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SAÚDE DA CRIANÇA I Talita Valente ATM 2023/A 1 O PACIENTE PEDIÁTRICO • São considerados pacientes da pediatria pré-termos, termos, recém-nascidos, bebês, crianças e adolescentes, dos 0-18 anos. • Pediatria é a medicina do ser humano em seu período de desenvolvimento: da fecundação à puberdade. MORTALIDADE NA INFÂNCIA • Mortalidade infantil (menores de 1 ano) o Neonatal 0-27 dias § Precoce 0-6 dias § Tardia 7-27 dias o Pós-neonatal 28-364 dias • Mortalidade 1-4 anos 1000 dias = Janela para o futuro. • Os primeiros 1000 dias de vida determinam a saúde do adulto e seu capital humano. • Os primeiros 1000 dias de vida se referem ao período que vai do primeiro dia de gestação até os 2 anos de idade. Política nacional de atenção integral à saúde da criança São os determinantes mais sensíveis às condições da assistência. Determinantes mais sensíveis ao ambiente socioeconômico. SAÚDE DA CRIANÇA I Talita Valente ATM 2023/A 2 ROTINAS DE CONSULTA SBP DEZ PASSOS PARA O SUCESSO DO ALEITAMENTO MATERNO 1. Ter uma política de aleitamento materno escrita que seja rotineiramente transmitida a toda a equipe. 2. Capacitar toda a equipe de cuidados de saúde nas práticas necessárias para implementar essa política. 3. Informar todas as gestantes sobre os benefícios e o manejo do aleitamento materno. 4. Ajudar as mães a iniciar o aleitamento materno na primeira meia hora após o nascimento. 5. Mostrar às mães como amamentar e como manter a lactação mesmo se vierem a ser separadas dos filhos. SAÚDE DA CRIANÇA I Talita Valente ATM 2023/A 3 6. Não oferecer a recém-nascido bebida ou alimento que não seja o leite materno, a não ser que haja indicação médica e/ou de nutricionista. 7. Praticar o alojamento conjunto - permitir que mães e recém-nascidos permaneçam juntos (24h./dia). 8. Incentivar o aleitamento materno sob livre demanda. 9. Não oferecer bicos artificiais ou chupetas a recém-nascidos e lactentes. 10. Promover a formação de grupos de apoio à amamentação e encaminhar as mães a esses grupos. A CONSULTA PEDIÁTRICA 1. História alimentar 2. Curva de crescimento 3. Estado vacinal 4. Desenvolvimento neuropsicomotor 5. Condições do meio ambiente 6. Cuidados domiciliares dispensados à criança 7. Sono 8. Função auditiva 9. Saúde bucal 10. Desempenho escolar e cuidados pela escola 11. Desenvolvimento da sexualidade PUERICULTURA A puericultura avalia o crescimento e desenvolvimento da criança. São os principais indicadores de suas condições de saúde. • Fatores determinantes: 1. Extrínsecos (ambientais) Dieta Doença 2. Intrínsecos (orgânicos) Sistema neuroendócrino Fatores hereditários - etnia CRESCIMENTO O crescimento, de um modo geral, é considerado como aumento do tamanho corporal, que cessa com o término do aumento em altura. Engloba a mensuração e o acompanhamento das medidas antropométricas da criança. As curvas de crescimento são úteis para a observação dos três momentos fundamentais do crescimento humano: 1. Lactância: fase de crescimento rápido, porém desacelerado. A velocidade de crescimento do primeiro ano de vida é a mais alta da vida extrauterina e é cerca de 25cm/ano, reduzindo drasticamente nos dois primeiros anos de vida. 2. Infância propriamente dita: fase de crescimento lento, mais estável e constante. A velocidade varia de 4-6 cm/ano e é chamada de infantil ou pré-puberal. 3. Puberdade: novamente uma fase de crescimento rápido, com aceleração e posterior desaceleração, até, finalmente, o término do processo de crescimento. SAÚDE DA CRIANÇA I Talita Valente ATM 2023/A 4 Tipos: • Crescimento geral (altura e peso) • Crescimento neural (SNC e sua mielinização) • Crescimento linfoide (imunidade) • Crescimento genital (reprodutivo) Avalia: • Peso • Estatura • Perímetro cefálico PESO • É a medida mais utilizada. • O bebê deve ser pesado com o mínimo de roupa possível. • Há valores normais considerados de acordo com idade e sexo -> índice de adequação. • Mais importante que ter uma medida é o acompanhamento ao longo do tempo -> canal de crescimento. • O peso se modifica de maneira mais rápida que a estatura, de modo que reflete de maneira mais aguda alterações induzidas por estados carenciais ou de excesso nutricional, sendo um dos principais indicadores a serem avaliados durante a consulta de puericultura. • Entre o 5º e 6º mês é esperado que o bebê tenha o dobro do peso que apresentava no nascimento. • Com 12 meses, triplica o peso do nascimento. • Aos 5 anos, a criança tem o dobro do peso que tinha com 1 ano. • Aos 10 anos, a criança tem o triplo do peso que tinha com 1 ano. • Aos 14 anos, a criança tem o quádruplo do peso que tinha com 1 ano. Fórmulas para cálculo de valor médio esperado para crianças saudáveis: 3 aos 12 meses = idade (meses) + 9 2 2 aos 6 anos = idade (anos) x 2 + 8 7 aos 12 anos = idade (anos) x 7 - 5 2 Índice de peso para idade ( P/I ) • Para crianças menores de 2 anos (Gomez): Eutrofia - P/I > 90% do p50 Desnutrido 1º grau - P/I entre 76 e 90% do p50 Desnutrido 2º grau - P/I entre 60 e 75% do p50 Desnutrido 3º grau - P/I inferior a 60% do p50 P50 - percentil 50 do padrão de referência Edema nutricional = desnutrido 3º grau (Bengoa) SAÚDE DA CRIANÇA I Talita Valente ATM 2023/A 5 Classificação de Waterlow Estatura para a idade (E/I): Estatura medida x100 Estatura esperada para idade e sexo Peso para estatura (P/E): Peso observado x100 Peso esperado para a estatura observada Classificação da OMS: Recém-nascido: • O recém-nascido tem perda fisiológica de peso: perde de 3-10% do peso de nascimento durante os 4-5 primeiros dias de vida. • O peso de nascimento tende a ser recuperado entre o 8-10 dias de vida. • Ganho médio: o 1º trimestre = 30g/dia o 2º trimestre = 20g/dia o 3º trimestre = 10g/dia ESTATURA Comprimento; • Para menor de 2 anos. • Polo cefálico fixo e plano plantar móvel. Altura: • Para maior de 2 anos. • Criança em pé e sem apoio. SAÚDE DA CRIANÇA I Talita Valente ATM 2023/A 6 • É mais lentamente modificado que o peso, agravos de saúde necessitam de tempo maior para comprometer o crescimento, a recuperação também é mais lenta. • O aumento em estatura no primeiro ano é o maior da vida pós-natal - média de 25 cm. • Após os 2 anos até a puberdade (em torno de 12 anos) há tendência de se manter ritmo mais constante da velocidade de crescimento. PERÍMETRO CEFÁLICO • O crescimento dacaixa craniana ocorre em função do crescimento cerebral. • As medidas do PC nos primeiros 6 meses descrevem de maneira precisa esse crescimento. • Referências: o Limite anterior: glabela o Limite posterior: polo occipital • Normalmente, a medida é feita até os 2 anos de idade. Ao nascimento (média): 33 a 34 0-3 meses: crescimento de 2cm/mês 4-6 meses: 1 cm/mês 7-12 meses: 0,5 cm/mês • Alerta de microcefalia: menor igual a 32cm DESENVOLVIMENTO O desenvolvimento pode ser entendido como mudança e expansão graduais, progresso dos estágios mais simples aos mais avançados de complexidade, surgimento e expansão das capacidades do indivíduo por meio do crescimento, da maturidade e do aprendizado. DESENVOLVIMENTO PUBERAL • Puberdade = caracterizada pelas mudanças biológicas que se manifestam na adolescência e representam, para o ser humano, o início da capacidade reprodutiva. Constitui-se por um período curto com aproximadamente 2-4 anos de anos de duração. Precoce ou inicial (10-14 anos) = as características infantis começam a ser substituídas por outras mais maduras. Média (15-17 anos) = a maioria dos jovens nessa faixa etária já completam suas modificações biológicas mais importantes. Basca do desenvolvimento da sexualidade. Tardia (17-20 anos) = emergem os valores e comportamentos adultos, predomina uma identidade mais estável. • A puberdade é caracterizada pelos seguintes eventos: o Crescimento esquelético linear. § O estirão de crescimento/estirão puberal é composto pelo período de aceleração da velocidade de crescimento (VC), até atingir um valor de pico (PVC), e subsequente desaceleração até o término do crescimento. Estatura estimada (cm) Idade (em anos) x 6 + 77 Estatura estimada quando adulto: Masculino Est. Pai (cm) + Est. Mãe (cm) + 13 2 Feminino Est. Pai (cm) + Est. Mãe (cm) - 13 2 Estatura para idade (E/I) Estatura medida x100 Estatura esperada para idade e sexo Normal = maior ou igual a 95% SAÚDE DA CRIANÇA I Talita Valente ATM 2023/A 7 § O PVC no sexo masculino pode chegar a valores de 10-12 cm/ano e no sexo feminino de 8-10 cm/ano. § Sexo feminino: o início da puberdade (M2) coincide com o início do estirão puberal em sua fase de aceleração, atingindo o máximo da velocidade de crescimento em M3 e desacelerando em M4, momento em que geralmente ocorre a menarca. § Sexo masculino: o início da puberdade (G2) ocorre ainda em um momento de velocidade de crescimento estável ou pré-puberal. A aceleração do crescimento geralmente ocorre apenar no estágio de G3, e o pico de velocidade de crescimento, em G4, quando se inicia a desaceleração do crescimento. o Alteração da forma e composição corporal. § São estabelecidas as distintas formas corporais masculinas e femininas (dimorfismo sexual). § A forma do corpo de um bebê e de uma criança não permite a diferenciação entre masculino e feminino, aspecto que só se torna nítido na puberdade. § O depósito de gordura nas meninas ocorre principalmente na região das mamas e dos quadris, conferindo um aspecto característico do corpo feminino. Nos meninos, o crescimento do diâmetro biacromial (entre os ombros) confere relação biacromial/bi-ilíaco elevada, associado ao desenvolvimento muscular da região da cintura escapular, define a forma masculina. o Desenvolvimento dos órgãos e sistemas. § Todos os órgãos e sistemas se desenvolvem durante a puberdade, sobretudo os sistemas cardiocirculatório e respiratório. § O tecido linfoide é exceção, apresentando involução progressiva a partir da adolescência, o tecido nervoso também porque já está com todo o ser crescimento já estabelecido. o Desenvolvimento das gônadas e dos caracteres sexuais secundários. § Os eventos puberais no sexo feminino iniciam mais precocemente quando comparados ao sexo masculino (2 anos antes). § A primeira manifestação puberal nas meninas é o desenvolvimento do broto ou botão mamário (telarca), nos menino a primeira manifestação é o aumento do volume testicular. § O crescimento dos pelos axilares e e faciais se segue ao dos pelos pubianos. § A ejaculação é um evento tardio no desenvolvimento puberal masculino e pode se manifestar inicialmente com emissões noturnas involuntárias. A mudança vocal decorre do aumento da laringe por ação androgênica e também ocorre tardiamente. § A ginecomastia é um evento comum nos meninos, coincidindo com o estágio G3. Desaparece espontaneamente em menos de 1 ano na metade dos casos, dentro de 2 anos em 75% e dentro de 3 anos em 90% dos pacientes. SAÚDE DA CRIANÇA I Talita Valente ATM 2023/A 8 SAÚDE DA CRIANÇA I Talita Valente ATM 2023/A 9 DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR • O desenvolvimento do sistema nervoso humano se inicia na gestação e é concluído até 20 anos + de vida pós-natal (por exemplo mielinização neuronal). • Maneiras de avaliar o desenvolvimento (não tem como ser medido diretamente): escalas, história, exame neurológico e ENE. • Escala de Denver II o A Escala de Denver II tem uma estrutura de aplicação que se dá por quatro elementos: § Pessoal-Social: relacionamento com as pessoas, auto cuidado e atividades de vida diárias (AVD); § Motor-adaptativo: coordenação olho-mão, manipulação de objetos pequenos e solução de problemas; § Linguagem: audição, compreensão e linguagem; § Motor-grosseiro: sentar, andar, pular. o Utilizada do nascimento aos 6 anos. o Utilizado para triagem, não é um teste de QI ou preditos de habilidade futuras. o É útil em crianças aparentemente normais, quando há alguma suspeira de alteração e crianças em risco. o Compara a criança com outras da mesma idade. REFLEXOS PRIMITIVOS DO RN • Marca do funcionamento cerebral subcortical • São fisiológicos nos primeiros meses e após são patológicos. • Sistema inferior (extrapiramidal) - maturação precoce e ascendente, inicia na 24 semana, responsável pelo tônus postural e reflexos arcaicos. • Sistema superior (piramidal) - maturação mais tardia e descendente, responsável pela motricidade. Controle de esfíncteres: • 18 meses: controle vesical diurno iniciando • 2 anos: controle vesical diurno em consolidação e iniciando o vesical noturno e anal • 3-4 anos: controle vesical diurno e anal consolidados, vesical noturno em consolidação • 5 anos: controle completo vesical e anal SAÚDE DA CRIANÇA I Talita Valente ATM 2023/A 10 MARCOS DE DESENVOLVIMENTO • Recém-nascido. • Lactentes: 3, 6, 9, 12, 18 e 24 meses. • Dos 3-7 anos: ENE 4. • Após - avaliações das funções corticais superiores + desenvolvimento escolar. CRESCIMENTO NORMAL E ALTERADO - TRATADO DE PEDIATRIA CONSULTA PRÉ-NATAL PEDIÁTRICA • A consulta pré-natal pediátrica é preconizada pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) desde 1984. • Deve ser realizada no 3º trimestre da gestação. • Nessa consulta é importante o conhecimento do: pré-natal, doenças do feto, doenças familiares e riscos da gravidez/parto. • Essa consulta melhora o vínculo do pediatra com a família, melhora a adesão ao aleitamento materno, esclarecedúvidas dos pais, explica atendimento no momento do parto. ATENDIMENTO DO RN PRINCÍPIOS: • Garantir que a criança respire • Prevenir a hipotermina • Estabelecer precocemente lactância maternal • Prevenção de infecções • Identificar RN de risco HUMANIZAÇÃO DO PARTO: • A humanização no pré-natal e nascimento compreende pelo menos dois aspectos fundamentais: o Dever das unidades de saúde de receber com dignidade a mulher, seus familiares e o recém-nascido. o Adoção de medidas e procedimentos sabidamente benéficos para o acompanhamento do parto e do nascimento, evitando práticas intervencionistas desnecessárias. APÓS A EXTRAÇÃO COMPLETA DO RN: • Após a extração completa do RN é preciso responder 3 perguntas: 1. Termo? 2. Respirando/ chorando? 3. Tônus muscular em flexão? SAÚDE DA CRIANÇA I Talita Valente ATM 2023/A 11 Immediate newborn care: the first 90 minutes Diretrizes: • Clampear o cordão umbilical após 1-3 minutos. o Beneficia índices hematológicos dos 3-6 meses (anemia fisiológica do lactente). • Na sala de parto, enquanto o RN está junto ã mãe, prover calor, manter as vias aéreas pérvias e avaliar sua vitalidade continuamente. • Manter a temperatura entre 36,5-37,5ºC (normotermia). • Amamentação na primeira hora pós-parto assegura que o RN receba o colostro, rico em fatores protetores. • O contato pele a pele entre mãe-bebê ao nascimento favorece o início precoce da amamentação e aumenta a chance do aleitamento materno exclusivo bem-sucedido. EXAME FÍSICO INICIAL DO RN • Deve ser realizado exame físico completo nas primeiras 24h. do nascimento ou o mais breve possível. • É importante ter uma anamnese completa do pré-natal e parto. • O lactente deve estar despido. SAÚDE DA CRIANÇA I Talita Valente ATM 2023/A 12 • Medidas: peso, comprimento, perímetro cefálico e perímetro torácico. • Realizar exame do coração e pulmão primeiro. o FC normal = entre 90-160 bpm. o Sopros sistólicos são comuns durante as primeiras 24h. (fechamento ducto arterioso). o FR normal = menos de 60 rpm. o Acrocianose pode ser normal - língua rosada e bebe frio. • Abdome: o No primeiro dia é cheio e arredondado. o Diástase de reto - herniação leve na linha média que se resolve espontaneamente. o Coto umbilical e seus 3 vases; 2 artérias e 1 veia. o Baço não palpável. o Borda hepática palpável 1-2cm abaixo do rebordo costal direito. • Genitália e ânus: o Sexo feminino com grandes lábios aumentados (normal). o Sexo masculino - examinar pênis e prepúcio, palpar testículos bilateralmente e ver se estão nas bolsas. Pode haver hidrocele nos primeiros dias. o Observar orifício uretral - geralmente de cor rosa com descarga cremosa e branca que pode se tornar hemorrágica após o 3º dia. o Examinar patência localização do ânus. • Extremidades e articulações: o Palpar clavículas (fraturas), ossos longos, presença de pé torto. o Barrow e Ortolani. o Posição pélvica ao nascimento - posições bizarras das pernas melhoram espontaneamente. • Cabeça, olhos e ouvidos. o Perímetro cefálico normal entre 33-38 cm. o Ver presença de bossas (edema da porção principal do couro cabeludo - apresentação cefálica) e céfalo-hematomas (sangramento dos perióstio de um osso parietal - nunca se estendem além da sutura). EXAME NEUROLÓGICO • RN atitude de flexão • Reflexos primitivos o Reflexo de fuga-asfixia o Reflexo cutâneo plantar em extensão. o Reflexo de preensão de dedos. o Reflexo de sucção. o Moro. ROTINAS: • Prevenção do sangramento por deficiência de vitamina K. Sempre é feito 1mg de vitamina K por via intramuscular no nascimento. • Prevenção da oftalmia gonocócica. • Antropometria - realizar exame físico simplificado, incluindo peso, comprimento e os perímetros cefálicos, torácicos e abdominal. • Laqueadura do cordão umbilical - envolver o coto com gaze embebida em álcool etílico 70% ou clorexidina alcoólica 0,5%. • Identificação do RN. • Aleitamento materno livre-demanda. SAÚDE DA CRIANÇA I Talita Valente ATM 2023/A 13 • Monitorização dos sinais vitais pela equipe de enfermagem a cada 8h. • Vacina BCG e hepatite B. TESTES A SEREM REALIZADOS NO RN: • Olinho • Orelinha • Coraçãozinho • Pezinho - identifica doenças metabólicas congênitas ou hereditárias. o Hipotireoidismo, fibrose cística, doença falciforme, deficiência da biotinidase, hiperplasia adrenal congênita e fenilcetonúria. o 5 até 10 dias de vida • Linguinha RECOMENDAÇÕES PARA ALTA HOSPITALAR: • Leite materno livre demanda • Consulta pediátrica em 1 semana • Refazer BCG • Manter higiene cordão umbilical • Pomadas para prevenção de assadura nas trocas de fraldas (óxido de zinco + vitamina A) • Orientações prevenção síndrome súbita do lactente. o Dormir de barriga para cima. • Corrimento vaginal • Aumento dos seios • Manchas de nascimento • Cistos gengivais/palatinos • Dentes • Ereções • Choro “excessivo” • “Diarreia • Regurgitação • Sono “louco” NUTRIÇÃO NA INFÂNCIA ALEITAMENTO MATERNO • O aleitamento materno é a mais sábia estratégia natural de vinculo, afeto, proteção e nutrição para a criança e constitui a mais sensível, econômica e eficaz intervenção para redução da morbimortalidade infantil. • Apenas mãe HIV não deve amamentar. • Além de alimentar a criança, o aleitamento materno protege a mãe contra algumas doenças e promove o desenvolvimento cognitivo e emocional da criança e o bem-estar físico e psíquico da mãe e do filho. • O aleitamento pode ser realizado direto da mama ou após a ordenha, independente de estar ou não recebendo outros alimentos. • A amamentação deve ocorrer assim que possível, após o parto, o bebê mama sob livre demanda e não respeita regularidade de horários podendo mamar de 8 a 12 vezes por dia. SAÚDE DA CRIANÇA I Talita Valente ATM 2023/A 14 • A OMS e o ministério da saúde recomendam: aleitamento materno exclusivo por 6 meses e complementado até os 2 anos ou mais. o A introdução precoce de outros alimentos está associada a: maior número de episódios de diarreia; maior número de hospitalizações por doença respiratória; risco de desnutrição se os alimentos introduzidos forem nutricionalmente inferiores ao leite materno (Ex.: alimentos são muito diluídos); menor absorção de nutrientes importantes do leite materno, como ferro e zinco; menor eficácia da amamentação como método anticoncepcional (menor duração do aleitamento materno); o A amamentação se mostra superior pois reduz a mortalidade infantil por causa previníveis e reduz aa incidência e gravidade da diarreia, sendo fator de proteção, principalmente em crianças de baixo nível socio-econômico. CLASSIFICAÇÃO • Aleitamento materno exclusivo: quando a criança recebe somente leite materno, direto da mama ou ordenhado, ou leite humano de outra fonte, sem outros líquidos ou sólidos, com exceção de gotas ou xaropes contendo vitaminas, sais de reidratação oral, suplementos minerais ou medicamentos. • Aleitamento materno predominante: quando a criança recebe, além do leite materno, água ou bebidas à base de água (água adocicada, chás, infusões), sucos de frutase fluidos. • Aleitamento materno: quando a criança recebe leite materno (direto da mama ou ordenhado), independentemente de receber ou não outros alimentos. • Aleitamento materno complementado: quando a criança recebe, além do leite materno, qualquer alimento sólido ou semi-sólido com a finalidade de complementá-lo, e não de substituí-lo. Deve ser iniciado a partir dos 6 meses de idade. • Aleitamento materno misto ou parcial: quando a criança recebe leite materno e outros tipos de leite. COMPOSIÇÃO • O leite materno é homogêneo e somente uma desnutrição grave afeta a qualidade e a quantidade do leite. • Nos primeiros dias à colostro: contém mais proteínas e menos gorduras do que o leite maduro (o leite secretado a partir do sétimo-décimo dia pós-parto). • O leite humano possui numerosos fatores imunológicos que protegem a criança contra- infecções. A IgA secretória é o principal anticorpo, atuando contra microrganismos presentes nas superfícies mucosas. o Os anticorpos IgA no leite humano são um reflexo dos antígenos entéricos e respiratórios da mãe o A concentração de IgA no leite materno diminui ao longo do primeiro mês, permanecendo relativamente constante após. • O leite do início da mamada (leite anterior) tem aspecto semelhante ao da água de coco e é muito rico em anticorpos. Protege de infecções, como meningite, diarreias, etc... • Já o leite do meio da mamada tende a ter uma coloração branca opaca devido ao aumento da concentração de caseína. SAÚDE DA CRIANÇA I Talita Valente ATM 2023/A 15 • E o leite do final da mamada (leite posterior) é mais amarelado devido à presença de betacaroteno, pigmento lipossolúvel presente na cenoura, abóbora e vegetais de cor laranja, provenientes da dieta da mãe. É quando há maior concentração de gordura, sendo o mais rico em energia e o que sacia melhor a criança, importante, então, esvaziar bem a mama. ALIMENTAÇÃO COMPLEMENTAR • Deve ser iniciada entre 4-6 meses. o Pode ser iniciada anteriormente aos 4 meses de idade em caos que a alimentação da criança é feita exclusivamente por leite de vaca. o Até os quatro meses de idade, a criança ainda não atingiu o desenvolvimento fisiológico necessário para consumir outros alimentos. A criança ainda não senta sem apoio e não obtém o controle neuromuscular da cabeça e do pescoço para mostrar desinteresse ou saciedade, afastando a cabeça ou jogando-a para trás. • Deve ser iniciada de maneira gradual, respeitando o desenvolvimento da criança. Leite de Vaca • Não deve ser introduzido antes de 1 ano de idade. • Não é nutricionalmente adequado e predispõe à atopias, obesidade, entre outros distúrbios (rinite alérgica, dermatite atopica, alergia a proteína do leite, síndrome metabólica, has). • O leite de vaca tem muito mais proteínas que o leite humano e essas proteínas são diferentes das do leite materno. A principal proteína do leite materno é a lactoalbumina e a do leite de vaca é a caseína, de difícil digestão para a espécie humana. • Diante da impossibilidade de aleitamento materno deve ser utilizada a fórmula láctea infantil. Fórmula Láctea Infantil • São leites industrializados indicados para lactentes que não estão em aleitamento materno. • A grande maioria das fórmulas existentes no comércio é elaborada a base de leite de vaca e seguem as recomendações do “Codex Alimentárius4" • Apesar de sua adaptação com relação ao carboidrato, proteínas e vitamina, os fatores anti-infecciosos e bioativos encontrados no leite materno não são encontrados nas fórmulas infantis SAÚDE DA CRIANÇA I Talita Valente ATM 2023/A 16 • Aos 6 meses de vida as crianças precisam receber alimentos bem amassados. o Os alimentos não precisam ser muito amassados. o Não se deve substituir a fruta amassada por suco de fruta, pois há perda do conteúdo de fibras. o Os alimentos devem ser cozidos em pouca água e amassados com o garfo, nunca liquidificados ou peneirados. • Aos 8 meses as crianças aceitam alimentos picados ou em pedaços pequenos. • Aos 12 meses a maioria das crianças já está apta a comer alimentos na consistência de adultos, desde que saudável. • Os alimentos em conserva, tais como palmito e picles, e os alimentos embutidos, tais como salsichas, salames, presuntos e patês, também constituem fontes potenciais de contaminação por esporos de C. botulinum e devem ser evitados, já que oferecem maior risco de transmissão de botulismo de origem alimentar. • Mel não deve ser utilizado no primeiro ano de vida. • A consistência dos alimentos deve aumentar gradativamente e a textura deve ser apropriada à idade • O ovo cozido e as carnes devem fazer parte das refeições desde os seis meses de idade. • O óleo vegetal deve ser usado em pequena quantidade. • Os sucos naturais não são mais indicados • Nenhuma fruta é contra-indicada. • Nos intervalos é preciso oferecer água tratada, filtrada ou fervida. • Os alimentos devem ser pouco temperados e pouco salgados. Alimentos não recomendados: • Açúcar, enlatados, refrigerantes, balas, salgadinhos, biscoitos recheados e outros alimentos com grandes quantidades de açúcar, gordura e corantes (especialmente nos primeiros anos de vida) podem levar ao excesso de peso e à obesidade ainda na infância, condições que podem perdurar até a idade adulta, além de provocarem dislipidemias e alteração da pressão arterial, são também causa de anemia e alergias. • Os sucos artificiais não devem ser oferecidos pelo fato de não oferecerem nada além de açúcar, essências e corantes artificiais, que são extremamente prejudiciais à saúde e podem causar alergias. • O consumo precoce de sal está associado ao aparecimento de hipertensão arterial. Há opções de ervas e temperos naturais que podem ser utilizados para temperar as refeições SAÚDE DA CRIANÇA I Talita Valente ATM 2023/A 17 SUPLEMENTAÇÃO DE FERRO • A suplementação de ferro deve ser realizada para evitar anemias no bebê e na criança, porque a baixa oferta de oxigênio pode causar atraso no desenvolvimento cognitivo em idade escolar. Também pode causar dificuldade de aprendizado, de concentração, QI baixo e alterações de personalidade. • A suplementação deve ser feita desde os três meses de vida até os 2 anos de idade. SUPLEMENTAÇÃO DE VITAMINA D • A Vitamina D é responsável pela manutenção da saúde óssea e pela regulação do metabolismo do cálcio e fósforo, modulação do risco de doenças cardíacas, neoplasias, esclerose múltipla, obesidade, asma e diabetes tipo 1. • A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda suplementar, inclusive para as crianças em aleitamento materno exclusivo, independentemente da região do país. Dose de 400 UI/dia a partir do nascimento até os 12 meses e 600 UI/dia dos 12 aos 24 meses. • Para os recém- nascidos pré-termo deve ser iniciada (400 UI/dia) quando o peso for superior a 1500 g e houver tolerância plena à nutrição enteral. SAÚDE DA CRIANÇA I Talita Valente ATM 2023/A 18 ALIMENTAÇÃO DO PRÉ ESCOLAR • A idade pré-escolar engloba crianças que possuam entre 2 e 7 anos de idade.• O apetite do pré-escolar é irregular e variável de um dia para o outro • Neofobia alimentar: rejeição de alimentos novos. É importante postura tranquila e entusiasmada dos pais para evitar ansiedade, intervenções diagnósticas e terapêuticas desnecessárias e até prejudiciais. • Nessa faixa etária ocorre incorporação de novos hábitos alimentares que influenciam no padrão alimentar a ser adotado pela criança por toda a vida. Características: • A alimentação do pré-escolar deve ser semelhante a dieta do adulto. • Variedade com quantidade adequada de proteína animal - 10 a 15% das calorias • Gordura - 30% das calorias (sendo saturada 10%) • Carboidratos - 50 a 60% (+ amidos/ - açúcar) • Sal com moderação Orientações: • Ter horários regulares, ambiente calmo e com a presença da família. • Alimentação variada e colorida baseada pirâmide alimentar. • Não substituir alimento sólido por leite. • Limitar as guloseimas e nunca as utilizar como recompensa. • Respeitar preferências, mas não limitar só aos alimentos preferidos. • Fracionar em 4-6 refeições com intervalo de 3h. • Independência para se alimentar com utensílios adequados a idade. • Não estimular ingestão de líquidos durante as refeições. SAÚDE DA CRIANÇA I Talita Valente ATM 2023/A 19 SEGURANÇA DA CRIANÇA Principais causas de mortalidade e morbidade em crianças: • Trânsito • Afogamentos • Agressões e autoagressões (suicídios) • Queimaduras • Quedas • Asfixias • Intoxicações *As principais causas de mortalidade em crianças brasileiras no ano de 2015 foram: Doenças infecto parasitárias; Doenças respiratórias; Injúrias por causas externas. Principais fatores de risco de trauma no âmbito domiciliar: • Mãe solteira e jovem; • Baixo nível de educação materna; • Desemprego; • Habitações pobres; • Famílias numerosas; • Uso de álcool e drogas pelos pais. IDADE • A idade da criança influencia no tipo de trauma, agravo e injúria. • Traumatismo craniano, por exemplo, ocorre principalmente em lactentes abaixo de 2 anos. • Agravos específicos ocorrem em idades definidas e exigem ações defensivas para as quais a criança/jovem ainda não é maduro o suficiente. Primeiros meses de vida: a criança está sujeita a riscos de terceiros. • Queda • �Colocar em andador • �Automóvel sem cadeirinha • �Queimado por líquido fervente • �Envenenado por substâncias impropriamente administradas Pré-escolar; percepção ilógica do entorno, pensamento mágico • Queimaduras • �Intoxicações • �Atropelamentos • �Queda de lugares altos • �Ferimentos com brinquedos • �Lacerações Escolar: Capaz de entender noções de segurança, não faz julgamento correto sobre velocidade e distância, comportamento influenciado pelo grupo (desafios/regras). • Atropelamento • �Quedas SAÚDE DA CRIANÇA I Talita Valente ATM 2023/A 20 • �Ferimentos com armas de fogo • �Afogamentos • �Fraturas Adolescentes: pensamento organizado, mas as pressões sociais somadas a uma certa onipotência podem levar à tomada de riscos conscientes. • Desastres de automóvel e motocicleta, • �Atropelamento, • �Quedas de bicicleta • �Afogamento • �Homicídio/drogas • �Álcool (está associado ao uso de drogas, homicídio, suicídios, afogamentos e quedas. Além do risco cardíaco quando associado a bebidas energéticas) TRÂNSITO • O trânsito é a principal causa de morte em crianças a partir de 1 ano. • Atropelamentos: representam importante causa de morte por trauma em crianças e adolescentes nos países em desenvolvimento e de baixa renda. o Fator de risco: nível de desenvolvimento da criança. • É necessário que as crianças sejam transportadas em segurança em dispositivos instalados de forma correta pode reduzir 71% das mortes e 67% de lesões graves. • O banco de trás do veículo é muito mais seguro e por isso a criança deve ser transportada nessa parte do carro. Crianças colocadas no banco dianteiro, mesmo em assentos de costas para o painel podem sofrer grandes riscos com o acionamento dos airbags. • Prematuros, recém-nascidos de baixo peso e crianças com necessidades especiais podem requerer assistência extra para que seu transporte seja realizado de forma segura. Principais estratégias para prevenção de injúrias no trânsito: • Leis sobre idade mínima para ingestão de álcool. • Tolerância zero e limites de velocidade menores para motoristas jovens. • Sistemas graduados de obtenção de carteira nacional de habilitação (CNH). • Uso obrigatório de capacetes para ciclistas e motociclistas. • Cinto de segurança e assentos infantis de segurança. • Medidas de redução da velocidade. • Separar usuários nas vias públicas. • Faróis acesos durante o dia para motocicletas. Cinco principais causas de morte não intencionais entre crianças e adolescentes, em ordem decrescente: 1. Acidentes de trânsito. 2. Afogamento 3. Queimaduras 4. Quedas 5. Intoxicações SAÚDE DA CRIANÇA I Talita Valente ATM 2023/A 21 AFOGAMENTO . • No Brasil, é a segunda causa de morte entre 5 e 14 anos, entre meninos e rapazes, superada apenas pelo trânsito • O processo do afogamento começa com comprometimento respiratório quando as vias aéreas da vítima ficam abaixo da superfície líquida (submersão) ou quando a face é mergulhada n'água (imersão). Epidemiologia: • A maioria destes eventos ocorre dentro e perto de casa; • Os locais de afogamento são: água doce em cerca de 75% das ocorrências, 15% no mar e em águas não naturais em menos de 10% (banheiras, caixas d'água, baldes, piscinas e poços). • Crianças pequenas podem se afogar em 5 cm de água - quando caem com a face na água e não conseguem levantar a cabeça; • Mais da metade dos afogamentos de lactentes ocorre em banheiras; • Na medida em que a criança cresce, o local de ocorrência passa a ser em espaços abertos (mar, lagoas e rios); • Em países de média e baixa renda os afogamentos ocorrem em espaços abertos de água, enquanto que nos de alta renda em piscinas. Prevenção: • Remover (ou cobrir) reservatórios de água; • Cercas de isolamento nos 4 lados ao redor de piscinas; • Uso de dispositivos individuais para flutuação; • Assegurar medidas de ressuscitação imediatas. QUEIMADURAS • São os únicos eventos não intencionais que ocorrem mais em meninas do que em meninos. • A maioria (85%) das queimaduras na infância ocorre no ambiente doméstico e com predominância na cozinha. • Outras modalidades: queimaduras podem acontecer em incêndios, ferros de passar roupa, secadores de cabelo, fogões, cigarros, isqueiros e superfícies quentes • Adolescentes que entram em contato com fios de alta tensão (ao empinar ou retirar pipas da rede elétrica) representam uma pequena percentagem das admissões hospitalares, mas podem causar amputações e mortes. Prevenção: • Estabelecer e reforçar leis de detectores de fumaça; • Desenvolver e implementar padrões de segurança para acendedores e isqueiros; • Educar, estabelecer e reforçar leis de controle de temperatura de água quente nas residências; • Tratamento de pacientes queimados em centros especializados. QUEDAS • As quedas são as principais responsáveis por lesões não fatais em crianças. • As quedas são responsáveis por dois terços dos atendimentos em serviços de emergência e cerca de 2% destes atendimentos geram internações. • Os meninos são duas vezesmais propensos que as meninas. • Crianças começam a cair antes de completar um ano de vida, 60% das quedas acontecem de alguma altura: trocador (são comuns e ocorrem mesmo quando a criança ainda não SAÚDE DA CRIANÇA I Talita Valente ATM 2023/A 22 consegue virar para os lados), andador, carrinho, berço, cama, beliche • Sua gravidade depende da altura e da superfície do impacto, o risco de lesões graves é quatro vezes maior se a criança cai de uma altura superior a 1,5 metro. Prevenção: • Redesenhar móveis e outros produtos. • Estabelecer padrões para playgrounds (profundidade e altura dos equipamentos e manutenção adequada). • Legislação para grades em janelas. • Implementar programas comunitários, como o “Crianças não podem voar”. INTOXICAÇÕES • As taxas de intoxicações fatais são quatro vezes mais altas em países em desenvolvimento do que nos desenvolvidos. • A maior letalidade está nos menores de 1 ano e ocorre outro pico aos 15 anos • Dos 5 aos 14 anos, os eventos com animais peçonhentos ocupam o primeiro lugar 10 aos 14 anos de idade as intoxicações por agrotóxicos ganham importância. • Adolescentes, por tentativa de suicídio, muitas vezes recorrem a envenenamentos. • Mais de 90% das exposições acontecem em casa, os agentes mais comuns são os medicamentos e produtos químicos de uso domiciliar. Prevenção: • Remover o agente tóxico; • Leis sobre embalagens à prova de crianças para medicamentos e venenos; • Embalar remédios em quantidades não letais e • Estabelecer centros de controle de intoxicações VIOLÊNCIA • Um estudo recente abrangendo 96 países mostrou que mais da metade de todas as crianças entre 2 e 17 anos — estimando uma prevalência global de cerca de um bilhão de crianças — sofreram algum tipo de violência emocional, física ou social no ano precedente. • Meninas são particularmente vulneráveis à violência sexual, enquanto meninos são mais frequentemente vítimas ou causadores de homicídios, comumente envolvendo armas de fogo. • A violência se enquadra em 6 tipos: o Maus-tratos (incluindo punições violentas), o Violência sexual o Violência psicológica (incluindo testemunhar agressões), que ocorrem em todas as idades; o Bullying (incluindo cyberbullying), que predomina na idade escolar e adolescência; o Violência comunitária (incluindo brigas de gangues) o Contra parceiros íntimos, que predominam entre adolescentes e adultos jovens • A Organização Mundial de Saúde (OMS) liderou várias instituições, como CDC, UNICEF, USAID e Banco Mundial, na produção de um pacote de estratégias de prevenção da violência apoiadas em evidências científicas de exequibilidade e efetividade, batizada com o acrônimo INSPIRE. SAÚDE DA CRIANÇA I Talita Valente ATM 2023/A 23 Fundamentos da prevenção de agravos: • Materiais educativos transmitidos aos pacientes diretamente online parecem ser mais efetivos do que os impressos, • Orientar sobre medidas gerais e específicas de proteção domiciliar. • Medidas educativas isoladas são insuficientes e o engajamento dos pediatras em ações interdisciplinares e próprias da comunidade é essencial para o progresso no controle efetivo das injúrias. Recomendações gerais para o pediatra: • Estar ciente da importância dos agravos por causas externas como um grave problema de saúde e dos riscos associados às desigualdades sociais; • �Conhecer as evidências sempre crescentes de sua prevenção; • �Contribuir para melhorar a qualidade e a quantidade de informação; • �Definir prioridades para pesquisa; • Cumprir um papel na defesa das crianças e adolescentes; • Integrar os agravos por causas externas numa abordagem abrangente à saúde e ao desenvolvimento das crianças e adolescentes; • Incluir o aconselhamento em segurança como parte de sua rotina, fornecendo orientações antecipadas para lactentes, crianças e adolescentes. • Participar de alianças locais, de políticas de prevenção e plano de ação; • Atuações específicas – adaptadas para a realidade regional; • Contribuir para fortalecer os sistemas de saúde no atendimento de crianças e adolescentes vítimas de traumas; • Promover a cultura da prevenção e melhorar os investimentos nesta área. SAÚDE DA CRIANÇA I Talita Valente ATM 2023/A 24 DOENÇAS DAS VIAS AÉREAS SUPERIORES RESFRIADO COMUM • Infecção viral aguda da via aérea superior (VAS), autolimitada e que pode chegar a envolver as vias aéreas inferiores (mas isso é controverso). • É a causa mais comum de doença em humanos. • As crianças são mais suscetíveis por: o Falta de imunidade adquirida a agentes infecciosos. o Contato frequente com outros humanos (outras crianças) doentes. o Higiene deficiente. • O nome mais próximo encontrado no CID é Nasofaringite. • É comum também porque muitos vírus não geram imunidade permanente e porque são muitos sorotipos. Síndromes características de vírus respiratórios: • RSV: Bronquiolite Viral Aguda em � 2ª (começa como uma simples gripe e evolui) • Influenza: doença respiratória febril com participação da VA inferior • Adenovírus: febre faringoconjuntival (conjuntivite + faringite + febre) • Para Influenzae: croup nos pequenos • Bocavírus/Rinovírus: sibilâncias recorrentes (também pode começar com uma gripe normal e evoluir) • Enterovírus: doença respiratória, digestiva, SNC, herpangina (febre mais elevada e aftas na boca) Transmissão viral: • Secreções nasais • Aerossol (�5 micras): infectam quando inaladas • Gotículas (>10 micras): pela mucosa nasal e/ou conjuntival • Transmissão pelas mãos (Rinovírus sobrevive 2 hrs nas mãos e dias em superfícies). “IVA” X “IVAs” IVA – Infecção da Via Aérea Superior – tradução literal de Upper Respiratory Tract Infection, é igual a resfriado comum apenas. IVAS - tecnicamente, infecções do trato respiratório superior. Não apenas um resfriado comum. IVAs – uso comum para denominar de forma inespecífica e ambígua, a uma infecção viral que inclui nariz + faringe e/ou seios paranasais (Ouvidos: não incluídos) IVAs bacteriana – piorou! Uma infecção das VAS sob agregada; sob infectou. SAÚDE DA CRIANÇA I Talita Valente ATM 2023/A 25 Fisiopatologia: • Incubação: 1-5 dias. • Entrada pelo nariz e conjuntivas. • Os sintomas são secundários a liberação de citocinas e outros mediadores a partir das células infectadas mais influxo de polimorfonucleares, e não resultam da destruição da mucosa nasal. • Estudo: o Lavagem nasal de voluntários inoculados com HRV (rinovírus humano) • Secreção esbranquiçada/amarelada - aumento dos PMN. Há aumento em 100x no influxo de PMN (granulócitos) em 1-2 dias após inoculação (IL-8 atrai). Secreção esverdeada - atividade da mieloperoxidase (enzima dos PMN). Essas colorações de secreção indicam IVAS sob infectada. • Os seios paranasais geralmente participam dos RC não complicados. o Seios maxilares com fluído deixam a voz fanha. • A orelha média também participa. • Sífilis congênita é diagnóstico diferencial (persistência de rinorréia constante nos primeiros 3 meses de vida). Diagnóstico: • O diagnóstico é baseadona história clínica e no exame físico. • Não são necessários laboratoriais. • Teste rápido IPAS (Influenza A e B; Parainfluenza 1,2 e 3; Adenovírus; Sincicial) o Não é realizado tão rapidamente no Brasil, demora em média 24 horas em grandes hospitais. o Deixa de fora HRV e HCoVS. Tratamento; • Antivirais: não efetivos. • Antigripais: pouca evidência em crianças (combinação de remédios: antialérgicos e anticongestionantes). • Antibióticos: somente se houver infecção bacteriana secundária. • Medidas gerais: lavagem nasal com soro fisiológico. • Decongestionantes tópicos podem não ajudar. Eles têm efeito rebote. SAÚDE DA CRIANÇA I Talita Valente ATM 2023/A 26 Complicações: • A resolução total do quadro deve se dar entre 10-14 dias (febre em 3-4 dias e sintomas respiratórios 12-14 dias). • Se ouve recidiva da febre o mais provável é otite média. • Sinusite pode ocorrer 5-10% dos casos, mais provável em >5 dias. • Rinossinusite se quadro com febre persistir por mais de 7-10 dias. • Faringite bacteriana. • Asma aguda. • Infecções do trato respiratório inferior. SINUSITE BACTERIANA AGUDA (SBA) / RINOSSINUSITE AGUDA BACTERIANA • Infecção supurativa (presença de pus) dos seios paranasais. • Na maioria das vezes é complicação de um resfriado comum. Anatomo-embriologia dos seios paranasais: • Ao nascimento: apenas seio maxilar e etmoidal. • Aos 5 anos: aparecimento do seio esfenoidal. • A partir dos 7 anos: seio frontal inicia e se completa na adolescência. • Os seios paranasais drenam pelo Ostium. Fisiopatologia: • O sistema mucociliar mantém a cavidade estéril e garante a drenagem de secreção. • Na SBA a drenagem é dificultada pela obstrução do fluxo por: o Secreção espessa. o Diminuição no número de cílios. o Aumento na produção de secreção. o Edema da mucosa interna. • A Rinossinusite Aguda pode ser: pós-viral e bacteriana (antibióticos utilizados só nessa). Apresentação clínica: • Rinorréia persistente + Congestão nasal + Tosse (de predomínio noturno, quando se deixa, pelo efeito da gravidade) • Sintomas persistentes - mais de 10 dias (até 10 dias pode-se pensar em um resfriado comum). • Febre as vezes, pode ser elevada ou não. • 3 dias de febre elevada + descarga nasal purulenta (anterior ou posterior). • Descarga pós-nasal sozinha não é critério, deve estar acompanhada de outros sinais. • Resfriado comum que piora (febre incluída) novamente a partir 5-7 dias. • Menos comum: halitose, cefaleia, dor facial, edema facial. Rinossinusite aguda é o nome maioritariamente dado à sinusite, considerando que RARAMENTE haverá sinusite sem a participação de um processo inflamatório nasal também. SAÚDE DA CRIANÇA I Talita Valente ATM 2023/A 27 Exames diagnósticos: • Gram/cultura da mucosa nasal ou secreção não é útil. • Aspirado da secreção do seio paranasal é o método mais acurado, porém não é prático no dia-a-dia, utilizado apenas em casos selecionados. • Imagenologia: RX, TC e RMN podem revelar espessamento de mucosa, opacificação do seio e nível hidroaéreo. o Achador normais são similares em sinusite alérgica ou viral. o Achados normais excluem SBA (valor preditivo negativo alto). Tratamento: • Duração: 10-14 dias. • Amoxicilina - primeira escolha. • Amoxicilina + Clavulanato - se: o Fatores de risco para organismos resistentes: antibióticos nos últimos 3 meses, creche, <2 anos. o Sinusite bacteriana crônica. • Claritromicina ou Aziromicina - casos comprovados de alergia a penicilinas. • Se houver edema ocular, por mínimo que for - antibiótico endovenoso (internação). * Clavulanato rompe a barreira bacteriana, esse medicamento pode causar diarreia e perda de apetite na criança. FARINGITE • Infecção da membrana mucosa da garganta. • Incluem-se Amigdalite e Faringo-amigdalite (a diferença é só local e extensão). • Causada por múltiplos agente etiológicos (bacterianos e virais). o Virus são mais comuns (Influenza, Parainfluenza, Rinovírus, Adenovírus, Metapneumovírus, VSR, Enterovírus, Herpes Simples). • Normalmente ocorre sozinha, mas por estar correlacionada com: o Epstein Barr Vírus - Adenopatia/Esplenomegalia o Herpes Simples Vírus - Estomatite, Gengivite e Glossite o Enterovírus - Herpangina, Sdm de Mão-Pé-Boca CROUP (LARINGOTOTRAQUEOBRONQUITE) • Infecção mais comum da região média do trato respiratório • Causas mais comuns: parainfluenza vírus (1-4) e VSR. • Mais comum em crianças dos 6 meses até 3 anos de idade. Manifestação: • Durante a inspiração� paredes espaço sub-glótico “puxadas” o Maior obstrução, estridor (fundamentalmente inspiratório) • Tosse “ladrante” ou metálica, rouquidão, estridor inspiratório, febrículas, • Dificuldade respiratória de instalação lenta ou rápida, que pode ser importante. o Sibilos só se há participação das vias aéreas inferiores. Laboratoriais e imagem: • Laboratoriais não ajudam no diagnóstico e nem a estabelecer conduta. • RX anteroposterior do pescoço: sinal do campanário SAÚDE DA CRIANÇA I Talita Valente ATM 2023/A 28 Diagnóstico diferencial: • Causas Infecciosas: Epiglotite, traqueite bacteriana, abscesso parafaríngeo. • Causas Não Infecciosas: Croup espasmódico, laringomalacia, Aspiração de Corpo Estranho, hemangioma, estenose sub-glótica, anel vascular, paralisia de cordas vocais. Tratamento: • Viral: o Não dar antibióticos, não dar antivirais. o Nebulizações com adrenalina 1:1000, 0,5ml/kg até 4-5 ml. Possível efeito rebote em 2hrs o Corticoide sistémico: prednisolona (1mg/kg/dose, ID, 3x), ou dexametasona, 0,6mg/k/dose, 1x (dose única). OTITE MÉDIA AGUDA (OMA) • Infecção supurativa do ouvido médio • O mecanismo típico da doença é a tuba de Eustáquio obstruída por infecção VAS ou hipertrofia adenoide. o Obstrução do ar do ouvido médio (OM) -> Pressão negativa -> Refluxo de bactérias naso-faríngeas. • Germes mais comuns: o Bactérias (geralmente em co-infecção com vírus) - Streptococcus pneumonia / H. Influenzae n.t / Moraxella Catarrhalis, menos comum GAS (streptococcus grupo A) o Vírus isoladamente em menos de 20% dos casos. • Otite média recorrente em 10% - 3 ou + episódios nos últimos 6 meses ou 4 ou + episódios nos últimos 12 meses. o Risco: Anomalias crânio-faciais e imunodeficiências. • Epidemiologia: Pico máximo: 6-15 meses de vida. • Fatores de risco: Menor idade, exposição a crianças pequenas, história familiar. o Nível socioeconômico baixo, fumo domiciliar (tem efeito direto na imunidade das mucosas da via aérea, diminuem o movimento dos cílios). Diagnóstico: • Sinais de doença aguda: febre, dor, inflamação VA. • História de início agudo com sinais e sintomas. • Líquido dentro do ouvido médio. • Sinais e sintomas de inflamação do ouvido médio. • Sinais e sintomas recentes, geralmente abruptos, sinais de inflamação do SAÚDE DA CRIANÇA I Talita Valente ATM 2023/A 29 ouvido médio e derrame da orelha média. • A presença de derrame no ouvido médio é indicada por: abaulamento da membrana timpânica, mobilidade limitada ou ausente da membrana timpânica, nível de líquido atrás da membranatimpânica e otorreia. • Sinais e sintomas de inflamação no ouvido médio: eritema distinto da membrana timpânica, otalgia distinta (desconforto claramente relacionado ao ouvido que resulta em interferência ou impede a atividade normal ou sono). Diagnóstico diferencial: • Principal em crianças: OM com efusão (OME). o Presença de efusão sem outros sinais e sintomas. o Secundária a IVA/Rinite. • Otite média aguda: sinais de doença aguda, febre (acima de 38,5), dor e inflamação VA. Tratamento: • O tratamento aplica-se a criança com OMA bem documentada, com alta probabilidade de doença. • Criança com aspecto tóxico, otalgia persistente >48h., Tº>=39ºC >=48h. • Amoxicilina (7-10d.) 50 mg/kg/d em 3 doses ou 80 mg/kg/d em 2 doses. • Se sem melhora em 72h. - Amoxicilina + Clavulanato 90 mg/kd/d em 2 doses. • Macrolídeos para alérgicos a penicilina. Complicações e prognóstico: • Perfuração da membrana timpânica. • Efusão crônica. • Otorreia crônica. • Perda aditiva. • Colesteatoma. • Extensão intracranial. • Mastoidite: febre, otalgia, inflamação pós auricular. Em criança pequena a orelha fica para baixo e para fora, em criança maior é para cima e para fora. Solicitar TC ou RM. • Sequela mais comum é OME em 30-50% das crianças menores de 2 anos. OTITE EXTERNA • Agente mais comum: pseudômona auriginosa, logo Stafilococcus aureus. • Tratamento: tópico com gotas óticas antibióticas por 7 dias. o Otosynalar (Polimixina B + Neomicina + Fluocinolona + Lidocaína) o Otosporin (Polimixina B + Neomicina + Hidrocortisona) o Otociriax (Ciprofloxacino + Hidrocortisona) (É o tratamento mais moderno) • Se pavilhão auricular comprometido, é possível associar antibiótico oral.
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