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FISIOLOGIA DO SISTEMA DIGESTÓRIO MILENA BAVARESCO INTRODUÇÃO ▪ Função primária e básica do TGI: transportar nutrientes, água e eletrólitos do meio externo para o meio interno do corpo. ▪ O Sistema digestório tem a função de secretar enzimas para digerir os alimentos ingeridos (que são macromoléculas) em micromoléculas para que assim possam ser absorvidas. ▪ Há mecanismos protetores contra a autodigestão das células do TGI, porém quando esses mecanismos falham é provável o desenvolvimento de úlceras pépticas. ▪ O TGI também exerce o balanço de massa, ou seja, equilibra a entrada com a saída de líquido. Faz o balanceamento entre a absorção do líquido consumido (cerca de 2 L/dia) e da própria produção de líquido pelas glândulas e células exócrinas (cerca de 7 L/dia), e da eliminação pelas fezes, que em estimativa deve ser de cerca de 100 mL; ▪ Repele invasores externos a partir de um conjunto de mecanismos fisiológicos de defesa, incluindo muco, enzimas digestórias, ácido e tecido linfático, que atuam para evitar bactérias. ▪ O sistema digestório tem quatro processos básicos: digestão (quebra ou degradação química ou mecânica dos alimentos em unidades menores), absorção (transferência ativa ou passiva de substâncias do lúmen do TGI para o líquido extracelular – LEC), motilidade (movimentos no trato GI como resultado de contrações musculares) e secreção (transferência de água e íons do LEC para o lúmen do trato digestório e liberação de substâncias sintetizadas pelas células epiteliais GI). DEGLUTIÇÃO ▪ Dividida em três estágios, o primeiro é o estágio voluntário, que inicia o processo de deglutição; o segundo é o estágio faríngeo, que é involuntário, correspondente à passagem do alimento pela faringe até o esôfago; e o terceiro estágio que é o estágio esofágico, outra fase involuntária que transporta da faringe até o estômago. ▪ ESTADO FARÍNGEO: traqueia se fecha, esôfago se abre, onda peristáltica rápida, iniciada pelo sistema nervoso, força o bolo alimentar para a parte superior do esôfago. ▪ CAVIDADE ORAL E ESÔFAGO: motilidade pela mastigação e deglutição/ secreção de saliva pelas glândulas salivares e lipase (pouca)/digestão de carboidratos e pouca gordura/ não tem absorção; FISIOLOGIA DO SISTEMA DIGESTÓRIO MILENA BAVARESCO o A saliva amolece e lubrifica o alimento para torná-lo mais fácil de deglutir; o A digestão química começa com a secreção da amilase salivar e uma quantidade muito pequena de lipase salivar. o Substâncias protetoras da saliva: lisozima (enzima salivar antibacteriana) e imonoglobulinas salivares (inativam bactérias e vírus). o Se o esfíncter esofágico inferior não permanecer contraído, o ácido gástrico e a pepsina podem irritar o revestimento do esôfago, levando à dor e irritação (azia/pirose). MOTILIDADE ▪ Tem dois propósitos: transportar o alimento da boca até o ânus e misturá-lo mecanicamente para quebra-lo uniformemente em partículas pequenas. ▪ Esta mistura maximiza a exposição das partículas às enzimas digestórias, uma vez que aumenta a sua área de superfície. ▪ A motilidade GI é determinada pelas propriedades do músculo liso do trato e modificada por sinais químicos provenientes das fibras nervosas, por hormônios e substâncias parácrinas. ▪ No trato GI, ocorrem dois tipos de movimentos, os movimentos propulsivos (fazem com que o alimento percorra o trato com velocidade apropriada para que ocorram a digestão e a absorção) e os movimentos de mistura (mantêm os conteúdos intestinais bem misturados todo o tempo); ▪ Regiões diferentes apresentam diferentes tipos de contração. As contrações tônicas (mantidas por minutos ou horas) ocorrem em alguns esfíncteres de musculo liso na porção proximal do estômago. As contrações fásicas (mantidas por segundos) com ciclos de contração e relaxamento ocorrem na região distal do estômago e no intestino delgado. ▪ Ciclos de contração-relaxamento são associados com ciclos de despolarização e repolarização (potenciais de ondas lentas). Quando as ondas lentas atingem o limiar, íons cálcio entram na célula, disparando um potencial de ação que inicia a contração muscular. ▪ Durante e após a refeição, as contrações podem seguir dois padrões: o A peristalse, ondas progressivas de contração que se propagam de uma seção do TGI para outra. O músculo circular se contrai atrás do bolo alimentar, de modo a empurrá-lo para um próximo seguimento receptor, que está relaxado, e assim vai movendo a massa alimentar. Ocorre principalmente no esôfago, onde impulsiona para frente o material da faringe para o estômago. Ela contribui para a mistura do bolo no estômago e é influenciada por hormônios, sinais parácrinos e sistema nervoso autônomo. o Já nas contrações segmentares, segmentos curtos de intestino contraem e relaxam alternadamente. Essas contrações alternadas agitam o conteúdo intestinal, misturando-o e mantendo-o em contato com o epitélio absortivo; ▪ Distúrbios da motilidade estão entre os problemas GI mais comuns e variam de espasmos esofágicos e esvaziamento gástrico lento até constipação e diarreia. SECREÇÃO ▪ Em um dia normal, cerca de 9 L passam pelo TGI de um adulto. Cerca de 2 L por alimentação e 7 L da água corporal secretada junto com as enzimas e o muco. ▪ Grande parte do líquido secretado pelo sistema digestório é composta de por água e íons, particularmente Na+, K+, Cl-, HCO3- e H+; ▪ Os íons são secretados para dentro do lúmen e depois reabsorvidos. ▪ A água segue o gradiente osmótico criado pela transferência de solutos de um lado do epitélio para FISIOLOGIA DO SISTEMA DIGESTÓRIO MILENA BAVARESCO o outro. Move-se através das células epiteliais via canais de membrana ou entre as células. SECREÇÃO ÁCIDA ▪ As células parietais (profundas nas glândulas gástricas - estômago) secretam ácido clorídrico no lúmen do estômago. ▪ COMO FUNCIONA? Uma molécula de água (H2O) presente dentro das células parietais é quebrada. Então o H+ resultante passa para o lúmen do estômago, seguida pelo Cl- através de um canal de cloreto de vazamento; isso resulta em secreção de HCl pela célula. ▪ Enquanto é secretado o ácido no lúmen, o bicarbonato (HCO3), gerado a partir da junção de CO2 e OH (parte da água), é absorvido para o sangue. Isso reduz a acidez do sangue que deixa o estômago criando a maré alcalina. SECREÇÃO DE BICARBONATO ▪ A secreção de bicarbonato para o duodeno neutraliza o ácido proveniente do estômago. Uma pequena quantidade de bicarbonato é secretada por células duodenais; entretanto, a maioria vem do pâncreas, que secreta uma solução aquosa de bicarbonato de sódio - NaHCO3; ▪ O movimento de sódio e água nesses tecidos são processos passivos, impulsionados por gradientes eletroquímico e osmótico. O movimento resultante de íons negativos do LEC para o lúmen atrai Na+. ▪ A secreção de Na+ e HCO3- para dentro do lúmen cria um gradiente osmótico, e a água segue por osmose. ▪ RESULTADO FINAL: é a secreção de uma solução aquosa de bicarbonato de sódio. ▪ Na fibrose cística, as secreções de Cl- e líquido cessam, mas as células caliciformes continuam a secretar muco, o que resulta em um muco espesso. Esse muco obstrui ductos pancreáticos e impede a secreção de enzimas digestórias no intestino. SECREÇÃO DE NACL ▪ As células das criptas no intestino delgado e colo secretam uma solução isotônica de NaCl que se mistura com o muco secretado pelas células caliciformes para ajudar a lubrificar o conteúdo intestinal. ▪ O cloreto proveniente do LEC entra na célula e vai para o lúmen, é seguido por Na+ e água que vêm a resultar em secreção de solução salina isotônica.ENZIMAS DIGESTÓRIAS SÃO SECRETADAS NO LÚMEN ▪ São secretadas ou pelas glândulas exócrinas (glândulas salivares e pâncreas) ou pelas células epiteliais da mucosa do estômago e intestino delgado. ▪ As enzimas (proteínas) são sintetizadas no reticulo endoplasmático rugoso, empacotadas pelo complexo de Golgi dentro de vesículas secretoras e armazenadas na célula até serem necessárias, quando são liberadas por exocitose. ▪ Algumas enzimas digestórias são secretadas na forma inativa de pró-enzima conhecidas coletivamente como zimogênios. Os zimogênios são ativados no lúmen do TGI. Ex.: pepsinogênio. ▪ As vias de controle para a liberação de enzimas variam, mas incluem vários sinais neurais, hormonais e parácrinos. Normalmente, a estimulação dos neurônios parassimpáticos do nervo vago aumenta a secreção de enzimas. SECREÇÃO DE MUCO (CÉLULAS ESPECIALIZADAS) ▪ O muco é uma secreção viscosa composta principalmente de glicoproteínas coletivamente chamadas de mucinas. ▪ As principais funções são formar uma cobertura protetora sobre a mucosa GI e lubrificar o conteúdo intestinal. ▪ O muco é produzido em células exócrinas especializadas chamadas de células mucosas no estômago e de células caliciformes no intestino, e pelas glândulas salivares a partir de células especializadas. ▪ Os sinais para a liberação de muco incluem: inervação parassimpática, vários neuropeptideos encontrados no sistema nervoso entérico e citocinas provenientes dos imunócitos. ▪ As infecções parasitárias e os processos inflamatórios no TGI também causam aumento substancial na produção de muco à medida que o corpo tenta fortalecer suas barreiras protetoras. FISIOLOGIA DO SISTEMA DIGESTÓRIO MILENA BAVARESCO SECREÇÃO DE SALIVA ▪ A saliva é um líquido hiposmótico complexo secretado pelas glândulas salivares da cavidade oral; é composta por água, íons, muco e proteínas, como enzimas e imunoglobulinas. ▪ A secreção salivar é controlada pelo sistema nervoso autônomo e pode ser disparada por múltiplos estímulos, como visão, cheiro e até pelo pensamento. A inervação parassimpática é o estímulo primário para a secreção da saliva, mas também há alguma inervação simpática nas glândulas. SECREÇÃO DE BILE ▪ A bile é uma solução não enzimática secretada pelos hepatócitos, ou células do fígado; seus componentes principais são: os sais biliares (facilitam a digestão enzimática das gorduras), os pigmentos biliares (subprodutos da degradação da hemoglobina, ex.:bilirrubina) e o colesterol (que é excretado nas fezes). ▪ A bile é secretada dentro dos ductos hepáticos que a levam para a vesícula biliar, a qual armazena e concentra a solução biliar. Durante uma refeição, as contrações da vesícula biliar enviam bile para o duodeno pelo ducto colédoco, junto com uma solução aquosa de bicarbonato e enzimas digestórias provenientes do pâncreas. DIGESTÃO E ABSORÇÃO ▪ O sistema GI digere macromoléculas em unidade absorvíveis usando uma combinação de degradação mecânica (mastigação e agitação gástrica) e enzimática (bile e enzimas); ▪ A maior parte da absorção acontece no intestino delgado, com absorção adicional de água e íons no intestino grosso. CARBOIDRATOS ▪ O transporte intestinal de carboidratos é restrito aos monossacarídeos, o que significa que todos os carboidratos complexos e dissacarídeos precisam ser digeridos para serem absorvidos. ▪ Os carboidratos complexos que conseguimos digerir são o amido e o glicogênio, que são quebrados pelas enzimas amilase e dissacaridase. A absorção intestinal será então dos produtos: glicose e galactose. PROTEÍNAS ▪ São digeridas gerando pequenos peptídeos e aminoácidos, por dois grandes grupos de enzimas: endopeptidases (proteases, quebram cadeias longas em fragmentos menores a partir de seu interior) e exopeptidases (liberam aminoácidos a partir de segmentação das extremidades dos peptídeos). ▪ Os principais produtos da digestão de proteínas são aminoácidos livres, dipeptídeos e tripeptídeos, que podem ser absorvidos. PEPTÍDEOS MAIORES ▪ Alguns peptídeos que possuem mais de três aminoácidos são absorvidos por transcitose após ligarem-se a receptores de membrana na superfície luminal do intestino. ▪ Esses peptídeos podem atuar como antígenos, substâncias que estimulam a formação de anticorpos e resultam em reações alérgicas. FACILITAÇÃO DOS SAIS BILIARES ▪ Gorduras e moléculas relacionadas à dieta ocidental incluem triacilglicerois, colesterol, fosfolipídios, ácidos graxos de cadeia longa e vitaminas lipossolúveis. ▪ A digestão enzimática de gorduras é realizada pelas lipases, enzimas que removem dois ácidos graxos de cada triacilglicerol. O resultado é a produção de um monoacilglicerol e dois ácidos graxos. ▪ A digestão de gorduras é complicada pelo fato de que a maioria dos lipídeos não é particularmente solúvel em água. Como resultado, o quimo aquoso que deixa o estômago contém uma emulsão de grandes gotas de gordura. ▪ O fígado, então, secreta sais biliares no intestino delgado para aumentar a superfície disponível para a digestão enzimática das gorduras. ▪ Os sais biliares se ligam às gotas lipídicas e criam uma emulsão estável de pequenas gotas de gordura solúveis em água (devido a seu caráter anfipático). ▪ Passa a ser necessária então a colipase, cofator proteico secretado pelo pâncreas, para deslocar os sais biliares, permitindo que a lipase acesse a FISIOLOGIA DO SISTEMA DIGESTÓRIO MILENA BAVARESCO gordura (já que esta é incapaz de penetrar nos sais biliares). ABSORÇÃO DE VITAMINAS E MINERAIS ▪ Em geral, as vitaminas solúveis em lipídeos (A, D, E e K) são absorvidas no intestino delgado junto com as gorduras. - As vitaminas solúveis em água (C e grande parte da B) são absorvidas por transporte mediado. ▪ A principal exceção é a vitamina B12. O transportador intestinal específico para ela é encontrado apenas no íleo e reconhece apenas quando combinada a uma proteína chamada de fator intrínseco, secretada pelo estômago. ▪ Já a absorção mineral geralmente ocorre geralmente por transporte ativo. ABSORÇÃO DE ÍONS E ÁGUA ▪ A maior parte da absorção de água ocorre no intestino delgado, e tem sua absorção final no grosso.
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