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7 Temas_de_Direitos_Humanos_e_Segurança_Pública



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TEMAS DE DIREITOS 
HUMANOS 
& 
SEGURANÇA PÚBLICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Circulação Interna 
 
 
 
 
Textos extraídos do livro: Temas de Direitos Humanos e Segurança Pública, de Flávio Cristiano Costa Oliveira. 
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“O homem nasceu livre, e em 
toda parte se encontra sob 
ferros. De tal modo acredita 
o senhor dos outros, que não 
deixa de ser mais escravo 
que eles.” 
 
(Jean-Jacques Rousseau, O 
contrato social). 
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Textos extraídos do livro: Temas de Direitos Humanos e Segurança Pública, de Flávio Cristiano Costa Oliveira. 
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SUMÁRIO 
 
APRESENTAÇÃO................................................................................................................................04 
 
CAPÍTULO I 
OS LIMITES DA ATUAÇÃO DOS ÓRGÃOS DE CORREIÇÃO NA APURAÇÃO DA 
RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA PRÓPRIA DOS SERVIDORES PÚBLICOS 
Introdução .............................................................. .............................................................................05 
A conduta Humana ................................................ .............................................................................05 
Tipos de Responsabilidade .................................... .............................................................................05 
Vida Íntima e Conduta Privada............................... .............................................................................07 
Estado, Disciplina e Constitucionalidade ................ .............................................................................09 
Conclusões ............................................................ .............................................................................09 
Referências ............................................................ .............................................................................10 
Exercícios de síntese ...........................................................................................................................10 
CAPÍTULO II 
A ABRANGÊNCIA DO PRINCÍPIO DA HIERARQUIA NO ÂMBITO DA POLÍCIA CIVIL 
Introdução .............................................................. .............................................................................11 
Natureza Jurídica das Polícias Civis ...................... .............................................................................11 
Classificação dos Órgãos Públicos ........................ .............................................................................11 
Governo, Política e Administração Pública............. .............................................................................12 
Responsabilidade Política ..................................... .............................................................................13 
Princípio da Hierarquia........................................................................................................................14 
Reflexos na Formação das Comissões Disciplinares...........................................................................16 
Conclusões...........................................................................................................................................17 
Referências...........................................................................................................................................17 
Exercícios de síntese ...........................................................................................................................17 
CAPÍTULO III 
O ESTUDO CRÍTICO DAS CAUSAS DA DESARMONIA NA ESFERA PÚBLICA 
Introdução.............................................................................................................................................18 
Esfera Pública.......................................................................................................................................18 
O Papel da Família...............................................................................................................................18 
Princípios Administrativos.....................................................................................................................19 
O Ser da Administração Pública...........................................................................................................19 
Conclusões...........................................................................................................................................22 
Referências...........................................................................................................................................22 
Exercícios de síntese ...........................................................................................................................23 
Textos extraídos do livro: Temas de Direitos Humanos e Segurança Pública, de Flávio Cristiano Costa Oliveira. 
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CAPÍTULO IV 
A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA BRASILEIRA DE 1988 E O NOVO PERFIL DAS 
AUTORIDADES POLICIAIS 
Introdução............................................................................................................................................24 
Escorço Histórico..................................................................................................................................24 
O Advento da Constituição Cidadã.......................................................................................................26 
Os Tratados Internacionais Sobre Direitos Humanos..........................................................................28 
Características das Autoridades Policiais Constitucionalistas..............................................................31 
Conclusões..........................................................................................................................................33 
Referências..........................................................................................................................................33 
Exercícios de síntese ...........................................................................................................................34 
CAPITULO V 
A CRIAÇÃO DE DELEGACIAS DE POLÍCIA CIVIL ESPECIALIZADAS E A PARTICIPAÇÃO DOS 
MUNICÍPIOS NA MANUTENÇÃO DA ORDEM PÚBLICA LOCAL 
Introdução............................................................................................................................................35 
Considerações Iniciais..........................................................................................................................35 
Processo Legal de Criação de Órgãos Públicos..................................................................................35 
A Participação Municipal na Manutenção da Ordem Pública...............................................................37 
Limites para a atuação conjunta de entes políticos..............................................................................38 
Conclusões..........................................................................................................................................40 
Referências..........................................................................................................................................40 
Exercícios de síntese ...........................................................................................................................41CAPITULO VI 
O PODER DE JULGAMENTO DISCIPLINAR: A FUNÇÃO ATÍPICA DO PODER EXECUTIVO À LUZ 
DO PRINCÍPIO JURISDICIONAL 
Introdução............................................................................................................................................42 
A Organização do Estado Moderno......................................................................................................42 
A Função Típica do Poder Judiciário....................................................................................................42 
O poder Executivo e Sua Função Julgadora........................................................................................44 
Uma Visão Crítica da Atuação dos Órgãos Administrativos de Correição...........................................45 
Conclusões...........................................................................................................................................48 
Referências...........................................................................................................................................50 
 
ATIVIDADES AVALIATIVAS ...............................................................................................................51 
 
 
Textos extraídos do livro: Temas de Direitos Humanos e Segurança Pública, de Flávio Cristiano Costa Oliveira. 
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APRESENTAÇÃO 
 
 
 Apesar dos inegáveis avanços em matéria de divulgação das variadas formas de cultura, a existência de 
políticas públicas de expansão do pensamento e do conhecimento, e alguns modestos exemplos oriundos da 
iniciativa privada, discutir a segurança pública sob um viés holístico ainda continua um desafio, principalmente 
quando mesclam-se os direitos humanos à temática. 
Toda cautela torna-se imprescindível: o zelo pela fidedignidade, sumariamente necessário. 
Com o objetivo de contribuir para a formação e aprimoramento de conhecimentos, esse trabalho foi 
conduzido para garantir a qualidade esperada ao conteúdo e trazer à tona reflexões acerca das temáticas: 
Direitos Humanos e Segurança Pública. 
Esperamos contribuir com as discussões e alicerçar mudanças sobre a realidade que imprime 
desigualdades, e por muitas vezes, opressão e medo. 
Cabe as autoridades e a sociedade como um todo, viabilizarem a construção de um novo mundo, onde o 
“poder” seja convertido a favor da paz para a humanidade. 
 
“Se quiser por à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder”. 
(Abraham H. Maslow ) 
 
 
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Textos extraídos do livro: Temas de Direitos Humanos e Segurança Pública, de Flávio Cristiano Costa Oliveira. 
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CAPÍTULO I 
 
OS LIMITES DA ATUAÇÃO DOS ÓRGÃOS DE CORREIÇÃO NA APURAÇÃO DA 
RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA PRÓPRIA DOS SERVIDORES PÚBLICOS. 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Servidores públicos teriam direito ao reconhecimento de uma esfera de vida íntima e privada, em que 
agiriam em pé de igualdade com os demais cidadãos ou atuariam sempre na condição de servidores públicos? 
A atuação dos órgãos administrativos correcionais, na apuração de faltas disciplinares praticadas, seria 
ilimitada ou encontrariam limites de ordem constitucional? 
Normas estatutárias e disciplinares que procuram regulamentar a vida privada dos servidores públicos 
seriam constitucionais? Objetivando obter respostas a tais questionamentos, foi criado o presente artigo. 
 
A CONDUTA HUMANA 
 
Em sua célebre obra What is justicei: justice, law, and polities in the mirror of Science: collected essays 
[O que é justiça?], o professor Hans Kelsen, dissertando sobre a diferença existente entre os princípios da 
imputação e causalidade, afirma que a conduta humana pode ser definida segundo normas morais, jurídicas e 
religiosas. 
Assim, conforme Kelsen: 
 
Mas se interpretamos a conduta humana definida segundo uma lei moral, religiosa ou jurídica como 
mérito, pecado ou crime, imputamos as conseqüências determinadas pela lei moral, religiosa ou jurídica: 
a recompensa ao mérito, a penitência ao pecado, a punição ao crime, sem imputar o mérito, o pecado, o 
crime a alguma outra coisa ou pessoa. E comum dizer que imputamos o mérito, o pecado, o crime à 
pessoa responsável pela conduta assim caracterizada (KELSEN, 2001, p. 332). 
 
Ao objetivo deste opúsculo, deter-nos-emos às normas jurídicas e morais. A diferença entre as normas 
jurídicas e morais reside, fundamentalmente, na forma de criação e na natureza da sanção. 
Assim, as normas jurídicas são regulamentos de comportamento criadas com base em emanações do 
Estado, a partir de um procedimento legislativo, estando, devidamente, positivadas. Ademais, a sanção 
cominada ao descumprimento de suas prescrições fica a cargo de órgãos e instituições estatais criados pela lei. 
As normas de cunho moral, por seu turno, são produto da vivência social, do costume consagrado, 
daquilo que com o cotidiano e o tempo se convencionou por certo, errado, adequado, justo ou não. A sanção 
pela infringência de normas morais é promovida pelo próprio grupo social que a estabeleceu. Estabelecidos os 
pontos de diferenciação entre normas jurídicas e normas morais, impende aos propósitos deste mister, breves 
considerações acerca das espécies de normas jurídicas. 
 
TIPOS DE RESPONSABILIDADE 
 
Entre as modalidades de normas jurídicas, podemos destacar as normas jurídicas civis, penais e 
administrativas. 
As normas jurídicas civis regulam as relações jurídicas de natureza privada das quais participam os 
sujeitos de direito. 
As normas jurídicas de direito penal regulam a relação jurídica penal estabelecida entre o Estado e o autor 
de condutas que ofendem ou expõem a risco bens ou direitos tutelados pelo ordenamento jurídico. 
As normas jurídicas administrativas, de um lado, regulam as relações jurídicas estabelecidas entre a 
Administração Pública, e, do outro, seus servidores, administrados ou contratados. Ao estudo em questão, 
interessam as normas administrativas que regulam a relação jurídica estabelecida entre a Administração Pública 
Textos extraídos do livro: Temas de Direitos Humanos e Segurança Pública, de Flávio Cristiano Costa Oliveira. 
 
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e seus servidores, mais precisamente, as normas disciplinares. 
A cada categoria de norma jurídica, corresponde uma modalidade de responsabilidade, daí podermos falar 
em responsabilidade civil, penal e administrativa. Nesse sentido, Meireles define: 
 
Responsabilidade administrativa é a que resulta da violação de normas internas da Administração pelo 
servidor sujeito ao estatuto e disposições complementares estabelecidas em lei, decreto ou qualquer outro 
provimento regulamentar da função pública. A falta funcional gera o ilícito administrativo e dá ensejo à 
aplicação de pena disciplinar, pelo superior hierárquico, no devido processo legal (...) A responsabilidade 
civil é a obrigação que se impõe ao servidor de reparar o dano causado à Administração por culpa ou dolo 
no desempenho de suas funções. Não há, para o servidor, responsabilidade objetiva ou sem culpa. A 
responsabilidade nasce com o ato culposo e lesivo e se exaure com a indenização (...). A responsabilidade 
criminal é a que resulta do cometimento de crimes funcionais. O ilícito penal sujeita o servidor a 
responder a processo crime e a suportar os efeitos legais da condenação (MEIRELES, 2009, p. 504, 506, 
509). 
 
Responsabilidade significa a imputação que se faz ao sujeito de direito, pelo fato de ter descumprido uma 
norma jurídica. As modalidades de responsabilidade, em tese, são independentes, entretanto, encontram pontos 
de intersecção e influências por causa de várias circunstâncias, seja por questões probatórias, seja pela primazia 
da esfera de imputação penal. 
Consoante, Meireles diz que: 
 
a responsabilização de que cuida a Constituição é a civil, visto que a administração 
decorre da situação estatutária e a penal está prevista no respectivo Código, em capítulo dedicado aos 
crimes funcionais. Essastrês responsabilidades são independentes e podem ser apuradas conjunta ou 
separadamente. A condenação criminal implica, entretanto, o reconhecimento automático das duas outras, 
porque o ilícito penal é mais que o ilícito administrativo e o ilícito civil. Assim sendo, a condenação 
criminal por um delito funcional importa o reconhecimento, também, de culpa administrativa e civil, mas 
a absolvição no crime nem sempre isenta o servidor destas responsabilidades, porque pode não haver 
ilícito penal e existir ilícito administrativo e civil (Idem, p. 507). 
 
O fato é que tanto a conduta de um cidadão quanto a de um servidor público podem ensejar 
responsabilidades de natureza civil, penal e administrativa. 
Como exemplo, está o cidadão que, sem ser habilitado, dirige veículo automotor vindo a atropelar e 
vitimar pedestre. Civilmente terá que arcar com as despesas do funeral e indenizar materialmente e moralmente 
os parentes e dependentes da vítima. Penalmente, em tese, responderá ação penal pelo crime de homicídio 
culposo na modalidade de imperícia. Administrativamente, sofrerá as imposições administrativas que o Código 
de Trânsito Brasileiro dispuser. 
Em situação similar, pode-se citar o servidor público que, estando no seu horário de expediente, vem a 
ofender a esfera de interesses de um usuário. Dependendo da amplitude da conduta, responderá civil, penal e 
administrativamente. Ao tema, interessa as modalidades de responsabilidade afetas aos servidores públicos. 
Ocorre que existe diferença entre a responsabilidade administrativa aplicável ao cidadão e aquela 
aplicável ao servidor. 
A responsabilidade administrativa do cidadão pode ser chamada de imprópria, uma vez que não existe 
relação jurídica de vinculação de direito público entre ele e a Administração Pública. Já a responsabilidade 
administrativa imputada ao servidor público pode ser qualificada como própria ou disciplinar, uma vez que 
existe relação jurídica de vinculação de direito público entre o servidor e a Administração Pública. 
A diferença entre as três modalidades de responsabilidades são: 
 
a) originariamente, as responsabilidades penal e civil são avaliadas por uma autoridade judicial, 
enquanto, originariamente, a responsabilidade administrativa do servidor público é avaliada por autoridades 
administrativas, onde, apenas pelo princípio da inafastabilidade da jurisdição, poderá chegar ao crivo de uma 
autoridade judicial que, ainda assim, se limitará a analisar aspectos formais e não de mérito; 
b) as responsabilidades civil e penal são promovidas por meio de ações judiciais, no âmbito do 
processo judicial, enquanto que a responsabilidade administrativa do servidor público é promovida por meio de 
Textos extraídos do livro: Temas de Direitos Humanos e Segurança Pública, de Flávio Cristiano Costa Oliveira. 
 
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um processo sui generis de natureza administrativa, ao qual se procura aplicar princípios reguladores do 
processo judicial; 
c) as autoridades judiciárias são dotadas de amplas garantias que a protegem de ingerências 
internas ou externas no exercício da função jurisdicional, enquanto que as autoridades administrativas são 
desprovidas de mecanismos legais suficientes que a tomem incólumes de sofrerem interferências endógenas ou 
exógenas ao ambiente administrativo. 
 
Neste momento da exposição, vale salientar que a incidência da responsabilidade administrativa própria 
dos servidores públicos enfrentam limitações em normas legais de natureza constitucional e infraconstitucional, 
queremos dizer, na Constituição Federal e no Código Civil Brasileiro. 
 
VIDA ÍNTIMA E CONDUTA PRIVADA 
 
O inciso X do artigo 5o da Constituição Federal Brasileira promulgada em 1988, tutela sob o manto pétreo 
e imutável dos Direitos Fundamentais, o direito à inviolabilidade da intimidade e da vida íntima, seja o titular 
brasileiro, nato ou naturalizado, servidor público ou não, garantindo ainda o direito de indenização pelo dano 
material ou moral decorrente de sua violação. 
De acordo com, Moraes: 
 
Os conceitos constitucionais de intimidade e vida privada apresentam grande interligação, podendo, 
porém, ser diferenciados por meio da menor amplitude do primeiro, que se encontra no âmbito de 
incidência do segundo (...) No restrito âmbito familiar, os direitos à intimidade e vida privada devem ser 
interpretados de uma forma mais ampla, levando-se em conta as delicadas, sentimentais e importantes 
relações familiares, devendo haver maior cuidado em qualquer intromissão externa (MORAES, 2007, p. 
49). 
 
No mesmo sentido, Barros complementa: 
 
Assim, o direito à privacidade, que é um reflexo do direito à vida, compreende o direito à intimidade, vida 
privada, honra e imagem das pessoas. No capítulo dos Direitos da Personalidade, o Código Civil 
disciplina apenas a imagem e a vida privada (...) A vida privada ou vida interior compreende as relações 
da pessoa com sua família e seus amigos. A Magna Carta assegura a sua inviolabilidade. Portanto, não 
pode ser perturbada, investigada e muito menos divulgada (...) É, pois, vedada a interceptação telefônica 
em processo civil (...) Como salienta José Afonso da Silva, os eventos relevantes da vida pessoal e 
familiar não podem ser levados ao conhecimento público (BARROS, 2005, p. 111). 
 
Seguindo a mesma esteira, o artigo 21 do Código Civil Brasileiro afirma que “a vida privada da pessoa 
natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará as providências necessárias para impedir ou 
fazer cessar ato contrário a esta norma”. 
Com base em tais normas, percebe-se que ao indivíduo, mesmo sendo um servidor público, é garantido 
um momento, um núcleo quase inatingível de natureza íntima e privada, em que ele não atua na qualidade de 
servidor público, mas como um cidadão comum, praticando atos e negócios jurídicos cujas conseqüências, 
positivas ou negativas, somente a ele podem ser imputadas. 
Vários outros dispositivos legais ratificam tal entendimento. No artigo 37, § 6o da Constituição Federal de 
1988, estabelece-se como condição para o surgimento da responsabilidade civil objetiva do Estado, que o agente 
público tenha agido na qualidade de agente público. Logo, mutatis mutandis, o próprio Estado reconhece que 
existe um momento em que o agente público não age nesta qualidade, hipótese em que não cabe ao Estado ser 
garantidor desta atuação. 
In verbis: 
 
As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos 
responderão pelos danos que seus servidores, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito 
de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. 
 
Textos extraídos do livro: Temas de Direitos Humanos e Segurança Pública, de Flávio Cristiano Costa Oliveira. 
 
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O próprio Código Penal Brasileiro, em seu artigo 331, em harmonia como nosso entendimento, somente 
resguarda a autoridade do servidor público quando este estiver no exercício de suas funções ou agir em razão 
dela. 
Uníssono com tal inteligência, o pensamento do professor Meireles (2009, p. 504), segundo o qual os 
servidores públicos, no desempenho de suas funções ou a pretexto de exercê-las, podem cometer infrações de 
ordem administrativa, criminal e civil. 
Estando em sua esfera particular, íntima ou privada de convivência, agindo em patamar de igualdade 
como os demais cidadãos, ao servidor público somente pode ser imputada responsabilidade civil, penal e 
administrativa imprópria (a mesma imputada ao cidadão comum), mas nunca administrativa própria ou 
disciplinar, pois não pode cometer infração administrativa quem não está no exercício da função pública e nem 
age em razão dela. 
Imaginem a seguinte hipótese absurda: servidor público estadual e casado, almejando obter a importância 
de R$ 100 mil reais no banco, sob a forma de empréstimo, sem obter êxito, haja vista insuficiência de renda. Em 
conluio com a esposa, agride-a fisicamente e moralmente no âmbito doméstico. Ela, valendo-sede norma 
administrativa que estabelece, como dever funcional, que o servidor público mantenha conduta privada 
compatível com a dignidade da função pública que exerce, dá ensejo à instauração de Processo Administrativo 
Disciplinar (PAD) que culmine com a condenação do servidor público confesso. De posse de uma cópia do 
respectivo PAD, meio de prova valiosa do fato, dano e nexo de causalidade, obtém a condenação do Estado, na 
esfera judicial, a indenizar-lhe a importância pretendida. E inegável que seu esposo desfrutará o valor e, caso 
seja condenado à indenização regressiva, a importância será descontada em cômodas prestações, melhor do que 
os juros nos empréstimos bancários. 
Por tais razões, o ato de algumas Administrações Públicas Policiais que, a pretexto de auxiliar na proteção 
à vida de seus servidores policiais, permitem que estes levem para suas casas suas respectivas armas funcionais, 
não pode ser considerado vantajoso para o policial sob o ponto de vista da responsabilidade administrativa. 
Ora, a arma funcional, sob o prisma jurídico, constitui um bem público de uso especial, pois se encontra 
destinada a uma finalidade específica, ou seja, à garantia da segurança pública da coletividade e não da esfera 
particular do servidor que a utiliza. 
Assim, levando para sua vida privada um bem público de uso especial, o servidor, indiretamente, estará 
dando ensejo á que a responsabilidade administrativa disciplinar possa incidir em sua esfera íntima e privada, 
pois tenderá a agir em razão da função, ou seja, utilizando-se de um bem público. 
Assim, para evitar tal inconveniente, seria mais correto que, ao encerrar seu expediente, o servidor 
deixasse todos os bens de uso especial em poder da Administração Pública e adquirisse uma arma particular 
como forma de preservar sua esfera de vida íntima e privada. Destarte, estando em seu âmbito de vida privado e 
íntimo, caso fizesse uso de uma arma de fogo de uso particular, tal servidor somente poderia responder 
civilmente e penalmente, evitando, dessa forma, a responsabilidade disciplinar e seus inconvenientes. 
Por derradeiro é completamente equivocada a concepção de certos servidores públicos, pela 
essencialidade de suas atribuições, de que são servidores públicos durante as 24 horas do dia, todos os dias da 
semana, pois: 
 
a) o trabalho escravo, sem limite de horário e tarefas, é incompatível com as convenções e os tratados 
internacionais, em matéria trabalhista, e com a Constituição Federal de 1988; 
b) o § 3o do artigo 39 da Constituição Federal prevê expressamente a aplicação de vários direitos 
trabalhistas aos ocupantes de cargos públicos, entre os quais a limitação da jornada de trabalho, o direito ao 
repouso semanal remunerado, o gozo de ferias e licenças; 
c) enquanto o servidor público não estiver no exercício de sua função, normas administrativas organizarão 
a prestação do serviço em regime de plantão para que sobre estes servidores recaia o dever jurídico de agir nas 
situações emergenciais; 
d) o lazer e a convivência familiar merecem especial proteção do Estado. 
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ESTADO, DISCIPLINA E CONSTITUCIONALIDADE 
 
A questão principal, que nos motivou a publicar tal artigo é que, no escopo de ter domínio sobre todos os 
aspectos da vida do servidor público, o Estado acaba fazendo aprovar normas estatutárias cujo conteúdo, às 
vezes, invade, insofismavelmente, a esfera de existência íntima e privada dos seus agentes administrativos. 
Tais normas invasoras costumam ter o seguinte conteúdo: o servidor público deve manter conduta pública 
e privada compatível com a dignidade da função pública que exerce. Quanto à exigência de que, no ambiente 
público, o servidor tenha conduta pública compatível com a dignidade de sua função, tal exigência não oferece 
grandes questionamentos. 
O problema é quando o Estado se utiliza dessa norma para justificar a instauração de procedimentos 
disciplinares administrativos, como sindicâncias investigatórias, sindicâncias administrativas ou processos 
administrativos disciplinares, com o espeque de adentrar e expor a vida íntima e privada de seus servidores. 
O fato de o controle preventivo de constitucionalidade, exercido pelas Comissões de Constituição e 
Justiça dos órgãos legislativos e pelo veto do chefe do Poder Executivo, não ter funcionado, não significa que o 
controle repressivo de constitucionalidade não possa extirpar do ordenamento jurídico, pela via de ação ou de 
exceção, normas estatutárias disciplinares invasoras da vida privada e íntima dos servidores públicos. 
Segundo Moraes: 
 
Dentro deste procedimento, podemos vislumbrar duas hipóteses de controle preventivo de 
constitucionalidade, que buscam evitar o ingresso no ordenamento jurídico de leis inconstitucionais: as 
comissões de constituição e justiça e o veto jurídico (...). No Direito Constitucional Brasileiro, em regra, 
foi adotado o controle de constitucionalidade repressivo jurídico ou judiciário, em que é o próprio Poder 
Judiciário quem realiza o controle (...) Há dois sistemas ou métodos de controle Judiciário de 
Constitucionalidade repressiva. O primeiro denomina-se reservado ou concentrado (via de ação), e o 
segundo, difuso ou aberto (via de exceção ou defesa). Excepcionalmente, porém, a Constituição Federal 
previu duas hipóteses em que o controle de constitucionalidade repressivo será realizado pelo próprio 
Poder legislativo (MORAES, 2007, p. 696-697). 
 
Pela inteligência do escorço jurídico retrodito, é claro que normas disciplinares violadoras da intimidade 
do servidor público padecem de inconstitucional idade material e podem perfeitamente ser retiradas da ordem 
jurídica em virtude da ofensa frontal a um dos direitos fundamentais, um dos pilares do Estado Democrático de 
Direito. 
Assim, qualquer servidor público que estiver sofrendo, ou ameaçado de sofrer, violação em sua vida 
íntima e privada, pela instauração de procedimento administrativo disciplinar, instaurado com fulcro em norma 
disciplinar, invasiva e inconstitucional, poderá fazer uso do mandado de segurança, preventivo (visando 
trancamento) ou repressivo (visando declaração incidental da inconstitucionalidade); é o remédio, genuinamente 
brasileiro, utilizado na tutela de direito líquido e certo, não amparado por hábeas-corpus ou hábeas-data, 
impetrado perante a autoridade judiciária competente para julgar ato da autoridade administrativa ou política 
responsável pela instauração do indevido procedimento administrativo disciplinar. 
 
CONCLUSÕES 
 
A responsabilidade administrativa própria de servidores públicos somente tem respaldo jurídico quando 
visar apurar a conduta do servidor que estiver no exercício da função pública ou ter agido em função desta. A 
conduta íntima e privada do servidor, por expresso dispositivo constitucional, encontra-se imune à incidência de 
normas administrativas disciplinares. 
Sua esfera privada somente permite a responsabilidade civil, penal e administrativa imprópria, uma vez 
que em tal âmbito, o servidor age em pé de igualdade com os demais cidadãos. A invasão do aspecto íntimo da 
vida do servidor público possui os seguintes infortúnios: 
a) coloca, injustamente, o Estado na condição de garantidor das condutas privadas de seus 
servidores; 
Textos extraídos do livro: Temas de Direitos Humanos e Segurança Pública, de Flávio Cristiano Costa Oliveira. 
 
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b) limita os argumentos de defesa dos procuradores do Estado na defesa judicial dos interesses do 
Estado; 
c) abre oportunidade a ações de responsabilidade civil por danos materiais e morais do servidor em 
face do Estado por violação da esfera íntima de vida. 
 
A priori, normas disciplinares invasivas podem ter sua constitucionalidade questionada de forma 
repressiva, seja pela via de ação ou de exceção. A única forma de preservar tais normas em harmonia com a 
Constituição é interpretar que,apesar de positivadas, estas têm a natureza de um mero indicativo moral ou ético, 
similar à natureza das normas morais. 
 
REFERÊNCIAS 
 
BARROS, Flávio Augusto Monteiro de. Manual de direito civil: lei de introdução e parte geral. São Paulo: 
Método, 2005. v. 1. 
 
FILHO, José dos Santos Carvalho. Manual de direito administrativo. 22. ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2009. 
 
KELSEN, Hans. O que é justiçai: a justiça, o direito e a política no espelho da ciência. Tradução de Luís Carlos 
Borges. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001. 
 
_________. Teoria pura do direito. Tradução de João Batista Machado. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. 
 
MEIRELES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 22. ed. São Paulo. Malheiros, 2004. 
 
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 36. ed. São Paulo: Malheiros, 2009. 
 
MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 24. ed. São Paulo: Atlas, 2007. 
 
PIETRO, Maria Sylvia Zanella Di. Direito administrativo. 22. ed. São Paulo: Atlas, 2009. 
 
Exercícios de Síntese 
 
01- Kelsen afirma que a conduta humana pode ser definida segundo normas morais, jurídicas e religiosas. 
Limitando-se aos elementos que compõem as normas morais e jurídicas, segundo o conteúdo, quais as 
principais características de cada norma? ________________________________________________________ 
__________________________________________________________________________________________ 
__________________________________________________________________________________________ 
__________________________________________________________________________________________ 
__________________________________________________________________________________________ 
__________________________________________________________________________________________ 
__________________________________________________________________________________________ 
__________________________________________________________________________________________ 
 
02- De acordo com o estudo, a responsabilidade administrativa própria de servidores públicos somente tem 
respaldo jurídico em que situações? _____________________________________________________________ 
__________________________________________________________________________________________ 
__________________________________________________________________________________________ 
__________________________________________________________________________________________ 
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Textos extraídos do livro: Temas de Direitos Humanos e Segurança Pública, de Flávio Cristiano Costa Oliveira. 
 
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CAPITULO II 
 
A ABRANGÊNCIA DO PRINCÍPIO DA HIERARQUIA NO ÂMBITO DA POLÍCIA 
CIVIL 
 
INTRODUÇÃO 
 
O assunto principal deste despretensioso desiderato é buscar a amplitude hermenêutica do Princípio da 
Hierarquia Policial, aplicável no âmbito das organizações policiais civis. 
Entretanto, temas correlatos de não menos importância também foram abordados, por exemplo, a 
natureza jurídica das polícias civis e as limitações processuais, ou seja, da legitimidade ativa de seus órgãos 
componentes. 
A diferença entre governo e Administração Pública, outros sim, a responsabilidade política e 
administrativa, de agentes políticos e agentes administrativos. 
Por derradeiro, a relação específica entre o Princípio da Hierarquia Policial, o preenchimento dos cargos 
públicos de direção, chefia e assessoramento e a formação das comissões de processo administrativo disciplinar. 
 
NATUREZA JURÍDICA DAS POLÍCIAS CIVIS 
 
Tomando por paradigma o artigo 144 e respectivos parágrafos da Constituição da República Federativa 
Brasileira, promulgada em 5 de outubro de 1988, podemos conceituar as polícias civis como: os órgãos 
administrativos, isto e, desprovidos de personalidade jurídica, integrantes da estrutura da Administração Pública 
Direta do Poder Executivo dos Estados-membros, vinculadas e subordinadas aos chefes do Poder Executivo 
Estaduais, inclusive do Distrito Federal, com a incumbência de, ressalvada a competência da União, as funções 
de polícia judiciária e a apuração de infrações penais exceto as militares. 
A forma federativa de Estado justifica o fato de o termo ser usado no plural, uma vez que cada Estado-
membro e o Distrito Federal são responsáveis pela organização e manutenção de suas polícias civis. 
Textualmente, a Constituição Federal de 1988 preferiu criá-las sob a natureza jurídica de órgãos, em 
contraposição às instituições. Estas últimas, são entes dotados de personalidade jurídica e aqueles, são entes 
despersonalizados, integrantes de uma pessoa jurídica, esta sim, dotada de personalidade jurídica. 
Em nível estadual, a partir do estudo das leis que regem as polícias civis, podemos identificar outros 
órgãos que lhes são relacionados. 
 
CLASSIFICAÇÃO DOS ÓRGÃOS PÚBLICOS 
 
A partir da posição estatal que ocupem, Meirelles classifica os órgãos públicos em: independentes, 
autônomos, superiores e subalternos. 
Nas palavras deste professor: 
 
Quanto à posição estatal, ou seja, relativamente à posição ocupada pelos órgãos na escala governamental 
ou administrativa, eles se classificam em: independentes, autônomos, superiores e subalternos. Órgãos 
independentes são os originários da Constituição e representativos dos Poderes de Estado Legislativo, 
Executivo e Judiciário colocados no ápice da pirâmide governamental, sem qualquer subordinação 
hierárquica ou funcional, e só sujeitos aos controles constitucionais de um Poder pelo outro (...) Órgãos 
autônomos são os localizados na cúpula da Administração, imediatamente abaixo dos órgãos 
independentes e diretamente subordinados a seus chefes. Têm ampla autonomia administrativa, financeira 
e técnica, caracterizando-se como órgãos diretivos, com funções precípuas de planejamento, supervisão, 
coordenação e controle das atividades que constituem sua área de competência (...) Órgãos superiores são 
os que detêm poder de direção, controle, decisão e comando dos assuntos de sua competência específica, 
mas sempre sujeitos à subordinação e ao controle hierárquico de uma chefia mais alta (...) Órgãos 
subalternos são todos aqueles que se acham hierarquizados a órgãos mais elevados, com reduzido poder 
decisório e predominância de atribuições de execução (MEIRELES, 2009, p. 71-72). 
Assim, aplicando a teoria da classificação dos órgãos administrativos aos órgãos que compõem a 
Textos extraídos do livro: Temas de Direitos Humanos e Segurança Pública, de Flávio Cristiano Costa Oliveira. 
 
11 
 
Administração Policial, teremos: 
 
a) os órgãos independentes previstos, textualmente, nas Constituições Estaduais são ocupados por 
agentes políticos que executam suas atribuições sem qualquer subordinação ou hierarquia funcional. Por 
exemplo, as governadorias dos Estados-membros; 
b) os órgãos autônomos, também ocupados por agentes políticos que, hierarquicamente, situam-se 
logo após os órgãos independentes. São dotados de ampla autonomia administrativa, financeira, orçamentária e 
técnica. Por exemplo, as secretarias de Estado; 
c) os órgãos superiores, desprovidos de autonomia administrativa, financeira e orçamentária. Seus 
ocupantes possuem atribuições de direção, controle e decisão. Por exemplo, as delegacias-gerais, as 
corregedorias, as superintendências, as coordenadorias, as gerências etc. 
d) os órgãos subalternos, aqueles cujos ocupantes, os agentes administrativos, são responsáveis 
pelas atribuiçõesde execução dos serviços de segurança pública afetos às polícias civis. Por exemplo, as 
Delegacias de Polícia, as Centrais de Flagrante etc. 
 
GOVERNO, POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 
Assim, a partir de tal classificação, podemos explicar a diferença existente entre governo e Administração 
Pública Policial. 
Ao governo, composto por órgãos governamentais de primeiro escalão (órgãos independentes e 
autônomos), compete apenas traçar os planos e as diretrizes de ação, ou seja, cabe cuidar da política de 
segurança pública. Resumindo, a tese de governo relaciona-se com a função política e comando, de iniciativa e 
de estabelecimento de objetivos e diretrizes do Estado. 
A Administração Pública Policial, composta por órgãos administrativos subordinados e de execução 
(órgãos superiores e subalternos), incumbe executar os planos governamentais, ou seja, executar o serviço de 
segurança pública designado pela Constituição Federal. 
Nesse sentido, vale citar a definição de Meirelles: 
 
A constante, porém, do Governo é a sua expressão política de comando, de iniciativa, de fixação de 
objetivos do Estado e de manutenção da ordem jurídica vigente. O Governo atua mediante atos e 
soberania ou, pelo menos, de autonomia política na condução dos negócios públicos (...) Numa visão 
global, a Administração é, pois, todo o aparelhamento do Estado preordenado à realização de serviços, 
visando à satisfação das necessidades coletivas. A Administração não pratica atos de governo; pratica, tão 
somente, atos de execução (...) O Governo comanda com responsabilidade constitucional e política, mas 
sem responsabilidade profissional pela execução; a Administração executa sem responsabilidade 
constitucional ou política, mas com responsabilidade técnica e legal pela execução (Idem, p. 65-66). 
 
Na prática, por questões históricas e culturais, relacionadas com a dinâmica das instituições públicas e 
políticas brasileiras, outros sim, haja vista os ocupantes dos órgãos superiores, geralmente, serem de livre 
escolha dos ocupantes dos órgãos independentes e autônomos; os exercentes das funções políticas tendem a 
adentrar no espaço reservado, constitucionalmente, aos ocupantes das funções administrativas, podendo, enfim, 
transformar Administração em arena política. 
Podemos citar três casos emblemáticos, amplamente divulgados pelos meios eletrônicos de comunicação, 
em que agentes políticos, supostamente abusando das prerrogativas dos cargos ocupados, teriam praticado atos 
que, em tese, ensejariam responsabilidade política e interfeririam, mesmo que indiretamente, na execução das 
funções policiais. 
O primeiro exemplo diz respeito ao ex-secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo: 
 
Secretário da Segurança Pública de São Paulo será investigado pela Procuradoria Geral de Justiça por 
suspeita de abuso de poder. No dia 14 deste mês, um sábado, preso no trânsito de São Paulo, o secretário 
teria acionado um grupo de elite da Polícia Civil - responsável por conter rebeliões em cadeias - para 
averiguar quem eram os responsáveis pelo congestionamento. Dirigia-se ao restaurante Kosushi, no Itaim 
Bibi (zona oeste). Com isso, o empresário, sócio do próprio restaurante e o manobrista foram algemados, 
Textos extraídos do livro: Temas de Direitos Humanos e Segurança Pública, de Flávio Cristiano Costa Oliveira. 
 
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colocados em uma Blazer e levados à delegacia sob acusação de obstruir com cavaletes o trânsito da rua 
Viradouro onde fica o restaurante. Posteriormente, a polícia descobriu que os cavaletes haviam sido 
colocados pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), pois havia uma festa de Pentecostes, 
promovida pela igreja local, na rua Clodomiro Amazonas. A CET confirma a informação (Disponível em 
http://wwwl.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ ult95ul 09556.shtml). 
 
 O segundo exemplo refere-se ao ex-secretário de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro: 
 
“O ex-governador foi denunciado pelo fato de garantir politicamente a manutenção de um grupo à frente 
da Polícia Civil. Tiveram a prisão preventiva decretada, para garantia da ordem pública e da instrução 
criminal, alguns policiais civis. O Ministério Público Federal está convicto de que uma organização 
criminosa atuou durante mais de seis anos no governo do Estado do Rio, especificamente na Secretaria de 
Segurança Pública. Nesse período, um grande grupo de policiais civis sentiu-se livre para intimidar 
diversos infratores em detrimento da segurança pública. Em várias delegacias, os denunciados faziam 
vista grossa a condutas ilegais em troca de altas quantias”, afirma o procurador regional da República 
Maurício da Rocha Ribeiro (Disponível em http://www2.prr2.mpf.gov.br:8082/internet/noti- cias/prr-2-
denuncia-garotinho - Álvaro - Lins- e - outros-14). 
 
Por último, está o exemplo do ex-secretário de Estado de Segurança Pública, Defesa e Cidadania do 
Estado de Rondônia: 
 
O ex-secretário de Estado de Segurança Pública, Defesa e Cidadania foi condenado à perda da função 
pública que estiver exercendo após o trânsito em julgado desta decisão, suspensão dos direitos políticos 
por 5 anos e multa civil correspondente a 3 vezes o valor da remuneração que recebia ao tempo da 
propositura da ação. A ex-vereadora do município de Porto Velho sofreu as mesmas sanções, com 
exceção da suspensão dos direitos políticos, estipulado em 3 anos. Segundo consta nos autos, o réu na 
condição de secretário de Segurança do Estado de Rondônia, como superior hierárquico, utilizou-se da 
estrutura da Secretaria sob o seu comando, em especial do Corpo de Bombeiros e Policiais Militares, em 
benefício da campanha política da ré, sua esposa que concorria em 2004 ao cargo de vereadora 
(Disponível em http://www.tudorondonia.com/ler. php?id=14192). 
 
Não obstante “o fenômeno patológico do carreirismo” e a cultura da subserviência terem transformado a 
ingerência de agentes políticos nos assuntos afetos aos agentes administrativos, numa coisa, aparentemente, 
normal, em tese, tal fato poderia configurar crime de responsabilidade. 
Nos termos da Lei 1.079/50, crimes de responsabilidade são infrações político-administrativas, diferentes 
das infrações penais, aplicáveis aos agentes políticos, aos quais se podem impor sanções de natureza política, 
ainda que tais condutas sejam simplesmente tentadas. 
A Constituição Federal de 1988 prevê em seu artigo 52, parágrafo único, duas espécies de sanções 
autônomas e cumulativas que podem ser aplicadas caso haja condenação por crime de responsabilidade: perda 
do cargo e inabilitação por oito anos para o exercício de função pública. 
 
RESPONSABILIDADE POLÍTICA 
 
Acerca da responsabilidade política, define Moraes: 
 
No Brasil, as Leis nos. 27 e 30, de 1982, regulamentadoras dos crimes de responsabilidades cometidos 
pelo Presidente da República, previam a aplicação somente da pena de perda do cargo, podendo esta ser 
agravada com a pena de inabilitação para exercer qualquer outro cargo (art. 33,§ 3o, da Constituição 
Federal de 1981; art. 2o da Lei n° 30, de 1982), dando à pena de inabilitação o caráter de pena acessória 
(Lei n° 27, de 1982, artes. 23 e 24). Atualmente, a Lei n° 1.079/50, em seus artes. 2o, 31, 33 e 34, não 
prevê a possibilidade da aplicação da pena de perda do cargo, apenas, nem a pena de inabilitação assume 
caráter de acessoriedade (art. 52, parágrafo único, da Constituição de 1988). (Idem, 2007, p. 469). 
 
Entre os crimes de responsabilidade mais comuns, praticados pelos agentes políticos em face dos agentes 
administrativos que lhes são vinculados, podemos citar alguns exemplos textuais da Lei n° 1.079/1950: 
I - servir-se das autoridades sob sua subordinação imediata para praticar abuso de poder, ou tolerar que 
essas autoridades o pratiquem sem repressão sua; 
II- provocar animosidade entre as classes armadas, ou contra elas, ou delas contra as instituições civis; 
III- infringir, no provimento dos cargos públicos, as normas legais; 
Textos extraídosdo livro: Temas de Direitos Humanos e Segurança Pública, de Flávio Cristiano Costa Oliveira. 
 
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IV- usar de violência ou ameaça contra funcionário público para coagi-lo a proceder ilegalmente, 
bem como utilizar-se de suborno ou de qualquer outra forma de corrupção para o mesmo fim; 
V- proceder de modo incompatível com a dignidade, a honra e o decoro do cargo; 
VI- não tomar efetiva a responsabilidade dos seus subordinados quando manifesta em delitos 
funcionais ou na prática de atos contrários à Constituição. 
 
A utilização da ação do Mandado de Segurança por parte de agentes administrativos, com o objetivo de 
proteger suas funções de execução administrativa em face da possível usurpação por parte de agentes políticos, 
não parece ser o meio mais adequado. 
De acordo com a doutrina pátria majoritária, apenas órgãos de primeiro escalão possuem legitimidade 
ativa para impetrar mandado de Segurança em defesa de suas atribuições constitucionais, conforme Moraes: 
 
Assim, os órgãos públicos despersonalizados, como por exemplo, Mesas das Casas legislativas, 
Presidências dos Tribunais, chefias do Ministério Público e do Tribunal de Contas, são legitimados para o 
ajuizamento de mandado de segurança em relação a sua área de atuação funcional e em defesa de suas 
atribuições institucionais (Idem, p. 150). 
 
Do exposto, qualquer cidadão, servidor público ou não, que esteja sendo vítima de atos de tal natureza ou 
tome ciência destes, poderá denunciar o(s) agente(s) político(s) estadual(ais), por crime de responsabilidade 
perante a Assembléia Legislativa do Estado respectivo (cf. Lei n° 1.079/1950). 
Diante dos elevados Poderes e Prerrogativas Constitucionais, aplicáveis aos agentes políticos, esta e a 
forma mais eficaz de que dispõe os agentes administrativos para proteger-se das possíveis ingerências políticas 
que venham a atuar sobre a esfera administrativa, uma vez que os agentes políticos não se submetem à 
hierarquia administrativa. 
 
PRINCÍPIO DA HIERARQUIA 
 
Os órgãos e servidores policiais civis que fazem parte dos corpos de policias estaduais estão sujeitos a 
duas modalidades do princípio hierárquico. 
A primeira delas é genérica e implícita. Genérica porque é aplicável a todos os demais órgãos e servidores 
administrativos. Implícita porque decorre do escalonamento hierárquico, inteligível do próprio sistema de 
organização administrativa. 
A segunda modalidade de princípio hierárquico é específica e expressa, pois é aplicável ao ambiente e 
regime e trabalho policial e, geralmente, vem de forma textual nos estatutos estaduais que regulamentam os 
órgãos policiais. 
Por exemplo, conforme o artigo 4o da Lei Complementar Estadual n° 37, de 9 de março de 2004 (Estatuto 
da Polícia Civil do Estado do Piauí), estabelece, expressamente que a Polícia Civil, por suas características e 
finalidades, fundamenta-se na hierarquia e disciplina. 
Em ambas as formas, o princípio da hierarquia significa que existem graus de subordinação 
administrativa entre os diversos órgãos e agentes. Ademais, a distribuição das funções deve considerar o 
escalonamento hierárquico. 
Os ocupantes dos órgãos superiores na organização policial (delegado-gerais, superintendentes, 
corregedores), para exercer suas atribuições diretivas, são dotados de certos poderes, denominados de 
instrumentais, pois visam auxiliar o Estado a cumprir seus fins. Entre os exemplos estão o Poder Hierárquico, o 
Poder Disciplinar e o Poder Regulamentar. 
Entretanto, não raro, certas Constituições Estaduais e Leis Estaduais, que organizam as respectivas 
polícias civis, em relação ao preenchimento dos cargos superiores e de direção, não textualizam pré-requisitos 
relacionados com a hierarquia policial. 
Desta maneira, podem induzir a erro grosseiro os agentes políticos que possuam uma visão estática do 
Direito e que privilegiam o método gramatical e isolado, como sendo a melhor opção hermenêutica. Enfim, a 
Textos extraídos do livro: Temas de Direitos Humanos e Segurança Pública, de Flávio Cristiano Costa Oliveira. 
 
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falsa idéia de que estão livres para selecionar aos cargos superiores e de direção com qualquer membro da 
carreira policial que estivesse apto a seguir as diretrizes políticas. 
Sobre os métodos de interpretação das normas, Machado esclarece que: 
 
a) Gramatical. Este método sugere que o intérprete investigue antes de tudo o significado gramatical das 
palavras usadas no texto legal em exame. O instrumento de trabalho é o dicionário da língua. Importa 
sobretudo a etimologia dos vocábulos (...) O elemento literal, embora indispensável, quando utilizado 
isoladamente pode levar a verdadeiros absurdos (...); b) Histórico. Neste método o sentido da norma é 
buscado com o exame da situação a que a mesma se refere através dos tempos. Investiga-se o Direito 
Anterior (...); c) Sistemático ou Lógico. Neste método, procura o intérprete o sentido da regra jurídica 
verificando a posição em que a mesma se encarta no diploma legal e as relações desta com as demais 
regras no mesmo contidas. Confronta-se a regra em exame com todo o sistema jurídico de que faz parte 
(...); d) Teleológico. Com este método, o intérprete empresta maior relevância ao elemento finalístico. 
Busca o sentido da regra jurídica tendo em vista o fim para o qual foi ela elaborada. Fundamenta-se em 
que todo o Direito tende a um fim, tem uma finalidade, e esta finalidade deve ser considerada na 
interpretação (MACHADO, 2010, p. 112-113). 
 
Entretanto, devemos considerar que o Direito é uno, ou seja, é integrado por um universo de normas e 
fontes, constitucionais e infraconstitucionais, as quais denominamos de ordenamento jurídico, outrossim, que o 
intérprete deve considerar as demais espécies normativas aplicáveis, entre as quais, o princípio da hierarquia 
policial, expresso ou implícito. 
Assim, por uma questão de interpretação sistemática, lógica e teleológica, o ocupante de um espaço 
público, organizado em carreira, de onde emanam manifestações do Poder Hierárquico, Disciplinar e 
Regulamentar, que são dirigidos a todos os demais servidores, deveria, obrigatoriamente, sob pena de 
ilegalidade e ofensa ao princípio da hierarquia policial, ser ocupante de cargo público que correspondesse ao 
último grau na carreira. 
Ou seja, mesmo que a Constituição Estadual ou uma lei estatutária fossem aparentemente permissivas, o 
princípio da hierarquia policial, expresso ou implícito, impediria que um superintendente, delegado-geral ou 
corregedor não fossem um dos ocupantes dos cargos de maior hierarquia na carreira, pois os atos que destas 
autoridades emanariam teriam por destinatários todos os demais servidores comandados. 
O projeto de lei que institui a Lei Geral das Polícias Civis Brasileiras, enviado ao Congresso nacional 
com fulcro na competência concorrente da União, para legislar sobre os direitos, deveres e organização das 
polícias civis, possui orientação uníssona ao nosso modesto entendimento. 
A prova do alegado é que o artigo 3o, inciso VIII, do referido projeto de lei estabelece que a hierarquia e 
disciplina funcionais são princípios institucionais da Polícia Civil. Outros sim, de acordo com o artigo 13 do 
referido projeto de lei, a Polícia Civil terá por chefe o delegado-geral de Polícia, que será escolhido entre os 
delegados de polícia de carreira, com observância da hierarquia. 
Qual seria o remédio jurídico, caso um agente político, mediante decreto ou portaria, nomeasse para 
ocupar tais cargos, servidores que ocupassem cargos intermediários da carreira policial? 
Ora, o direito de ver respeitado o princípio da hierarquia policial é, em tese, um direito de natureza difusa 
e coletiva. Difusa, porque é interesse de toda a sociedade de que as leis sejam cumpridas. Coletiva, porque, os 
servidores públicos policiais, diretamente interessados, estão ligados entre si por uma relação jurídica-base, ou 
seja, a vinculação de Direito Público e jurídica com a Administração Pública. 
O conceitodas espécies de Direitos Transindividuais ou Metaindividuais é-nos dado pelo artigo 81, 
parágrafo único do Código de Defesa do Consumidor: 
1) interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste Código, os transindividuais, 
de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato; 
2) interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste Código, os transindividuais 
de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte 
contrária por uma relação jurídica-base; 
3) interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem 
comum. 
Textos extraídos do livro: Temas de Direitos Humanos e Segurança Pública, de Flávio Cristiano Costa Oliveira. 
 
15 
 
Assim, para evitar o efeito multiplicador de demandas individuais, tanto poderia ser impetrada Ação Civil 
Pública ou Ação Popular, perante a justiça, visando a anulação dos atos de nomeação que tenham constituídos 
ilegalmente as autoridades em tela, cujas sentenças teriam efeitos retroativos para atingir todos os atos 
praticados pelas mesmas desde a data da investidura. 
Por derradeiro, nos termos da Lei n° 1.079/1950, também poderia ser promovida perante a Assembléia 
Legislativa Estadual a responsabilidade política do agente político por infringir, no provimento dos cargos 
públicos, as normas legais. 
 
REFLEXOS NA FORMAÇÃO DAS COMISSÕES DISCIPLINARES 
 
Atuando no exercício da função pública ou agindo em razão dela, caso pratique ato previsto em norma 
legal como infração disciplinar, o servidor público civil, seja delegado de polícia, seja agente de polícia, seja 
escrivão, sujeitar-se-á às sanções administrativas previstas. 
Entretanto a aplicação de penalidades disciplinares depende da instauração de Processo Administrativo 
Disciplinar, em que se garanta ao imputado os direitos e garantias que normalmente se costumam garantir aos 
partícipes do Processo Judicial. 
O artigo 64 da Lei Complementar Estadual n° (Estatuto da Polícia Civil do Estado do Piauí) estabelece 
que: O processo disciplinar será conduzido por comissão composta de três policiais civis estáveis designados 
pela autoridade competente, que indicará, dentre eles, o seu presidente, que deverá ser ocupante de cargo efetivo 
superior ou de mesmo nível, ou ter nível de escolaridade igual ou superior ao do indiciado. 
Utilizando-se do método gramatical de interpretação, o hermeneuta poderia chegar à equivocada 
conclusão de que, uma comissão composta por um delegado de polícia e dois agentes de polícia, por exemplo, 
poderiam conduzir um Processo Disciplinar em face de um delegado de polícia imputado, bastando, pois, que, o 
Delegado membro fosse ocupante de cargo efetivo superior ou de mesmo nível, ou tivesse nível de escolaridade 
igual ou superior ao delegado imputado. 
Considerando que as decisões dos trabalhos executados pelos membros das comissões são tomadas com 
base na maioria de votos e que, por sua vez, estes são expedidos com supedâneo no princípio do livre 
convencimento motivado, a exegese do parágrafo anterior, caso fosse aceita, resultaria em frontal desrespeito ao 
Princípio da Hierarquia e ao Princípio da Independência e Imparcialidade da Comissão processante. 
A partir das diretrizes dos métodos lógico-sistemático e teleológico, é possível perceber que o artigo 64 
da LC n° 37 de 09.03.2004 mantém conexões lógico-jurídicas com o princípio da Hierarquia Policial, previsto 
no artigo 4° desta lei e com o Princípio da Independência e Imparcialidade da Comissão processante, previsto 
no artigo 171 da LC n° 13, de 3 de janeiro de 1994, também aplicável por expressa disposição legal. 
Repise-se que uma interpretação fulcrada no método gramatical do artigo 64 da LC n° 37, de 9 de março 
de 2004, que permite que agentes de polícia participem, como membros, de comissões processantes de 
delegados de polícia, implicaria a inversão do Princípio da Hierarquia Policial e, outrossim, do princípio da 
Independência e Imparcialidade de todos os membros da Comissão Processante. 
Quem, com segurança e livre de temores íntimos, processaria com independência alguém, hoje, mas que, 
no futuro próximo, poderia vir a ser seu superior hierárquico em outra oportunidade? Atuar com independência 
significa garantia para agir a salvo de qualquer ameaça interna ou externa de ingerência. 
Ou então, como ter garantias de que o ex-subordinado, agora membro da comissão processante, já em 
circunstancial pé de igualdade com seu ex-superior hierárquico, não sucumbirá à tentação de por em prática 
planos antigos de vingança pessoal? Tais questionamentos, por si mesmos, já demonstram que não é razoável 
adotar-se uma interpretação isolada e literal do artigo 64 da LC n° 37. 
A interpretação que mais harmoniza o artigo 64 da LC n° 37 com o Princípio da Hierarquia Policial e com 
o Princípio da Independência e Imparcialidade da Comissão Processante é aquele que entende que todos os três 
membros da Comissão Processante, e não apenas o seu presidente, sejam estáveis, ocupantes de cargo efetivo 
superior e do mesmo nível, ou grau de escolaridade, superior ou igual, em relação ao policial civil processado. 
Textos extraídos do livro: Temas de Direitos Humanos e Segurança Pública, de Flávio Cristiano Costa Oliveira. 
 
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CONCLUSÕES 
 
As polícias civis do Estado Federativo Brasileiro podem ser conceituadas como sendo órgãos 
administrativos, isto é, desprovidos de personalidade jurídica, integrantes da estrutura da Administração Pública 
Direta do Poder Executivo dos Estados membros, vinculadas e subordinadas aos chefes do Poder Executivo 
Estaduais, inclusive do Distrito Federal, com a incumbência de, ressalvada a competência da União, as funções 
de polícia judiciária e a apuração de infrações penais exceto as militares. 
Os agentes responsáveis pela política de segurança pública são os agentes políticos ocupantes dos cargos 
autônomos e independentes. 
Os agentes administrativos (servidores públicos civis, membros das carreiras policiais) são responsáveis 
pela execução da Política de Segurança Pública. 
Caso os agentes políticos resolvam praticar qualquer forma de ingerência pessoal ou política na execução 
dos serviços de segurança pública, qualquer cidadão, servidor público ou não, que esteja sendo vítima de atos de 
tal natureza ou tome ciência destes, poderá denunciar o(s) agente(s) político(s) estadual(ais), por crime de 
responsabilidade perante a Assembléia Legislativa do Estado respectivo (cf. Lei. N° 1.079/1950). 
Em qualquer de suas formas, o princípio da hierarquia significa que existem graus de subordinação 
administrativa entre os diversos órgãos e agentes. Ademais, a distribuição das funções e a composição dos 
membros das comissões administrativas processantes devem considerar o escalonamento hierárquico. 
 
REFERÊNCIAS 
 
FILHO, José dos Santos Carvalho. Manual de direito administrativo. 22. ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2009. 
 
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário. 31. ed. São Paulo: Malheiros, 2010. 
 
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2004. 
 
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 36. ed. São Paulo: Malheiros, 2009. 
 
MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 24 ed. São Paulo: Atlas, 2007. 
 
PIETRO, Maria Sylvia Zanella Di. Direito administrativo. 22. ed. São Paulo: Atlas, 2009. 
 
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. São Paulo: Malheiros, 2007. 
 
“Secretário da Segurança de SP é acusado de abuso de poder”, disponível em 
<http://wwwl.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95ul 09556.shtml>. Acesso em Site da Folha.com, publicado 
em 31/05/2005. 
 
Exercício de síntese 
 
01- De acordo com o artigo 144 e respectivos parágrafos da Constituição da República Federativa Brasileira, 
promulgada em 5 de outubro de 1988, como conceituam-se as políciascivis? ____________________________ 
__________________________________________________________________________________________ 
__________________________________________________________________________________________ 
__________________________________________________________________________________________ 
__________________________________________________________________________________________ 
__________________________________________________________________________________________ 
__________________________________________________________________________________________ 
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Textos extraídos do livro: Temas de Direitos Humanos e Segurança Pública, de Flávio Cristiano Costa Oliveira. 
 
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CAPÍTULO III 
 
O ESTUDO CRÍTICO DAS CAUSAS DA DESARMONIA NA ESFERA PÚBLICA 
 
INTRODUÇÃO 
 
Normas de hierarquia constitucional e infraconstitucional procuram reger a esfera pública de modo a 
tomá-la um ambiente impessoal, isonômico, moral, eficiente, republicano e democrático. Entretanto, boa parcela 
dos servidores públicos apresentam uma visão bem diferente da Administração Pública na qual estão inseridos. 
Partilhar e expor, mesmo que superficialmente, as razões que podem fazer da vida pública uma arena de 
servidores públicos é o nosso objetivo. 
 
ESFERA PÚBLICA 
 
A expressão: “esfera pública”, contem generalidade em demasia, podendo ser aplicada, perfeitamente, ao 
espaço público de atuação de qualquer agente público. 
Entretanto, para os fins deste específico desiderato, o termo limitar-se-á ao ambiente público onde 
ocorrem as relações de trabalho dos agentes administrativos entre si. 
Consoante a doutrina do Direito Administrativo, agente público é o gênero, do qual fazem partes as 
demais espécies de agentes públicos, dentre eles os agentes administrativos, responsáveis pela materialização da 
política de governo, ou seja, pela execução e prestação dos serviços públicos. 
Desta forma, os agentes administrativos, geralmente, ocupam cargos públicos e executam suas funções 
por meio de órgãos públicos e instituições, sem grandes poderes decisórios, tampouco autonomia administrativa, 
financeira e orçamentária. Estas últimas costumam ser prerrogativas típicas dos agentes políticos que comandam 
os agentes administrativos. 
Ocorre que, o agente-administrativo tem existência apenas virtual, é uma ficção jurídica para efeito de 
imprimir ação e vontade ao Estado, às suas funções, aos seus cargos, órgãos e instituições. 
Antes de, mediante concurso público ou nomeação, tomar- -se um “avatar” jurídico, o agente-
administrativo é uma pessoa natural que nasceu, cresceu e forjou-se no âmbito familiar. 
 
O PAPEL DA FAMÍLIA 
 
Existem inúmeros defensores de que a família é a célula da sociedade. Base da humanidade. Responsável 
pelo preenchimento da “tabula rasa” do indivíduo. O evento primeiro que, na teoria causal, determinará o 
destino afortunado, ou não, de futuros homens e mulheres. 
Entretanto, não são raros os seus algozes, pontos de vista que, com a necessária perspicácia, tiveram a 
sensibilidade e a astúcia de captar que, nesse ambiente de relações, de sujeitos unidos por laços de sangue e 
interesses recíprocos, onde em nome da família, tudo parece ser possível e normal, pode ser um terreno fértil 
para o desenvolvimento de distorções que seus partícipes poderão levar para toda a vida, inclusive para a vida 
pública. 
Os críticos desta instituição social procuram demonstrar que, sob a égide do poder familiar central, 
patriarcal ou matriarcal, os demais membros podem ser habituados a assimilar como corretos, padrões de 
comportamento que, do ponto de vista da ética, são inadequados, ou seja: 
 
a) a autoridade familiar, do patriarca ou matriarca, é colocada como algo absoluto e inquestionável, 
mesmo em detrimento da ética; 
b) certo grupo familiar e seus interesses particulares são colocados com primazia, mesmo em face 
de outros grupos, dando a falsa idéia que, em nome de certa família, os fins justificam os meios; 
c) os aspectos pessoais, individuais e subjetivos devem prevalecer de maneira absoluta sobre aspectos 
Textos extraídos do livro: Temas de Direitos Humanos e Segurança Pública, de Flávio Cristiano Costa Oliveira. 
 
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coletivos, externos e objetivos, entre outros. 
 
Nesse sentido, vale citar o pensamento de Roscly Saião: 
 
A falta de limites na educação familiar tem sido um bordão utilizado por especialistas de diversas áreas 
para explicar o comportamento ruidoso, incivilizado, transgressor (...) como tem ocorrido a socialização 
de nossas crianças (...) Cabe aos pais iniciar esse processo: ensinar o filho a falar, a vestir-se, a 
alimentar-se, a cuidar de seu corpo, por exemplo, são partes fundamentais. Entretanto, nada disso ganha 
sentido se não ocorre no grupo familiar e com ele. E preciso que a socialização seja coletiva, portanto, 
mesmo que no âmbito privado (...) E preciso que ela aprenda a se comunicar, ou seja, a usar a fala na 
relação com os outros. Os pais precisam ensinar a criança a se comunicar com a família... Entretanto, 
temos hoje dois fatores que atrapalham situações que favoreçam esses tipos de intervenção. O centro 
das famílias passou a ser lugar ocupado pelos filhos e, por isso, os pais priorizam o que eles fazem (...) 
cada vez menos, as famílias se reúnem para uma refeição ou compartilham períodos juntos. A casa 
tomou-se um ambiente em que cada integrante da família tem sua própria vida. O individual superou o 
coletivo também no interior da família. Por isso, muitas crianças chegam à escola sem saber como estar 
com os pares, com os adultos e no grupo e lá precisam aprender quase tudo. Essa é nossa realidade 
(Disponível em http://www.brasilwiki.com.br/no- ticia.php?id_noticia=l 1763). 
 
PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS 
 
Objetivando evitar que possíveis distorções da vida familiar possam penetrar no ambiente público, por 
meio de ocupantes de cargos ou funções públicas, o legislador constitucional estabeleceu um sistema de 
proteção visando resguardar a probidade, a legalidade, a moralidade, a eficiência, a impessoalidade, a 
publicidade entre outros valores republicanos e democráticos. 
Acautelado por normas legais de direito público o ambiente administrativo, em geral, deveria refletir um 
espaço de positividade, harmonia, paz e motivação. Mas será que esta é a percepção que a grande maioria dos 
servidores públicos tem de sua vida institucional? 
 
O SER DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 
É notório e óbvio que não, porque uma é a paisagem pública relatada pelas penas românticas e bucólicas 
dos manuais de Direito e do dever-ser das normas legais e outra, bem diversa, é aquela que se manifesta aos 
sentidos dos agentes administrativos. 
Pergunte a um servidor público se ele está satisfeito com suas relações institucionais e ele, normalmente, 
tenderá a responder negativamente, ou seja, que se encontra desmotivado, que perdeu o espírito de identificação 
com o que faz, que se sente excluído, subutilizado, preterido, perseguido, etc. 
Eis algumas opiniões colhidas nos meios eletrônicos de comunicação: 
 
A falta de motivação com o trabalho pode ser gerada ainda pelas limitações da própria instituição pública. 
Burocracia excessiva, atividades tediosas, infra-estruturara deficiente e ausência de metas e organização 
são fatores levados em conta quando o assunto é qualidade devida no trabalho. Carmem*, 33 anos, está 
há quase um ano numa unidade de saúde municipal. A precária estrutura do ambiente e o relaxamento dos 
colegas fizeram com que perdesse o encanto pela almejada função. “Fui atraída pela estabilidade, mas não 
estou satisfeita. As condições de trabalho são péssimas. Falta material e não tenho como dar assistência 
aos pacientes. E como se eu tivesse sido contratada para marcar presença e não desenvolver o trabalho. 
Isso me frustra” (Disponível em http://www.pernambuco.com/oportu- 
nidades/materias/2010/altopreco_servidorespublicos.shtml). 
 
Só 21 % dos professores brasileiros que trabalham em escolas públicas estão totalmente satisfeitos com a 
profissão. E o que mostra pesquisa inédita feita pelo Grupo Ibope, a pedido da Fundação Victor Civita. 
Foram ouvidos 500 docentes da rede pública de ensino das capitais de todos os Estados, as condições de 
trabalho são precárias, há salas de aulas lotadas. Essa insatisfação do professor com o trabalho está 
relacionada com uma má gestão de todo o sistema escolar (Disponível em 
http://www.servidorpublico.net/noticias/2007/! 1/06/79-dos-professores-estao-insatisfeitos/. Fonte: Sylvio 
Micelli). 
 
O fato é que, apesar das relações públicas, em boa parte, estarem sujeitas as normas legais e vinculantes; 
Textos extraídos do livro: Temas de Direitos Humanos e Segurança Pública, de Flávio Cristiano Costa Oliveira. 
 
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entre as camadas das relações públicas, escudadas por razões de discricionariedade e mérito administrativo, 
desenvolvem-se microrrelações de poder, que na maioria das vezes, podem estar contaminadas pela mácula do 
desvio de finalidade, pois, na verdade, visam assegurar interesses pessoais. Resquícios insofismáveis do ancien 
regime. 
Para esclarecer a exposição, imaginemos a existência de um hipotético órgão público de natureza 
administrativa, onde presentes estejam os seguintes ingredientes: 
 
a) o poder: representado pelo chefe-geral, que, a partir de critérios pessoais ou político-partidários, foi 
alçado ao cargo pela conveniente mão da política. Este exerce poder de direção e chefia sobre outros subchefes 
e demais servidores; 
b) os comandados: representados pelos subchefes e demais servidores públicos; 
c) interesses quase ilimitados: representados por todas as pretensões e desejos do grupo. Por exemplo, 
vontade de voltar a ser ou ser chefe-geral ou subchefe, ocupar um espaço de trabalho agradável, ser indicado 
para participar de cursos de capacitação, receber vantagens financeiras ou honrarias etc.; 
d) benefícios e vantagens limitadas: são os objetos materiais e imateriais do desejo do grupo, mas, que 
existem em quantidade limitada e não podem ser compartilhados por todos ao mesmo tempo (cf. item anterior); 
e) subjetivismo, vitaliciedade e discricionaricdade na distribuição dos benefícios e vantagens-
representados pela formação de seletos grupos de servidores carreiristas, bajuladores e subservientes que, 
durante tempo indeterminado, costumam ser contemplados com os benefícios e as vantagens distribuídas pelo 
chefe-geral com base em critérios subjetivos, pessoais ou político-partidários. 
Agora respondamos ao questionamento: tais ingredientes, acaso fossem aplicados num órgão ou 
instituição pública de existência tangível, que conseqüências trariam? 
Não é necessário ser nenhum vaticinador para responder que, em breve espaço de tempo, o ambiente 
administrativo teria se transformado no “Estado Hobbesiano”, ou seja, na luta de todos contra todos. 
Formar-se-iam grupos de servidores públicos heterogêneos, rivais, oportunistas, ávidos por retomar ou 
alçar o poder, motivados, ora por sentimento de cobiça, ora, por espírito de vingança. Cercados, por intrigas e 
estratagemas de ascensão e derrota, por todas as partes. 
Ficar sem se falar é o mínimo que se poderia esperar, quando a arena política é trazida para o âmbito da 
Administração Pública. Politização em vez de legalidade. 
O príncipe, como livro de cabeceira, e uma leitura deturpada do pensamento de Maquiavel (2001), 
transformariam em subsídios morais os seguintes pensamentos: 
 
Todos vêem o que pareces, poucos percebem o que és (...) Os homens esquecem mais rapidamente a 
morte do pai do que a perda do patrimônio (...) As injúrias devem ser feitas todas de uma só vez, a fim de 
que, saboreando-as menos, ofendam menos: e os benefícios devem ser feitos pouco a pouco, a fim de que 
sejam mais bem saboreados (...) Tornamo-nos odiados tanto fazendo o bem como fazendo o mal (...) Os 
homens quando não são forçados a lutar por necessidade, lutam por ambição (...) Os homens devem ser 
adulados ou destruídos, pois podem vingar-se das ofensas leves, não das graves; de modo que a ofensa 
que se faz ao homem deve ser de tal ordem que não se tema a vingança (...) Os homens têm menos 
escrúpulos em ofender quem se faz amar do que quem se faz temer, pois o amor é mantido por vínculos 
de gratidão que se rompem quando deixam de ser necessários, já que os homens são egoístas; mas o 
temor é mantido pelo medo do castigo, que nunca falha... Os fins justificam os meios (...) Creio que 
seriam desejáveis ambas as coisas, mas, como é difícil reuni-las, é mais seguro ser temido do que amado.” 
 
Concomitantemente, teríamos aqueles servidores solitários que, sem pertencerem a nenhum grupo e sem 
perspectivas de desfrutar das benesses do poder, seguiriam sua jornada apáticos, rumo ao tempo final de serviço, 
amargando, na mente e no coração, sentimentos ocultos de frustração, desgosto, desmotivação, oposição, 
descaso e desinteresse. 
Com o auxílio do pensamento de José de Ingenieros, poderíamos denominar o regime implantado por 
esse órgão público imaginário de mediocracia. 
Mas o que seria afinal uma mediocracia? Nas palavras do autor: 
 
Textos extraídos do livro: Temas de Direitos Humanos e Segurança Pública, de Flávio Cristiano Costa Oliveira. 
 
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Todos se apinham em tomo do manto oficial para alcançar algumas migalhas da merenda. É o clima da 
mediocridade (...) Quando o ignorante se crê igualado ao estudioso, o fanfarrão ao apóstolo, o parlapatão 
ao eloqüente e o mentiroso ao digno, a escala de mérito desaparece em uma vergonhosa nivelação de 
vilania. Isso é a mediocracia (...) A obsessão de acumular tesouros materiais, ou o torpe afa de usufruídos 
na folga, borra do espírito coletivo todo rastro de sonho (INGENIEROS, 2003, p. 224-225). 
 
Entre os membros da mediocracia, poderíamos distinguir duas espécies de personagens, ou seja, os 
medíocres e os idealistas. Conforme Ingenieros: 
 
São dois mundos morais, duas raças, dois temperamentos: sombras e homens. Seres desiguais não podem 
pensar de igual maneira. Sempre haverá evidente contraste entre o servilismo e a dignidade, a torpeza e o 
gênio, a hipocrisia e a virtude (...) Sempre haverá, por força, idealistas e medíocres (...) Os espíritos febris 
por algum ideal são adversários da mediocridade: sonhadores contra utilitários, entusiastas versus 
apáticos, generosos combatem os calculistas, indisciplinados enfrentam os dogmáticos (...) Todo idealista 
é um homem qualitativo: possui o sentido das diferenças que lhe permite distinguir entre o mal que 
observa, e o melhor que imagina. Os homens sem ideais são quantitativos; podem apreciar o mais e o 
menos, mas nunca distinguir o melhor do pior (Idem, p. 17). 
 
Ainda sobre a natureza do homem medíocre, para que sua essência fique bem esclarecida, é digno de nota 
que: 
 
O homem medíocre é uma sombra projetada pela sociedade, é, por essência, imitativo e está 
perfeitamente adaptado para viver em rebanho, refletindo as rotinas, os prejuízos e dogmatismos 
reconhecidamente úteis para a domesticidade (...) sua característica é imitar a quantos o rodeiam: pensar 
com a cabeça dos outros e ser incapaz de formar ideais próprios (...) são incapazes de estoicismos: sua 
frugalidade é um cálculo para gozar mais tempo dos prazeres (...) sua generosidade é sempre dinheiro 
dado à usura. Sua amizade é uma