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2 FEBRE REUMÁTICA DEFINIÇÃO É uma complicação sistêmica inflamatória não supurativa da faringoamidalite causada pelo Streptococcus pyogenes (SGA) e decorre da resposta imune tardia desta infecção em populações geneticamente predisposta. Inicia-se por uma infecção faríngea por estreptococos beta-hemolíticos do grupo A (EGA/SGA) e tem um período de latência de aproximadamente 2-4 semanas. O processo inflamatório causa lesão nas fibrilas de colágeno e na substância principal do tecido conjuntivo, assim, a febre reumática é classificada como uma doença do tecido conjuntivo ou uma doença do colágeno vascular. A destruição das valvas cardíacas pode levar a sequelas crônicas (doença cardíaca reumática) como insuficiência cardíaca, AVC e endocardite infecciosa. Causa uma artrite fugaz. Charles Laségue disse a famosa frase em 1884 “Os patologistas já sabem há muito tempo que a febre reumática lambe as articulações, mas morde o coração”. EPIDEMIOLOGIA É a principal causa de doença cardíaca adquirida em crianças e jovens. Semelhante a faringoamidalite estreptocócica, afeta indivíduos de 5-15 anos, geneticamente suscetíveis. Mesmo com faringite e susceptibilidade, o paciente tem uma probabilidade de 1-5% de desenvolver a FR. Se o paciente tem histórico de FR e tem uma ova infecção estreptocócica, a chance é de 50%. PATOGÊNIA Além da faringite pelo SGA, o indivíduo tem que ser susceptível (viver em más condições sociais, aglomerados habitacionais). TEORIA DO MIMETISMO MOLECULAR: a faringite por SGA desencadeia uma resposta autoimune contra epítopos do microrganismo que fazem reação cruzada com epítopos do coração, cérebro, articulações, pele e causam episódio repetidos de febre reumática que podem levar a doença reumática. O mimetismo molecular leva a uma resposta exacerbada de linfócitos B e T. · A resposta TH1 (celular) normalmente está associada a cardite grave e sequelas · A resposta TH2 (humoral) causa poliartrite e coreia QUADRO CLÍNICO São achados poucos específicos, com latência de 2-4 semanas após infecção pelo SGA · Febre · Sintomas constitucionais (mal estar, fraqueza) · Poliartrite migratória (sintoma mais comum) · Com ou sem sopro (se presente, é bem leve) A ausência de faringoamigdalite recente não afasta o diagnóstico (1/3 não tem) As manifestações específicas são os critérios maiores · Artrite poliarticular migratória de grandes articulações (vai de uma articulação para a outra, não simultaneamente) Mais comum e precoce Tem relação de gravidade inversa com a cardite (quanto mais a inflamação articular, menor cardite) Dolorosa, porém com poucos sinais inflamatórios locais e certa limitação no movimento Boa e rápida resposta a AINES · Cardite Segunda mais frequente, porém a mais grave (é a parte que mata na FR, seja por insuficiência valvar ou cardíaca) Tende a ser branda, mas é cumulativa (cada episódio acumula as sequelas das FR prévias) Acomete os três folhetos (o endocárdio que forma as válvulas é o mais atingido – LESÃO BÁSICA) Na fase aguda a valva tende a ser insuficiente e na fase crônica é estenótica Sopros da FR: insuficiência mitral, sopro de Carey Coombs e insuficiência aórtica (o de carey coombs é um sopro diastólico em ruflar, confunde muito com febre reumática crônica, ocorre devido ao edema da valva que causa estenosa funcional, não tem hiperfonese de B1 nem estalido de abertura) · Coreia de Sydenham São movimentos involuntários e bruscos que desaparecem ao sono e acentuam com o estresse Ocorrem devido a afecção dos gânglios da base Ocorre mais em mulheres e jovens Pode haver hipotonia e labilidade emocional É a manifestação mais tardia, podendo ser isolada, ocorrendo após todos os outros sintomas desaparecerem · Eritema marginado É especifico, porém raro, em torno de 1-3% São múltiplas placas, indolores e não pruriginosas Não respondem a AINES Ocorrem em episódios · Nódulos subcutâneos Específicos, porém raros Ocorrem nos tendões extensores São indolores Estão fortemente ligados a cardite grave (devido a resposta TH1) DIAGNÓSTICO Critérios de Jones (1944 – atualizados em 2015 pela AHA) Dividem a população em dois grupos: alto risco (países pobres e em desenvolvimento) e baixo risco (países industrializados e ricos). O Brasil está no grupo de alto risco. Se presente artrite e artralgia, considerar apenas o critério maior. Da mesma forma, considerar apenas cardite, se houver cardite e aumento do intervalo PR. EXCEÇÃO AOS CRITÉRIOS DE JONES · A presença de coreia implica no diagnóstico de FRA, mesmo na ausência de outros critérios ou da com provação de infecção estreptocócica anterior. · A cardite indolente (é mais arrastada e demora mais para se desenvolver) também implica no diagnostico, pois, as alterações cardíacas podem ser a única manifestação e os exames de fase aguda e títulos de anticorpos podem estar normais. · Surto agudo ou de cardiopatia crônica comprovada, considerar recorrência = 1 maior ou 2 menores. LABORATÓRIO · PCR: primeiro a subir e primeiro a diminuir. · VSH: segundo a subir e segundo a diminuir. O VSH e o PCR têm relação com o uso de AINEs, se o paciente está em uso, tende a diminuir seus valores. Diferente das mucoproteínas que não se alteram com AINES. · Mucoproteínas: última a aumentar e última a diminuir. ANATOMOPATOLÓGICO Nódulos de aschoff são um achado patognomônico da etiologia reumática, está presente em 80-90% dos casos. TRATAMENTO 1. Repouso (sem atividade física por 3-6 meses para não piorar o quadro de cardite) 2. Erradicação do estreptococos (só serve para reduzir a incidência de cepas reumatogênicas, não é profilaxia, não reduz morbidade) 3. AAS 6-8g/dia ou naproxeno se intolerância gástrica (tratamento da artrite) 4. Prednisona (para tratar cardites moderadas a graves) ou cirurgia e pulsoterapia com metilprednisolona (se paciente refratário) 5. Haloperidol 1mg/dia (para coreia) PROFILAXIA Primária: paciente com faringoamidalite estreptocócica no qual se deve prevenir o primeiro surto de FRA · Penicilina benzatina IM dose única ou penicilina oral (não é a escolha) · Eritromicina, clindamicina e azitromicina (se alergia a penicilina) Secundária: paciente que a teve FR e se deve prevenir a recorrência · Penicilina benzatina IM 21-21 dias · Sulfadiazina (se alergia a penicilina) · Eritromicina DURAÇÃO DA PROFILAXIA · FR sem cardite: 5 anos após o surto ou até os 18 anos (o que durar mais) · FR com cardite leve ou em resolução: 10 anos após o ultimo surto ou até 21 anos · FR com cardite moderada e severa: até 40 anos ou por toda a vida · FR com uso de prótese valvar: por toda a vida Primeiro episódio 2 maiores 1 maior + 2 menores Episódios recorrentes Critérios de primeiro episódio 3 menores (apenas em países alto risco)
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