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Muros de Contenção por Gravidade O exercício a seguir é um guia teórico-prático que visa ilustrar dois conceitos: Aplicação da Teoria de Empuxos de Coulomb; Rotinas de cálculo, dimensionamento e Verificações de Muros de arrimo por gravidade. Exercício 01 Para a situação ilustrada na figura abaixo, projetar o muro de arrimo por gravidade de seção retangular, em concreto ciclópico. Utilizar a Teoria de Coulomb para o cálculo dos Empuxos. Dados: σ adm = 250 kPa # Tensão admissível no solo de fundação (obtida pelo SPT) γc = 24 kN/m³ # Peso específico do Concreto ciclópico 1) Cálculo do Empuxo ativo, pela Teoria de Coulomb Na Teoria de Coulomb são consideradas as seguintes hipóteses: Solo homogêneo e isotrópico; A ruptura ocorre sob o estado plano de deformação, ou seja, a ruptura é tratada como um problema bidimensional; Ao longo da superfície de deslizamento o material se encontra em estado de equilíbrio limite (critério de Mohr-Coulomb), ou seja, o estado de equilíbrio plástico é proveniente do peso de uma cunha de terra; Forças de atrito são uniformemente distribuídas ao longo da superfície de ruptura junto ao paramento do muro (atrito solo-muro); Considera-se o atrito entre o solo e o muro (δ) Utilizada para Solos não-coesivos. Para o problema proposto temos os seguintes valores: φ = 25º β = 0º α = 90º 1.1) Cálculo do ângulo de atrito solo-muro Primeiramente calcula-se o ângulo de atrito solo-muro (δ), através da seguinte expressão proposta por Muller Breslau. 1.2) Cálculo do coeficiente de Empuxo ativo (Ka) O empuxo ativo é então calculado através da seguinte expressão: 1.3) Cálculo das tensões horizontais (σh) Primeiramente calculam-se as tensões verticais efetivas (σ′𝑣), dadas pelo peso do solo, nos Pontos de interesse, através da seguinte expressão: σ′𝑣 =σ𝑣𝑇−𝑢 Onde, σ𝑣𝑇 é a tensão vertical total e 𝑢 é a poropressão. Em seguida calculam-se as tensões horizontais, dadas pelo peso do solo (σℎγ), coesão (σℎ𝑐), sobrecarga (σℎ𝑞) e poropressão (σℎ𝑤), nos pontos de interesse, através das seguintes expressões: Onde, γw = 10kn/m³, e H = Altura da coluna de água, Kw = 1. Então, calculam-se as tensões horizontais totais, através da seguinte expressão: σh Total = σℎγ + σℎ𝑐 + σℎ𝑞 + σℎ𝑤 Para o ponto A: Para o ponto B: Com os valores obtidos, montamos a tabela e o gráfico: Ponto Ka σv' σhγ σhq σhc σhw σh Total A 0,558 0,00 0,00 16,74 0,00 0,00 16,74 B 0,558 80,00 44,64 16,74 0,00 0,00 61,38 *kPa 1.4) Cálculo do Empuxo ativo (Ea) e Ponto de aplicação (y) Primeiramente dividimos o gráfico em figuras geometricamente fáceis de calcular. A soma das áreas das figuras representa o valor do Empuxo ativo Total (Ea). Em seguida, calculamos as distâncias dos baricentros das figuras em relação à Base (Ponto B). Conforme figura abaixo: Figura Área (kN) d (m) A1 66,96 2,00 A2 89,28 1,33 Ea = A1+A2 = 66,96+89,28 = 156,24 kN Para o cálculo do ponto de aplicação, aplica-se a igualdade entre a soma do produto entre as áreas das figuras e seus baricentros e o Empuxo ativo (Ea) multiplicado pelo ponto de aplicação da Resultante (y). Dessa forma: 2) Dimensionamento Inicial do Muro de Gravidade 2.1) Modelagem inicial A primeira rotina para o dimensionamento/modelagem de um muro é estimar algumas dimensões iniciais. Na figura abaixo seguem recomendações de duas bibliografias diferentes: Como nosso muro deve ser Retangular (imposição do exercício), iremos estimar apenas a base: B = 0,5 H = 0,5 x 4 = 2 metros. Sendo assim, teremos um muro com 4 metros de altura e 2 metros de base, constituído de concreto ciclópico. 2.2) Cálculo do Peso do Muro (Wm) e do Ponto de aplicação (dm) Uma vez que o Empuxo ativo é a Ação Prejudicial ao nosso Muro, o Peso do muro é a ação favorável, calculado através da seguinte expressão: O Ponto de aplicação, para um muro retangular, simétrico é dado por: 2.3) Verificações Definidas as forças do Sistema, teremos a configuração apresentada na figura abaixo, que necessita ser verificada quanto ao Tombamento, Deslizamento e Tensões excessivas na Base. As verificações são feitas comparando-se os FS’s obtidos com aqueles preconizados pela NBR 11682, conforme figura abaixo: 2.3.1) Estabilidade ao Tombamento O fator de segurança ao tombamento (FST), definido na NBR 11682, deverá ser Maior ou igual a 2, e é calculado através do somatório dos Momentos no Fulcro do Muro (ponto C), pela seguinte expressão: Ao realizar a verificação ao Tombamento, o fator de segurança ficou extremamente abaixo do mínimo, ou seja, a estrutura Tombaria. Neste caso, aumenta-se a largura da Base, aumentando o Peso do Muro, e faz-se nova verificação. Repare que, caso nosso muro estivesse enterrado (D>0), teríamos empuxo passivo (EP) auxiliando o sistema de equilíbrio. Entretanto, embora tenhamos EP, o mesmo não deve ser considerado nas verificações de muros de gravidade, pois admite-se que um dia aquele solo que estaria produzindo o EP poderá ser escavado. Como citado na Apostila do professor Adriano V.D. Bica., da UFRGS: Vamos verificar o muro para as demais situações a titulo teórico e em seguida faremos o dimensionamento correto. 2.3.2) Estabilidade ao Deslizamento O fator de segurança ao deslizamento (FSD), definido na NBR 11682, deverá ser Maior ou igual a 1,5. Primeiramente devemos calcular o ângulo de atrito entre a Base do Muro e o Solo de fundação (φf). Como citado na Apostila do professor Adriano V.D. Bica., da UFRGS: Então, o ângulo de atrito entre a Base e o solo de fundação é função do ângulo de atrito interno do solo de fundação, com um redutor dado entre 0,67 e 1. Para nosso exercício consideraremos φf = 1. φ’ = 1.25 = 25º O Fator de segurança ao deslizamento (FSD) é então calculado pela seguinte expressão: Ao realizar a verificação ao deslizamento, o fator de segurança ficou extremamente abaixo do mínimo, ou seja, a estrutura Deslizaria. Neste caso, aumenta-se a largura da Base, aumentando o Peso do Muro, e faz-se nova verificação. Vamos verificar o muro para as demais situações a titulo teórico e em seguida faremos o dimensionamento correto. 2.3.3) Tensões excessivas na Base A tensão admissível em fundações diretas é a tensão aplicada pelo elemento de fundação ao solo que oferece a segurança adequada contra a ruptura. Para a avaliação da segurança contra tensões excessivas na fundação de um muro de arrimo, admite-se que o solo seja submetido a uma distribuição de tensões verticais não-uniforme. Esta distribuição é causada pela resultante das forças verticais Rv que está situada a uma distância dm do fulcro do muro (Ponto C), e também pelo momento em relação à base causado pela resultante das forças horizontais M = Rh y . Pode-se calcular a excentricidade gerada por esse sistema de equilíbrio (e), e a partir desta, a distribuição de tensões, deslocando Rv de uma distância d1. Através das seguintes Equações: Para que as equações das tensões sejam válidas, Rv deverá estar localizada no terço médio da fundação, isto é, deve ser atendida a condição e < Base/6. Sendo assim, não faz sentido prosseguir com as demais verificações uma vez que as equações perderam sua validade. Dito isto, iremos começar do início o dimensionamento do Muro, aumentando sua base e refazendo as verificações. 3) Dimensionamento Final do Muro de Gravidade 3.1) Modelagem Final Utilizando Base = 2 verificamos que a estrutura ficou Instável, dessa forma, iremos aumentar sua Base. Através de simulações, previamente verificou-se os resultados, e para entendimento do problema aumentaremos a base para B = 5,3 metros.Sendo assim, teremos um muro com 4 metros de altura e 5,3 metros de base, constituído de concreto ciclópico. 3.2) Cálculo do Peso do Muro (Wm) e do Ponto de aplicação (dm) Uma vez que o Empuxo ativo é a Ação Prejudicial ao nosso Muro, o Peso do muro é a ação favorável, calculado através da seguinte expressão: O Ponto de aplicação, para um muro retangular, simétrico é dado por: 3.3) Verificações Definidas as forças do Sistema, teremos a configuração apresentada na figura abaixo, que necessita ser verificada quanto ao Tombamento, Deslizamento e Tensões excessivas na Base. As verificações são feitas comparando-se os FS’s obtidos com aqueles preconizados pela NBR 11682, conforme figura abaixo: 3.3.1) Estabilidade ao Tombamento O fator de segurança ao tombamento (FST), definido na NBR 11682, deverá ser Maior ou igual a 2, e é calculado através do somatório dos Momentos no Fulcro do Muro (ponto C), pela seguinte expressão: Ao realizar a verificação ao Tombamento, o fator de segurança ficou bastante superior ao mínimo, ou seja, a estrutura está estável, embora não econômica. 3.3.2) Estabilidade ao Deslizamento O fator de segurança ao deslizamento (FSD), definido na NBR 11682, deverá ser Maior ou igual a 1,5. Primeiramente devemos calcular o ângulo de atrito entre a Base do Muro e o Solo de fundação (φf). Como citado na Apostila do professor Adriano V.D. Bica., da UFRGS: Então, o ângulo de atrito entre a Base e o solo de fundação é função do ângulo de atrito interno do solo de fundação, com um redutor dado entre 0,67 e 1. Para nosso exercício consideraremos φf = 1. φ’ = 1.25 = 25º O Fator de segurança ao deslizamento (FSD) é então calculado pela seguinte expressão: Ao realizar a verificação ao deslizamento, o fator de segurança ficou um pouco superior ao mínimo, ou seja, a estrutura está estável. É importante reparar que este foi o FS limitante para esta estrutura. Em outras palavras, se o muro tivesse largura um pouco inferior aos 5,3 metros adotados, todos os outros FS’s estariam “Ok”, exceto FSD. Isso se deve ao fato de que o atrito “solo- muro” é baixo em relação à magnitude das cargas horizontais. Se o solo da Base tivesse um ângulo de atrito (φ’) maior, esta situação seria menos inconveniente. 3.3.3) Tensões excessivas na Base A tensão admissível em fundações diretas é a tensão aplicada pelo elemento de fundação ao solo que oferece a segurança adequada contra a ruptura. Para a avaliação da segurança contra tensões excessivas na fundação de um muro de arrimo, admite-se que o solo seja submetido a uma distribuição de tensões verticais não-uniforme. Esta distribuição é causada pela resultante das forças verticais Rv que está situada a uma distância dm do fulcro do muro (Ponto C), e também pelo momento em relação à base causado pela resultante das forças horizontais M = Rh y . Pode-se calcular a excentricidade gerada por esse sistema de equilíbrio (e), e a partir desta, a distribuição de tensões, deslocando Rv de uma distância d1. Através das seguintes Equações: Para que as equações das tensões sejam válidas, Rv deverá estar localizada no terço médio da fundação, isto é, deve ser atendida a condição e < Base/6. Em seguida, calculam-se as tensões na Base, considerando à excentricidade, através das seguintes expressões: Teremos então a seguinte distribuição de tensões: De posse dessas informações, as verificações finais devem ser feitas: A tensão Máxima ficou menor que a tensão admissível, não haverá ruptura! A tensão Máxima não ultrapassou o coeficiente de segurança (1,3) para fundações, é segura! A média das tensões não ultrapassou a tensão admissível, não haverá ruptura! A tensão mínima ficou maior que zero, não haverá tração! 4) Comentários Finais Através desse guia teórico-prático, verificou-se todas as etapas de dimensionamento de um muro de arrimo por gravidade. Primeiramente foi demonstrado um dimensionamento que levou ao tombamento e ao deslizamento. Em seguida, alargando-se a Base, foi demonstrado um dimensionamento seguro, com critério limitante em FSD (deslizamento), e antieconômico. Por que isso ocorreu? Qual a solução na prática? Para o caso apontado algumas alternativas poderiam ser avaliadas: 1) Substituir o Muro de Gravidade por uma cortina, de forma que o Empuxo Passivo estaria então atuando; 2) Trocar o material do muro (concreto ciclópico) por outro com maior peso específico; 3) Aprofundar o muro a fim de encontrar um solo com ângulo de atrito maior na base da fundação; Diversas são as possibilidades e cada caso é um caso.
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