Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DOS ATOS PROCESSUAIS • A relação do ato com o procedimento O processo se manifesta através de uma sucessão de atos jurídicos teleologicamente organizados para um resultado, que são os atos processuais, praticados por todos os sujeitos do processo, com vistas à produção de efeitos no âmbito da relação jurídica processual em que estão inseridos. Não se deve esquecer, também, que o próprio processo é um procedimento, caracterizando-se, então, como um ato complexo. Fredie Didier explica essa correlação: “O estudo do ato processual não pode ignorar essa constatação: há o ato-complexo procedimento, verdadeiro substantivo coletivo (como o cardume, a penca e o enxame), pois exprime a ideia de coletividade, conjunto de atos que pode ser estudado como unidade, assim como há cada um dos atos do procedimento (petição inicial, citação, contestação etc.), que têm a sua própria individualidade e também podem ser estudados isoladamente” (Curso de Processo Civil, vol. 1, 2018, p. 420). • Princípio da instrumentalidade das formas: Logo no primeiro artigo que o CPC dedica a esse assunto, o legislador já trouxe de forma expressa um princípio que deve orientar a interpretação dos atos processuais. Trata-se do princípio da instrumentalidade das formas, que consagra a ideia que é possível aproveitar um ato processual praticado com vício formal quando ele atingir sua finalidade sem gerar prejuízos às partes ou ao processo. Esse princípio, então, flexibiliza a regra geral de que, havendo desrespeito à forma legal, o ato praticado é nulo, não produzindo os efeitos jurídicos programados pela lei. Art. 188. Os atos e os termos processuais independem de forma determinada, salvo quando a lei expressamente a exigir, considerando-se válidos os que, realizados de outro modo, lhe preencham a finalidade essencial. • Característica básicas dos atos processuais: Estabelece o CPC que os atos processuais, via de regra, serão públicos, sendo o segredo de justiça previsto apenas nos casos previstos no art. 189: (i) exigências de interesse público ou social; (ii) quando o processo tratar de casamento, separação de corpos, divórcio, separação, união estável, filiação, alimentos e guarda de crianças e adolescentes; (iii) em que constem dados protegidos pelo direito constitucional à intimidade; (iv) que versem sobre arbitragem, inclusive sobre cumprimento de carta arbitral, quando a confidencialidade seja estipulada para o procedimento arbitral. A publicidade dos atos é garantia constitucional prevista no art. 93, IX e X da CF, e possibilita o controle, pela população e pelos órgãos de controle, do comportamento do juiz, das partes e dos demais sujeitos processuais. Atenção: Daniel Amorim Assumpção Neves propõe interessante reflexão: “Diante dessa realidade, tenho sérias restrições à limitação de acesso amplo aos autos virtuais a advogados devidamente cadastrados no Tribunal, ainda que não vinculados ao processo. Tal medida limita o acesso do público em geral aos atos processuais e viola a ideia de publicidade geral que deve reger o processo”. O art. 192 determina, ainda, que todos os atos e termos do processo devem ser feitos na língua portuguesa, sendo que o documento redigido em língua estrangeria somente poderá ser juntado aos autos quando acompanhado de versão em português tramitada por via diplomática ou pela autoridade central, ou firmada por tradutor juramentado. • A prática eletrônica de atos processuais: O Novo CPC trouxe a previsão expressa da prática eletrônica dos atos processuais, que poderão ser total o parcialmente digitais, produzidos, armazenados, validados e comunicados em meio eletrônico. Trata-se da consagração, no diploma processual, de evolução que já vinha ocorrendo desde a edição da Lei 11.419/2006, que dispõe sobre a informatização do processo judicial. O art. 193, parágrafo único prevê, ainda, a criação de um ambiente virtual compartilhado entre o Poder Judiciário e os Cartórios extrajudicias, para permitir a prática de atos eletrônicos entre eles, na medida em que afirma que suas disposições sobre atos processuais eletrônicos aplicam-se, no que for cabível, à prática de atos notariais e de registro. O processo eletrônico representou uma importante eliminação de custos humanos e financeiros, mas os arts. 194 e 195 do CPC preveem que o sistema de automação deve respeitar garantias, de modo a ser compatível com o acesso à justiça: Art. 194. Os sistemas de automação processual respeitarão a publicidade dos atos, o acesso e a participação das partes e de seus procuradores, inclusive nas audiências e sessões de julgamento, observadas as garantias da disponibilidade, independência da plataforma computacional, acessibilidade e interoperabilidade dos sistemas, serviços, dados e informações que o Poder Judiciário administre no exercício de suas funções. Art. 195. O registro de ato processual eletrônico deverá ser feito em padrões abertos, que atenderão aos requisitos de autenticidade, integridade, temporalidade, não repúdio, conservação e, nos casos que tramitem em segredo de justiça, confidencialidade, observada a infraestrutura de chaves públicas unificada nacionalmente, nos termos da lei. Atenção: O STJ tem entendimento tranquilo no sentido de que comprovada a inconsistência operacional do serviço de peticionamento eletrônico do site do tribunal é tempestivo o ato praticado no primeiro dia útil subsequente. Também é importante o art. 197, CPC, que afirma que as informações prestadas pelos sistemas dos tribunais terão caráter oficial, gozando de presunção de veracidade e confiabilidade. Antes de adentrar no estudo dos atos das partes e do juiz, é interessante notar divisão feita por Alexandre Freitas Câmara, tendo por base uma classificação subjetiva dos atos processuais, que esquematizamos abaixo: Atos processuais Atos das partes Atos do órgão jurisdicional Pedidos - Postulatórios movimentação Requerimentos - Dos auxiliares documentação Alegações execução - Instrutórios pronunciamento Atos probatórios sentença unilaterais - Do juiz dec. interlocutória - Dispositivos → negócios despacho Bilaterais atos materiais - Atos reais atos instrutórios documentação Atos das partes As partes praticam atos unilaterais (manifestação de vontade de apenas uma das partes) e bilaterais (acordo de vontade das partes) e sempre que entregarem ao cartório petições ou documentos poderão exigir recibo documentando hora e data do protocolo. É vedado à parte peticionante adicionar escritos marginais ou interlineares na peça processual após sua apresentação. O art. 202 do CPC comina para tal conduta uma dupla sanção: o juiz mandará riscar as anotações, e a parte responsável pegará multa correspondente à metade do salário-mínimo. Daniel Assumpção esclarece que o credor da multa será a parte contrária. O autor entende, ainda que as sanções só devem ser aplicadas se o intuito do patrono com as inclusões for ludibriar o juízo, não devendo ser cominada multa na hipótese de inclusão de comentário escrito em peça já impressa e não apresentada, no exercício do direito de se expressar. Para que os atos das partes produzam efeitos no processo, é desnecessário pronunciamento ou homologação do juiz, pois o art. 200 do CPC estatui que a constituição, modificação ou extinção de direitos processuais que desses atos decorrerem serão imediatos. Atenção: Daniel Assumpção alerta que, não raro, vemos, por exemplo, “homologação” do acordo entre as partes para suspensão do processo. No entanto, a verdade é que o efeito dessa suspensão se operará retroativamente à data em que as partes celebraram o acordo, e não a partir da homologação. Existe um ato, porém, que foi expressamenteexcepcionado no CPC, só produzindo efeitos após a homologação judicial, que é a desistência da ação. Nessa hipótese, a homologação operará efeitos ex nunc, somente a partir da sentença homologatória. Os pronunciamentos do juiz Como visto no esquema acima, o juiz pratica diversos atos processuais, sendo os mais importantes deles chamados de pronunciamentos, que tem como espécies sentenças, decisões interlocutórias e despachos. O CPC, no art. 203, define cada um deles: Art. 203. Os pronunciamentos do juiz consistirão em sentenças, decisões interlocutórias e despachos. § 1º Ressalvadas as disposições expressas dos procedimentos especiais, sentença é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487 , põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução. § 2º Decisão interlocutória é todo pronunciamento judicial de natureza decisória que não se enquadre no § 1º. § 3º São despachos todos os demais pronunciamentos do juiz praticados no processo, de ofício ou a requerimento da parte. § 4º Os atos meramente ordinatórios, como a juntada e a vista obrigatória, independem de despacho, devendo ser praticados de ofício pelo servidor e revistos pelo juiz quando necessário. • Sentença é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução. É ato exclusivo do juiz de primeiro grau. A sentença é impugnável por apelação. • Decisão interlocutória é todo pronunciamento judicial de natureza decisória que não se enquadre na definição anterior. Pode ser proferido em qualquer grau de jurisdição. Poderá, portanto, ter como conteúdo questões incidentais, como valor da causa, gratuidade de justiça, intervenção de terceiros, aplicação de multas etc, ou mérito, como ocorre, por exemplo, no julgamento antecipado parcial de mérito. A decisão interlocutória é impugnável por agravo de instrumento (regra). • Despachos são todos os demais pronunciamentos do juiz praticados no processo, de ofício ou a requerimento da parte, visando a impulsionar o processo, sem solucionar a controvérsia. Podem ser proferidos em qualquer grau de jurisdição. É um pronunciamento sem caráter decisório e, justamente por isso, despachos são irrecorríveis. Percebe-se que o Novo CPC usou como critérios para classificar os pronunciamos como sentença tanto o conteúdo do ato quanto seu efeito para o processo. Daniel Assumpção, porém, lembra uma hipótese que parece ter sido esquecida pelo legislador, a da sentença ilíquida, que dá início a uma nova fase cognitiva do procedimento comum. Questiona-se: partindo do pressuposto que sentença põe fim à fase cognitiva do procedimento comum ou extingue a execução, tal decisão será ou não sentença? “A sentença ilíquida, apesar de excepcional, é admitida no sistema processual pátrio. Como se sabe, proferida sentença civil genérica, o processo continuará numa nova fase procedimental, agora de liquidação, notoriamente uma fase cognitiva. Pergunta-se: a decisão que decide o an debeatur, relegando para momento posterior a fixação do quantum debeatur, não será mais sentença? Não coloca fim à fase de cognição, que prosseguirá na liquidação de sentença, logo deve ser considerada decisão interlocutória à luz do sugerido no art. 203, §2º, do Novo CPC, sendo recorrível por agravo de instrumento. E, nesse caso, a decisão que fixa o quantum debeatur, finalmente encerrando a fase cognitiva, será sentença recorrível por apelação? Diante dos conceitos de sentença e de decisão interlocutória sugeridos pelo dispositivo ora analisado, não há como responder negativamente a essa questão” (Novo CPC Comentado Artigo por Artigo, 2016, p. 330-331). Apesar da crítica, o autor acredita que, na praxe processual, o costume vai se manter: “Acredito, entretanto, que será mais um caso de descumprimento de norma legal que não levantará maiores questionamentos. A decisão proferida na fase de conhecimento resolvendo apenas o an debeatur continuará a ser entendida como sentença ilíquida recorrível por apelação, enquanto a decisão que, posteriormente, fixar o quantum debeatur continuará a ser entendida como decisão interlocutória de mérito recorrível por agravo de instrumento. Mesmo que contra a previsão legal...” (idem). O CPC trata, ainda, dos pronunciamentos proferidos pelos tribunais. A exemplo dos juízes de primeiro grau, os tribunais proferem despachos, decisões interlocutórias e decisões finais. Os dois primeiros são, via de regra, proferidos monocraticamente pelo relator, presidente ou vice-presidente do tribunal. As decisões finais, por sua vez, são, regra geral, proferidas por órgão colegiado. Sempre que o pronunciamento for feito por órgão colegiado será denominado acórdão, independentemente de seu conteúdo. Do tempo dos atos processuais O legislador, no art. 212 do CPC, determinou que os atos processuais serão realizados em dias úteis, das 6 horas às 20 horas: Art. 212. Os atos processuais serão realizados em dias úteis, das 6 (seis) às 20 (vinte) horas. § 1º Serão concluídos após as 20 (vinte) horas os atos iniciados antes, quando o adiamento prejudicar a diligência ou causar grave dano. § 2º Independentemente de autorização judicial, as citações, intimações e penhoras poderão realizar-se no período de férias forenses, onde as houver, e nos feriados ou dias úteis fora do horário estabelecido neste artigo, observado o disposto no art. 5º, inciso XI, da Constituição Federal . § 3º Quando o ato tiver de ser praticado por meio de petição em autos não eletrônicos, essa deverá ser protocolada no horário de funcionamento do fórum ou tribunal, conforme o disposto na lei de organização judiciária local. Tal horário, porém, não se confunde com o horário forense, definido como aquele que o fórum se encontra aberto ao público para prática de atos processuais. Ou seja, dentro do limite temporal imposto pelo legislador (das 6h às 20h), as leis de organização judiciária determinarão o horário forense. Atenção: Lembre-se que, excepcionalmente, será admitida a prática de atos processuais, em especial a prolação de decisões, em dias sem expediente, quando o tribunal funcionar em sistema de plantão judiciário. Será admitida a continuidade dos atos que tenham se iniciado antes das 20h, se o adiamento implicar prejuízo à diligência ou causar grave dano. Além disso, algumas leis especiais podem permitir que os atos se iniciem (e não meramente tenham continuidade) após esse horário. É o que se passa, por exemplo, com os Juizados Especiais, já que a lei 9.099/95 permite a prática de atos noturnos: Art. 12. Os atos processuais serão públicos e poderão realizar-se em horário noturno, conforme dispuserem as normas de organização judiciária. Quando, porém, o ato for eletrônico, sua prática poderá ocorrer em qualquer horário até as 24 horas do último dia de prazo: Art. 213. A prática eletrônica de ato processual pode ocorrer em qualquer horário até as 24 (vinte e quatro) horas do último dia do prazo. Parágrafo único. O horário vigente no juízo perante o qual o ato deve ser praticado será considerado para fins de atendimento do prazo. Como visto no artigo anterior, as citações, intimações e penhoras poderão ser realizadas fora desse horário estabelecido ou até mesmo nos feriados e férias forenses, já que são expedientes que se passam fora do juízo. Deve-se atentar, porém, para a previsão constitucional de que a casa é asilo inviolável, de que para que o ato seja praticado no período noturno, deve haver consentimento da parte. Art. 5º (...) XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial; A tutela de urgência tambémpoderá ocorrer nas férias forenses e nos feriados. Ademais, o art. 215 cita casos que serão processados mesmo durante as férias forenses, não se suspendendo: Art. 214. Durante as férias forenses e nos feriados, não se praticarão atos processuais, excetuando-se: I - os atos previstos no art. 212, § 2º ; II - a tutela de urgência. Art. 215. Processam-se durante as férias forenses, onde as houver, e não se suspendem pela superveniência delas: I - os procedimentos de jurisdição voluntária e os necessários à conservação de direitos, quando puderem ser prejudicados pelo adiamento; II - a ação de alimentos e os processos de nomeação ou remoção de tutor e curador; III - os processos que a lei determinar. Atenção: O STJ vem entendendo que o ato praticado durante as férias forenses que não esteja contemplado nas exceções previstas nesse dispositivo é juridicamente existente e válido, tendo, no entanto, sua eficácia condicionada ao final do feriado ou das férias, inclusive para efeitos de início de contagem de prazo. Do lugar dos atos processuais Art. 217. Os atos processuais realizar-se-ão ordinariamente na sede do juízo, ou, excepcionalmente, em outro lugar em razão de deferência, de interesse da justiça, da natureza do ato ou de obstáculo arguido pelo interessado e acolhido pelo juiz. Daniel Assumpção sistematiza alguns exemplos de atos que poderão ser praticados fora da sede do juízo: • A deferência a determinadas autoridades arroladas no art. 454 do CPC (ex.: Presidente, Vice- presidente, Ministros, Ministros do STF, PGR, Senadores e Deputados Federais, Governadores, Prefeitos etc.) permite que elas sejam ouvidas em sua residência ou no local onde exerçam suas funções; • Em razão do interesse da justiça, quando, por exemplo, o juiz precisa se colocar em contato direto com a coisa, pessoa ou local que servirá como fonte de prova (art. 483, CPC); http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art212%C2%A72 • Pela própria natureza de alguns atos processuais, como os de comunicação de atos judiciais que ocorrem, por exemplo, via oficial de justiça; • A oitiva de testemunha com enfermidade ou que por outro motivo irrelevante não possa comparecer à sede do juízo (art. 449, pár. ún., CPC). Dos prazos Alexandre Freitas Câmara define prazos como o intervalo de tempo estabelecido para que, dentro deles, sejam praticados atos jurídicos. O art. 218 do CPC estabelece que, regra geral, os atos devem ser praticados nos prazos assinalados em lei, ou, no caso de omissão, no prazo fixado pelo juiz, que levará em conta a complexidade do ato praticado. Prazo legal: fixado pela lei Prazo judicial: assinalado pelo juiz Não havendo prazo legal e não tendo o juiz fixado prazo judicial, o ato deverá ser praticado em cinco dias. Em relação as intimações sem prazo assinalado, o comparecimento só poderá ser obrigado após decorridas 48h. Art. 218. Os atos processuais serão realizados nos prazos prescritos em lei. § 1º Quando a lei for omissa, o juiz determinará os prazos em consideração à complexidade do ato. § 2º Quando a lei ou o juiz não determinar prazo, as intimações somente obrigarão a comparecimento após decorridas 48 (quarenta e oito) horas. § 3º Inexistindo preceito legal ou prazo determinado pelo juiz, será de 5 (cinco) dias o prazo para a prática de ato processual a cargo da parte. § 4º Será considerado tempestivo o ato praticado antes do termo inicial do prazo. O §4º traz importante evolução legislativa ao afirmar que se consideram tempestivos os atos praticados antes do termo inicial do prazo. Com efeito, alguns tribunais, em uma jurisprudência defensiva, entendiam que era intempestivo (intempestividade ante tempus ou ato prematuro) o ato processual praticado antes de iniciada a contagem do seu prazo que, via de regra, ocorre com a intimação.1 Tal entendimento violava frontalmente princípios básicos do processo civil, como a 1Sobre o início da contagem dos prazos, muito importante fazer a leitura atenta dos arts. 230 e 231, CPC: “Art. 230. O prazo para a parte, o procurador, a Advocacia Pública, a Defensoria Pública e o Ministério Público será contado da citação, da intimação ou da notificação”. “Art. 231. Salvo disposição em sentido diverso, considera-se dia do começo do prazo: I - a data de juntada aos autos do aviso de recebimento, quando a citação ou a intimação for pelo correio; II - a data de juntada aos autos do mandado cumprido, quando a citação ou a intimação for por oficial de justiça; III - a data de ocorrência da citação ou da intimação, quando ela se der por ato do escrivão ou do chefe de secretaria; IV - o dia útil seguinte ao fim da dilação assinada pelo juiz, quando a citação ou a intimação for por edital; duração razoável do processo e a cooperação e já havia sido rejeitado pelo STF, conforme decisão presente no Informativo 776: “Admite-se a interposição de embargos declaratórios oferecidos antes da publicação do acórdão embargado e dentro do prazo recursal. Essa a conclusão do Plenário que, por maioria, converteu embargos declaratórios em agravo regimental e a ele deu provimento para que o Ministro Luiz Fux (relator) analise o cabimento de embargos de divergência anteriormente interpostos. O Colegiado assentou que se a parte tomasse conhecimento do teor do acórdão antes de sua publicação e entendesse haver omissão, contradição ou obscuridade, poderia embargar imediatamente. A jurisprudência não poderia punir a parte que estivesse disposta a superar certo formalismo para ser mais diligente, sem intuito meramente protelatório. Não se trataria de recurso prematuro, porque o prazo começaria a correr da data de intimação da parte, e a presença do advogado, a manifestar conhecimento do acórdão, supriria a intimação. Assim, se a parte se sentisse preparada para recorrer antecipadamente, poderia fazê-lo. Ademais, esse recurso não poderia ser considerado intempestivo, termo relacionado à prática do ato processual após o decurso do prazo. Vencido, em parte, o Ministro Marco Aurélio, apenas quanto à conversão” (ADI, 703269, Rel. Min. Luiz Fux, julg. 5.3.2015). Outra inovação importantíssima do CPC foi a contagem dos prazos processuais em dias úteis: Art. 219. Na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou pelo juiz, computar-se-ão somente os dias úteis. Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se somente aos prazos processuais. Trata-se de inovação muito elogiada, especialmente pelos advogados militantes já que, com a contagem dos prazos em dias corridos, muitas vezes, os procuradores eram obrigados a trabalhar em finais de semana. V - o dia útil seguinte à consulta ao teor da citação ou da intimação ou ao término do prazo para que a consulta se dê, quando a citação ou a intimação for eletrônica; VI - a data de juntada do comunicado de que trata o art. 232 ou, não havendo esse, a data de juntada da carta aos autos de origem devidamente cumprida, quando a citação ou a intimação se realizar em cumprimento de carta; VII - a data de publicação, quando a intimação se der pelo Diário da Justiça impresso ou eletrônico; VIII - o dia da carga, quando a intimação se der por meio da retirada dos autos, em carga, do cartório ou da secretaria. § 1º Quando houver mais de um réu, o dia do começo do prazo para contestar corresponderá à última das datas a que se referem os incisos I a VI do caput . § 2º Havendo mais de um intimado, o prazo para cada um é contado individualmente. § 3º Quando o ato tiver de ser praticado diretamente pela parte ou por quem, de qualquer forma, participe do processo, sem a intermediação de representante judicial, o dia do começo do prazo para cumprimento da determinação judicial corresponderá à data em que se der a comunicação. § 4º Aplica-se o disposto no inciso II do caput à citação com hora certa”.http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art232 Atenção: A regra da contagem em dias úteis se aplica somente aos atos processuais, de forma que os prazos para cumprimento de obrigações determinadas por decisão judicial continuam a ser contados em dias corridos. Também não é aplicável a nova contagem aos prazos de prescrição e decadência, que são prazo de direito material. Daniel Assumpção acrescenta: “Dessa forma, por exemplo, o prazo de 120 dias para a impetração do mandado de segurança consagrado no art. 23 da Lei 12.016/2009, ainda que fixado em dias, por ter natureza material será contado de forma ininterrupta”. O art. 224 prevê, ainda, regras importantes quanto à contagem de prazos: Art. 224. Salvo disposição em contrário, os prazos serão contados excluindo o dia do começo e incluindo o dia do vencimento. § 1º Os dias do começo e do vencimento do prazo serão protraídos para o primeiro dia útil seguinte, se coincidirem com dia em que o expediente forense for encerrado antes ou iniciado depois da hora normal ou houver indisponibilidade da comunicação eletrônica. § 2º Considera-se como data de publicação o primeiro dia útil seguinte ao da disponibilização da informação no Diário da Justiça eletrônico. § 3º A contagem do prazo terá início no primeiro dia útil que seguir ao da publicação. Outra regra fundamental está prevista no art. 229, que trata da contagem dos prazos nos casos de litisconsórcio: Art. 229. Os litisconsortes que tiverem diferentes procuradores, de escritórios de advocacia distintos, terão prazos contados em dobro para todas as suas manifestações, em qualquer juízo ou tribunal, independentemente de requerimento. § 1º Cessa a contagem do prazo em dobro se, havendo apenas 2 (dois) réus, é oferecida defesa por apenas um deles. § 2º Não se aplica o disposto no caput aos processos em autos eletrônicos. Esse dispositivo rende algumas discussões importantes que devem ser observadas. Em primeiro lugar, cite-se que a regra será aplicada independentemente de quem sejam as partes litigando em conjunto. Assim, o STJ já entendeu que, mesmo quando o litisconsórcio é formado por pessoas casadas, a contagem de prazo em dobro será devida se presentes os demais requisitos. Além disso, o tribunal já decidiu, sob a égide do CPC de 1973, que o assistente simples deve ser considerado parte para esses fins: “O litisconsórcio que se forma com o ingresso do assistente, representado por advogado diverso do assistido impõe a aplicação da regra do art. 191 do CPC, que subsistirá enquanto perdurar a pluralidade de sujeitos na partes”. (STJ, AgRg no Ag 1249316, 1ª T., Rel. Min. Luiz Fux, julg. 18.2.2010). O prazo recursal não será em dobro, porém, se só um litisconsorte houver sucumbido: Súmula 641, STF: Não se conta em dobro o prazo para recorrer, quando só um dos litisconsortes haja sucumbido. A interpretação se justifica, pois, sendo só um litisconsorte sucumbente, não persiste a dificuldade de acesso aos autos que motivam a dobra do prazo. Se houver revelia de um dos corréus, o prazo passará a ser contado de forma simples, conforme doutrina de Daniel Assumpção: “Acredito que, apesar de não se clara nesse sentido a redação do art. 229, §1º, do Novo CPC, a melhor interpretação é no sentido de preservar o prazo em dobro de contestação, e, uma vez configurada a revelia do réu que não tenha procurador nos autos, os prazos passem a ser contados de forma simples. E essa contagem simples dos prazos só se justifica se o réu revel efetivamente não participar do processo, sendo contados em dobro os prazos se o réu revel estiver com advogado constituído nos autos”. Atenção: A norma, porém, não é aplicável no microssistema dos juizados especiais, havendo Enunciado do FONAJE nesse sentido: “ENUNCIADO 164 - O art. 229, caput, do CPC/2015 não se aplica ao Sistema de Juizados Especiais (XXXVIII Encontro – Belo Horizonte-MG)”. Devemos, diferenciar, ainda, suspensão de interrupção de prazos: • Suspensão: a contagem é interrompida durante o lapso previsto na lei, sendo que, ao fim do tempo previsto, é devolvido à parte o saldo do prazo, ou seja, o tempo restante não transcorrido antes da suspensão. • Interrupção: nesses casos, encerrado o período de interrupção, a parte receberá o prazo na íntegra, sendo a contagem retomada do início, sendo irrelevante, portanto, o transcurso do prazo ocorrido antes da causa de interrupção interrompê-lo. O art. 220 do CPC afirma que os prazos processuais ficarão suspensos nos dias compreendidos entre 20 de dezembro e 20 de janeiro, inclusive, que é o período de recesso forense. Os juízes, membros do MP, e auxiliares da Justiça, exercerão suas atribuições normalmente, salvo férias individuais, de modo que os atos que independem da participação das partes serão realizados. Mas não serão realizadas audiências nem sessões de julgamento, sob pena de nulidade absoluta. Enunciado 269 Fórum Permanente de Processualistas Civis (FPPC): “A suspensão de prazos de 20 de dezembro a 20 de janeiro é aplicável aos Juizados Especiais”. O artigo seguinte afirma que serão suspensos os prazos, também, por obstáculos criados em detrimento da parte, ou seja, em razão de fatos não criados por ela mesma que impossibilitem a prática do ato. Art. 221. Suspende-se o curso do prazo por obstáculo criado em detrimento da parte ou ocorrendo qualquer das hipóteses do art. 313 , devendo o prazo ser restituído por tempo igual ao que faltava para sua complementação. Parágrafo único. Suspendem-se os prazos durante a execução de programa instituído pelo Poder Judiciário para promover a autocomposição, incumbindo aos tribunais especificar, com antecedência, a duração dos trabalhos Nesses casos, o mais seguro é informar o juízo do impedimento antes do transcurso do prazo. Daniel Assumpção ressalva, entretanto que: “o termo inicial dessa suspensão da contagem do prazo deve ser a data em que se criou o obstáculo mencionado no art. 221, caput, do Novo CPC, enquanto o termo final é o afastamento definitivo desse obstáculo. Dessa forma, é irrelevante a data em que a parte informou o juízo da existência do obstáculo ou da decisão judicial que o reconhece: o prazo estará suspenso sempre antes desses momentos”. Essa suspensão é importante, pois, nos termos do art. 223, CPC, a perda do prazo extingue o direito de praticar ou emendar ato processual, independente de declaração judicial: Art. 223. Decorrido o prazo, extingue-se o direito de praticar ou de emendar o ato processual, independentemente de declaração judicial, ficando assegurado, porém, à parte provar que não o realizou por justa causa. § 1º Considera-se justa causa o evento alheio à vontade da parte e que a impediu de praticar o ato por si ou por mandatário. § 2º Verificada a justa causa, o juiz permitirá à parte a prática do ato no prazo que lhe assinar. Trata-se do instituto da preclusão, que pode ser classificada em três espécies • Preclusão consumativa: verificada quando realizado o ato processual • Preclusão lógica: verificada pela realização de ato anterior incompatível logicamente com o que se pretende realizar • Preclusão temporal: verificada quando o ato deixa de poder ser praticado em virtude da decorrência do prazo previsto para sua prática. É esse o tipo de preclusão de que trata o artigo. Quando ao direito de emendar, previsto no artigo, o STJ e parte da doutrina entendem que se trata da emenda especificamente prevista para certos atos, como ocorre, por exemplo, com a emenda http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art313 a petição inicial. Para outra corrente, o dispositivo permitiria a emenda de ato processual já praticado dentro do prazo legal, flexibilizando, na verdade, a preclusão consumativa, que só se operaria definitivamente com o decurso do prazo enão com a mera prática do ato, que poderia, ainda, ser emendado. O art. 222, CPC, permite ao juiz prorrogar os prazos por até dois meses nas comarcas, seções ou subseções judiciárias onde for difícil o transporte. O limite de dois meses poderá ser excedido em caso de calamidade pública. De qualquer forma, afirma o §1º que não poderá o magistrado reduzir prazos peremptórios sem a anuência das partes. Esse dispositivo, porém, apesar de ser inovação do Novo CPC, está ultrapassado, pois, com a consagração da possibilidade do o juiz aumentar qualquer prazo e de as partes fazerem o mesmo por acordo procedimental, ficaram afastados do ordenamento os prazos peremptórios, tendo, todos, natureza, dilatória, conforme explica Daniel Assumpção. Outro artigo relevante nessa seara é o art. 225, que trata da possibilidade de a parte renunciar ao prazo estabelecido exclusivamente em seu favor, se o fizer de forma expressa. Daniel Assumpção acrescenta que seria possível também a renúncia a prazo comum, desde que todas as partes a quem aproveita o prazo se manifestem expressamente nesse sentido. Prazos para os pronunciamentos judiciais: Art. 226. O juiz proferirá: I - os despachos no prazo de 5 (cinco) dias; II - as decisões interlocutórias no prazo de 10 (dez) dias; III - as sentenças no prazo de 30 (trinta) dias. Art. 227. Em qualquer grau de jurisdição, havendo motivo justificado, pode o juiz exceder, por igual tempo, os prazos a que está submetido. Os prazos estabelecidos para o juiz são chamados de prazos impróprios, pois seu descumprimento não gera consequências, sendo certo que os atos mencionados serão eficazes mesmo se produzidos a destempo. Ou seja, não há preclusão temporal. Prazos para os serventuários Art. 228. Incumbirá ao serventuário remeter os autos conclusos no prazo de 1 (um) dia e executar os atos processuais no prazo de 5 (cinco) dias, contado da data em que: I - houver concluído o ato processual anterior, se lhe foi imposto pela lei; II - tiver ciência da ordem, quando determinada pelo juiz. § 1º Ao receber os autos, o serventuário certificará o dia e a hora em que teve ciência da ordem referida no inciso II. § 2º Nos processos em autos eletrônicos, a juntada de petições ou de manifestações em geral ocorrerá de forma automática, independentemente de ato de serventuário da justiça. A exemplo do que ocorre com os prazos assinalados para os juízes, os prazos dos serventuários também são impróprios, não havendo nulidade ou ineficácia na sua prática após decurso do prazo. A única consequência, conforme previsto no art. 233, CPC, será de caráter disciplinar: Art. 233. Incumbe ao juiz verificar se o serventuário excedeu, sem motivo legítimo, os prazos estabelecidos em lei. § 1º Constatada a falta, o juiz ordenará a instauração de processo administrativo, na forma da lei. § 2º Qualquer das partes, o Ministério Público ou a Defensoria Pública poderá representar ao juiz contra o serventuário que injustificadamente exceder os prazos previstos em lei. EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO: 1) Quais as espécies de preclusão existentes no processo ? 2) Em que casos o CPC impõe o segredo de justiça ? 3) O que é o princípio da instrumentalidade das formas? 4) São tempestivos os atos praticados antes do termo inicial do prazo ? 5) Aplica-se o prazo em dobro dos litisconsortes no caso de autos eletrônicos ? 6) Aplica-se o prazo em dobro dos litisconsortes nos juizados especiais ? 7) Aplica-se o prazo em dobro quando se tratar de litisconsortes cujos advogados pertencem ao mesmo escritório de advocacia ? 8) A regra da contagem do prazo em dias úteis se aplica aos prazos materiais, a exemplo do prazo de decadência no mandado de segurança ? 9) Para que os atos das partes produzam efeitos no processo, é necessário pronunciamento ou homologação do juiz ? Existe exceção ? 10) Como podem ser classificados os pronunciamentos do juiz ?
Compartilhar