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1 Artigo apresentado à Disciplina de História dos Livros e das Bibliotecas como requisito para a 1ª e 2ª nota 2 Alunas/os do 5ª Período de Biblioteconomia da Universidade Federal do Maranhão A CONTRIBUIÇÃO DOS JESUÍTAS E SUAS BIBLIOTECAS PARA A EDUCAÇÃO BRASILEIRA NO PERÍODO COLONIAL (1500-1808) 1 Adna Soares Lobato 2 Elinielle Pinto Borges 2 José Rogério Rodrigues Viana 2 RESUMO Relata sobre a vinda dos Jesuítas ao Brasil com o enfoque na sua contribuição para a educação bem como nas suas bibliotecas criadas. Analisa a trajetória dos Jesuítas principalmente no contexto social, econômico e político que passava a Europa no século XVI e a realidade da colônia Portuguesa nessa mesma época. Mostra os objetivos que tinha a Companhia de Jesus para o Brasil que iam além da educação, pois esta foi criada como um instrumento de Contra-Reforma da Igreja Católica. Fala sobre Ratio Studiorum (ordem de estudos ou organização e plano de estudos) e de como este foi um instrumento essencial para a educação jesuítica brasileira, considerada até hoje um grande avanço para a época que fora criada. Discorre sobre as bibliotecas dos jesuítas criadas para o aprofundamento do ensino por eles realizado e de como estas foram fundamentais para a propagação do conhecimento. Mostra onde existiram as principais bibliotecas jesuíticas: Bahia, Rio de Janeiro, Pará, Maranhão e Recife. Palavras-chave: Jesuítas. Educação. Biblioteca. 1 INTRODUÇÃO Com o descobrimento do Brasil em 1500 por Portugal foi necessário haver um projeto educacional que contribuísse no processo de colonização e de povoamento do Brasil colônia, projeto este que foi realizado pelos jesuítas ao longo de seus 210 anos de trajetória em nosso país (1549-1759). A Companhia de Jesus (em latim Societas Iesu) criada em 1534 por Inácio de Loyola na Europa chega ao Brasil em 1549 liderada por Manuel da Nóbrega e se instala de início na Bahia. Com o tempo ela vai ganhando credibilidade de Portugal assumindo assim um grande papel educacional do Brasil colônia, trazendo-nos as nossas primeiras bibliotecas, a Companhia de Jesus reflete uma missão religiosa imbuída de desejos educacionais da Igreja Católica e de transmissão da cultura européia imposta aos nativos. Procuraremos introduzir a discussão pontuando na importância e nos objetivos da companhia de Jesus no Brasil, refletindo nas mudanças que trouxeram para a educação brasileira, ressaltando a metodologia e os recursos pedagógicos utilizados. 1 Artigo apresentado à Disciplina de História dos Livros e das Bibliotecas como requisito para a 1ª e 2ª nota 2 Alunas/os do 5ª Período de Biblioteconomia da Universidade Federal do Maranhão E é neste contexto que este estudo propõe uma análise sobre as bibliotecas criadas no período colonial, destacando os colégios principais, abordando sobre a qualidade do seu acervo, como também apontando as conseqüências da expulsão dos jesuítas. Assim o objetivo geral é desenvolver uma reflexão, no sentido de esclarecer realmente a importância e a influência dos jesuítas para a nossa educação. 2 A VINDA DOS JESUÍTAS PARA O BRASIL Antes de adentrar no que se propõe este capítulo é prioritário entender como os Jesuítas se organizavam enquanto instituição religiosa e educacional na Europa, mas especificamente Portugal e Espanha, dando ênfase, obviamente, ao primeiro país, já que este era a metrópole do Brasil no período colonial. Os Jesuítas que aqui chegaram eram oriundos de Portugal, um país que passava, assim como toda a Europa, por mudanças tanto no cenário cultural como religioso. Vivia-se a Renascença que rompia com a Idade Média e se apresentava como o retorno às fontes da cultura Greco-latina, sem a intermediação dos comentadores medievais, [...] um procedimento que visava também a secularização do saber, isto é, a desvesti-lo da parcialidade religiosa, para torná-lo mais humano. Procurava-se com isso formar o espírito do indivíduo culto mundano, “cortês” (o que freqüenta a corte), o gentil-homem. (grifo nosso) O olhar humano desviava-se do céu para a terra, ocupando-se mais com as questões do cotidiano. A curiosidade, aguçada para a observação direta dos fatos, redobrou o interesse pelo corpo e pela natureza circundante. Nos estudos de medicina ampliaram-se os conhecimentos de anatomia com a prática de dissecação de cadáveres humanos, até então proibida pela Igreja. O sistema heliocêntrico de Copérnico constituiu uma nova imagem do mundo. (ARANHA, 2006, p. 124) Nota-se nitidamente que o momento por que passa a Europa era acima de tudo de rompimento com os dogmas e a autoridade da igreja sobre os valores e conhecimentos que emergiam naquele momento histórico. Evidentemente que não apenas aspectos religiosos foram destacados nessa época, mas também a ascensão de da burguesia, que deixava para trás modos de produção tradicionais e criava, à partir da “[...] Revolução Comercial do século XVI [...]”, um novo modo de “[...] produção capitalista [...]” que reforçava a “[...] decadência do feudalismo, cuja riqueza era baseada na posse de terras [...]” (ARANHA, 2006, p. 124), assim como o fortalecimento da aliança entre burgueses e os reis com o intuito de fortalecer o poder central dos duques e barões (ARANHA, 2006, p. 124). 1 Artigo apresentado à Disciplina de História dos Livros e das Bibliotecas como requisito para a 1ª e 2ª nota 2 Alunas/os do 5ª Período de Biblioteconomia da Universidade Federal do Maranhão Acima de todas as mudanças ocorridas na renascença, uma era mais e importante e por isso foi brutalmente rebatida até com sangue, era a supremacia da igreja que estava sendo ameaçada, não por razões puramente religiosas, mas também, ou principalmente, relacionadas às questões de poder econômico. A igreja vivia um momento de enriquecimento enquanto organização individual. O que provocou a Reforma Protestante no século XVI, em oposição aos desmandos da igreja, dentre estes a proibição dos empréstimos a juros. Em resposta à Reforma Protestante e outras manifestações contra o poder da igreja, criou-se a Contra-Reforma, apoiada pelo Concílio de Trento (1545-1563) que reafirmava a “[...] supremacia papal e o princípios da fé, além de estimular a criação de seminários, para formar padres. A inquisição tornou-se mais atuante, sobretudo em Portugal e Espanha.” (ARANHA, 2006, p. 125). Também nesse período criaram-se os colégios propostos pela Reforma Protestante, que eliminavam a figura dos padres como preceptores e “[...] propunha o retorno às origens, pela consulta direta ao texto bíblico [...]” (ARANHA, 2006, p. 126). De pronto, com o fim de combater os avanços das idéias protestantes quanto a forma de ensino, a Igreja Católica incentivou a criação das ordens religiosas. Dentre estas, a de nosso objeto de estudo, o Colégio dos Jesuítas. Em especial por terem exercido papel fundamental na educação do brasileiro. Com a criação da Companhia de Jesus em 1534, pelo espanhol basco Inácio de Loyola, esta tinha como “[...] objetivo inicial a propagação missionária da fé, a luta contra os infiéis e heréticos. Para tanto os jesuítas se espalharam pelo mundo, desde a Europa, assolada pelas heresias, até a Ásia, a África e a América.” (ARANHA, 2006, p. 127). Concordando com Aranha, Filho ao citar Leonel França discorre que: O objetivo primeiro da Companhia de Jesus, cuja fundação foi autorizada pelo papa Paulo III em 1540, era formar bons soldados da Igreja de Roma, capazes de combater heresias de rebeldes na Europa e no resto do mundo e promover a conversão dos pagãos. (FILHO, 2001, p. 22) Os jesuítas desembarcaram no Brasil em 1549, encabeçados por Manuel da Nóbrega, junto com o primeiro governador-geral Tomé de Souza, e consigo a tarefa de “[...] catequizar e instruir os nativos, assim como a população que para cá se transferira ou fora transferida,nas quatro décadas que já se haviam passado desde o Descobrimento. (XAVIER, RIBEIRO, NORONHA, 1994, p. 41). Assim com o que acontecera na Europa, no Brasil também, 1 Artigo apresentado à Disciplina de História dos Livros e das Bibliotecas como requisito para a 1ª e 2ª nota 2 Alunas/os do 5ª Período de Biblioteconomia da Universidade Federal do Maranhão os jesuítas deveriam cuidar da reprodução interna do contingente de sacerdotes, necessário para a garantia da continuidade da obra. Sua tarefa educativa era basicamente aculturar e converter ignorantes e ingênuos, como os nativos, e criar uma atmosfera civilizadas e religiosa para os degredados e aventureiros que para aqui viesse. (XAVIER, RIBEIRO, NORONHA, 1994, p. 41). Por se tratar de uma terra nova e sem lei o Brasil, recebeu um número considerável de exploradores portugueses que sem escrúpulos, assim como no modelo feudal, só viam a possibilidade de aquisição de terras como forma de enriquecimento e poder. Para tanto não importava os povos que aqui existiam. Se preciso fosse matar, então matariam, se necessário fosse assemelhar-se aos nativos, assim seria. [...] o português, para sobreviver, se viu forçado a se adaptar, isto é, precisou, muitas vezes e em muitos aspectos, deixar seus hábitos e freqüentar hábitos alheios. O freqüentar lhe fez sentir que era possível uma outra forma – até mesmo comer carne humana – sem que perdesse sua própria identidade. (PAIVA, [2000], p. 52) Deve-se ter em mente que além do nivelamento cultural dos índios, os Jesuítas deveriam perpetuar os preceitos religiosos mantidos na metrópole portuguesa, sob risco de ver seus patrícios tornarem-se selvagens, ou senão, eliminar indiscriminadamente os índios. O poder da Igreja deveria tornar-se presente, [...] tratava-se de dominar, pela fé, os instintos selvagens dos donos da terra, que nem sempre recebiam pacificamente os novos proprietários, difundindo o pânico entre a população metropolitana que ansiava por oportunidade econômicas num mundo menos competitivo. (XAVIER, RIBEIRO, NORONHA, 1994, p. 41 - 42). Os objetivos dos jesuítas que chegaram ao Brasil não eram somente destinados à educação do povo que aqui habitava, esta ordem religiosa criada como um instrumento de Contra-Reforma da Igreja Católica no século XVI tinha outros objetivos além desse, entre os quais o de sustar o grande avanço protestante da época, e para isso utilizou-se de duas grandes estratégias: por meio da educação dos homens e dos índios; e por intermédio da ação missionária, procurando converter à fé católica os povos das regiões que estavam sendo colonizadas (SHIGUNOV NETO; MACIEL; 2008, p.172) A metrópole, como já foi comentada, tinha interesse comercial no Brasil, a ela não interessava ver um poder paralelo e descontrolado por parte de colonos e nativos, e a vinda dos jesuítas poderia garantir em certa medida o poder tanto da soberania religiosa como da 1 Artigo apresentado à Disciplina de História dos Livros e das Bibliotecas como requisito para a 1ª e 2ª nota 2 Alunas/os do 5ª Período de Biblioteconomia da Universidade Federal do Maranhão coroa portuguesa sobre estas terras. Para tanto os jesuítas lançaram mão de vários recursos para promover a catequização e ensino tanto dos índios quanto dos filhos brancos dos colonos e donatários de terras, os negros, escravos, não eram interesse dos padres, pelo menos no que diz respeito a educá-los e integrá-los a hierarquia da Igreja. (FILHO, 2001; ARANHA, 2006). 3 EDUCAÇÃO DOS JESUÍTAS NO BRASIL COLÔNIA O primeiro momento da educação dos jesuítas, marcada pela presença do Padre Nóbrega tem como missão educar “os mamelucos, os órfãos, os indígenas (especialmente os filhos dos caciques) e os filhos dos colonos brancos dos povoados” (ZOTTI, 2004, p. 16) proporcionando então uma integração das raças, dos diferentes tipos de vidas, sendo “democrático, especialmente pelo interesse em formar adeptos ao catolicismo que teve suas bases abaladas com o movimento da Reforma Protestante.” (ZOTTI, 2004, p. 16) Nas tribos o principal obstáculo a entrada dos valores católicos estava na pessoa do Pajé. Sendo assim, o alvo principal dos jesuítas eram os filhos dos colonos e os curumins, por acreditarem que seria mais fácil inculcar nas crianças os valores cristãos. Então, os padres jesuítas utilizaram-se do “[...] teatro escolar para difundir novos sentimentos, valores e idéias [...] para pregar a fé cristã [...]” (FILHO, 2001, p. 22). Quanto ao uso de recursos pedagógicos, Maria Lúcia Aranha informa que: Inicialmente os curumins aprendiam a ler a escrever ao lado dos filhos dos colonos. Anchieta 1 usava diversos recursos para atrair a atenção das crianças: teatro, música, poesia, diálogos em verso. Pelo teatro e dança, os meninos, aos poucos, aprendiam a moral e a religião cristã. (ARANHA, 2006, p. 141) Não só os recursos pedagógicos lúdicos eram utilizados com também a leitura, a oratória, a consulta à catecismos e gramáticas. No entanto, quando necessário, a exemplo do ensino na metrópole, lançava-se mão de castigos. A ordem dos jesuítas era muito organizada, e cada Colégio da Companhia de Jesus tinha uma hierarquia muito bem estabelecida que consistia de: um reitor, que distribuía os ofícios, convocava e dirigia reuniões dos professores, presidia dos professores, presidia as grandes solenidades escolares. Era a autoridade mais alta, subordinada na província à do provincial e fora dela à autoridade do geral, 1 Padre Jesuíta José de Anchieta, incorporado à ordem em 1553. 1 Artigo apresentado à Disciplina de História dos Livros e das Bibliotecas como requisito para a 1ª e 2ª nota 2 Alunas/os do 5ª Período de Biblioteconomia da Universidade Federal do Maranhão por quem era nomeado. O braço direito do reitor, na orientação, era o prefeito de estudos. Conhecedor da doutrina e com grande experiência no ensino, acompanhava de perto toda a vida escolar, visitando as salas de aula, fiscalizando a execução dos programas, aconselhando e articulando as atividades. [...] tinha como auxiliares outros prefeitos de estudos [...]. Existiam, também, os auxiliares de disciplina, encarregados de fazer cumprir as ordens. (FILHO, 2001, p. 23). A ordem ainda possuía uma obra que servia de referência as atividades educativas e de conduta, era o Ratio Studiorum (ordem de estudos ou organização e plano de estudos), que no ensino nos colégios aplicava-se aos cursos: a) Studia inferiora (letras humanas de grau médio e filosofia e ciências); e b) Studia superiora (teologia e ciências sagradas) (ARANHA, 2006, p. 128). Já Filho (2001, p. 23) divide o Ratio Studiorum em currículos, sendo eles: a) Currículo Teológico; b) Currículo Filosófico; e c) Currículo Humanista. Além da divisão do Ratio Studiorum em cursos ou currículos, Aranha (2006, p. 136), desmembra-o segundo suas regas, sendo: - aliança das virtudes sólidas com o estudo; - evite-se a novidade de opiniões; - repetições em casa; - ordem nos pátios; e - preleção. Cada regra do Ratio Studiorum deveria ser piamente respeitada o obedecida, quer fosse por padres, mestres ou alunos. Vê-se nesse ponto o quão os jesuítas, por meio da Companhia de Jesus, eram organizados. Os mesmos enviavam relatórios periódicos à província além de guardar registros de suas atividades. Como vimos até aqui, os jesuítas tinham como clientes principais os filhos dos colonos e dos índios. No entanto, com o passar dos tempos uma nova ordem de clientes foi surgindo. Eram os filhos da aristocracia, nascidos das famílias patriarcais. Foi a família patriarcal que favoreceu, pela natural receptividade, a importação de forma de pensamento e idéias dominantes na cultura medieval européia, feita através da obra dos Jesuítas. Afinal, ao branco colonizador, além de tudo, seimpunha distinguir-se, por sua origem européia, da população nativa, negra e mestiça, então existente. A classe dominante, detentora do poder político e econômico, tinha de ser também detentora dos bens culturais importados. (ROMANELLI, 2003, p. 33). Como pode ser observado com o crescimento do poder econômico e ascensão das famílias patriarcais, oriundas da exploração dos recursos da terra pela mão-de-obra escrava, a necessidade de educação e associação à cultura também se fez necessária. Quer por uma 1 Artigo apresentado à Disciplina de História dos Livros e das Bibliotecas como requisito para a 1ª e 2ª nota 2 Alunas/os do 5ª Período de Biblioteconomia da Universidade Federal do Maranhão questão de aquisição de conhecimento para administração dos negócios ou para formar novos soldados para a Companhia de Jesus. Vale ressaltar que “[...] apenas àqueles cabia o direito à educação e, mesmo assim, em número restrito, porquanto deveriam estar excluídos dessa minoria as mulheres e os filhos primogênitos [...]”. (ROMANELLI, 2003, p. 33). Fica claro que a educação tinha como alvo os filhos homens que não os primogênitos. Este é um ponto em que todos os autores estudados e citados até aqui, concordam. A educação escolarizada era reservada a apenas este grupo de privilegiados, que receberiam a formação necessária para assumir o clã, e os negócios da família. Vê-se quão importante foram os Jesuítas para a educação no período colonial. Isso não quer dizer, no entanto, que outras ordens não tenham contribuído nesse momento da história do Brasil. Mas se considerarmos a abrangência, a organização e a herança deixada, que não é muita, mas que certa forma, serviu para resguarda-se a memória dessa ordem religiosa. É bem verdade também que, ao contrário dos Franciscanos, por exemplo, os jesuítas adquiriram mais posses e o monopólio sobre a educação no período colonial. Aspectos que fizeram com que a mesma metrópole que antes apoiara a criação da Companhia de Jesus, a exploração e disseminação dos conhecimentos religiosos, assim como a idéia de igualdade hierarquizada das terras de além-mar, também se sentisse ameaçada, e “em 1759 o Marquês de Pombal, primeiro ministro de D. José I, influenciado pela idéias Iluministas, expulsou os jesuítas de todo o Império Lusitano”. (Não entendi esse restante...tá sem lógica. Ass: Elinielle) O período da educação dos jesuítas no Brasil pode ser dividido conforme Zotti (2004) em dois momentos, o primeiro a Fase Heróica, marcada pela catequização de um povo sem lei e sem fé, que compreende os primeiros 21 anos (1549-1570) que esteve sob o comando do padre Manuel da Nóbrega, momento em que “[...] os padres aprenderam a língua tupi-guarani e elaboraram textos para a catequese, ficando a cargo de [José de] Anchieta a organização de uma gramática tupi.” (ARANHA, 2006, p. 141). O segundo momento, as Missões. Durante essa fase que os Jesuítas sentiram a necessidade de adentrar as florestas à procura de aldeias isoladas e longe dos olhos dos colonos escravocratas, onde encontraram ocas, onde habitavam 100, 200 índios, e estes moravam em harmonia, dividiam tarefas e deitavam juntos sem pudor ou sentimento de culpa. E durante esse encontro que os jesuítas começam a incultar nos nativos a idéia de sociedade hierarquizada e organizada com tempo para tudo (para comer, trabalhar, dormir), hábitos europeus de higiene e condenação da antropofagia. (ARANHA, 2006, p. 142) 1 Artigo apresentado à Disciplina de História dos Livros e das Bibliotecas como requisito para a 1ª e 2ª nota 2 Alunas/os do 5ª Período de Biblioteconomia da Universidade Federal do Maranhão Após a morte de Nóbrega, Zotti (2004) ao interpretar Cunha diz que nessa fase o ensino jesuíta “atendeu uma tripla função: formar padres para a atividade missionária, formar quadros para a administração do empreendimento colonial e do próprio Estado [...] e ainda educar as classes dominantes.” (ZOTTI, 2004, p. 19) Os Jesuítas possuíam bibliotecas riquíssimas, para a época, as que recorriam tanto para auxilio no ensino como para a reaprendizados dos mesmos, como se pode observar em Moraes (2006, p. 7): Os Jesuítas traziam livros, mas na quantidade necessária para suprir os colégios que fundaram logo em seguida em diversas partes da colônia. [...] Nas escolas os padres copiavam as cartilhas. Pede ao general que mande livros em quantidade suficiente. Foram chegando, de diversos gêneros, não só para a instrução dos meninos, mas também para a edificação e aperfeiçoamento dos mestres. Nota-se a preocupação dos padres em ter livros suficientes e em gêneros diversos para atender aos colégios distribuídos pela colônia, bem como também produzir outros para deles pudessem dispor para as aulas. Nas próximas páginas será dada uma atenção especial às biblioteca montadas pelos jesuítas por serem consideradas como aporte para o desenvolvimento educacional tanto dos padres como de seus alunos no período colonial. 4 AS BIBLIOTECAS DOS JESUÍTAS NO PERIODO COLONIAL Uma vez dada à importância dos jesuítas para a educação brasileira, aprofundaremos neste capitulo um estudo sobre as bibliotecas criadas por eles, visto que no período colonial o Brasil contava somente com bibliotecas dos mosteiros, dos colégios religiosos e com bibliotecas particulares. Sendo iniciado o processo de educação dos colonos, os jesuítas precisavam de meios para o exercício de suas atividades. Entre esse meios estavam os livros que constituíam a base para as suas ações educativas. No entanto eles eram escassos devido a proibição da Metrópole de instalar uma tipografia no país e à censura. Cabe ressaltar que a com a falta de livros, os padres elaboravam textos para as escolas. O padre José de Anchieta, por exemplo, escrevia seus apontamentos para o colégio de São Paulo. Consta também que eram elaboradas apostilas e distribuídas gratuitamente para os estudantes. Nesse sentido para atender não só a necessidade pessoal como também as responsabilidades que tinham com os seminários e colégios, “[...] os jesuítas procuravam 1 Artigo apresentado à Disciplina de História dos Livros e das Bibliotecas como requisito para a 1ª e 2ª nota 2 Alunas/os do 5ª Período de Biblioteconomia da Universidade Federal do Maranhão instalar livrarias em todos os seus estabelecimentos, desde os mais importantes, situados nas sedes das províncias, até os mais modestos nas distantes aldeias. (SILVA 2008, p.221). É importante destacar que as principais “livrarias” como assim eram chamadas as bibliotecas nesse período, foram as dos colégios, essas por sua vez forneciam as residências que delas dependiam. Um exemplo disso foi o que aconteceu na Bahia, que era considerada como a mais rica de todas. A biblioteca da Bahia começou com as obras trazidas pelo padre Manuel da Nóbrega, em 1549, chegaria a possuir 15.000 volumes. Um número bastante considerável naquela época. Quanto ao aspecto físico Moraes (2006, p.8) relata que, [...] o teto da suntuosa sala é “uma das jóias da pintura brasileira”. O painel central é, incontestavelmente, uma das belas representações da pintura barroca no Brasil. Não há duvida que lembra as esplêndidas salas que os reis e príncipes europeus mandavam construir e decorar para instalar seus livros e seus cabinets de curiosités. No Rio de janeiro a livraria teve seu acervo ampliado com a doação de Bartolomeu Simões Pereira, eclesiástico português que veio para o Brasil e trouxe sua biblioteca, ao falecer deixou para o colégio a metade de seus livros, incluindo as obras que possuíra de direito civil e canônico. Em meados do século XVII a cidade já contava com 5434 volumes. Nesse contexto Leite (apud SILVA, 2008, p.221) descreve que [...] Para haver maior controle, foi determinado em 1587 que, quando morresse um padre em alguma residência, fosse inventariados os livros queestivesse em seu poder. Ficava ao critério do provincial decidir se os mesmos deveriam permanecer na residência ou ser recolhidos para a livraria do colégio. Quanto às bibliotecas de outras cidades merece destaque a do Maranhão em 1652, cuja principal livraria foi a do colégio Nossa da Luz. Surge então a figura do padre Antonio Vieira, pois no inicio os livros eram trazidos por ele de Portugal. Em 1760 o Colégio já estava consideravelmente ampliado e a livraria continha 5.000 volumes Ao comentar sobre Antonio Vieira não podemos de informar o papel importante que ele teve como bibliotecário, pois Leite (2004 apud SILVA, 2008, p.228) afirma que Segundo seu próprio testemunho, Vieira sempre fora bibliotecário em todos os colégios por onde passava. [...] Foi bibliotecário no Colégio da Bahia sendo que, antes, esteve no Maranhão e no Pará. [...] Em Portugal passou por Lisboa, Porto e Coimbra. Para a livraria desta cidade mandou fazer estantes por sua própria conta. 1 Artigo apresentado à Disciplina de História dos Livros e das Bibliotecas como requisito para a 1ª e 2ª nota 2 Alunas/os do 5ª Período de Biblioteconomia da Universidade Federal do Maranhão Citamos também a biblioteca do colégio de Santo Alexandre no Pará, que em meados do século XVIII, tinha mais de 2000 volumes e a do colégio da Vigia, 1 010 volumes. Em Recife os jesuítas tinham uma boa biblioteca, porém após a extinção da companhia os livros foram distribuídos para os conventos de outras ordens religiosas. 4.1 Acervo no período colonial As bibliotecas dos jesuítas tinham um acervo de boa qualidade, entre os materiais que compunham nesse época, os mais importantes eram: a) Breviários; b) Bíblias, c) Livros litúrgicos; d) Obras teológicas e) Textos didáticos/ f) Clássicos latinos e portugueses. As obras consideradas obscenas e heréticas, (as obras poéticas e as escritas em romance) eram eliminadas ou corrigidas antes de serem incorporadas ao acervo. Podemos citar o setor de Historia e Geografia, as gramáticas de diversos autores e dos comentaristas com os respectivos dicionários, e os livros em latim. Em meados do século XVIII, o ensino das ciências desponta na Bahia com a matemática e obras de Newton e Descartes já estavam presentes nas livrarias. Quanto à organização do acervo Leite (2004, p. 224 apud SILVA) comenta que: A ordenação de livros, no início visava melhor controlar os acervos em formação. Assim aconteceu no colégio da Bahia em 1589. Temendo a dispersão por empréstimo ou roubo, foi determinado que todos os livros fossem numerados em ordem seqüencial e etiquetados na lombada. Assim poderia haver melhor controle. Nesse contexto não podemos esquecer o “bibliotecário”, o responsável pela supervisão das livrarias. Interessante saber que várias denominações fora registradas: conservador da biblioteca, prefeito da biblioteca, livreiro, encadernador, impressor. Em algumas pesquisas temos as informações sobre dois bibliotecários: o padre Antônio Vieira, 1 Artigo apresentado à Disciplina de História dos Livros e das Bibliotecas como requisito para a 1ª e 2ª nota 2 Alunas/os do 5ª Período de Biblioteconomia da Universidade Federal do Maranhão bibliotecário do colégio da Bahia, mas antes esteve no Maranhão e no Pará e o segundo é o irmão Antonio da Costa, bibliotecário, encadernador e tipógrafo. Enfim ao definir as bibliotecas dos jesuítas Silva (2008, p.232) as descreve como [...] livrarias especializadas. Seus acervos cobriam em primeiro lugar as disciplinas ministradas nos colégios. [...] Ao lado, havia também, em todas, boas coleções de cunho religioso que abrangiam teologia moral, direito canônico e hagiologia. Outro fato importante, que merece também ser comentado, é que “as bibliotecas não ficavam abertas só para os alunos e padres, mas para qualquer pessoa que fizesse o pedido competente”. (MORAES, 2006, P.9). Desse modo podemos interpretar que ao permitir o acesso a uma biblioteca, o conhecimento está sendo disseminado, mesmo que não seja de uma maneira igualitária. Contudo ao analisarmos pelo momento histórico vivenciado pelo Brasil, podemos afirmar o quanto os jesuítas contribuíram para incentivar o hábito da leitura no país. Entretanto passado mais de 200 anos eis, que um fato marca a educação brasileira. O século XVIII assiste a expulsão dos Jesuítas do Brasil, as bibliotecas sofrem um golpe terrível. Todos os seus bens são confiscados, inclusive as bibliotecas, livros são retirados dos colégios, ficam amontoados em lugares impróprio. A maioria das obras são roubadas, vendidas como papel velho. Os bens dos padres são confiscados, muitos livros e manuscritos importantes, destruídos, nada sendo reposto. De imediato o ensino regular não é substituído por outra organização escolar, enquanto os índios entregues a sua própria sorte, abandonam as missões. (ARANHA, 1996 p.134 apud SOUZA, 2004 p.17) Assim não foram somente os livros que ficaram destruídos, as salas que antes eram tidas como magníficas ficaram em mal estado sob total abandono, o clima úmido e os insetos contribuíram ainda mais para os destroços. Estava decretado o fim das bibliotecas dos jesuítas, o descaso e a negligencia daqueles que detinham o poder nos trazem até hoje conseqüências irreparáveis, no que diz respeito a memória da educação brasileira. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 1 Artigo apresentado à Disciplina de História dos Livros e das Bibliotecas como requisito para a 1ª e 2ª nota 2 Alunas/os do 5ª Período de Biblioteconomia da Universidade Federal do Maranhão Os jesuítas tiveram vários privilégios ao vir para o Brasil, entre estes a isenção de impostos e o livre comércio de suas mercadorias de suas fazendas, como o cacau e o cravo. Com o tempo se tornaram grandes detentores do poder econômico, o que causou um grande empecilho para os interesses de Portugal, que juntamente com a vontade de implantar novo modelo educacional iluminista viu na expulsão dos jesuítas a “solução” para um novo modelo de educação laica e principalmente para retomada do poder econômico da colônia. A expulsão dos jesuítas ocorreu em 1759 em Portugal e em seguida no Brasil pelo Marquês de Pombal ministro do rei Dom José I. É inegável a imensa contribuição que os jesuítas tiveram para a educação brasileira no período colonial, eles criaram o Ratio Studiorium (Ordem dos Estudos) que era “uma coletânea de regras e prescrições práticas e minuciosas a serem seguidas pelos padres jesuítas em suas aulas” (SHIGUNOV NETO; MACIEL; 2008, p.172) considerados por muitos estudiosos um grande plano de estudos a ser seguidas por alunos de forma padronizada. Foram os jesuítas também os primeiros a se preocupar com a vida cultural do Brasil colônia pautada na educação com livros, as bibliotecas já se encontravam em seus colégios em pleno fim do século XVI, mais precisamente na Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo. (MORAES. 2006). Dessa forma podemos concluir que os jesuítas apresentavam um projeto educacional, que apesar de estar subordinado a coroa portuguesa eles tinham uma certa autonomia, tiveram um papel fundamental pois contribuíram para o processo de colonização e povoamento da colônia brasileira. REFERÊNCIAS ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da educação e da pedagogia: geral e Brasil. São Paulo: Moderna, 2006. FILHO, Geraldo Francisco. A educação brasileira no contexto histórico. Campinas, SP: Editora Alínea, 2001. 201 p. FRANCISCO FILHO, Geraldo A educação brasileira no contexto histórico. Campinas, SP: Editora Alínea, 2001. 201 p. MORAES, Rubens Borba. Livros e bibliotecas no Brasil colonial. 2. ed. Brasília, DF: Brinquet de Lemos, 2006, 259 p. 1 Artigo apresentado à Disciplina de História dos Livros e das Bibliotecas como requisito para a 1ª e 2ª nota 2 Alunas/os do 5ª Período de Biblioteconomiada Universidade Federal do Maranhão ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. História da educação no Brasil (1930/1973). 28. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003. 267 p. PAIVA, José Maria de. 500 anos de educação no Brasil. ???? SHIGUNOV NETO, Alexandre; MACIEL, Lizete Shizue Bomura. O ensino Jesuítico no período colonial brasileiro: algumas discussões. Educar. Curitiba, Editora UFPR. n. 31, p. 169-189, 2008. SILVA, Luis Antonio da. As bibliotecas dos jesuítas: uma a partir da obra de Serafim Leite. Perspectivas em Ciencia da Informação. V.13, n.2, p. 209-237, maio/ago.2008. SOUZA, Katiane de Abreu. A biblioteca escolar no contexto educacional brasileiro. In:______As múltiplas faces da biblioteca escolar nas escolas do ensino fundamental de 1ª a 4ª série de São Luís. 2004, p.17-18. XAVIER, Maria Elizabete; RIBEIRO, Maria Luisa; NORONHA, Olinda Maria. História da educação: a escola no Brasil. São Paulo: FTD, 1994, 304 p. ZOTTI, Solange Aparecida. Sociedade, educação e currículo no Brasil: dos jesuítas aos anos de 1980. Campinas: Plano, 2004.
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