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PB_GP_lV_2014_05


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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ 
DIRETORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO 
ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO PÚBLICA 
 
 
DANIEL PIRES LOPES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CONTROLE SOCIAL NA GESTÃO PÚBLICA: 
A sociedade pede passagem 
 
 
 
 
MONOGRAFIA DE ESPECIALIZAÇÃO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PATO BRANCO 
2014 
 
 
DANIEL PIRES LOPES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CONTROLE SOCIAL NA GESTÃO PÚBLICA: 
A sociedade pede passagem 
 
 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada como requisito 
parcial à obtenção do título de Especialista 
na Pós Graduação em Gestão Pública, 
Modalidade de Ensino a Distância, da 
Universidade Tecnológica Federal do 
Paraná – UTFPR – Campus Pato Branco. 
 
Orientador(a): Prof. Dr Osney Marcos 
Cardoso 
 
 
 
PATO BRANCO 
2014 
 
 
Ministério da Educação 
Universidade Tecnológica Federal do Paraná 
Diretoria de Pesquisa e Pós-Graduação 
Especialização em Gestão Pública 
 
 
 
 
TERMO DE APROVAÇÃO 
 
Controle Social na Gestão Pública: A sociedade pede passagem 
 
Por 
Daniel Pires Lopes 
 
Esta monografia foi apresentada às 20:20h do dia 17 de Outubro de 2014 
como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista no Curso de 
Especialização em Gestão Pública, Modalidade de Ensino a Distância, da 
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Câmpus Pato Branco. O 
candidato foi argüido pela Banca Examinadora composta pelos professores 
abaixo assinados. Após deliberação, a Banca Examinadora considerou o 
trabalho aprovado. 
 
 
 
______________________________________ 
Prof. Dr. Osney Marcos Cardoso 
UTFPR – Câmpus Pato Branco 
 (orientador) 
 
 
____________________________________ 
Prof.ª Msc. Denise Rauber 
UTFPR – Câmpus Pato Branco 
 
 
_________________________________________ 
Prof.ª Priscila Rubbo 
UTFPR – Câmpus Pato Branco 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
"Em lugar do cidadão formou-se um consumidor, 
que aceita ser chamado de usuário”. 
 
(SANTOS, Milton) 
 
RESUMO 
 
LOPES, Daniel Pires. Controle Social na Gestão Pública: A sociedade pede 
passagem. 2014, 56 f. Monografia (Especialização em Gestão Pública). 
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Pato Branco. 
 
 
A pesquisa apresenta uma abordagem qualitativa, a respeito do 
desenvolvimento de ações por parte da sociedade civil, que busque aplicar 
mecanismo de controle social na administração pública. Fiscalizar, controlar e 
participar são alguns elementos que compõem o Controle Social. Discute os 
conceitos de democracia direta e representativa, analisa a evolução histórica 
no Brasil em relação às conquistas políticas e como esses aspectos têm 
influenciado, na prática, a busca por uma maior participação social na política. 
As garantias legais consolidadas na Constituição e em outras leis que foram 
surgindo são outro ponto importante analisado. Bem como, algumas 
experiências de participação popular na administração pública, que aos poucos 
foram surgindo. Como é o caso da gestão participativa que ocorre em alguns 
municípios, fortalecendo a ideia de poder local. O uso de mecanismos de 
controle social é outro fator discutido. Além de uma breve análise das 
manifestações que ocorreram em junho. Tem como finalidade demonstrar as 
possibilidades e as dificuldades em implantar uma gestão pública mais 
democrática com a participação dos cidadãos. 
 
 
 
 
Palavras-chaves: Controle Social. Participação. Democracia. Política. 
Cidadania. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
LOPES, Daniel Pires. Social Control in Public Management: The society asks 
passage. 2014, 56 f. Monografia (Especialização em Gestão Pública). 
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Pato Branco. 
 
 
 
 
The research presents a qualitative approach, concerning the development of 
actions by civil society, which seeks to apply social control mechanisms in 
public administration. Supervise, monitor and participate are some elements 
that make up the Social Control. Discusses the concepts of direct and 
representative democracy, examines the historical evolution in Brazil in relation 
to the political achievements and how these aspects have influenced, in 
practice, the search for greater social participation in politics. Consolidated in 
the Constitution and other laws that were emerging legal guarantees are 
another important point analyzed. As well as some experiences of public 
participation in public administration, which gradually arose. As is the case of 
participatory management that occurs in some municipalities, strengthening the 
idea of local power. The use of social control mechanisms is another factor 
discussed. In addition to a brief analysis of the events that occurred in June. 
Aims to demonstrate the possibilities and difficulties in implementing a more 
democratic governance with the participation of citizens. 
 
 
 
Keywords : Social Control. Participation. Democracy. Policy. Citizenship. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
 
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 7 
1.1 METODOLOGIA ......................................................................................... 10 
2 DEMOCRACIA PARTICIPATIVA ................................................................. 12 
2.1 A CIDADANIA AO LONGO DA HISTÓRIA BRASILEIRA........................... 19 
2.2 A PARTICIPAÇÃO PRESENTE NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA ............. 24 
3 CONTROLE SOCIAL .................................................................................... 32 
3.1 OS MECANISMOS DA PARTICIPAÇÃO .................................................... 38 
3.2 PODER LOCAL .......................................................................................... 41 
3.3 GESTÃO PARTICIPATIVA NOS MUNICÍPIOS ........................................... 44 
3.4 AS MANIFESTAÇÕES DE JUNHO? .......................................................... 47 
4 CONCLUSÃO ............................................................................................... 49 
REFERENCIAS ................................................................................................ 52 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Oioioioioi.
7 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
 
 
A pesquisa teve como objetivo, discutir a conceituação acerca do 
significado de Controle Social e analisar o processo evolutivo deste no Brasil, 
bem como, o seu impacto na gestão pública. Tendo como base esse objetivo, 
procurou-se aprofundar algumas questões mais específicas, tais como: avaliar 
a participação da sociedade ao longo da história no Brasil; averiguar o papel 
desempenhado pela sociedade como agente fiscalizador dos recursos 
públicos; analisar as contribuições da Constituição de 1988, que definiu o Brasil 
como um Estado Democrático de Direito; e verificar os instrumentos 
disponíveis ao cidadão, para que este possa desenvolver o controle sobre as 
ações do Estado. 
Os estudos aqui desenvolvidos basearam-se numa abordagem 
qualitativa para compreender em profundidade o contexto do fenômeno 
estudado, utilizando-se de pesquisa bibliográfica e documental. 
A realização desta pesquisa se justifica pela busca em aprofundar e 
contribuir com o conhecimento na gestão pública, explorando o objeto de 
estudo aqui proposto através da bibliografia existente. Fornecer a esta 
instituição um trabalho que possa colaborar e ampliar o seu acervo bibliográfico 
e venha a contribuir com a formação do cidadão. 
Ressalta-se ainda que o intuito desta pesquisa é trazer respostas as 
indagações aqui propostas, no sentido de proporcionar o enriquecimento das 
discussões em torno do assunto e paralelamente aprofundar e contribuir com a 
minha formação acadêmica. 
Buscando atingir os objetivos propostos, aprofunda-se os estudos desde 
as civilizações mais antigas, como a grega e a romana, até as sociedades 
constituídas atualmente,a discussão sobre política está presente no cotidiano 
dos indivíduos. Independente de formas ou métodos que se utilizam, a busca 
por melhorias da condição de vida, tem levado as pessoas a encontrar uma 
melhor maneira para conquistar suas reivindicações perante o Poder Público. 
Na Grécia antiga, ou para melhor especificar, os cidadãos atenienses 
praticavam a democracia direta, que consistia na participação dos cidadãos nas 
decisões políticas. Os atenienses se reuniam em praças públicas para discutir 
8 
 
 
os problemas da polis e sugerir as respectivas soluções. Os romanos também 
valiam-se do mesmo modelo democrático, onde através de reuniões também 
discutiam os destinos da república. 
Com o desenvolvimento dessas sociedades e a expansão territorial, 
reunir as pessoas em praça pública passou a ser uma tarefa difícil de se 
realizar, e o modelo de democracia direta não conseguia atender as 
necessidades dos cidadãos. Com essa dificuldade, outro modelo precisava ser 
instituído para que pudesse manter as atividades políticas ativas. 
O modelo de democracia representativa foi a alternativa encontrada. A 
partir daí, o indivíduo passa a escolher os seus representantes que terão a 
incumbência de tomar decisões que atendam os anseios da sociedade. A 
participação da sociedade, que até então era primordial para o funcionamento 
do ente público, agora se restringe meramente ao ato de votar. 
A democracia representativa, com o passar do tempo, começa a dar 
sinais de suas fragilidades. Como por exemplo, a dificuldade de capitar as reais 
necessidades da sociedade, pois aqueles que depositei minha confiança não 
consegue atender minhas reinvindicações, quais as alternativas existentes para 
que possa ter voz na tomada de decisões? 
A busca por métodos que possibilitam a participação da população nas 
decisões políticas do Estado começa a ganhar força principalmente a partir da 
década de 60, as insatisfações com aqueles que foram escolhidos para decidir 
os rumos da maioria, começava a ganhar mais vozes. No Brasil, na década de 
70, mesmo com o regime militar em vigor, alguns grupos pleiteavam maior 
abertura na administração pública. 
No caso brasileiro, há de se considerar uma série de fatores históricos 
que serviu e ainda serve de entrave para o desenvolvimento de uma gestão 
pública mais democrática. Desde a chegada dos portugueses aqui em solo 
tupiniquim até os dias atuais, há uma grande dificuldade em reconhecer o 
direito e identificar a noção do que é público. Os interesses particulares de uma 
elite dominante, composta por uma minoria, desenvolveram métodos políticos, 
que até hoje refletem no comportamento da sociedade. 
O clientelismo praticado em várias partes do Brasil, onde as pessoas 
trocavam seu único direito de participar na vida política do país, por algum 
serviço ou produto, também revela que o interesse particular está acima dos 
9 
 
 
interesses coletivos. Essa prática ainda hoje presente, é mais um estímulo para 
que possamos pesquisar e propor mecanismos que possam pelo menos 
atenuar os danos causados por esse tipo de ação. 
O desenvolvimento do controle social é mais um instrumento para que o 
cidadão possa fiscalizar as ações do Estado, e ser um agente atuante e 
presente nas decisões políticas. Se avançarmos nas conquistas de direito, 
consolidados na Constituição vigente e outras leis que foram surgindo, ainda 
precisamos avançar muito mais para que possamos ter uma gestão pública 
mais democrática e transparente. 
Mecanismos para realizar o controle social, hoje estão garantidos em lei, 
como a iniciativa popular, referendo, o plebiscito, os conselhos gestores, entre 
tantos outros. Mas, para que o controle social possa ser efetivo, precisamos 
colocar em prática esses mecanismos e nos mobilizar de forma organizada 
como sociedade. 
10 
 
 
1.1 METODOLOGIA 
 
O desenvolvimento desta pesquisa teve como finalidade a análise do 
conteúdo literário disponível acerca da temática do controle social, ao longo do 
trabalho procuramos aprofundar as questões presentes no campo teórico, com 
o intuito de compreender como a sua aplicação ocorre no âmbito prático, 
segundo Demo (1987, p.23) ''pesquisa é a atividade científica pela qual 
descobrimos a realidade''. Partindo dessa definição de Demo, a pesquisa teve 
como objetivo principal compreender se o controle social é um instrumento que 
contribui para otimizar o desenvolvimento de políticas públicas. 
 Os métodos que foram empregados para o desenvolvimento desta 
pesquisa, basearam-se em uma abordagem qualitativa, ou seja, considerou 
que havia uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um 
vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que 
não pode ser traduzido em números. A interpretação dos fenômenos e a 
atribuição de significados foram os elementos básicos no processo de 
desenvolvimento da pesquisa, neste caso não foram utilizados métodos e 
técnicas estatísticas. 
Utilizando, primeiramente, uma abordagem histórica, procurou-se 
compreender a evolução do indivíduo como agente participativo e ativo nas 
decisões políticas, desde a Grécia antiga com a sua concepção de Estado e 
democracia participativa, até o modelo democrático representativo presente na 
atualidade. A compreensão do conceito de controle social, bem como, as suas 
implicações na gestão pública, será o eixo central para o desenvolvimento 
dessa pesquisa. 
Para que fosse possível atingir os objetivos, foi utilizado a pesquisa 
bibliográfica, conforme Gil (1991, p.44) ''a pesquisa bibliográfica é desenvolvida 
com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e 
artigos científicos''. O uso de livros e artigos serão prioridades no levantamento 
bibliográfico a ser realizado, pois tratam-se de materiais que possuem uma 
maior confiabilidade, por terem recebidos algum tratamento ou análise antes de 
serem publicados. 
 
11 
 
 
Após esse levantamento bibliográfico e a leitura desse material os dados 
e as informações foram sistematizados para fundamentar a pesquisa. Para Gil 
(1991, p.84) essa fase consiste na “organização das ideias com vista em 
atender aos objetivos ou testar as hipóteses formuladas no início da pesquisa”. 
Assim, o trabalho foi estruturado seguindo uma lógica, para que o mesmo fosse 
compreendido como uma unidade dotada de sentido. 
Outros materiais consultivos foram utilizados para fundamentar a 
pesquisa e complementar a análise bibliográfica, um deles foi a pesquisa 
documental. Realizaram-se consultas e pesquisas em sites principalmente em 
órgãos como: Controladoria Geral da União (CGU) através do seu portal da 
transparência, Tribunal de Contas da União (TCU), Ministério do 
Desenvolvimento Social (MDS), entre outros que colaboraram com o 
andamento desta pesquisa. Para esse tipo de levantamento bibliográfico, Gil 
(1991, p.45) afirma que: 
 
A pesquisa documental assemelha-se muito à pesquisa bibliográfica. 
A diferença essencial entre ambas está na natureza das 
fontes/Enquanto a pesquisa bibliográfica se utiliza fundamentalmente 
das contribuições dos diversos autores sobre determinado assunto, a 
pesquisa documental vale-se de materiais que não recebem ainda um 
tratamento analítico. 
 
Enfim, ao longo do processo de construção desta pesquisa utilizamos de 
métodos científicos como um conjunto de etapas ordenadamente dispostas, 
onde procurou-se atingir os objetivos propostos a respeito da investigação do 
fenômeno, desde a delimitação do tema, o planejamento da investigação, o 
desenvolvimento metodológico, a coleta e a tabulação de dados, bem como, a 
elaboração das conclusões. 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
 
2 DEMOCRACIA PARTICIPATIVA 
 
 
O termo democracia ficou comumente conhecido como demo (povo) e 
cracia (governo), oriundo da palavra demokratia, foram os gregos - 
provavelmente os atenienses - que cunharamo termo. O modelo de 
democracia desenvolvida na antiga Grécia consistia basicamente, na soberania 
da assembleia popular, na qual todos os cidadãos tinham direitos iguais de 
voto e fala, a despeito de suas condições econômicas ou de sua instrução. 
Sobre a democracia direta Bobbio (1986, p. 41) afirma que ''é evidente 
que, se por democracia direta se entende literalmente a participação de todos 
os cidadãos em todas as decisões a eles pertinentes''. A democracia praticada 
pelos gregos, principalmente em Atenas, é considerada um exemplo de 
participação dos cidadãos na política: 
 
Entre as democracias gregas, a de Atenas era de longe a mais 
importante, a mais conhecida na época e, ainda hoje, de 
incomparável influência na filosofia política, muitas vezes considerada 
um exemplo primordial de participação dos cidadãos ou, como diriam 
alguns, era uma democracia participante (DAHL, 2001, p.22). 
 
Era através de assembleias que os atenienses discutiam e decidiam 
sobre os mais variados temas que envolviam o interesse dos cidadãos e o 
desenvolvimento da polis, comparando com o modelo atual de democracia 
adotado por boa parte dos Estados, Ribeiro (2002, p.09-10) afirma que: 
 
Essa é a maior diferença entre a democracia antiga e a moderna. 
Hoje elegemos quem decidirá por nós. Mesmo em cidades pequenas, 
delegamos por vários anos as decisões ao prefeito e vereadores. Os 
gregos, não. Eles iam à praça discutir as questões que interessavam 
a todos. 
 
Esse modelo de democracia exercida pelos cidadãos gregos, também é 
mencionado por Russeau (2002, p.46). Segundo o autor: “entre os gregos, tudo 
quanto o povo tinha a fazer, fazia-o por si mesmo; vivia constantemente 
reunido na praça pública”. Salienta-se que a cidadania grega era restrita aos 
homens, os direitos de participar das decisões políticas não se estendiam as 
mulheres, idosos e escravos, pois esses não eram considerados cidadãos. 
13 
 
 
Podemos citar outro modelo de democracia direta bem sucedida, que foi 
o caso de Roma: 
Mais ou menos na época em que foi introduzido na Grécia, o governo 
popular apareceu na península italiana na cidade de Roma. Os 
romanos preferiram chamar seu sistema de república: res, que em 
latim significa coisa ou negócios, e publicus - ou seja, a república 
poderia ser interpretada como “a coisa pública” ou “os negócios do 
povo” (DAHL, 2001, p.23). 
 
Assim como em Atenas, o direito de participar no governo era restrito, na 
república inicialmente apenas os patrícios e os aristocratas, eram os 
responsáveis pela tomada de decisão. Posteriormente em Roma, Dahl (2001, 
p.23) afirma que ''numa etapa da evolução da democracia que encontraremos 
mais adiante, depois de muita luta, o povo (a plebe) também adquiriu esse 
direito''. 
Essas reuniões populares que ocorriam em Atenas e Roma para discutir 
política, para Russeau (2002, p.46): 
 
No instante em que o povo está legitimamente reunido em corpo 
soberano, cessa toda e qualquer jurisdição do governo, o poder 
executivo fica suspenso, e a pessoa do último dos cidadãos é tão 
sagrada e inviolável quanto a do primeiro magistrado, porque onde se 
encontra o representado deixa de haver o representante. 
 
A força política de uma sociedade que se encontra reunida para 
reivindicar melhores condições de vida ou para protestar, contra o governo, 
representa sem nenhuma dúvida um poder capaz de modificar toda uma 
estrutura política que esteja posta. Ainda sobre a republica romana, o autor 
destaca que: 
O último recenseamento deu a Roma quatrocentos mil cidadãos em 
armas, e o último censo do Império enumerou mais de quatro milhões 
de cidadãos, sem contar os vassalos, os estrangeiros, as mulheres, 
as crianças, e os escravos. Que dificuldade não haveria para reunir 
em assembleia o povo imenso dessa Capital e arredores? Entretanto, 
raramente passavam semanas sem que o povo romano se reunisse, 
inclusive várias vezes (RUSSEAU, 2002, P.43). 
 
14 
 
 
Na citação acima, nota-se que o autor menciona que apesar das 
dificuldades, os romanos não deixavam de exercer sua cidadania, se reunindo 
com frequência para tratar de questões de interesse coletivo. Mas, com a 
expansão do território romano, essas dificuldades iriam se agravar, como 
podemos auferir nas palavras de Dahl (2001, p.24) ''para a maioria dos 
cidadãos romanos que viviam no vastíssimo território da república, a cidade era 
muito distante para que pudessem assistir às assembleias, pelo menos sem 
esforço extraordinário e altíssimos custos''. 
O autor ratifica essa situação ao mencionar mais alguns problemas 
referente a essa dificuldade: 
Conforme o foco do governo democrático mudava para unidades em 
grande escala, como nações ou países, surgiam questões: como os 
cidadãos podem participar efetivamente quando o número de 
pessoas se tornar exageradamente grande ou geograficamente muito 
disperso (ou ambos, o que pode acontecer num país) para que 
possam participar de maneira conveniente na feitura de leis, 
reunindo-se em um único lugar? Como elas poderão ter a certeza de 
que as questões que mais as preocupam venham a ser devidamente 
ponderadas pelos funcionários - ou seja: como os cidadãos poderão 
controlar o programo de planejamento das decisões do governo? 
(DAHL, 2001, p.107). 
 
Com essa dificuldade de reunir um número maior de pessoas em suas 
reuniões, a republica romana aos poucos foi perdendo a força por não 
conseguir manter um número grande de cidadãos participando ativamente das 
decisões políticas, e consequentemente conforme Dahl (2001, p.24) ''era 
negada a um número cada vez maior (e mais tarde esmagador) de cidadãos a 
oportunidade de participar das assembleias que se realizavam no centro do 
sistema de governo romano.'' 
Essa situação vivenciada em Roma colocou em xeque o modelo de 
democracia direta, com a participação plena dos cidadãos, para Bobbio (1986, 
p.41) ''que todos decidam sobre tudo em sociedades sempre mais complexas 
como são as modernas sociedades industriais é algo materialmente 
impossível''. Nessa mesma direção, Dallari (1984, p.39) compreende que: 
 
 
15 
 
 
Desde o século dezoito se afirmou como ideal político a democracia, 
sistema em que a vontade do povo deve estar acima de qualquer 
outra. E pela impossibilidade de reunir o povo em praças públicas, 
todos os dias, para tomar decisões políticas foi criado o sistema de 
"democracia representativa". 
 
Por democracia representativa Bobbio (1986, p.44) nos traz uma 
definição bem sucinta acerca do assunto: 
A expressão "democracia representativa" significa genericamente que 
as deliberações coletivas, isto é, as deliberações que dizem respeito 
à coletividade inteira, são tomadas não diretamente por aqueles que 
dela fazem parte, mas por pessoas eleita s para esta finalidade. 
 
A democracia representativa presente hoje em grande parte dos Estados 
modernos foi a alternativa encontrada para superar as dificuldades que 
surgiram na democracia direta praticada pelas sociedades mais antigas. Essa 
concepção de democracia começa a se desenvolver na Idade Média, como 
podemos constatar: 
 
A eleição de representantes desenvolveu-se principalmente durante a 
Idade Média, quando os monarcas perceberam que para impor taxas, 
levantar exércitos e legislar precisavam obter o consentimento da 
nobreza, do alto clero e de alguns anônimos não mui to anônimos nas 
maiores cidades (DAHL, 2001, p.107). 
 
Até o século XVIII, Dahl (2001) acreditava que um governo democrático 
ou republicano significasse governo do povo e que para governar, o povo teria 
de se reunir em um único local e votar sobre decretos, leis ou políticas. Para 
ser considerada democracia necessitava-se de assembleias populares, pois a 
“democracia representativa” seria uma contradição. 
A partir da implementação de governos representativos, passou a 
delegar as decisões de interesse coletivo a um grupo restrito escolhido pela 
populaçãoatravés do voto. Para Dahl (2001, p. 107) ''a única solução viável, 
embora bastante imperfeita, é que os cidadãos elejam seus funcionários mais 
importantes e os mantenham mais ou menos responsáveis por meio das 
eleições, descartando-os nas eleições seguintes''. 
 As reuniões agora não são mais em praças públicas, mas sim em 
prédios públicos criados para abrigar essa classe política, que tem como 
propósito defender os interesses de seu povo. Sendo assim, uma minoria tem a 
16 
 
 
responsabilidade de atender os anseios de uma ampla maioria sedenta por 
melhores condições de vida: 
 
Maior parte dos estados que se governam à base de um sistema 
representativo: o que caracteriza uma democracia representativa é, 
com respeito ao "quem", que o representante seja um fiduciário e não 
um delegado; e é, com respeito ao "que coisa", que o fiduciário 
represente os interesses gerais e não os interesses particulares. 
(BOBBIO,1986, p.47). 
 
 
Observa-se na citação de Bobbio a preocupação com o modelo de 
democracia representativa, pois como apenas uma minoria tem o poder de 
decidir sobre os interesses coletivos, abre a possibilidade de que aqueles que 
estão no comando coloque suas necessidades particulares acima dos anseios 
da sociedade. Pode-se afirmar com base nos acontecimentos da vida real 
(principalmente o caso da política brasileira) que os interesses pessoais ou de 
determinados grupos aos quais representam, estariam acima dos interesses da 
nação, ou seja, a política para estes, seria apenas um meio para atingir status 
e bens materiais. 
Constata-se atualmente que em alguns países, bem como, no Brasil que 
a democracia representativa vem sofrendo inúmeras críticas, pois boa parte 
dos indivíduos, se não for a maioria destes, não se veem representados por 
aqueles que foram eleitos através de seu voto, alguns autores têm denominado 
como a crise da representatividade. Sobre essa visão que vem passando a 
democracia representativa, Pont (1999, p.5) declara que: 
 
É, inegável, entretanto, que na maioria dos países de democracia 
liberal, o sistema de representação vive um processo de crise de 
legitimidade, que se expressa na abstenção eleitoral, na apatia e não 
participação político-social e nos baixos índices de filiação partidária. 
 
O autor ainda aponta algumas das possíveis causas que tem levado a 
se pensar em crise no modelo representativo: 
 
- no processo de burocratização e no caráter autoritário das 
administrações e parlamentares; 
- na falta de controle dos eleitores e/ou do partido sobre os eleitos; 
17 
 
 
- nos sistemas eleitorais que distorcem a representação, fraudando a 
vontade popular, através dos mecanismos distritais e/ou barreiras e 
obstáculos para partidos pequenos; 
- na falta de coerência entre o projeto e o programa eleitoral e a 
prática dos eleitos; 
- nas trocas partidárias sem perda de mandato, onde o Brasil deve 
ser recordista mundial, resguardados pela lei; 
- na incapacidade desses sistemas garantirem a reprodução do 
capitalismo com legitimidade frente a evidência dele ser reprodutor da 
desigualdade e da exploração sociais (PONT, 1999, p.5). 
 
Pode-se elencar mais algumas causas que têm levado ao 
questionamento sobre a funcionalidade do sistema de governo representativo. 
Não há dúvidas que o cidadão cada vez mais não se sente representado, basta 
analisar as mais recentes eleições pelo alto número de pessoas que votam em 
banco ou nulo, ou ainda que nem sequer dá se o trabalho de ir votar. 
No caso específico do Brasil, pode-se afirmar que não é a falta de 
pluralismo partidário, pois atualmente o país conta com 32 partidos políticos e 
cada um com sua bandeira em defesa das mais diversas causas. O que ocorre 
no cenário político brasileiro é que a maioria dos partidos se sucumbem a 
outras siglas maiores em busca de atender interesses particulares e não 
desenvolvendo o seu papel para atender aos anseios da sociedade. 
Diante dessa situação atual que vive a democracia representativa e os 
questionamentos em busca de uma nova alternativa, pretende-se aqui analisar 
o que tem sido feito para incluir cada vez mais o cidadão com um agente 
participativo das decisões políticas, não pretende-se aqui pleitear a volta da 
democracia direta nos moldes ateniense ou romano, até pelos problemas e a 
dificuldades supracitadas em implementar um sistema com a total participação 
dos cidadãos. 
Mas, cabe aqui nesta pesquisa buscar ferramentas, instrumentos, enfim 
métodos já utilizados e que tem sido bem sucedido, aonde o cidadão possa, 
fiscalizar, controlar e participar ativamente da administração pública, como um 
indivíduo político atuante e consciente de seus direitos. 
Ao longo dessa pesquisa, iremos analisar se o controle social é um 
instrumento que contribui para otimizar o desenvolvimento de uma gestão 
18 
 
 
pública democrática, e o quanto pode influenciar nas decisões políticas e obter 
resultados satisfatórios na implementação das políticas públicas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
19 
 
 
2.1 A CIDADANIA AO LONGO DA HISTÓRIA BRASILEIRA 
 
 
 A história da cidadania no Brasil é caracterizada por uma classe 
detentora de um maior poder aquisitivo econômico e de uma maior influência 
social, que sempre teve uma importante participação nas decisões políticas do 
país, enquanto que o restante da população era marginalizada, e a esta era 
renegada qualquer direito social ou civil. Desde o período colonial até os dias 
atuais, essa relação desproporcional de força presente na sociedade brasileira, 
gerou por muitos anos um controle social por parte do Estado e/ou de uma 
classe dominante sobre os demais, essa situação pode ser constatada em 
diversos momentos da história política do Brasil. 
No período colonial com a chegada dos portugueses, o território 
brasileiro se configurou com uma unidade produtiva do latifúndio e com a mão-
de-obra escrava indígena e africana. Tanto aos indígenas quanto aos 
africanos, foram negados a cidadania, eram utilizados exclusivamente no 
trabalho, sendo que a única garantia que tinham era o dever de obedecer. 
Conforme Saes (2001, p.386): 
Desde o início da colonização, um ideal de comunidade paternalista, 
no qual não há lugar para a luta pela conquista de direitos, substituída 
esta pela distribuição de favores por parte dos de cima e pela 
manifestação de lealdade ou gratidão por parte dos de baixo. 
Aqueles que detinham um maior poder aquisitivo gozavam 
exclusivamente de alguns direitos, já os escravos agradeciam pela condição 
que eram impostos a viver sem nenhuma garantia. A respeito da escravidão 
Carvalho (2002, p.19) afirma que “do lado negativo, gerava grande isolamento 
da população em relação ao mundo da administração e da política. O poder 
privado exercia o domínio inconteste. O fator mais negativo para a cidadania foi 
a escravidão”. 
Observa-se que o autor cita a escravidão como o principal fator negativo 
para o desenvolvimento da cidadania naquele período e que se arrastou por 
muitos anos da história brasileira. Outro fator relevante é que não havia um 
poder público instituído, os senhores dono das terras ficavam com os escravos 
20 
 
 
sob sua tutela, e controlavam a forma de vida destes, ou seja, praticamente as 
normas de condutas determinavam os direitos civis da época. Sobre esse 
período colonial Carvalho (2002, p. 22) destaca: 
O registro de nascimentos, casamentos e óbitos, eram exercidos pelo 
clero católico. A consequência de tudo isso era que não existia de 
verdade um poder que pudesse ser chamado de público, isto é, que 
pudesse ser a garantia da igualdade de todos perante a lei, que 
pudesse ser a garantia dos direitos civis. Outro aspecto da 
administração colonial portuguesa que dificultava o desenvolvimento 
de uma consciência de direitos era o descaso pela educação 
primária.De início, ela estava nas mãos dos jesuítas. Após a 
expulsão desses religiosos em 1759, o governo se encarregou, mas 
de maneira completamente inadequada. 
Nota-se que a presença do poder público no período colonial era 
inexistente, fazendo com que a população da época não tivesse um espaço ou 
algum representante aonde pudesse recorrer, para resolver algum problema e 
até mesmo solicitar algo que pudesse trazer algum benefício. O intuito de 
retroagir a um longínquo período da história brasileira serve para demonstrar 
que a dificuldade que a sociedade tem em compreender a respeito daquilo que 
é público, está na raiz de sua formação e construção. 
Durante longos anos, o direito de participar de alguma maneira das 
decisões políticas era facultado apenas a uma pequena parcela da população, 
geralmente eram aqueles detinham algum tipo de poder como nobres, 
burocratas, militares, comerciantes ricos, senhores de engenho e homens de 
posses. Essa segregação política iria permanecer até quase o final do período 
imperial, a situação começa a mudar com a promulgação da primeira 
Constituição do Brasil. 
A Constituição de 1824 concedeu o direito ao voto somente aos homens 
livres e proprietários, de acordo com seu nível de renda, fixado na quantia 
líquida anual de cem mil réis por bens de raiz, indústria, comércio ou 
empregos. Para ser eleito, o cidadão também tinha que comprovar renda 
mínima proporcional ao cargo pretendido1. 
Com a Constituição é dado o primeiro passo, ainda que muito pequeno, 
na direção de incluir cada vez mais pessoas na tomada de decisão, Carvalho 
(2002, p. 29) faz uma importante reflexão a respeito “a Constituição (1824) 
 
1 Disponível em http://www12.senado.gov.br/noticias/entenda-o-assunto/constituicoes-brasileiras 
21 
 
 
regulou os direitos políticos, definiu quem teria direito de votar e ser votado. 
Para os padrões da época, a legislação brasileira era muito liberal”. Cabe 
salientar que as mulheres e os escravos não tinham ainda conquistado o direito 
de votar. 
Um fenômeno político que não se pode deixar de mencionar em virtude 
de sua importância e os resquícios que ainda existem no meio social, é o 
chamado Coronelismo que vigorou durante a República Velha. O coronel 
personificado na figura de grandes proprietários de terra, detinha um grande 
poder, no qual impunha os seus mais variados métodos para satisfazer as suas 
vontades políticas. Em seu emblemático livro Enxada e voto, Leal (2012, p.43) 
afirma que o coronelismo é “resultado da superposição de formas 
desenvolvidas do regime representativo a uma estrutura econômica e social 
inadequada”. 
 O coronelismo não deixa de ser uma manifestação de cunho privatista 
que visa atender aos interesses particulares dos coronéis em detrimento das 
necessidades da população. Esse modelo político se desenvolvia nas áreas 
rurais, onde residia uma população carente e ainda muito dependente dos 
favores políticos. Para concluir acerca do tema coronelismos, Carvalho (2002, 
p. 56) faz uma importante constatação: 
O coronelismo não era apenas um obstáculo ao livre exercício dos 
direitos políticos. Ou melhor, ele impedia a participação política 
porque antes negava os direitos civis. Nas fazendas, imperava a lei 
do coronel, criada por ele, executada por ele. Seus trabalhadores e 
dependentes não eram cidadãos do Estado brasileiro, eram súditos 
dele. 
 
Conforme citação acima, observa-se o quanto o coronelismo intervia na 
vida política da população. Ainda hoje, nota-se resquícios desse fenômeno 
político, tanto nas cidades como nas áreas rurais. Comumente surge na mídia 
ou em conversas informais, casos de pessoas que teriam trocado seu voto por 
favores ou algum produto, uma característica do coronelismo era esse 
clientelismo. Outra situação que podemos mencionar é a distribuição de cargos 
comissionados, geralmente feito sem nenhum critério técnico ou de 
merecimento, o objetivo principal é distribuir a maior quantidade possível de 
cargos, e assim manter um maior número de eleitores comprados através 
dessa prática. 
22 
 
 
Ainda hoje é comum ver em cidades mais afastadas cenas que 
rememoram os métodos coronelistas, como podemos verificar na foto 01 
abaixo, as casas são marcadas com bandeiras na cor que representa o partido 
político, essa ação serve para mostrar que os moradores da casa, de certa 
maneira, são objetos de uso, se não da figura do coronel, mas de lideranças 
políticas locais, que herdaram o jeito de fazer política. 
 
 
 Foto 01 – Bandeiras revelam a opção política em Macururé - BA 
Fonte: http://sertaoafora.blogspot.com.br/2012/08/casas-populares-de-
macurure-moradores.html, acessado em 18.09.14. 
Quando nos deparamos com esta imagem, num primeiro momento fica 
difícil pensar numa gestão democrática participativa no Brasil como um todo, 
mas ainda há muito que evoluir a respeito da ideia de cidadania e consciência 
política. 
Outro momento importante da história política brasileira que merece 
destaque foi a conquista do direito do voto feminino, garantido num primeiro 
momento através do decreto 21.076 do Código Eleitoral Provisório, mais tarde 
seria ratificado na constituição de 1934, onde permitia o voto obrigatório e 
secreto a partir dos 18 anos, com direito de voto às mulheres, mas mantendo 
proibição do voto aos mendigos e analfabetos. A inclusão cada vez maior de 
http://sertaoafora.blogspot.com.br/2012/08/casas-populares-de-macurure-moradores.html
http://sertaoafora.blogspot.com.br/2012/08/casas-populares-de-macurure-moradores.html
23 
 
 
uma parcela da população aos poucos se tornava realidade, mesmo que a 
passos lentos, o cenário político brasileiro começava a dar sinais de uma maior 
abertura. O caminho para uma gestão mais democrática aos poucos tornava-se 
realidade, com a inclusão das mulheres, as decisões eleitorais contemplavam a 
maioria dos cidadãos. 
Mas, o golpe militar de 1964, colocaria uma gigantesca pedra no 
caminho, forçando uma parada na marcha que caminhava em busca de mais 
direitos civis. A ditadura militar, então imposta, impediu o exercício da 
cidadania ao proibir o voto direto para Presidente e outros representantes a 
cargos majoritários. Diante deste cenário, Costa (1999, p.106) constata que 
“durante o período da ditadura militar, o ‘controle social’ da classe dominante foi 
exercido através do Estado autoritário sobre o conjunto da sociedade, por meio 
de decretos secretos, atos institucionais e repressão”. 
Conforme a citação acima, esse Estado opressor acaba criando um 
sentimento de revolta no Brasil, pois durante a ditadura militar qualquer forma 
de participação social na administração pública era nula. Segundo Bordenave 
(1983, p.08) “o maior erro das ditaduras é pensar que toda a população se 
sente aliviada por não ter de tomar decisões, preferindo transferi-las ao 
governo”. Bordenave faz uma importante constatação, pois colocar o povo a 
margem das decisões do Estado por um longo período, acaba alimentando um 
sentimento de revolta e consequentemente a sociedade se mobiliza em busca 
de mudanças. 
Através de mobilizações com pessoas de diferentes segmentos da 
sociedade, foi possível sensibilizar a população, e dessa maneira, estruturar 
movimentos para que juntos pudessem reivindicar por mais democracia e 
liberdade. Esses movimentos culminaram com as diretas já, de cunho político e 
com grande participação popular que ocorreu nos meados da década de 80, 
defendia o reestabelecimento das eleições diretas para presidente da 
República no Brasil. Nesse período, ocorreram diversos eventos espalhados 
pelo Brasil, com a participação de milhares de brasileiros. 
As eleições de 1985 ainda ocorreram com voto indireto, pois a emenda 
constitucional que postulava a volta das eleições direta, não foi aprovada no 
ano anterior. As eleições diretas para presidente doBrasil só voltaria acontecer 
em 1989, após ser estabelecida na Constituição de 1988. 
http://www.suapesquisa.com/presidentesdobrasil/
http://www.suapesquisa.com/presidentesdobrasil/
http://www.suapesquisa.com/o_que_e/constituicao.htm
24 
 
 
2.2 A PARTICIPAÇÃO PRESENTE NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA 
 
 
Além da necessidade de uma organização social que possa fomentar 
um maior interesse dos cidadãos, é plausível que esses também conheçam os 
dispositivos legais disponíveis para que essas atividades possam ser 
realizadas em conformidade com as bases jurídicas legais. No Brasil, a 
constituição de 1988 traz uma série de direitos que permitem ao indivíduo 
colaborar com o desenvolvimento de um Estado de direito democrático, bem 
como, deveres que possam manter a ordem necessária em uma democracia. 
Sobre a constituição brasileira, Rocha afirma que: 
 
As inovações consagradas na Constituição de 1988 colocaram o 
Brasil como um dos países de legislação mais avançada, no que diz 
respeito à proteção aos direitos humanos econômicos, sociais e 
culturais. Contudo, essas inovações tendem a não surtir o efeito 
esperado, na medida em que a sociedade brasileira desconhece seus 
direitos e em que proporção eles são protegidos pelo Estado, 
permitindo que setores conservadores façam "tábua rasa" das 
conquistas sociais presentes no texto constitucional2. 
 
Considerada por muitos como uma constituição cidadã, o conjunto de 
leis nela contida, permite ao cidadão brasileiro uma maior participação nas 
atividades políticas desenvolvidas no país, seja na esfera municipal, estadual 
ou federal. Salienta-se um ponto importante citado por Rocha, de nada adianta 
ter um valioso instrumento se a sociedade brasileira não se interessar em 
conhecê-lo, para poder fazer um melhor uso deste. 
A Constituição Brasileira abriu a perspectiva para que fossem criadas 
novas regulamentações, com o intuito de fortalecer ainda mais o processo de 
inserção dos indivíduos na gestão pública. Em sua análise, Nogueira (2004, 
p.145) afirma que: 
 
 
2 Disponível em http://jus.com.br/revista/texto/19205/a-participacao-popular-na-gestao-publica-
no-brasil 
 
 
25 
 
 
A constituição brasileira de 1988, por exemplo, na qual ressoam 
claramente as vibrações da luta contra a ditadura militar e que 
existem importantes elementos de democracia participativa (como o 
instituto de iniciativa popular e a participação da comunidade na 
formulação dos planos diretores das cidades, para mencionar dois 
bem evidentes), ajudou paradoxalmente a acelerar essa conversão, 
por intermédio do preceito que patrocina todo o título da ordem social: 
a descentralização participativa. A partir de então, a gestão 
administrativa das grandes políticas da seguridade social (saúde, 
educação, assistência social) passou a ser definida como tendo 
“caráter democrático e descentralizado, com a participação da 
comunidade, em especial de trabalhadores, empresários e 
aposentados”. 
 
Podemos destacar um ponto importante da análise de Nogueira, pois o 
autor cita a descentralização como um fator importante, levar as decisões 
políticas para outras esferas é um passo fundamental para possa haver uma 
administração mais democrática, e dessa maneira, contemplar um número 
maior de indivíduos que estejam dispostos a contribuir com o desenvolvimento 
de projetos para área pública. A respeito dessa participação, contemplada pela 
Constituição, Dallari (1996, p.13-51) conclui que: 
A participação popular prevista na Constituição Federal de 1988 é um 
princípio inerente à democracia, garantindo aos indivíduos, grupos e 
associações, o direito não apenas à representação política, mas 
também à informação e à defesa de seus interesses. Possibilita-lhes, 
ainda, a atuação e a efetiva interferência na gestão dos bens e 
serviços públicos. 
 
Nota-se que Dallari deixa claro o papel da Constituição vigente no país, 
de não apenas ser um instrumento democrático, mas que também permite a 
atuação de indivíduos na gerência dos bens públicos. A partir da Constituição, 
novos desdobramentos jurídicos vão surgir gerando ferramentas importantes 
que vão auxiliar o cidadão em sua empreitada pela busca de um estado mais 
democrático. 
Outra contribuição importante para o fortalecimento da participação do 
indivíduo veio com a promulgação da Constituição Brasileira de 1988, que tem 
como princípio a concepção de um Estado Democrático de Direito. A 
Constituição em seu capítulo VII onde trata da administração pública ainda 
prevê que a “lei disciplinará as formas de participação do usuário na 
administração pública direta e indireta”. Sendo regulamentada pela lei Emenda 
Constitucional nº 19, conforme segue: 
26 
 
 
I - as reclamações relativas à prestação dos serviços públicos em geral, 
asseguradas a manutenção de serviços de atendimento ao usuário e a 
avaliação periódica, externa e interna, da qualidade dos serviços; 
II - o acesso dos usuários a registros administrativos e a informações 
sobre atos de governo, observado o disposto no art. 5º, X e XXXIII; 
III - a disciplina da representação contra o exercício negligente ou 
abusivo de cargo, emprego ou função na administração pública. (Brasil, 1988) 
As garantias apresentadas pela Constituição deram a população um 
importante instrumento jurídico, para que pudessem ser criadas jurisprudências 
a fim de disciplinar e ao mesmo tempo ampliar o leque de prerrogativas legais, 
protegendo assim, todo o cidadão que queira participar como um agente ativo 
na gestão pública. Ainda conforme a Constituição em seu art. 14º determina 
que, a soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto 
direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: 
I - plebiscito; 
II - referendo; 
III - iniciativa popular. 
O direito ao voto na Constituição de 1988, enfim é garantido a todo e 
qualquer cidadão sem nenhuma distinção, esse passa a ser o principal 
instrumento de participação da população na política. Mas, conforme 
Wainwright (2005), o voto não assegura o controle popular, pois as instituições, 
tanto do partido como do aparelho do Estado, dispõem de mecanismos que 
bloqueiam ou mediam, até eliminarem, as demandas e os desejos populares. 
Salienta-se ainda que a lei cria outros meios que permite ao indivíduo intervir 
na gestão pública, esses meios são o plebiscito, o referendo e a iniciativa 
popular, que serão tratados mais adiante. 
Com a Constituição cria-se juridicamente elementos para que outras leis 
mais específicas sejam desenvolvidas para atender as necessidades das mais 
diversas áreas, como educação, saúde, seguridade social, transporte entre 
outras. Podemos analisar o caso da educação que através da lei nº 9.394/96, 
27 
 
 
estabelece as diretrizes e bases para o sistema de educação nacional e da às 
seguintes providências: 
Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão 
democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas 
peculiaridades e conforme os seguintes princípios: 
I - participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto 
pedagógico da escola; 
II - participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares 
ou equivalentes; 
Nota-se que em seu artigo 14º da lei de diretrizes da educação cita a 
expressão gestão democrática, o que denota uma preocupação em 
desenvolver uma administração mais participativa na área da educação. Outro 
setor que merece ser destacado é o da saúde, no qual também contam com 
regulamentação própria através da lei 8.142/90, na qual institui a Conferência 
de Saúde e o Conselho de Saúde. 
Assim como na educação o setor de saúde obtém uma importante 
conquista com a implementação de um conselho, que conta com a participação 
de indivíduos de diversos segmentos sociais, conforme podemos verificar em 
seu 2º parágrafo do art. 1º dareferida lei: 
§ 2° O Conselho de Saúde, em caráter permanente e deliberativo, órgão 
colegiado composto por representantes do governo, prestadores de serviço, 
profissionais de saúde e usuários, atua na formulação de estratégias e no 
controle da execução da política de saúde na instância correspondente, 
inclusive nos aspectos econômicos e financeiros, cujas decisões serão 
homologadas pelo chefe do poder legalmente constituído em cada esfera do 
governo. 
Ressalta-se ainda que a área da saúde foi pioneira na luta por um 
modelo de gestão mais democrática, desde a reforma sanitária nos fins da 
década de 70, as pessoas envolvidas nas discussões, pleiteavam uma maior 
participação social em sua administração. 
A legislação tem avançado no sentido de garantir uma gestão mais 
participativa, nota-se através da lei 10.683/03, que dispõe sobre a organização 
28 
 
 
da Presidência da República e dos ministérios, que o seu conteúdo segue 
nessa mesma direção, em seu artigo 3º e inciso I podemos constatar: 
Art. 3o À Secretaria-Geral da Presidência da República compete assistir 
direta e imediatamente ao Presidente da República no desempenho de suas 
atribuições, especialmente; 
I - no relacionamento e articulação com as entidades da sociedade civil e 
na criação e implementação de instrumentos de consulta e participação popular 
de interesse do Poder Executivo; 
A regulamentação dessa lei foi fundamental para que o processo de 
participação da sociedade civil na gestão pública ganhasse mais espaço, pois 
ela não específica nenhum setor ou área de atuação do Estado. Com a 
generalização e uma abertura maior em relação à introdução de uma gestão 
mais participativa, resultou recentemente em um decreto presidencial, que tem 
gerado muita discussão a respeito de seu conteúdo. 
O decreto acima referido é nº 8.243/14, no qual institui a Política 
Nacional de Participação Social – SNPS, e das outras providências conforme 
segue: 
Art. 1º Fica instituída a Política Nacional de Participação Social - PNPS, 
com o objetivo de fortalecer e articular os mecanismos e as instâncias 
democráticas de diálogo e a atuação conjunta entre a administração pública 
federal e a sociedade civil. 
Parágrafo único. Na formulação, na execução, no monitoramento e na 
avaliação de programas e políticas públicas e no aprimoramento da gestão 
pública serão considerados os objetivos e as diretrizes da PNPS. 
Observa-se que no decreto é citado que a administração pública deve 
ser realizada em conjunto com a sociedade civil, para que possa haver uma 
cooperação entre as partes, na formulação execução das políticas públicas, 
com o objetivo de obter uma gestão pública mais eficiente, transparente e que 
29 
 
 
possa se aproximar cada vez mais das reais necessidades dos cidadãos. Além 
dos objetivos, são estabelecidas algumas diretrizes: 
Art. 3º São diretrizes gerais da PNPS: 
I - reconhecimento da participação social como direito do cidadão e 
expressão de sua autonomia; 
II - complementariedade, transversalidade e integração entre mecanismos 
e instâncias da democracia representativa, participativa e direta; 
III - solidariedade, cooperação e respeito à diversidade de etnia, raça, 
cultura, geração, origem, sexo, orientação sexual, religião e condição social, 
econômica ou de deficiência, para a construção de valores de cidadania e de 
inclusão social; 
IV - direito à informação, à transparência e ao controle social nas ações 
públicas, com uso de linguagem simples e objetiva, consideradas as 
características e o idioma da população a que se dirige; 
V - valorização da educação para a cidadania ativa; 
VI - autonomia, livre funcionamento e independência das organizações da 
sociedade civil; e 
VII - ampliação dos mecanismos de controle social. 
As diretrizes aqui propostas contemplam de forma democrática a 
institucionalização do controle social e seus instrumentos, como meio de 
otimizar a administração pública. Importante salientar que no inciso I a 
participação social é mencionada como um direito do cidadão, ou seja, não é 
algo facultativo muito menos uma prerrogativa fornecida pelo estado, trata-se 
de um direito do cidadão conquistado com muita dificuldade. Outro ponto que 
merece destaque é a proposta de integrar os diferentes modelos de 
democracia (representativa, participativa e direta) utilizando os mecanismos 
que cada uma pode oferecer, sem restringir ou obrigar a aplicação de algum 
instrumento democrático de maneira arbitrária. 
Ainda sobre as diretrizes acima citada, importante mencionar que o 
decreto contempla o direito à informação, à transparência e ao controle social 
nas ações de caráter público, esses itens deveriam fazer parte de toda e 
qualquer instância da gestão pública, e serem aplicados na prática de maneira 
30 
 
 
eficaz. O tratamento dado as diferenças culturais, também estão presentes, 
pois em um país com sua imensa extensão territorial e diversidade cultural, far-
se-á necessário que haja respeito as diversas formas de expressão. 
A lei ainda deixa em aberto a possibilidade da ampliação de mecanismo 
de controle social, que possa ser incorporado. Esse decreto veio para 
consolidar e normatizar as ações de participação social em qualquer atividade 
desenvolvida no âmbito do Poder Público, sem essa normatização, teríamos 
que ter um conjunto de lei para cada setor, e a criação de um corpo jurídico 
específico para cada área iria depender muito da capacidade organizativa para 
exercer pressão e obter as conquistas necessárias. 
Esse decreto tem gerado inúmeras críticas, pois para alguns trata de um 
golpe presidencial para que determinados grupos sociais possam decidir ou até 
mesmo legislar, sobre assuntos de interesses públicos. Um dos problemas está 
na definição de sociedade em seu artigo 2º “I - sociedade civil - o cidadão, os 
coletivos, os movimentos sociais institucionalizados ou não institucionalizados, 
suas redes e suas organizações;”. Nota-se que o primeiro item mencionado, 
refere-se ao cidadão, ou seja, qualquer pessoa pode participar, o texto a seguir 
inclui outras denominações como os movimentos sociais, mas não exclui, 
outros segmentos da sociedade. É compreensível e notável que no Brasil ainda 
não temos uma organização social consolidada, o que pode nos levar a pensar 
que pequenos grupos teriam mais força para defender suas pautas específicas, 
mas, o problema não está no decreto, e sim na estrutura social do país. 
Outra crítica feita recai sobre o fato que o decreto estaria tirando o poder 
do congresso nacional, o atual presidente da Câmara dos Deputados Henrique 
Alves, deu a seguinte declaração “o decreto está em desarmonia com o 
princípio da separação dos Poderes, pois ao Congresso Nacional cabe, 
precipuamente, formulação de políticas públicas, por meio de lei, após amplo 
debate entre todas as forças políticas — da situação e da oposição — sobre as 
mais diversas demandas de todos e quaisquer grupos da sociedade, alinhados 
ou não, ao governo”. Através de uma leitura mais cuidadosa constata-se que 
em nenhum momento o texto cita a possibilidade dos mecanismos de 
participação social decidir ou votar algo, devemos destacar ainda que esse 
31 
 
 
decreto tem o intuito de regulamentar a lei nº 10.683 de 2003, em seu art. 
3º, caput, inciso I, já mencionado aqui, traz o seguinte trecho implementação 
de instrumentos de consulta e participação popular de interesse do Poder 
Executivo; 
 Para não ter nenhuma dúvida quanto ao papel da sociedade na gestão 
pública, nota-se claramente que o decreto baseia-se em uma lei que pretende 
implementar instrumentos de consulta, em nenhum trecho do texto há menção 
quanto à possibilidade de intervir nas decisões seja do senado ou da câmara. 
O mais importante é que o decreto reascendeu o debate sobre a 
participação da sociedade civil da administração pública, como aqui no Brasil 
esse modelo de gestãoainda não é muito difundido em escala nacional ou até 
mesmo regional, temos alguns exemplos bem sucedidos de munícipios que 
utilizam o orçamento participativo. É aceitável que cause reações adversas a 
esse tema, pois sociedade organizada fora os movimentos sociais no caso 
brasileiro tem sido exceção, logo faz alguns pensar que esses movimentos vão 
passar a decidir os rumos da política nacional, quando que a intenção no 
sentido literal, é de apenas tornar o Estado mais próximo da sociedade, ou 
seja, exercer uma representatividade que atenda os anseios dos 
representados. 
 
 
 
 
 
 
 
 
32 
 
 
3 CONTROLE SOCIAL 
 
O conceito de controle social na teoria política tem se caracterizado pela 
ambiguidade de seu significado, pois a sua concepção tem originado sentidos 
diferentes sobre a ideia de Estado e de sociedade civil. O termo controle social 
pode ser utilizado para designar o controle de Estado sobre a sociedade, ou o 
controle da sociedade sobre as ações do poder público. 
Sobre está ambiguidade em torno do significado da expressão controle 
social, Costa (2009, p.106) afirma que: 
O controle social envolve a capacidade que as classes subalternas, 
em luta na sociedade civil, têm para interferir na gestão pública, 
orientando as ações do Estado e os gastos estatais na direção dos 
seus interesses de classe, tendo em vista a construção de sua 
hegemonia. 
 Nota-se que na argumentação da autora a mesma restringe essa 
interferência na gestão pública a uma parte da sociedade, ou seja, as classes 
subalternas, neste caso o controle social possibilitaria a inserção dos menos 
favorecidos economicamente. 
O controle social pode ser entendido como a participação do cidadão na 
gestão pública, na fiscalização, no monitoramento e no controle das ações da 
Administração Pública. Trata-se de importante mecanismo de prevenção da 
corrupção e de fortalecimento da cidadania3. 
Outra definição traz uma importante contribuição, segundo Scatena e 
Assis (2003, p.377): 
 
Controle social consiste, portanto, em canais institucionais de 
participação na gestão governamental, com a presença de novos 
sujeitos coletivos nos processos decisórios, não se confundindo com 
os movimentos sociais que permanecem autônomos em relação ao 
Estado. 
 
Cabe destacar a respeito da afirmação supracitada, pois as autoras 
 
3 Controle Social Orientações aos cidadãos para participação na gestão pública e exercício do 
controle social, acessado em http://www.cgu.gov.br/Publicacoes/controle-social/colecao-olho-vivo 
33 
 
 
deixam claro que o controle social não pode ser confundido com os 
movimentos sociais já existentes, esses continuariam exercendo o seu papel e 
reivindicando suas pautas específicas. 
A ideia de participação popular na administração pública também foi 
reconhecida na Declaração Universal dos Direitos Humanos, conforme 
descreve Dallari (1984, p.26): 
 
Declaração Universal dos Direitos Humanos considera a participação 
política um direito fundamental de todos os indivíduos. Diz, entre 
outras coisas, o artigo 21 da Declaração que todo ser humano tem o 
direito de tomar parte no governo de seu país e que a vontade do 
povo será a baseada autoridade do governo. 
 
Segue abaixo o trecho da Declaração Universal dos Direitos Humanos 
em seu Artigo 21.º na íntegra, na qual Dallari se referiu: 
 Toda a pessoa tem o direito de tomar parte na direção dos 
negócios públicos do seu país, quer diretamente, quer por 
intermédio de representantes livremente escolhidos. 
 Toda a pessoa tem direito de acesso, em condições de igualdade, 
às funções públicas do seu país. 
 A vontade do povo é o fundamento da autoridade dos poderes 
públicos; e deve exprimir–se através de eleições honestas a 
realizar periodicamente por sufrágio universal e igual, com voto 
secreto ou segundo processo equivalente que salvaguarde a 
liberdade de voto. 
No mundo de maneira geral, principalmente nos países ocidentais a 
década de 60 foi um período de grandes reivindicações populares em busca de 
um novo paradigma político. Sobre esse período histórico de mobilização 
observa-se que: 
Nos últimos anos da década de 60, a palavra participação tornou-se 
parte do vocabulário político popular. Isso aconteceu na onda de 
reivindicações, em especial por parte dos estudantes, pela abertura 
de novas áreas de participação - nesse caso na esfera da educação 
de nível superior - e, também por parte de vários grupos que queriam 
na prática, a implementação dos direitos que eram seus na teoria. 
(PATEMAN, 1992, p. 9). 
 
 
34 
 
 
Observa-se que o anseio da população em participar como um indivíduo 
ativo na gestão pública, tornava-se algo concreto, pois o sentimento de rebeldia 
contra o modelo de gestão imposto, já não era mais aceito por aqueles que 
ficavam à margem das decisões, uma nova alternativa far-se-ia necessária 
diante do paradigma imposto pelo poder público. 
Podemos dizer que através da participação na gestão pública, os 
cidadãos podem intervir na tomada da decisão administrativa, sugerindo 
alternativas para que o poder público adote medidas que realmente atendam 
ao interesse da sociedade e, consequentemente exigir que o gestor público 
preste contas de sua atuação. 
A importância de que haja pessoas engajadas em desenvolver um papel 
de agente controlador e/ou fiscalizador das atividades desenvolvidas no âmbito 
da gestão pública, serve muito mais para reforçar e contribuir para que o 
modelo de democracia representativa se fortaleça ainda mais, nesse sentido 
Nogueira (2004, p.140) afirma que: 
 
A sombra da participação – a (re) valorização da de ideia de 
democracia direta - contrastará cada vez mais a imagem de equilíbrio, 
eficiência e autenticidade vinculada à democracia representativa. E 
ainda que o liberalismo tenha resistido (recompondo-se em parte 
como neoliberalismo), é evidente que a democracia participativa 
tornou-se uma referência impossível de ser ignorada. 
 
Ainda sobre a contribuição de que uma efetiva participação da 
sociedade pode trazer ao sistema representativo, como se pode observar nas 
palavras acima de Nogueira, outro autor contribui com essa afirmação: 
 
Finalmente, "participação", no que diz respeito à maioria, constitui a 
participação na escolha daqueles que tomam as decisões. Por 
conseguinte, a função da participação nessa teoria é apenas de 
proteção; a proteção do indivíduo contra decisões arbitrárias dos 
líderes eleitos e a proteção de seus interesses privados. É na 
realização desse objetivo que reside à justificação do método 
democrático. São necessárias certas condições para conservar a 
estabilidade do sistema. (PATEMAN, 1992, p.25). 
 
Essa participação é importante porque contribui para a boa e correta 
aplicação dos recursos públicos, fazendo com que as necessidades da 
sociedade sejam atendidas de forma eficiente e consequentemente cria 
condições para que haja uma administração mais transparente. Conforme 
35 
 
 
Nogueira (2004, p. 150): 
 
A gestão participativa procura introduzir formas novas de controle 
social, ou seja, de controle do governo pela sociedade. Ela é, em boa 
medida, uma aposta democrática e republicana: o governar deve 
visar o povo, fazer-se em seu nome e ser por ele avaliado e 
controlado, funcionando segundo regras, critérios e procedimentos 
que privilegiam aquilo que é público, o bem comum e o interesse de 
todos. 
Para que haja uma maior participação da sociedade ou setores 
organizados desta, faz-se necessário um maior engajamento político dos 
cidadãos, para evitar que essa minoria que foi eleita, seja a única capaz de 
decidir a maneira como utilizar os recursos para desenvolver políticas públicas, 
Dagnino (2007, p. 101), nos traz uma elucidação importante: 
Sob determinadas condições, é possível alcançar, por meio da 
participação, resultados relevantes tantoem termos de inclusão 
quanto em termos distributivos. Uma dessa condição é a presença da 
sociedade civil organizada, sobretudo, na forma de associações 
capazes de aproximar as demandas sociais das políticas sob gestão 
nos espaços participativos, e também de conferir legitimidade as 
iniciativas públicas, ampliando a adesão social a elas. 
 
O argumento mencionado por Dagnino aponta para alguns setores da 
sociedade civil que de maneira organizada pode contribuir para uma maior 
inclusão de indivíduos na participação de uma gestão pública democrática, que 
possam inserir essa discussão e ampliar o debate para construir uma 
consciência coletiva que possa possibilitar que cada indivíduo exerça a sua 
cidadania. 
A necessidade de manter uma sociedade organizada em torno de seus 
objetivos é de fundamental importância para que possa atingi-los: 
Para se atingirem grandes objetivos políticos é indispensável um 
trabalho organizado. Isso porque toda proposta de modificação na 
vida social encontra a resistência dos interesses estabelecidos, dos 
acomodados ou daqueles que têm medo de toda transformação. Por 
esse motivo, mesmo as propostas que possam trazer maior benefício 
comum precisam de um trabalho constante e sistemático para serem 
aceitas e concretizadas. (DALLARI 1984, P. 47). 
 
Observa-se que Dallari enfatiza o quanto é importante a realização de 
um trabalho organizado e sistemático para que se atinjam os objetivos 
políticos, pois se uma sociedade pretende participar ativamente da 
36 
 
 
administração pública, far-se-á necessário que haja um engajamento e 
organização a fim de obter resultados positivos. Ainda sobre a importância 
dessa organização, Dallari (1984, p. 48) conclui: 
A par disso, a organização dá maior proteção aos que trabalham pela 
mudança, o que é muito importante quando os que desejam tal 
mudança não gozam de grande proteção na ordem social ou quando 
as propostas contrariam os interesses de pessoas poderosas 
dispostas a cometer violências para proteger esses interesses. 
 
Em contrapartida, há alguns problemas que implicam o desenvolvimento 
de uma sociedade participativa na tomada de decisão da administração 
pública, nesse contexto Nunes (1999, p.122) afirma que “quando uma 
sociedade começa a se organizar, um dos primeiros problemas se diz respeito 
à consolidação de líderes”. A falta de um líder ou líderes realmente aparece 
como um problema, principalmente se pensar de que maneira chegaremos a 
esses indivíduos, fazia-se uma eleição, seriam indicados aqueles que dispõem 
de mais tempo ou se esperaria o surgimento natural de uma liderança. 
Ainda a respeito da questão de liderança, Nunes (1999, p.122) conclui 
que “para uma ação autônoma, uma população precisa contar com líderes 
mobilizadores que mantém sua liderança e conduz eficazmente uma luta 
conjunta a partir da capacidade de mobilização dos que o cercam”. 
A questão da liderança realmente é de extrema importância para que se 
possa organizar uma comunidade e consequentemente atingir os objetivos de 
sua mobilização. Mas não é apenas a questão da falta de uma líder que pode 
ser um entrave, a autora ainda cita que a baixa escolaridade da população 
brasileira e a histórica diferença socioeconômica (elite x classes populares), 
são outros pontos a serem discutidos. 
A baixa escolaridade é sem nenhuma dúvida um dos principais entraves 
para o desenvolvimento social de qualquer país. No caso brasileiro, ainda hoje 
sofremos com o baixo nível de escolaridade de sua população, o que acaba 
dificultando na elaboração de atividades que requer algum grau de instrução. A 
autora traz uma importante colaboração: 
O baixo grau de escolaridade da população adulta em grande parte 
das cidades brasileiras tem repercussões no fato de não dominarem 
a linguagem escrita e oral, ou não terem conhecimentos específicos 
para a tomada de decisões. A vivência da escola é muito importante 
para o domínio de procedimentos concreto do processo participativo, 
que são os mesmos da democracia direta. (NUNES, 1999, p.119). 
37 
 
 
Outro fator mencionado pela autora, que serve como um estorno na 
implementação da participação popular, é a histórica diferença socioeconômica 
entre elite x classes populares. Constata-se no caso brasileiro que 
historicamente a classe detentora de um maior poder aquisitivo econômico ou 
de uma maior influência social, sempre teve uma importante participação nas 
decisões políticas do país. Nesta perspectiva, Nunes (1999, p.120) explica que: 
 A relação elite x povo no Brasil é uma relação hierarquizada entre os 
que podem e os que não podem, entre os que sabem e os que não 
sabem, entre os que tem (dinheiro, relações social, saber) e o que 
não tem, essa relação tem que ser transformada. 
 
Para que essa situação possa ser modificada, faz-se necessário que a 
população entenda que somente organizados e com propósitos que atenda as 
reais necessidades da maioria da população, possa sobrepor as necessidades 
de uma minoria que historicamente detém uma fatia maior da riqueza. 
Como podemos observar, o controle social possibilita uma inserção do 
cidadão comum no debate político, seja na esfera municipal, estadual ou 
federal. Apesar das dificuldades, a democracia participativa funciona como um 
complemento ao sistema representativo, além de ser indispensável ao controle 
institucional realizado pelos órgãos que fiscalizam os recursos públicos. Por 
isso, a fiscalização da aplicação dos recursos públicos precisa ser feita com o 
apoio da sociedade. Se os nossos representantes não conseguem atender a 
agenda de políticas sociais que vá de encontro com os interesses da 
sociedade, nada mais justo que esta sociedade passe a fazer parte da 
administração pública de uma maneira mais incisiva. 
 
 
38 
 
 
3.1 OS MECANISMOS DA PARTICIPAÇÃO 
 
 
A respeito das diversas formas que o cidadão pode interferir na gestão 
pública, Di Pietro (1993) analisa que há duas grandes modalidades, a forma de 
participação direta, como por exemplo, a iniciativa popular legislativa, o 
referendo, o plebiscito e formas de participação indireta, como participar 
através de um ouvidor, ou a atuação em conselhos. A autora ainda divide as 
formas de participação que pode ocorrer dentro de cada um dos poderes do 
Estado, dessa maneira, no poder legislativo teríamos as audiências públicas, 
iniciativa popular, referendo, no poder executivo conselhos de gestão, direito de 
petição e enquanto no judiciário a ação popular, Ministério Público e ação civil 
pública. 
Além desses instrumentos citados acima, existem legalmente 
constituídos outros instrumentos de Estado que objetivam o controle público. 
Segue abaixo uma breve descrição elaborada por Ricci4 de alguns desses 
instrumentos: 
 
 Ministério Público - Tecnicamente é o defensor e guardião dos 
direitos da sociedade, assegurados na Constituição. 
 Tribunal de Contas - Órgão auxiliar dos Parlamentos (municipais, 
estadual e federal), compete à fiscalização contábil, orçamentária, 
operacional e patrimonial de todos os entes federativos 
(municípios, Estados e União). Todo cidadão pode denunciar 
irregularidades aos Tribunais de Contas. 
 Ação Civil Pública - O Ministério Público ou associação civil 
(com ao menos um ano de existência) podem apresentar 
representações, sem custas, honorários ou outras despesas. 
 Mandato de Segurança Coletiva - Denúncia que protege um 
direito certo. Esta ação pode ser impetrada por associação civil, 
partido político ou organização de representação de classe, 
 
4 Disponível em 
http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/viewFile/7590/4362 
39 
 
 
contra autoridade pública que descumprir este direito. 
 Mandato de Injunção - Quando a ausência de uma norma que 
regulamente uma situação impede o exercício de um direito ou 
liberdade garantidaconstitucionalmente. 
Ação Popular - No caso de um direito ou interesse público for lesado, 
qualquer cidadão pode, individualmente, entrar no Judiciário com uma ação 
popular. Visa proteger o patrimônio público, a moralidade da administração 
pública, o meio ambiente e o patrimônio ambiental e cultural. 
Esses mecanismos acima citados que possibilitam a participação 
popular nas decisões do Estado, alguns são instituições regulamentadas que 
prestam importantes serviços a sociedade como é o caso do Tribunal de 
Contas e Ministério Público, que são considerados como um tipo de controle 
externo, ou seja, que envolve as tarefas de fiscalizar, avaliar e corrigir a 
totalidade da administração pública. 
 Em outros casos, como por exemplo, plebiscito e referendo, a 
população tem o direito a votar para que possa decidir sobre algum assunto, 
mas conforme a lei que os regulamenta a de nº9.709/98 segundo o art. 2º da 
referida lei, “plebiscito e referendo são consultas formuladas ao povo para que 
delibere sobre matéria de acentuada relevância, de natureza constitucional, 
legislativa ou administrativa”. Para que ambos possam ser realizados, 
dependem de autorização do Congresso Nacional. 
Em relação ao plebiscito de âmbito nacional, o último ocorreu há mais de 
vinte anos, refere-se ao plebiscito que levou os brasileiros às urnas em 1993 
para escolher entre a república e a monarquia constitucional, bem como entre o 
parlamentarismo e o presidencialismo. Este seria o último plebiscito em âmbito 
nacional, pois em nível regional ocorreu em 2011, um plebiscito para decidir 
sobre a divisão do estado do Pará. 
Enquanto ao referendo tivemos em 2005 uma votação para decidir sobre 
a proibição do comércio de armas de fogo e munição, essa consulta abrangia 
todo o território brasileiro. O último referendo aconteceu em 2010, onde a 
população acreana, votou para decidir pela manutenção ou não da 
mudança de fuso horário. 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Fusos_hor%C3%A1rios_no_Brasil
40 
 
 
A iniciativa popular permiti o acesso de um grupo de cidadãos na 
elaboração de um projeto de lei, submetendo-o à apreciação do Poder 
Legislativo, na Constituição Federal de 1988 em seu art. 61, § 2º, menciona 
que: 
 A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à Câmara 
dos Deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo, um por 
cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco 
Estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de 
cada um deles. 
 
No Brasil, a última lei criada através de iniciativa popular foi o projeto de 
ficha limpa, instituído em 2010. Além dessa, apenas outras três leis foram 
criadas através desse dispositivo, o que demonstra ainda uma apatia da 
população em participar de decisões políticas. 
Apesar de ter avançado na criação de mecanismos que possibilitam a 
participação do cidadão brasileira na administração pública, nota-se ainda o 
pouco uso desses instrumentos. Mesmo garantidos por lei, nota-se que ainda 
não há o interesse em conhecer as formas existentes de participar das 
decisões do Poder público. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
41 
 
 
3.2 PODER LOCAL 
 
Tratar da questão do poder local se faz necessário, pois algumas 
experiências bem sucedidas de controle social no Brasil têm ocorrido em uma 
determinada porção do território, limitado à esfera local. Mas como delimitar 
este espaço local? Para Dowbor (1999, p.10) "o espaço local no Brasil é o 
município, unidade básica de organização social, mas é também o bairro, o 
quarteirão em que vivemos". Partindo para uma análise mais ampla do conceito 
local em relação a sua escala de atuação, Fischer (2004) destaca que quando 
se fala em local, não se está circunscrevendo o conceito à rua, ao bairro ou 
mesmo à cidade. O universo de análise é mais amplo e abstrato, podendo 
estar relacionado a várias escalas de poder. 
Nota-se por essa definição de Fischer que a questão local não se 
restringe a uma única escala especialmente, no âmbito das cidades e regiões e 
conclui que as múltiplas escalas estão presentes em projetos de pequeno porte 
que abrangem um bairro, onde os atores sociais envolvem-se em relações com 
diversos níveis de governo, comunidades, agentes financeiros locais, nacionais 
ou internacionais. 
A mudança na maneira de gerir o território no que se remete ao 
município é notada na Constituição Brasileira de 1988, onde, segundo Edgard 
Bastos (1989, p.7) “ao contrário da Constituição de 1967, nitidamente 
centralizadora, a atual tem na descentralização administrativa e financeira uma 
de suas principais características”. Dessa maneira, as responsabilidades antes 
centralizadas no governo federal deverão, aos poucos, ser transferidas para as 
administrações dos Estados e Municípios. Bastos observa que, para isso, foi 
estabelecida ampla reforma na distribuição dos recursos tributários, de modo a 
reforçar as finanças dos governos locais, permitindo a descentralização. 
Antes dessa mudança a União ficava com 45%, os Estados com 37% e 
os municípios com 18%. Com a reforma tributária, a União passa a ter 36% dos 
recursos, os Estados 40% e os municípios 24%. A descentralização possibilita 
uma maior autonomia dos municípios, quanto ao desenvolvimento de políticas 
públicas, pois com recursos próprios e menos dependência de outras 
instâncias. 
 
42 
 
 
Sobre a importância da descentralização Tonella (2006, p.40), ressalta: 
A descentralização administrativa é uma realidade que as 
administrações municipais e a população local tem que lidar e a 
eficácia das políticas públicas dependerá em muito da capacidade da 
capitação de recursos na esfera estadual e federal. A existência de 
condições sociais, políticas e institucionais, que permita um maior 
envolvimento da população no processo decisório, torna-se crucial 
para alterar a capacidade governativa em nível local. 
 
Esse novo enfoque sobre a administração pública municipal trouxe 
novas experiências na gestão local dos territórios e de modo geral, nota-se que 
em algumas cidades esse modelo de gestão da coisa pública com a 
participação da sociedade civil, tem colhido bons frutos. Com a 
descentralização e autonomia na gestão dos recursos financeiros, o 
administrador público passa a ter mais liberdade na destinação de um 
percentual para aplicar em políticas públicas. 
O desenvolvimento de mecanismos de controle social em escala local 
serve como um exercício para que o indivíduo coloque em prática ações para 
construir uma gestão democrática. E com o passar do tempo busca alcançar 
através da participação outros níveis da administração pública, de maneira 
mais organizada com o aprendizado conquistado. 
Apesar de aparentemente demonstrar uma maior facilidade de aplicação 
do controle social em nível local em virtude do tamanho do território, bem 
como, uma maior praticidade para reunir as pessoas, Tonella (2006, p.43) 
levanta algumas questões para reflexão: 
 
Deve-se levar em conta, ainda, a maior ou menor capacidade das 
comunidades locais em se organizar autonomamente. A realidade de 
muitos municípios do interior ainda é pautada pela prática clientelista, 
no qual o controle da vida pública fica centrado nas mãos de algumas 
lideranças. A dinâmica dos conselhos gestores e a eficácia (ou não) 
da implementação do modelo devem ser compreendidas a partir da 
imensa diversidade de realidades municipais e não apenas a partir da 
realidade das metrópoles. 
 
A autora questiona um problema associado ao histórico político brasileiro 
e que ainda hoje, infelizmente, reflete na sociedade. O clientelismo está mais 
presente do que podemos imaginar, e não apenas em cidades longínquas ou 
interioranas. A prática é muito comum até mesmo em cidades situadas em 
áreas metropolitanas, não é difícil encontrar pessoas que trocam seu voto por 
uma mercadoria ou por algum favor. Persiste ainda a lógica do