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Livro - Historia da Educacao

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Alicia Mariani Lucio 
 Landes da Silva
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História da Educação
2ª Edição
Curitiba
2018
Alicia Mariani Lucio Landes da Silva
FAEL
Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo
Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz
Projeto Gráfico e Capa Denise Pires Pierin
Arte-Final Evelyn Caroline dos Santos Betim
Ficha Catalográfica elaborada pela Fael. Bibliotecária – Siderly Almeida CRB9/1022 ou Cleide 
Cavalcanti Albuquerque CRB9/1424
S237a Silva, Alicia Mariani Lucio Landes da
História da Educação / Alicia Mariani Lucio Landes da Silva. – 
2. ed. – Curitiba: Fael, 2018.
154 p.: il.
ISBN 978-85-5337-018-4
Nota: conforme Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
1. Avaliação educacional. 2. Aprendizagem. I. Título.
CDD 371.26
Direitos desta edição reservados à Fael.
É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael.
apresentação
A História da Educação é um campo do conhecimento quepode 
contribuir muito para o entendimento dos caminhos, tensões e proposições 
que fizeram parte da constituição da Educação em nosso país. Sob as 
diretrizes teórico-metodológicas da Nova História,assume-se que existem 
diferentes representações sobre o passadoa partir de quem (ou qual 
fonte) fala. Esses múltiplos olhares nãosão necessariamente excludentes, 
podendo contribuir para melhor compreensão sobre agentes sociais, 
instituições e práticas, que envolvem o processo educativo.
A Educação em nosso país, e aquela desenvolvida em cada instituição 
escolar, tal como percebidas hoje, são resultado de um processo histórico 
que envolve muito mais do que as determinações da legislação ao longo 
do tempo. Cada instituição escolar é composta por pessoas (agentes) que 
possuem habitus, ou seja, têm valores, crenças, vivências, que orientam 
suas atitudes e escolhas, e que configuram regras e culturas práticas 
e sociais que as perpassam e que são compartilhadas, construídas, 
vivenciadas, reiteradas ou modificadas por esses agentes, ao longo 
do tempo. Dessa forma, compreende-se que o habitus e essas regras, 
intrinsecamente relacionados, são social e historicamente construídos. 
Neste livro, História da Educação, a autora, Alicia, busca trazer 
elementos documentais e de pesquisas acadêmicas, para subsidiar e 
apresentar um olhar possível para essa história. A opção cronológica 
contribui para que se possa observar, nessa trajetória, permanências e 
mudanças, e como o contexto histórico as influencia, bem como às pessoas 
que, no entanto, não são passivas nesse processo, utilizando-se de diversas 
formas de resistência e de manutenção de suas práticas, estabelecendo, 
às mudanças orientadas legalmente, um ritmo muito particular e, por 
vezes, configurando-as de forma distinta daquela almejada pela norma. 
apresentação
Esse conhecimento é essencial para que o profissional da educação 
possa compreender melhor o seu ambiente de atuação, a escola, como 
instituição construída historicamente, em diversos âmbitos, desde o 
material (arquitetura, organização do espaço, materiais escolares, etc.) 
ao sociocultural (práticas, valores, entre outros). 
Dessa forma, poderá identificar seu lugar e função nesta instituição, 
não reproduzindo automaticamente práticas e certezas comuns, mas 
tendo consciência dessa construção histórica, com maior possibilidade 
de fazer escolhas conscientes sobre sua prática profissional, pois essa 
também faz parte da história que está sendo construída hoje. A formação 
crítica e do cidadão, que se almeja para os estudantes, presume essa 
consciência e atitude por parte dos profissionais da educação, para que 
possa ser construída.
 Nadia G. Gonçalves*
* Professora do Departamento de Teoria e Prática de Ensino e do Programa de 
Pós-Graduação em Educação – Universidade Federal do Paraná.
apresentação
apresentação
.....Prefácio ....................................................................................... 7
1 História da educação: conceito ................................................. 11
2 Educação no Brasil: da Colônia aos anos de 1930 ................... 23
3 Educação no Brasil: de 1930 ao Regime Militar ....................... 51
4 Educação no Brasil: o período de redemocratização ............... 75
5 Concepções de educação no Brasil ........................................... 93
6 Pensamentos e movimentos 
histórico-sociais pela educação .............................................. 107
7 Educação contemporânea no Brasil ........................................ 127
 Referências.............................................................................. 147
sumário
sumário
Capítulo 
77
prefácio
prefácio
Constantemente, lemos dados alarmantes e/ou esperançosos 
sobre a educação brasileira. Podemos encontrar alunos de graduação 
que já não buscam mais cursos de licenciatura por não enxergarem 
neles um futuro financeiramente promissor e, em contrapartida, 
iniciativas fabulosas de profissionais da educação que mudaram a 
realidade de todo um grupo, comunidade ou mesmo de um aluno 
por meio da educação. 
Pessimismos e otimismos a parte, o fato é que, particularmente, 
não consigo vislumbrar um futuro melhor para o nosso país sem estar 
pautado na valorização do sistema educacional e seus sujeitos. Seria 
impossível melhorar as relações humanas e sociais sem considerar o 
quão importante é a educação. 
Nesse cenário, este livro apresenta-se como um olhar ao passado 
para tentar clarear nossa situação atual. Por que as crianças são 
alfabetizadas de tal modo? Por que o sistema educacional possui essa 
organização? Existe apenas um único método de ensino? É inegável 
que a educação atual é fruto de um rompimento ou continuidade 
de uma trajetória de movimentos, pensamentos educacionais, 
legislação, economia, política e outros fatores. 
No entanto, este livro, em absoluto, não pretende dar respostas 
definidas sobre o presente – e esta nem é a função da história. 
Porém, a volta ao passado é sempre bem-vinda e necessária para 
melhor compreender as mudanças, permanências e simultaneidades 
que cercam o sistema no geral ou mesmo o nosso cotidiano. Como 
professora ligada à história e à educação, muito do que leitor vai 
8
encontrar é fruto de minha trajetória acadêmica e profissional. 
Afinal, a história é filha de seu tempo, e o historiador nunca 
consegue ser totalmente neutro.
Nesta obra, optei por fazer um recorte espacial e temporal. 
Não irei me debruçar em toda a História da Educação, desde 
suas aparições no mundo antigo. Meu olhar estará voltado para o 
período entre o Brasil Colônia e os dias de hoje. Impossível seria, 
pela limitação de páginas, detalhar todo esse conteúdo de maneira 
profunda. Por isso, ofereço um panorama geral de nossa história 
educacional. Um voo panorâmico, que ora desce mais à terra e 
observa alguns detalhes, ora voa mais alto e avista toda a paisagem, 
ficando a critério de cada viajante os locais de pouso e visitação, 
ficando para a apreciação do leitor o local que lhe chamou a atenção 
e poderá futuramente ser revisitado.
Para tornar mais didática essa visita, o primeiro capítulo traz uma 
conceituação do que é a História da Educação e sua importância tanto 
para o campo da história quanto para o campo da educação. Também 
são citadas as transformações pelas quais essa área do conhecimento 
passou e quais são os seus objetos de estudo atualmente.
No segundo capítulo, a discussão gira em torno da educação 
brasileira do tempo da Colônia até os anos 30 do século XX. Verificamosa influência das grandes navegações, da Reforma Protestante, da 
Educação Jesuítica e da Reforma Pombalina, a mudança brasileira 
de sede da Colônia para se transformar em Império e a educação na 
chamada República Velha.
prefácio
prefácio
Capítulo 
99
prefácio
prefácio
No terceiro capítulo, outro período retratado é a educação de 
1930 até o Regime Militar. Nele, encontramos um cenário histórico 
e educacional da Era Vargas, do período de redemocratização após 
Getúlio Vargas, bem como ações e legislação do período do Regime 
Militar no Brasil.
O quarto capítulo trata do momento de abertura política que o 
Brasil vivenciou depois da Ditadura Militar e mostra-nos como esse 
cenário político e econômico influenciou na estrutura educacional 
de nosso país. A Constituição de 1988 é um dos exemplos de lei 
relacionada à educação. A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação 
de 1996 também é um dos marcos educacionais mencionados.
As concepções educacionais de educação no Brasil são o 
assunto do capítulo cinco. Nele, são apresentados temas como: 
a concepção educacional tradicional religiosa, a concepção 
pedagógica tradicional leiga, a concepção pedagógica da Nova 
Escola e a concepção tecnicista. 
Em continuação, no sexto capítulo, verificamos alguns 
pensamentos e movimentos histórico-sociais pela educação. Nomes 
como Maria Montessori, Marx, Emília Ferreiro, Paulo Freire e 
Saviani são brevemente analisados para entendermos algumas 
rupturas e continuidades do pensamento educacional no Brasil.
Por fim, o capítulo sete traz pensamentos e questionamentos 
sobre a educação contemporânea (a política neoliberal, as agências 
internacionais, mundo globalizado e sociedade de comunicação, 
novas leis educacionais, desafios e perspectivas).
10
Espero que a leitura desta obra possa contribuir para uma 
reflexão sobre a História da Educação no Brasil, bem como despertar 
o leitor para a busca de aprofundamentos maiores sobre a temática. 
A bibliografia citada ao longo do texto já é um início para quem 
desejar continuar se aventurando nesse caminho. Boa leitura!
A autora.*
* Alicia Mariani Lucio Landes da Silva é Mestre em Educação, na linha de pesquisa de 
História e Historiografia da Educação, pela Universidade Federal do Paraná. É autora de 
livro didático de história para o ensino fundamental I e atua como professora na rede 
municipal e estadual de ensino no Paraná.
prefácio
prefácio
11
Por que o estudo da História da educação é algo importante 
na formação de profissionais da educação? Você já parou para pensar 
nisso? Saiba que a situação atual do sistema de ensino, no Brasil, é 
resultado de uma construção histórica, política e social.
Neste capítulo, compreenderemos o que é história da educação, 
suas origens e relações com as áreas das ciências sociais. Verificaremos, 
ainda, as últimas mudanças no estudo e no olhar que os historiadores 
lançam sobre o passado, para entender as civilizações: a chamada Nova 
História. Consequentemente, veremos qual a relação da Nova História 
com a história da educação.
Por fim, vamos conhecer os objetos de estudo que este campo 
da história e da educação tem enfatizado (suas fontes, objetos e temas 
trabalhados, atualmente, nas universidades).
História da educação: suas origens e relações
A origem da história da educação tem seus estudos atrelados 
ao campo da pedagogia. Inicialmente, o interesse sobre os assuntos 
escolares só se fazia presente nos cursos de formação de professores. 
Como disciplina, ela surgiu no final do século XIX, em universidades 
da Europa. Era um assunto mais presente na pedagogia, porque, nesse 
período, a história voltava suas pesquisas para assuntos econômicos e 
políticos. A história tradicional não se preocupava com assuntos sociais 
ou culturais. Dessa forma, a escola ficava fora de seu foco de interesse.
Sendo estudada pela pedagogia, a história da educação servia mais 
como uma coletânea de informações do que uma análise. Listavam os 
História da 
educação: 
conceito
1
História da Educação
FAEL 
12
fatos, as leis, os pensadores, mas quase sempre não se historiava1 o con-
teúdo. Também era chamada de história da pedagogia.
Segundo Lopes (2009), a história da educação começou a ser pro-
blematizada no campo da sociologia, observe:
o caráter histórico da educação é dado de forma sistematizada 
por Émile Durkhein (1858-1917) em sua Educação e sociologia, 
o que não significa, absolutamente, que antes disso não se 
encontrem trabalhos de Educação de caráter histórico. No 
entanto, Durkhein já anuncia o quadro teórico no qual por 
muitos anos se inscreverá a História da Educação [...] A 
educação é, na concepção positivista durkheinamiana, uma 
coisa social, que cumpre, assim, esse enunciado em obediência à 
regra mais fundamental de seu método sociológico, qual seja, a 
de considerar os fatos sociais como coisas (LOPES, 2009, p. 19).
Se a educação tinha um caráter social, por que torná-la descritiva 
e factual? Se ela possuía agentes ativos, poderia ser contada apenas por 
meio de dados e datas? Começa a surgir a necessidade de estabelecer 
as relações sociais e culturais presentes no âmbito escolar. Ou seja, 
outras áreas do conhecimento começaram a estudar temas relaciona-
dos à educação.
Nova História e história da educação
Há aproximadamente trinta anos, ocorreu, gradativamente, uma 
mudança no foco de pesquisa da história e, consequentemente, da 
história da educação. Anteriormente, a história era pensada apenas 
pelo viés econômico e quantitativo. Não havia outras fontes para o 
seu estudo, a não ser as oficiais (lembramos que as fontes históricas são 
os relatos do passado). Documentos escritos, imagens, monumentos, 
objetos arqueológicos e entrevistas podem ser considerados pistas do 
que já aconteceu. Os historiadores analisam essas fontes para construir 
sua narrativa. No entanto, para a história tradicional, apenas as fontes 
oficiais poderiam ser consideradas confiáveis. Estas últimas referem-se 
a documentos produzidos por órgãos oficiais, como o governo, 
ministério, prefeituras, entre outros (exemplos deste tipo de fonte: leis, 
atas, publicações do governo em geral).
1 Entende-se aqui o verbo historiar como o ato de analisar a história e compreender suas 
relações com outras áreas.
Capítulo 1 
História da Educação
13
Todos que estudaram no antigo “ensino primário e secundário”, 
ou “1º e 2º grau”, devem recordar como a história era estudada. Quem 
estudou neste período ou já ouviu falar sobre isso lembra-se de como 
eram realizados os grandes eventos cívicos e de como eram exaltados os 
grandes vultos da história brasileira. Exaltava-se certos nomes (quase 
em sua totalidade pessoas envolvidas na política) e menosprezava-se a 
participação de outros sujeitos da história. 
De acordo com Chartier (1998), antes de 1980, a história 
dominante estava fundamentada por dois pontos de vista: o 
estruturalista e o estatístico. O primeiro discorria acerca dos grandes 
discursos, da história das estruturas e das normas coletivas, bem como 
utilização de sistemas de posições, sem ater-se às particularidades 
individuais, marginalizadas por gênero e classe. O último procurava 
dar à história um tom de ciência social, ao aplicar procedimentos de 
contagens e estimativas numéricas: a seriação.
A chamada Nova História enfrentou o desafio de provocar um 
afastamento das ciências sociais. Reviu seus conceitos e mudou as antigas 
visões para outras, como a preocupação com as redes de sociabilidade, 
as situações vividas e as estratégias singulares. Neste sentido, a micro-
história entra como a abordagem do normal, do excepcional e das 
particularidades, pois, sendo ela um estudo das sociedades, estes novos 
objetos devem ser examinados em pequena escala. 
A micro-história é o estudo de objetosselecionados na história. Por 
exemplo: um pesquisador não consegue estudar a história de todas as 
escolas de um estado. Ele escolhe uma determinada escola, para estudar 
o seu caso específico e, dentro desta análise, faz as possíveis relações 
com o sistema educacional desse estado.
Os grandes heróis dão espaço aos anônimos, o que não desestrutura 
a história, pois sabe-se que a coletividade não desfigura o indivíduo. Tais 
indivíduos e sociedades estão inseridos em um espaço de sociabilidades 
marcado por diferenças e dependências. Contudo, para entender essas 
relações, a história precisa enfrentar outro desafio, o de abrir o leque 
para novos espaços de pesquisa, fontes, análises e conceitos. Não é 
possível conhecer as relações sociais e culturais analisando apenas 
tabelas, gráficos ou outras fontes numéricas. Outros documentos do 
passado começam a merecer a atenção do historiador.
História da Educação
FAEL 
14
Cabe ao historiador explorar estes signos e o universo de símbolos 
presentes na “linguagem das linguagens”, decifrando os seus significados, 
que são encontrados nas fontes, sejam elas quais forem, pois, na 
perspectiva cultural, qualquer produção humana foi produzida em um 
ambiente cultural (BURMESTER, 2003) e pode ser utilizada para 
conhecer e compreender as relações sociais.
Este tipo de análise trouxe para a historiografia uma mudança, 
mais do que metodológica, conceitual. Conceitual no sentido de que 
são estudadas as relações da micro-história em detrimento da macro. Ou 
seja, as coletividades são deixadas de lado para dar espaço às questões do 
indivíduo, gerando um campo de possibilidades maior com o estudo 
da singularidade, das regularidades e das resistências existentes em 
um espaço que, sabe-se, não é determinado nem determinante. Desta 
forma, os papéis sociais não são definidos a priori e as divergências 
são permitidas em territórios fluídos e não fixos, proporcionando ao 
investigador uma análise mais interdisciplinar.
 Como exemplo desta mudança de visão da história podemos citar que, 
na historiografia tradicional, as relações de escravidão eram vistas como 
fixas. O senhor de engenho era o soberano que mandava no submisso 
escravo. Atualmente, temos estudos que revelam as contradições desta 
relação. Sabemos das fugas de escravos, de suas insubmissões, das 
relações conjugais entre brancos e negros e de acordos, concessões 
existentes entre senhor e escravos, de escravos que tinham seu próprio 
ganho e também possuíam seus escravos. Ou seja, os papéis sociais 
não são predefinidos. Dentro da regra existem exceções que devem ser 
conhecidas e estudadas.
Dentre os historiadores contemporâneos conceituados encontramos 
Carlo Ginzburg, Emmanuel Le Roy Ladurie, Robert Darnton, Jacques 
Revel e outros. Mesmo mantendo estilos diferentes (como a divergência 
sobre a utilização da escala de análises), eles realizam estudos sobre o 
cultural e possuem pontos em comum. Um desses pontos é o abandono 
das análises firmadas nos modelos explicativos. Para alguns não se 
pode abandonar certos princípios básicos, para outros, o “tempo das 
incertezas” é um momento propício de estimulação da criatividade e 
Capítulo 1 
História da Educação
15
das possibilidades (palavras-chave desta corrente) de análises, fontes, 
vieses e escrita.
Para muitos destes estudiosos, tempos novos merecem uma Nova 
História, firmada na máxima de que “a história é sempre filha de seu 
tempo”. Uma última característica da historiografia contemporânea é a 
tendência de redescobrir autores já esquecidos e reler os clássicos, mas é 
claro que essa leitura se dá a partir de um olhar atual, de nosso tempo. 
As mudanças na historiografia influenciaram algumas das 
transformações ocorridas na história da educação. Como já mencionado, 
na década de 1930, ela não passava de uma disciplina escolar. Presente 
no curso de formação de professores, estava fortemente marcada pela 
filosofia e possuía um caráter formativo e moralizador. Já na década de 
50 do século XX começaram a surgir os estudos na área da história da 
educação, porém eram voltados para um “presentismo pragmatista”. 
Neste viés:
o atrelamento originário da disciplina a objetivos institucio-
nais de formação de professores e pedagogos dificultou, até 
muito recentemente, a sua constituição como área de inves-
tigação historiográfica capaz de se autodelimitar e de definir, 
com base em sua própria prática, questões, temas e objetos. 
Isso tornou a disciplina frágil diante das demandas postas a 
partir de outros campos de investigação sobre educação que 
hegemonizaram a produção da pesquisa, a partir da insta-
lação dos Programas de Pós-Graduação, na década de 70; o 
que, do meu ponto de vista, reforçou a dificuldade de a dis-
ciplina definir-se a partir de questões postas do seu interior 
( CARVALHO, 2003, p. 330).
Como já afirmamos, 
nos últimos trinta anos a 
historiografia da educação 
brasileira tem realizado debates 
sobre estudos voltados para a 
cultura, mais especificamente a 
cultura escolar. Sob a influência 
de autores estrangeiros (como 
André Chervel, Alain Chopin, 
Anne-Marie Chartier, Pierre 
Caspard, Jean Hérbrand, 
O presentismo pragmatista afirma que um 
estudo deve servir apenas para resolver, pra-
ticamente, um problema atual. Nesta visão, 
a história da educação servia apenas para 
responder a questões imediatas e acabava 
deixando de lado a análise historiográfica e 
as relações mais profundas de investigação do 
passado. Procurava apenas respostas práticas 
sobre o que estava acontecendo.
Saiba mais
História da Educação
FAEL 
16
Dominique Julia, António Novoa, Pierre Bourdieu, Roger Chartier, 
entre outros) os pesquisadores brasileiros começaram a se dedicar aos 
estudos voltados para aspectos culturais. Dentre esses autores podemos 
destacar: José Mário Pires Azanha, Denice Catani, Cynthia P. de Souza, 
Marta Maria Chagas de Carvalho, Luciano Faria Filho, Rosa Fátima de 
Souza, Maria Lúcia Hilsdorf, Clarice Nunes e Diana Gonçalves Vidal.
Marta Maria Chagas de Carvalho e Clarice Nunes são, de acordo 
com Vidal (2005), autoras que trilharam um caminho de interlocução 
muito próximo entre história da educação e a produção francesa 
do campo histórico. Assim, entrelaçaram a história cultural com os 
interesses dos saberes pedagógicos. Sobre a relação entre história da 
educação e história e, ainda, história da educação e história cultural, 
Carvalho afirma:
é, entretanto, do inusitado prestígio adquirido pela produção 
historiográfica nos dias atuais que a disciplina extrai forças para 
se renovar. As redefinições dos objetos e dos critérios de rigor 
científico que transformam essa produção vêm tendo enorme 
impacto na História da Educação, matizando a pertinência dela 
ao campo das chamadas ciências da educação e fortalecendo 
seu estatuto de saber historiográfico especializado. [...] Nesse 
processo, são, sobretudo, as perspectivas abertas e as questões 
lançadas pela chamada Nova História Cultural que vêm 
redesenhando as fronteiras e redefinindo objetos da História 
da Educação (CARVALHO, 2005, p. 32).
Podemos observar que as mudanças ocorridas na historiografia a 
partir dos anos 80 do século XX provocaram reflexos na maneira de 
escrever a história educacional. 
A história cultural ampliou o leque de possibilidades de novos 
temas, objetos e o uso de fontes que antes eram desprezadas e afastou-se 
da história tradicional, que privilegiava a exaltação de grandes heróis e 
dos documentos oficiais. Com essa reviravolta, a história da educação, 
que era secundarizada apenas como uma disciplina escolar, começou 
a ganhar mais visibilidade a partir do momento em que voltou suas 
preocupações para as questões culturais e sociais. Desta maneira, fontes, 
como livros de chamadas, fotografias, objetos pedagógicos, entre outros,passaram a fazer parte dos estudos historiográficos, enriquecendo os 
trabalhos acadêmicos e tornando-os mais interessantes, pois já não 
eram apenas pragmáticos e presentistas.
Capítulo 1 
História da Educação
17
Outro fator que mudou a forma de se escrever a história da educação 
foi a incorporação de conceitos advindos da história, sociologia, 
antropologia e outras áreas das ciências sociais e humanas. Autores 
como Roger Chartier, Dominique Julia, Guy Vincent, Viñao Frago e 
Michel De Certeau estão sendo utilizados como referencial teórico em 
diversos trabalhos acadêmicos. Tais autores não concordam totalmente 
na definição do termo cultura ou cultura escolar. Entretanto, chegam a 
um acordo para afirmar que o pesquisador, ao analisar uma instituição, 
indivíduo ou grupo, não pode desprezar a análise do contexto histórico. 
Isso deve ser realizado conjuntamente com as questões que envolvem 
o cultural e o social. Poderíamos, ainda, citar as contribuições de 
 Norberto Elias, Pierre Bourdieu, Michel Foucault, André Chervel, 
Edward Thompson, Anne-Marie Chartier. 
Apesar de, atualmente, estar presente como uma disciplina dos 
cursos de licenciatura, a história da educação ainda não recebe a devida 
atenção. Nos cursos de pós-graduação de Educação existem linhas de 
pesquisa em história e historiografia. Nos cursos de História, a educação 
pode aparecer, também, como uma linha de pesquisa ou temática. Para 
Lopes (2009), a pedagogia precisa tomar para si a responsabilidade do 
estudo da história da educação. Citando e concordando com alguns 
autores, ela acredita que os melhores trabalhos de história da economia 
foram escritos por economistas (e não por historiadores). Desta forma, 
a história da educação deve ser escrita por pessoas da área, que já 
dominam o conteúdo. Por isso, afirma:
[...] trata-se de enfrentar, então, a questão da formação 
do pesquisador da História da Educação, tarefa ainda não 
assumida de forma mais generalizada pelos cursos de educação 
e de pedagogia. Na verdade, o educador ou pedagogo, não 
recebendo formação específica nem a metodologia da 
pesquisa histórica nem das teorias da História, dificilmente 
pode tornar-se um historiador. [...] A ciência da história exige 
rigor e método; para o crescente entendimento da História da 
Educação, que deve ser escrita através de pesquisas rigorosas 
que obedeçam aos critérios e as exigências da própria ciência 
da história ( LOPES, 2009, p. 39).
Será que somente os pedagogos deveriam escrever esse tipo de 
história ou, ainda, que os historiadores não conheçam nada de educação? 
Como escrever um texto com relações históricas sem saber os métodos da 
História da Educação
FAEL 
18
pesquisa histórica? Como historiar a educação, sem conhecer as relações 
educacionais? Existe um longo caminho a ser percorrido nessa área.
Certo é que podemos perceber que, por meio de mudanças 
metodológicas e conceituais, a história da educação vem ampliando o 
seu campo de pesquisa, atuação e participação em eventos e publicações, 
conferindo a si mais credibilidade entre os estudiosos da educação e 
entre os historiadores. São muitas as dificuldades que permaneceram 
das linhas tradicionais de pesquisa, porém a história da educação está 
caminhando por rumos mais claros e evidentes ao privilegiar a cultura 
escolar, sem abandonar as visões sobre os demais aspectos nos quais a 
educação está envolvida (político, social, econômico, histórico, e outros).
História da educação: objeto de estudo
Quais são os novos temas abordados pela cultura escolar? Tudo que 
possui uma história e pode ser contextualizado para se compreender 
a realidade educacional pode ser estudado. Conheça alguns aspectos 
estudados pela atual história da educação.
 ● Arquitetura escolar e história das instituições escolares (estudo 
de plantas escolares; como eram construídos os colégios e 
escolas; as mudanças e permanências no espaço escolar ao 
longo dos anos; locais e modos de construção; entre outros).
 ● Tempos escolares (exemplos de estudo: organização e objetivo 
do calendário escolar; divisão dos horários de aula; o recreio; 
atividades que aconteciam nas férias).
 ● Relações de gênero na escola (divisão da escola entre meninos 
e meninas, as análises sobre escolas de meninos e escolas 
de meninas; as diferenças entre os uniformes masculinos e 
femininos; e outros).
 ● Intelectuais da educação (um exemplo deste estudo é a análise 
das ideias de pensadores envolvidos diretamente ou não com 
a escola).
 ● Escola e poder (as relações de poder existentes dentro da escola; 
a ligação da escola com instâncias maiores, como o Estado, 
entre outras situações).
Capítulo 1 
História da Educação
19
 ● Legislação educacional (estudo das leis, decretos e docu-
mentos oficiais sobre a educação).
 ● Projetos educacionais não escolares (projetos educativos 
desenvolvidos pela mídia, por empresas ou pelo governo, 
entre outros).
 ● A escola e a religião (escolas religiosas, escolas dirigidas por 
religiosos, a influência da religião na educação, etc.).
Visto as mudanças pelas quais passaram a história da educação e 
alguns de seus objetos de estudo, surge uma indagação: por que estudar 
as relações escolares através do tempo? Observe estas perguntas: Por que 
temos um determinado grupo de disciplinas escolares para estudar? Por 
que estudamos em um horário dividido por aulas, intervalos e períodos 
manhã, tarde, noite ou integral? Qual a justificativa dos currículos 
escolares? Ou melhor: para que serve a história da educação? Tentando 
dar pistas sobre uma possível resposta, Lopes (2009, p. 43-44) afirma que:
Antoine Léon2 considera a abordagem histórica dos fatos 
da educação um indispensável instrumento de análise das 
situações do presente, devido à preocupação em relativizar 
os problemas atuais. Considera-a ainda como uma fase 
preliminar da ação, ao evidenciar a ambiguidade de todas 
as inovações, ao apontar os conflitos que pontuam todo o 
processo evolutivo e ao introduzir a exigência de longo prazo 
na avaliação dos efeitos educacionais.
Nesta visão, estudamos a história da educação para compreender 
as relações do presente. Para Lopes (2009), o pesquisador está 
comprometido com os problemas educacionais de hoje. Por isso, o seu 
olhar volta-se para o passado, para descobrir onde esse problema surgiu 
e para tentar resolvê-lo. No entanto, a história da educação não pode ser 
considerada pragmática. Ela não serve para resolver problemas, apesar 
de poder encontrá-los. A história da educação nos faz compreender 
o presente. Faz com que entendamos por que as nossas escolas e 
instituições são o que são. Por exemplo: o estudo das leis educacionais 
nos faz compreender a organização da escola através do tempo. Ela é 
um instrumento de conhecimento e, quando possível, de ação.
2 Lopes faz referência à obra de Antonie Léon, Introdução à História da Educação (Lisboa: 
Dom Quixote, 1983).
História da Educação
FAEL 
20
Da teoria para a prática
Durante a leitura deste capítulo, compreendemos que a “história é 
filha de seu tempo”, o que significa dizer que a maneira como olhamos 
o passado está relacionada com os fatos que vivemos hoje. Em uma 
época em que a economia e a política predominavam, os estudos 
históricos estavam voltados para isso. Em outra época, na qual a 
preocupação era com as relações socioculturais, o olhar era diferenciado. 
Compreendemos que o estudo da história da educação também segue 
esse princípio.
Dentro desta perspectiva, produza um texto sobre a sua própria 
história escolar. Utilize-se de sua fonte de memória sobre a sua 
trajetória educacional e liste as lembranças que possui de sua escola, 
dos métodos utilizados, dos professores, dos uniformes, das mobilhas 
da sala de aula, dos materiais escolares e dos conteúdos estudados. Saibaque estará produzindo um texto de história da educação. Apesar de suas 
lembranças serem singulares, ao final da produção, perceberá que tudo 
o que escreveu está relacionado a um contexto histórico dentro de uma 
estrutura governamental e legal de seu período.
Além disso, o estudo das arquiteturas escolares também faz parte 
da pesquisa em História da Educação. Levando essas informações 
em consideração pesquise fotografias, plantas ou outros registros 
iconográficos de duas escolas distintas: uma que tenha sido construída 
há mais de trinta anos e outra edificada há menos de dez anos. Estabeleça 
as semelhanças e diferenças arquitetônicas e como isso pode estar ligado 
ao o contexto histórico em que as escolas foram construídas. Pontos a 
serem pensados: data, local, material utilizado para a construção, tipo 
da instituição (pública ou privada), etc.
Síntese
Vimos, neste capítulo, que as origens da história da educação estão 
na pedagogia, mas, ao longo dos anos, também tornaram-se objeto de 
Capítulo 1 
História da Educação
21
interesse de outras ciências sociais, como a história. Entendemos que 
o estudo da história passou por um processo de transformações nos 
últimos trinta anos, que mudaram seu foco de pesquisa. Atualmente, a 
Nova História privilegia as relações sociais e culturais, e não somente os 
aspectos políticos e econômicos como acontecia anteriormente.
Outro assunto apresentado neste capítulo foi objeto de estudo da 
História da Educação, o qual, conforme observamos, envolve tudo o 
que se refere ao passado do ensino e da educação: legislação, tempos 
escolares, arquitetura, relações de gênero e outros temas.
Devemos compreender a importância da História da Educação, 
para compreender, também, as atuais relações educacionais.
23
Antes da chegada dos portugueses, nosso país era habitado 
por diversos povos nativos. Os indígenas possuíam suas maneiras de 
transmitir seus conhecimentos, rituais e cultura para as futuras gerações. 
Podemos dizer que eles tinham um sistema informal de ensino, pois a 
educação acontecia na explicação ou no exemplo de algo transmitido 
de pais para filhos, ou dos mais velhos para os mais novos.
Neste capítulo, contudo, vamos nos dedicar a conhecer e 
compreender um panorama da História da Educação do Brasil a partir 
do início da colonização. Nosso foco é a educação formal e a maneira 
como ela foi oferecida pela religião e pelo Estado.
Inicialmente, vamos entender como as Grandes Navegações e a 
Reforma Protestante influenciaram na chegada dos portugueses ao 
nosso país e qual a sua relação com a educação religiosa existente no 
início da colonização. Depois de observar o que foi o ensino jesuítico, 
conheceremos as mudanças ocorridas com as reformas lideradas pelo 
Marquês de Pombal. Veremos a influência da chegada da família real ao 
Brasil, a educação durante o Império e a Primeira República.
Grandes Navegações e a Reforma Protestante
Para entender os primórdios da educação no Brasil, é necessário 
conhecer o cenário que antecedeu a chegada dos portugueses em nosso 
país. Na civilização do ocidente medieval europeu a Igreja católica 
procurava controlar o acesso à informação religiosa, moral e científica. 
A alfabetização estava destinada quase exclusivamente a uma parcela dos 
religiosos e todos os cientistas deveriam estar submissos aos preceitos da 
Educação no 
Brasil: da Colônia 
aos anos de 1930
do século XX
2
História da Educação
FAEL 
24
Igreja. Qualquer conduta contrária seria considerada heresia e poderia 
ser julgada e punida pelo Tribunal da Inquisição.
A partir do século XI, a Revolução Comercial, as Cruzadas e os 
avanços do Humanismo deram abertura às transformações ocorridas 
na Europa. As Grandes Navegações foram uma dessas mudanças e, 
neste caso, Portugal estava em uma posição geográfica favorável. Dom 
João I de Avis procurava poder ao promover grandes conquistas que 
desbravavam o Oceano Atlântico. Parte dessa expansão aconteceu nas 
costas africanas, contornando o continente e chegando à Índia em 1498. 
Era a chamada rota de comércio das especiarias. Segundo Francisco Filho 
(2004), a chegada dos portugueses ao Brasil foi apenas um coroamento 
das conquistas, visto que outros domínios já haviam sido realizados ao 
longo dos últimos cem anos. Continuando, o autor afirma que:
analisando de maneira ampla os acontecimentos, notamos que a 
Idade Moderna (1453-1789) já estava caminhando a passos firmes 
e o Mercantilismo (1ª fase do capitalismo) fornecia as bases de 
pensamento econômico, amparado por um Estado poderoso, que 
possuía exército, polícia, justiça, cunhava moeda, tinha contornos 
territoriais definidos, com balança comercial favorável, estoque 
de metais, apoiando as exportações, promovendo a exaltação do 
nacionalismo, adotando colônias para fornecer matérias-primas e 
obedecer o estatuto dos monopólios estabelecido pela Coroa. No 
tocante à educação, a hegemonia das Sete Artes Liberais, Trivium 
(Gramática, Dialética e Retórica) e Quadrivium (Aritmética, 
Geometria, Música e Astronomia) estruturadas durante a Idade 
Média da Europa Ocidental (Século V ao XV), já não atendia 
as necessidades do novo momento histórico. As ideias de Santo 
Tomás de Aquino (1224-1274), procurando superar a dicotomia 
fé-razão, não encontravam tantos seguidores, isto é, a Escolástica 
estava em decadência, depois de muitos séculos de soberania no 
campo educacional (FRANCISCO FILHO, 2004, p. 10-11).
A economia e o comércio estavam mudando e, com isso, o 
pensamento educacional. Uma nova configuração de sociedade estava 
surgindo. Outro fator que contribuiu para tal transformação foi a 
revolução tecnológica da imprensa a partir de Gutenberg3. Ao produzir 
3 Em 1455 o alemão Johannes Gutenberg criou a tipografia. A partir de então os textos que 
antes eram somente manuscritos passaram a ser impressos por meio de peças metálicas que 
recebiam tintas para serem transferidas por pressão para o papel. O primeiro livro impresso pelo 
inventor foi a Bíblia. Esse método ampliou a reprodução de materiais e tornou a transmissão do 
conhecimento mais dinâmica e veloz.
Capítulo 2 
História da Educação
25
literatura em maior escala, aumentou-se o acesso ao conhecimento. O 
que estava restrito ao campo religioso passou a ser manuseado pelos 
leigos. A burguesia, classe em ascensão, tinha o desejo de ser alfabetizada 
para conseguir ler os textos clássicos e religiosos.
Neste contexto surgiram movimentos contrários à Igreja Católica, 
que seriam chamados de Reforma Protestante. O primeiro deles foi 
liderado pelo monge agostiniano Martinho Lutero, que, em 1517, 
declarou-se descontente com as práticas católicas (como a venda de 
indulgências) e escreveu 95 teses como forma de denunciar a corrupção 
que observava. 
A Reforma Protestante condenava a avareza, a usura e o paganismo. 
Também criticava a Igreja quanto a não deixar os seus fiéis fazerem a 
leitura e tirarem a sua própria interpretação dos textos sagrados. Lutero 
começou a traduzir a Bíblia para o alemão e incentivou a sua leitura. 
A Reforma não mudou apenas a forma como enxergar a religião, ela 
conseguiu mexer com as ditas estruturas educacionais, já que a leitura e 
a escrita não eram mais privilégio dos religiosos. 
Com a Reforma Protestante e o Humanismo ganhando cada vez 
mais adeptos, a Igreja incentivou as Grandes Navegações no objetivo de 
conquistar territórios para a evangelização de novos fiéis. A Igreja estava 
perdendo território missionário e precisava expandir seus horizontes.
A colonização do Brasil foi um meio para que os clérigos católicos 
conseguissem aumentar o número de membros da Igreja. Assim, 
começa a história da educação em território colonial, como vere- 
mos a seguir.
Educação jesuítica
Enquanto a Europa passava por movimentos de Contrarreforma,um grupo de estudantes da Universidade de Paris (liderados por Inácio 
de Loyola) uniu-se, em 1534, para montar uma congregação interes-
sada em combater o avanço da Reforma Protestante. Este grupo ficou 
reconhecido através de bula papal, no ano de 1540.
Na intenção de ser um instrumento contra as ideias protestantes, 
a então chamada Companhia de Jesus procurou manter a estratégia de, 
por meio de seus ensinamentos cristãos, converter pessoas ao catolicismo. 
História da Educação
FAEL 
26
Logo, a Companhia de Jesus tornou-se uma congregação religiosa 
poderosa e eficiente. Possuía um caráter de milícia. Eram os soldados 
de Cristo em favor da fé católica. Embora submetidos à autoridade do 
papa, os jesuítas viviam em uma ordem religiosa, mas podiam transitar 
em espaços seculares. Inicialmente, as suas atividades estavam voltadas 
somente para a caridade. 
Ensinavam os “ignorantes”, aqueles que não tinham conhecimento 
da fé e da linguagem e que de outra maneira não teriam acesso a elas. 
Tinham uma visão de combate perante o meio social, estavam dispos-
tos a militar em favor de sua fé. Segundo Neto (2008), seus principais 
fundamentos eram: 
[...] a busca pela perfeição humana por intermédio da palavra 
de Deus e a vontade dos homens; a obediência absoluta e sem 
limites aos superiores; a disciplina severa e rígida; a hierar-
quia baseada na estrutura militar; e a valorização da aptidão 
pessoal de seus membros (SHIGUNOV NETO; MACIEL, 
2008, [s. p.]).
Inicialmente, o interesse na evangelização era espiritual. Desejava-se 
a pregação, confissão e catequização. No entanto, gradativamente, a 
intenção de ensinar foi ocupando espaços maiores no projeto jesuíta.
Depois de se fazer presente em países como Portugal, Espanha e 
Alemanha, a Companhia de Jesus desembarcou no Brasil, no ano de 
1549. Chegou à Bahia trazida pelo governador-geral Tomé de Souza. 
O primeiro líder jesuíta no Brasil foi o sacerdote Manuel da Nóbrega. 
Os jesuítas desembarcaram no Brasil com o objetivo de catequizar 
os povos nativos e educá-los para que se tornassem pessoas civilizadas 
(na visão do europeu). Os indígenas precisavam sair do seu aparente 
ócio para uma postura produtiva. De início, o indígena foi visto como 
o“bom gentio”, mas a sua falta de insubordinação foi logo encaradacomo 
um empecilho. Sair do sistema de sobrevivência para o de acumulação 
não era algo fácil de ser ensinado pelos jesuítas. 
Em concordância com Shigunov Neto e Maciel (2008, [s. p.]), 
que partem do pressuposto de que “o fenômeno educacional não é um 
fenômeno independente e autônomo da realidade social de determinado 
momento histórico [...]”, acredita-se que o projeto de educação jesuítica 
no Brasil não se resumiu apenas a catequizar e ensinar a ler e a escrever 
em português. 
Capítulo 2 
História da Educação
27
Os jesuítas contribuíram com os planos do rei de Portugal em 
transformar a estrutura da sociedade presente na colônia. A Ordem 
dos Jesuítas atendia aos interesses da Igreja e do Estado. Desta forma, o 
projeto educacional jesuítico contribuiu para o processo de colonização 
almejado pelo o governo português. 
Dica de Filme
A missão
Um mercador de escravos indígenas arrepende-se de seus atos e torna-se 
missionário jesuíta em uma das missões na América do Sul.
A MISSÃO. Direção de Roland Joffé. Estados Unidos; Reino Unido: 
 Flashstar, 1986. 1 filme (125 min), sonoro, legenda, color., 35 mm.
Dica de Filme
O ensino não pretendia mudar politicamente a sociedade, era 
alheio à realidade social e estritamente voltado para a filosofia. Atendia 
aos interesses portugueses e não incitava uma nova organização den-
tro desta sociedade fundada na agricultura rudimentar e no trabalho 
escravo (ROMANELLI, 2010, p. 34).
Em agosto de 1549, foi fundada, na Bahia, a primeira escola de “ler 
e escrever” no Brasil. Primeiramente, havia a necessidade de alfabetizar 
os indígenas na língua portuguesa, para, então, transmitir a doutrina 
católica. Após esta primeira fase, os jesuítas dariam oportunidade para 
decidir entre o ensino médio e o ensino profissionalizante.
Manuel da Nóbrega mandava construir aldeias de catequização 
próximas das cidades e vilas portuguesas. Eram habitadas pelos indíge-
nas e pelos padres jesuítas. Essas aldeias tinham três objetivos:
objetivo doutrinário – que visava ensinar a religião e a prática 
cristã aos índios;
objetivo econômico – visava instituir o hábito do trabalho 
como princípio fundamental na formação da sociedade 
brasileira;
objetivo político – visava utilizar os índios convertidos contra 
os ataques dos índios selvagens e, também, dos inimigos 
externos (SHIGUNOV NETO; MACIEL, 2008, [s. p.]).
História da Educação
FAEL 
28
Apesar de querer inserir o indígena no processo produtivo do 
trabalho, a Companhia de Jesus sempre defendeu a liberdade dos 
nativos. Porém, não fazia frente contrária à escravatura por causa da 
relação com a Coroa Portuguesa. Neste sentido, até certo ponto, o 
padre Manuel da Nóbrega ficou conhecido como grande defensor dos 
indígenas. Coube a ele a contribuição da fundação de diversas escolas 
no Brasil (cinco de instrução elementar: São Paulo de Piratininga, 
Porto Seguro, Ilhéus, São Vicente e Espírito Santo; e três colégios: 
Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro).
Figura 1 A fundação de São Paulo, de Antonio Parreiras. O 
povoamento de São Paulo começou no dia 25 de março 
de 1554, juntamente com a construção de um colégio 
jesuíta.
Fundação de São Paulo, 1913. Antonio Parreiras. Pinacoteca 
Municipal de São Paulo. Óleo sobre tela. 179 x 279,5 cm. 
Com o crescimento das escolas da Companhia de Jesus surgiu a 
necessidade de adotar um método para unificar o trabalho educacional 
dos padres jesuítas. Em 1599, ficou pronto um conjunto de regras que 
procurava normatizar as ações da Ordem. As fontes de ensinamento 
eram Aristóteles e Santo Tomás de Aquino, além da influência do 
Renascimento. O foco era a formação humanista e literária.
Capítulo 2 
História da Educação
29
O método utilizado pelos jesuítas era o Ratio Atque Institutio Stu-
diorum Societatis Jesu, mais conhecido como Ratio Studiorum, com-
posto por uma coletânea de 467 regras que procuravam estabelecer 
uma definição do trabalho pedagógico dos jesuítas. Em 1584, uma 
comissão ficou responsável por organizar e codificar as informações e 
experiências acontecidas no Colégio Romano e em outras escolas. Em 
1586, o anteprojeto foi submetido a críticas e a uma nova comissão. 
Em 1591, tornou-se um texto redigido e, em 8 de janeiro de 1599, foi 
promulgado o texto do Ratio Studiorum. Ele estabelecia todo o método 
de ensino (incluindo currículo e orientações educacionais e adminis-
trativas) a ser seguido pelos padres jesuítas. As orientações deveriam 
ser aplicadas na Colônia e na metrópole e em todos os locais em que 
estavam estabelecidos.
Figura 2 Capa do método jesuítico Ratio Studiorum.
História da Educação
FAEL 
30
Sua estrutura oferecia três cursos em dois níveis distintos:
a) “os estudos inferiores”, que compreendiam o ensino secun- 
dário. Tal ensino durava entre cinco e seis anos. Estava 
destinado à formação clássica, humanista e literária;
b) os estudos superiores que ofereciam o curso de teologia e o 
de filosofia, que duravam três anos. Shigunov Neto e Maciel 
(2008) afirmam que, enquanto o ensino universitário estava 
destinado à formação profissional do homem, os cursos 
secundários formavam o homem para viver na sociedade.
Para Ribeiro, o Ratio Studiorum foi adaptado no Brasil para atender 
às especificidades da Colônia. Começava pelo aprendizado da língua 
portuguesa (ler e escrever) e a catequização; já a continuação do ensino 
era opcional: podia-se aprender canto orfeônico, música instrumental, 
aprendizado profissional e agrícola e aulas de gramática.Havia até 
mesmo a possibilidade de realizar uma viagem de estudos à Europa 
(RIBEIRO, 1998, p. 21-22). 
Francisco Filho faz um resumo de como acontecia o ensino 
em escolas jesuítas: “A metodologia de ensino começava com uma 
preleção. Nas classes elementares após a leitura era feito o resumo do 
texto, oprofessor tirava as dúvidas. Mais tarde chegava-se à retórica, à 
arteda composição, à sintaxe e ao estilo; o professor aceitava o diálogo.” 
(FRANCISCO FILHO, 2004, p. 32).
Além dos indígenas, outras pessoas poderiam frequentar as escolas 
jesuíticas. Mamelucos e órfãos poderiam ser alunos internos e alguns 
filhos de colonos, alunos externos. Tempos depois, já mais consolidada 
no Brasil, a Companhia deu instrução para alunos provenientes da 
burguesia urbana, como os filhos dos donos de engenho (esses filhos da 
burguesia poderiam prosseguir seus estudos superiores em universidades 
na Europa).
Foi em 1550 e 1551 que chegaram ao Brasil os meninos do Colégio 
de Jesus Órfãos de Lisboa. Com a autorização de Lisboa e a ajuda do 
governador Tomé de Souza, que doou as terras para a construção, 
eles viveram e estudaram em uma espécie de confraria chamada de 
Colégio dos Meninos de Jesus. Chambouleyron (1999) lembra que essa 
instituição vivia uma situação jurídica ambígua, pois, ao mesmo tempo 
Capítulo 2 
História da Educação
31
em que era religiosa, também tinha um caráter civil, por se tratar de um 
local que cuidava de órfão (sujeito a uma legislação específica). Esses 
meninos eram ensinados a ser “pequenos catequistas e doutrinadores”, 
acompanhando os padres nas procissões e romarias, auxiliando no ato 
de levar a palavra de Deus aos nativos (CHAMBOULEYRON, 1999). 
No entanto, essa mistura de caráter religioso e civil não era bem-
vista por moradores portugueses que viviam no Brasil. O fato da Ordem 
Jesuíta ampliar o seu patrimônio físico e financeiro era questionado. 
Assim, na segunda metade de 1550, a Companhia de Jesus em todo o 
mundo decidiu deixar os encargos com meninos órfãos e o Colégio dos 
Meninos de Jesus passou a se chamar Colégio de Jesus, tendo o caráter 
de um colégio canônico. 
Os ideais propostos pela nova constituição da Companhia de Jesus 
(1556) firmavam a proibição de manter nos internatos estudantes leigos 
que não desejassem seguir a vocação religiosa. Como Manuel da Nóbrega 
não concordava com isso, ocorreram alguns desentendimentos.
Além de tal problema, críticas externas surgiram. Os adversários 
políticos dos jesuítas os acusavam de tornarem o pensamento intelectual 
uniforme, dogmático e abstrato. Criticavam a ausência das ciências e 
das línguas modernas (como o francês) no plano de estudo e rejeitavam 
o excesso de literatura e retórica (AZEVEDO, 1976, p. 48).
O pensamento iluminista que ganhava força na Europa ajudou a 
reforçar a necessidade de se acabar com o modelo de educação jesuíta. 
Segundo Shigunov Neto e Maciel (2008), as causas da expulsão dos 
jesuítas foram políticas/ideológicas e educacionais. Veja as consideraões 
dos autores sobre as causas da expulsão em 1759:
• política – os jesuítas representavam um empecilho aos 
interesses do Estado Moderno, além de ser detentora de 
grande poder econômico, cobiçado pelo Estado;
• educacional – a necessidade da educação formar um 
novo homem – o comerciante e o homem burguês, e não 
mais o homem cristão –, pois os princípios liberais e o 
movimento iluminista trazem consigo novos ideais e uma 
nova filosofia de vida.
[...] A Companhia de Jesus teve suas atividades suspensas na 
Colônia brasileira a partir de 1759, com o Decreto-lei de 3 
de setembro de 1759 promulgado pelo Rei D. José I. Com a 
promulgação da lei, o Ministro de Estado, Marquês de Pombal, 
História da Educação
FAEL 
32
exilava de Portugal e da colônia brasileira a Companhia de 
Jesus, confiscando para a coroa portuguesa todos os seus bens 
materiais e financeiros. Quando da assinatura do decreto 
pelo Marquês de Pombal, havia no Brasil 670 membros da 
Companhia de Jesus, incluindo noviços e estudantes, sendo 
repatriados para Portugal 417. Permaneceram no Brasil 253 
membros, entre aqueles que ainda não haviam recebido 
ordens ou os noviços que foram induzidos a deixarem a ordem 
religiosa (SHIGUNOV NETO; MACIEL, 2008, [s. p.]).
Os jesuítas podem ser considerados os primeiros professores em 
território brasileiro. Contribuíram com o plano do governo português de 
transformar a estrutura da sociedade brasileira. Catequizaram indígenas 
e ofereceram educação para uma pequena parcela da população..
A partir de 1564 foram instaladas escolas dentro das vilas, como 
foi ocaso do Colégio da Bahia e do Colégio de São Paulo de Piratininga.
Chambouleyron (1999, p. 78-79) ressalta que as escolas autorizadas 
pelo rei de Portugal (que tinham alvará para funcionamento e recebiam 
uma dotação para sustento, manutenção e despesas) eram muito 
diferentes das escolas que ficavam localizadas nas aldeias. Há relatos 
de que os alunos chegaram a visitar as cadeias para levar a palavra de 
Deus aos encarcerados. Além disso, nessas escolas era possível observar 
a presença de cerimoniais acadêmicos portugueses, ou seja, atividades 
como encenações, disputas, interesse em continuar os estudos, recepções 
de autoridades e procissões eram práticas presentes nas escolas da vila.
Muito se fala e se estuda sobre a presença dos jesuítas na história 
da educação; no entanto, outras ordens religiosas católicas, como os 
franciscanos, tiveram importante participação no processo educacional 
ocorrido em território brasileiro. Parte deste silêncio sobre as demais 
ordens religiosas pode se dar ao fato de haver uma abundância de fontes 
historiográficas sobre os jesuítas e, em contraponto, uma aparente 
escassez de fontes sobre as demais ordens religiosas. No entanto, 
quebrando os paradigmas e rompendo o silêncio sobre o assunto, 
autores como Sangenis (2004) apontam para a atuação dos franciscanos 
e outros grupos religiosos.
Capítulo 2 
História da Educação
33
Sangenis ressalta o fato de que, ao acompanhar as caravelas do 
primeiro desembarque ao Brasil, podemos considerar que os franciscanos 
representaram a primeira ordem religiosa católica que atuou na 
evangelização e educação do povo nativo. Para o autor, não há dúvidas 
sobre a importância dos franciscanos para a educação brasileira, já que:
foram os franciscanos os fundadores da primeira escola em 
território brasileiro, os iniciadores das missões junto aos 
indígenas, os sistematizadores de línguas nativas, os idealizadores 
de uma Igreja autenticamente ameríndia, os estudiosos de 
nossa história, da flora e da fauna, os propagadores de um 
cristianismo confraternizante, os promotores da educação e 
da cultura. A participação franciscana, na América e no Brasil, 
é tão expressiva que aludir ao terceiro franciscano Cristovão 
 Colombo, descobridor deste Continente, ou a Frei Henrique 
 Soares, que, em nossa terra, plantou a primeira cruz, parece-nos 
mera referência retórica (SANGENIS, 2004, [s. p.]).
Segundo o autor, os franciscanos tiveram uma atuação contínua 
e ininterrupta na história da educação brasileira, em diferentes níveis 
educacionais, por isso é importante ressaltar a sua participação na 
construção educativa de nosso país.
Sugestão de Leitura
Para aprofundar o conhecimento sobre a atuação dos franciscanos na edu-
cação brasileira e suas relações com a ordem dos jesuítas, sugerimos a lei-
tura a seguir. 
SANGENIS, L. F. C. Gênese do pensamento único em educação: 
franciscanismo e jesuitismo na história da educação brasileira. Petrópolis, 
Rio de Janeiro: Vozes, 2006.
Sugestão de Leitura
É interessante ressaltar a existência de outras ordens religiosas, além 
do fato de que elas estiveram presentes em toda a história da educação 
brasileira até os dias de hoje. Ao mesmo tempo, verificamosque, em 
determinado momento, a Companhia de Jesus (especialmente) já não 
História da Educação
FAEL 
34
atendia aos anseios da Corte Portuguesa. A partir de então, podemos 
observar uma nova forma de pensamento educacional ganhando espaço 
no Brasil, como veremos a seguir.
Reforma Pombalina
No século XVIII, Portugal estava atrasado em relação aos países 
considerados as potências da época. O país queria passar de uma posição 
mercantil para outra industrial. A Inglaterra, por exemplo, destacava-se 
por sua industrialização e avanços tecnológicos. Nesse cenário, um 
ministro português surgiu para causar muitas transformações no país: 
Sebastião José de Carvalho, o Marquês de Pombal.
Pombal esteve no poder de 1750 a 1777 e foi o responsável 
pelas mudanças ocorridas na economia, educação e administração 
de Portugal e suas colônias. Apesar de serem influenciadas pelo 
Iluminismo, as reformas pombalinas atendiam aos interesses do 
Estado e nada tinham de compromisso com a liberdade individual 
do cidadão. Boto (2010, s.p.) afirma que a “escola pombalina não era 
conduzida pela utopia daemancipação”.
Com suas medidas, Pombal pretendia colocar Portugal em uma 
posição de destaque entre as metrópoles europeias. Uma das ações foi 
tentar forçar o progresso da industrialização no país, além de incentivar 
a construção naval. Passou-se a cobrar impostos altíssimos de produtos 
importados para forçar o avanço interno industrial. Segundo Maciel e 
Shigunov Neto (2006, [s. p.]), podemos destacar que:
as principais medidas implementadas pelo marquês, por 
intermédio do Alvará de 28 de junho de 1759, foram: 
total destruição da organização da educação jesuítica e sua 
metodologia de ensino, tanto no Brasil quanto em Portugal; 
instituição de aulas de gramática latina, de grego e de retórica; 
criação de cargo de ‘diretor de estudos’ – pretendia-se que fosse 
um órgão administrativo de orientação e fiscalização do ensino; 
introdução das aulas régias – aulas isoladas que substituíram o 
curso secundário de humanidades criado pelos jesuítas; realização 
de concurso para escolha de professores para ministrarem as 
aulas régias; aprovação e instituição das aulas de comércio. 
Pombal realizou mudanças na educação e decidiu expulsar 
os jesuítas de Portugal e de suas colônias (escolas de outras ordens 
Capítulo 2 
História da Educação
35
 religiosas continuaram existindo). A sociedade que estava surgindo 
não necessitava mais de um cidadão cristão. As prioridades e prin-
cípios mudaram e um novo homem precisava surgir para atender às 
modificações dos Estados modernos.
O Brasil mudou a cobrança de impostos e investiu na organização 
da mineração e extração. Transferiu a capital de Salvador para o Rio de 
Janeiro. As capitanias hereditárias que ainda eram particulares foram 
compradas pela Coroa e transformadas em capitanias reais. Com 
relação aos indígenas, Pombal foi o responsável por legalizar o fim de 
sua escravidão, em 1755, o que desagradou os proprietários de escravos 
indígenas e os jesuítas. Ao libertar os indígenas e expulsar os jesuítas, 
pretendia-se libertar a população local das amarras do catolicismo e 
miscigenar colonos e indígenas para gerar um povoamento estratégico 
em terras brasileiras.
Extintos os colégios jesuítas4, a maior parcela do ensino passou a 
ficar sob a responsabilidade do Estado. O fato de a educação ser laica 
não queria dizer que atendia aos interesses dos cidadãos, pelo contrário, 
o Estado queria garantir seu absolutismo, controlando, inclusive, o 
material didático. Enquanto mudanças ocorriam em Portugal, o Brasil 
ficava estagnado. 
Somente dezessete anos após a expulsão dos jesuítas, o Brasil 
conseguiu ter novamente o ensino, porém, de uma maneira fragmentada 
e desarticulada. Surgiu no país a escola pública de responsabilidade do 
Estado. Professores leigos e despreparados ministravam aulas avulsas 
(ou aulas régias) de Latim, Grego, Retórica ou Filosofia, que não 
possuíam conexão. Segundo a definição de Fonseca, redigida em forma 
de verbete no site da Unicamp, as aulas régias:
[...] compreendiam o estudo das humanidades, sendo perten-
centes ao Estado e não mais restritas à Igreja – foi a primeira 
forma do sistema de ensino público no Brasil.  Apesar da novi-
dade imposta pela Reforma de Estudos realizada pelo Marquês 
de Pombal, em 1759, o primeiro concurso para professor so-
mente foi realizado em 1760 e as primeiras aulas efetivamente 
implantadas em 1774, de Filosofia Racional e Moral. Em 1772 
4 É importante ressaltar que a Igreja católica continuou atuando nas colônias após a expul-
são dos jesuítas. Continuaram realizando atividades as Ordens religiosas, como os francis-
canos e beneditinos, por exemplo.
História da Educação
FAEL 
36
foi criado o Subsídio Literário, um imposto que incidia sobre a 
produção do vinho e da carne, destinado à manutenção dessas 
aulas isoladas. Na prática o sistema das Aulas Régias pouco al-
terou a realidade educacional no Brasil, tampouco se constituiu 
em uma oferta de educação popular, ficando restrita às elites 
locais. Ao rei cabia a criação dessas aulas isoladas e a nomeação 
dos professores, que levavam quase um ano para a percepção de 
seus ordenados, arcando eles próprios com a sua manutenção. 
Azevedo [1943, p. 315] menciona a abertura de uma aula régia 
de desenho e de figura, em 1800, nas principais cidades da orla 
marítima e em algumas raras do planalto e do sertão. Em 1816 
consta que o pintor Manoel da Costa Athaíde solicitou uma 
aula régia de desenho em Vila Rica, obtendo a aprovação. 
A permanência praticamente inalterada do sistema das Aulas 
Régias no Brasil da virada do século XVIII para o seguinte, 
estendendo-se ainda durante o primeiro reinado, deveu-
se à continuidade dos modelos de pensamento em nossa 
elite cultural. Existiu um grande descompasso entre o 
pretendido pelo governo monárquico – tanto o português 
quanto o brasileiro, após a independência – e aquilo que as 
condições sociais e econômicas viriam permitir, dentro de um 
modelo produtivo excludente, escravista e pautado em uma 
mentalidade que contribuía para se perpetrar tal situação. 
(CARDOSO, 2004 apud FONSECA, 2012, [s. p.]). 
Sugestão de Leitura
Para aprofundar o conhecimento sobre as aulas régias e compreender 
melhor a educação nesse período histórico, leia CARDOSO, T. M. R. F. L. 
As  luzes da educação: fundamentos, raízes históricas e prática das 
aulas régias no Rio de Janeiro 1759-1834. Bragança Paulista: Editora da 
Universidade São Francisco, 2002.
Sugestão de Leitura
Dentro deste sistema, os alunos, filhos de uma pequena elite, 
eram educados para serem os novos nobres. O ensino procurava ser 
facilitado, pois a entrada no ensino superior era o almejado. Maciel 
e Shigunov Neto (2006, [s. p.]) fazem uma crítica contundente à 
Reforma Pombalina educacional, dizendo que ela:
Capítulo 2 
História da Educação
37
[...] pode ser avaliada como sendo bastante desastrosa para a 
Educação brasileira e, também, em certa medida para a Educação 
em Portugal, pois destruiu uma organização educacional 
já consolidada e com resultados, ainda que discutíveis e 
contestáveis, e não implementou uma reforma que garantisse 
um novo sistema educacional. Portanto, a crítica que se pode 
formular nesse sentido, e que vale para nossos dias, refere-se à 
destruição de uma proposta educacional em favor de outra, sem 
que esta tivesse condições de realizar a sua consolidação. 
Desta feita, podemos concluir que a Reforma Pombalina não foi 
um avanço na educação brasileira. Ao criticar a estrutura religiosa do 
ensino jesuítico, ela desarticulou o ensino existente no Brasil. O país 
vem colhendo de longa data este tipo de erro: querer implantar novas 
tendências em detrimento de outras, sem ponderar o que é significativo 
e o que deveser abandonado.
Passadas as reformas pombalinas, o Brasil recebeu a família real 
portuguesa, o que modificou o cenário político, social, econômico e, 
consequentemente, educacional.
Educação no Brasil: 
da sede da Coroa para o Império
No início do século XIX, Inglaterra e França estavam em guerra. 
Na tentativa de destruir economicamente a Inglaterra, o imperador 
francês Napoleão Bonaparte proibiu os países de fazerem comércio com 
os britânicos. Portugal, que mantinha uma estreita relação financeira 
com esse país, continuou negociando com seu parceiro. Por causa da 
pressão francesa e das invasões de Napoleão, o rei de Portugal decidiu 
levar sua família e cerca de dez mil pessoas consigo para o Brasil. Em 
1808, chegou a família real portuguesa. 
O país deixava de ser uma simples colônia para se tornar a sede 
do Império português. A Corte, que tinha sido transferida de Salvador 
para o Rio de Janeiro, começou a se modernizar. Ruas foram abertas 
e pavimentadas, construções foram erguidas. Nessa época foram 
construídos oJardim Botânico, o Museu Nacional e a Imprensa Régia, 
e o acervo da biblioteca de Portugal foi trazido para o Rio de Janeiro. A 
sede estava ficando moderna. 
História da Educação
FAEL 
38
O pensamento do mercantilismo deu lugar ao liberalismo inglês, 
baseado na industrialização. Adam Smith, um dos intelectuais mais 
citados, defendia que cada nação deveria ser livre para fazer o comércio 
daquilo que “produz mais e melhor, e fazer troca do excedente por 
produtos oferecidos por outras nações” (FRANCISCO FILHO, 2004, 
p. 42). A Inglaterra teve muita influência sobre o Brasil durante esse 
período. Apesar da abertura dos portos brasileiros para todas as nações, o 
país britânico continuava obtendo privilégios. Os produtos ingleses eram 
os que pagavam menos impostos para serem importados. A elite brasileira 
comprava produtos supérfluos só para sentir-se “europeia civilizada”.
Devido aos conflitos na Europa, a família real e as elites (brasileira 
e europeia recém-chegada) não podiam enviar seus filhos ao local para 
cursar o ensino superior. O novo contexto exigiu a reformulação do 
pensamento educacional. Instituições de ensino superior e técnico 
precisavam ser abertas no Brasil para atender a essa fatia da população. 
Foram criadas instituições como as elencadas a seguir.
 ● Academia Real da Marinha, 1808.
 ● Cursos de Cirurgia, Medicina e Anatomia, 1809.
 ● Cursos técnicos de Agricultura e Indústria.
 ● Academia Real Militar, 1810.
 ● Laboratório de Química, 1812.
 ● Curso de Agricultura, 1814.
 ● Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, 1816.
Apesar das mudanças ocorridas no ensino superior, a educação 
continuou deixando as classes menos favorecidas de lado. A educação 
elementar “não sofreu modificação, os cuidados continuaram a ser com 
o conhecimento superior [...]. Não houve alteração na linha adotada 
durante a colonização [...]” (FRANCISCO FILHO, 2004, p. 46).
Em 1822, o Brasil deixou de ser governado por Portugal. Sua 
independência foi liderada pelo futuro sucessor do trono português. 
Dom Pedro I tornou-se o primeiro imperador do Brasil, em uma ação 
planejada e desejada (ao contrário do que muitos livros de história 
trouxeram antes de 1990).
Capítulo 2 
História da Educação
39
Cursos superiores, técnicos e escolas religiosas, colégios públicos 
e particulares continuaram sendo abertos na tentativa de acompanhar 
o crescimento da elite brasileira. O discurso sobre a educação podia 
parecer eficiente, mas na realidade faltavam verbas e a população menos 
abonada continuava sendo esquecida. A elite estudava por meio das 
aulas avulsas, muitas das vezes ministradas nas escolas confessionais. 
Francisco Filho (2004, p. 62-63) afirma:
em 1834 o Ato Adicional à Constituição de 1824 centralizou 
o ensino superior no governo Imperial e deu às províncias o 
direito de legislar e promover o ensino primário e secundário. 
[...] As escolas de primeiras letras tiveram pouca ascensão 
[...] As meninas da elite recebiam educação sobre afazeres 
domésticos e as meninas das camadas mais pobres só recebiam 
a educação informal de mãe para filha. [...] Foi instituído 
o ensino parcelado. Nas bancas das faculdades eram feitas 
avaliações para ingresso no ensino superior. A preparação, 
anterior, ficava por conta do aluno, que não precisava 
frequentar o ensino seriado. Somente a elite tinha condições 
de pagar professores ou um colégio religioso. 
As mulheres continuavam sendo educadas para o lar e o foco do 
governo estava voltado para o ensino superior. A maioria dos colégios 
secundários estava nas mãos de instituições particulares e só as elites 
poderiam pagar seus estudos. Muitos desses colégios acabaram sendo 
apenas um curso preparatório para o ensino superior. As famílias ricas 
queriam acelerar o acesso de seus filhos ao “rol dos homens cultos” 
(ROMANELLI, 2010, p. 41).
A partir de 1840, o Brasil passou a ser governado por D. Pedro II, 
que, por meio de um golpe de maioridade, assumiu o governo com 14 
anos. Chamamos este período de Segundo Reinado, o qual se estendeu 
até a Proclamação da República, 
em 1889. Durante seu 
governo, aconteceram muitas 
manifestações políticas e sociais, 
entre elas o fim da Guerra dos 
Farrapos, a Revolução Praieira e 
a Guerra do Paraguai. 
Foi durante o Segundo 
Reinado que o Brasil viu 
A Guerra do Paraguai (1864-1870) 
proporcionou a discussão entre as camadas 
pobres e escravas sobre o direito de acesso à 
educação. Nos navios os “homens comuns” 
compartilhavam do mesmo sofrimento e 
desenvolviam com a mesma capacidade as 
atividades dos jovens oficiais. Um movimento 
de classe começava a surgir.
Saiba mais
História da Educação
FAEL 
40
aumentar, significativamente, a produção de café. Os fazendeiros, 
conhecidos como barões do café, enriqueceram por meio do trabalho 
escravo nas lavouras; ostentaram seu poder econômico e político e com 
suas riquezas favoreceram a industrialização no país, sobretudo nos 
estados de São Paulo e Rio de Janeiro.
Devido às discussões em âmbito internacional, os discursos 
abolicionistas chegaram ao Brasil. Durante o Segundo Reinado, 
podemos destacar:
 ● Lei Eusébio de Queiróz (1850) – extinção oficial do tráfico de 
escravos no Brasil;
 ● Lei do Ventre Livre (1871) – liberdade dos filhos de escravos 
nascidos após a promulgação da lei;
 ● Lei dos Sexagenários (1885) – liberdade aos escravos que 
completassem 65 anos de idade;
 ● Lei Áurea (1888) – abolição da escravidão assinada pela Prin-
cesa Isabel, filha do Imperador D. Pedro II.
Com o fim da escravidão sendo anunciado desde 1850, os 
fazendeiros precisariam substituir a mão de obra que existia em suas 
lavouras e, por isso, começou a acontecer um grande movimento 
imigratório. Imigrantes vindos, principalmente, da Europa chegavam 
de navio ao país com a promessa de trabalho e moradia garantidos. No 
entanto, ao aportarem em terras brasileiras, a realidade não parecia ser tão 
promissora. A maioria passou a trabalhar em fazendas de café e alguns 
poucos conseguiram se estabelecer como comerciantes ou industriais.
Houve, também, uma abertura na liberdade religiosa. Nosso país 
já não era mais exclusivamente católico (se ignorarmos as manifestações 
religiosas dos povos indígenas e africanos que aqui já existam), pois 
muitos dos imigrantes recém-chegados traziam, em suas bagagens, seus 
anseios, cultura e religião. 
Desta forma, além dos grupos de evangelização católica, 
começaram a chegar ao país grupos de missionários protestantes, a fim 
de levar os seus dogmas a países da América. A cidade de Petrópolis, 
no Rio de Janeiro, recebeu a sua primeira turma de Escola Dominical 
(ensino da Bíblia mediante preceitos protestantes) no ano de 1855, 
Capítulo 2 
História da Educação
41
porintermédio do casal de missionários escoceses Sarah e Robert 
Kalley. Para ensinar a Bíblia, consequentemente, eles precisavam 
alfabetizar as pessoas que frequentavam as aulas. Via-se, assim, a 
oportunidade de evangelizar e ensinar. 
Em 1959, chegou ao Brasil o missionário presbiteriano Simonton, 
que, entre outras coisas, tinha a missão de uma escola, um seminário 
e um jornal5. Basicamente, a proposta de evangelização trazida por 
ele era: 
1) a santidade da igreja deve ser ciosamente mantida no tes-
temunho de cada crente; 2) é preciso inundar o Brasil de 
 Bíblias, livros e folhetos; 3) cada crente deve comunicar o 
evangelho a outra pessoa; 4) é necessário formar um ministé-
rio nacional idôneo; 5) escolas paroquianas para os filhos dos 
crentes devem ser estabelecidas (CÉSAR, 2000, p. 89).
A evangelização pessoal e nas igrejas alcançou um grupo de pessoas 
menos favorecidas que tiveram a oportunidade de serem alfabetizadas 
para, basicamente, ler a Bíblia. As escolas seriam a oportunidade dos 
protestantes de também alcançar as classes mais abastadas.
Em 1869, foi fundada, em Campinas, pelo reverendo Nash Morton, 
a primeira escola presbiteriana chamada de Colégio Internacional. 
A instituição tinha como um de seus objetivos atender aos filhos 
dos presbiterianos assegurando a continuidade da cultura e religião. 
Em 1870, também fundada pelos presbiterianos, surgiu a Escola 
Americana, possuindo características como classes mistas de meninos 
e meninas e uma nova pedagogia de ensino. Essa escola começou a 
ganhar visibilidade pela dita qualidade de ensino, que contava com 
professores qualificados. Uma das pessoas que teve sua atenção voltada 
para o colégio foi o advogado Jonh Theron Mackenzie, que realizou 
doações em vida e em herança para que a instituição crescesse. Em 
1896, ela passou a abrigar o curso superior de engenharia e tornou a se 
chamar Mackenzie College6.
5 Este primeiro jornal protestante chamava-se Imprensa Evangélica e circulou entre 1864 
a 1892.
6 O Mackenzie College é atualmente dividido ente a Universidade Presbiteriana Mackenzie 
e o Colégio Presbiteriano Mackenzie. Para saber informações sobre essas instituições 
 acesse: www.mackenzie.br e www.emack.com.br. 
História da Educação
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Figura 3 Escola. Ginásio Anglo-Brasileiro. Aula de física e quími-
ca. São Paulo, 1910.
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Figura 4 Instituto Granbery, Juiz de Fora, Minas Gerais, 1946.
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Já os metodistas fundaram seu primeiro colégio no ano de 1881, 
mantendo relações estreitas com a elite republicana. O Colégio Piraci-
cabano era elogiado por manter um grupo de professores seletos, for-
mados nos Estados Unidos ou na Europa. Mesquida (1994) lembra 
Capítulo 2 
História da Educação
43
que esses professores eram chamados por fazendeiros para ensinar, em 
casa, as primeiras letras a seus filhos, tecnologias agrícolas ou mesmo 
religião, por isso o prestígio e proximidade das elites de Piracicaba e 
região. Entre as características do Colégio Piracicabano estavam:
prédios próprios, com arquitetura que os distinguia pelas 
salas amplas e construídas especificamente para o ensino. As 
classes eram mistas. As carteiras de estudante passaram a ser 
individuais. Havia salas especiais para música, geografia, com 
imensa quantidade de mapas, cartazes com esqueleto do corpo 
humano, pesos e medidas para o ensino do sistema métrico, 
microscópios. E, já no colégio  Piracicabano, as disciplinas 
eram latim, português, inglês, francês, gramática, caligrafia, 
aritmética, matemática, álgebra, geometria, astronomia, 
cosmografia, geografia, história universal, história do Brasil, 
história sagrada, literatura, botânica, física, química, zoologia, 
mineralogia, desenho, música, piano, costura, bordado e 
ginástica (ELIAS, 2005, p. 82).
O Colégio Piracicabano tinha à sua frente a missionária Martha 
Hite Watts, que ajudaria a criar e liderar outros colégios como: Colégio 
Americano de Petrópolis (1895); Colégio Mineiro em Juiz de Fora 
(1902); Colégio Izabela Hendrix em Belo Horizonte (1905).
Foi também nesta época que surgiram os kindergarten ou, em 
nossa tradução, jardins de infância, destinados à educação das crianças 
pequenas, de zero a seis anos. Cardoso Filho afirma que o primeiro jardim 
de infância do Brasil surgiu em 1862, na cidade de Castro, no interior do 
Paraná (CARDOSO FILHO, 2009, p. 49). O mais conhecido deles é o 
Colégio Menezes Vieira (1875-1887), fundado pelo médico e educador 
Joaquim José de Menezes Vieira. 
Outros jardins de infância 
conhecidos pela historiografia 
surgiram em 1877, em São 
Paulo, na Escola Americana e no 
Colégio Piracicabano.
Educação na República Velha
Chamamos de República Velha ou Primeira República o período 
que vai de 1889 a 1930, quando o Brasil proclamou a sua independência 
e passou a ser governado por presidentes. Durante este período histórico, 
Jardim de infância é um termo criado pelo 
alemão Friedrich Froebel (1782-1852); ele teve 
a ideia de dar este nome para a instituição 
que cuidaria de crianças pequenas enquanto 
passeava por bosques.
Saiba mais
História da Educação
FAEL 
44
podemos ressaltar o surgimento dos grupos escolares, instituições de 
ensino primário que existiram até o ano de 1971. Os grupos escolares 
surgiram no estado de São Paulo e representavam o ideal republicano 
presente na educação. Estes locais educativos procuravam ser modelares 
e padronizadores da educação primária completa. Utilizavam um 
ensino enciclopédico e seus métodos e processos pedagógicos eram 
considerados modernos para a época (SOUZA, 1996).
Souza (1996, p. 118) afirma que, em 1929, já havia 297 grupos 
escolares no estado de São Paulo, sendo 47 instalados na capital e 250 
localizados nas demais cidades. Estudos recentes da história da educação 
têm percebido que o modelo de grupo escolar de São Paulo acabou 
sendo uma tentativa de padronização para os demais estados, ou seja, 
muitas das características presentes nesses grupos foram incorporadas 
por outros estados brasileiros. Nas palavras de Souza e Faria Filho 
(2006), esta inovação significou uma transformação da organização da 
educação pública dos estados brasileiros, assim:
o novo modelo de escola exigia altos investimentos, pois pres-
supunha a edificação de espaços próprios e adequados para o 
funcionamento das escolas, professores habilitados, mobiliário 
moderno e abundante material didático. A racionalidade e a 
uniformidade perpassavam todos os aspectos da ordenação es-
colar, desde o agrupamento homogêneo das crianças (alunos) 
em turmas mediante a classificação pelo grau de conhecimen-
to, consolidando a noção de classe e série, o estabelecimento de 
programas de ensino (distribuição ordenada de atividades e dos 
saberes escolares), a atribuição de cada classe a um professor, a 
adoção de uma estrutura burocrática hierarquizada – uma rede 
de poderes, de vigilância e de controle envolvendo professores, 
diretores, porteiros, serventes, inspetores, delegados e diretores 
de ensino. Perpassavam também a ordem disciplinar impingi-
da aos alunos – asseio, ordem, obediência, prêmios e castigos 
(SOUZA; FARIA FILHO, 2006, p. 28). 
Como vimos, a instalação deste modelo de escola possuía um 
custo muito alto. Era necessária uma arquitetura escolar específica, um 
mobiliário considerado moderno, professores preparados e, por este 
motivo, somente os estados de maior posse financeira conseguiram 
implantar a proposta dos grupos escolares com mais sucesso. Souza 
e Faria Filho (2006) destacam São Paulo, Minas Gerais e Pará como 
os estados que conseguiram ampliar, significativamente, as vagas e 
implantar um sistema moderno de ensino. 
Capítulo 2 
História da Educação
45
Nos estados de melhores

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