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ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS Aline Alves dos Santos Giro de contas a receber (GCR) e prazo médio de recebimento (PMR) Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Descrever o conceito e a utilização dos indicadores relacionados ao giro de contas a receber (GCR). � Reconhecer o cálculo do prazo médio de recebimento (PMR). � Aplicar o prazo médio de recebimento (PMR). Introdução Neste capítulo, você vai adquirir conhecimentos relacionados ao GCR. Demonstraremos o significado desse importante indicador e sua relação com outros indicadores que ocasionem efeitos no giro dos valores que a empresa aguarda receber. Serão apresentados o conceito e o uso do indicador de GCR, além do cálculo e da aplicação prática do índice prazo médio de recebimentos das vendas (PMRV). Giro de contas a receber Conforme Assaf Neto e Silva (2011), o giro de contas a receber (GCR) representa a quantidade de vezes ao ano em que as contas a receber de uma empresa são transformadas em caixa. Para obter o resultado do GCR, é preciso considerar as informações relacionadas às vendas a prazo realizadas pela empresa e os valores que serão recebidos. Fórmula: GCR = vendas a prazo / valores a receber Giro de contas a receber (GCR) e prazo médio de recebimento (PMR)2 Considerando que uma empresa vendeu R$ 800.000,00 a prazo e que possui R$ 300.000,00 de carteira de duplicatas a receber, apurados no fim de um semestre, tem-se o seguinte GCR conforme o período analisado: GCR = 800.000 / 390.000 = 2, 05 vezes Através do resultado obtido, fica entendido que as vendas a prazo giraram, ou seja, foram recebidas duas vezes dentro desse período, apontando um PMRV de 90 dias (180 dias/2). A média das duplicatas a receber é adquirida mediante a soma dos saldos iniciais e saldos finais da conta “duplicatas a receber”, que deverá ser dividida por 2. A evolução desse indicador aponta uma redução no prazo que é concedido pela empresa ao seu cliente. Do contrário, uma retração na rotação dos valores a receber indica maior expansão nos prazos de concessão de crédito. É necessário destacar a importância da avaliação dos motivos e impactos da evolução apresentada pelo giro sobre os resultados operacionais e situação de liquidez da empresa. Não é sugerido avaliar os indicadores de rotação de modo individual, ou seja, fora do contexto do desempenho empresarial. Um crescimento do giro, por exemplo, poderá indicar um resultado positivo, no entanto, pode ter sido gerado mediante “sacrifício” do preço de venda, ou seja, a empresa realizou suas vendas por um valor menor do que pretendia, consequentemente afetando a margem de lucro. De outra forma, uma elevação do prazo do recebimento poderia indicar uma posição desfavorável para a empresa, o que pode ser financeiramente explicado através dos seus efeitos positivos sobre a quantidade vendida, ou ainda, ser estendido por maiores prazos de pagamento concedidos pelos fornecedores dos produtos vendidos. Observe que o Quadro 1 apresenta informações sobre o indicador de CGR, mas também evidencia outros indicadores que estão relacionados com o mesmo. As informações relatadas no Quadro 1 indicam uma empresa que atingiu os seguintes resultados relativos aos quatro últimos semestres. 3Giro de contas a receber (GCR) e prazo médio de recebimento (PMR) Fonte: Adaptado de Assaf Neto e Silva (2011, p. 138). 1º semestre 2º semestre 3º semestre 4ºsemestre GCR 2,0 2,5 3,0 4,0 Giro dos valores a pagar 2,0 2,2 2,7 3,4 Prazo médio de estocagem 110 dias 90 dias 70 dias 50 dias Quadro 1. Relação do GCR com outros indicadores O Quadro 1 apresenta o GCR da empresa durante os semestres, eviden- ciando que eles vão se modificando, ou seja, vão aumentando conforme passam os períodos. A partir do Quadro 1 é possível obter o prazo médio do recebimento das vendas (PMRV), conforme segue no Quadro 2. Fonte: Adaptado de Assaf Neto e Silva (2011, p. 138). Período PMRV 1º semestre 2º semestre 3º semestre 4º semestre 180 / 2,0 = 90 dias 180 / 2,5 = 72 dias 180 / 3,0 = 60 dias 180 / 4,0 = 45 dias Quadro 2. PMRV O Quadro 2 identifica o cálculo do prazo médio de pagamento com base nas informações do GCR demonstrados no Quadro 1. Para este cálculo foi utilizado o período correspondente a um semestre, ou seja, 180 dias, sendo este período dividido pelo GCR, resultando na quantidade média de dias que a empresa aguarda pelo recebimento das suas vendas. O Quadro 2 demonstra ainda uma evolução constante do GCR. Giro de contas a receber (GCR) e prazo médio de recebimento (PMR)4 Concessão e prazo de crédito para o cliente De acordo com Assaf Neto e Silva (2011), é importante abordar a concessão de crédito que a empresa oferece aos seus clientes, já que reflete diretamente no GCR empresarial. A concessão de crédito possui por base alguns termos fixados na política de crédito da empresa, no entanto, difere por ser individual para cada cliente, mesmo contemplando todos os clientes potenciais. Com relação à concessão de crédito, Assaf Neto e Silva (2011, p. 129) afirmam que “um pedido de crédito será concedido desde que o custo de sua concessão, incluindo-se nesse custo a possibilidade do não pagamento, seja inferior ao valor esperado da receita de venda a prazo”. O prazo de crédito se refere a um dos elementos da política de crédito da empresa, sendo estabelecido mediante vários fatores, como, por exemplo, probabilidade de pagamentos, quantidade de vezes que um cliente compra a prazo, entre outros. Sobre o prazo do crédito concedido pela empresa ao cliente: A probabilidade de pagamento (qualidade do cliente) é outro fator relevante. Quanto melhor for o cliente, maior poderá ser o prazo de pagamento, sem que isto afete demasiadamente o risco da empresa. Realmente, se um comprador adquire pela primeira vez de uma empresa, é natural que o prazo de crédito seja diferente de clientes tradicionais. Espera-se que a empresa beneficie estes em detrimento daqueles (ASSAF NETO; SILVA, 2011, p. 111). Vale destacar a importância que tem o período concedido pela empresa aos seus clientes, pois o não cumprimento desses prazos afetará diretamente o GCR da empresa. É necessário que a empresa forneça prazos aos seus clientes, buscando aumentar suas vendas, no entanto, é preciso que os prazos concedidos aos clientes sejam menores que os prazos que a mesma tenha com suas obrigações. Fórmula utilizada para o PMR De acordo com Silva (2010), o cálculo do PMRV possui uma sistemática similar ao de rotação de estoques, demonstrando suas próprias particularidades. Atra- vés do cálculo do PMRV é demonstrada a quantidade de dias que a empresa aguarda para receber suas vendas. É possível afirmar que o cálculo do PMRV é realizado através de um método bem simples (SILVA, 2010). Fórmula: 5Giro de contas a receber (GCR) e prazo médio de recebimento (PMR) PMRV = contas a receber (período) / venda bruta (período) × 360 Conforme Assaf Neto e Silva (2011), os valores a receber pela empresa podem ser calculados em dias de vendas. A fórmula usada é bastante seme- lhante à do PMRV, conforme segue: DVR = valores a receber (período) / venda bruta (período) / número de dias do período DVR = dias de vendas a receber Através da fórmula dos dias de venda a receber (DVR), se for encontrado um resultado igual a 22, significa que 22 dias das vendas realizadas pela empresa ainda não foram recebidos. Assim, considera-se que o montante da carteira de valores a receber corresponde a 22 dias de vendas (ASSAF NETO; SILVA, 2011). A fórmula do DVR foi demonstrada com o intuito de apresentar a seme- lhança com o PMRV, pois ambas as fórmulas são usadas buscando obter o PMRV, no entanto, o PMRV é mais usual. Com base no cálculo do PMRV, analise a seguinte situação: Uma empresa vende 15 unidades ao mês de um produto específico por R$ 20,00, concedendo ao cliente um prazo para pagamento de 60 dias. Ao término do ano, apresentoua seguinte posição: � Vendas realizadas = R$ 20,00 × 15 unidades × 12 meses = R$ 3.600,00 � Duplicatas a receber = R$ 20,00 × 15 unidades × 2 meses (60 dias) = 600,00 Para calcular o PMRV, é necessário aplicar os valores obtidos: GCR = vendas / duplicatas a receber GCR = 3.600 / 600 = 6 PMRV = contas a receber / vendas brutas × 360 PMRV = 600 / 3.600 = 60 dias Giro de contas a receber (GCR) e prazo médio de recebimento (PMR)6 Aplicando o PMR De acordo com Ross et al. (2013), através do PMRV, que foram efetuadas pela empresa a prazo, são demonstrados em dias, ou seja, a partir da aplicação da fórmula do PMRV é possível constatar em quanto tempo as vendas serão convertidas em caixa (dinheiro). O PMRV é também denominado de “dias em contas a receber” ou “prazo médio de contas a receber”. A empresa Rápido Demais Ltda. realizou um grande volume de vendas em 2017, tota- lizando R$ 24.000,00. A empresa evidenciou, em 31 de dezembro do mesmo período, o saldo da conta “Contas a receber” de R$ 38.000,00. As informações coletadas foram apresentadas mediante as demonstrações contábeis elaboradas pela empresa referente ao ano de 2017. Com base nas informações apresentadas pela empresa, qual será o tempo necessário para que ela receba o valor das vendas que foram efetuadas a prazo? PMRV = (contas a receber / vendas brutas) × 360 PMRV = (24.000 / 38.000) × 360 = 227 dias Com base no resultado apresentado para o PMRV, é visível que a empresa possui uma média de recebimento das vendas de 227 dias, ou seja, a empresa leva mais de um semestre para receber o valor das suas vendas, o que é desfavorável. O ciclo financeiro depende dos prazos médios, entre eles, o PMRV. O ciclo financeiro se eleva em virtude dos prazos, como o de recebimento, por exemplo, podendo se tornar mais longo. Conforme Bazzi (2016), as duplicatas a receber (contas a receber) estão evidenciadas no balanço patrimonial da empresa na conta clientes a receber, dentro do ativo circulante. No exemplo do Quadro 3, o autor faz uso das duplicatas a receber que também são conhecidas por contas a receber, para 7Giro de contas a receber (GCR) e prazo médio de recebimento (PMR) aplicar a fórmula do PMRV, buscando identificar em qual dos períodos a empresa apresentou melhor resultado. Fonte: Adaptado de Bazzi (2016, p. 84). Índice Fórmula Ano 1 Ano 2 Prazo médio de cobrança PMC = (duplicatas / faturamento) × 360 79 91 Duplicatas a receber R$ 3.921.150 R$ 2.121.548 Faturamento R$ 17.974.211 R$ 8.364.887 Quadro 3. Exemplo de cálculo do prazo médio de estocagem O Quadro 3 demonstra que no ano 1 a empresa apurou, através do PMRV, 79 dias para o recebimento das vendas, sendo menor que no ano 2, onde o resultado em dias para o PMRV foi de 91 dias. Desse modo, é possível veri- ficar que no ano 2 a empresa ofereceu aos seus clientes um prazo maior em comparação ao ano 1. Ao verificar o PMRV, é preciso ter cuidado, pois geralmente são consideradas na apli- cação da fórmula as vendas brutas de um período, ou seja, dentro desse valor estão as vendas realizadas a prazo e também as vendas à vista. Assim, é preciso considerar que o valor relacionado às vendas brutas reflete no PMRV, fazendo girar o tempo médio de recebimento. Com o uso do índice do PMRV, é possível entender, com base nos resul- tados encontrados, que quanto mais rápido for o recebimento das vendas e da renovação dos estoques, melhor será para a empresa. Do mesmo modo, quanto maior for o tempo de recebimento pela empresa, maior será o período que ela levará para saldar suas dívidas. Giro de contas a receber (GCR) e prazo médio de recebimento (PMR)8 Para a empresa, seria ideal que a soma do prazo médio de renovação dos estoques com o PMRV representasse o mesmo período ou que fosse inferior ao prazo médio de pagamento das compras, pois é necessário entender que os prazos estão relacionados, desse modo a falha entre o cumprimento desses prazos refletirá em necessidade de capital de giro pela empresa. ASSAF NETO, A; SILVA, C. A. T. Administração do capital de giro. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2011. BAZZI, S. Análise das demonstrações contábeis. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2016. ROSS, S. A. et al. Administração financeira: versão brasileira de corporate finance. 10. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015. . Fundamentos de administração financeira. 9. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. SILVA, J. P. da. Análise financeira das empresas. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2010. Leituras recomendadas BLATT, A. Análise de balanços: estruturação e avaliação das demonstrações financeiras e contábeis. São Paulo: Makrons Books, 2001. BRUNI, A. L. A análise contábil e financeira. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2011. v. 4. GARRISON, R. H; NOREEN, E. W; BREWER, P. C. Contabilidade gerencial. 14. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. LINS, L. S; FRANCISCO FILHO, J. Fundamentos e análise das demonstrações contábeis: uma abordagem interativa. São Paulo: Atlas, 2012. MARION, J. C. Análise das demonstrações contábeis: contabilidade empresarial. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2012. MARQUES, J. A. V. da C.; CARNEIRO JÚNIOR, J. B. A.; KÜHL, C. A. Análise financeira das empresas. 2. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2015. PADOVEZE, C. L; BENEDICTO, G. C. de. Análise das demonstrações financeiras. 3. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2010. SZABO, V. Gestão de estoques. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2015. Conteúdo:
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