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Fim da Guerra Fria III A nova ordem internacional A Guerra Fria terminou oficialmente com o fim da União Soviética, em dezembro de 1991, emb- ora seu encerramento já tivesse sido efetivado com a queda do Muro de Berlim, em novembro de 1989. A partir de então, instaurou-se um novo mundo, baseado em novas relações econômicas e geopolíticas, que não mais trazia a anterior marca da divisão Leste-Oeste nem o velho confronto entre o bloco capitalista e o socialista. Esse mundo passou a ter novas características, destac- adamente a completa hegemonia da ordem capitalista, e compunha o que alguns preferiram chamar de nova ordem internacional. Antes mesmo da década de 1960, o capitalismo ingressara numa nova fase de desenvolvimen- to, chamada por alguns de Terceira Revolução Industrial, baseada numa dinâmica produtiva com sofisticada tecnologia, principalmente em microeletrônica – que envolvia computação, comuni- cações e robótica –, biotecnologia e química fina. Eram necessários mais investimentos em pesquisas e implementação tecnológica, cuja viabi- lização passou a depender principalmente de grandes conglomerados empresariais, possuidores de enormes volumes de capital. Em tal situação, acentuaram-se os processos de fusões, aquisições e parcerias de empresas, exigindo, em contrapartida, grande retorno do investimento feito. Isso passou a ser garantido, em parte, por lucros obtidos nos amplos mercados desprovidos de barreiras nacionais protecionistas. Paralelamente ao processo típico de concentração de capitais, procedeu- -se à irradiação mundial dos negócios, globalizando mercados. Na região asiática emergiu outro fator inovador dessa nova ordem internacional: o caso chinês, cuja economia em constante crescimento – em média, 9,5% ao ano desde 1978 – transformou o país num dos mais dinâmicos eixos comerciais do mundo. Contando com um Estado que é acionista majoritário nas 150 maiores empresas do país, o PIB da China superou o da Alemanha, passando a ser a terceira maior economia mundial, ficando atrás apenas de Estados Unidos e Japão entre 2007 e 2008. Apesar da crise internacional iniciada em 2008, o PIB chinês continuou em forte crescimento, fazendo do país a segunda maior economia mundial em 2010. Tais tendências econômicas recentes estimularam vários especialistas a fazer projeções de que a produção econômica do grupo de países que compõem o Brics poderá superar a do G7 (grupo dos sete países mais ricos da época final da Guerra Fria: Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Canadá e Itália) em alguns anos, e a da China superará a dos Estados Unidos. Caso se confirme, isso aponta um deslocamento econômico que poderá ter muita influência na cor- relação de forças internacionais. O neoliberalismo e o “Estado mínimo” Com o dinamismo de empresas ligadas a amplos mercados, a qualidade e o preço dos produtos, em meio à intensa competitividade, passaram a ser decisivos para a garantia de lucratividade. Lentamente, em vários países do mundo, foi surgindo a tendência de queda das reservas de mercado, que haviam sido conseguidas com barreiras protecionistas, favoráveis a apenas alguns setores da economia. Esse dinamismo impulsionou a expansão capitalista – a globalização – contando com a queda do blo- co soviético socialista. Integrada a esse quadro, ganhou intensidade a formação de blocos econômicos, associações regionais de livre mercado que derrubaram antigas barreiras protecionistas; dezenas desses blocos nasceram na década de 1990. À frente dessas organizações estão o Nafta (North American Free Trade Agreement – Acordo Norte-Americano de Livre-Comércio), sob a liderança dos Estados Unidos e envolvendo o Canadá e o México; a União Europeia, com a economia alemã como a mais forte e dinâmica; e o Bloco do Pacífico, sob a liderança do Japão. Por intermédio do Gatt (General Agreement on Tariffs and Trade – Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio) e, a partir de 1995-1996, da Organização Mundial de Comércio (OMC), a superação econômi- ca das barreiras nacionais se fortaleceu, abrindo caminho para integrações até entre os próprios blocos econômicos regionais. Paralelamente às associações econômicas regionais, com diminuição ou eliminação dos protecionismos e atração de investimentos internacionais, estabeleceu- se a limitação dos gastos governamentais, prev- alecendo a economia de mercado e a busca de um “Estado mínimo”. O fortalecimento do setor privado e a crise do Estado intervencionista deram impulso, por sua vez, às pregações neoliberais, cujos principais defensores eram o austríaco Friedrich Hayek, ganhador do prêmio Nobel de Economia em 1974, com suas ideias antikeynesianas, e os norte-americanos Milton Friedman (1912-2006), prêmio Nobel de Economia em 1976, e Robert Lucas, prêmio Nobel de Economia em 1995, entre outros. Um dos centros mais impor- tantes das teorias neoliberais era o departamento de economia da Universidade de Chicago, conhecido como Escola de Chicago, onde atuavam famosos professores como Milton Friedman, autor da obra Capi- talismo e liberdade. Na política, as condições favoráveis ao neoliberalismo só se efetivaram com os governos conservadores de Margareth Tatcher, a partir de 1979, no Reino Unido; Ronald Reagan, a partir de 1980, nos Estados Uni- dos; e Helmut Kohl, a partir de 1982, na Alemanha. Em seguida, o neoliberalismo irradiou-se pelo mundo, integrando-se ao que alguns denominaram de “pensamento único”. Todos os países que seguiram as ori- entações neoliberais implementaram políticas de venda de empresas estatais a empresários ou grupos privados. Essas privatizações ampliaram o espaço econômico dos grandes conglomerados e a subordi- nação dos Estados ao mercado internacional. O novo modelo de pensamento social e político, o neoliberalismo, era estimulado pelo principal eixo da ordem capitalista, os Estados Unidos, com medidas que visavam influir na atuação de governos, organis- mos internacionais e grupos econômicos, naquilo que se convencionou chamar de Consenso de Wash- ington. Essa denominação havia sido criada em 1989 por um ex-funcionário do Banco Mundial e do FMI, o economista inglês John Williamson, durante a preparação de uma conferência pelo Institute for Interna- tional Economics (IEE), de Washington. A conferência, como exigia o Congresso norte-americano, negociava o refinanciamento da dívida exter- na de vários países, em troca de reformas especialmente centradas na abertura das economias nacionais ao capital internacional e no término das regras que impediam a livre circulação de mercadorias e investi- mentos, entre outros aspectos. Por todo o mundo, a adoção do Consenso de Washington envolveu ainda a redução dos gastos públicos com saúde, educação, previdência social e outras políticas sociais, signifi- cando, para os países desenvolvidos, a desmontagem de boa parte do Estado de bem-estar social e, para os países dependentes, chamados de países em desenvolvimento ou emergentes, a piora das condições sociais. Essa situação gerou extremos de pobreza para a maioria das populações e riqueza para um reduz- ido número de pessoas. Da mesma forma, ampliou-se o descompasso entre países e regiões no tocante à produção e ao usufruto das novas tecnologias. Em 2000, tomando um exemplo extremo, somente na cidade de Tóquio, no Japão, havia mais telefones do que em todo o continente africano. A chamada Terceira Revolução Industrial implicou inda a questão do desemprego, como decorrência do uso de altas tecnologias produtivas (robótica, informatização, etc.) ou como resultado da reformulação e otimização da produção, incluindo-se o remanejamento e a demissão de funcionários nas empresas e instituições estatais. Diferentemente da Primeira Revolução Industrial, iniciada no final do século XVIII, e da Segunda Rev- olução Industrial, no século XIX, a época do capitalismo global encontrou parte dos movimentos trabalhis- tas em refluxo e fragilizada, assim como sindicatos enfraquecidos.Além disso, a globalização abriu a pos- sibilidade de busca de mão de obra barata em qualquer parte do mundo, por causa das reestruturações e da enorme oferta de trabalhadores. Assim, graças à alta tecnologia, boa parte do trabalho nas grandes indústrias passou a ser feita de for- ma intensiva e com menos mão de obra, levando ao declínio a filiação de trabalhadores às organizações sindicais. De certa forma, a própria força ideológica da sobrevalorização do mercado em vez das políticas sociais também teve sua contribuição ao fragilizar o movimento trabalhista. Os neoliberais defendem que essa condição do trabalho e do trabalhador é irreversível enquanto as prioridades forem a modernização e a ampliação da economia de mercado. Já os antineoliberais reclamam medidas voltadas para aliviar as dificuldades sociais, que, a seu ver, só podem ser garantidas pela ação do governo, dos sindicatos e da população. Defendem ainda que somente com o aprimoramento contínuo da democracia os cidadãos poderão participar amplamente das decisões que lhes dizem respeito e se obterá maior eficiência do Esta- do no âmbito da promoção da justiça social e da garantia das liberdades individuais. a ordem monetária internacional Para as relações comerciais e financeiras no âmbito dos blocos econômicos mundiais, tornou-se impre- scindível o uso de um regime estável de taxa de câmbio (paridade entre moedas) e de uma moeda capaz de circular livremente pelos países-membros, sem obstáculos criados por políticas nacionais. Entre as difi- culdades enfrentadas pelos defensores da reformulação monetária, estaria a questão de regular a emissão dessa moeda única internacional e determinar as taxas cambiais na conversão das atuais moedas para a nova. Foi nesse contexto que algumas uniões comerciais internacionais discutiram a questão monetária. No caso da União Europeia, os países-membros definiram a criação de uma moeda regional (euro) assinando o Acordo de Maastricht (1992), reforçado pelo Acordo de Madri (1995), instituindo o novo padrão mone- tário regional a partir de 2002. Outro sério problema para os Estados na economia globalizada é o volume gigantesco dos valores finan- ceiros em circulação pelo mundo, que tanto podem estimular fortemente a economia desta ou daque- la região, com imensos investimentos de capitais, quanto sufocá-la, com a saída dos capitais aplicados. Nesse quadro monetário internacional têm surgido propostas para sua alteração, visando a uma maior garantia de estabilidade nos fluxos e valores. Um exemplo é a sugestão feita em 1995, e reiterada nos anos seguintes pelo G24, grupo dos 24 países representantes das nações em desenvolvimento da América Latina, África e Ásia. Na proposta, tomando o FMI como avalista, seria criado um novo padrão monetário internacional baseado num valor médio de uma cesta composta das cinco principais moedas do mundo. O contexto dessas discussões pode ser mais bem compreendido se for traçado um breve histórico da ordem monetária internacional ao longo do século XX. Até meados dos anos 1990, a economia mundial, em contínua expansão, contou com várias ordens monetárias, cuja variação espelhou as transformações históricas do capitalismo. do padrão-ouro à supremacia do dólar: o sistema Bretton Woods Do século XIX a 1914, o mundo capitalista ocidental contou com um sistema monetário sustentado no padrão-ouro. Isso significava que todas as moedas nacionais eram convertidas em quantidades fixas e pa- dronizadas de ouro, o que determinava as respectivas taxas cambiais nas relações comerciais e de fluxos de capitais entre as nações. Essa foi a época da predominância internacional da libra esterlina inglesa. Com a Primeira Guerra Mundial, a conversibilidade foi abandonada em meio às crescentes emissões monetárias dos vários países, originando as taxas flexíveis em vigor na década de 1920. Tal sistema definia a relação entre as moedas, obtida com base em seus valores em 1914, multiplicados pelo diferencial de inflação entre elas. A ordem flexível permitiu amplos fluxos de capitais especulativos, provocando profundas oscilações, que afetaram o intercâmbio internacional de mercadorias e de serviços e os próprios valores monetários. Ao mesmo tempo, deu-se a ascensão da supremacia internacional do dólar norte-americano, expressando a liderança dos Estados Unidos no mundo ocidental. Próximo do final da Segunda Guerra Mundial, em 1944, a ordem monetária internacional foi novamente reorganizada no Acordo de Bretton Woods, que criou o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. Nessa localidade do estado de New Hampshire, Estados Unidos, reuniram-se representantes de 44 países, incluindo a União Soviética, e definiu-se um regime de câmbio em que o ouro e o dólar eram transformados no eixo central do sistema monetário internacional. No fundo, o dólar substituía a posição que fora antes ocupada pela libra esterlina. Esse sistema, porém, começou a apresentar dificuldades pouco tempo depois, principalmente devido à emissão progressiva de dólares por parte dos Estados Unidos, a fim de garantir recursos para financiar seus gastos públicos, como os programas sociais do presidente Kennedy e a política externa, principalmente a Guerra do Vietnã. A emissão descontrolada de dólares resultou em inflação exportada para a economia mundial, atraindo, por um lado, os protestos de várias personalidades internacionais, especialmente do presidente francês Charles de Gaulle, e, por outro, a crescente troca das reservas em dólares de vários países por respectivas quantidades em ouro, colocando em risco as próprias reservas em ouro dos Estados Unidos. Em 1971, o presidente norte-americano Richard Nixon quebrou o Acordo de Bretton Woods simplesmente suspen- dendo a conversibilidade do dólar ao ouro, e pouco depois desvalorizando o dólar e liberando seu preço em relação ao ouro e a outras moedas. Bretton Woods e as crises Em 1976, oficializou-se outra ordem monetária internacional, que deixava livre a taxa cambial dos países. Era um antissistema Bretton Woods, inspirado nos monetaristas (neoliberais) norte-americanos liderados por Milton Friedman, em que prevaleciam as taxas flutuantes das moedas, livremente determinadas pelos mercados. Foi dentro desse antissistema que, na década de 1970, ocorreu uma acentuada desvalorização do dólar em relação a algumas moedas fortes, especialmente o iene (Japão) e o marco alemão, situação que só foi revertida durante os anos 1980, com o governo Reagan. Graças ao pagamento de altas taxas de juros aos investimentos feitos nos Estados Unidos, foram atraídos enormes capitais internacionais, sem, contudo, anular os constantes deficits norte-americanos. O grande fluxo de recursos para os Estados Unidos dispensava a emissão de moeda e até servia para cobrir despesas. A partir de 1985, o governo norte-americano, sob o comando do secretário do Tesouro James Baker, retomou passo a passo a normalização da taxa cambial do dólar, desvalorizando-o em relação ao iene e ao marco alemão e conservando a taxa cambial flutuante. Essa medida, que facilitava as idas e vindas do capital especulativo, resultou em violentas oscilações das taxas cambiais das nações. Um exemplo das consequências desestabilizadoras que podem ser provocadas pela entrada de grande volume de investimentos seguida de fuga de capitais especulativos aconteceu no México, em 1994-1995, obrigando o governo desse país a buscar ajuda financeira internacional, especialmente nos Estados Uni- dos e em órgãos internacionais. O empenho norte-americano visou, antes de tudo, evitar uma completa quebradeira no México, cujas dificuldades, temia-se, poderiam irradiar-se para todo o Nafta. Para o México, mesmo assim, a crise derrubou o PIB em mais de 7%, dobrou o desemprego e fez a inflação saltar de 7,1%, em 1994, para mais de 48%, em 1995. O “efeito tequila” – como ficou conhecido – respingou em vários outros países latino-americanos. A especulação monetáriarepetiu-se com uma onda de novos colapsos financeiros, como aconteceu, em 1997, em alguns países do Sudeste Asiático; em 1998, na Rússia; e em 1999, no Brasil. Foi nessa situação de crise que nasceu o G20, grupo que congrega representantes das grandes economias dos países emergentes e desenvolvidos, com o objetivo de obter estabilidade finan- ceira e política para evitar novas crises internacionais. Mesmo assim, os rastros de frequentes crises continuaram. Entre os anos de 2000 e 2002, foi a vez da Turquia e da Argentina, provocando efeitos em vários outros países, inclusive no Brasil. Até mesmo a sit- uação norte-americana após os atentados terroristas de setembro de 2001 serviu de palco para acentua- das oscilações nos investimentos, o que reforçou a volatilidade do sistema financeiro internacional. Vários países, buscando evitar depender de empréstimos internacionais (FMI) ou de ataques especulativos nos últimos anos, empenharam-se em acumular reservas, alguns deles chegando a socorrer a entidade em 2009, frente o alastramento da crise iniciada em 2008. A crise de 2008 tem sido apontada como a mais grave da economia capitalista desde 1929. Iniciou-se nos Estados Unidos, no final do governo de George W. Bush, prosseguindo durante o primeiro mandato de Barack Obama. Irradiando-se pelo mundo, a crise abalou as crenças num mercado autorregulado – não precisando de controle externo a ele – e nos fundamentos neoliberais, reativando o intervencionismo es- tatal para conter colapsos econômicos ainda mais intensos e profundos por todo o sistema internacional. Estimava-se que, em meados de 2009, o volume de recursos despejados pelos tesouros e bancos centrais do planeta teria chegado a US$ 9 trilhões para socorrer bancos e empresas. Propagaram-se as desvalor- izações de bens e perdas de investimentos, sendo que somente nos Estados Unidos estimava-se o prejuízo de US$ 13 trilhões no valor de suas propriedades, mais de 6 milhões de empregos perdidos e uma taxa de desemprego que parecia atingir “o nível mais alto registrado desde 1940”. A partir de 2010, nos destaques sobre economia internacional, ganhavam espaço as crises financeiras dos países do sul da Europa, cujas dívidas externas públicas e privadas somavam mais de US$ 3,4 trilhões, a maior parte delas tendo como credores os bancos de Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha e Suíça. Esses países em crise financeira eram chamados de Piigs (acrônimo de Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha), uma forma depreciativa de se referir às cinco economias (em inglês tem sonoridade e escrita semelhante a “porcos”), cujas difi- culdades e possibilidade de calote irradiavam a crise para todo o sistema da Zona do Euro. Firmava-se a convicção de que o sistema monetário internacional continuava à mercê da força de seu gigantismo, com suas seguidas e sérias crises. Na Europa, para dar conta dessa situação, discutiam-se medidas de socorro e atuações, apesar de todas as dificuldades e divergências entre seus Estados- membros. Não apenas entre Estados, mas também no interior das próprias nações, já que os efeitos das medidas atingiam diferentemente os diversos grupos sociais. Entre as principais respostas apresentadas, boa parte recaía sobre políticas de austeridade, como não substituição dos funcionários aposentados, redução dos salários nominais, fortes cortes nas despesas públicas, diminuição dos serviços sociais e aumento de tributação. Medidas com grande resistência social, ativando grandes manifestações públicas e dificuldades políticas. norte e sul: desigualdades e meio ambiente A globalização e suas políticas neoliberais ao mesmo tempo que motivaram surtos de otimismo desen- volvimentista em alguns setores sociais, também atraíram críticas quanto a seus efeitos sociais e sobre o meio ambiente. Entre os aspectos mais criticados estava o agravamento das desigualdades econômicas e sociais em todo o mundo. Contribuíram para isso: as privatizações; a globalização financeira, enquanto os instrumentos de regulação, os bancos centrais nacionais, estavam fragmentados em cerca de 190 nações; o enxugamento do Estado; a diminuição de custos na produção; a transferência de centros produtivos para regiões mais atraentes do ponto de vista financeiro. Somados, esses fatores provocaram processos de dinamização comercial e financeira e, ao mesmo tempo, altos índices de desemprego e de concentração de renda, com bolsões de riqueza ou de pobreza e miséria. Contudo, vários governantes, nos últimos anos, buscaram combinar as políticas neoliberais e sociais, temperando medidas que, se não reverteram por completo as desigualdades sociais, conseguiram alavancar o desenvolvimento econômico e a inclusão social, despencando as taxas de pobreza e miséria, exemplos evidentes entre BRICS, América Latina e di- versos outros países. Mesmo assim, continuaram carregando enormes índices de desigualdades sociais e suas consequências. Um exemplo da reversão, segundo o Banco Mundial, foi o indicador sobre o total da população que vivia com renda indivi dual inferior a US$ 1,25 (o novo método para definir a linha de pobreza), o qual chegou a 1,39 bilhão de pessoas em 2005, 25% da população mundial, caindo para 1,29 bilhão em 2008, sendo a China a principal responsável por essa diminuição. Outra área que tem causado preocupação relaciona-se ao agravamento dos problemas ambientais e ao aproveitamento dos recursos naturais, que parecem incompatíveis com o crescimento econômico mun- dial. Um possível controle do problema exigiria uma atuação planetária, porém prevalece uma teimosa ausência de regras e falta de ação de órgãos internacionais, resultando na incapacidade de uma atuação efetiva mundial. Estudiosos insistem na não sustentabilidade do meio ambiente frente à dinâmica de nossa sociedade produtora/consumista. Um exemplo contundente são as mudanças climáticas como decorrência do con- sumo dos recursos naturais, muito além do que a natureza consegue repor. Estima-se que a elevação da temperatura do planeta neste século, devido ao efeito estufa advindo principalmente pela emissão de poluentes, será de 1,4 a 5,8 graus, ampliando o número e a dimensão de furacões, inundações e secas, provocando a elevação dos oceanos e o desaparecimento de diversas ilhas e regiões. Segundo Nicolas Stern, ex-economista-chefe do Banco Mundial, as mudanças climáticas poderão resultar numa recessão econômica mundial jamais vista, com uma perda de cerca de 20% do Produto Bruto Mundial. Como destaca o jornalista Washington Novaes, segundo dados levantados sobre o ano de 2005, as emissões de gases que provocam o efeito estufa chegaram a 25 bilhões de toneladas, sendo 25% desse total por parte dos Estados Unidos, numa evolução mundial que tem crescido acima de 1% ao ano desde o ano 2000. São questões que escapam às tradicionais divisões ideológicas, já que nem o capitalismo nem o socialismo se mostraram capazes de criar padrões de produção e consumo sustentáveis, e matrizes enér- gicas compatíveis com as necessidades e possibilidades do planeta. Segundo relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), da ONU, 80% da produção e do consumo estão nos países industrializados, que abrigam menos de 20% da população mundial. O Brasil ocupa a posição de quarto maior emissor de poluentes do planeta, sendo que 75% dess- es poluentes decorrem dos desmatamentos, queimadas e mudanças no uso do solo, principalmente na Amazônia, apesar de alguns avanços nos últimos anos. No final do século XX, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgou que estavam desempre- gados ou subempregados mais de 30% da população economicamente ativa (PEA) do mundo, formada por cerca de 1 bilhão de pessoas. Taxas elevadíssimas de desemprego atingiam inclusive países europeus desenvolvidos, como Espanha, França e Alemanha. Destacando somente o número de desempregados que haviam sido registrados em 2007, a OIT chegava a um total de 179,5 milhões e, antea crise internac- ional iniciada em 2008, estimavam-se acréscimos progressivos, sendo que em 2012 alcançou 197 milhões (dos quais 73,8% eram jovens). As estimativas da OIT para 2013 é de um acréscimo de 5,1 milhões e mais 3 milhões de desempregados em 2014. Nesse quadro, ou o Estado estava desempenhando cada vez menos a função de garantir o bem-estar e de agir para atenuar as diferenças sociais, ou estava se mostrando im- potente para controlar a piora da situação. No início do século XXI, os grupos humanos menos favorecidos, especialmente as crianças dos países pobres, eram as principais vítimas de uma realidade injusta e con- centradora de renda. Numa ordem internacional em que o mercado passou a ser cada vez mais o eixo da vida, da organização social e da política, não é de estranhar a crescente valorização do consumo, definidor do status social, orientador de objetivos e metas individuais, e a destruição do meio ambiente em virtude da exploração mal planejada dos recursos naturais. Com uma população mundial de cerca de 7 bilhões de habitantes em 2013, acrescentava-se o aumento de aproximadamente 70 milhões a cada ano, potenciali- zando as fragilidades do meio ambiente.
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