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Direito Internacional Humanitário

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Direito Internacional Humanitário e Direitos Humanos
 
	Há uma nítida relação existente entre o Direito Internacional Humanitário e os direitos humanos. Embora haja aqueles que sustentem sua integração (escola integracionista) e aqueles que sustentem sua separação (escola separatista), a melhor teoria que explica tal relação é a da escola complementarista, por meio da qual se reconhece as diferenças, mas aponta como objetivo último de ambos, a proteção da pessoa humana. 
	Enquanto o Direito Internacional Humanitário cuida das relações entre Estados e os indivíduos do Estado inimigo, os direitos humanos referem-se ao Estado e seus próprios cidadãos. O Direito Internacional Humanitário deve ser observado por todas as partes envolvidas em um conflito armado, devendo ser acatado pelos Estados ou pelos grupos que combatem contra o Estado ou entre eles. Em relação aos direitos humanos, cabe ao governo respeitá-los e observá-los em relação aos indivíduos. 
	Assim, os direitos humanos protegem todas as pessoas sem qualquer discriminação, ao passo ao passo que o Direito Internacional Humanitário protege as vítimas dos conflitos armados, fazendo com que os sistemas sejam distintos, não obstante complementares em virtude de fins e princípios comuns. 
	Os direitos humanos consagraram-se internacionalmente por meio da Carta das Nações Unidas de 1945 da ONU, muito embora tais direitos, como o direito à vida e à liberdade já eram conhecidos muito antes dessa sistematização. Atualmente, ambos os ramos do direito internacional estão amplamente regulamentados em tratados internacionais. 
	Os direitos naturais universais desenvolvem-se como direitos positivos particulares (incorporados internamente pela Constituição), para se tornarem posteriormente direitos positivos universais (BOBBIO, 1988, p. 30). O processo de internacionalização dos direitos humanos emergiu, inicialmente, do direito humanitário, a Liga das Nações e da Organização Internacional do Trabalho, resguardando os direitos do ser humano e não os atrelando exclusivamente às prerrogativas dos Estados. Assim, rompia-se, gradativamente, com o conceito tradicional de que apenas os Estados seriam sujeitos de direito internacional e com a noção de soberania nacional absoluta (PIOVESAN, 2002, p. 128). 
	Principalmente, após as crueldades cometidas pelos nazistas contra os judeus durante a Segunda Guerra, a soberania estatal passou a ser repensada não mais como um princípio absoluto, mas sujeita a certas limitações em defesa dos direitos humanos. O indivíduo passa a ser considerado “membro direto da sociedade humana, na condição de sujeito direto do direito das gentes. Naturalmente, é cidadão de seu país, mas também é cidadão do mundo, pelo fato mesmo da proteção internacional que lhe é assegurada” (apud PIOVESAN, 2002, p. 145).
	A Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, não faz menção, em qualquer das suas disposições, à questão do respeito aos direitos humanos em conflitos armados. Não obstante, a referida Declaração influenciou positivamente as quatro Convenções de Genebra de 1949, consolidando-se os princípios comuns tanto ao DIH e aos direitos humanos, como a inviolabilidade da pessoa humana, a não discriminação de qualquer natureza, a segurança da pessoa, as garantias judiciais, a inalienabilidade de direitos e a responsabilidade individual.
	As disposições previstas nas Convenções de Genebra de 1949 estabelecem direitos individuais relativos às pessoas protegidas pelas mesmas. Um artigo em cada uma das quatro Convenções determina que tais pessoas protegidas não podem renunciar aos direitos por elas resguardados (artigo 7˚ da Primeira, Segunda e Terceira Convenções e artigo 8˚da Quarta). O artigo 3˚, comum a todas as quatro Convenções, obriga as Partes a aplicar, no mínimo, certas regras humanitárias em conflitos armados, delineando as relações entre o Estado e seus próprios cidadãos, no âmbito da esfera tradicional dos direitos humanos (ROVER, 2009, p. 148). 
	Várias resoluções da ONU apontaram a necessidade da proteção dos direitos humanos no contexto de um conflito armado, destacando-se:
	- Resolução XXIII sobre os Direitos Humanos em Conflitos Armados, adotada em 12 de maio de 1968, pela Conferência Internacional sobre os Direitos Humanos, e intitulada “Respeito pelos direitos humanos em conflitos armados”, ocorrida em Teerã. Na ocasião, a Conferência obrigou a uma rigorosa aplicação das convenções existentes em conflitos armados e à conclusão de acordos adicionais. 
	- Resolução 2444 (XXIII) sobre o Respeito pelos Direitos Humanos nos Conflitos Armados, adotada em 19 de dezembro de 1969, pela Assembleia Geral da ONU. Reitera a Resolução adotada pela Conferência Internacional da Cruz Vermelha, em 1965, em Viena, sobre a Proteção das Populações Civis Contra os Perigos da Guerra Indiscriminada.
	- Resolução 2675 (XXV) sobre os Princípios Básicos para a Proteção de Populações Civis nos Conflitos Armados, adotada em 9 dezembro de 1970, pela Assembleia Geral da ONU. Reitera princípios de Direito Internacional Humanitário.
	- Resolução 3318 (XXIX), Declaração sobre a Proteção de Mulheres e Crianças em Emergência e em Conflitos Armados, adotada em 14 de dezembro de 1974, pela Assembleia Geral da ONU. Amoldam-se princípios do Direito Internacional Humanitário no caso específico das crianças e das mulheres que não estejam participando das hostilidades
	Nessa mesma linha, o I Protocolo Adicional, em seu artigo 75, estabelece especificadamente as garantias mínimas de que dispõem as vítimas dos conflitos armados internacionais, protegendo seus direitos individuais oponíveis ao próprio Estado. O II Protocolo Adicional, em seu artigo 4˚estabelece as garantias fundamentais para pessoas que não participam ou tenham deixado de participar em conflitos armados não-internacionais. O artigo 5º consagra as garantias de proteção mínima às pessoas privadas da liberdade, detidas ou internadas, por motivos decorrentes desses conflitos. E no artigo 6˚ estabelece todas as garantias aos acusados em relação aos processos penais. Esses direitos e garantias decorrem notadamente do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos das Nações Unidas de 1966 (ROVER, 2009, p. 148). 
	Igualmente, alguns dos tratados internacionais de direitos humanos contêm algumas disposições para sua implementação em tempo de guerra. O artigo 15 da Convenção Europeia de Direitos Humanos, de 1950, dispõe que, em tempos de guerra ou de emergência pública ameaçando a vida da nação, certos direitos contidos na Convenção podem ser derrogados, exceto alguns direitos inalienáveis que constituem uma base imutável (vida, liberdade, segurança, personalidade, proibição da tortura, da discriminação racial e da escravidão) (ROVER, 2009, p. 148). 
Disposição semelhante é encontrada no artigo 27 da Convenção Americana de Direitos Humanos:
Artigo 27 - Suspensão de garantias. 1. Em caso de guerra, de perigo público ou de outra emergência que ameace a independência ou segurança do estado-parte, este poderá adotar as disposições que, na medida e pelo tempo estritamente limitados às exigências da situação, suspendam as obrigações contraídas em virtude desta Convenção, desde que tais disposições não sejam incompatíveis com as demais obrigações que lhe impõe o Direito Internacional e não encerrem discriminação alguma fundada em motivos de raça, cor, sexo, idioma, religião ou origem social. 
2. A disposição precedente não autoriza a suspensão dos direitos determinados nos seguintes artigos: 3 (direito ao reconhecimento da personalidade jurídica), 4 (direito à vida), 5 (direito à integridade pessoal), 6 (proibição da escravidão e da servidão), 9 (princípio da legalidade e da retroatividade), 12 (liberdade de consciência e religião), 17 (proteção da família), 18 (direito ao nome), 19 (direitos da criança), 20 (direito à nacionalidade) e 23 (direitos políticos), nem das garantias indispensáveis para a proteção de tais direitos.
	O núcleo dos direitos humanos, o mínimo de direitos que devem ser observados peloEstado em qualquer circunstância (hard core group) é exatamente o que mais se avizinha do Direito Internacional Humanitário, notadamente, em virtude do reconhecimento pela Conferência Internacional de Teerã de 1968, quando a ONU, oficialmente, contemplou a aplicação dos direitos humanos aos conflitos armados (SOUSA, 2007, p. 110). 
	O Direito Internacional Humanitário é destinado especificamente a salvaguardar e preservar os direitos fundamentais (à vida, segurança, saúde, entre outros) de vítimas e não combatentes durante um conflito armado. É um direito de emergência de circunstâncias particulares, à medida que os direitos humanos estão relacionados essencialmente com o desenvolvimento de cada indivíduo, mas não cessam de existir em situações de conflito armado (ROVER, 2009, p. 147).
	A Corte Internacional de Justiça já enfatizou que são os mesmo valores éticos comuns que permeiam o Direito Internacional Humanitário e os direitos humanos. A despeito de seus fundamentos históricos diferentes e de suas próprias normatividades específicas, ambos voltam-se precipuamente pelo respeito à dignidade humana.
	Assim, o Direito Internacional Humanitário pode ser considerado uma espécie do amplo gênero dos direitos humanos. O Direito Internacional Humanitário por ser um direito de exceção não pode ser de forma alguma restringido, uma vez que é o mínimo de respeito que se exige à dignidade humana enquanto durar o conflito. Isso não significa uma distinção em termos de sua intrínseca natureza, mas uma distinção baseada no contexto de aplicação de normas designadas a proteger seres humanos em diferentes circunstâncias.
	O sistema criado para supervisionar o cumprimento do direito internacional dos direitos humanos tem como principal órgão baseado na Carta das Nações Unidas, a Comissão de Direitos Humanos (CDH) e a Subcomissão sobre a Promoção e a Proteção dos Direitos Humanos (atualmente substituída pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU). A Comissão designa relatores especiais, por temas ou por países, e grupos de trabalho que, dentro do âmbito de suas competências, devem supervisar determinadas situações de direitos humanos, bem como apresentar relatórios a respeito. Nos principais tratados internacionais de direitos humanos igualmente se estipula a constituição de comitês de especialistas independentes para supervisionar a sua aplicação.
	Na sistemática da ONU, não há ainda um Tribunal Internacional de Direitos Humanos. A Corte Internacional de Justiça é o principal órgão jurisdicional da ONU, mas sua jurisdição só pode ser movida pelos Estados. Já no âmbito regional, existem as Cortes de Direitos Humanos (Cortes Europeia e Interamericana), responsáveis pela proteção aos direitos humanos.
	Em relação aos organismos que promovem a tutela do Direito Internacional Humanitário, por sua vez, possui como principal expoente, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV). Essa instituição é essencial ao sistema, em razão do seu papel atribuído pelas Convenções de Genebra e seus Protocolos Adicionais. Auxilia e protege as vítimas da guerra, orienta os Estados a cumprirem as obrigações atinentes ao Direito Internacional Humanitário, promovendo-o e difundindo-o.
	O CICV é independente em relação a todos os governos, e suas atuações e decisões são de cunho exclusivamente humanitários. Em situações de conflitos armados internacionais, a instituição, conforme previsto nas Convenções de Genebra de 1949 atua como um intermediário neutro entre os beligerantes em prol das vítimas de guerra: prisioneiros de guerra e civis, feridos e doentes, pessoas deslocadas ou vivendo em território ocupado. Em situações de conflito armados não-internacionais, como guerras civis, ou ainda nas situações não previstas pelas Convenções de Genebra, como distúrbios interiores e tensões internas, o Comitê pode oferecer seus serviços humanitários com base em seu direito de iniciativa, reconhecido pelos Estados, como adiante será analisado.
	Portanto, os direitos humanos e o Direito Internacional Humanitário completam-se, tendo em vista seu fim último que é a proteção da pessoa humana. O quadro a seguir demonstra os instrumentos de proteção aos direitos humanos, em nível internacional e regional, e ao de Direito Internacional Humanitário, bem como os direitos protegidos por eles (ROVER, 2009, p. 150). 
PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS E DO DIH
	DIREITOS PROTEGIDOS 
	INSTRUMENTOS DE D.H. GLOBAIS: 
	INSTRUMENTOS DE D.H. REGIONAIS: 
	INSTRUMENTOS ESPECIALIZADOS DE D.H. 
	INSTRUMENTOS DE DIH 
	
	DUDH 
	PIDCP 
	CEDH 
	CADH 
	CADHP 
	
	CANI 
	CAI 
	O DIREITO À VIDA, LIBERDADE E SEGURANÇA PESSOAL 
	3 
	6,9 
	2, 5
	 4, 7 
	4, 6 
	
	I-IV, 3 2 0 P, 4 
	IV, 68, 75 1 0 P, 40-42, 51, 75 
	A PROIBIÇÃO DE TORTURA, TRATAMENTO OU PENA CRUÉIS, DESUMANOS OU DEGRADANTES 
	5 
	7
	 3 
	5.2 
	5 
	Convenção Contra a Tortura 
	I-IV, 3 2 0 P, 4 
	IV, 27, 31, 32 1 0 P, 75 
	A PROIBIÇÃO DA DISCRIMINAÇÃO 
	1,2 
	1,3 
	14
	 1
	 2 
	C.I.E.D.R* C.E.D.M. ** 
	I-IV, 3` 2 0 P, 2.1, 4 
	IV, 13, 27 1 0 P 9.1, 75, 85.4 
	A PROIBIÇÃO DA CAPTURA OU DETENÇÃO ARBITRÁRIA 
	9 
	9 
	5 
	7, 3 
	6 
	
	x 
	IV, 41, 49, 71, 79 
	A PRESUNÇÃO DA INOCÊNCIA 
	11 
	14.2 
	6.2 
	8.2 
	7.1B 
	
	2 0 P, 6.2(d) 
	1 0 P, 75.4 (d) 
	O DIREITO AO JULGAMENTO JUSTO - GARANTIASMÍNIMAS 
	10 
	14.1,14.3 
	6 
	8 
	x 
	
	I-IV, 3.1(d) 2 0 P, 6 
	IV, 64-75 1 0 P, 75 
	A PROIBIÇÃO DE INTERFERÊNCIA ARBITRÁRIA NA PRIVACIDADE, FAMÍLIA, LAR, CORRESPONDÊNCIA 
	12 
	17
	 8 
	11.2 
	x 
	
	x 
	IV, 27 1 0 P, 76, 77 
	O DIREITO AO TRATAMENTO HUMANO PARA AS PESSOAS PRIVADAS DE LIBERDADE 
	x 
	10.1 
	x
	 5.2 
	x 
	
	I-IV, 3.1 2 0 P, 4 
	IV 5.3, 27.1, 100 1 0 P, 75.1 
	O DIREITO À LIBERDADE DE MOVIMENTO 
	13
	 12 
	AP 4 
	22 
	12 
	Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados 
	2 0 P, 17.2 
	IV, 35, 48, 49, 73 
	O DIREITO À LIBERDADE DE OPINIÃO E EXPRESSÃO 
	19
	 19 
	10
	 13
	 9.2 
	
	I-IV, 3.1 2 0 P, 2.1 
	
IV, 13.1 1 0 P, 9.1 
	O DIREITO À LIBERDADE DE PENSAMENTO, CONSCIÊNCIA E RELIGIÃO 
	18
	 18
	 9 
	12 
	8
	
	 I-IV, 3.1 2 0 P, 2.1 
	IV, 13.1, 27.1 1 0 P, 9.1, 75.1 
	O DIREITO À LIBERDADE DE REUNIÃO E ASSOCIAÇÃO 
	20 
	21
	 11
	 15, 16 
	10, 11 
	
	x 
	x 
	PROIBIÇÃO DA PROPAGANDA DE GUERRA E DA INCITAÇÃO AO ÓDIO POR MOTIVO RELIGIOSO, NACIONAL E ÉTNICO 
	x 
	20 
	x 
	13.5 
	x 
	Convenção contra o Genocídio, artigo III c 
	x 
	x 
	MEDIDAS DE DERROGAÇÃO DURANTE ESTADOS DE EMERGÊNCIA DECLARADOS 
	x 
	4 
	15
	 27 
	x 
	
	x 
	x 
Os números referem-se aos artigos correspondentes dos instrumentos.
CIEDR = Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial
CEDM = Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher
Convenção contra o Genocídio = Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio
CANI = Conflito Armado Não Internacional 
CAI = Conflito Armado Internacional
	O Direito Internacional Humanitário em conjunto com o direito internacional dos direitos humanos e o direito internacional dos refugiados formam um sistema de proteção internacional da pessoa humana. 
Direito Internacional Humanitário (jus in bello) e o Direito de Guerra (jus ad bellum)
	O uso da força pelo Estado era considerado o atributo supremo de sua soberania. Antes, especialmente, da criação da Carta da ONU, o ato de recorrer à força estava incluído no direito, em determinadas hipóteses (como as fundamentadas nas teorias das guerras justas). Assim, as relações de conflitos armados na comunidade internacional eram regulamentadas pelo Direito de Guerra, inicialmente consuetudinário e posteriormente pelas Convenções de Haia que visavam conter os meios e métodos de guerra.
	Este conjunto de normas, conhecido como "jus ad bellum" (direito à guerra) completava o conjunto do direito da guerra como ramo do Direito Internacional Público. 
Antes da Carta da ONU quando ainda adotava-se o critério da justiça para legitimar ou não o uso da força, o Direito de Guerra tentava limitar o seu uso como forma de conter a grande frequência das guerras. Em 1864, portanto, quandoa guerra ainda não havia sido proibida, como regra geral, surge a primeira Convenção de Genebra e, em 1899 e 1907, as Convenções de Haia. Respectivamente essas convenções visavam a proteção das vítimas de conflitos armados e limitar os meios e métodos de combate. Estes dois conjunto de normas são conhecidos, respectivamente, como Direito de Haia e Direito de Genebra. 
Por isso que, enquanto o “jus in bello é a regulamentação da guerra”, como por exemplo “as normas que regulam a conduta dos beligerantes, o jus ad bellum é o direito à guerra, ou seja direito de um Estado de participar da guerra” (MELLO, 2002, p. 1418). Nesse sentido, o “jus ad bellum significa el derecho a iniciar una guerra. El jus in bello significa el conjunto de las reglas a las que están sometidos los beligerantes durante una guerra” (NAHLIK, 1984). Assim, o primeiro cuida das causas da guerra, isto é, as situações nas quais o Estado pode recorrer ao uso da força, e o segundo regulamenta a guerra, especialmente, no que tange aos meios e métodos de combate permitidos, bem como minorando as consequências da mesma, isto é, visando proteger as vítimas, dotando-as de direitos.
Portanto, o Direto de Haia é regido por princípios que regulamentam a conduta das operações militares entre os participantes, restringindo os meios e métodos de ferir o inimigo. Sua regulamentação ocorreu, inicialmente, nas Conferências de Haia de 1899, revistas em 1907 e, desde 1977, estão consubstanciadas quase que totalmente nos Protocolos Adicionais às Convenções de Genebra. Além dessas convenções existem vários tratados proibindo ou regulando o emprego de armamentos. Assim, as normas previstas pelas Convenções de Haia tiveram um papel importante tanto que o Comitê Internacional da Cruz Vermelha considerou indispensável que elas fossem incluídas no esboço dos Protocolos Adicionais às Convenções de Genebra de 1949.
- O Sistema de Segurança Coletivo da ONU: o papel do Conselho de Segurança da ONU e a teoria da Intervenção Humanitária
Embora o Conselho de Segurança da ONU tenha competência para estabelecer a existência de ameaça à paz, rompimento da paz ou ato de agressão e, referida decisão possui efeito erga omnes, não existe nenhum critério legal preciso para tanto. Tal fato demonstra que a decisão final acaba por revelar-se essencialmente política, com efeitos legais além daqueles produzidos pela Carta e pelas outras Convenções. 
Embora obrigatória a tentativa de solução de controvérsias pelos meios pacíficos, não sendo esta frutífera, caberá ao Conselho de Segurança tomar a adoção de medidas coercitivas previstas no Capítulo VII da Carta, visando a restauração da paz e da segurança internacionais. A autorização do Conselho de Segurança para que os Estados ajam em nome da ONU com suas forças militares tem sido admitida com base no modelo descentralizado de segurança, em geral, utilizado de modo multilateral, ou seja, quando o Conselho acaba por autorizar um grupo de Estados a agirem em seu nome.
Os novos conflitos que vêm surgindo são caracterizados por graves crises humanitárias e violações aos direitos humanos. Sob esse cenário, a ONU começou a autorizar as denominadas operações de paz, mecanismo criado pelas práticas subsequentes da organização.
De um lado tem-se o fenômeno da universalização dos direitos humanos e o deslocamento desse problema da jurisdição doméstica dos Estados para a jurisdição internacional, fazendo do indivíduo sujeito de direito internacional, uma vez que “a violação dos direitos humanos é um problema de natureza internacional mesmo quando as vítimas estão dentro de seu próprio país” (GALLANT, 1992, p. 906). 
Por outro lado, imperam valores relacionados à ideia de segurança internacional que formam o alicerce do cenário internacional, como soberania, integridade territorial, independência política, não-intervenção e autodeterminação dos povos. A ponderação entre os valores em jogo, diante de fatos e circunstâncias concretas poderá legitimar a tomada de decisões nesses casos (MEZZANOTTI, 2007, p. 107).
É controverso e extremamente difícil avaliar se uma intervenção realizada por terceiros Estados pode interferir nos assuntos internos de outro Estado sob a justificativa de estarem ocorrendo, no Estado alvo da intervenção, atos contrários aos direitos humanos, à segurança e à paz internacionais. Em tese, essas intervenções ditas humanitárias utilizam-se da força de um ou mais Estados, visando por fim às violações dos direitos humanos de indivíduos que, não seus próprios cidadãos, sem a permissão do Estado anfitrião (HOLZGREFE, 2005, p. 18).
Em contrapartida a Resolução n. 2625 (XXV) adotada pela Assembleia Geral da ONU de 24 de outubro de 1970 (Declaração sobre Princípios de Amizade e Cooperação) estabelece a vinculação entre os princípios da não intervenção e da autodeterminação dos povos, baseada na igualdade soberana dos Estados: 
1. Nenhum Estado ou grupo de Estados tem o direito de intervir, direta ou indiretamente, por qualquer razão que seja, nos assuntos internos ou externos de outro Estado. Conseqüentemente, não apenas a intervenção armada, mas também toda e qualquer forma de ingerência ou ameaça, dirigida contra a personalidade de um Estado ou contra os seus elementos político, econômico e cultural, são condenados. 2. Nenhum Estado pode usar ou encorajar o uso de coerção econômica, política ou qualquer outro tipo de medida para coagir outro Estado a dele obter subordinação no exercício de seus direitos soberanos ou de retirar-lhes vantagens de qualquer tipo. Também, nenhum Estado deve organizar, auxiliar, fomentar, financiar, incitar ou tolerar atividades terroristas, subversivas e armadas levadas a efeito para fins de derrubar o regime de outro Estado, ou de interferir em conflitos civis de outro Estado. 3. O uso da força para privar povos de sua identidade nacional constitui violação de seus direitos inalienáveis e do princípio da não intervenção. 4. A observância estrita destas obrigações é uma condição essencial para garantir que nações vivam em paz mutua e reciprocamente, já que a prática de qualquer tipo de intervenção não apenas viola o espírito e a letra da Carta das Nações Unidas como também conduz a criação de situações que ameaçam a paz e a segurança internacionais. 5. Cada Estado tem o direito inalienável de escolher seus sistemas político, econômico, social e cultural, sem interferência de qualquer tipo por outro Estado. 6. Todos os Estados devem respeitar o direito de autodeterminação e independência dos povos e nações, que devem ser exercidos livremente sem qualquer pressão externa, e em respeito absoluto pelos direitos humanos e liberdades fundamentais, todos os Estados devem contribuir para a completa eliminação de descriminação racial e colonialismo em todas as suas formas de manifestação. 7. Para o propósito da presente Declaração, o termo “Estado” inclui estados individuais e grupos de Estados. 8. Nada nessa Declaração deverá ser interpretado de modo a afetar de qualquer forma as provisões relevantes da Carta das Nações Unidas no atinente à manutenção da paz e segurança internacionais, em particular aquelas contidas nos Capítulos VI, VII e VIII.
Em 1948, tais princípios foram reconhecidos e incluídos na Carta da Organização dos Estados Americanos (OEA) nos artigos 16, 17 e 18, por ocasião da Conferência de Bogotá. Em 1949, no mesmo sentido, a CIJ declarou que o “pretenso direito de intervenção não pode ser visto senão como expressão de uma política de força que ensejou, no passado, os mais graves abusos e que não encontra, quaisquer que sejam as diferenças presentes na organização internacional, respaldo algum no direito internacional”. 
O problema da intervenção humanitária e da prática de ataques preventivos coloca em xeque os princípios da soberania, autodeterminação dos povos, autonomia e da não-intervenção. Isso porque não há a aprovação de nenhum órgão internacional competente, como a ONU, e, em geral, a intervenção ocorre sem o consentimento do Estado alvo da intervenção. 
O uso indiscriminadodo termo “humanitária” para descrever essas operações armadas compromete a ação desenvolvida pelas organizações que trabalham com a assistência humanitária. Uma intervenção armada sob pretexto de brecar a violação do Direito Internacional Humanitário é um equívoco, uma vez que as Convenções de Genebra e seus Protocolos Adicionais não informam que o “fazer respeitar” deve ser efetivado por meio do uso da força. O Direito Internacional Humanitário não se volta para ações políticas, militares ou econômicas, e essas vêm se apresentando como o real motivo das intervenções ditas humanitárias (SOUSA, 2007, p. 67). 
O jus in bello está voltado, portanto, para reduzir os sofrimentos humanos causados pela guerra, sem questionar o mérito da questão, se a guerra ou a intervenção é justa ou injusta, legítima ou ilegítima, cuja apreciação fica a cargo do direito de guerra. Na realidade, trata-se de analisar os dois lados de uma mesma situação, qual seja, o conflito armado. Isso implica que o direito de guerra analise as causas que o ensejou, verificando a sua legitimidade e sua responsabilização internacional; e o Direito Internacional Humanitário que cuida dos direitos das vítimas afetadas inevitavelmente pelo conflito, restringindo os meios e métodos de combate. Esse último visa proteger direitos mínimos, mesmo nos casos em que estes são colocados sob as situações extremas da guerra. 
	Direito Internacional Humanitário
	Em 1859, em Solferino (região da Lombardia, Itália), os exércitos austríaco e francês travaram uma batalha com quarenta mil feridos e mortos. Henry Dunant, cidadão suíço ao tomar conhecimento daquela situação calamitosa na qual os soldados não possuíam serviços médicos, recorreu à população local para auxiliar os feridos de ambos os lados. Henry Dunant publicou um livro "Uma recordação de Solferino", no qual fez apelos solenes em prol da paz e das sociedades de socorro. A partir das ideias de Dunant, em 1863, foi criada uma comissão de cinco membros para a implementação de tais objetivos, resultando na fundação do Comitê Internacional para Socorro aos Feridos, que veio, posteriormente, tornar-se o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV). 
	O Comitê convocou uma Conferência Diplomática da qual resultou, em 1864, o primeiro tratado internacional do Direito Internacional Humanitário, devidamente ratificado por dez Estados europeus, denominado de Convenção de Genebra para a Melhoria das Condições dos Feridos das Forças Armadas em Campanha, a primeira Convenção de Genebra.
	Em 1906, referida Convenção é revisada e ampliada. Em 1929, tendo por base a terrível experiência da Primeira Guerra Mundial, foi adotada a terceira versão da Convenção de Genebra de 1864, e a adoção da Convenção Relativa ao Tratamento de Prisioneiros de Guerra. Em 1949 foram estabelecidas as quatro Convenções de Genebra, responsáveis pela codificação ampla das normas relativas aos conflitos armados, com regras e princípios próprios, aplicáveis a combatentes, civis, feridos, doentes, prisioneiros de guerra e membros das forças armadas. 	
	
	Basicamente as normas de Direito Internacional Humanitário estão consubstanciadas nessas quatro Convenções de Genebra de 1949 e nos seus dois Protocolos Adicionais de 1977.
	Referida regulamentação originou-se, por iniciativa do Conselho Federal Suíço, que conseguiu conjuntamente com os membros do Comitê Internacional da Cruz Vermelha a reunião de sessenta e três Estados para a elaboração das citadas Convenções: 
	- Convenção I de Genebra para Melhorar a Situação dos Feridos e Doentes das Forças Armadas em Campanha.
	Contém 64 artigos que preveem a proteção para os enfermos e feridos, mas também para o pessoal sanitário e religioso e os transportes e unidades sanitárias. A Convenção também reconhece os emblemas distintivos.
	- Convenção II de Genebra para Melhorar a Situação dos Feridos, Doentes e Náufragos das Forças Armadas no Mar.
Possui 63 artigos aplicáveis de modo específico à guerra naval, protegendo, por exemplo, os navios hospitais. 
	- Convenção III de Genebra relativa ao Tratamento dos Prisioneiros de Guerra.
Contém 143 artigos. As categorias de pessoas com direito ao estatuto de prisioneiro de guerra foram ampliadas de acordo com as I e II Convenções. As condições e locais de cativeiro foram definidas com mais precisão, em especial com relação ao trabalho dos prisioneiros de guerra, seus recursos financeiros, a ajuda que recebem e os processos judiciais contra eles. A Convenção determina o princípio que os prisioneiros de guerra devem ser soltos e repatriados sem demora após cessarem as hostilidades ativas.
	- Convenção IV de Genebra relativa à Proteção das Pessoas Civis em Tempo de Guerra.
	A Convenção possui 159 artigos. Contém uma breve seção sobre a proteção geral das populações contra certas consequências da guerra, sem abordar a condução das hostilidades como tal, a qual foi examinada posteriormente nos Protocolos Adicionais de 1977. A maior parte da Convenção trata do estatuto e tratamento das pessoas protegidas. Estipula as obrigações da Potência Ocupante em relação à população civil e contém disposições pormenorizadas sobre o socorro humanitário às populações em território ocupado. 
	O artigo 3º comum estipula normas fundamentais que são inderrogáveis. É como uma mini convenção dentro das quatro Convenções de Genebra com as suas normas essenciais condensadas, tornando-as aplicáveis aos conflitos de natureza não internacional:
 
Artigo 3º- Em caso de conflito armado de caráter não-internacional que ocorra em territórios de uma das Altas Partes Contratantes, cada uma das Partes em conflito deverá aplicar, pelo menos, as seguintes disposições:
1) As pessoas que não tomarem parte diretamente nas hostilidades, incluindo os membros das forças armadas que tiverem deposto as armas e as pessoas que ficarem fora de combate por enfermidade, ferimento, detenção ou qualquer outra razão, devem em todas circunstâncias ser tratadas com humanidade, sem qualquer discriminação desfavorável baseada em raça, cor, religião ou crença, sexo, nascimento ou fortuna, ou qualquer outro critério análogo.
Para esse efeito, são e continuam a ser proibidos, sempre e em toda parte, com relação às pessoas acima mencionadas:
a) atentados à vida e à integridade física, particularmente homicídio sob todas as formas, mutilações, tratamentos cruéis, torturas e suplícios;
b) tomadas de reféns;
c) ofensas à dignidade das pessoas, especialmente os tratamentos humilhantes e degradantes;
d) condenações proferidas e execuções efetuadas sem julgamento prévio realizado por um tribunal regularmente constituído, que ofereça todas as garantias judiciais reconhecidas como indispensáveis pelos povos civilizados.
2) Os feridos e enfermos serão recolhidos e tratados.
Um organismo humanitário imparcial, tal como o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, poderá oferecer seus serviços às Partes em conflito. 
As Partes em conflito deverão empenhar-se, por outro lado, em colocar em vigor por meio de acordos especiais todas ou parte das demais disposições da presente Convenção. A aplicação das disposições anteriores não afeta o Estatuto Jurídico das Partes em conflito
	- Protocolo I Adicional às Convenções de Genebra de 12 de agosto de 1949, relativo à proteção das vítimas dos conflitos armados internacionais, de 1977.
	- Protocolo II Adicional às Convenções de Genebra de 12 de agosto de 1949, relativo à proteção das vítimas dos conflitos armados não-internacionais, de 1977.
Eles fortalecem a proteção das vítimas dos conflitos armados internacionais (Protocolo I) e não internacionais (Protocolo II), colocando um limite na maneira em que as guerras são travadas. O Protocolo II foi o primeiro tratado internacional devotado exclusivamente às situações de conflitos armados não internacionais.
 
Em 2005, um terceiro Protocolo Adicional foi adotado criando um emblema adicional, o Cristal Vermelho, que possui o mesmo estatuto internacional que os emblemas da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho. Atualmente são maisde 190 Estados são partes das Convenções de Genebra.
	Os aproximadamente 600 artigos das Convenções de Genebra de 1949 e de seus Protocolos Adicionais de 1977, bem como os demais acordos relativos ao Direito Internacional Humanitário, são a expressão articulada, em términos jurídicos, do conceito de direito à assistência, em um sentido amplo. Estes textos são fruto de mais de cem anos de árduas experiências, de lenta conscientização do público e de trabalhosas negociações com os governos. Eles não significam a "última palavra" no âmbito do Direito Internacional Humanitário, visto que as novas experiências decorrentes de cada conflito armado, bem como a evolução dos armamentos e dos problemas humanitários, devem guiar a elaboração e o aperfeiçoamento das normas de Direito Internacional Humanitário existentes para que a proteção da vítima seja eficazmente assegurada (SANDOZ, 1992). 
	Foram ainda criadas: em 1980 a Convenção sobre proibições e restrições ao emprego de certas armas convencionais que podem ser consideradas excessivamente lesivas ou geradoras de efeitos indiscriminados; em 1993, a Convenção sobre a proibição do desenvolvimento, produção, armazenamento e emprego de armas químicas e sobre sua destruição; em 1995, o Protocolo sobre armas a laser que causem cegueira; em 1996, o Protocolo emendado sobre proibições e restrições ao emprego de minas e outros artefatos; e em 1997, a Convenção sobre a proibição, armazenamento, produção e transferência de minas pessoais e sobre sua destruição.
Assim sendo, pode-se conceituar o Direito Internacional Humanitário como um onjunto de normas internacionais, de origem convencional ou consuetudinária, especificadamente destinado a ser aplicado nos conflitos armados, internacionais ou não-internacionais, e que limita, por razões humanitárias, o direito da Partes em conflito de escolher livremente os métodos e os meios utilizados na guerra, ou que protege as pessoas e os bens afetados, ou que possam ser afetados pelos conflitos.
	As medidas a serem tomadas para garantir o cumprimento do Direito Internacional Humanitário excluem qualquer possibilidade do uso da força, em oposição ao previsto no Capítulo VII da Carta das Nações Unidas.
	As pessoas protegidas pelo Direito Internacional Humanitário, em tempo de conflitos armados, na acepção do que se pode conceituar como “vítima” são os feridos, os enfermos, os náufragos, os prisioneiros de guerra, os civis e outras pessoas que não participem ou tenham deixado de participar das hostilidades, como o pessoal sanitário e religioso, as pessoas que colaboram nas operações de socorro e o pessoal de organizações de defesa civil. 
	Ainda há a possibilidade de aplicação das normas humanitárias em situações que não são de modo algum classificadas como conflitos, como as catástrofes naturais.
	A importância do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) para o Direito Internacional Humanitário e a Assistência Humanitária 
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) é uma organização humanitária com sede em Genebra e com um mandato da comunidade internacional para servir de guardião ao Direito Internacional Humanitário. É também o órgão fundador do Movimento da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho. O CICV é neutro, imparcial e independente em relação aos Estados. Dessa maneira, o CICV consegue servir aos interesses das vítimas dos conflitos, que constituem o centro da sua missão humanitária.
A atuação do Comitê Internacional da Cruz Vermelha originou-se por iniciativa da Suíça, que organizou em diversos países as Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha. Atualmente, o Movimento Internacional da Cruz Vermelha é formado pelo a) CIVC, b) pelas Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelhos e pela c) Federação Internacional das Sociedades da Cruz e do Crescente Vermelhos. 
As Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho são ONGs nacionais que devem ser reconhecidas pelos Estados e respeitar os princípios fundamentais do Movimento para obterem o reconhecimento internacional do CICV. A Federação Internacional das Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho é uma ONG internacional cujo papel é facilitar e propagar a ação humanitária das Sociedades Nacionais, principalmente, em prol das populações mais vulneráveis.
As competências do CICV e a Federação Internacional das Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho foram definidas por ambas as instituições mediante um acordo celebrado em 20 de outubro de 1989, segundo o qual a Federação passa a coordenar as ações internacionais de socorro às vítimas de catástrofes naturais, aos refugiados e às pessoas deslocadas fora das zonas de conflitos; enquanto o CICV assegura a direção geral da ação internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho dentro das zonas de conflito armados.
O Movimento Internacional da Cruz Vermelha Internacional é dirigido pela Conferência Internacional da Cruz Vermelha, organismo de natureza híbrida que se reúne, em geral, de quatro em quatro anos e que inclui, além das instituições privadas da Cruz Vermelha, os Estados-Partes nas Convenções de Genebra. 
O CICV tem 18 mil funcionários em mais de 90 países (CICV, 2020). Mas seus dirigentes são de nacionalidade suíça e o órgão supremo da instituição é um Comitê formado por um número máximo de 25 membros eleitos e escolhidos entre os suíços que possuam experiência com os problemas internacionais e uma ligação à causa humanitária.
O CICV foi investido de uma missão internacional, decorrente das Convenções e dos Protocolos Adicionais, bem como da prática da instituição em exercer as suas atividades humanitárias nas mais variadas partes do mundo. As relações de natureza quase diplomática que o CICV mantém com os Estados e as organizações internacionais, e com os acordos que concluiu com estes, possuem um natureza próxima dos tratados. Foram assinados mais de 50 acordos de sede com os Estados que reconhecem ao Comitê personalidade jurídica de direito interno e que lhe conferem um regime de privilégios e imunidades, frequentemente definidos por uma simples remissão à Convenção de Viena de 1961 (DEYRA, 2001, p. 32).
Por meio da Resolução n. 45/6, de 1990, o CICV passou a ter a qualidade de observador na Assembleia Geral, permitindo ao referido órgão os direitos necessários ao exercício da sua missão, notadamente, o direito de contratar, adquirir, alienar bens móveis e imóveis, comparecer em juízo e ainda o direito de legação (DEYRA, 2001, p. 32).
A 20ª Conferência Internacional da Cruz Vermelha, reunida em Viena em 1965, estabeleceu os princípios fundamentais sobre os quais se fundamenta a atuação da Cruz Vermelha. Os princípios substantivos são (DEYRA, 2001, p. 35):
- Humanidade
	A Cruz Vermelha, nascida da preocupação de trazer socorros sem discriminação aos feridos nos campos de batalha, esforça-se, nas suas vertentes internacional e nacional, por prevenir e aliviar em todas as circunstâncias o sofrimento humano. A Cruz Vermelha visa proteger a vida e a saúde, mas também fazer respeitar a pessoa humana. Esta organização favorece a compreensão mútua, a amizade, a cooperação e uma paz duradoura entre todos os povos.
O princípio de humanidade é ainda designado como o princípio essencial já que todos os outros princípios dele decorrem. 
- Imparcialidade
A Cruz Vermelha não faz qualquer distinção de nacionalidade, raça, religião, condição social ou filiação política, destinando-se unicamente a socorrer os indivíduos na medida do seu sofrimento e a promover ajuda de forma prioritária às mais urgentes situações de emergência, ou seja socorre os indivíduos de acordo com as suas necessidades e com o respectivo grau de urgência.
- Neutralidade
A Cruz Vermelha, com o objetivo de preservar a confiança de todos, abstém-se de participar nas hostilidades e nas controversas de ordem política, racial, religiosa ou filosófica a todo o tempo.
Trata-se de uma neutralidade militar, visto que a Cruz Vermelha abstém-se de qualquer ingerência direta ouindireta nos conflitos armados. Essa postura visa favorecer a proteção das vítimas, visto que, como contrapartida desta neutralidade, a assistência nunca é considerada como uma ingerência no conflito. Também apresenta uma neutralidade ideológica, uma vez que a Cruz Vermelha se limita a seguir a sua doutrina, e nunca aquela de um determinado Estado, mesmo que se trate da Suíça. Ademais, a instituição possui um caráter estritamente laico.
- Independência
A Cruz Vermelha é independente. As Sociedades Nacionais, auxiliares dos poderes públicos nas suas atividades humanitárias e submetidas às regras que governam os seus países respectivos, devem, no entanto conservar uma autonomia que lhes permita agir sempre de acordo com os princípios da Cruz Vermelha.
A Cruz Vermelha não pode imiscuir-se na esfera política, econômica e religiosa. Assim, o movimento de assistência humanitária é independente e deve ser livre para agir, ajudar as autoridades nacionais nas atividades humanitárias e estar imune às eventuais influências de governo.
Os princípios orgânicos são (DEYRA, 2001, p. 39):
 - Voluntariado
“A Cruz Vermelha é uma instituição voluntária e desinteressada”.
 O movimento é uma instituição de socorro voluntário e desinteressado. A paz promovida pela solidariedade é espontânea, fruto da generosidade humana, visto que cuidar das vítimas de guerra foi sempre um imperativo que decorre da ética, da moral ou da natureza humana. A dimensão do voluntariado determina que as prestações voluntárias sejam asseguradas por colaboradores não remunerados. A instituição deve perquirir o interesse das vítimas. O voluntariado e o desinteresse intensificam os princípios da independência e de humanidade, respectivamente.
- Unidade
“Só pode existir uma única Sociedade da Cruz Vermelha em cada país, devendo esta estar aberta a todos e estender a sua ação humanitária a todo o território”.
 Somente pode haver uma única Sociedade da Cruz Vermelha ou do Crescente Vermelho no mesmo país, com uma unidade da direção. Todavia, nada obsta que nos Estados Federados as Sociedades Nacionais sejam descentralizadas em secções ou divisões dotadas de relativa autonomia. Ela deve ser aberta a todos e estender a sua ação humanitária ao território inteiro, sendo para isso desejável uma descentralização máxima.
- Universalidade
“A Cruz Vermelha é uma instituição universal no seio da qual todas as Sociedades têm direitos iguais e o dever de entre ajuda”.
A Cruz Vermelha deve estender as suas atividades a todos e a todo lugar que necessite. Esta universalidade é complementada pela igualdade e pela solidariedade entre as Sociedades Nacionais, que se exprimem por meio da Federação.
Outros princípios próprios de Direito Internacional Humanitário podem ainda ser elencados:
- princípio da distinção: as operações de guerra devem recair apenas sobre alvos militares. É necessário que se faça a distinção entre alvos militares e as pessoas e bens civis. É de suma importância proteger principalmente os hospitais, unidades sanitárias, centros de abastecimento de água, unidades de distribuição de alimentos, entre outros.
- princípio da proibição dos danos supérfluos e sofrimentos desnecessários: os combatentes deverão empregar tão somente os métodos e meios de combate essenciais para alcançar o objetivo militar e evitar a crueldade desnecessária. Assim, todos os instrumentos que causem sofrimentos excessivos, provocando mais dor e aflição do que o necessário serão considerados ilícitos. O efeito dos meios e métodos de guerra empregados não deve ser, em hipótese alguma, desproporcional à vantagem militar almejada.
- princípio da não-discriminação: a proteção dada às vítimas não pode ser distinta em razão de nacionalidade, raça, religião, condição social e filiação política, filosóficas ou religiosas dos indivíduos. 
- princípio da responsabilidade: o responsável pela proteção dos indivíduos e pela execução das regras convencionais é o Estado preponente. 
- princípio da inalienabilidade dos direitos dos indivíduos protegidos: as pessoas protegidas em conflitos armados não podem, de modo algum, renunciar, parcial ou totalmente, aos benefícios a elas concedidos pelas Convenções e pelos Protocolos Internacionais. 
As Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelhos atuam como auxiliares dos poderes públicos em cada País, prestando serviços de assistência em caso de conflitos armados ou em caso de catástrofes. Embora várias sociedades existam atualmente em prol à causa humanitária, é inegável o papel do CICV como pioneiro no serviço humanitário e como principal motor de desenvolvimento do Direito Internacional Humanitário. 
O compromisso geral do CICV com relação ao Movimento é “trabalhar pela compreensão e difusão do Direito Internacional Humanitário aplicável nos conflitos armados e preparar o seu eventual desenvolvimento” (artigo 5.2.g). Referido artigo também coloca claramente em relevo que o CICV “pode tomar as iniciativas humanitárias que correspondam ao seu compromisso de instituição e de intermediário neutro e independente e estudar as questões cujo exame caiba à tal instituição”(artigo 5.3).
Dentre os diversos tipos de atividades do CICV destacam-se: a assistência médica para as vítimas de conflitos; visitas aos prisioneiros de guerra nos acampamentos; visitas e ajuda material para pessoas detidas por razões de segurança, trabalho de busca, assistência às pessoas deslocadas pelos conflitos; disseminação das normas de Direito Internacional Humanitário; e o desenvolvimento e interpretação dessas normas (BOUVIER; SASSOLI, 1999, p. 276). 
As Convenções de Genebra descrevem o papel que o CICV desempenha ao aliviar o sofrimento humano. A Conferência Diplomática na qual se aprovaram os Protocolos Adicionais às Convenções de Genebra, de 1977, adotou também a resolução 21, que chama explicitamente:
 As autoridades competentes a conceber e a por em prática, se for preciso, com a ajuda e a assessoria do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, modalidades de ensino do Direito Internacional Humanitário adaptadas às condições nacionais, em especial para as forças armadas e as autoridades administrativas competentes (2.a). 
Da mesma forma:
Convida o Comitê Internacional da Cruz Vermelha a colaborar ativamente no esforço de difusão do Direito Internacional Humanitário, em particular: (a) publicando material destinado a ajudar no ensino do Direito Internacional Humanitário e fazendo circular todas as informações úteis para a difusão das Convenções de Genebra e dos Protocolos Adicionais; (b) organizando, por iniciativa própria e a pedido dos governos e das Sociedades Nacionais, seminários e cursos sobre o Direito Internacional Humanitário e colaborando com os Estados e as instituições adequadas, para este fim (4). 
Portanto, é de extrema importância o papel exercido pelo CICV na condição de elaborador, promotor, difusor e guardião das normas de Direito Internacional Humanitário. Sua atuação é voltada essencialmente para amenizar os horrores cometidos nos conflitos armados em respeito às Convenções de Genebra e aos seus dois Protocolos Adicionais e às normas e princípios do Direito Internacional Humanitário. 
- Assistência Humanitária
É importante antes de analisar o conceito de “assistência humanitária” distingui-lo dos conceitos de “intervenção humanitária”, conforme já analisada. Muitas vezes essas expressões são usadas como sinônimos, embora se trate de conteúdos distintos. 
A assistência humanitária é a ajuda de emergência e urgência prestada por terceiros Estados ou por organizações humanitárias, em especial o CICV, para minorar o sofrimento de determinada população, vítima tanto de conflitos armados, quanto de situações emergências, como catástrofes naturais. Todavia, para que essa ajuda se concretize é necessário o consentimento do Estado que irá recebê-la. Essa assistência, via de regra, não poderá ocorrer por meio do uso da força caso o Estado não a autorize. Portanto, não há que se falar em um direito de acesso às vítimas contra a vontade do Estado,uma vez que, embora controverso o tema na doutrina, não há uma consagração jurídica que possa afirmar tal direito.
O direito de assistência humanitária é decorrente de costume internacional, consubstanciado com a aprovação pela Assembleia Geral da ONU na Resolução 43/ 131 de 1988 que visava garantir a prestação de auxílios às vítimas de catástrofes ou em situações de urgência (AMARAL JUNIOR, 2003, p. 2). A resolução consagrou o princípio do livre acesso às vítimas, sendo que nem o Estado receptor nem os vizinhos podem, desarrazoadamente, impedir que a ajuda chegue até às vítimas.
A assistência humanitária não deve ser prestada apenas em conflitos armados, mas deve abranger também qualquer caso de catástrofes naturais ou situações outras que envolvem sofrimento humano, como a miséria, segundo o princípio da solidariedade universal, visto que “o dever de ajudar àquele que necessita é um princípio inerente à própria natureza do homem: um princípio elementar e, ao mesmo tempo, ético, moral e religioso” (ZANGUI, 1999 apud SOUSA, 2007, p. 77).
	As consequências de qualquer tipo de situação emergencial tornam-se grave no plano econômico e social para todos os envolvidos. Não se pode deixar de prestar auxilio às vítimas, uma vez que a falta de assistência constitui ameaça à vida e atenta contra a dignidade da pessoa humana. Referida assistência às vítimas é fundamental para o respeito ao direito à vida e à saúde, proclamados na Declaração Universal dos Direitos Humanos que se impõem a toda humanidade, consoante o dever de cooperação, expresso nos artigos 55 e 56 da Carta da ONU.
	O princípio do livre acesso às vítimas ganhou força com a resolução da Assembleia Geral da ONU n. 45/100 de 14 de dezembro de 1990 sobre os corredores humanitários. 	A criação de corredores humanitários constitui um dever aos Estados, sendo lícito às partes escolher os meios para que seja implementados. A Corte Internacional de Justiça já opinou que o Estado que, por acordo internacional, conferir a outro o direito de passagem em seu território pode regulamentar o exercício deste direito, impedindo a circulação de tropas militares. Os corredores humanitários podem ser: i) de acesso, quando auxiliam a chegada de socorro às vítimas; ii) de evacuação quando permitem a fuga das pessoas em situação de perigo iminente; e iii) de retorno quando possibilitam o regresso dos refugiados .
As Convenções de Genebra preveem a instituição de zonas de segurança para proteger as vítimas dos conflitos armados internacionais, visando abrigar as mulheres, crianças e idosos que não participam das atividades militares. A dificuldade em estabelecê-las ocorre principalmente pela falta de consentimento dos beligerantes, ou pelo tempo em consegui-las. Tendo em vista, o grande o número de conflitos internos atuais, a ONU aumentou consideravelmente o número de zonas de segurança em várias partes do mundo, para oferecer a obrigo a parcela da população civil, amenizando as consequências do conflito armado.
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha foi reconhecido por todos os Estados que assinaram as Convenções de Genebra de 1949, os Protocolos Adicionais de 1977. É a principal organização que presta assistência humanitária em toda parte do mundo, ainda que existam outros tipos de organizações de assistência humanitária, como as várias organizações da ONU.
Por conseguinte, o direito à assistência humanitária traz o dever de o Estado não obstaculizar este auxílio, contribuindo com todos os meios necessários. Mas tal direito não pode de modo algum conceder a um terceiro Estado o direito ou dever de ingerência ou intervenção. A ação deve ser estritamente humanitária e não atender a outras motivações, nem fazer uso de meios incompatíveis com sua natureza. O Direito Internacional Humanitário determina aos combatentes o respeito à prestação de socorro proporcionado às vítimas dos conflitos armados:
Cada Alta Parte Contratante concederá livre passagem a qualquer remessa de medicamentos, material sanitário e de objetos necessários ao culto, destinados unicamente à população civil de uma outra Parte Contratante, mesmo inimiga. Autorizará igualmente a livre passagem de toda remessa de víveres indispensáveis, vestuários e fortificantes destinados às crianças menores de 15 anos, mulheres grávidas e parturientes. (...). Artigo 23.º da IV Convenção de Genebra.
Quando a população civil de um território sob controle de uma Parte no conflito, que não seja território ocupado, estiver insuficientemente abastecida dos materiais e gêneros mencionados no artigo 69 (vestuário, equipamento de pernoite, alojamentos de urgência e outros abastecimentos essenciais à sobrevivência da população civil do território ocupado e objetos necessários ao culto), serão realizadas ações de socorro de caráter humanitário e imparcial, conduzidas sem qualquer discriminação de caráter desfavorável, sem prejuízo do assentimento das Partes interessadas. As ofertas de socorro que preencham as condições acima mencionadas não serão consideradas nem ingerência no conflito armado, nem atos hostis. (...) (grifo nosso). Artigo 70 (1) do I Protocolo Adicional de 1977.
O direito à assistência humanitária deve distinguir a população civil dos combatentes, bem como assegurar o respeito, a proteção e o tratamento humanitário para as pessoas que não participem ou não estejam mais participando das hostilidades. A quarta Convenção de Genebra estabelece que os Estados têm o dever de providenciar ajuda humanitária para a população civil que esteja sob sua jurisdição (inclusive não nacionais, livres ou detidos, bem como a população de territórios ocupados); e se for incapaz de fazê-lo, de acordo com o Protocolo I, deverá aceitar a oferta de terceiras partes em fornecê-la. Conforme o artigo 18 do Protocolo II, relativo a conflitos armados não-internacionais, estabelece o direito à assistência humanitária, impondo às partes envolvidas no conflito, a obrigação em aceitar a ajuda essencial para a sobrevivência da população.
Artigo 59. Quando a população de um território ocupado ou uma parte desta for insuficientemente abastecida, a Potência ocupante aceitará as ações de socorro feitas em favor desta população e facilitá-las-á por todos os meios ao seu alcance.
Estas ações, que poderão ser empreendidas pelos Estados ou por um organismo humanitário imparcial, como a Comissão Internacional da Cruz Vermelha, consistirão especialmente em remessas de víveres, produtos médicos e vestuário.
Todos os Estados contratantes deverão autorizar a livre passagem das remessas e assegurar-lhes a proteção.
Uma Potência que conceda livre passagem às remessas destinadas a um território ocupado por uma Parte adversa no conflito terá, no entanto, o direito de fiscalizar as remessas, de regulamentar a sua passagem de harmonia com os horários e itinerários prescritos e de conseguir da Potência protetora uma garantia bastante de que estas remessas são destinadas a socorrer a população necessitada e de que não são utilizadas em benefício da Potência ocupante.
As violações do artigo 59 supracitado da quarta Convenção de Genebra não são elencadas como “infrações graves” previstas no artigo 147 da mesma Convenção (igualmente nos artigo 50 da 1ª Convenção, artigo 51 da 2ª Convenção e artigo 130 da 3ª Convenção). De acordo com o artigo 85 (5) do I Protocolo, as infrações graves são consideradas como crimes de guerra. Na medida em que uma violação do referido artigo 59 não constitui “infração grave” parece que não constitui crime de guerra. Apenas os crimes de guerra acarretam a responsabilidade individual das violações do jus in bello. Na ausência de responsabilidade individual, o Estado interessado é o único a ser chamado a prestar conta das infrações contra o Direito Internacional Humanitário.
Referidas infrações graves cometidas contra pessoas e bens, elencadas nas quatro Convenções são: homicídio voluntário, tortura ou tratamentos desumanos, incluindo experiências biológicas, dar causa intencionalmente a grandes sofrimentos ou de ofender gravementea integridade física ou a saúde, destruição e apropriação de bens não justificadas por necessidades militares e executadas em grande escala, de forma ilícita e arbitrária.
Especificamente, as infrações comuns à terceira e quarta Convenções são: obrigar um prisioneiro de guerra a servir nas forças armadas da Potência inimiga; privar um prisioneiro de guerra ou uma pessoa civil do seu direito de ser julgado regular e imparcialmente nos termos das disposições daquelas Convenções. 
Existem ainda as infrações específicas da quarta Convenção: deportações e transferências ilegais, detenção ilegal de pessoa protegida e tomada de reféns. Por fim, existem as infrações acrescentadas pelo primeiro Protocolo e qualificadas, expressamente, como crimes de guerra: ataques contra pessoas (civis ou fora de combate) ou bens (civis ou obras e instalações que contenham forças perigosas) e a pérfida utilização dos emblemas da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho. 
Por outro lado, são igualmente consideradas infrações graves, desde que cometidas intencionalmente: a demora injustificada no repatriamento dos prisioneiros de guerra ou dos civis; as práticas de apartheid e outras práticas desumanas ou degradantes baseadas na discriminação racial; e a negação a uma pessoa protegida do seu direito de ser julgada regular e imparcialmente.
O artigo 86, (1) do I Protocolo especifica que as infrações cometidas por omissão devem igualmente ser punidas; e (2), impõe responsabilidades especiais aos comandantes militares, no sentido de que a infração cometida por um subordinado não isenta os seus superiores de responsabilidade, desde que, estando estes informados, nada façam para impedir ou reprimir tal infração.
A questão que se coloca refere-se até onde se estende a obrigação do Estado no caso de violação à assistência humanitária. Entendem alguns autores que, nesses casos, o uso da força pode ser usado para constranger o Estado faltoso em respeitar o Direito Internacional Humanitário. Todavia, esta tese está em contradição com a proibição geral estabelecida pela Carta da ONU da utilização unilateral da força na relação entre os Estados, bem como do próprio DIH, que em momento algum prevê o uso da força. 
	De acordo com o artigo 39 da Carta da ONU incumbe ao Conselho de Segurança constatar a existência de ameaça contra à paz, e em caso afirmativo, estará habilitado a impor sanções nos termos do artigo 41 e 42 da referida Carta. Todavia, uma ação unilateral tendendo para os mesmos fins não pode ser legitimamente iniciada sem a aprovação do Conselho de Segurança, visto que qualquer Estado agindo só (ou em conjunto com outros Estados) não pode se atribuir os poderes deste último.
Infelizmente, em alguns conflitos armados, a assistência humanitária é utilizada para financiamento aos combatentes (particularmente forças não estatais). Assim, converte-se a atividade humanitária em atividade política. A entrega de ajuda para a população civil, algumas vezes, é obstaculizada por algumas “agências humanitárias” que não asseguram a observância do DIH ou pelas partes em um conflito que tomam posse dessa assistência para auxiliar sua operações armadas. Um exemplo claro de tal situação foi o conflito na Somália, onde a ajuda humanitária terminou servindo como a principal fonte de meios para os militares e serviu para prolongar e agravar o conflito.	
	Os mecanismos de coerção estabelecidos sob a égide da ONU para o respeito ao DIH podem ser criticados como frágeis e politizados, dominados mais pelo real poder das estruturas do que por normas de direito. Diante desse quadro, o DIH deve assegurar que suas normas sejam reconhecidas e integradas nas legislações nacionais, a fim de que por meio delas seja previsto, para esses casos, um sistema de coerção eficaz. E se eventualmente um tribunal nacional ficar inerte em relação a uma violação de DIH por parte dos indivíduos que as praticaram, o caso deverá ser julgado perante um juízo internacional, a exemplo do TPI que, inclusive deveria incluir as violações do artigo 59 da quarta Convenção de Genebra dentre os crimes de guerra de competência material desse tribunal. 
	São obrigações erga omnes de cada Estado assegurar o respeito em relação ao DIH. Todavia, a garantia mínima e necessária do respeito ao indivíduo será conseguida por meio da educação, quando cada um entender que mesmo em conflitos armados o inimigo é um ser humano merecedor de respeito (BOUVIES; SASSOLI, 1999, p. 221).
Segundo entendimento da CIJ há três regras básicas para o respeito ao Direito Internacional Humanitário, quais sejam: a obrigação do respeitar e de garantir o respeito pelo DIH; a assistência humanitária; e a proibição do genocídio. À primeira regra, a Corte aduz que o artigo 1˚ comum às Convenções e Protocolos não é apenas uma norma desprovida de real peso legal, mas também está firmemente ancorada em uma norma costumeira que confere obrigatoriedade a todo Estado, tenha ou não ratificado os referidos tratados em questão (CHETAIL, 2003, p. 263).
	A assistência humanitária, como já analisada é um dos meios mais diretos em se assegurar o respeito ao DIH, visto que visa amenizar o sofrimento humano causado pela guerra por meio de ajuda prestada, sem nenhuma discriminação, pelo CICV ou pela ONU ou ainda por outras organizações ou Estados individualmente considerados. 
	As violações de DIH, na maioria das vezes, provêm de um clima de injustiça e negação dos direitos mais fundamentais da pessoa humana, como os direitos civis, políticos, sociais, econômicos, culturais e de fraternidade. Esse cenário, em geral, contribui para a eclosão de um conflito. Isso não é surpreendente em uma atmosfera de violência, crime organizado, miséria, falta de ensino e educação, racismo, notadamente, em locais onde as estruturas sociais entram em colapso com a violação ao DIH. 
	O conhecimento das regras de DIH é uma condição necessária, mas não suficiente para assegurar o seu respeito. A despeito da explicação dos sociólogos e juristas internacionalistas, a sociedade ainda está profundamente impregnada pela ideia de que as normas são apenas válidas quando as suas violações são devidamente punidas. A frequente e quase generalizada impunidade das normas de DIH gera, portanto, um efeito nefasto, incluindo aqueles que as aceitam, mas que têm a impressão que são os únicos que as obedecem (BOUVIER; SASSOLI, 1999, 258).

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