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PACOTE ANTICRIME E-BOOK PARTE I CÓDIGO PENAL E CÓDIGO DE PROCESSO PENAL AUTOR: FELIPE VIEITES NOVAES Site: www.felipenovaes.com.br Instagram: @professorfelipenovaes Pacote Anticrime – Lei 13964/2019 – alterações no Código Penal e no Código de Processo Penal comentadas pelo professor Felipe Vieites Novaes. AUTOR: FELIPE VIEITES NOVAES Site: www.felipenovaes.com.br 2 Parte 1 – Modificações introduzidas no Código Penal: 1- Previsão específica de legítima defesa em caso de reféns: Comparação dos Dispositivos: Dispositivo atual: Novo Dispositivo: Legítima defesa Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) “Art. 25. .. ........................................................................ Parágrafo único. Observados os requisitos previstos no caput deste artigo, considera-se também em legítima defesa o agente de segurança pública que repele agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém durante a prática de crimes.” (NR) Comentários: o novo texto especifica situação de legítima defesa nos casos de crimes com reféns, quando há agressão atual ou iminente (risco de) contra a vítimas na condição de reféns. O novo dispositivo faz menção aos requisitos do caput, que continuam sendo o uso de meios necessários e a moderação na legítima defesa, a necessidade de agressão injusta (ilícita), apenas especificando o tipo de agressão. Portanto não houve ampliação da incidência da legítima defesa, apenas a ratificação da excludente nesta hipótese, uma vez que se refere aos requisitos do caput, que continuam sendo os mesmos. 2 - execução da pena de multa no juízo de execução penal. Comparação dos Dispositivos: Dispositivo atual: Novo Dispositivo: Art. 51 - Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será considerada dívida de valor, aplicando- se-lhes as normas da legislação relativa à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e suspensivas da prescrição. “Art. 51. Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será executada perante o juiz da execução penal e será considerada dívida de valor, aplicáveis as normas relativas à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e suspensivas da prescrição. Pacote Anticrime – Lei 13964/2019 – alterações no Código Penal e no Código de Processo Penal comentadas pelo professor Felipe Vieites Novaes. AUTOR: FELIPE VIEITES NOVAES Site: www.felipenovaes.com.br 3 ........................................................................ ......................... (NR) Comentários: desde a Constituição de 1988, que proibiu a prisão por dívida, surgiu o entendimento de que a pena de multa não podia mais ser convertida em prisão, passando a ser executado como outras dívidas. Em 1996 a Lei 9268/96 alterou o art. 51 do CP, passando a prever a execução das penas de multa como dívida de valor, com base na legislação fiscal. A partir dessa alteração passou a prevalecer a posição doutrinária de que a competência para a execução era do Juízo de Fazenda Pública e não juízo da execução penal, bem como a atribuição para promover a execução é da Procuradoria da Fazenda e não do MP, entendimento consolidado na Súmula 521 do STJ. Recentemente, O STF, se manifestou em sentido contrário devolvendo a competência para o juízo de execução penal e a atribuição para o Ministério Público, mas afirmou que a Procuradoria da Fazenda poderia subsidiariamente, quando inerte o Ministério Público em atuação na execução penal, promover a execução no Juízo de Fazenda Pública. O novo texto legal segue a orientação do Supremo Tribunal Federal, obviamente a atribuição para a execução volta para o Ministério Público e a competência do Juízo da Execução penal. Como se trata de competência agora fixada expressamente em lei, a possibilidade subsidiária fixada na decisão do STF não pode mais ser aplicada. Trata-se de regra processual penal, regida pelo princípio da aplicação imediata, devendo ser aplicada aos processos em curso com o declínio da competência e envio dos autos para a vara de execução penal. 3- limite máximo de execução de pena privativa de liberdade passa para 40 anos. Comparação dos Dispositivos: Dispositivo atual: Novo Dispositivo: Art. 75 - O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 30 (trinta) anos. § 1º - Quando o agente for condenado a penas privativas de liberdade cuja soma seja superior a 30 (trinta) anos, devem elas ser unificadas para atender ao limite máximo deste artigo. § 2º - Sobrevindo condenação por fato posterior ao início do cumprimento da pena, far-se-á nova unificação, desprezando-se, para esse fim, o período de pena já cumprido. “Art. 75. O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 40 (quarenta) anos. § 1º Quando o agente for condenado a penas privativas de liberdade cuja soma seja superior a 40 (quarenta) anos, devem elas ser unificadas para atender ao limite máximo deste artigo. ....................................................... ....................... (NR) Pacote Anticrime – Lei 13964/2019 – alterações no Código Penal e no Código de Processo Penal comentadas pelo professor Felipe Vieites Novaes. AUTOR: FELIPE VIEITES NOVAES Site: www.felipenovaes.com.br 4 Comentários: altera o limite máximo de execução da pena privativa de liberdade de 30 anos para 40 anos, a mesma alteração é feita no §1º. O §2º foi mantido, prevendo a nova unificação com desprezo do tempo já cumprido nos casos de crimes praticados após a unificação inicial. Aumenta, assim, o tempo que alguém pode ficar encarcerado, o que a longo prazo pode agravar o problema de superlotação carcerária. Trata-se de novatio legis in pejus, portanto irretroativa, somente aplicável aos crimes praticados a partir da entra em vigor da lei. 4 - detalhamento dos requisitos subjetivos do livramento condicional. Comparação dos Dispositivos: Dispositivo atual: Novo Dispositivo: Art. 83 - O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a pena privativa de liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que: I - cumprida mais de um terço da pena se o condenado não for reincidente em crime doloso e tiver bons antecedentes; II - cumprida mais da metade se o condenado for reincidente em crime doloso; III - comprovado comportamento satisfatório durante a execução da pena, bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído e aptidão para prover à própria subsistência mediante trabalho honesto; IV - tenha reparado, salvo efetiva impossibilidade de fazê-lo, o dano causado pela infração; V - cumpridos mais de dois terços da pena, nos casos de condenação por crime hediondo, prática de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, tráfico de pessoas e terrorismo, se o apenado não for reincidente específico em crimes dessa natureza. Parágrafo único - Para o condenado por crime doloso, cometido com violência ou grave ameaça à pessoa, a concessão do livramento ficará também subordinada à constatação de condições pessoais que façam presumir que o liberado não voltará a delinquir. “Art. 83. . ........................................................... ....... III - comprovado: a) bom comportamento durante a execução da pena; b) não cometimento de falta grave nos últimos 12 (doze) meses; c) bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído; e d) aptidão para prover a própria subsistência mediante trabalho honesto; Pacote Anticrime – Lei 13964/2019 – alterações no Código Penal e no Código deProcesso Penal comentadas pelo professor Felipe Vieites Novaes. AUTOR: FELIPE VIEITES NOVAES Site: www.felipenovaes.com.br 5 Comentários: o art. 83, III, anterior a mudança, exigia que o agente comprovasse comportamento satisfatório durante a execução da pena, bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído e aptidão para prover à própria subsistência mediante trabalho honesto, para fins de obtenção do livramento condicional. A redação do inciso III, foi alterada com a finalidade de incluir uma restrição a concessão do livramento para aqueles que tenham cometido de falta grave nos últimos 12 (doze) meses. Não se trata de causa interruptiva do prazo para o livramento, mas sim de um requisito para deferi-lo, o prazo continua contando normalmente, sendo mantido o entendimento trazido pela Súmula 441 do STJ. 5- mudança na forma de bens obtidos ilicitamente como consequência da condenação. Comparação dos Dispositivos: Dispositivo atual: Novo Dispositivo: OBS: NÃO HAVIA O ART. 91-A Art. 91-A. Na hipótese de condenação por infrações às quais a lei comine pena máxima superior a 6 (seis) anos de reclusão, poderá ser decretada a perda, como produto ou proveito do crime, dos bens correspondentes à diferença entre o valor do patrimônio do condenado e aquele que seja compatível com o seu rendimento lícito. § 1º Para efeito da perda prevista no caput deste artigo, entende-se por patrimônio do condenado todos os bens: I - de sua titularidade, ou em relação aos quais ele tenha o domínio e o benefício direto ou indireto, na data da infração penal ou recebidos posteriormente; e II - transferidos a terceiros a título gratuito ou mediante contraprestação irrisória, a partir do início da atividade criminal. § 2º O condenado poderá demonstrar a inexistência da incompatibilidade ou a procedência lícita do patrimônio. § 3º A perda prevista neste artigo deverá ser requerida expressamente pelo Ministério Público, por ocasião do oferecimento da denúncia, com indicação da diferença apurada. Pacote Anticrime – Lei 13964/2019 – alterações no Código Penal e no Código de Processo Penal comentadas pelo professor Felipe Vieites Novaes. AUTOR: FELIPE VIEITES NOVAES Site: www.felipenovaes.com.br 6 § 4º Na sentença condenatória, o juiz deve declarar o valor da diferença apurada e especificar os bens cuja perda for decretada. § 5º Os instrumentos utilizados para a prática de crimes por organizações criminosas e milícias deverão ser declarados perdidos em favor da União ou do Estado, dependendo da Justiça onde tramita a ação penal, ainda que não ponham em perigo a segurança das pessoas, a moral ou a ordem pública, nem ofereçam sério risco de ser utilizados para o cometimento de novos crimes.” Comentários: O art. 91, do CP, ao prever consequências extrapenais da condenação, já previa a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé: a) dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito; b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a prática do fato criminoso. O novo dispositivo prevê a possibilidade de decretar perda de bens do condenado, por crimes a que a lei comine pena máxima superior a 6 (seis) anos de reclusão, quando demonstrada a incompatibilidade entre o patrimônio real e os rendimentos comprovados por ele. A perda prevista neste artigo deverá ser requerida expressamente pelo Ministério Público, por ocasião do oferecimento da denúncia, com indicação da diferença apurada. O condenado poderá demonstrar a inexistência da incompatibilidade ou a procedência lícita do patrimônio, o que representa uma detestável inversão do ônus da prova, incompatível com a lógica acusatória constitucional. 6 - novas causas suspensivas da prescrição. Comparação dos Dispositivos: Dispositivo atual: Novo Dispositivo: Causas impeditivas da prescrição Art. 116 - Antes de passar em julgado a sentença final, a prescrição não corre: I - enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que Art. 116. .. ................................................................... ..................... .................................................... Pacote Anticrime – Lei 13964/2019 – alterações no Código Penal e no Código de Processo Penal comentadas pelo professor Felipe Vieites Novaes. AUTOR: FELIPE VIEITES NOVAES Site: www.felipenovaes.com.br 7 dependa o reconhecimento da existência do crime; II - enquanto o agente cumpre pena no estrangeiro. Parágrafo único - Depois de passada em julgado a sentença condenatória, a prescrição não corre durante o tempo em que o condenado está preso por outro motivo. II - enquanto o agente cumpre pena no exterior; III - na pendência de embargos de declaração ou de recursos aos Tribunais Superiores, quando inadmissíveis; e IV - enquanto não cumprido ou não rescindido o acordo de não persecução penal. ..................................... .......................................” (NR) Comentários: A grande quantidade de recursos para os tribunais superiores e a prescrição são consideradas como duas das principais causas de impunidade, tanto pela mídia em geral, quanto por alguns juristas, nesse sentido o pacote anticrime, amplia as causas suspensivas da prescrição para tentar evitar a extinção da punibilidade em determinadas situações, as novas causas suspensivas são: enquanto o agente cumpre pena no exterior; na pendência de embargos de declaração ou de recursos aos Tribunais Superiores, quando inadmissíveis; e enquanto não cumprido ou não rescindido o acordo de não persecução penal. O destaque é a suspensão da prescrição na pendência de embargos de declaração ou de recursos aos Tribunais Superiores, quando inadmissíveis, ou seja, se ao final for decidido que o recurso ou embargo não era cabível, que deveria ter sido inadmitido, todo o tempo que levou para ser julgado, será descontado do prazo prescricional. 7 - volta do aumento de pena no roubo com arma branca. Comparação dos Dispositivos: Dispositivo atual: Novo Dispositivo: Roubo Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. Art. 157. ................................................................................ ........ ................................................................................ ........................ Pacote Anticrime – Lei 13964/2019 – alterações no Código Penal e no Código de Processo Penal comentadas pelo professor Felipe Vieites Novaes. AUTOR: FELIPE VIEITES NOVAES Site: www.felipenovaes.com.br 8 § 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro. § 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade: I – (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.654, de 2018) II - se há o concurso de duas ou mais pessoas; III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância. IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior; V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade. VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego. § 2º-A A penaaumenta-se de 2/3 (dois terços): (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018) I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo; (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018) II – se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum. (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018) § 3º Se da violência resulta: (Redação dada pela Lei nº 13.654, de 2018) I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete) a 18 (dezoito) anos, e § 2º. ................................................................................ ........ ................................................................................ ......................... VII - se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma branca; ................................................................................ . § 2º-B. Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido, aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo. .................................................................... ........................ ”(NR) Pacote Anticrime – Lei 13964/2019 – alterações no Código Penal e no Código de Processo Penal comentadas pelo professor Felipe Vieites Novaes. AUTOR: FELIPE VIEITES NOVAES Site: www.felipenovaes.com.br 9 multa; (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018) II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, e multa. Comentários: O art. 157, §2º, I, previa como causa de aumento de pena do crime de roubo o emprego de arma como meio de realizar a grave ameaça e a violência, determinando o aumento de 1/3 até a ½ da pena. A palavra arma era entendida de forma ampla como qualquer objeto que tivesse poder lesivo real, incluindo armas de fogo, armas brancas e armas impróprias (objetos que não são armas, mas tem poder lesivo). Com a alteração realizada pela lei 13.654, de 2018 tal dispositivo foi revogado, sendo criado o §2º - A, inciso I, que passou a prever uma causa de aumento de pena mais severa, no patamar de 2/3, para quando o roubo fosse praticado com arma de fogo, nada dispondo sobre a arma branca e sobre a arma imprópria, que deixaram de aumentar a pena do crime, representando modificação benéfica que retroagiu para todos os casos anteriores a citada lei. O pacote anticrime altera mais uma vez esse contexto, primeiro reintroduzindo o aumento de pena da arma branca, no art. 157, §2º, VII, nos patamares de 1/3 a ½, o que acarreta novatio legis in pejus, irretroativa. Segundo, inclui o §2º B, prevendo uma causa de aumento de pena ainda maior para os casos de uso de arma de fogo de uso restrito ou proibido, quando o aumento passa a ser de dobro da pena. Assim, temos resumidamente a seguinte situação: - arma branca volta a aumentar a pena em 1/3 a 1/2, a partir do dia 23/01/2020 com a entrada em vigor do pacote, não pode retroagir. - arma de fogo de uso permitido aumenta a pena de 1/3 a 1/2 para os crimes praticados até a lei 13.654, de 2018; depois passa a aumentar a pena em 2/3. - arma de fogo de uso restrito ou proibido, aumentava a pena entre 1/3 e 1/2 até a lei 13.654, de 2018, quando passou a aumentar em 2/3 até a entra em vigor do pacote anticrime, que elevou o aumento para o dobro. Quanto a arma imprópria, objetos que tem poder lesivo, mas não possuem natureza de arma, como facas de cozinha, tacos de baseball, garrafas de vidro, entre outros, não há previsão do aumento de pena, desde a lei 13.654, de 2018, devendo retroagir em benefícios de todos. 8 - ação penal condicionada a representação no estelionato. Comparação dos Dispositivos: Dispositivo atual: Novo Dispositivo: Pacote Anticrime – Lei 13964/2019 – alterações no Código Penal e no Código de Processo Penal comentadas pelo professor Felipe Vieites Novaes. AUTOR: FELIPE VIEITES NOVAES Site: www.felipenovaes.com.br 10 Estelionato Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa § 1º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o prejuízo, o juiz pode aplicar a pena conforme o disposto no art. 155, § 2º. § 2º - Nas mesmas penas incorre quem: Disposição de coisa alheia como própria I - vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou em garantia coisa alheia como própria; Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria II - vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia coisa própria inalienável, gravada de ônus ou litigiosa, ou imóvel que prometeu vender a terceiro, mediante pagamento em prestações, silenciando sobre qualquer dessas circunstâncias; Defraudação de penhor III - defrauda, mediante alienação não consentida pelo credor ou por outro modo, a garantia pignoratícia, quando tem a posse do objeto empenhado; Fraude na entrega de coisa IV - defrauda substância, qualidade ou quantidade de coisa que deve entregar a alguém; Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro V - destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou agrava as conseqüências da lesão ou doença, com o intuito de haver indenização ou valor de seguro; Fraude no pagamento por meio de cheque Art. 171. ...................................................... ................................ ................................................... ................................................... .. § 5º Somente se procede mediante representação, salvo se a vítima for: I - a Administração Pública, direta ou indireta; II - criança ou adolescente; III - pessoa com deficiência mental; ou IV - maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz.” (NR) Pacote Anticrime – Lei 13964/2019 – alterações no Código Penal e no Código de Processo Penal comentadas pelo professor Felipe Vieites Novaes. AUTOR: FELIPE VIEITES NOVAES Site: www.felipenovaes.com.br 11 VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe frustra o pagamento. § 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em detrimento de entidade de direito público ou de instituto de economia popular, assistência social ou beneficência. Estelionato contra idoso § 4o Aplica-se a pena em dobro se o crime for cometido contra idoso. Comentários: O crime de estelionato sempre foi crime de ação penal pública incondicionada, como são, em regra, os crimes patrimoniais. O pacote anticrime passa a exigir representação da vítima nos casos de estelionato, transformando a ação penal em pública condicionada a representação do ofendido, com exceção das hipóteses previstas nos incisos do §5º, incluído pela lei, quando a vítima for: a Administração Pública, direta ou indireta; criança ou adolescente; pessoa com deficiência mental; ou maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz. Nestas situações a ação penal continuará sendo incondicionada. O ponto relevante é discutir se a necessidade de representação atinge os crimes anteriores, seguindo a regra de retroatividade benéfica do direto penal, ou segue as regras de direito processual penal no tempo, sendo aplicada apenas a partir de agora. Entendo que a resposta pode ser obtida relembrando o que aconteceu com os crimes de lesão corporal leve e de lesão corporal culposa quando da entrada em vigor da lei 9099/95, que no art. 88 previu a necessidade de representação para a ação penal desses crimes, até então incondicionada. O legislador criou, na época, uma norma de transição,no art. 91 da referida lei, determinando que nos inquéritos ou processos em curso, onde não havia representação da vítima, ela fosse intimada para representar no prazo de 1 mês, sob pena de decadência. A mesma solução deve ser adotada no caso do estelionato, aplicando-se por analogia o art. 91 da lei 9099/95. É possível fazer um crítica ao novo comando legislativo, nas hipóteses de grandes estelionatários que praticam crimes contra centenas de pessoas, por meios tecnológicos, quando muitas vezes as investigações policiais apontam o autor dos crimes e o modo como age, mas nenhuma vítima é identificada ou procura a autoridade policial, nessas hipóteses não será mais possível promover a persecução penal. 9 - aumento da pena da concussão. Comparação dos Dispositivos: Dispositivo atual: Novo Dispositivo: Concussão Art. 316. ......................................................................................... Pacote Anticrime – Lei 13964/2019 – alterações no Código Penal e no Código de Processo Penal comentadas pelo professor Felipe Vieites Novaes. AUTOR: FELIPE VIEITES NOVAES Site: www.felipenovaes.com.br 12 Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida: Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.” (NR) Comentários: O crime de concussão, art. 316 do CP, é evidentemente mais grave do que o crime de corrupção passiva, art. 317, do CP, uma vez que a conduta exigir denota uma espécie de coação por parte do autor do crime, enquanto no crime de corrupção o agente apenas solicita, recebe ou aceita a promessa, condutas com um grau de reprovabilidade menor, por não terem em seu bojo uma coação. Ainda assim, uma modificação legislativa realizada em 2003, alterou a pena da corrupção passiva que passou a ser mais alta do que a pena da concussão, demonstrando falta de proporcionalidade entre os crimes. O pacote anticrime aumenta a pena do crime de concussão, com a finalidade de reestabelecer o equilíbrio entre as duas infrações penais. Obviamente, trata-se de novatio legis in pejus, que não pode retroagir a fatos anteriores. Pacote Anticrime – Lei 13964/2019 – alterações no Código Penal e no Código de Processo Penal comentadas pelo professor Felipe Vieites Novaes. AUTOR: FELIPE VIEITES NOVAES Site: www.felipenovaes.com.br 13 Parte 2 – Modificações introduzidas no Código de Processo Penal: 1 - criação do “juiz de garantias” sem atribuições de investigação, mas com competência de controle de legalidade da atividade de investigação. Comparação dos Dispositivos: Dispositivo atual: Novo Dispositivo: NÃO HAVIA DISPOSITVO ANTERIOR. Juiz das Garantias ‘Art. 3º-A. O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do juiz na fase de investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de acusação.’ ‘Art. 3º-B. O juiz das garantias é responsável pelo controle da legalidade da investigação criminal e pela salvaguarda dos direitos individuais cuja franquia tenha sido reservada à autorização prévia do Poder Judiciário, competindo-lhe especialmente: I - receber a comunicação imediata da prisão, nos termos do inciso LXII do caput do art. 5º da Constituição Federal; II - receber o auto da prisão em flagrante para o controle da legalidade da prisão, observado o disposto no art. 310 deste Código; III - zelar pela observância dos direitos do preso, podendo determinar que este seja conduzido à sua presença, a qualquer tempo; IV - ser informado sobre a instauração de qualquer investigação criminal; V - decidir sobre o requerimento de prisão provisória ou outra medida cautelar, observado o disposto no § 1º deste artigo; VI - prorrogar a prisão provisória ou outra medida cautelar, bem como substituí-las ou revogá-las, assegurado, no primeiro caso, o Pacote Anticrime – Lei 13964/2019 – alterações no Código Penal e no Código de Processo Penal comentadas pelo professor Felipe Vieites Novaes. AUTOR: FELIPE VIEITES NOVAES Site: www.felipenovaes.com.br 14 exercício do contraditório em audiência pública e oral, na forma do disposto neste Código ou em legislação especial pertinente; VII - decidir sobre o requerimento de produção antecipada de provas consideradas urgentes e não repetíveis, assegurados o contraditório e a ampla defesa em audiência pública e oral; VIII - prorrogar o prazo de duração do inquérito, estando o investigado preso, em vista das razões apresentadas pela autoridade policial e observado o disposto no § 2º deste artigo; IX - determinar o trancamento do inquérito policial quando não houver fundamento razoável para sua instauração ou prosseguimento; X - requisitar documentos, laudos e informações ao delegado de polícia sobre o andamento da investigação; XI - decidir sobre os requerimentos de: a) interceptação telefônica, do fluxo de comunicações em sistemas de informática e telemática ou de outras formas de comunicação; b) afastamento dos sigilos fiscal, bancário, de dados e telefônico; c) busca e apreensão domiciliar; d) acesso a informações sigilosas; e) outros meios de obtenção da prova que restrinjam direitos fundamentais do investigado; XII - julgar o habeas corpus impetrado antes do oferecimento da denúncia; XIII - determinar a instauração de incidente de insanidade mental; XIV - decidir sobre o recebimento da denúncia ou queixa, nos termos do art. 399 deste Código; XV - assegurar prontamente, quando se fizer necessário, o direito outorgado ao investigado e ao seu defensor de acesso a todos os elementos informativos e provas produzidos no âmbito da investigação criminal, salvo no que concerne, estritamente, às diligências em andamento; XVI - deferir pedido de admissão de assistente técnico para acompanhar a produção da perícia; Pacote Anticrime – Lei 13964/2019 – alterações no Código Penal e no Código de Processo Penal comentadas pelo professor Felipe Vieites Novaes. AUTOR: FELIPE VIEITES NOVAES Site: www.felipenovaes.com.br 15 XVII - decidir sobre a homologação de acordo de não persecução penal ou os de colaboração premiada, quando formalizados durante a investigação; XVIII - outras matérias inerentes às atribuições definidas no caput deste artigo. § 1º (VETADO). § 2º Se o investigado estiver preso, o juiz das garantias poderá, mediante representação da autoridade policial e ouvido o Ministério Público, prorrogar, uma única vez, a duração do inquérito por até 15 (quinze) dias, após o que, se ainda assim a investigação não for concluída, a prisão será imediatamente relaxada.’ ‘Art. 3º-C. A competência do juiz das garantias abrange todas as infrações penais, exceto as de menor potencial ofensivo, e cessa com o recebimento da denúncia ou queixa na forma do art. 399 deste Código. § 1º Recebida a denúncia ou queixa, as questões pendentes serão decididas pelo juiz da instrução e julgamento. § 2º As decisões proferidas pelo juiz das garantias não vinculam o juiz da instrução e julgamento, que, após o recebimento da denúncia ou queixa, deverá reexaminar a necessidade das medidas cautelares em curso, no prazo máximo de 10 (dez) dias. § 3º Os autos que compõem as matérias de competência do juiz das garantias ficarão acautelados na secretaria desse juízo, à disposição do Ministério Público e da defesa, e não serão apensados aos autos do processo enviados ao juiz da instrução e julgamento, ressalvados os documentos relativos às provas irrepetíveis, medidas de obtenção de provas ou de antecipação de provas, que deverão ser remetidos para apensamento em apartado. § 4º Fica assegurado às partes o amplo acesso aos autos acautelados na secretaria do juízo das garantias.’ ‘Art. 3º-D. O juiz que, na fasede investigação, praticar qualquer ato incluído nas competências dos arts. 4º e 5º deste Código ficará impedido de funcionar no processo. Parágrafo único. Nas comarcas em que funcionar apenas um juiz, os tribunais criarão um sistema de rodízio de magistrados, a fim de atender às disposições deste Capítulo.’ ‘Art. 3º-E. O juiz das garantias será designado conforme as normas de organização judiciária da União, dos Estados e do Distrito Federal, Pacote Anticrime – Lei 13964/2019 – alterações no Código Penal e no Código de Processo Penal comentadas pelo professor Felipe Vieites Novaes. AUTOR: FELIPE VIEITES NOVAES Site: www.felipenovaes.com.br 16 observando critérios objetivos a serem periodicamente divulgados pelo respectivo tribunal.’ ‘Art. 3º-F. O juiz das garantias deverá assegurar o cumprimento das regras para o tratamento dos presos, impedindo o acordo ou ajuste de qualquer autoridade com órgãos da imprensa para explorar a imagem da pessoa submetida à prisão, sob pena de responsabilidade civil, administrativa e penal. Parágrafo único. Por meio de regulamento, as autoridades deverão disciplinar, em 180 (cento e oitenta) dias, o modo pelo qual as informações sobre a realização da prisão e a identidade do preso serão, de modo padronizado e respeitada a programação normativa aludida no caput deste artigo, transmitidas à imprensa, assegurados a efetividade da persecução penal, o direito à informação e a dignidade da pessoa submetida à prisão.’” Comentários: O art. 3º - A, caput, introduzido no CPP, é bastante claro no desenho do processo penal que se pretende, quando dispõe que o processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do juiz na fase de investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de acusação. Assim, ratifica a opção por um processo penal acusatório, com juiz imparcial e equidistante das partes, com acesso apenas aos elementos probatórios que lhes forem ofertados pela acusação e pela defesa, sem iniciativa probatória. Por outro lado, também é função do juiz, no processo penal, preservar as garantias constitucionais e os direitos daquele que está sendo investigado ou processado criminalmente, assim muitos dos mecanismos de investigação dependem do deferimento judicial. Fazendo com que o juiz tenha contato com a investigação policial e com a acusação, antes mesmo do oferecimento da denúncia, ainda na fase pré-processual. Com o objetivo de preservar o juiz que julgará o processo penal, o pacote anticrime introduziu a figura do juiz de garantias, que será responsável pelo controle da legalidade da investigação criminal e pela salvaguarda dos direitos individuais cuja franquia tenha sido reservada à autorização prévia do Poder Judiciário, conforme dispõe o art. 3º B que fixa as decisões de sua competência. A competência do juiz das garantias abrange todas as infrações penais, exceto as de menor potencial ofensivo, e cessa com o recebimento da denúncia ou queixa na forma do art. 399 deste Código. Assim, do início das investigações até o recebimento da denúncia o juiz de garantias terá competência para julgar tudo o que exigir autorização judicial e depois remeterá os autos a distribuição para o juiz que irá julgar o processo, até então preservado do contato com os elementos da investigação policial. O juiz do processo inicia seu contato com os elementos probatórios apenas no momento processual, onde já há ampla defesa e contraditório, com a presença da defesa técnica. O que torna o sistema acusatório, caracterizado pela divisão das funções: acusar, defender e julgar, ainda mais claro e transparente. Pacote Anticrime – Lei 13964/2019 – alterações no Código Penal e no Código de Processo Penal comentadas pelo professor Felipe Vieites Novaes. AUTOR: FELIPE VIEITES NOVAES Site: www.felipenovaes.com.br 17 O STF, em liminar concedida pelo Ministro Luiz Fux em ação direta de inconstitucionalidade, suspendeu os dispositivos referentes ao juiz de garantias até o julgamento final das ações, o que ainda não tem previsão para acontecer. 2 - defesa técnica nos procedimentos que apuram mortes na atividade policial. Comparação dos Dispositivos: Dispositivo atual: Novo Dispositivo: NÃO HAVIA ANTERIOR Art. 14-A. Nos casos em que servidores vinculados às instituições dispostas no art. 144 da Constituição Federal figurarem como investigados em inquéritos policiais, inquéritos policiais militares e demais procedimentos extrajudiciais, cujo objeto for a investigação de fatos relacionados ao uso da força letal praticados no exercício profissional, de forma consumada ou tentada, incluindo as situações dispostas no art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), o indiciado poderá constituir defensor. § 1º Para os casos previstos no caput deste artigo, o investigado deverá ser citado da instauração do procedimento investigatório, podendo constituir defensor no prazo de até 48 (quarenta e oito) horas a contar do recebimento da citação. § 2º Esgotado o prazo disposto no § 1º deste artigo com ausência de nomeação de defensor pelo investigado, a autoridade responsável pela investigação deverá intimar a instituição a que estava vinculado o investigado à época da ocorrência dos fatos, para que essa, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, indique defensor para a representação do investigado. § 3º (VETADO). § 4º (VETADO). § 5º (VETADO). § 6º As disposições constantes deste artigo se aplicam aos servidores militares vinculados às instituições dispostas no art. 142 da Pacote Anticrime – Lei 13964/2019 – alterações no Código Penal e no Código de Processo Penal comentadas pelo professor Felipe Vieites Novaes. AUTOR: FELIPE VIEITES NOVAES Site: www.felipenovaes.com.br 18 Constituição Federal, desde que os fatos investigados digam respeito a missões para a Garantia da Lei e da Ordem.” Comentários: O inquérito policial, bem como outros tipos de investigação pré-processual, tem caráter inquisitorial, não sendo obrigatória a participação da defesa técnica, que pode ter acesso a todos os elementos investigados, após a realização das investigações, mas não tem uma participação maior nessa etapa. O pacote anticrime, no art. 14-A, introduzido no CPP, inovou nesse aspecto dispondo que nos casos em que servidores vinculados às instituições dispostas no art. 144 da Constituição Federal, que são as polícias, figurarem como investigados em inquéritos policiais, inquéritos policiais militares e demais procedimentos extrajudiciais, cujo objeto for a investigação de fatos relacionados ao uso da força letal, ou seja, que tenha causado a morte de alguém, praticados no exercício profissional, de forma consumada ou tentada, incluindo as situações dispostas no art. 23 do Código Penal, que consistem nas excludentes de ilicitude, entre elas a legítima defesa, o indiciado poderá constituir defensor. O §2º do art. 14-A dispõe que esgotado o prazo disposto no § 1º deste artigo com ausência de nomeação de defensor pelo investigado, a autoridade responsável pela investigação deverá intimar a instituição a que estava vinculado o investigado à época da ocorrência dos fatos, para que essa, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, indique defensor para a representação do investigado, deixando claro que a presença da defesa técnica é obrigatória e poderá acarretar nulidades, caso não seja observada. 3 - exclusão do juiz como controle do arquivamento da investigação criminal, passando a ser direto no âmbito do MP, mas com a possibilidade de recurso administrativo da vítima. Comparação dos Dispositivos: Dispositivo atual: Novo Dispositivo: Art. 28. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia, requerer o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer peças de informação, o juiz, no caso de considerar improcedentes as razões invocadas, fará remessa doinquérito ou peças de informação ao procurador-geral, e este oferecerá a denúncia, designará outro órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquivamento, ao qual Art. 28. Ordenado o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer elementos informativos da mesma natureza, o órgão do Ministério Público comunicará à vítima, ao investigado e à autoridade policial e encaminhará os autos para a instância de revisão ministerial para fins de homologação, na forma da lei. § 1º Se a vítima, ou seu representante legal, não concordar com o arquivamento do inquérito policial, poderá, no prazo de 30 (trinta) dias do recebimento da comunicação, submeter a matéria à revisão da instância Pacote Anticrime – Lei 13964/2019 – alterações no Código Penal e no Código de Processo Penal comentadas pelo professor Felipe Vieites Novaes. AUTOR: FELIPE VIEITES NOVAES Site: www.felipenovaes.com.br 19 só então estará o juiz obrigado a atender. competente do órgão ministerial, conforme dispuser a respectiva lei orgânica. § 2º Nas ações penais relativas a crimes praticados em detrimento da União, Estados e Municípios, a revisão do arquivamento do inquérito policial poderá ser provocada pela chefia do órgão a quem couber a sua representação judicial.” (NR) Comentários: Comentários: O art. 28 do CPP, original, previa que se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia, requerer o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer peças de informação, o juiz, no caso de considerar improcedentes as razões invocadas, fará remessa do inquérito ou peças de informação ao procurador-geral, e este oferecerá a denúncia, designará outro órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender. Assim, havia um controle judicial do princípio da obrigatoriedade da ação penal pública incondicionada, embora a decisão final permanecesse no âmbito do Ministério Público, com a decisão final pelo Procurador Geral de Justiça. O Pacote anticrime altera o art. 28 do CPP para retirar esse controle exercido pelo juiz, que não atua mais nos casos de arquivamento, o novo dispositivo prevê que ordenado o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer elementos informativos da mesma natureza, o órgão do Ministério Público comunicará à vítima, ao investigado e à autoridade policial e encaminhará os autos para a instância de revisão ministerial para fins de homologação, na forma da lei. A decisão de arquivamento passa a ser de natureza administrativa, no âmbito do MP, sem a participação do juiz, tornando o procedimento mais lógico, uma vez que a palavra final era mesmo do parquet. Por outro lado, encerra qualquer possibilidade de que a decisão de arquivamento produza coisa julgada material no caso concreto, como acontecia com a homologação judicial de arquivamentos baseados, por exemplo, na extinção da punibilidade pela prescrição. Tal dispositivo está suspenso pelo STF, em liminar concedida em ações direta de inconstitucionalidade, até o julgamento do mérito. 4 - criação do acordo de não persecução penal, entre o MP e o autor do fato, para crimes não violentos com pena até 4 anos. Comparação dos Dispositivos: Pacote Anticrime – Lei 13964/2019 – alterações no Código Penal e no Código de Processo Penal comentadas pelo professor Felipe Vieites Novaes. AUTOR: FELIPE VIEITES NOVAES Site: www.felipenovaes.com.br 20 Dispositivo atual: Novo Dispositivo: Não havia na legislação anterior. Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e tendo o investigado confessado formal e circunstancialmente a prática de infração penal sem violência ou grave ameaça e com pena mínima inferior a 4 (quatro) anos, o Ministério Público poderá propor acordo de não persecução penal, desde que necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime, mediante as seguintes condições ajustadas cumulativa e alternativamente: I - reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na impossibilidade de fazê-lo; II - renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo Ministério Público como instrumentos, produto ou proveito do crime; III - prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período correspondente à pena mínima cominada ao delito diminuída de um a dois terços, em local a ser indicado pelo juízo da execução, na forma do art. 46 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal); IV - pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), a entidade pública ou de interesse social, a ser indicada pelo juízo da execução, que tenha, preferencialmente, como função proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos aparentemente lesados pelo delito; ou V - cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada pelo Ministério Público, desde que proporcional e compatível com a infração penal imputada. § 1º Para aferição da pena mínima cominada ao delito a que se refere o caput deste artigo, serão consideradas as causas de aumento e diminuição aplicáveis ao caso concreto. § 2º O disposto no caput deste artigo não se aplica nas seguintes hipóteses: I - se for cabível transação penal de competência dos Juizados Especiais Criminais, nos termos da lei; II - se o investigado for reincidente ou se houver elementos probatórios que indiquem conduta criminal habitual, reiterada ou profissional, exceto se insignificantes as infrações penais pretéritas; Pacote Anticrime – Lei 13964/2019 – alterações no Código Penal e no Código de Processo Penal comentadas pelo professor Felipe Vieites Novaes. AUTOR: FELIPE VIEITES NOVAES Site: www.felipenovaes.com.br 21 III - ter sido o agente beneficiado nos 5 (cinco) anos anteriores ao cometimento da infração, em acordo de não persecução penal, transação penal ou suspensão condicional do processo; e IV - nos crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou familiar, ou praticados contra a mulher por razões da condição de sexo feminino, em favor do agressor. § 3º O acordo de não persecução penal será formalizado por escrito e será firmado pelo membro do Ministério Público, pelo investigado e por seu defensor. § 4º Para a homologação do acordo de não persecução penal, será realizada audiência na qual o juiz deverá verificar a sua voluntariedade, por meio da oitiva do investigado na presença do seu defensor, e sua legalidade. § 5º Se o juiz considerar inadequadas, insuficientes ou abusivas as condições dispostas no acordo de não persecução penal, devolverá os autos ao Ministério Público para que seja reformulada a proposta de acordo, com concordância do investigado e seu defensor. § 6º Homologado judicialmente o acordo de não persecução penal, o juiz devolverá os autos ao Ministério Público para que inicie sua execução perante o juízo de execução penal. § 7º O juiz poderá recusar homologação à proposta que não atender aos requisitos legais ou quando não for realizada a adequação a que se refere o § 5º deste artigo. § 8º Recusada a homologação, o juiz devolverá os autos ao Ministério Público para a análise da necessidade de complementação das investigações ou o oferecimento da denúncia. § 9º A vítima será intimada da homologação do acordo de não persecução penal e de seu descumprimento. § 10. Descumpridas quaisquer das condições estipuladas no acordo de não persecução penal, o Ministério Público deverá comunicar ao juízo, para fins de sua rescisão e posterior oferecimento de denúncia. § 11. O descumprimento do acordo de não persecução penal pelo investigado também poderá ser utilizado pelo Ministério Público como justificativa para o eventual não oferecimento de suspensão condicional do processo. § 12. A celebração e o cumprimento do acordo de não persecução penal não constarão de certidão deantecedentes criminais, exceto para os fins previstos no inciso III do § 2º deste artigo. Pacote Anticrime – Lei 13964/2019 – alterações no Código Penal e no Código de Processo Penal comentadas pelo professor Felipe Vieites Novaes. AUTOR: FELIPE VIEITES NOVAES Site: www.felipenovaes.com.br 22 § 13. Cumprido integralmente o acordo de não persecução penal, o juízo competente decretará a extinção de punibilidade. § 14. No caso de recusa, por parte do Ministério Público, em propor o acordo de não persecução penal, o investigado poderá requerer a remessa dos autos a órgão superior, na forma do art. 28 deste Código.” Comentários: O pacote introduz no sistema processual brasileiro uma espécie de plea bargain possibilitando um acordo entre o Ministério Público e o autor do crime, denominado acordo de não persecução penal, evitando que o agente seja processado pelo crime e ao final condenado. O acordo será proposto quando, não sendo caso de arquivamento, o investigado confessou formal e circunstancialmente o crime, que não tenha violência ou grave ameaça e com pena mínima cominada inferior a 4 (quatro) anos. Cabendo ao MP fazer uma análise quanto ao acordo ser necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime. Aqui é necessário notar que todos os crimes contra a administração pública se enquadram na hipótese de acordo. A lei dispõe que a realização do acordo não se aplica nas seguintes hipóteses: - se for cabível transação penal de competência dos Juizados Especiais Criminais, nos termos da lei, pois nessa hipótese deve ser realizada a transação e não o acordo de não persecução penal. - se o investigado for reincidente ou se houver elementos probatórios que indiquem conduta criminal habitual, reiterada ou profissional, exceto se insignificantes as infrações penais pretéritas, o legislador levou em conta elementos subjetivos para impedir que o acordo beneficie criminosos habituais. Mas há uma notável violação do princípio da presunção de inocência, fora dos casos de reincidência. - ter sido o agente beneficiado nos 5 (cinco) anos anteriores ao cometimento da infração, em acordo de não persecução penal, transação penal ou suspensão condicional do processo; - e nos crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou familiar, ou praticados contra a mulher por razões da condição de sexo feminino. A lei Maria da Penha impede a transação penal e a suspensão condicional do processo, previstas na lei 9099/95, o legislador seguiu o mesmo caminho e impediu o acordo de não persecução penal nos casos envolvendo violência doméstica ou familiar contra a mulher. 5 – alienação de coisas apreendidas: Comparação dos Dispositivos: Dispositivo atual: Novo Dispositivo: Pacote Anticrime – Lei 13964/2019 – alterações no Código Penal e no Código de Processo Penal comentadas pelo professor Felipe Vieites Novaes. AUTOR: FELIPE VIEITES NOVAES Site: www.felipenovaes.com.br 23 Art. 122. Sem prejuízo do disposto nos arts. 120 e 133, decorrido o prazo de 90 dias, após transitar em julgado a sentença condenatória, o juiz decretará, se for caso, a perda, em favor da União, das coisas apreendidas (art. 74, II, a e b do Código Penal) e ordenará que sejam vendidas em leilão público. “Art. 122. Sem prejuízo do disposto no art. 120, as coisas apreendidas serão alienadas nos termos do disposto no art. 133 deste Código. Parágrafo único. (Revogado).” (NR) Comentário: Houve apenas uma adequação da redação do dispositivo que prevê que, sem prejuízo das eventuais restituições previstas no art. 120, deve ser realizada a alienação dos bens apreendidos na forma do art. 133, ou seja, após o transito me julgado da condenação deverá ser feita a avaliação dos bens e o leilão público deles. Dispositivo atual: Novo Dispositivo: Não havia equivalente anterior “Art. 124-A. Na hipótese de decretação de perdimento de obras de arte ou de outros bens de relevante valor cultural ou artístico, se o crime não tiver vítima determinada, poderá haver destinação dos bens a museus públicos.” Comentários: Dispositivo novo com a finalidade de destinar obras de arte e outros bens de valor cultural ou artístico a instituições destinadas a conservação deste tipo de bem, como os museus públicos. Comparação dos Dispositivos: Dispositivo atual: Novo Dispositivo: Art. 133. Transitada em julgado a sentença condenatória, o juiz, de ofício ou a requerimento do interessado, determinará a Art. 133. Transitada em julgado a sentença condenatória, o juiz, de ofício ou a requerimento do interessado ou do Ministério Público, determinará a avaliação e a venda dos bens em leilão público cujo perdimento tenha sido decretado. Pacote Anticrime – Lei 13964/2019 – alterações no Código Penal e no Código de Processo Penal comentadas pelo professor Felipe Vieites Novaes. AUTOR: FELIPE VIEITES NOVAES Site: www.felipenovaes.com.br 24 avaliação e a venda dos bens em leilão público. Parágrafo único. Do dinheiro apurado, será recolhido ao Tesouro Nacional o que não couber ao lesado ou a terceiro de boa-fé. § 1º Do dinheiro apurado, será recolhido aos cofres públicos o que não couber ao lesado ou a terceiro de boa-fé. § 2º O valor apurado deverá ser recolhido ao Fundo Penitenciário Nacional, exceto se houver previsão diversa em lei especial.” (NR) “Art. 133-A. O juiz poderá autorizar, constatado o interesse público, a utilização de bem sequestrado, apreendido ou sujeito a qualquer medida assecuratória pelos órgãos de segurança pública previstos no art. 144 da Constituição Federal, do sistema prisional, do sistema socioeducativo, da Força Nacional de Segurança Pública e do Instituto Geral de Perícia, para o desempenho de suas atividades. § 1º O órgão de segurança pública participante das ações de investigação ou repressão da infração penal que ensejou a constrição do bem terá prioridade na sua utilização. § 2º Fora das hipóteses anteriores, demonstrado o interesse público, o juiz poderá autorizar o uso do bem pelos demais órgãos públicos. § 3º Se o bem a que se refere o caput deste artigo for veículo, embarcação ou aeronave, o juiz ordenará à autoridade de trânsito ou ao órgão de registro e controle a expedição de certificado provisório de registro e licenciamento em favor do órgão público beneficiário, o qual estará isento do pagamento de multas, encargos e tributos anteriores à disponibilização do bem para a sua utilização, que deverão ser cobrados de seu responsável. § 4º Transitada em julgado a sentença penal condenatória com a decretação de perdimento dos bens, ressalvado o direito do lesado ou terceiro de boa-fé, o juiz poderá determinar a transferência definitiva da propriedade ao órgão público beneficiário ao qual foi custodiado o bem.” Comentários: As alterações no art. 133 referem-se a inclusão do Ministério Público como parte legitima para requerer a alienação dos bens. Enquanto no §2º prevê a destinação dos valores arrecadados para o fundo penitenciário nacional, ressalvadas regras legais especificas. O art. 133-A, sem correlação com dispositivos anteriores, prevê a possibilidade de o juiz autorizar, constatado o interesse público, a utilização de bem sequestrado, apreendido ou sujeito a qualquer medida assecuratória pelos órgãos de segurança pública previstos no art. 144 da Constituição Federal, do sistema prisional, do sistema socioeducativo, da Força Nacional de Pacote Anticrime – Lei 13964/2019 – alterações no Código Penal e no Código de Processo Penal comentadas pelo professor Felipe Vieites Novaes. AUTOR: FELIPE VIEITES NOVAES Site: www.felipenovaes.com.br 25 Segurança Pública e do Instituto Geral de Perícia, para o desempenho de suas atividades. Utilizando as apreensões como forma de equipar os órgãos envolvidos no combate ao crime e na persecução penal.6 – Provas ilícitas: Comparação dos Dispositivos: Dispositivo atual: Novo Dispositivo: Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008) § 1o São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008) § 2o Considera-se fonte independente aquela que por si só, seguindo os trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008) § 3o Preclusa a decisão de desentranhamento da prova declarada inadmissível, esta será inutilizada por Art. 157. ....................................................... ...................................................................... § 5º O juiz que conhecer do conteúdo da prova declarada inadmissível não poderá proferir a sentença ou acórdão.” (NR) Pacote Anticrime – Lei 13964/2019 – alterações no Código Penal e no Código de Processo Penal comentadas pelo professor Felipe Vieites Novaes. AUTOR: FELIPE VIEITES NOVAES Site: www.felipenovaes.com.br 26 decisão judicial, facultado às partes acompanhar o incidente. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008) § 4o (VETADO) (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008) Comentários: A inclusão do §5º no art. 157 do CPP talvez seja uma das mais relevantes alterações introduzidas pelo pacote anticrime, o paragrafo dispõe que o juiz que conhecer do conteúdo da prova declarada inadmissível não poderá proferir a sentença ou acórdão, ou seja, o magistrado que teve contato com uma prova ilícita não poderá julgar o caso concreto. Tal regra vem preservar a legitimidade da decisão judicial, que deve ser tomada com base naquilo que é admitido dentro do processo e não com outros elementos ou informações. Parte da ideia de que é arriscado que o juiz que teve contato com a prova ilícita, conheceu seu conteúdo, seja influenciado por ela no ato decisório, mesmo havendo descartado sua utilização. O dispositivo está suspenso por liminar concedida em Ação Direta de Inconstitucionalidade junto ao STF. 7- criação da cadeia de custódia na prova pericial. Comparação dos Dispositivos: Dispositiv o atual: Novo Dispositivo: Não há dispositivo anterior. CAPÍTULO II DO EXAME DE CORPO DE DELITO, DA CADEIA DE CUSTÓDIA E DAS PERÍCIAS EM GERAL’ ..................................................................................................................... . ‘Art. 158-A. Considera-se cadeia de custódia o conjunto de todos os procedimentos utilizados para manter e documentar a história cronológica do vestígio coletado em locais ou em vítimas de crimes, para rastrear sua posse e manuseio a partir de seu reconhecimento até o descarte. § 1º O início da cadeia de custódia dá-se com a preservação do local de crime ou com procedimentos policiais ou periciais nos quais seja detectada a existência de vestígio. Pacote Anticrime – Lei 13964/2019 – alterações no Código Penal e no Código de Processo Penal comentadas pelo professor Felipe Vieites Novaes. AUTOR: FELIPE VIEITES NOVAES Site: www.felipenovaes.com.br 27 § 2º O agente público que reconhecer um elemento como de potencial interesse para a produção da prova pericial fica responsável por sua preservação. § 3º Vestígio é todo objeto ou material bruto, visível ou latente, constatado ou recolhido, que se relaciona à infração penal.’ ‘Art. 158-B. A cadeia de custódia compreende o rastreamento do vestígio nas seguintes etapas: I - reconhecimento: ato de distinguir um elemento como de potencial interesse para a produção da prova pericial; II - isolamento: ato de evitar que se altere o estado das coisas, devendo isolar e preservar o ambiente imediato, mediato e relacionado aos vestígios e local de crime; III - fixação: descrição detalhada do vestígio conforme se encontra no local de crime ou no corpo de delito, e a sua posição na área de exames, podendo ser ilustrada por fotografias, filmagens ou croqui, sendo indispensável a sua descrição no laudo pericial produzido pelo perito responsável pelo atendimento; IV - coleta: ato de recolher o vestígio que será submetido à análise pericial, respeitando suas características e natureza; V - acondicionamento: procedimento por meio do qual cada vestígio coletado é embalado de forma individualizada, de acordo com suas características físicas, químicas e biológicas, para posterior análise, com anotação da data, hora e nome de quem realizou a coleta e o acondicionamento; VI - transporte: ato de transferir o vestígio de um local para o outro, utilizando as condições adequadas (embalagens, veículos, temperatura, entre outras), de modo a garantir a manutenção de suas características originais, bem como o controle de sua posse; VII - recebimento: ato formal de transferência da posse do vestígio, que deve ser documentado com, no mínimo, informações referentes ao número de procedimento e unidade de polícia judiciária relacionada, local de origem, nome de quem transportou o vestígio, código de rastreamento, natureza do exame, tipo do vestígio, protocolo, assinatura e identificação de quem o recebeu; VIII - processamento: exame pericial em si, manipulação do vestígio de acordo com a metodologia adequada às suas características biológicas, físicas e químicas, a fim de se obter o resultado desejado, que deverá ser formalizado em laudo produzido por perito; IX - armazenamento: procedimento referente à guarda, em condições adequadas, do material a ser processado, guardado para realização de Pacote Anticrime – Lei 13964/2019 – alterações no Código Penal e no Código de Processo Penal comentadas pelo professor Felipe Vieites Novaes. AUTOR: FELIPE VIEITES NOVAES Site: www.felipenovaes.com.br 28 contraperícia, descartado ou transportado, com vinculação ao número do laudo correspondente; X - descarte: procedimento referente à liberação do vestígio, respeitando a legislação vigente e, quando pertinente, mediante autorização judicial.’ ‘Art. 158-C. A coleta dos vestígios deverá ser realizada preferencialmente por perito oficial, que dará o encaminhamento necessário para a central de custódia, mesmo quando for necessária a realização de exames complementares. § 1º Todos vestígios coletados no decurso do inquérito ou processo devem ser tratados como descrito nesta Lei, ficando órgão central de perícia oficial de natureza criminal responsável por detalhar a forma do seu cumprimento. § 2º É proibida a entrada em locais isolados bem como a remoção de quaisquer vestígios de locais de crime antes da liberação por parte do perito responsável, sendo tipificada como fraude processual a sua realização.’ ‘Art. 158-D. O recipiente para acondicionamento do vestígio será determinado pela natureza do material. § 1º Todos os recipientes deverão ser selados com lacres, com numeração individualizada, de forma a garantir a inviolabilidade e a idoneidade do vestígio durante o transporte. § 2º O recipiente deverá individualizar o vestígio, preservar suas características, impedir contaminação e vazamento, ter grau de resistência adequado e espaço para registro de informações sobre seu conteúdo. § 3º O recipiente só poderá ser aberto pelo perito que vai proceder à análise e, motivadamente, por pessoa autorizada. § 4º Após cada rompimento de lacre, deve se fazer constar na ficha de acompanhamento de vestígio o nome e a matrícula do responsável, a data, o local, a finalidade, bem como as informações referentes ao novo lacre utilizado. § 5ºO lacre rompido deverá ser acondicionado no interior do novo recipiente.’ ‘Art. 158-E. Todos os Institutos de Criminalística deverão ter uma central de custódia destinada à guarda e controle dos vestígios, e sua gestão deve ser vinculada diretamente ao órgão central de perícia oficial de natureza criminal. § 1º Toda central de custódia deve possuir os serviços de protocolo, com local para conferência, recepção, devolução de materiais e documentos, possibilitando a seleção, a classificação e a distribuição de materiais, devendo Pacote Anticrime – Lei 13964/2019 – alterações no Código Penal e no Código de Processo Penal comentadas pelo professor Felipe Vieites Novaes. AUTOR: FELIPE VIEITES NOVAES Site: www.felipenovaes.com.br 29 ser um espaço seguro e apresentar condições ambientais que não interfiram nas características do vestígio. § 2º Na central de custódia, a entrada e a saída de vestígio deverão ser protocoladas, consignando-se informações sobre a ocorrência no inquérito que a eles se relacionam. § 3º Todas as pessoas que tiverem acesso ao vestígio armazenado deverão ser identificadas e deverão ser registradas a data e a hora do acesso. § 4º Por ocasião da tramitação do vestígio armazenado, todas as ações deverão ser registradas, consignando-se a identificação do responsável pela tramitação, a destinação, a data e horário da ação.’ ‘Art. 158-F. Após a realização da perícia, o material deverá ser devolvido à central de custódia, devendo nela permanecer. Parágrafo único. Caso a central de custódia não possua espaço ou condições de armazenar determinado material, deverá a autoridade policial ou judiciária determinar as condições de depósito do referido material em local diverso, mediante requerimento do diretor do órgão central de perícia oficial de natureza criminal.’ Comentários: Não há dúvida de que a prova pericial é a mais forte de todas as provas, pessoas mentem, podem se confundir, tem memória limitada e depõem de acordo com suas experienciais. Documentos podem ser adulterados, falsificados ou perdidos. Mas a prova pericial, baseada em evidencias técnicas e cientificas, muitas vezes é determinante para esclarecer a verdade de determinado crime. Exatamente por essa razão, que o art. 158 do CPP exige o exame de corpo de delito nos crimes não transeuntes, aqueles que deixam vestígios da prática. O pacote anticrime introduziu no Código de Processo Penal uma valiosa inovação no que tange a prova pericial, com o intuito de preservá-la da melhor forma, a chamada cadeia de custódia da prova, que consiste no conjunto de todos os procedimentos utilizados para manter e documentar a história cronológica do vestígio coletado em locais ou em vítimas de crimes, para rastrear sua posse e manuseio a partir de seu reconhecimento até o descarte. 8 – medidas cautelares e prisão: Comparação dos Dispositivos: Dispositivo atual: Novo Dispositivo: Pacote Anticrime – Lei 13964/2019 – alterações no Código Penal e no Código de Processo Penal comentadas pelo professor Felipe Vieites Novaes. AUTOR: FELIPE VIEITES NOVAES Site: www.felipenovaes.com.br 30 Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas observando-se a: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). I - necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou a instrução criminal e, nos casos expressamente previstos, para evitar a prática de infrações penais; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). II - adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições pessoais do indiciado ou acusado. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). § 1o As medidas cautelares poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). § 2o As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz, de ofício ou a requerimento das partes ou, quando no curso da investigação criminal, por representação da autoridade policial ou mediante requerimento do Ministério Público. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). § 3o Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de ineficácia da medida, o juiz, ao receber o pedido de medida cautelar, determinará a intimação da parte contrária, acompanhada de cópia do requerimento e das peças necessárias, permanecendo os autos em juízo. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). § 4o No caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas, o juiz, de ofício ou mediante requerimento do Ministério Público, de seu assistente ou do querelante, poderá substituir a medida, impor outra em cumulação, ou, em último caso, decretar a prisão Art. 282. ................................................................................ ................. ..................................................................... ............................................. § 2º As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz a requerimento das partes ou, quando no curso da investigação criminal, por representação da autoridade policial ou mediante requerimento do Ministério Público. § 3º Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de ineficácia da medida, o juiz, ao receber o pedido de medida cautelar, determinará a intimação da parte contrária, para se manifestar no prazo de 5 (cinco) dias, acompanhada de cópia do requerimento e das peças necessárias, permanecendo os autos em juízo, e os casos de urgência ou de perigo deverão ser justificados e fundamentados em decisão que contenha elementos do caso concreto que justifiquem essa medida excepcional. § 4º No caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas, o juiz, mediante requerimento do Ministério Público, de seu assistente ou do querelante, poderá substituir a medida, impor outra em cumulação, ou, em último caso, decretar a prisão preventiva, nos Pacote Anticrime – Lei 13964/2019 – alterações no Código Penal e no Código de Processo Penal comentadas pelo professor Felipe Vieites Novaes. AUTOR: FELIPE VIEITES NOVAES Site: www.felipenovaes.com.br 31 preventiva (art. 312, parágrafo único). (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). § 5o O juiz poderá revogar a medida cautelar ou substituí-la quando verificar a falta de motivo para que subsista, bem como voltar a decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). § 6o A prisão preventiva será determinada quando não for cabível a sua substituição por outra medida cautelar (art. 319). (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). termos do parágrafo único do art. 312 deste Código. § 5º O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar a medida cautelar ou substituí-la quando verificar a falta de motivo para que subsista, bem como voltar a decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem. § 6º A prisão preventiva somente será determinada quando não for cabível a sua substituição por outra medida cautelar, observado o art. 319 deste Código, e o não cabimento da substituição por outra medida cautelar deverá ser justificado de forma fundamentada nos elementos presentes do caso concreto, de forma individualizada.” (NR) Comentários: As modificações introduzidas no art. 282 são no sentido de afastar qualquer possibilidade do juiz decretar medidas cautelares de ofício, sendo sempre necessário o requerimento das partes ou da autoridade policial. Isso preserva a imparcialidade do juiz, mantendo inerte e equidistante das partes. Por outro lado, as alterações também vem no sentido de que a decretação de medidas cautelares sem ouvir a defesa, bem como a decisão de decretar a prisão cautelar e não substituí- la por outra medidas cautelares, devem ser sempre fundamentadas nos elementos presentes do caso concreto, de forma individualizada, justificando as medidas de caráter excepcional.9 – alterações na prisão cautelar: Comparação dos Dispositivos: Dispositivo atual: Novo Dispositivo: Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso da investigação ou do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). (Vide ADC “Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de prisão cautelar ou em virtude de condenação criminal transitada em julgado. Pacote Anticrime – Lei 13964/2019 – alterações no Código Penal e no Código de Processo Penal comentadas pelo professor Felipe Vieites Novaes. AUTOR: FELIPE VIEITES NOVAES Site: www.felipenovaes.com.br 32 Nº 43) (Vide ADC Nº 44) (Vide ADC Nº 54) § 1o As medidas cautelares previstas neste Título não se aplicam à infração a que não for isolada, cumulativa ou alternativamente cominada pena privativa de liberdade. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). § 2o A prisão poderá ser efetuada em qualquer dia e a qualquer hora, respeitadas as restrições relativas à inviolabilidade do domicílio. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). ............................................................................. ........................... ”(NR) Comentários: Alteração no art. 282, caput, mantendo as possiblidades de prisão apenas em flagrante delito, nas hipóteses de prisão cautelar e na hipótese de condenação transitada em julgado. A modificação também retira a expressão no curso do inquérito ou do processo, no que tange a possibilidade de decretação de prisão cautelar. O mais importante nesse dispositivo foi manter a necessidade de trânsito em julgado da condenação para determinar a prisão do condenado. Assunto extremamente debatido nos últimos tempos, que culminou com a decisão do STF no sentido de que a execução provisória da pena, antes de transitar em julgado a condenação, viola a presunção de inocência contida na Constituição. O pacote vem no mesmo sentido e mantem a exigência da sentença definitiva para se decretar a prisão, salvo em casos de necessidade de prisão cautelar. Comparação dos Dispositivos: Dispositivo atual: Novo Dispositivo: Art. 287. Se a infração for inafiançável, a falta de exibição do mandado não obstará à prisão, e o preso, em tal caso, será imediatamente apresentado ao juiz que tiver expedido o mandado. “Art. 287. Se a infração for inafiançável, a falta de exibição do mandado não obstará a prisão, e o preso, em tal caso, será imediatamente apresentado ao juiz que tiver expedido o mandado, para a realização de audiência de custódia.” (NR) Comentários: Pacote Anticrime – Lei 13964/2019 – alterações no Código Penal e no Código de Processo Penal comentadas pelo professor Felipe Vieites Novaes. AUTOR: FELIPE VIEITES NOVAES Site: www.felipenovaes.com.br 33 A alteração no art. 287 inclui a necessidade de realização de audiência de custódia no caso de prisão cautelar decretada pelo juiz e executada sem a exibição do mandado. Na verdade, precisamos entender que a audiência de custódia, diferente do que alguns entendem, não é necessária somente na prisão em flagrante, mas em qualquer hipótese de prisão cautelar. Comparação dos Dispositivos: Dispositivo atual: Novo Dispositivo: Art. 310. Ao receber o auto de prisão em flagrante, o juiz deverá fundamentadamente: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). I - relaxar a prisão ilegal; ou (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). II - converter a prisão em flagrante em preventiva, quando presentes os requisitos constantes do art. 312 deste Código, e se revelarem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas da prisão; ou (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). Parágrafo único. Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante, que o agente praticou o fato nas condições constantes dos incisos I a III do caput do art. 23 do Decreto-Lei no2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, poderá, fundamentadamente, conceder ao acusado liberdade provisória, mediante termo de comparecimento a todos os atos processuais, sob pena de revogação. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). “Art. 310. Após receber o auto de prisão em flagrante, no prazo máximo de até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da prisão, o juiz deverá promover audiência de custódia com a presença do acusado, seu advogado constituído ou membro da Defensoria Pública e o membro do Ministério Público, e, nessa audiência, o juiz deverá, fundamentadamente: ..................................................................... ............................................ § 1º Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante, que o agente praticou o fato em qualquer das condições constantes dos incisos I, II ou III do caput do art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), poderá, fundamentadamente, conceder ao acusado liberdade provisória, mediante termo de comparecimento obrigatório a todos os atos processuais, sob pena de revogação. § 2º Se o juiz verificar que o agente é reincidente ou que integra organização criminosa armada ou milícia, ou que porta arma de fogo de uso restrito, deverá denegar a liberdade provisória, com ou sem medidas cautelares. § 3º A autoridade que deu causa, sem motivação idônea, à não realização da audiência de custódia no prazo estabelecido no caput deste artigo responderá administrativa, civil e penalmente pela omissão. § 4º Transcorridas 24 (vinte e quatro) horas após o decurso do prazo estabelecido no caput deste artigo, a não realização de audiência de custódia sem motivação idônea ensejará também a ilegalidade da prisão, a ser Pacote Anticrime – Lei 13964/2019 – alterações no Código Penal e no Código de Processo Penal comentadas pelo professor Felipe Vieites Novaes. AUTOR: FELIPE VIEITES NOVAES Site: www.felipenovaes.com.br 34 relaxada pela autoridade competente, sem prejuízo da possibilidade de imediata decretação de prisão preventiva.” (NR) Comentários: O caput do art. 310 passa a prever expressamente a necessidade de realização da audiência de custódia, no caso de prisão em flagrante, quando da comunicação da prisão no prazo de 24 horas. Na audiência o juiz decidirá se relaxa a prisão quando for ilegal; se converte a prisão em flagrante em preventiva, quando presentes os requisitos constantes do art. 312 deste Código, e se revelarem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas da prisão; ou se concede liberdade provisória, com ou sem fiança. O §1º mantem a possibilidade de liberdade provisória quando o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante, que o agente praticou o fato em qualquer das condições constantes dos incisos I, II ou III do caput do art. 23 do Código Penal, hipóteses de excludentes de ilicitude, mediante termo de comparecimento obrigatório a todos os atos processuais, sob pena de revogação. O novo §2º dispõe que se o juiz verificar que o agente é reincidente ou que integra organização criminosa armada ou milícia, ou que porta arma de fogo de uso restrito, deverá denegar a liberdade provisória, com ou sem medidas cautelares. Acredito que o dispositivo viole o princípio da presunção de inocência, obrigando a manter preso o autor de crimes determinados, mesmo sem os requisitos da prisão cautelar, devendo ser considerado inconstitucional. Semelhante com o que aconteceu na lei de crimes hediondos que vedava a liberdade
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