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DIREITO PENAL APLICADO I - Aula 1 - Conceitos e principios do Direito Penal

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DIREITO PENAL APLICADO I
1º TERMO
PROFº EDUARDO TONELLI LARGURA
AULA 1: 
Introdução e conceito de Direito Penal
A vida em sociedade impõe ao ser humano uma série de relações com seus semelhantes. Nem sempre essas relações serão pacíficas. Os conflitos podem surgir e, dessa forma, a vida em sociedade depende de uma regulamentação.
No que tange à disciplina em estudo, cumpre destacar que o Estado, criado para proteger os seres humanos e lhes garantir um bem-estar, protege os bens mais importantes da sociedade erigindo a condução de bens tutelados pelo direito penal.
Assim, quando os bens do homem (vida, patrimônio liberdade, dignidade sexual etc.) recebem essa proteção de uma norma elaborada pelo Estado, criam-se os bens jurídicos.
A função do direito penal e proteger os bens jurídicos.
Os bens jurídicos são os bens da vida, tutelados por uma norma penal que incrimina quem os atinge ou coloca em risco. A partir da prática de uma dessa condutas incriminadas pelo direito penal, surge para o Estado o poder-dever de exercer seu ius puniendi (direito de punir).
É importante ressaltar que o estado detém o monopólio desse direito de punir. Somente ele pode punir legitimamente uma pessoa que transgrediu uma normal penal.
Infrações penais
Em decorrência dessa necessidade do Estado de proteger os bens jurídicos mais importantes do ser humano e da sociedade, surge a criação de infrações penais: regras de comportamento que impõem uma sansão penal a quem as transgredir. 
As normas penais, em sua maioria, estão compiladas em um código denominado Código Penal (Decreto-Lei 2848/40). O legislador criou as infrações penais, que é um gênero do qual o crime e a contravenção são espécies.
Crime
(Espécie)
Infração Penal 
(Gênero)
Contravenção
Penal (Espécie)
Diferença entre crime e contravenção penal
A diferença está na espécie de pena aplicada ao crime...
Nas contravenções penais, a pena é de prisão simples, o que impõe o regime semiaberto ou aberto, sem rigor penitenciário. 
Quanto ao crime, a pena pode ocorrer em regime fechado.
A norma penal é composta de duas partes: 
*Comando Principal ou Preceito Primário (descrição da conduta);
*Sanção ou Preceito Secundário (sanção).
Fontes do Direito Penal
A produção da norma sempre deve vir por meio de lei penal, pois compete privativamente à União legislar sobre Direito Penal (art. 22, I da Constituição Federal).
Atenção: Importa destacar que os costumes não possuem a força de uma lei, portanto, não podem revoga-la nem criar norma penal.
A visão interdisciplinar do Direito Penal
O Direito Penal faz parte de um sistema: o ordenamento jurídico. A base desse sistema, que norteia os demais ramos do Direito, é o Direito Constitucional. Veremos, adiante, que o direito penal guarda íntima relação com o direito constitucional, em especial na parte de direito e garantias fundamentais (previstos no Art. 5 da Constituição Federal).
A constituição é a lei maior que irá influenciar e nortear toda a criação dos demais ramos. Devemos, então, ver o direito penal à luz das normas constitucionais. Em decorrência dessa afirmativa, veremos que vários princípios aplicados ao direito penal encontram-se sediados na própria Constituição Federal de 1988.
Princípios constitucionais e infracionais 
Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I – A soberania;
Ii – a cidadania;
III – a dignidade pessoal;
IV – Os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V o pluralismo político.
A Constituição é a base de todo ordenamento jurídico, irradiando a sua força normativa para todos os setores do Direito, inclusive o Penal. A sua influência na seara penal é muito importante, tendo em vista que cabe ao Direito Penal a proteção de bens e valores essenciais à livre convivência e ao desenvolvimento do indivíduo e da sociedade previstos constitucionalmente.
O bem jurídico-penal tem na Constituição as suas raízes materiais, sendo fundamental para a salvaguarda dos direitos fundamentais que a interpretação e a aplicação da lei penal sejam feitas sempre conforme a Constituição e os ditames do Estado democrático de Direito.
Leitura: O princípio da dignidade humana e sua relação com o direito penal.
Resumo da Leitura*
O Direito Penal constitui uma das ferramentas que o Estado possui para a proteção de bens jurídicos essenciais ao indivíduo e à comunidade, atuando principalmente na tutela de bens que possuem um valor extremamente alto e que não podem ser suficientemente protegidos pelos demais ramos do Direito. Por isso, representa a mais severa intervenção nos direitos fundamentais, seja do ponto de vista da vítima, ao sofrer a
ação criminosa, seja do ponto de vista do agente do delito, com a punição que lhe será aplicada. Desse modo, necessária se faz a garantia de que a intervenção penal não viole esses
direitos para que seja assegurada a condição de ser humano, devendo ser observado na elaboração e na aplicação das normas penais, o princípio da dignidade da pessoa humana.
Princípios da Legalidade
Atenção para o art. 5º, incido XXXIX, da CRFB/1988 e o art. 1º Código Penal.
Art. 5º, do CRFB - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal;
Art. 1º, do CP - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.
Código Penal apenas repetiu o que a Constituição estabeleceu *
O princípio da Legalidade (contendo os subprincípios reserva legal e anterioridade) trata da garantia constitucional fundamental, garantidora da liberdade. Assim, só é possível a existência de crime quando existir uma perfeita correspondência entre o ato praticado e a previsão legal, e que esta seja anterior àquela.
Esse princípio contém outros subprincípios:
Princípio da Reserva da Lei
Só a lei pode definir crimes e cominar penalidades. Nenhuma outra fonte inferior à lei pode gerar uma norma penal. Dessa forma, não há possibilidade de uma portaria, uma resolução ou medidas provisórias (que são outras espécies de normas) criarem um crime. Um bom exemplo dessa afirmação é que o presidente não pode criar crime por meio de um ato legislativo seu, a Medida Provisória (art. 62 da CF/88), que não passa pelo congresso. Assim, as demais normas, que não sejam leis, não podem definir crimes nem impor penas.
Princípios da anterioridade da lei penal
É um princípio relativo ao crime e à pena. Somente se aplicará pena que esteja prevista anteriormente na lei como aplicável ao autor do crime. A estipulação do crime e sua respectiva pena devem ser criadas anteriormente à conduta do autor, pois, do contrário, poder-se-ia criar ou até mesmo alterar a pena (assim como o crime) de acordo com determinados casos. O que, certamente, iria gerar quebra de igualdade e isonomia que todos devem ter perante a lei (a lei deve tratar todos de forma igual na exata medida de sua igualdade e os desiguais na mesma proporção de sua desigualdade – ação denominada Igualdade Material).
 “Devemos tratar igualdade os iguais e desigualdade os desiguais, na medida de sua desigualdade”- Aristóteles
Princípio da Taxatividade 
O conjunto de normas incriminadoras é taxativo. O fato é típico ou atípico. O elenco não admite ampliações. Assim, fica impossibilitado o emprego da analogia. Para tanto, a lei deve especificar ao máximo o fato típico, evitando generalizações.
 Significado Taxativo: limita ou regulamenta, com base em lei ou decreto; limitativo, restritivo.
 Em metáfora: que não dá margem a objeção ou resposta.
Princípio da Irretroatividadedas Normas Incriminadoras
Este decorre do princípio da anterioridade. A lei incriminadora não pode retroagir para alcançar um fato cometido antes de sua vigência. Por óbvio, não podemos incriminar condutas que, quando praticadas, eram lícitas, permitidas. Quando o advento de uma lei proíbe certa conduta, aí sim podemos cobrar das pessoas que lhe respeitem.
Princípio da Irretroatividade da Lei Penal
Como explicado anteriormente, não podemos aplicar a lei penal a fatos passados, ou seja, quando o indivíduo praticou determinada conduta, esta era permitida. Mas uma nova lei pode afirmar que aquela conduta é crime agora. A lei não retroagirá, salvo para beneficiar o investigado.
Art. 5º, XL da Constituição Federal/88 – a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu.
Princípio da Subsidiariedade
O Direito Penal é apenas um dos ramos do Direito. O Estado, para proteger determinados bens jurídicos, vale-se de outros menos gravosos ao indivíduo como, por exemplo, a estipulação de multa pecuniária para quem avançar o sinal de trânsito vermelho (direito administrativo). Com isso, garante a segurança viária.
Entretanto, quando esses outros ramos do Direito falham, o Estado se utiliza do Direito Penal, por ser mais forte sua incidência na vida das pessoas, justo pelo poder que ele tem de privá-las de um bem muito importante, que é a liberdade.
Princípios da fragmentariedade 
(Princípio da Intervenção Mínima)
As relações sociais entre indivíduos na sociedade são contínuas, ou seja, consubstanciam-se em verdadeiras relações permanentes. As relações de convívio, de urbanidade, de educação, de vizinhança, familiar etc.
Não são todas as condutas das relações humanas que serão merecedoras da atenção do direito penal. Com efeito, ele atua apenas em determinados fragmentos dessa relação. Este princípio decorre dos princípios da reserva legal e da intervenção necessária (mínima).
O direito penal não protege todos os bens jurídicos de violações: só os mais importantes.
Princípio da Lesividade 
(altedade ou transcendentalidade) 
O direito penal só deve ser aplicado às condutas que extrapolem a esfera do próprio autor e lesem bem jurídico de terceiros ou, ao menos, coloquem em risco o bem jurídico tutelado.
No Direito Penal, o princípio da lesividade proíbe a incriminação de atitude meramente interna, subjetiva do agente, pois se revela incapaz de lesionar o bem jurídico. Adota-se a ideia - até intuitiva - de que ninguém pode ser punido por fazer mal a si mesmo.
 Por isso, aquele que tenta suicídio (e não consegue se matar) não responde por nenhum crime.
Princípio da Culpabilidade
A culpabilidade está relacionada com o juízo de reprovação que se faz acerca da conduta do autor, pois ele poderia, e era-lhe exigido que atuasse de outra forma que não com o cometimento do crime. A culpabilidade deve ser vista como fundamento e como limite da própria pena, em que a sanção imposta ao indivíduo deve guardar adequada proporção à gravidade de sua ação delituosa.
Princípio da Insignificância - Bagatela
O princípio da insignificância tem o sentido de excluir ou de afastar a própria tipicidade penal, ou seja, não considera o ato praticado como um crime, por isso, sua aplicação resulta na absolvição do réu e não apenas na diminuição e na substituição da pena ou na sua não aplicação. Para ser utilizado, faz-se necessária a presença de certos requisitos:
A mínima ofensividade da conduta do agente;
Nenhuma periculosidade social da ação;
O reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento;
A inexpressividade da lesão jurídica provocada (exemplo: o furto de algo de baixo valor).
“Crimes de Bagatela” – crimes de pequenos valores.
Princípios de ne bis in idem 
Ninguém pode ser punido duas vezes pelo mesmo fato.
Penal material: ninguém pode sofrer duas penas em face do mesmo crime;
Processual: ninguém pode ser processado e julgado duas vezes pelo mesmo fato.
Fim de aula...

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