novo ser”. Ou seja, é no cuidado que o Dasein se estrutura, pois, sem o cuidado, o homem deixa de ser humano. Diante do diálogo colocado acima, se faz importante pensar: seria o luto um sentimento único? Como o vínculo afetivo influencia o processo de luto? Para nos 30 debruçarmos na temática de amor e perda podemos citar os autores: Adiche (2021) e Luz (2021). A necessidade de expor não só a perda, mas o amor, a continuidade [...] é um ato de resistência, uma recusa: é a dor lhe dizendo que acabou, e o seu coração dizendo que não; a dor tentando encolher seu amor para deixá-lo no passado, e o seu coração dizendo que o amor é no presente. (ADICHE, 2021, p.108). Seguindo o mesmo ponto de vista, Luz (2021, p. 01) “O luto é outra palavra para falar de amor”. Com isso, a maneira como o luto será vivido é influenciado pelo vínculo e sentimentos que se tinha com a pessoa amada. As vivências frente à terminalidade da vida são realidades complexas e inevitáveis à existência, a perspectiva fenomenológica hermenêutica permite a reflexão sobre os sentidos atribuídos por cada pessoa às experiências de luto que são fenômenos próprios da condição humana. 3.3.3 “Você é madeira petrificada em mim.”: encontro sobre a temporalidade. Heidegger (2015) enfatiza a vivência do Ser-lançado-no-mundo, ser de possibilidades que constrói sua história a cada momento que se vive. Com isso, sua existência está imersa em um horizonte temporal. O tempo permite a abertura do encontro com as possibilidades dessas possibilidades, ao passo que o ser tem liberdade para escolher as ocupações que serão prioridades dentro desse tempo. Em contraste, a morte inviabiliza a possibilidade de ressignificar a relação com a pessoa que se foi. Dessa forma cabe pensar: O que fazemos para ter tempo? O que fazemos com o tempo que temos? O que nos resta aqui? Afinal, como se dá a nossa relação com o tempo? Deste modo nos remetemos a Jack do filme Um Ninho para Dois (MELFI, 2021), como via de acesso a tematização da temporalidade e as afetações acerca da relação com a morte: Você acha que o tempo vai fazer tudo ficar bem? Vai fazer a gente ficar bem? Todas as manhãs quando eu acordo, a primeira coisa que eu escuto é a nossa bebê chorando. Esse precioso momento de agonia é o ponto mais alto do meu dia. Então, por favor não fala comigo sobre o tempo, porque tempo eu tenho de sobra, Lily. E eu odeio isso porque nunca acaba! (Narrativa de Jack em um Ninho para Dois). 31 A narrativa de Jack demonstra os sentimentos de impotência, dor e angústia, a percepção singular do sofrimento pela perda de sua filha em um tempo que parece ter paralisado. As memórias afetivas, os sons; nesta fala o choro da bebê representa a angústia, o vazio de não ter mais ela nos braços, uma existência sem a presença. Jack nos convida a apreender o grande encontro sobre a temporalidade, sendo representados pela compreensão do tempo de Chronos e o Kairós. Segundo Martins, et al. (2007, p. 220), “Kronos (em grego, κρόνος, isto é, a duração controlada) e o tempo de Kairós (em grego, καιρός, o momento certo ou oportuno)”. Acerca do tempo Chronos compreendemos que o mesmo nos “provoca o sentimento de inutilidade, significado ou sentido, quando da ausência de eventos sucessivos e/ou simultâneos, localizados em uma cronologia, de modo que preenchê- lo torna-se quase uma obrigatoriedade”. (ARCHANGELO, CAMPANARO, e VILLELA, 2021, p. 30). Ao que tange a percepção do tempo Kairós em sua “realidade, é a representação do tempo subjetivo, que pode ser a eternização do momento pela presentificação em sua elaboração. Significa também o momento oportuno, a oportunidade agarrada”. (MARTINS, et al., 2007, p. 220). Deste modo, a narrativa de Jack nos chega como convite para apreendermos as diversas nuances que atravessam a memória afetiva das relações humanas. Havendo um diálogo sensível sobre a percepção entre o tempo vivido, experienciado e o tempo cronológico. E não à toa, não há como pensar em temporalidade sem pensarmos sobre a tonalidade afetiva da angústia. Segundo Heidegger (1993 apud FEIJOO, 2011, p. 48) “A angústia da fenomenologia existencial representa o estado de ânimo fundamental do ser-aí em fuga de si mesmo, precisamente por ter que formar-se a si mesmo e ao mesmo tempo saber que está jogado e é um projeto finito”. Em consonância comHeidegger (1997 apud CARDINALLI, 2015, p. 4) apreende que “a angústia não é um sintoma ou uma condição patológica, é um estado fundamental da existência humana, que aproxima do ser humano a sua condição de precariedade e provisoriedade”. Apresentamos a Carta de Howard para o tempo, do filme Beleza Oculta (FRANKEL, 2016), em que nos remete a temporalidade acerca do pensamento de Heidegger sobre o tédio: “Dizem que você cura todas as feridas, mas não dizem que você destrói tudo que é bom no mundo, como transforma a beleza em cinzas. Você 32 não passa de madeira petrificada para mim. É um tecido morto que não se decompõe. Você não é nada”. (Carta de Howard em Beleza Oculta). A tonalidade afetiva considerada nessa carta é o tédio, que de acordo com Feijoo (2011, p. 51) “O tédio enquanto tonalidade afetiva fundamental denuncia, então, a totalidade inabarcável que nos assalta e nos afunda”. Ou seja, o tédio faz com que o Dasein não seja mais uma busca para a totalidade, mas “banido da estrutura temporal na totalidade” (FEIJOO, 2011, p. 51). Pensando sobre o tempo em relação ao luto, será que existe tempo determinado? O tempo dessas vivências acontece da mesma forma para cada pessoa? Por estar-lançado-ao-mundo, o homem tem ligação direta com o tempo, aqui compreendido sob a ótica Heideggeriana não voltado a uma cronologia mensurável, mas às experiências que se constituem a partir da existência, aquilo que é transitório, que vai se construindo e desconstruindo através das possibilidades de seu poder-ser em seu caráter de incompletude. Sendo assim, cada ser diante da dor de perder quem se ama e de saber-se finito assume características subjetivas para lidar com suas angústias e desvelar maneiras de enfrentar a dor. 3.3.4 “Ela não está aqui segurando a minha mão”. Ao longo de toda a pesquisa temos apreendido o quão delicado pode ser lidar com a morte e morrer. São diversas as percepções e elaborações possíveis acerca desta tematização. Ao longo da historicidade humana é muito comum que ela seja representada como uma grande problemática da vida, que pesa, como na narrativa de Lily: “Eu tô lidando com uns problemas bem pesados agora, porque tá todo mundo caminhando, sabe? Vivendo a vida como se nada tivesse acontecido”. (Narrativa de Lily em um Ninho para Dois). Segundo Soares e Mautoni (2013, p. 20): “o pesar pela morte de uma pessoa amada dependerá da formação de apego, do vínculo afetivo construído no decorrer da vida. Pesar é a reação emocional à perda, sentida em seus primeiros momentos”. Em outro momento, a fala de Jack nos convida a pensar sobre outro movimento fenomênico sobre a morte em que “Eu podia ter acordado naquela manhã, ter acordado ela, ter feito alguma coisa”. (Narrativa de Jack em um Ninho para Dois). 33 Poderíamos compreender esta narrativa pela tonalidade afetiva da culpa? Deste modo, sobre a culpa existencial: “a culpa nasce da angústia e se dá pela liberdade não exercitada em sua possibilidade plena. O arrependimento, que não anula a escolha, traz a lamentação, e, portanto, a tristeza” (FEIJOO, 2010, p. 69). O pesar sobre a memória da partida nos convida a pensar também em uma reação de que algo poderia ter sido feito, seria este um modo de se auto culpabilizar? Seria um modo de controlar o incontrolável sobre o morrer? Culpa esta, que não depende da ação específica do outro, tão pouco do seu querer, a morte é inesperada e não há como evitarmos necessariamente o seu acontecimento. Pensar sobre o que poderia ter sido evitado é um modo possível de compreendermos também a narrativa de Lily quando ela nos diz: “Eu me desfiz das coisas dela, não sabia o que fazer”. (Narrativa de Lily em um Ninho para Dois). O “(des)fazer” das coisas seria um modo de dar lugar a falta que o outro nos deixa com sua partida? Ao mesmo tempo que o outro se desfaz do passado, ele pode dar um novo sentido e significado ao caráter de novidade daquilo que ainda não aconteceu. Seria um modo de ressignificar a partida do outro? Se desfazer das coisas é um modo concreto do humano organizar as tonalidades afetivas sobre a morte? Seria uma tentativa de controle ou de cuidado? Refletir sobre a tentativa de controle diante da terminalidade da vida, nos reporta para fala de Lily: “Tem coisas que são fora do nosso controle, quanto mais cedo descobrir quais são elas, mais rápido pode deixá-las irem”. (Narrativa de Lily em um Ninho para Dois). É comum da existência humana querer ter controle sobre a morte? A terminalidade da vida nos remete a tamanha falta de controle que temos? De acordo com Sapienza (2020, p. 41) “Seu controle acaba mais perto ainda, acaba no seu próprio corpo, no corpo que ele é, que ele vê como destinado a morrer.” Ao pensar em Mortes inesperadas, é possível olhar para fala de Jack: “A minha menininha se foi e eu tentei me forçar a ir também”. (Narrativa de Jack em um Ninho para Dois). Assim, fazemos a ligação com Kovacs (1992, p.155), quando a autora desenvolve que “Mortes inesperadas são bastante complicadas, pela sua característica de ruptura brusca, sem que pudesse haver nenhum preparo”. Diante dessa alocução é possível perceber a ruptura brusca de Jack para com a morte da filha? É comum o pensamento de suicídio diante da morte de um ente amado? O morrer do outro é dilacerante ao ponto de “[...]me forçar a ir também”? 34 Os recortes das falas de Lily e Jack em Um Ninho para Dois (MELFI,2021), em situações distintas nos remeteram a alguns questionamentos: Essas narrativas seriam representações de um não controle da existência, de um não controle sobre a vida? Quando Lily discorre a alocução “Eu tô lidando com uns problemas bem pesados agora [..]”, pesado seria o sentimento de sofrimento que atravessa o luto? Podemos compreender “[..] problemas bem pesados [..]”, como o não conseguir lidar com o luto? Com isso, ao debruçarmos sobre a saudade, esse sentimento tão presente diante da perda, expressas na fala de Oscar “Sinto falta de como ele previa o tempo só de tocar na janela.” (Narrativa de Oscar Schell em Tão Forte, Tão Perto). Bem como na fala de Linda: “Sinto falta da voz dele dizendo que me amava.” (Narrativa de Linda Shell em Tão Forte, Tão Perto). Como lidar com a saudade imposta pela perda? Como encarar essa realidade de não ter mais a presença da pessoa querida? A saudade traz solidão? Esse contexto remete ao pensamento de Pompéia e Sapienza (2013, p. 52) quando afirmam: “é que desfecho, ao mesmo tempo que encerra, fecha, também é abertura. Quando ele ocorre tudo começa ou de novo, ou outra vez”. Oscar quando indaga: “E se você pudesse descer de elevador para visitar seus parentes mortos?” (Narrativa de Oscar Schell em Tão Forte, Tão Perto). Seria uma maneira de sanar essa saudade? Para os enlutados fica o desafio de viver sem a presença. Ao reflexionar sobre a terminalidade do outro no contexto de mortes repentinas, que são aquelas que acontecem sem anúncios ou qualquer sinal prévio. De maneira súbita, a notícia do falecimento causa impacto aos familiares que passam a vivenciar o luto de forma forçada e inesperada. Somos requisitados para a seguinte dicção de Oscar Schell: Naquele dia (11 de setembro), eles nos liberaram da escola assim que chegamos lá, fui a pé para casa. Meu amigo disse que ele ligaria, então fui conferir as mensagens da secretária eletrônica, havia várias mensagens do meu pai, ele estava no prédio. Mas é uma coisa que ninguém sabe, ninguém mesmo. O telefone tocou, eu não consegui atender, não dava. Ele tocou várias vezes e eu não me mexi. Eu queria atender, mas não consegui, não consegui. Caiu na secretária eletrônica, eu ouvi o sinal, então eu ouvi a voz do papai. Você está aí? Você está aí? Você está aí? Ele precisava de mim, eu não consegui atender, estava assustado, não consegui. (Narrativa de Oscar Schell em Tão Forte, Tão Perto).É perceptível nesse recorte da fala de Oscar Schell o medo, a negação, a tristeza, a culpa, bem como a angústia. De acordo com Soares e Moutoni (2013, p.21) “Todas as perdas são dolorosas, mas algumas nos afetarão mais do que outras.” O 35 modo como ocorre o fim da existência influenciará nas características do processo de luto vivenciado por cada pessoa de maneira singular. Em conformidade, Pompéia e Sapienza (2013, p. 79) “A morte se torna ainda mais perturbadora quando vemos que aquelas pessoas cujas vidas gostaríamos de preservar talvez até mais que a nossa, podem morrer.” Com a terminalidade da existência do outro, na impossibilidade de ressignificação diante daquele ser que se encontra na completude do Dasein, de acordo com Kovács (1992, p. 145) “A morte é a possibilidade mais peculiar, irrefutável e irrepresentável do ser-aí. Dentro de todas as minhas possibilidades, já está presente a absoluta impossibilidade de não estar mais aí”. Diante do exposto, somos enviados para a locução de Oscar: Eles tentaram salvá-lo, mas não conseguiram. Ele nunca mais voltar, por mais que eu queira, meu pai nunca mais vai voltar. Eu achei que não conseguiria viver sem ele, mas agora sei que posso. Acho que isso deixaria meu pai orgulhoso, que é o que eu sempre quis. (Narrativa de Oscar Schell em Tão Forte, Tão Perto). Diante dessa alocução de Oscar Schell em Tão Forte, Tão Perto (DALDRY, 2011), nos leva a pensar: Sentir falta é uma possibilidade de ressignificar? Aqui ele expressa a possibilidade da continuidade da existência apesar da dor da ausência. Diante dos recortes das alocuções de Linda Schell e Oscar Schell em Tão Forte, Tão Perto (DALDRY, 2011), em situações alternadas nos leva a pensar: Será que Linda e Oscar estariam limitando suas possiblidades de existir, quando detêm essa memória afetiva do sentir falta, assim não conseguindo reconstruir novas memorias afetivas com novas pessoas, sobre outras formas de amor? Ao nos debruçarmos sobre o assunto morte, bem como a morte inesperada, somos solicitados a considerar os recortes das falas do filme Beleza Oculta: “Depois de mim o que resta? A morte é mais importante que o tempo. A morte dá valor ao tempo.” (Narrativa de Brigitte ‘Morte’ em Beleza Oculta). Bem como em outra narrativa de Brigitte: você é uma parte natural da vida, que não devemos odiar, nem temer você. Que devemos simplesmente aceitar você, certo? É isso? Entendo, mas é o seguinte, isso tudo é uma grande babaquice intelectual, porque ela não está aqui segurando a minha mão. (Narrativa de Howard para Brigitte ‘morte’ em Beleza Oculta). 36 Dessa forma, é possível nos remeter a Arantes (2019, p. 49) “Aceito a morte como parte da vida[...]” com isso, morte é um acontecimento que faz parte do desenvolvimento humano, colocando em evidência a finitude da vida. Ainda no debate sobre a finitude, bem como angústia diante da terminalidade da vida, se evidencia a narrativa de Howard: “Quando percebemos que nossa filha, que minha filha estava morrendo, eu rezei. Não a Deus ou ao universo, mas à Morte. Propus uma troca. “Leve-me e deixe minha filha.” Mas ela não quis fazer a troca.” (Narrativa de Howard em Beleza Oculta). Sobre o mesmo ponto de visão, nos remetemos para a Carta de Howard para a Morte: “Cara morte, você carrega tanta mitologia, causa tanta dor, inspira tanto medo. Mas você é um tigre de papel para mim. Você é apenas medíocre, patética e impotente. Você nem sequer tem autoridade para fazer uma simples troca.” (Carta de Howard para a morte em Beleza Oculta). Diante das alocuções, é perceptível a sensação de impotência diante de algo que é inevitável como a morte? Importa trazer a compreensão de Sapienza (2020, p.40) “[...] ele (o ser) não pode realizar todas as possibilidades, de que ele, sendo finito, tem como possibilidade mais certa o poder não mais existir. A angústia se anuncia quando, compreendendo quem ele é mais propriamente, Dasein compreende que seu tempo acaba, que ele é mortal”. Assim, assumir e se apropriar de si mesmo, da existência, bem como da possibilidade da morte, na qual é a completude do Dasein, que segundo Sapienza (2020, p.42) “Dasein é aquele ente que existe sempre sendo o seu já sido, a sua história já acontecida, e aquele a quem falta ser. Faltar-lhe ser significa o seu ser incompleto, até que morra[...]”. Ao pensar na morte, somos convidados a refletir diante de um acontecimento inerente a vida, porém tais questionamentos acompanham temores e tabus, o que causa desconforto. Sendo necessária a apropriação sobre essas situações para a possível ressignificação dos sentimentos. Com esse sentido, somos reportados para a locução de Brigitte: “A morte não tem fãs, não entendo o motivo, pois é libertador”. (Narrativa de Brigitte ‘Morte’ em Beleza Oculta). Seria aqui o deixar-ir? Seria então a incompletude da existência? A alocução supracitada, nos destina para Moltam apud Santos (2017, p. 06) “O homem tem direito à sua morte, como tem direito à sua vida. Morrer é um processo humanamente tão importante quanto nascer e viver”. Com isso, do mesmo modo, Heidegger (2015) discorre sobre o Dasein está a todo momento buscando sua completude e ser completo é chegar a morte. Bem como, a partir do 37 momento que temos a consciência dessa finitude, somos livres, a vida se torna autêntica. Heidegger (2015) afirma que o Dasein, o ser-aí que está em constante transformação em sua relação com o mundo, pode se refazer e dar significado à sua vida. Tem a consciência da sua finitude, sendo um ser-para-a-morte. Desse modo, o fim da existência representa a ruptura da continuidade do ser, onde cessam as possibilidades de estar no mundo e traz angústia. Frente a cada palavra aqui citada do filme Beleza Oculta (FRANKEL, 2016), elas nos convidam a refletir: Será que as pessoas se questionam sobre a chegada do “dia fatídico”? Vida e morte são mesmo polos opostos? O que se pode refletir sobre a necessidade de controle de coisas que são imprevisíveis? Diante dessa fala de Oscar Shell “[...]não consegui, não consegui[...]” percebe-se o medo da morte do pai. Com isso, essa reação é considerada comum ou tabu em nossa sociedade contemporânea? Com a alocução de Brigitte “[..] é libertador” é possível encontrar liberdade na morte, ou para quem vive o luto é aprisionante? 4 CONCLUSÃO 38 “Só não deixe de perceber a beleza oculta que há na vida” (Brigitte do filme Beleza Oculta). É perceptível que o processo de morte e luto sofre metamorfoses, de acordo com o contexto epocal. Mas, tais temáticas ainda são olhadas como um tabu diante da sociedade. Diante disso, ressalta-se a importância de falar sobre a morte e o luto em todas as fases de desenvolvimento para a comunidade em geral, bem como a ampliação do debate em formações para profissionais da saúde e da educação sobre a temática. O luto é uma escola, para todos aqueles que passam a dor da perda. Como foi visto, é de extrema importância atravessar tal momento, assim debruçar-se na vida outra vez, entendendo a importância que a existência possui, na qual a morte é a iminência da completude de cada ser. A pandemia de Covid-19 trouxe impactos na saúde a nível mundial, onde inúmeras mortes repentinas aconteceram em um curto período, o que ocasionou diversas modificações nas vivências de luto e atravessamentos na saúde mental, tendo em vista o sofrimento emocional gerado. Dessa forma, a Psicologia é uma ciência que pode contribuir para o entendimento e ressignificação das perdas que acompanham sofrimento e pesar, especialmente quando se trata de um ente amado. Com isso, a ação clínica fenomenológica tem como raiz a ética, o cuidado como atitude e suporte indispensável para a constituição do ser, bem como não possui uma metodologia solidificada, mas umaoferta de olharmos para o nosso próprio Dasein. Para assim, só dessa forma percorrer o trajeto do não reducionismo. Com isso, o terapeuta não deve se prender a nenhum pré-diagnóstico, ou encaixar o paciente em teorias. A mesma, se volta ao sujeito (paciente) para que ele ganhe voz e responsabilidade da própria existência. Assim, essa abordagem compreende a história de vida desse paciente/cliente como modificações da estrutura total do ser- no-mundo, pois, é vivendo com outros entes que o ser se constrói diariamente. O Terapeuta clínico que segue essa linha de embasamento deve aceitar o paciente/cliente de modo incondicional, para isso, o clínico tem de acreditar no humano e em todas as potencialidades e possibilidades que o cercam. No setting não haverá julgamentos, desrespeito ou enquadramento do paciente. 39 Através da psicoterapia o cliente pode ampliar a compreensão sobre suas próprias experiências e desvelar outros sentidos, possibilitando a ressignificação de vivências. Portanto, este estudo possibilitou novos olhares e perspectivas sobre o processo de luto em sua singularidade frente a perdas repentinas, por meio do entrelaçamento da arte com a realidade. Dessa forma, trazendo a fenomenologia hermenêutica como aporte teórico para esta construção sobre a importância de olhar para a finitude como intrínseca à condição humana, refletindo sobre os sentidos que compõem cada existência, diante da dor dilacerante de perder alguém amado, sem menosprezar a “beleza oculta que há na vida”. 40 REFERÊNCIAS ADICHIE, C, N. Notas sobre o luto. 1° Ed. São Paulo: companhia das letras, 2021. ALVES, S; Mexicas e mexicanos: A morte como identidade cultural. 9ª Ed. São Paulo: Revista agenda social, 2016. ARCHANGELO, A.; CAMPANARO, C. R.; VILLELA, F. C. B. Chronos, Kairós e a temporalidade da pandemia: confronto entre deuses e possibilidade de reinvenção do setting. 2020. 14f. Artigo – Jornal de Psicanálise, São Paulo, 2020. ARIÈS, P. História da morte no ocidente: da Idade Média aos nossos tempos. Ed. Especial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012. Beleza Oculta. Direção: David Frankel. Produtor: Bard Dorros, org. Roteiro: Allan Loeb. 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