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A Crise da Educacao na era Digital

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Fabião Moisés Paulo
A Crise da Educação na era Digital
Resumo
Refletir em torno da crise da educação na era digital é termos em conta as novas tecnologias de informação e comunição que, estão presentes no sistema educacional contemporâneo, diferentemente das outras eras. A era digital é frequentemente utilizada para designar os avanços tecnológicos advindos da Terceira revolução industrial e que revelam na difusão de um ciberespaço, um meio de comunicação instrumentalizado pela informática e pela internet. Desde os primórdios, a educação foi vista como um núcleo duro que salvaguarda a noção de transmissão e assimilação de valores humanos de uma geração adulta para a mais nova. A educação esteve sempre ao serviço de formação de homens com valores sólidos. O contexto digital actual modificou o modo de pensar do ser humano afectando de forma drástica a educação. Bauman, fundamenta que a educação passou da sólida para líquida. A educação líquida nascida da proliferação da internet conduz o ser humano a um mundo líquido com valores humanos também líquidos, que precipita a crise da educação no mundo contemporâneo, colocando em causa a antiga relação: professor-aluno, quadro-giz e aluno-livro pela sublimação da internet, surgindo da líquida uma educação mimada transformando as escolas em um depositório de crianças e não de produção de conhecimentos para a resolução dos problemas reais, confiando a internet para a busca de conhecimentos. Portanto, neste artigo, pretendemos analisar a crise da educação na era digital, por via do questionamento das razões que estão por detrás da crise da educação na era digital.
Palavras-chave: Crise, Educação e Era Digital.
A Crise da Educação na era Digital
1. Introdução
 No presente artigo intitulado: A Crise da Educação na era Digital, pretendemos defender a tese de que, a crise da educação na era digital é proporcionada pela tecnologia de informação e comunicação que leva o homem a uma consciência conectada. A crise da educação a que nos propomos analisar é em função de três perspectivas: o contexto digital actual, modificação no modo de pensar do ser humano e impacto dessas transformações no sistema educacional. Diante destas perspectivas, nos movemos com a seguinte questão de partida: O quê está por detrás da crise da educação na era digital?
Estamos ciente de que, este tipo de questão nos remente a cavarmos até encontrar a raiz ou seja, a causa do problema. Dai que, falar da crise da educação na era digital, apriori, devemos lembrar a ideia de Kuhn (1998:105) de que, “o significado das crises consiste exactamente no facto de que indicam que é chegada a ocasião para renovar os instrumentos”. Porque a produção de novos instrumentos é uma extravagância reservada para as ocasiões que o exigem e, como afirma Arendt (1961:2) de que, “a crise força-nos a regressar às próprias questões e exige de nós respostas, novas ou antigas, mas, em qualquer caso, respostas sob a forma de juízos directos. Uma crise só se torna desastrosa quando lhe pretendemos responder com ideias feitas, quer dizer, com preconceitos. Atitude que não apenas agudiza a crise como faz perder a experiência da realidade e a oportunidade de reflexão que a crise proporciona”. Portanto, dizer que não há crise na educação é uma ignorância. Dai que, a nossa abordagem vai se fundamentar em Zygmunt Bauman, dado que foi este teórico que afirmou de que, estamos vivendo com a crise na educação. Zygmunt Bauman, é filósofo e sociólogo Polonês, autor dos best-sellers “O mal-estar da pós-modernidade, Modernidade líquida e Amor líquido”. É um dos maiores pensadores do século XXI, seu conceito de que vivemos numa era líquida. Faz da liquidez como sua metáfora e como uma das características da fragilidade e a perca dos valores da nossa era contemporânea. 
2.1. Educação
O senso comum entende genericamente por “educação” como o sistema de formação educacional destinado a equipar os indivíduos jovens com conhecimentos, e, dotá-los com habilidades e competências de forma que eles se tornem capazes de participar produtiva, social e civicamente no mundo dos adultos (NEVES, p 87, 2011).
Assim tem sido compreendido o termo educação quanto a sua introdução no sistema escolar universal. Normalmente, consideramos o termo educação como acto de educar, instruir, e disciplinar. No sentido de Antropologia Cultural, educação significa o meio de transmissão de hábitos, costumes e valores de sociedade para a geração seguinte. Engloba por isso, a cortesia, delicadeza e civilidade que um indivíduo apresenta nas relações sociais e culturais. Portanto, Brandão ilustra que:
Ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um modo ou de muitos todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender, para ensinar, para aprender a ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para conviver, todos os dias misturamos a vida com a educação (Brandão, p 7, 2007).
A educação é portanto, fundamental para a socialização do homem e sua consequente humanização. Se assim for, seria um erro se afirmássemos que a educação é isto ou é aquilo, porque ela (educação) faz parte no percurso de toda vida humana. 
Não há uma forma única nem um único modelo de educação, assim afirma Brandão (2007, p,9) e Piletti (2004, p, 12). Contudo, a escola não é o único lugar onde ela acontece e talvez nem seja o melhor, o ensino escolar não é a sua única prática e o professor profissional não é o seu único praticante. Continuamos com Brandão (2007):
Em mundos diversos a educação existe diferente: em pequenas sociedades tribais de povos caçadores, agricultores ou pastores nômades; em sociedades camponesas, em países desenvolvidos e industrializados; em mundos sociais sem classes, de classes, com este ou aquele tipo de conflito entre as suas classes; em tipos de sociedades e culturas sem Estado, com um Estado em formação ou com ele consolidado entre e sobre as pessoas (Brandão, 2007). 
Existe educação de cada classe de sujeitos num determinado povo, ou nação, ela existe em cada população, ou entre povos que se encontram. A educação pode ser um instrumento de dominação. Assim dizia Nelson Mandela “a educação é a arma mais poderosa para quem quer transformar o mundo”. Porém, diz Brandão (2007) que:
 Mas ela existe, da família à comunidade, a educação existe difusa em todos os mundos sociais, entre as incontáveis práticas dos mistérios do aprender; primeiro, sem classes de alunos, sem livros e sem professores especialistas; mais adiante com escolas, salas, professores e métodos pedagógicos (Brandão,2007, p10).
A educação pode ser livre e, entre todos, pode ser uma das maneiras que as pessoas criam para tornar comum ou, vulgar, como saber, como ideia, como crença, aquilo que é comunitário como um bem, como trabalho ou como vida. Ela pode existir imposta por um sistema centralizado de poder, que usa o saber e o controle sobre o saber como armas que reforçam a desigualdade entre os homens, na distribuição de bens, de trabalho, dos direitos e dos símbolos. No entanto:
A educação é, como outras, uma fracção do modo de vida dos grupos sociais que a criam e recriam, entre tantas outras invenções de sua cultura, em sua sociedade. Formas de educação que produzem e praticam, para que elas reproduzam, entre todos os que ensinam e aprendem, o saber que atravessa as palavras da tribo, os códigos sociais de conduta, as regras do trabalho, os segredos da arte ou da religião, do artesanato ou da tecnologia que qualquer povo precisa para reinventar, todos os dias, a vida do grupo e a de cada um de seus sujeitos, através de trocas sem fim com a natureza e entre os homens, trocas que existem dentro do mundo social onde a própria educação habita, e desde onde ajuda a explicar às vezes a ocultar, às vezes a inculcar de geração em geração, a necessidade da existência de sua ordem (Idem, p 10). 
Ainda, a educação existe no imaginário das pessoas e na ideologia dos grupos sociais e, alí, sempre se espera, de dentro, ou sempre se diz para fora, que a sua missão é transformar sujeitose mundos em algo melhor, de acordo com as imagens que se têm de uns e outros. Portanto, 
A Educação, do latim “educere” que significa extrair, tirar, desenvolver, consiste, essencialmente, na formação do homem de caráter. A educação é um processo vital, para o qual concorrem forças naturais e espirituais, conjugadas pela ação consciente do educador e pela vontade livre do educando. Não pode, pois, ser confundida com o simples desenvolvimento ou crescimento dos seres vivos, nem com a mera adaptação do individuo ao meio. Actividade criadora, que visa a levar o ser humano a realizar as suas potencialidades físicas, morais, espirituais e intelectuais. Não se reduz à preparação para fins exclusivamente utilitários, como uma profissão, nem para o desenvolvimento de características parciais da personalidade, como um dom artístico, mas abrange o homem integral, em todos os aspectos de seu corpo e de sua alma, ou seja, em toda a extensão de sua vida sensível, espiritual, intelectual, moral, individual, doméstica e social, para elevá-la, regulá-la e aperfeiçoá-la. É um processo contínuo, que começa nas origens do ser humano e se estende até à sua morte (Ibid, p. 63-64).
2.2. Crise
A palavra crise vem do grego (krisis) que significa: escolha, selecção, decisão. Em seu sentido primeiro, a crise designa a manifestação aguda de uma doença, um momento de desequilíbrio sensível. Em um sentido genérico, significa uma mudança decisiva no curso de um processo, provocando um conflito ou um profundo estado de desequilíbrio. 
Entretanto, para Platão citado por Bauman & Bordoni (2016, p. 9), o conceito, crise significa, Contenda ou disputa, um padrão, do qual derivam critério, base para julgar, mas também habilidade de discernir, e criticar, próprio para julgar, crucial, decisivo, bem como pertinente à arte de julgar. Zilles (2010, p. 20), afirma que, o conceito original da palavra “crise” significa situação de decisão.
Porém, ABAGGNANO (2017, p. 222), sustenta que em época recente, esse termo foi estendido, passando a significar transformações decisivas em qualquer aspectos da vida social. 
Portanto, trata-se certamente de um termo mais neutro, que tem sido utilizado em muitos outros contextos, além do econômico, sendo muito habitual, como sustentam Bauman e Bordoni, (2016, p. 11). Por exemplo, falam-se das crises matrimoniais, que perturbam casais, há crises de adolescência, que marcam a transição da puberdade à vida adulta, a noção de “crise” transmite a imagem de um momento de transição de uma condição anterior para uma nova de uma transição que se presta necessariamente ao crescimento, como prelúdio de uma melhoria para um status diferente, um passo adiante decisivo. Por isso, Bauman & Bordoni, (2016) afirmam que:
Como se pode ver, “crise”, em seu sentido próprio, expressa algo positivo, criativo e optimista, pois envolve mudança e pode ser um renascimento após uma ruptura. Indica separação, com certeza, mas também escolha, decisões e, por conseguinte, a oportunidade de expressar uma opinião. Num contexto mais amplo, a noção adquire sentido de maturação de uma nova experiência, a qual leva a um ponto de não retorno (tanto no âmbito pessoal quanto no histórico social). Em resumo, a crise é o fator que predispõe à mudança, que prepara para futuros ajustes sobre novas bases (Bauman & Bordoni, 2016, p. 11).
A partir de pressupostos dos teóricos acima citados, um destes mantem o sentido original do termo crise, que significa decisão, por exemplo, no caso de Zilles. Porém, muda seu sentido com Platão, Bauman e Bordoni, posto que, para estes últimos, o termo crise pressupõe uma mudança. Mas em Kuhn, encontramos um significado que tem haver com o nosso objectivo. Para Kuhn (1998, p. 105), o significado das crises consiste no facto de que indicam que é chegada a era de renovação de instrumentos científicos. Porque a produção de novos instrumentos é uma extravagância reservada para as ocasiões que o exigem. Portanto, a crise é uma anomalia. E na esfera da educação, o conceito crise, nos chama a actualização do processo de ensino e aprendizagem. 
2.3. Era digital
Muitos teóricos da pós-modernidade e do período contemporâneo, como por exemplo: Don Tapscott, André Telles, afirmam que estamos na era da geração digital. Mas, o que significa a era digital? 
A Era digital é frequentemente utilizada para designar os avanços tecnológicos advindos da Terceira Revolução Industrial e que revelam na difusão de um ciberespaço, um meio de comunicação instrumentalizado pela informática e pela internet. Portanto, a expressão “era digital” se aplica à onipresença da informação como entorno simbólico e de socialização de crianças, adolescentes, jovens e adultos. É um entorno evoluído do modelo da televisão, para diferentes telas e artefactos, que ajustam interações narrativas visuais complexas (videogames, celulares, totens, tabletes, etc.), ligadas pela web (GÓMEZ, 2015, p. 18). 
Mas, se olharmos duma forma profunda, a nossa era tem três designações: É chamada como a “Era da Informação, Era Digital ou Era Tecnológica”. Aliás, a Era da Informação (também conhecida como Era Digital ou Era tecnológica) é o nome dado ao período que vem após a era industrial, mais especificamente após a década de 1980, embora suas bases tenham começado no princípio do século XX e, particularmente, na década de 1970, com invenções tais como o microprocessador, a rede de computadores, a fibra e o computador pessoal.
Neves prefere chamar a nossa era, como a era da “Renascença Digital”. Diz Neves, (2011, p. 22/23) que, “estamos no período no qual todo o trabalho e a maior parte de toda a criação humana foram convertidos para a forma de bits e bytes”. 
Ainda continua Neves (2011) que:
As crianças do século XXI talvez digam de forma sumária que a Renascença Digital foi o período em que tudo foi migrado para dentro do ciberespaço. Para o bem e para o mal. Todos: serviços, produção, consumo, interação profissional ou social, lazer, relações pessoais, e também as actividades ilícitas, ilegais e antissociais, como o crime, o terrorismo, o vandalismo. Tudo foi transposto para as fabulosas avenidas digitais do ciberespaço, (Idem, p.23).
Isto, pode ser verdade no sentido global, convém afirmar que estamos na era dita digital, ou seja hiperdigital parafraseando Lipovetsky e, como assevera Tapscott (2010) de que, estamos na hora da geração digital. Ou ainda, seria melhor afirmar com Bortolazzo de que estamos na hora de geração Z: 
Geração Z ou Digital é o nome dado àqueles nascidos a partir da metade dos anos 1990. O mundo desses jovens sempre foi habitado por internet, celular, email e, de certa forma, são convocados e incitados por novidades a todo o momento. É uma geração que prescinde de informações e estímulos, mesmo que se tornem obsoletos minutos depois. Essa nova leva de jovens chama a atenção dos educadores no século XXI já que estão prestes a ingressar nas universidades e vêm demonstrando um comportamento distinto das outras gerações no que diz respeito às formas de aprendizagem e aos modos de circulação do conhecimento, (Bortolazzo, 2012, p 6).
Portanto, a era digital é caracterizada pela supremacia de tecnologias de informação e comunicação, subversão de telas, onde, nesta era tudo é dígito, o dígito é a característica essencial do nosso tempo. É uma nova forma de estar no mundo e quanto ao processo do ensino e aprendizagem, hoje estudamos com ajuda das tecnologias de informação e comunicação.
3. A crise da educação na era digital
Desde antiguidade, a educação sempre esteve em crise, mas em cada época a crise na educação se manifestou duma forma diferente. Na Modernidade por exemplo, os legisladores e intérpretes (os iluministas) fizeram com que a educação fosse apenas um gerenciamento da crise, ou melhor, como nos assevera Bauman (2010):
A educação foi antes uma reflexão posterior, uma resposta do tipo gerenciamento da crise, uma tentativa desesperada de regulamentar o desregulamentado, de introduzir ordem numa realidade social que antes já fora expropriada dosseus próprios dispositivos de auto-ordenamento, (BAUMAN, 2010, p 101).
A partir desse gerenciamento da crise, a educação tornou-se um imperativo. Em sua história posterior, a ideia de educação ficou tão intimamente associada à escolaridade que ficava difícil compreender todo o escopo das ambições originais que ela representava. Portanto, a escola como instituição pública, também entrou em crise. Porém, a história da educação conheceu muitos momentos críticos nos quais ficava evidente que premissas e estratégias já testadas e aparentemente confiáveis não davam mais conta da realidade e exigiam revisões e reformas. Contudo, Bauman sustenta que:
A crise atual parece ser diferente daquelas do passado. Os desafios do presente desferem duros golpes contra a própria essência da ideia de educação, tal como ela se formou nos primórdios da longa história da civilização: eles questionam da educação que resistiram a todos os desafios passados e emergiram intactas de todas as crises anteriores; os pressupostos que antes nunca haviam sido colocados em questão e menos ainda encarados como se já tivessem cumprido sua missão e necessitassem de substituição. (BAUMAN, p 40, 2010). 
É a partir desses pressupostos que precederam, até Bauman afirmar que estamos vivendo com uma crise na educação. Segundo Bauman (2015), a crise fundamenta-se sob análise de três fundamentos: o contexto digital actual, modificação no modo de pensar do ser humano e impacto dessas transformações no sistema educacional, que refletimos a seguir.
3.1.O contexto digital actual 
Desde antiguidade até hoje, a filosofia sempre foi caracterizada pela busca do princípio ou seja, arché. É o princípio que faz subsistir todas as coisas. Tales de Mileto chamou esse princípio de Água, Infinito para Anaximandro, Ar para Anaxímenes, Fogo, para Heráclito etc. Assim a mesma busca do princípio, verificou-se ainda, na idade Media, Moderna, Pós-moderna e a era Contemporânea. Mas agora, qual seria o principio hoje? A resposta é óbvia, é o digital. Tudo nesta era tende a ser dígito.
O dígito é a característica essencial do nosso tempo, tudo deve ser digitado, para responder a dimensão virtual, que é real. Mas, como tudo é histórico, assim afirma Karnal (2018, p.27), o que chamamos por contexto digital certamente o é. A era digital é um dualismo platónico disfarçado: Platão entendia o mundo em que vivemos como sendo uma cópia e o verdadeiro mundo é o mundo das ideias. No entanto, essa ideia platónica foi levada a cabo para o mundo digital. Portanto, o digital é o mais verdadeiro, do que o físico, ou seja, o que se encontra no mundo virtual é mais verdadeiro do que, o que se encontra no mundo físico. Esta ideia está patente hoje na educação contemporânea.
Então, uma vez que, o contexto digital trouxe mudanças de paradigma (em torno da globalização), e, estas mudanças todas se verificam hoje na nossa sociedade. Como ilustra Barbosa na condição pós moderna de Lyotard, logo no prefácio presumindo que:
Com o início por volta dos anos 50 da chamada “era pós-industrial” assistimos a modificações substantivas nos estatutos da ciência e da universidade. O mais importante nesse processo de modificação cuja origem encontra-se na crise da ciência (e da verdade ocorrida nos últimos decênios do séc. XIX) não foi apenas a eventual substituição de uma má concepção da ciência (a empirista) por exemplo) por outra qualquer. O que de fato vem desde então ocorrendo é uma modificação na natureza mesma da ciência (e da universidade) provocada pelo impacto das transformações tecnológicas sobre o saber, (Lyotard, 1991, p 8).
Aqui Lyotard, deixa tudo claro que, a partir dessa crise da ciência ou da epistemologia, então, o cenário pós moderno é essencialmente cibernético informático e informacional. E na condição pós moderna, expandem-se cada vez mais os estudos e as pesquisas sobre a linguagem, com o objetivo de conhecer a mecânica da sua produção e de estabelecer compatibilidade entre linguagem e máquina informática com objectivo de informar a sociedade. No entanto, o cenário pós moderno, com a sua vocação informática e informacional, investe-se sobre esta concepção do saber científico. De facto:
Descobriu-se que a fonte de todas as fontes chama-se informação e que a ciência assim como qualquer modalidade de conhecimento nada mais é do que um certo modo de organizar, estocar e distribuir certas informações. Longe, portanto, de continuar tratando a ciência como fundada na “vida do espírito “ou na “vida divina”; o cenário pós-moderno começa a vê-la como um conjunto de mensagens possível de ser traduzido em quantidade (bits) de informação (Idem, p.9).
Contudo, a condição pós-moderna mostra-nos que sem saber científico e técnico não se tem riqueza. Ou seja, sem mega bytes não teremos informações. Mais do que isto, mostra- nos ainda que, através da concentração massiva nos países ditos pós-industriais de bancos de dados sobre todos os saberes hoje disponíveis que a competição econômico-política entre as nações se dará daqui para frente não mais, em função primordial da tonelagem anual de matéria-prima ou de manufatura dos que possam eventualmente produzir. Dar-se-á sim em função da quantidade de informação tecnocientífica que suas universidades e centros de pesquisa forem capazes de produzir estocar e fazer circular como mercadoria, rumo ao serviço do capitalismo parasitário como nos alerta Bauman, artista Lipovetsky e astucioso como prefere Amine. Porque é falso.
Então nesta perspectiva, o contexto digital que é um reafirmamento de idea baconiana de que o conhecimento é o poder, essa ideia é levado a cabo hoje na educação. Portanto falar da educação no contexto ou perspectiva digital, é ter em conta a disponibilidades de informações que são vinculados pela tecnologia de informação e comunicação. Não existiu uma era em que a informação foi tão perseguida ou caçada como esta nossa. A informação está disponível a qualquer lugar e a qualquer hora. Porque a era digital ou tecnológica encurtou as distâncias, tudo agora está na palma das suas mãos, basta você ligar dados e dar um clique no mouse ou no dedo indicador na ecrã digital e pronto! Aparecem muitas informações em minutos ou segundos. Na era digital, tocamos tudo com a ponta dos nossos dedos. Quêm não têm dedos é considerado um analfabeto, ou seja, iletrado. É por isso que hoje, está na moda falar da educação digital. Onde como diz Neves (2011):
Aqueles adultos que têm contacto quotidiano com adolescentes, seja no papel de pais ou no de professores, certamente ficam pasmos como essa meninada vive confortavelmente em um mundo onde bits e bytes imperam, seja na forma de blogs, emails, torpedos, rings, música, vídeo, uploads e downloads, wikis, etc.; imersos em uma realidade na qual se navega com a ajuda de ferramentas digitais como celulares, computadores, câmeras digitais, Ipods, players, DVDs, conexões wireless, banda larga etc (NEVES, 2011, p 89).
Tudo graças a internet e junto com suas ferramentas digitais como celulares, computadores, câmeras digitais, etc. Portanto, diz Bauman (2015) que: 
A era computadorizada produziu um novo ser humano, ou seja, um indivíduo totalmente diferente daquele que viveu até os anos 1970. Atualmente, basta ter um celular para que todos tenham acesso às pessoas, às informações na internet e a todos os lugares pelo GPS, (BAUMAN, 2015).
Pensemos em todos os websites que já visitamos, todos os textos que lemos online, tudo o que aprendemos sozinhos sem professor. Este contexto digital actual desafia a antiga estrutura, não só a relação do professor e aluno, quadro e giz, aluno e livro, mas desafia a todos. Porque tudo tende a ser digital e virtual ao mesmo tempo. Você sozinho pode chegar as informações, pode apreender e sem pisar na sala de aula, sem folhar as páginas do livro com saliva, sem chegar na biblioteca e sem a presença do professor e nem dos colegas da carteira. Mas tudo isso, sozinho em casa com um Pc, ou telefonezinho smartphone a navegar e sem qualquer esforço. 
2.2. Modificação no modo de pensardo ser humano 
As fundamentações de Bauman, indicam que a Internet mudou o modo de pensar e a forma de estar do homem ou melhor, as tecnologias de informação e comunicação. Exemplo disso é a crise de atenção na sala de aula. Como observou Katie Baldo, (orientadora pedagógica da Cooperstown Middle School no estado de Nova York) citada por Bauman (2010, p. 66), “os adolescentes perdem alguns importantes sinais sociais porque estão muito concentrados em seus iPods, celulares ou videogames. Na sala de aula, percebo continuamente que não conseguem cumprimentar nem estabelecer contato visual”. 
O professor está a explicar a matéria e os alunos estão a trocar mensagens nas redes sociais, estão sempre nas ágoras digitais. Verificamos na sala de aula, uma ignorância total da aula. Parece que hoje desafiamos o princípio da impenetrabilidade: “Um corpo não pode ocupar ao mesmo tempo dois lugares distintos no espaço”. Mas deixemos isso para Newton ou melhor, para os físicos porque nós desafiamos a esse princípio! Mas eles (os físicos) continuam certos do que nós. Por enquanto, seria melhor, chama-lo Filhos e Dainezi (2014, p. 154), que deliciam as redes sociais ironizando que: viva as redes sociais! 
E aliando-nos com isso, encontra sustento em Castiano (2018, p, 164), que afirma estamos vivendo numa facebook Society, onde nos enfrentamos com a geração selfs e like em contrapartida, Rafael Capurro denomina a nossa sociedade de século XXI como uma Sociedade de mensagens. Porém, diz Capurro que:
A sociedade da mensagem é caracterizada pelos novos meios de comunicação descentralizada, especialmente as redes digitais globais que permitem a interação de muitos para muitos, exemplo da Internet, em contraposição aos meios de comunicação de massa centralizados e regulamentados anteriormente disponíveis, e também à comunicação de um para um, exemplo telefone, (Capurro apud MATHEUS, 2005, p. 149).
Portanto, ainda continuamos com Capurro apud Gomez & Cianconi (2017) ao defender que:
O novo imperativo moral nos obriga a estar acessível o tempo todo e em todo lugar, e a responder instantaneamente às mensagens digitais. Tal imperativo do presente instantâneo está baseado, portanto, em um novo regime espaço-temporal do que chamo de sociedade de mensagens, (Capurro, apud Gomez & Cianconi, 2017, p.54/55). 
As bibliotecas e os arquivos, que durante séculos foram sistemas materiais da memória cultural das sociedades, se tornam acessíveis na rede digital através, primeiramente, do personal computer, logo depois, do laptop, e agora do tablet e do smartphone que permitem o acesso instantâneo e ubíquo ao conhecimento armazenado fisicamente nas bibliotecas e arquivos de qualquer parte conquanto esteja digitalizado (Idem, p.55). 
Porém, o smartphone agora é a nova biblioteca digital, que permite ao estudante a cessar na internet, a visitar as melhores bibliotecas do mundo. Com smartphone faz-se tudo, uma vez que tudo esta aí (na Internet, feito um Dasein), basta a cessar aparece tudo e pronto! Mas, O que é smartphone? Está pergunta não vamos responder agora, melhor deixarmos assim mesmo pendente, retomaremos mais tarde, agora vamos nos concentrar no que nos interessa.
Esta análise de Capurro, aproxima-se a sociedade da mensagem da sociedade em rede, de Manuel Castells. Segundo Castells apud Florian (s/a, p. 2), este novo paradigma tecnológico, nomeado de “sociedade da informação ou em redes” é definido por novos agrupamentos humanos que reorganizam seus significados, integrando o mundo em grandes redes local-global, que por sua vez não encontra sustento em Pondé (2014): 
Não há integração ou organicidade nenhuma, nem essa bobagem de que está na moda falar: vivemos numa “sociedade em rede” em que as pessoas se comunicam cada vez mais construindo um mundo melhor. O fato das pessoas se comunicarem e de haver relações econômicas globais e computadores “que se comunicam”, não implica “redes” de significado integrado ou processual, isto é, não há nenhum avanço total da sociedade, cada pessoa ou grupo se move em culturas de significado e valores distintos e conflituantes (Pondé, 2014, p.11). 
Na nova rede não entram somente os peixes e mosquitos, como também os homens. Portanto, estamos todos tempos na rede, será que não podemos perder a rede? Desta feita, Bauman sustenta que: 
Somos cada vez menos capazes de nos dedicar por um longo tempo, de maneira adequada, a uma tarefa, os professores queixam que os seus alunos não conseguem ler artigos inteiros e a habilidade de estar focado foi substituída pela habilidade de receber informações curtas e sobrepostas. As informações são pedaços que substituem os argumentos completos. Elas são breves para ter mais consumidores, como o Twitter, por exemplo. A paciência das pessoas também foi impactada. O ser humano não é mais capaz de esperar. Se o navegador de internet demora em abrir, já ficamos nervosos (Bauman, 2015). 
Porque, o homem contemporâneo está sempre com pressa, e não quer perder tempo e, é claro! Será que, não se pode perder tempo mesmo? Ou por que queremos fazer trabalhos de past copy? Verificamos ainda a falta de paciência e se a rede demora de processar ficamos chateados!
2.3. O impacto dessas transformações no sistema educacional 
Como todas as mudanças, há vantagens e desvantagens, não só o intelecto que foi afetado. As novas tecnologias influenciaram também a relação entre as pessoas. O novo cenário desafia e transforma a posição secular do docente, não há como voltar à situação em que o professor era o único conhecedor, a única fonte, o único guia. Diante desse enorme desafio, a saída é encarar a “educação como um investimento para os próximos cem anos (Bauman, 2015). 
Assim conclui Bauman com a sua tese optimista: diante desse enorme desafio, a saída é encarar a “educação como um investimento para os próximos cem anos. Mas a pergunta é óbvia: o que está por detrás da crise da educação na era digital? 
 Bauman foi aquele que enxergou toda a vida e os problemas do nosso tempo a partir de um conceito: líquido. Como é conhecido por todos nós que os líquidos não permanecem no mesmo lugar ou estado e é difícil manter a mesma forma, sempre sofrem mudanças. Mas também, devemos lembrar que esse conceito (líquido) não difere tanto do conceito de Heráclito de Éfeso, de que tudo muda ou seja, tudo se transforma. tudo está à vir-a-ser. Entretanto, se Bauman estivesse em vida será que nos daria resposta a partir dessa sua tríade? Mas como ele morreu e não se sabe se a morte dele também foi líquida! Mas, mesmo com isso, podemos sugerir uma resposta de que: tudo é líquido. Mesmo a crise! 
Portanto, se o contexto digital é a tese e a modificação do pensar do ser humano é antítese então, a sua síntese são as transformações que se verificam hoje no sistema educacional, logo, a crise da educação é proporcionada pela tecnologia de informação e comunicação que leva o homem a ter sempre uma consciência conectada. O homem é escravo da tecnologia, ou seja, comentando Bauman, a internet é armadilha do homem. A internet deixa tudo de forma líquida e leve, estamos quase para um novo estado de evaporação de conhecimento, que é gasoso. A internet passou a ser a essência da educação e de tudo quanto existe. E, o homem contemporâneo está preso nesta naipe (melhor foi Edgar Morin que escapou), e nós, não percebemos o que isto mesmo de internet.
A internet é uma das poucas coisas criadas pelos homens que eles não entendem completamente. O que começou como um sistema de transmissão eletrônica de informação de um computador do tamanho de um cômodo para outro de dimensões equivalentes se transformou numa válvula de escape onipresente e infinitamente multifacetada para a expressão e a energia humanas. Ela é intangível e ao mesmo tempo está em constante estado de mutação, tornando-se maior e mais complexa a cada segundo. É fonte de um bem enorme e tem um potencial devastador para o mal, e estamos apenas começando a testemunhar seu impacto sobre o cenário mundial (Schmidt & Cohen, 2013, p.11). 
Porém, a internet nasceuem 1968, da vontade dos militares americanos de dispor de um sistema infalível contra os ataques nucleares, ligando os seus computadores, tencionavam evitar os cortes de comunicações se fosse destruída uma via, a informação circulava por outra. Contudo, Woondrow afirma que:
Muito rapidamente, os universitários, descobriram este novo meio de comunicação colectiva e a distância, para trocar entre si os textos e gráficos, imagens e sons. Gerida por benévolos, a Net mas cedo, traiu o grande público, os curiosos, os isolados e, depois, as empresas e os predadores. A internet é o fruto de uma ideia simples e genial, a da normalização. Graças, a uma norma comum, todos computadores do mundo podem-se interligar-se (Woondrow, 1996, p.48).
A descoberta de Berners-Lee, de hipertexto instaurou-se em transversalidade, ou seja, o netsurfing de navegar sem esforço em uma possibilidade de surfar na rede, de passar de um serviço para outro serviço, realizadas graças as ligações de hipertexto em vez de passar quilómetro de textos contínuos, de hiperligações. Permite saltar de um tema ou conteúdo para outro conteúdo, de uma fonte de informação para uma outra fonte, assim sucessivamente, basta só dar um clique com o rato em cima de uma palavra. O êxito foi imediato e a explosão foi fenomenal, vejamos só: “o ciberespaço pertence a todos e o acesso é pouco dispendioso, um fenómeno de curiosidade tornou-se uma moda, uma paixão” (Idem, p. 48).
Actualmente a internet, permite aos estudantes consultar as melhores bibliotecas do mundo, ligar-se aos colegas, debater ou chatar com os professores e trocar apontamentos, livros ou seja, todos os manuais escolares encontram-se na Net, que resolve os problemas materiais de estudantes basta ter megabytes (a condição contemporânea), têm livros em número insuficiente. Uns exemplos é o google classroom , google meet etc. É assim que a internet tornou-se uma superestrutura da dominação ideológica da educação contemporânea. Por que a internet é o maior experimento da história envolvendo anarquia. A cada minuto, centenas de milhões de pessoas criam e consomem uma incalculável soma de conteúdo digital em um universo online que não é limitado pelas leis terrestres. Esta nova capacidade de livre expressão e movimento de informação gerou a rica paisagem virtual que conhecemos hoje. 
4. A internet: uma superestrutura?
O conceito “superestrutura” fala-se muito na teoria marxista, mas como Marx viveu numa época diferente e longe da nossa, melhor seria nos cingir em Clóvis de Barros Filho e Gustavo Fernando Dainezi, porque eles são contemporâneos a nós e falam a nossa língua. Clóvis e Dainezi escreveram um livro juntos, com o título “Devaneio sobre Atualidade do Capital”, é neste livro que eles travam uma conversa crítica sobre a internet sob um olhar marxista, e, pensamos que vai de acordo com o nosso propósito. É a partir desse, que eles destacam um aspecto superestrutural que está muito na moda, e é mais falado hoje em dia, são as novas tecnologias, como o uso da internet, e de que maneira isso poderia haver com uma reflexão marxista. Então afirmam: 
A internet é o símbolo da pós-modernidade. E na pós-modernidade cada um faz o que quer, é regido pelo baixo-ventre, ela é libertadora, é o fim das ideologias e, portanto, é uma espécie de reconciliação nietzschiana com o real, todos estão felizes com o mundo, as pessoas compram, se deleitam, satisfazem os seus desejos! Viva as redes sociais! (Filhos & Dainezi, 2014, p.114).
E o que é mais interessante quando se trata de internet segundo Filhos e Dainezi, é o que se diz a respeito dela. Constantemente, quando se fala da internet: 
O primeiro grande argumento é que ela é um meio que deselitiza as relações sociais, o acesso ao conhecimento, à informação, porque a internet está ao acesso de todos. O segundo argumento é que a internet não só permite um acesso à informação, como permite que você se manifeste através dela, e, portanto, ela é o espaço tecnológico ideal para a constituição de um verdadeiro espaço público e, portanto, as melhores soluções para organização social correm o risco de serem reveladas, descobertas e até adotadas. Fala-se também que, diferentemente dos meios de comunicação tradicionais, na internet uma figura insignificante pode reverter e subverter o mundo etc. Naturalmente, o primeiro argumento é o de que a internet permite um acesso mais democrático ao conhecimento. Esse argumento levou vários governos a desenvolverem políticas de inclusão, aparelhando as escolas com computadores. Começo dizendo que o acesso a uma informação de forma nenhuma pode garantir homogeneização do conhecimento, ou socialização do conhecimento, ou democratização do conhecimento. Porque nós sabemos que, quando você está diante de um conteúdo cognitivo qualquer, o sentido que você atribuirá a ele depende muito mais do seu repertório do que aquilo que está diante dos seus olhos (Idem, p.114/115).
Razão pela qual colocar as coisas diante dos alunos não garante nenhum tipo de eficácia pedagógica. Essa é a primeira ideia. Quando você lê um livro, linha a linha, as interpretações que você faz daquilo que você lê, elas são ilações que dependem do seu arsenal cognitivo, do seu repertório. Acrescentando a essa ideia Clóviana e Daineziana, diríamos seguinte: quando você começa a folhar página por página, parágrafo por parágrafo, ponto por ponto e vírgula por vírgula etc, o livro por si só, tem aroma. Quando se faz trabalho e lendo na biblioteca, a sala por si só tem aroma. Isso torna-se espectacular! Mas vamos deixar isso para Byung Chul Han, o filósofo sul-coreano, nós ainda, vamos nos concentrar em Filhos e Dainezi (2014):
A segunda ideia é a que vem carregada no discurso apologético da internet, uma perspectiva de desideologização das relações, já que estariam todos, igualmente, possibilitados a navegar e, portanto, estariam todos igualmente prontos para o acesso a um circuito de conhecimento que a internet veicula. E, assim, a internet contribuiria fortemente para que conhecêssemos o mundo como ele é e nos desprendêssemos, definitivamente, de tolas e vãs ideologias a respeito de como o mundo deve ser. Porque, quando qualquer um tem acesso à internet ou a qualquer outra unidade de informação, o que ele vai disponibilizar para atribuir sentido àquilo são os recursos que tem, todos eles fortemente ideologizados e marcados por certa socialização ideológica (Idem, 2014, p.115).
O facto de termos na nossa frente os mesmos monitores, nada garante que tenhamos diante de nós as mesmas possibilidades, os mesmos acessos e os mesmos resultados cognitivos. De forma nenhuma, o que continuamos defendendo é a maneira de ver e de pensar.
Portanto, nessa óptica, deixar todo mundo de escrever na internet, no lugar de garantir pluralidade, pode ser mesmo garantidora de mais e mais do mesmo: senso comum, da mesma ideologia dominante, da mesma maneira de ver o mundo e a mesma forma de pensar. Mas para nós, a internet não é necessária, só serve simplesmente como um sistema capitalista parasitário de Bauman e artista de Lipovetsky que todos os conhecimentos que nela veiculam servem a estes parasitas, astúcias.
5. O Smartphone: a nova biblioteca digital
Primeiro foi personal computer, como nos revelou Capurro que, logo depois, laptop, e agora do tablet e do smartphone que permitem o acesso instantâneo e ubíquo ao conhecimento armazenado fisicamente nas bibliotecas e arquivos de qualquer parte conquanto esteja digitalizado. Então, desde o surgimento dos computadores e agora do smartphones, muita coisa mudou, dentre ela: o modo de aprendizagem, de leituras e o modo de estar na sala de aula (como lugar físico). Porém, o mundo depois de Ngoenha será diferente do mundo antes de Ngoenha. E assim também ter uma biblioteca pessoal digital com um dispositivo portátil, como o Amazon Kindle, não é menos revolucionário, paradigmaticamente falando, do que usar um smartphone. Hoje as leituras são feitas a partir de uma tela ou melhor, a partir do ecrã digital, que podemos abrir em forma de um quadradoou rectângulo. Mas pensamos que, agora, podemos responder aquela nossa pergunta que nos colocamos à cima, que é: o que é um smartphones?
Sem irmos mais longe, smartphones são chamados aos telefones inteligentes e que respeita à impressão digital. Mas, Segundo Capurro apud Gomez & Cianconi (2017) alega que:
O smartphone, a primeira vista é um maravilhoso aparelho que nos permite ter internet no bolso e na segunda visão, um smartphone nos dá pessoalmente muita liberdade de comunicação e intercâmbio de informações com um ou muitos, independentemente de nosso lugar físico e do lugar físico dos outros (Capurro apud Gomez & Cianconi, 2017,p 57/58).
Hoje é possível, com smartphone ligado à rede, acessar virtualmente a biblioteca de Alexandria, Oxford, Amsterdão etc, pela via digital e virtual. Até pode gravar uma aula enquanto o professor está a falar numa plena sala de aula.
Pois é, indo na linhagem de Capurro, na primeira visão, o smartphone é um aparelho de teledesprezo. Assim, questiona Capurro: Quem não se sente incomodado quando, em uma mesa compartilhada, alguém, um ou vários, começa a utilizar seu smartphone ignorando ou depreciando a presença física dos demais? Convertendo à esta questão capurriana para o nosso contexto (da educação) fica: Quem não se sente incomodado sendo na qualidade de professor dando aula numa plena sala, com vários alunos ou estudantes, começam a utilizar seus smartphones ignorando ou depreciando a aula e os demais? 
E na segunda visão, o smartphone nos dá pessoalmente muita liberdade de comunicação e intercâmbio de informações com um ou muitos, independentemente de nosso lugar físico e do lugar físico dos outros, como afirmamos acima. Mas indo mais além, por outro lado, o smartphone, transforma-se facilmente em um instrumento de controlo físico e de pura vigilância digital, como nos mostra Castiano (2018):
O smartphone é um objecto digital de devoção, não já de pura necessidade. Essa devoção transforma-se num objecto de dominação. A dominação aumenta a sua eficácia ao delegar a própria vigilância a cada um que possui o smartphone. Todos nós temos no bolso um ou dois ou mesmo três instrumentos da nossa própria vigilância e trazemos todos os dias por vontade própria, nos bolsos ou carteiras, (Castiano, 2018, p 166).
O smartphone não é somente um aparelho de vigilância eficaz, mas também, um confessionário móvel, pois permite a qualquer momento confessarmos nossos pecados e esperar os likes dos outros internautas virtuais. Mas não é isso o que nos interessa aqui, deixemos isso para Castiano com o seu contemporâneo, Ramos António Amine autor de Sociedade Contemporânea e Globalização: A questão do ecrã digital (2019), este último é grande especialista quanto o assunto for do ecrã digital. Portanto, o smartphone é um ecrã digital, leve e líquido e, ainda, nosso espelho, nossa biblioteca do bolso ou carteira. Além disso, ela (o smartphone) permite-nos acessar na internet, e visitar as melhores bibliotecas do mundo. Mas, aliena-nos e pior estresa. Porque não é um objecto seguro, a qualquer momento podemos perder toda biblioteca. Assim como o computador, quanto mais actualização de dados perde-se dados. 
6. Tentativa da superação da crise da educação na era digital: formacação dos “idiotas”
6. 1. Da vida activa à vida contemplativa
Byung Chul Han, defende a ideia de que, “a crise pela qual passamos se deve essencialmente à absolutização da vita activa” que, segundo Han (2016):
Esta vita activa conduz a um imperativo ético, político e económico que obriga a trabalhar até um nível que degrada o humano, fazendo dele um mero animal laborans. Desta forma, apaga-se da vida todo o exercício contemplativo, ninguém se demora nas coisas ou nas ideias (Han,2016, p. 10).
Ou por outras palavras diríamos que, hoje ninguém demora na leitura de um livro ou texto. Assim caminhamos a uma sociedade sem leitura, ou melhor seria concordar com Han de que, estamos numa sociedade do cansaço, esta por sua vez abriu uma nova sociedade e de novos indivíduos ou seja, alunos preguiçosos. Mas voltando a ideia da vita activa, gostaríamos de substituir a vida activa por uma vida online, que agora tornou-se como um imperativo categórico, diferentemente de Kant. O novo imperativo pode ser conjugado da seguinte maneira: “Esteja disponível a todo tempo e a qualquer lugar aí conectado: a trocar mensagem, no Whatsapp, no Twitter, no facebook etc”. Comuniquem-se, ou seja, se liguem! Este é como a lei e a ordem. Mas, o que tem haver com a crise da educação pela qual nós passamos?
Quando se quebrou o muro de Berlim, surgiram novas utopias (sonho planetário) de unir o mundo em ser uma pequena aldeia e isso tornou-se verdade hoje, graça as tecnologias de informação e comunicação advindo da terceira revolução industrial, o mundo hoje, é interconectado pelos computadores e graças, a rede internet. O mundo tornou se como uma pequena aldeia, uma vez que, na aldeia tudo o que acontece é comunicado para todos membros em apenas uma hora, porque os membros dessa aldeia estão sempre interconectados. Portanto, a internet sendo um dos paradigmas tecnológicos da informação e comunicação, é responsável por transformações que verificamos hoje nas nossas sociedades actuais, sendo a nível social, cultural, político etc. Seria melhor afirmar que, as tecnologias estão em tudo aí, em forma de um “Dasein heideggeriano”. É a partir daí que a educação como conhecemos sofre também mudanças. Porque as escolas foram emparelhadas com computadores ligados pela web.
 Google é a nova biblioteca virtual que hibridiza as bibliotecas locais, e, youtube, é a nova sala de aula. Portanto, a partir desse paradigma tecnológico de informação e comunicação, já imaginou hoje planificar as aulas ou melhor exercer a actividade docente sem tecnologias de informação e comunicação? Não existe uma sociedade em que as pessoas comunicaram tanto uns com os outros como esta nossa, estamos sempre a comunicar. Ou seja, contra afirmação de Maxwell (2010) de que: todos se comunicam e poucos se conectam, hoje, todos se conectam e poucos se comunicam. Apesar de que se conectar precisa de ser obediente à condição de ter megabytes. Logo, estamos sempre activos, conectados, disponíveis ou seja online. Mas, Nietzsche citado por Han (2015, p. 51) no seu aforismo 283 de Coisas Humanas, “Demasiado Humanas I”, lembra-nos que: 
Principal carência do homem activo. Aos activos falta, habitualmente, a actividade superior: refiro-me à individual. Eles são activos enquanto funcionários, comerciantes, eruditos, isto é, como seres genéricos, mas não enquanto pessoas perfeitamente individualizadas e únicas; neste aspecto, são indolentes. A infelicidade das pessoas activas é a sua actividade ser quase sempre um tanto absurda. Não se pode, por exemplo, perguntar ao banqueiro, que junta dinheiro, qual o objectivo da sua incansável actividade: ela é irracional. Os homens activos rebolam como rebola a pedra, em conformidade com a estupidez da mecânica. Todos os homens se dividem, como em todos os tempos também ainda actualmente, em escravos e livres; pois quem não tiver para si dois terços do seu dia é um escravo, seja ele, de resto, o que quiser: político, comerciante, funcionário, erudito (Nietzsche apud Han, 2016).
Portanto, são escravos pela tecnologia, todos os professores contemporâneos, que não fazem trabalho sem a praga Pc, sem dar uma gugada ao google ou seja, na internet. São escravos todos alunos, aqueles que não passam um dia sem entrar nas redes sociais, nas ágoras digitais, esses últimos perdem muitos seus tempos livres em agradar Mark Zuckerberg, o fundador do facebook. Porém, estes são ignorantes que, em plena sala de aula, estão nas redes socias caçando os likes e imagens, ignorando actividades superiores. Mas, cabe ao professor (o nosso idiota) descobrir a essa ignorância ou seja, o mal-estar na sala de aula, a partir do um simples Smartphone. Mas como assim! O professor também sofre essa influência digital? Claro que sim!
Contudo, a internet deve ser usada duma forma crítica,como defendem Filhos & Dainezi (2014): 
Eu costumo observar que, para que a internet seja de fato rica e enriquecedora, é preciso que as pessoas possam entender o que está escrito lá. É preciso que elas tenham inteligência e senso crítico para separar as infinitas coisas que ela possui. E é preciso que as pessoas, sobretudo (e isso é o mais difícil), tenham inteligência para se manifestar pela internet. É preciso que elas tenham algo a dizer para que um instrumento como a internet possa ser enriquecedor. E nós sabemos que não é bem o caso (Filhos e Dainezi, 2014, p 116). 
Com isto, a internet traveste a dominação de multiplicidade, de diferente, e até mesmo com enfrentamentos. A internet disfarça o fato de todos nós entendermos o mundo de forma muito idêntica. Ela, portanto, faz construir conflitos, que na verdade são de conjuntura de Kuhn, que muito mais escondem concordâncias do que propriamente decidem rumos para o mundo melhor e suas diversas sociedades. A internet, nessa análise crítica, é um poderosíssimo instrumento de reprodução e dominação ideológica. Ninguém se arisca em abrir a boca porque não pode; todos podem falar, comentado Clóvis e Dainezi, é que as pessoas não têm mesmo nada a dizer para além da submissão ideológica em que já se encontram. Mas, a internet é um lugar que está ao anonimato. Então diz Filho & Dainezi que:
Você entra na internet, escreve sua ideia lá e não precisa dizer quem é. O facto de você desvincular a sua manifestação da sua identidade em nada muda os vínculos ideológicos que a sua manifestação abriga. Pelo contrário, radicaliza as suas posições e permite com que você exteriorize mais violentamente a dominação. O anonimato, longe de ser um elemento revolucionário da transparência, é o instrumento que permite, na internet, a brutalização dos argumentos ideológicos de dominação (Idem, p 117).
Continuando com Filhos & Dainezi (2014), ainda argumentam que:
Tudo o que é aparentemente instrumental tem as melhores condições para esconder os interesses e conteúdos ideológicos que servem para fazer circular. É claro que isso não é muito simples de exemplificar, já que é de mascaramento que se está falando. Mas eu disse que a dominação simbólica é tanto mais eficaz quanto menos é percebida como dominação, e o facto de você não entender a internet como uma instância de opressão é justamente revelador e indicativo do quanto ela é boa para isso (Idem, p 117).
Em outras palavras, por mais democrática que seja a internet, existem sites mais legítimos do que outros, blogs mais legítimos do que outros e assim por diante. Portanto, segmento a segmento, campo a campo, a internet soube recriar e redefinir os mesmos mecanismos de consagração e de legitimação que nós encontramos fora dela. Aqui muito poderia ser desenvolvido do ponto de vista crítico da internet. Ainda seguindo essa linhagem de Filhos & Dainezi (2014): 
E eu estou me estendendo nisso porque pouca gente o faz. Curiosamente, quem fala sobre internet não costuma ter sobre ela um olhar crítico. De cada dez artigos sobre a internet, nove pontos nove partem de um certo paradigma apologético das novas tecnologias e isso mesmo na universidade. Por isso eu fiz questão de dizer que é possível ter outro olhar. Parece esquisito ter um olhar crítico em relação à internet porque ela se tornou símbolo de uma época em que outros olhares não estão autorizados, ainda que ela possa abrigá-los (Idem, p 117). 
Portanto, a internet tornou-se uma superestrutura de dominação no meio de outras superestruturas, sendo superestrutura ela é uma ideologia que aliena hoje o trabalho docente. Mas, atenção aqui, nós percebemos a ideologia como aquilo que está diretamente relacionada com o que pensamos sobre o que o mundo deve ser. E também aquilo em que acreditamos que deva ser o mundo é uma espécie de desordem social. É o que permite que as pessoas se relacionem entre si. Porém, segundo Filhos e Dainezi (2014):
A ideologia tem dois elementos fundamentais: um elemento puramente imaginativo, intelectivo, de crenças, de representações sobre o mundo, de ideias sobre o mundo; e um segundo elemento prático, costumeiro, habitual. Um elemento de ação no mundo. Mas também, seguindo na perspectiva marxista, a ideologia é fruto da ideia de luta de classes.
 Marx inovou ao mostrar que as coisas que passam pela nossa cabeça sobre como o mundo deveria ser em termos de ideia de justiça, o que é o certo e o que é o errado são inseparáveis da posição que ocupamos no mundo em termos de classe. É muito interessante você perceber que Marx está querendo mostrar que as ideias não se justificam por si próprias. Elas não se justificam por uma suposta veracidade, por uma suposta pertinência. É nisso que o pensamento marxista melhora o conhecimento da ideologia (Ibid, p 93). 
Mas para não atrapalharmos muito, leia Karl Marx e Engels, sobre a ideologia Alemã e outros manuscritos escritos por eles.
6.2. Formação dos idiotas
Para que a crise da educação na era digital seja superada precisamos de um “idiota” (no sentido filosófico), que contemple a realidade que o acerca. O filósofo é o tal idiota, que se precisa nesta era digital. Mas, porquê precisamos formar idiotas nesta era digital? Porque, o idiota possui paciência, ele fica atento nas coisas, ele fixa o olhar.
Então, nesta óptica, não seria um erro afirmar que, a filosofia desde o começo é caracterizada pela formação de idiotas. E um dos primeiro idiota, afirma Castiano (2018, p.185), foi Sócrates que dizia “só sei que nada sei” e assim acalmava o ímpeto daqueles que diziam saber a resposta de imediato e que tudo sabem (sofistas), mas sabiam na verdade! Foi René Descartes que disse “ penso logo existo”. O pensar dava-lhe a possibilidade de penetrar na essência do ser, o que não acontecia nas meditações. É Deleuze que filosofa em volta do absurdo. É Nietzsche, que chama “camelos” a todos porque agem segundo a religião. Portanto, hoje quem seria o idiota? Perguntando-nos com Castiano, seria tipo marginal, um louco? Então responde-nos Castiano que “o louco hoje desapareceu praticamente, porque as redes sociais digitais aumentaram em proporção igual ao seu desaparecimento. Quanto mais redes aumentam, menus idiotas temos”. É daí que, segundo Castiano (2018, p.186), o idiota é por essência desligado, desconectado, desinformado. Mas você ainda, faz este tipo de pergunta ao Professor Castino: como viver hoje, sem o uso de telefone ou sem entrar nas redes sociais nessa era digital? 
Portanto, o nosso idiota aqui é aquele de Castiano, o desligado, desconectado, desinformado. Mas, actualizado e contemplando a realidade que o cerca e tem um olhar crítico perante as tecnologias de informação e comunicação. Contudo, o nosso idiota está sempre fora do mundo digital e se o digital é um acontecimento, que nos permite estar em dois mundo diferentemente do mundo platónico, mas sendo apenas, uma nova forma de estar aí, que nos torna homo digitalis em forma de um “Dasein” de Martin Heidegger, não é necessário.
O uso das tecnologias de informação e comunicação, pode ser necessário hoje na educação, como a maioria pensa neste tempo atrapalhado comentando Castiano, duvidar a internet seria um elemento necessário. E até o que os alunos têm nas cabeças é muito maior que a internet, a internet é apenas uma ideia, apesar de ser genial. Mas, duvidar é necessário, assim como Descartes duvidou de tudo menus ele mesmo que pensava, para chegar a verdade, precisamos suspeitar tudo o que existe lá e que está estabelecido como fazia Nietzsche ou melhor, precisamos de pensar com as nossas próprias cabeças como faz Pondé. 
E o desafio do professor na nossa era digital, é conduzir o aluno a ter atitude crítica, ajudar o aluno a filosofar com a sua própria cabeça, porque filosofar é a tarefa mais nobre no processo de ensino e aprendizagem, ou seja, é uma condição sene qua non. Os alunos precisam produzir as suas próprias ideias e, assim, o professor torna-se num simples mediador ou, tutor. Pensamos que hoje, agente precisa do professor, apesar da era digitaltrazer desvinculação em forma de uma nova relação e um novo modelo de aprendizagem ou melhor seria concordar com Ivan Illich de que, estamos caminhando para uma sociedade sem escola, sem professor e sem colegas da carteira. Mas, Nietzsche apud Han, (2015, p,51), no Crepúsculo dos ídolos, formulou três tarefas em vista das quais, agente precisa de educadores: 
Devemos aprender a ler, devemos aprender a pensar, devemos aprender a falar e a escrever. A meta desse aprendizado seria, segundo Nietzsche, a cultura distinta. A prender a ver significa habituar o olho ao descanso, a paciência, ao deixa-se de-si. Isto é, capacitar o olho a uma atenção profunda e contemplativa, a um olhar demorado e lento (Nietzsche apud Han, 2015, p. 51).
Esse aprender a ver seria a primeira pré-escolarização para o carater do espirito. Temos de aprender a não reagir imediatamente a um estímulo, mas tomar o controlo dos instintos inibitórios, limitativos. A falta de espirito, falta de cultura repousaria na incapacidade de oferecer resistência a um estímulo. Reagir de imediato e seguir a todo e qualquer impulso já seria uma doença, uma decadência, um sintoma de esgotamento. 
 E segundo Castiano (2018), o objectivo desta aprendizagem seria uma cultura distinta:
 Aprender a ver significa a costumar o olho a serenidade, a paciência ao paulatino aproximar das coisas, isto é, educar o olho a uma atenção profunda e contemplativa, para uma visão lenta, e morosa, esse aprender a ver seria o primeiro estado preparatório para a espiritualidade (Castiano, 2018, p.187).
Devemos aprender a dizer que nem tudo que está na internet é certo, correcto, devemos ter atitude crítica a qualquer conteúdo que lá contém, e não fazer as coisas com presa, devemos ter capacidade de exercitar as nossas mentes ou ainda, insistimos dizendo que, devemos pensar ou cogitar com as nossas próprias cabeças e devemos também, resistir contra a vida activa que pressupõe a hiperatividade ou multitarefa que caracteriza a perca de atenção aos nossos alunos. Os alunos actuais, lê enquanto escutam músicas nos seus computadores ou smartphones, tudo numa boa, estudam enquanto estão no chat ligado com os amigos no WhatsApp, no Facebook, no Instagram etc. Sempre a teclar e caçando likes no facebook, na ágora digital. Portanto, assim escreveu professor Bauerlein sobre a Geração Internet: 
Os adolescentes do século XXI, conectados e multitarefados, autônomos, mas preocupados com a opinião de seus colegas, não representam um grande salto para a inteligência humana, o pensamento global ou a cidadania em rede. Os jovens usuários da Internet sem dúvida aprenderam mil coisas novas. Fazem uploads e downloads, navegam e batem papo virtualmente, postam e criam designs, mas não aprenderam a analisar um texto complexo, a armazenar fatos em sua cabeça, a compreender uma decisão de política, externa, a aprender com a história ou a escrever corretamente. Sem nunca terem reconhecido sua responsabilidade em relação ao passado, eles abriram uma fissura em nossos alicerces sociais, e isso fica claro em sua transição para a vida adulta e para a cidadania”. (Bauerlein apud Tapscott, 2010).
 Han (2015) a cerca do estado de multitarefas sustenta que:
A técnica temporal e de atenção (multitarefa) não representa nenhum progresso civilizatório. A multitarefa não é uma capacidade para a qual só seria capaz o homem na sociedade trabalhista e de informação pós-moderna. Trata-se antes de um retrocesso. A multitarefa está amplamente disseminada entre os animais em estado selvagem (Han, 2015, p 31).
Trata-se de atenção, fundamentalmente para sobreviver na vida selvagem. Um animal entregue no exercício da mastigação de sua comida por exemplo, tem de ocupar-se ao mesmo tempo também com outras atividades, deve vigiar para que, ao comer, ele próprio não acabe comido. Ao mesmo tempo tem de vigiar sua prole e manter o olho em seu (sua) parceiro(a). Prosseguindo diz Han (2015) que:
Na vida selvagem, o animal está obrigado a dividir sua atenção em diversas actividades. Por isso, não é capaz de aprofundamento contemplativo nem no comer nem no copular. O animal não pode mergulhar contemplativamente no que tem diante de si, pois tem de elaborar ao mesmo tempo o que tem atras de si, (Idem, p 32).
 Entretanto, a hiperatividade ou multitarefa, que é característica essencial do homo digitalis hoje, com os computadores e smartphones que geram uma atenção ampla, mas rasa, assemelha- se a atenção de um animal selvagem. Por exemplo na leitura de um livro, a partir do smartphones, a possibilidade de entrar as chamadas ou mensagens das redes sociais e de abrir para ler e distraimento é maior. As mais recentes revoluções sociais e a mudança de estrutura da atenção aproximam cada vez mais a sociedade humana da vida selvagem. 
Mas até, o próprio Nietzsche que substituiu o ser pela vontade, sabe que a vida humana finda numa hiperatividade mortal se dela for expulsa todo elemento contemplativo, porque, diz Nietzsche que:
Por falta de repouso, nossa civilização caminha para uma nova barbárie. Em nenhuma outra época os ativos, isto é, os inquietos, valeram tanto. Assim, pertence as correções necessárias a serem tomadas quanto ao caracter da humanidade fortalecer em grande medida o elemento contemplativo, (Nietzsche apud Han, 2015, p 37).
	
Contudo, precisamos de ter sossego para conquistar a capacidade de contemplação das ideias, e termos o espirito de leitura, sem isso, a vida caminhara para a barbárie que Nietzsche refere, e o espirito não terá o acesso ao aroma do livro. É no livro onde conquista-se o espirito de leitura. Para quem é experiente sabe disso o que nós estamos falando, um professor manda um trabalho para que os alunos fazerem pesquisa na internet e acabam trazendo coisas desnecessária na sala de aula, eles (os alunos) acabaram se perdendo no google. Não imaginamos a chatice da aula nesse dia! Mas a pergunta que fica é aquele de Bauman: Como compreender essas milhares de respostas que um buscador como o Google traz?
7. Conclusão
Durante esta caminhada de pesquisa que percorremos para analisar a crise da educação na era digital em Zygmunt Bauman, em jeito de conclusão! Mas conclusão de o quê mesmo? Logo, nesse caso torna-nos difícil concluir. E assim sendo, seria melhor sumarizarmos os mesmos passos estabelecidos pelo Bauman, afirmando que a crise da educação na era digital está assente sob três fundamentos: primeiro o contexto digital actual, e segundo a modificação do modo de pensar do ser humano e terceiro e último, a transformação do sistema educacional. Olhando duma forma profunda é uma tríade em forma hegeliana que concebe a realidade em três dimensões: tese, antítese e síntese. Onde, a tese é o contexto digital actual, antítese é a modificação do modo de pensar do ser humano e a sua síntese é a transformação do sistema educacional. Nós acrescentamos essa tríade, reflectindo sobre a internet sendo uma superestrutura ideológica que aliena hoje a educação contemporânea e smartphone sendo uma nova biblioteca digital que anda sempre connosco: professores e alunos. Hoje nós andamos com uma biblioteca leve, porque não pesa, até fica nos nossos bolsos. A qualquer lugar e qualquer hora podemos fazer leituras. Mas, esta biblioteca não é segura. A partir desses pressupostos aí nós nos distanciamos com Bauman, porque este é optimista em relação a crise que vivenciamos hoje na educação contemporânea, ou seja, na era digital, uma vez que a crise da educação é líquida, leve e não veio para durar. Entretanto, a crise, segundo Bauman pode ser ultrapassada e superada ou pode se transformar. Mas, para nós a crise sendo (anomalia) pode ser superada sim, mas, não duma forma fácil assim como pensa Bauman, a crise da educação na era digital só pode ser superada a partir de formação dos “idiotas”. Porque só somente eles terão um olhar crítico perante as tecnologias de informação e comunicação que hoje tornou um paradigma dominante do processo do ensino e aprendizagem. E, certo está Castiano que, os “idiotas procuram-se e precisam-sena era digital. Porque a educação na era digital precisa de ser revisitada.
8. Bibliografia
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ZIILES, Urbano. Filosofia da Religião, 8ª Ed Paulus, São Paulo, 2010.
 
Fabião Moisés Paulo
 
A Crise da Educação na era Digital
 
Resumo
 
Refletir em torno da crise da educação na e
ra digital é termos em conta
 
as 
novas 
tecnologias de 
informação e comunição que, estão presentes no 
sistema educacional contemporâneo, diferentemente 
das outras eras. A era digital é frequentemente utilizada para designar os avanços tec
nológicos 
advindos da Terceira revolução i
ndustrial e que revelam na difusão de um ciberespaço, um meio de 
comunicação i
nstrumentalizado pela informática e pela internet. 
Desde os primórdios, a educação foi 
vista como um núcleo duro que salvaguarda a noção de transmissão e assimilação de valores 
humanos de uma geração adulta para a mais nova. A educação esteve sempre ao ser
viço de formação 
de homens com valores sólidos. 
O contexto digital actual modificou o modo de pensar do ser humano 
afectando de forma drástica a educação. 
Bauman, fundamenta que a educaçã
o passou da sólida para 
líquida
. A educação líquida nascida da prolif
eração da internet conduz o ser humano a um mundo 
líquido com valores humanos também líquidos, que precipita a crise da educação no mundo 
contemporâneo, colocando em causa a antiga relação: professor
-
aluno, quadro
-
giz e aluno
-
livro pela 
sublimação da inter
net, surgindo da líquida uma educação mimada transfo
rmando as escolas em um 
depositó
rio de crianças e não de 
produção
 
de conhecimentos para a resolução dos problemas reais, 
confiando a internet para a busca de conhecimentos. 
Portanto, 
neste artigo, 
pretendemos analisar a 
crise da educação na era digital,
 
por via do 
questiona
mento d
as razões que estão por detrás da
 
crise 
da educação na era digital.
 
 
Palavras
-
chave
:
 
Crise, Educação
 
e 
Era Digital.
 
 
A Crise da Educação na era Digital
 
1.
 
Introdução
 
 
No 
prese
nte artigo intitulado
:
 
A Crise da Educação na era Digital
, 
pretendemos
 
defender
 
a 
tese de
 
que
, a crise da educação na era digital é proporcionada pela tecnologia de informação 
e comunicação que leva o homem a uma consciência conectada.
 
A crise 
da 
educação a que 
nos propomos analisar é em função 
de 
três perspectivas
: o contexto digital actual, 
modificação no modo de pensar do ser humano e impacto dessas transformações no sistema 
educacional.
 
Diante destas perspectivas, nos movemos com a seguinte que
stão de partida:
 
O 
quê está por detrás da crise da educação na era digital?
 
Estamos ciente de que, este
 
tipo de questão nos remente a cavar
mos
 
até encontrar 
a ra
iz ou 
seja, a causa do problema
. 
Dai que,
 
f
alar 
da crise da educação na era 
digital, 
apriori
, 
devemos 
lembrar a
 
ideia de Kuhn (1998:105) de que, “
o
 
significado das crises consiste e
xactamente no 
facto de que
 
indica
m
 
que é chegada a ocasiăo para renovar os instrumentos”
. Porque a

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