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A MODERNA TEORIA ECONOMICA E OS DESAFIOS DO CAPITALISMO NO SÉCULO XXI novo

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A MODERNA TEORIA ECONOMICA E OS DESAFIOS DO CAPITALISMO NO SÉCULO XXI
INTRODUÇAO
Existem vários economistas famosos que trouxeram diversos tipos de teorias econômicas durante os últimos séculos, desde Adam Smith, Karl Marx, Hayek e John Maynard Keynes.
No livro The Great Economists, a economista e jornalista britânico-americana Linda Yueh explica os pensamentos-chave que distinguiram esses e outros nove economistas, e o que eles podem nos ensinar sobre o mundo atual. Yueh destacou que, ainda que os especialistas tenham pensamentos muito distintos - e em alguns casos opostos - todos têm algo em comum.
"Todos eles observaram os desafios econômicos mais importantes de sua época, os examinaram, analisaram e encontraram formas de nos ajudar a entender melhor o que estava ocorrendo. E o importante que nos explicaram o que podia ser feito a esse respeito", afirmou a autora.
O livro “A Riqueza das Nações” de Adam Smith foi o primeiro grande marco para a fundamentação teórica na defesa de uma economia de mercado. Em um momento em que se estava ganhando forma à primeira revolução industrial na Inglaterra, Smith elaborou uma série de novos conceitos e relações que mudariam completamente a forma como a Economia Política seria posteriormente analisada. Dentre suas principais contribuições, a relação entre a especialização do trabalho e a produtividade, o foco no consumidor e não na acumulação de metais, e a eficiência gerada pelo egoísmo de cada produtor e consumidor (mão invisível), continuam presentes até os dias de hoje.
O livro The General Theory of Employment, Interest and Money de Keynes mesmo depois de decorrido quase um século da publicação que influenciou governos e empresas em todo mundo no século XX, ainda é um alerta sobre o papel e os limites do mercado financeiro em um mundo globalizado, em que a projeção de boas ideias pode ser sinônima de bons negócios, ou não. No modelo de Keynes, o mercado financeiro deveria ser responsável pelo fomento da produção de bens, sendo estes bens tanto quanto mais valiosos na exata medida de sua capacidade de beneficiar ou facilitar a vida de seus consumidores, posto que habitamos nesse mundo não só poeticamente, mas também prosaicamente.
Baseado nesse conceito, em sendo o emprego o princípio basilar da economia, Keynes sugeria que a estabilidade da economia dependeria, entre outros fatores, de políticas capazes de garantir o pleno emprego, pois em havendo renda, as famílias teriam garantido o acesso aos bens de consumo ofertados pela indústria, que continuariam a remunerar seus investidores e, também, a pagar salários. Essa teoria ajudou muitos países a reconstruírem suas economias no período pós-segunda guerra mundial por meio de políticas intervencionistas que conseguiram reativar a atividade financeira e econômica em momentos de crise. 
DESENVOLVIMENTO
O século XVIII foi decisivo para os rumos do mundo contemporâneo. Entre seus acontecimentos, destacam-se a revolução americana, de 1776, a francesa, de 1789, a repercussão das ideias iluministas, as primeiras revoltas e rebeliões de algumas colônias europeias na América (como por exemplo, a inconfidência mineira, ocorrida no Brasil no mesmo ano da revolução francesa) e os enormes avanços científicos nas ciências, especialmente no campo da química e da física. Tais acontecimentos não eram em vão, ou apenas mera coincidência. Havia, em todo mundo, uma mudança estrutural da sociedade, causada principalmente pela mudança na economia e no modo de compreender a geração da riqueza.
 Nesse sentido, as mudanças geradas pela economia tiveram um impacto ainda maior do que as próprias revoluções presentes no mesmo período. Tanto a independência das 13 colônias e a revolução francesa, que colocava em xeque toda a estrutura político-administrativa colonialista e absolutista; não tiveram a mesma intensidade quanto às mudanças econômicas. A última, consolidada no século XVIII representa uma mudança na geração de riqueza, deixando para trás não só as ideias econômicas do feudalismo e, contemporânea ao período descrito, o mercantilismo, mas também a organização social e as interações pessoais.
Ter a compreensão que todas essas mudanças e seus impactos no mundo não é uma tarefa fácil. Alguns autores se aprofundaram nos estudos desses fenômenos, como Edmund Burke, que fez uma análise detalhada sobre a revolução francesa, e Tocqueville, que embora autor do século XIX, compreendeu as raízes da democracia americana desde o período de sua independência. Porém, no campo econômico, houve diversos autores que foram capazes de identificar as mudanças que ocorriam no comércio e na produção. Entre eles destacaram-se Richard Cantillon e Francis Hutcheson, que fizeram as primeiras contribuições para a economia política. Tais pensadores contribuíram de formas pontuais, tratando sempre de temas um pouco mais restritos da economia. Entretanto, foi apenas em 1776 com Adam Smith, aluno de Hutcheson, que toda a sociedade ocidental moderna foi descrita, de forma sociológica e econômica, servindo como base teórica para toda a economia política liberal do mundo.
Foi somente em 1752 que Smith conseguiu a cadeira para dar aula na Universidade de Glasgow. Ao longo de sua vida, Smith ascendeu e obteve contato com grandes pensadores contemporâneos, entre eles David Hume, de quem se tornara amigo, Voltaire e Burke. O professor já havia escrito “Teoria dos Sentimentos Morais” em 1759, mas foi em 1764 que Smith começou a elaborar um tratado de economia política, tratado esse que demoraria doze anos para ser finalizado, denominado “Uma investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações”. O tratado é uma junção de cinco grandes livros, e o impacto causado por tal obra no mundo econômico e social é enorme. Smith morreu em 1790, em Edimburgo, mas seu pensamento e seu legado seguem vivos nos livros e na economia mundial. Vale lembrar mais uma vez que o tratado que Adam Smith se propôs a escrever condensa todo um pensamento que vinha sendo descoberto pelos grandes intelectuais ao observarem as mudanças da sociedade e da economia.
A crítica liberal não é apenas ao protecionismo, mas também a qualquer tentativa de intervenção estatal que pudesse modificar as leis de mercado. Smith criticou diversas leis que interferiam no livre comércio, entre elas a lei de 1731 que impediu o livre cultivo do vinho com a justificativa de que havia vinho em excesso e poucos cereais, “mas, se fosse real, ela mesma, sem nenhuma ordem do conselho, evitaria todo modo a plantação de novos vinhedos”.
A consolidação das ideias de Smith teve um enorme impacto na sociedade do século XVIII, pois fora uma forma de explicar e definir toda a estrutura que começou a existir após o final da Idade Média. O povo feudal jamais pensou em uma divisão do trabalho para o aumento da riqueza, os juros eram considerados pecado de usura, a economia era impulsionada pela tradição ou pela imposição governamental, aspectos totalmente contrários às posições de Smith em seu tratado. Após sua grande obra, economistas futuros como David Ricardo aprofundaram o liberalismo econômico através da teoria do valor-trabalho e da vantagem comparativa, enquanto Karl Marx fez oposição direta com base no socialismo científico e comunismo. Além desses autores, vale destacar Keynes, que fez sua contribuição econômica para a macroeconomia e caminhou na direção oposta à visão de liberdade de Smith, acreditando em um Estado presente e desenvolvimentista, e Schumpeter, que além de ter feito críticas ao sistema de Smith, contribui para a utilização da tecnologia no sistema de mercado. 
A sociedade que Adam Smith descreveu e que se desenvolvera de forma tão rápida e produtiva graças à liberdade e à propriedade privada aos poucos se desmoronou durante o século XX, atribuindo maiores poderes aos governos intervencionistas.
Atualmente, este debate está aceso novamente, especialmente no mundo globalista, onde se discute o livre comércio com países de regime totalitários, e o papel do Estado na economia e até que ponto o governopoderia cobrar impostos são temas que persistem na mídia e nos governos, mesmo que de forma irresponsável e irracional.
A história institucional da economia mundial desde o século XIX é, basicamente, uma história das organizações intergovernamentais de cunho cooperativo nos terrenos da regulação industrial (patentes, normas técnicas, pesos e medidas), dos transportes e comunicações (uniões telegráfica, postal, de ferrovias), do comércio (tarifas, direito comercial), bem como no campo das questões sociais (liga contra o trabalho escravo, oficina internacional do trabalho), jurídicas (corte permanente de arbitragem, tribunal internacional de justiça), de higiene pública, de direitos humanos ou da educação e pesquisa. As uniões ou organizações concebidas a partir da segunda Revolução Industrial — a primeira foi a União Telegráfica Internacional, em 1865 — prosperaram desde então, contribuindo decisivamente para impulsionar a chamada governança global a partir de meados do século passado até o surgimento da mais jovem dentre elas: a Organização Mundial do Comércio, que começou a funcionar em 1995.
Essas entidades intergovernamentais ajudaram a criar mercados mundiais para os bens manufaturados por meio do estabelecimento de melhores meios de comunicações (uniões postal e telegráfica) e da interconexão física dos transportes (escritórios de ligações ferroviárias ou marítimas), pela proteção da propriedade intelectual (união de Berna sobre direito autoral) e industrial (união de Paris para a propriedade industrial) e através da redução das barreiras ao comércio (união para a publicação das tarifas, escritório de cooperação aduaneira). O comércio se fazia ao abrigo dos acordos bilaterais de "comércio, amizade e navegação", que geralmente continham a cláusula de nação-mais-favorecida (NMF), mas muitas vezes sob a forma condicional e restrita, o que certamente suscitou a necessidade de sua uniformização multilateral, obtida tão somente a partir do GATT – 1947. A sede dessas organizações era, na maior parte dos casos, na Europa, simplesmente porque as potências europeias controlavam, até a primeira metade do século XX, a maior parte do mundo civilizado (e o não civilizado).
Paralelamente ao trabalho burocrático desses organismos de cooperação, eram realizadas todo ano, de forma ad hoc ou institucionalizada, centenas de conferências, europeias ou mundiais, constituindo um verdadeiro sistema global de consulta e de coordenação entre representantes de governos e de entidades associativas de empresários, que definiam, assim, a agenda econômica mundial. No plano financeiro, os capitais circulavam livremente durante a era clássica do laissez-faire e as transações bancárias e com ouro não conheciam restrições de monta até o final da belle-époque, o que facilitava a interdependência dos mercados capitalistas e dispensava qualquer organismo para intermediar as relações entre os bancos centrais. Ainda assim, no período anterior à Guerra, foram realizadas conferências para a unificação de letras de câmbio e cheques.
Os parâmetros básicos que sustentam o modelo econômico neoliberal sobreviveram à Grande Recessão de 2008, apesar de muitas de suas “receitas econômicas” terem sido desacreditadas pelas evidências empíricas e pela própria experiência histórica – nas quais se reflete como as políticas econômicas neoliberais associadas à globalização, que aceleraram a desigualdade econômica e a deterioração social.
Considerada por muitos economistas como a pior crise econômica desde a Grande Depressão, a crise financeira de 2008 ocorreu devido a uma bolha imobiliária nos Estados Unidos, causada pelo aumento nos valores imobiliários, que não foi acompanhado por um aumento de renda da população. Pois diversos bancos passaram a oferecer mais créditos, expandindo o crédito imobiliário e atraindo os consumidores, o que causou a valorização dos imóveis. Até que com a alta procura, a taxa de juros subiu, derrubando os preços dos imóveis. Como muitos destes empréstimos foram de alto risco, muita gente não teve como pagá-los e diversos bancos ficaram descapitalizados.
Em seu último livro (Contra los Zombis, Crítica, 2020), o Prêmio Nobel de Economia de 2008, Paul Krugman, argumenta justamente contra as políticas econômicas neoliberais. Ele sustenta que, uma vez superada a crise, as principais economias mundiais retornaram ao dogma da sacralização do “infalível deus chamado mercado”, rejeitando a intervenção pública e a pertinente ação governamental nos desequilíbrios estruturais que tendem os mercados espontaneamente. Apesar das evidências históricas mostrarem que a intervenção estatal foi uma alavanca de estabilidade e crescimento econômico após a Segunda Guerra Mundial, ainda hoje sofre ataques de economistas ortodoxos que “detestam” o keynesianismo “e os seus contos de fadas”.
Krugman chama em seu livro “ideias zumbis” a uma série de pensamentos e teorias econômicas que estão “mortas”, que já estavam “mortas” na década de 1930, quando a Grande Depressão esteve prestes a destruir a economia e a sociedade capitalista ocidental, e os principais países industrializados se envolveram em uma guerra devastadora em todos os sentidos. As ideias liberais sobre a bondade e a eficiência infalível dos mercados que impulsionaram o cataclismo dos anos 1930, seguem rastejando, como zumbis, graças à generosa contribuição de doadores poderosos para centros de estudos, publicações de prestígio e meios de comunicação de massa que influenciam a opinião pública.
O keynesianismo guiou o desenvolvimento institucional da maioria dos países capitalistas após a Segunda Guerra Mundial. Como compensação pelo esforço de guerra, bem como a prevenção e a vacina política contra o comunismo presente no coração da Europa e do Extremo Oriente, se multiplicaram as estratégias fiscais redistributivas, engordando as fileiras de uma crescente classe média e, além disso, reforçando todos os tipos de políticas públicas que consolidaram o que, talvez, seja um dos maiores sucessos sociais do século XX: a criação e o desenvolvimento do Estado de bem-estar social.
O Estado de bem-estar social foi formado com base em uma forte tributação progressiva, com taxas marginais para as rendas mais altas, os 10% mais ricos da população, em torno de 90% em países como o Reino Unido ou os Estados Unidos durante quatro décadas. Acrescentando-se ainda altos impostos sobre grandes heranças, doações e outras transferências patrimoniais.
A tributação progressiva, o controle sobre os mercados de capitais, as maiores transferências de rendas sociais e o melhor equilíbrio nas relações de trabalho não provocaram nenhum tipo de impacto negativo na geração de taxas de crescimento econômico sustentado. Com o Estado de bem-estar social, a produtividade do trabalho também cresceu, enquanto as desigualdades sociais diminuíram (os casos da Suécia e da Alemanha são especialmente interessantes). Esse modelo de sociedade foi fundamentado em políticas keynesianas, conhecido como o “contrato social do pós-guerra”.
Além disso, as elites econômicas da época não eram bolcheviques, já que preferiam uma alta tributação à expropriação absoluta que poderia advir das mãos de uma revolução comunista, como havia ocorrido na década de 1920. Ademais, a receita ortodoxa não freou as conjunturas extraordinariamente críticas, como ficou demonstrado durante a Grande Depressão.
A teoria econômica apresentada por Keynes após a Grande Depressão dos anos 1930 mostrou ser necessária à intervenção do Estado na economia. A chave estava nas políticas de estímulo do lado da demanda, injetando toda a liquidez necessária para reverter os ciclos econômicos depressivos. Isso poderia ser feito mediante o emprego da política fiscal, ou o uso estratégico da emissão de dívida pública. O objetivo era o reaquecimento da economia e a diminuição do desemprego galopante.
Keynes faleceu em 1946 e não viu o implementar de sua teoria, mas graças a ela, durante quase quatro décadas, não aconteceram recessões significativas na economia ocidental. Seriaa inflação que enterraria o keynesianismo?
O crescimento descontrolado da inflação, após os choques do petróleo na década de 1970, foi utilizado por alguns intelectuais e economistas para teorizar sobre a incapacidade do modelo keynesiano de reverter a situação inflacionária.
A estagnação econômica e a inflação foram somadas ao crescimento exponencial do desemprego, formando um “coquetel explosivo” que, por conseguinte, colocaria os Estados na forca do ponto de vista do déficit público.
Alguns observadores pensaram que, se o Estado continuasse injetando dinheiro na economia, a inflação provocaria uma catástrofe semelhante à da Alemanha na década de 1920. O fato é de que a inflação descontrolada destruía o valor da riqueza monetária, especialmente daqueles que tinham muita riqueza acumulada!
O déficit público foi outra besta negra a ser vencida, dada a sua plausível influência no aumento do custo da dívida privada, gerando, portanto, maiores dificuldades para o financiamento das empresas.
A saída que alguns monetaristas, como Milton Friedman, encontraram foi focada no abandono progressivo da teoria keynesiana. Para conter a inflação, nada melhor do que uma boa dose de disciplina fiscal por parte dos Estados e, por consequência, um aumento radical nas taxas de juros, reduzindo a oferta monetária e o desperdício irresponsável dos bancos e governos. A isto se acrescentou uma redução generalizada dos impostos sobre as rendas mais altas, para que esses recursos pudessem ser “investidos” na economia real, com a eficiência que o Estado não conseguia ter. 
De fato, nos Estados Unidos, o processo inflacionário parou no início dos anos 1980, gerando assim uma intensa recessão que mais tarde se transformou em crescimento econômico. Mas, o milagre anti-inflacionário arrasou grande parte da indústria americana, de seus trabalhadores e, é claro, dos sindicatos. A competitividade tornou-se o novo dogma da ortodoxia econômica, estimulando a realocação industrial e a destruição do setor secundário, amparado na liberdade progressiva dos mercados de capitais.
Assim, iniciou um processo de transformação nas estruturas econômicas em nível internacional. O keynesianismo foi enterrado como “incapaz”, regressando as políticas de arrefecimento da intervenção estatal nos ciclos econômicos. O “Consenso de Washington” insistiu na necessidade de liberalizar a economia e avançar na desregulamentação de todos os campos que fossem possíveis, para otimizar os recursos disponíveis. Naquela época, a economia socialista estava desmoronando, acabando em colapso no início dos anos 1990. Alguns intelectuais anunciaram o fim da história, em referência irônica à filosofia marxista.
Depois da Grande Recessão de 2008, e após vários avisos anteriores no início da década de 2000, o modelo econômico liberal voltou a colapsar. Os mercados financeiros globalizados causaram uma crise de dimensões extraordinárias, com efeitos dramáticos em termos de destruição de empregos e disseminação da desigualdade e da pobreza.
Nessa conjuntura, pareceu por um momento que o capitalismo liberal experimentaria um processo de transformação, graças às injeções multimilionárias dos Estados para salvaguardar as instituições financeiras e evitar o colapso completo.
Entretanto, apesar de tudo que vivemos, a disciplina da ortodoxia econômica dominante continuou orientando as políticas públicas, especialmente no que tange a tributação e a redistribuição de rendas.
Quando Barack Obama e Nicolas Sarkozy se reuniram para refundar o capitalismo, para muitos parecia uma boa ideia. Pelo menos os erros cometidos nas últimas décadas foram reconhecidos e pretendia se retornar ao caminho da consistência racional. Nada a ver com a realidade. Após a recuperação, quando a maré do crescimento econômico ascendeu, os barcos não subiram ao mesmo tempo, como defendiam os liberais mais obstinados. Assim, as teorias de vazamento econômico mostraram-se equivocadas no que tange a distribuição progressiva do crescimento econômico sem a intervenção estatal.
Evidências científicas e análises de instituições internacionais (por exemplo, OCDE) indicam que a desigualdade econômica após a Grande Recessão aumentou substancialmente em nível internacional, enquanto continuam impedindo aumentos da carga tributária sobre as rendas mais altas (compreendendo os sempre controversos impostos sobre doações e transferências patrimoniais que, em geral, afetam especialmente os grandes patrimônios).
Para a ciência econômica (a Economics) o sentido da vida econômica não é algo que deva ser questionado: porque cada indivíduo vai cuidar de si e o resultado vai ser o melhor para todo mundo. Isso talvez fosse verossímil em um mundo de três bilhões de pessoas. Mas em um mundo tão desigual e rumando para 10 bilhões de habitantes até 2090, temos que nos perguntar para que se produz e quais são as finalidades da vida econômica. É nesse sentido que muitos pensadores acreditam que precisamos ir além da economia, ou seja, repensar a economia com base nas suas origens, como uma ciência organicamente integrada à questão do bem viver e da ética. E não como uma mecânica dos interesses individuais de cuja interação resultaria, de forma não intencional, não voluntária, maior riqueza e, portanto, supostamente, maior bem-estar.
As discussões propostas hoje, consiste em repensar o mercado, vislumbrar a possibilidade de fazer dele um dos mais importantes instrumentos de transformação social. Mas não se trata absolutamente de suprimi-lo, nem imaginar que é possível ter uma instância exterior ao mercado que o controlasse e que seria o Estado.
CONSIDERAÇOES FINAIS
O que diria Keynes se pudesse analisar a economia mundial de hoje? Depois da crise financeira dos EUA (e no mundo) iniciada em setembro de 2008 com a quebra do Lehmans Brothers. A crise do Euro que assola a Europa, com países como a Espanha com taxa de desemprego de 30%. O impacto negativo da tecnologia sobre a economia mundial, que ocasiona a redução acentuada de postos de trabalho por conta da informatização em tantos ramos da economia.
Que conselho daria às empresas de tecnologia e aos governos? Ele que viveu num período conturbado de crise financeira (depressão de 1929), onde a saída foi um conjunto de medidas chamado "New Deal". 
E sobre a crise atual? Onde, no final de 2019, começaram a chegar notícias preocupantes sobre a propagação de um vírus até então desconhecido na China. Pois, a infecção vem se espalhando de maneira rápida e constante, pois a globalização não apenas integra os mercados financeiros, mas também nos coloca em questão de horas no outro lado do mundo.
Em 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde estabeleceu que o surto de COVID-19 tinha adquirido status de pandemia. O número de mortos em países como Itália ou Espanha alcançaram níveis tragicamente altos, e os contágios se multiplicando por todos os países do mundo, ameaçando o colapso dos serviços públicos de saúde. O impacto social da crise nos países com as piores redes públicas de saúde pode ser catastrófico. O choque econômico e social nos próximos meses parece pavoroso.
Diante dessa situação extraordinária, a intervenção dos governos e a injeção maciça de liquidez nas economias surgem como a única receita possível.
Neste caso, o consenso é amplo entre todos os economistas e representantes institucionais, por mais liberais ortodoxos que sejam, que as políticas do tipo keynesiano serão necessárias para reverter a situação econômica, mas elas não se atrevem a dar um passo adiante, assumindo que as teorias econômicas zumbis aplicadas desde a década de 1980 geraram instabilidade, desigualdade e uma tendência cada vez mais frequente para o surgimento de ciclos econômicos contracionistas, mesmo que a crise atual não corresponda aos elementos tradicionais vinculados ao ciclo econômico.
Esta conjuntura é crítica, e merece a aplicação de medidas extraordinárias, adquirindo inclusive a categoria de “economia de guerra”. São propostas ações como a reestatização de indústrias estratégicas ou a intervençãode centros privados de saúde, para os quais, por outro lado, nos últimos anos se transferiram recursos em detrimento do sistema público de saúde. Muitos dos critérios que amparavam ideologicamente o funcionamento infalível dos mercados e das firmas privadas são novamente questionados ao enfrentar uma grande crise estrutural.
Novamente, o neoliberalismo pode ter ficado sem argumentos teóricos para reverter a situação crítica que se aproxima. Assim como a inflação descontrolada e o déficit público da década de 1970 atingiram o keynesianismo, o COVID-19 pode golpear as teorias econômicas zumbis, notadamente no que se refere a reconhecer que, para assegurar o bem-estar das maiorias, é essencial a intervenção do setor público.
Se o keynesianismo foi suprimido intelectualmente pela inflação, o neoliberalismo poderia sofrer o mesmo destino por causa desse vírus. Aguardamos a construção da história.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. YUEH, Linda.The Great Economists : How Their Ideas Can Help Us Today. London: Penguin Books Ltd, 2019.
2. KRUGMAN, Paul. Contra los zombis: Economía, política y la lucha por un futuro mejor. Editora Grupo Planeta, 2020
3. FIGUEIRÊDO, Lízia de. O papel do Estado para Adam Smith. 1 ed, Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 1997. 30p.
4. ALMEIDA, Paulo Roberto de. A economia internacional no século XX: um ensaio de síntese. https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-73292001000100008#:~:text=Ensaio%20sobre%20as%20grandes%20tend%C3%AAncias,s%C3%A9culo%20XX%20e%20princ%C3%ADpios%20do. Acesso em 18 de setembro de 2020.

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