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EMPRESA ESTADUAL DE PESQUISA AGROPECUÁRIA DA PARAÍBA-EMEPA-PB FEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DA PARAÍBA-FAEPA-PB Palma Forrageira: Cultivo, Uso Atual e Perspectivas de Utilização no Semi-árido Nordestino 2 Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S/A Federação da Agricultura e Pecuária da Paraíba - FAEPA Palma Forrageira: Cultivo, Uso Atual e Perspectivas de Utilização no Semi-árido Nordestino1 Edson Batista Lopes Editor _____________________________________________________________ 1Livro especialmente editado para ser divulgado no VI International Congress on Cactus Pear and Cochineal / VI General Meeting of FAO-CACTUSNET: 22 - 26 Octuber 2007. João Pessoa - Paraíba - Brazil. João Pessoa Estado da Paraíba Outubro, 2007 3 Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S. A. Rua Eurípedes Tavares 210, Tambiá – Caixa Postal 275 CEP: 58013-290 João Pessoa, PB www.emepa.org.br emepa@emepa.org.br Comitê de Publicações Camilo Flamarion de Oliveira Franco (Presidente) Maria Leoneide Leite da Nóbrega (Secretária) Elson Soares dos Santos (Editor Técnico) Ivonete Berto Menino Jorge Cazé filho Ladilson de Souza Macedo Maria Ruth de Sousa Wandrick Hauss de Sousa 1ª edição Tiragem: 1000 exemplares Palma forrageira: cultivo, uso atual e perspectivas de utilização no semi-árido nordestino/Editor, Edson Batista Lopes. João Pessoa: EMEPA/FAEPA, 2007. 130p. il. Inclui Bibliografia ISSN: 0102-0919 1. Palma forrageira – Alimentação. 2. Palma forrageira – Agroindústria. I. Lopes, E. B. II. Título. CDD 574.5 P 153 4 ISSN 0102-0919 AUTORES EDSON BATISTA LOPES Engenheiro Agrônomo, Dr. Pesquisador da EMBRAPA/EMEPA-PB. Estação Experimental de Lagoa Seca. 58.117-000. Lagoa Seca - PB. E-Mail: edsonbatlopes@uol.com.br CARLOS HENRIQUE DE BRITO Biólogo, Dr. Bolsista do CNPq/FINEP. EMEPA - Estação Experimental de Lagoa Seca. 58.117- 000. Lagoa Seca - PB. E-Mail: chbrito1@hotmail.com CLAUDETE COELHO GUEDES Economista, Drª. Professora da UFPB. 58.000-000. João Pessoa - PB. E-mail: claudetg@terra.com.br DJALMA CORDEIRO DOS SANTOS Engenheiro Agrônomo, M. Sc. Pesquisador do IPA. Estação Experimental de Arcoverde. 56. 500-000. Arcoverde – PE. E-mail: djalma@arconet.com.br EGBERTO ARAÚJO Engenheiro Agrônomo, Dr. Professor do CCA/UFPB. Setor de Fitossanidade. 58.397-000. Areia - PB. E-mail: egberto@cca.ufpb.br JACINTO DE LUNA BATISTA Engenheiro Agrônomo, Dr. Professor do CCA/UFPB. Setor de Fitossanidade. 58.397 - 000. Areia - PB. E-mail: jacinto@cca.ufpb.br LÚCIA DE FÁTIMA ARAÚJO Zootecnista, Drª. Pesquisadora da EMEPA-PB. Rua Eurípedes Tavares, 210, Tambiá. 58.013- 290. João Pessoa - PB. E-mail: luciazootec@yahoo.com.br MANOEL FERREIRA DE VASCONCELOS Engenheiro Agrônomo, M. Sc. Pesquisador da EMEPA-PB. Estação Experimental de Lagoa 58.117-000. Lagoa Seca - PB. E-Mail: vasconcelosmf@bol.com.br RILDO SARTORI BARBOSA COELHO Engenheiro Agrônomo, Dr. Pesquisador do IPA/SPRRA. Av. Gal. San. Martin, 1371 – Bonji, CEP 50.761- 000. Recife - PE. E-mail: rsartori@oi.com.br VANILDO ALBERTO LEAL BEZERRA CAVALCANTI Engenheiro Agrônomo, M. Sc. Pesquisador do IPA. Av. Gal. San. Martin, 1371 – Bonji, CEP 50.761-000. Recife - PE. E-mail: vanildo@ipa.br 5 APRESENTAÇÃO O Brasil tem a maior área de palma plantada do mundo, atualmente com cerca de 600 mil hectares, e o produtor rural ainda dispõe de poucas informações sobre o assunto, explorando a cultura apenas para ração animal. Em outras regiões do mundo, além de ser utilizada como forragem, encontram-se utilizações diferentes da palma como, por exemplo, no México e em algumas regiões da América Latina, onde as plantas do gênero opuntia e nopalea são cultivadas para produção de verdura (nopalito), fruto (Tuna, Figo-da-índia) e, em alguns países da África, as raquetes da palma fazem parte da dieta de seres humanos. Em países asiáticos a palma é utilizada como planta medicinal, entrando na composição de medicamentos naturais. No Brasil, graças aos esforços traçados pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Paraíba – FAEPA, através do Projeto Palmas para o semi-árido, a palma passou a ganhar ares de cultura nobre, com a implantação de Núcleos de Tecnologia Social para produção e beneficiamento da palma (NTS), onde grupos de produtores rurais são orientados a plantar e manejar a cactácea, obedecendo à tecnologia do cultivo intensivo, atingindo produtividades superiores a 10 ou 12 vezes às atingidas com o sistema tradicional. Desta forma, a área a ser cultivada com palma pode diminuir significativamente abrindo espaço para o produtor cultivar outras culturas em sua propriedade. O Projeto Palmas para o Semi-árido vem proporcionando a todos o acesso às informações sobre as diversas opções econômicas a partir da cultura da palma, possibilitando a diversificação da renda das famílias rurais desde a fabricação de farelo como base energética de rações balanceadas para alimentação dos animais, até a produção agroindustrial com a fabricação de cosméticos, doces, sucos, vinhos, licores, sorvetes, iogurtes, dentre outros produtos. Paralelamente à implantação dos Núcleos de Tecnologia Social, o projeto se preocupa, de forma muito especial, com a educação das crianças das escolas rurais, na certeza de que estes serão os cidadãos que no futuro irão garantir o uso intensivo da planta, com possibilidades concretas de mudar a história da região nordeste do Brasil. Neste processo educativo, as crianças aprendem desde cedo que o cultivo da palma para outro fim que não apenas o de alimentação animal está dentro de uma normalidade em sua vida. Este livro, elaborado por técnicos de reconhecida capacidade, faz uma análise técnica aprofundada do que é possível se fazer com a palma. Assim, acredito que poderemos dar um redirecionamento das potencialidades da palma através dos diversos sistemas de produção que são aplicados à cultura. Acredito que o livro chega em um excelente momento nas mãos dos agricultores, técnicos de nível médio e superior, bem como àqueles interessados na cadeia produtiva e no agronegócio da palma, pois a cultura vive um momento de grande entusiasmo e crescimento, necessitando com urgência de novas informações. Mário Antônio Pereira Borba Presidente da FAEPA-PB 6 PREFÁCIO No Semi-árido Nordestino a predominância botânica é de vegetação chamada de “caatinga” representada por 73% de plantas xerófilas e entre estas muitas cactáceas, altamente resistentes a longos períodos estivais, em ajustamento fitológico único no mundo dos vegetais para condições adversas do meio, com cerca de 930 espécies vegetais já catalogadas. Nessa região de muitas cactáceas as palmas forrageiras (Opuntia e Nopalea) têm sido largamente utilizadas no Nordeste, visando à suplementação dos animais nos períodos críticos do ano. A palma é uma forrageira bem adaptada às condições do semi-árido nordestino, suportando grande período de estiagem, em função das suas propriedades fisiológicas, caracterizadas por um “apparatus” fotossintético eficiente. Assim a utilização da Opuntia fícus-indica como forragem para os animais foi ganhando espaço sobretudo nos Estados de Alagoas, Pernambuco, Paraíba e em algumas regiões do Ceará e Rio Grande do Norte, onde a planta se aclimatou bem e apresenta boa produção de massa verde. Uma inovação para utilização da palma forrageira na alimentação é sob a forma de farelo. O farelo de palma é um grande potencial para uso como fonte alternativa de energia para ruminantes. Além de ser utilizadacomo forragem em algumas regiões do globo terrestre encontram- se utilizações diferentes da palma forrageira como, por exemplo, no México e em algumas regiões da América Latina a Opuntia é cultivada para produção de verdura (nopalito), fruto (figo-da-india) e em alguns países da África, as raquetes de palma faz parte da dieta de seres humanos. Em países asiáticos a palma forrageira é utilizada como planta medicinal, entrando na composição de medicamentos naturais. Este livro faz uma análise técnica aprofundada do que é possível de se fazer com a palma forrageira. Elaborado por técnicos de reconhecida capacidade ele visa o redirecionamento das potencialidades da palma. Ele objetiva, ainda, preencher uma lacuna até então desconhecida dos múltiplos usos da palma, bem como difundir conhecimentos novos gerados ou adaptados pela equipe de pesquisadores e professores que o escreveu, atendendo aos anseios dos agricultores, técnicos de nível médio e superior, bem como àqueles interessados na cadeia produtiva e no agronegócio da palma. Miguel Barreiro Neto Diretor Presidente da EMEPA-PB 7 SUMÁRIO Apresentação....................................................................................................................... 05 Prefácio................................................................................................................................ 06 Resumo................................................................................................................................ 10 Abstract............................................................................................................................... 10 CAPÍTULO I – CULTIVO DA PALMA FORRAGEIRA............................................. 11 1. Introdução....................................................................................................................... 11 2. Histórico da introdução da palma no semi-árido nordestino..................................... 13 3. Classificação botânica.................................................................................................... 14 4. Variedades de palma forrageira cultivadas no semi-árido nordestino..................... 16 4.1. Palma gigante (Opuntia ficus-indica L.) Mill........................................................... 16 4.2. Palma redonda (Opuntia sp.).................................................................................... 17 4.3. Palma doce ou miúda (Nopalea cochenillifera Salm-Dyck).................................... 17 5. Clima e solo..................................................................................................................... 17 5.1. Clima........................................................................................................................ 17 5.2. Solo.......................................................................................................................... 19 5.2.1. Tipos de solos explorados com a palma forrageira............................................. 20 5.2.1.1. Argissolos Vermelho-Amarelos Eutróficos (Podzólicos Vermelho- Amarelos Equivalentes Eutróficos)...................................................................................... 20 5.2.1.2. Luvissolos Crômicos Vérticos (Brunos não Cálcicos Vérticos)................... 21 5.2.1.3. Neossolos Regolíticos Eutróficos (Regosolos Eutróficos)........................... 22 5.2.1.4. Neossolos Litólicos Eutróficos (Solos Litólicos Eutróficos)........................ 22 5.2.2. Limpeza do terreno e preparo do solo................................................................. 23 6. Plantio.............................................................................................................................. 24 6.1. Rendimento da palma forrageira no cultivo adensado na Paraíba........................... 27 7. Adubação........................................................................................................................ 28 8. Consorciação................................................................................................................... 31 9. Manejo cultural.............................................................................................................. 31 10. Colheita......................................................................................................................... 32 CAPÍTULO II - PRAGAS DA PALMA.......................................................................... 35 1. Introdução....................................................................................................................... 35 8 2. Cochonilha-do-carmim (Dactylopius opuntiae)............................................................ 36 2.1. Manejo Integrado da Cochonilha - do - carmim (MICC)........................................ 39 2.1.1. Erradicação.......................................................................................................... 39 2.1.2. Controle mecânico.............................................................................................. 39 2.1.3. Controle alternativo (produtos químicos)........................................................... 39 2.1.4. Variedades resistentes......................................................................................... 40 2.1.5. Controle biológico............................................................................................... 41 3. Cochonilha de escama (Diaspis echinocacti)................................................................ 42 3.1. Manejo Integrado da Cochonilha-de-Escama.......................................................... 43 4. Pão-de-galinha (Ligyrus spp.)......................................................................................... 46 5. Preá.................................................................................................................................. 46 CAPÍTULO III – DOENÇAS DA PALMA..................................................................... 47 1. Introdução....................................................................................................................... 47 2. Doenças dos cladódios causadas por fungos................................................................ 48 2.1. Podridão Negra (Lasiodiplodia theobromae)........................................................... 49 2.2. Podridão seca escamosa (Scytalidium lignicola)..................................................... 49 2.3. Gomose (Dothiorella ribis)...................................................................................... 50 2.4. Podridão de Fusarium (Fusarium solani)................................................................ 51 2.5. Mancha de alternaria (Alternaria tenuis)................................................................. 52 2.6. Podridão de Sclerotium (Sclerotium rolfisii)........................................................... 52 2.7. Rizoctoniose (Rhizoctonia solani)............................................................................ 53 2.8. Podridão de Macrophomina (Macrophomina phaseolina)...................................... 54 2.9. Podridão Polaciana - Pollaccia sp............................................................................ 54 2.10. Mancha de Macrophoma – Macrophoma sp......................................................... 54 2.11. Antracnose – (Colletotrichum gloeosporioides)..................................................... 55 3. Doenças dos cladódios causadas por bactérias............................................................ 55 3.1. Podridão mole – (Pectobacterium carotovorumsubsp. Carotovorum)................... 55 4. Doenças causadas por outros agentes fitopatogênicos................................................ 56 CAPÍTULO IV - USOS E APLICAÇÕES DA PALMA FORRAGEIRA.................... 57 1. Introdução....................................................................................................................... 57 2. Alimentação humana..................................................................................................... 57 9 3. Alimentação animal....................................................................................................... 64 3.1. Valor nutritivo e utilização como forragem para animais bovinos, caprinos e ovinos................................................................................................................................... 65 4. Cortadeira manual de palma forrageira – EMEPA – PB.......................................... 77 4.1. Ajuste da máquina para o corte da palma................................................................ 77 4.2. Vantagens................................................................................................................. 78 5. Enriquecimento protéico da palma forrageira............................................................ 78 5.1. Utilização da palma na presença da levedura Saccharomyces cerevisiae por meio da fermentação em estado semi-sólido................................................................................. 79 5.2. Utilização da palma na presença de uréia e mistura mineral e da levedura Saccharomyces cerevisiae por meio da fermentação em estado semi- sólido.................................................................................................................................... 83 6. Agroindustrialização...................................................................................................... 86 7. Uso medicinal.................................................................................................................. 88 8. Produção de corantes..................................................................................................... 89 CAPÍTULO V - A PALMA FORRAGEIRA E SUA SUSTENTABILIDADE NO SEMI-ÁRIDO NORDESTINO......................................................................................... 91 CAPÍTULO VI - RECEITAS DE PALMA..................................................................... 94 1. Introdução....................................................................................................................... 94 2. Receitas de salgados....................................................................................................... 95 3. Receitas de saladas......................................................................................................... 109 4. Receitas de doces............................................................................................................ 111 5. Receitas de sucos............................................................................................................ 114 6. Receitas de conservas..................................................................................................... 115 LITERATURA CONSULTADA...................................................................................... 116 10 RESUMO - A palma forrageira apresenta-se como uma alternativa para as regiões áridas e semi- áridas do Nordeste brasileiro, visto que é uma planta de aspecto fisiológico especial quanto à absorção, aproveitamento e perda de água, e bem adaptada às condições adversas do semi-árido, nos prolongados períodos de estiagem. Inexoravelmente, a exploração racional da palma forrageira insere-se nesse propósito. Esta cactácea, em virtude de suas especificidades fisiológicas, medra com desenvoltura em solos do Semi-árido, podendo atingir elevados níveis de rendimento. Desde o uso no arraçoamento animal, prática já consolidada pelos pecuaristas, até o uso na alimentação humana, em face do seu alto valor alimentício, tanto na subsistência, como em escala comercial, mediante produção dentro de padrões de conformidade exigidos pelos mercados e com a desejável diferenciação de produtos. Ademais, tem-se que prever a exploração da palma forrageira como frutífera e matéria prima para a fabricação de produtos industriais de significativo valor agregado: sucos, polpas, doces, conservas, pratos para alimentação rápida, bebidas alcoólicas, cosméticos, adesivos, colas, fibras, papel, corantes mucilagem, antitranspirante. Objetiva - se com esse livro, apresentar uma visão geral das potencialidades e usos da palma forrageira e difundir, ao mesmo tempo, alguns conhecimentos gerados e/ou adaptados pela equipe de Pesquisadores da EMEPA-PB, do IPA e CCA/UFPB. Palavras-chave: Alimento, fruto, forragem, produção, bebidas alcoólicas, cosméticos, papel ABSTRACT - The cactus pear is presented as an alternative for arid and semi-arid regions of Brazilian Northeast, since it is a plant that presents special physiological aspect how much to the absorption, exploitation and loss of water, being well adapted to the adverse semi-arid conditions, supporting drawn out periods of dry season. Inexorably, the rational exploration of cactus pear put in this intention. This cactus, in function of its physiological specificities, grows with nimbleness in soil of semi-arid region, being able to reach high yelds levels. Since the use in the animal feeding, practical already consolidated by farmers, until the use in the feeding human being, face of its high nourishing value, as much in the subsistence, as in commercial scale, by means of the production in the standards of conformity demanded by the markets and with the desirable differentiation of products. Also, is had that to foresee the exploration of the cactus pear as fruitful and substance cousin for the manufacture of industrial products of significant aggregate value: juices, pulps, candies, conserves, plates for fast feeding, alcoholic beverages, cosmetic, adhesive, glues, staple fibres, paper, natural colour, mucilage, anti-transpiration. This book aim to present a general vision of the potentialities and uses of the cactus pear and to spread out, at the same time, some knowledge generated and/or adapted for the team of Researchers of EMEPA-PB, IPA and CCA/UFPB. Key words: Feed, fruit, forage, production, alcoholic beverages, cosmetic, paper. 11 CAPÍTULO I CULTIVO DA PALMA FORRAGEIRA Edson Batista Lopes Djalma Cordeiro dos Santos Manoel Ferreira de Vasconcelos 1. Introdução A FAO (Food Agriculture Organization) reconhece o potencial da palma e sua importância para contribuir com o desenvolvimento das regiões áridas e semi-áridas, especialmente nos países em desenvolvimento, através da exploração econômica das várias espécies, com conseqüências excelentes para o meio ambiente e para segurança alimentar. Mundialmente, a palma conforme registros na literatura, é utilizada para produzir forragem, verdura para consumo humano, principalmente no México, frutas frescas, processadas para os mercados nacional e internacional, especialmente EUA e Europa, além da possibilidade de exploração das propriedades medicinais, constatadas experimentalmente no tratamento de diabetes, gastrite e obesidade. O Nordeste brasileiro ocupa 1.600.000 km² do território nacional. Tem incrustado em 62% da sua área, o Polígono das Secas que circunscreve isoietas abaixo de 800 mm de pluviosidade por ano. O Polígono das Secas é a área de maior incidência das secas e estende-se por 980.000 km2, é o Semi-Árido propriamente dito. Nele, situam-se várias províncias florísticas que entremeiam essa grandeárea nordestina em diversas escalas botânicas, desde os remanescentes úmidos da Mata Atlântica até as essências vegetais hiper-xerófilas já no limiar das formações desérticas. Sua predominância botânica é de vegetação chamada caatinga representada por 73% de plantas xerófilas, entre essas muitas cactáceas, altamente resistentes a longos períodos estivais, em ajustamento fitológico único no mundo dos vegetais para condições adversas do meio, com cerca de 930 espécies vegetais já catalogadas. No Nordeste Semi-árido (980.000 km2, 22 milhões de habitantes, dos quais 8.400.000 no meio rural) acha-se implantada a maior área de palma cultivada de todo o mundo, estimada em 500 mil hectares distribuídos nos Estados de Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Ceará, Rio Grande do Norte, Sergipe e Bahia (Figura 1); possibilitando, no período das secas, a alimentação do maior rebanho de caprinos e ovinos (cerca de 10 milhões) de todo o país, o que representa 90% 12 de todo o plantel nacional. Ademais, a palma forrageira representa a base de sustentação do gado no semi-árido, oferecendo, ainda, perspectivas de outras alternativas econômicas (alimentação humana, matéria prima para cosméticos, utilização na produção de fármacos, etc.). Nos 95 milhões de hectares do Semi-árido do Nordeste, em função das condições ambientais, a pecuária, tem se constituído, ao longo do tempo, em uma das principais atividades econômicas e desempenha um papel importantíssimo no sistema agropecuário da região. No entanto, um dos maiores entraves tecnológicos para o êxito desta atividade é a produção de forragens para os rebanhos, que apresenta como fator determinante à deficiência hídrica no solo, associado às altas temperaturas e forte evapotranspiração. O uso de algumas espécies vegetais já adaptadas ao semi-árido, certamente minimiza a escassez de forragens na estação seca. Segundo dados do IBGE (2001) a região Nordeste do Brasil apresenta um rebanho 21.875.110 cabeças de bovinos, 7.336.985 cabeças de ovinos e 8.032.529 cabeças de caprinos, representando, respectivamente, 13,2%, 51% e 93% do rebanho brasileiro. A maioria dessa população tem como base alimentar a utilização de pastagens nativas ou cultivadas, no entanto, com a estacionalidade de produção das forrageiras é necessária a busca de alimentos alternativos. A palma se consolidou, no Semi-árido nordestino (Figura 1), como forrageira estratégica fundamental nos diversos sistemas de produção pecuário, no entanto, é uma planta de enorme potencial produtivo e de múltiplas utilidades, podendo ser usada na alimentação humana, na produção de medicamentos, cosméticos e corantes, na conservação e recuperação de solos, cercas vivas, paisagismo, além de uma infinidade de usos. É a planta mais explorada e distribuída nas zonas áridas a semi-áridas do mundo, contudo sua real dimensão produtiva ainda não foi plenamente conhecida no Nordeste. A palma apresenta-se como uma alternativa para as regiões áridas e semi-áridas do nordeste brasileiro, visto que é uma cultura que apresenta aspecto fisiológico especial quanto à absorção, aproveitamento e perda de água, sendo bem adaptada às condições adversas do semi- árido, suportando prolongados períodos de estiagem. A presença da palma na dieta dos ruminantes nesse período de seca ajuda aos animais a suprir grande parte da água necessária do corpo. Segundo Silva et al. (1997) um fator importante da palma, é que diferentemente de outras Figura 1. Estados nordestinos: em cinza, plantadores de palma forrageira. 13 forragens, apresenta alta taxa de digestão ruminal, sendo a matéria seca degradada extensa e rapidamente, favorecendo maior taxa de passagem e, consequentemente, consumo semelhante ao dos concentrados. A palma frequentemente representa a maior parte do alimento fornecido aos animais durante o período de estiagem nas regiões do semi-árido nordestino, o que é justificado pelas seguintes qualidades: a) bastante rica em água, mucilagem e resíduo mineral; b) apresentam alto coeficiente de digestibilidade da matéria seca e c) tem alta produtividade. Cultivos bem conduzidos de palma forrageira produzem uma biomassa superior a 150 toneladas de matéria verde/ha/ano (ou 15 toneladas de matéria seca/ha/ano), desde que se associem práticas agronômicas adequadas e variedades de elevado potencial produtivo. Nas principais regiões semi-áridas do Nordeste a palma se constitui no principal alimento fornecido aos rebanhos, independentemente da época do ano. 2. Histórico da introdução da palma no semi-árido nordestino Em 1798, com nova ordem régia, novos jardins botânicos foram instalados em Pernambuco. O jardim de Olinda receberia plantas e sementes vindas de Caiena, trazidas pelos portugueses, essa remessa incluía muitas especiarias, mas não está claro se o cacto cochonilheiro estava entre elas. Embora nos anos seguintes o jardim tenha recebido diversas outras remessas de plantas e sementes, a palma pode ainda não ter estado entre elas, pelo menos até 1818, quando o governador solicitou a coroa, então instalada no Rio de Janeiro, o envio de várias plantas, e entre elas cactos com a cochonilha. De fato, desde 1811 D. João VI mandara promover no Real Horto Rio a cultura dos cactos com a cochonilha (Real Horto, 2003). Em seu livro o frei comenta que no Brasil há um cacto conhecido como Urumbeba, que serve de alimento a variedades silvestres de cochonilha, distintas da cochonilha fina mexicana, mas cuja utilidade para a produção de carmim merecia destaque. Não esta claro, entretanto, se além da urumbeba nativa se teria cultivado a essa altura no sul do Brasil alguma variedade inerme do cacto cochonilheiro, trazida de fora. Sabe-se que os cactos com a cochonilha fina foram contrabandeados do México para o Haiti por um naturalista francês em 1777 (Gibson, 2003). A palma forrageira cultivada no Nordeste brasileiro é utilizada quase que exclusivamente na alimentação animal. Está hoje muito bem adaptada a região semi-árida de diversos Estados. Duas espécies de palma - originárias do México (Domingues, 1963) – são utilizadas pelos agropecuaristas como forrageira para rebanhos: a palma “doce ou miúda” (Nopalea cochenillifera) e a palma “graúda ou gigante” (Opuntia ficus-indica), existindo ainda uma variação desta, conhecida como palma redonda (Arruda, 1983). De acordo com Pessoa (1967) as 14 duas espécies de palma são também conhecidas como palma sem espinho, palmatória e no Sul do país como figo da Índia, figueira da Índia e figueira da Barbária. Segundo Souza (1966) e Farias et al. (1984) a data de introdução da palma forrageira no Nordeste não é bem definida, existido ainda muita controvérsia sobre o assunto. Pessoa (1967) relatou que possivelmente tenha ocorrido antes de 1900, enquanto Pupo (1979) afirmou que a introdução dessa cactácea se deu pelo Estado de Pernambuco, oriunda do Texas (EUA), por volta de 1880. No início do século passado, dois grandes empresários da indústria têxtil, Delmiro Gouveia e Herman Lundgren, importaram do México a palma para o nordeste brasileiro. A palma hospeda naturalmente um inseto conhecido como Cochonilha e, sua fêmea, ao se alimentar da seiva da planta, produz ácido carmínico que é a substância química de um corante vermelho de alta qualidade, denominado carmim, que se destingue por sua estabilidade quando submetido à oxidação, luz e altas temperaturas. O objetivo dos empresários era produzir o corante para ser empregado no processo de tingimento dos tecidos em suas indústrias. A tecnologia de produção era bastante simples. A palma era cultivada e quando o palmal crescia, o inseto era destinado à infestação. Depois de adulto, era coletado e posto a secar em lonas e, depois de secos eram triturados e transformados em pó. Este pó já poderia ser destinado às linhas de produção como corante. No início da década de 20, os derivadosdo petróleo (tintas e esmaltes sintéticos) começaram a ser lançados no mercado de maneira intensiva e acabou por inviabilizar o processo de produção do carmim (Suassuna, 2004). 3. Classificação botânica Face à complexidade do gênero Opuntia, provocada pelas variações fenotípicas reguladas por condições climáticas, pela poliploidia que ocorrem em um grande número de populações, pela alta capacidade de hibridação, a taxonomia do gênero é muito difícil, razão pela qual poucos pesquisadores se dedicam ao seu estudo (Scheinvar, 2001). No mundo, já foram descritas cerca de 300 espécies de cactáceas pertencentes ao gênero Opuntia, distribuídas desde o Canadá até a argentina (Scheinvar, 2001; Reinolds & Arias, 2004). A palma forrageira sem espinho não é nativa do Brasil, foi introduzida por volta de 1880, em Pernambuco, através de sementes importadas do Texas- Estados Unidos. No Nordeste do Brasil são encontrados três tipos distintos de palma: a) gigante - da espécie O. fícus indica (Figura 2); b) redonda – (Opuntia sp); e miúda - (N. cochenillifera). Na família das cactáceas, existem 178 gêneros com cerca de 2.000 espécies conhecidas. Todavia nos gêneros Opuntia e Nopalea, estão presentes às espécies de palma mais utilizadas 15 como forrageiras. São plantas de extrema importância alimentar e econômica nas zonas áridas e semi-áridas do globo terrestre. Os cladódios (folhas modificadas) alimentam, além do homem, diversas espécies de animais domésticos e selvagens. O fruto da palma forrageira, conhecido comercialmente como figo-da-india, é ovóide, grande, amarelo ou roxo e com espinhos no pericarpo, possui elevado valor nutritivo, apresentando também na sua composição fibras, carboidratos solúveis e cálcio, sendo rico em vitaminas (principalmente A e C) e magnésio. A polpa, amarelo-ouro tem aparência porosa, com pequenas e numerosas sementes pretas (Pimienta-Barrios, 1990; Saénz et al., 1998; Askar & El- Samahy 1981). Tem sabor doce, com leve acidez e bastante refrescante (Lopes, 2005), motivo do interesse em ampliar a diversificação de consumo, aproveitando o alto potencial e agregando valor ao produto, que neste trabalho é o fermentado do fruto (vinho). Entre as espécies selvagens e cultivadas mais utilizadas, 12 espécies pertencem a Opuntia e uma Nopalea. Segundo Bravo (1978) as palmas forrageiras pertencem ao reino Vegetal, sub- reino Embryophita, a divisão: Angiospermae, a tribu Opuntiae, à classe Liliateae, família Cactaceae, subfamília Opuntioideae, gênero Opuntia, subgênero Opuntia e Nopalea. Outra classificação taxonômica : Briton y rose, 1963, en Bravo-Hollis, 1978. Reino: Vegetal Subreino: Embryophyta División: Angioserma Clase: Dicotiledoneae Subclase: Dialipetalas Orden: Opuntiales Familia: Cactaceae Tribu: Opuntiae Subfamília: Opuntioideae Gênero : Opuntia Subgênero: Platyopuntia Espécie: vários nombres Nome Binomial : Opuntia ficus-indica (L.) Mill. 4. Variedades de palma forrageira cultivadas no semi-árido nordestino No Nordeste Brasileiro, são cultivadas predominantemente duas espécies, a O. ficus- indica, (Palma gigante) e a N. cochenillifera, (Palma miúda ou doce). As duas espécies mencionadas não possuem espinhos (são inermes) e foram obtidas pelo geneticista Burbanks, a partir de espécies com espinhos. Foram introduzidas no Brasil por volta de 1880, em Pernambuco, através de sementes vindas do Texas, nos Estados Unidos, onde demonstraram grande utilidade. Não toleram umidade excessiva e em solos profundos apresentam extraordinária Figura 2. Palma gigante. 16 capacidade de extração de água do solo, a ponto de possuir cerca de 90-93% de umidade, o que torna importantíssima para a região do polígono das secas. (Pupo, 1979). Outras variedades têm sido geradas ou introduzidas pela Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária - IPA, com objetivo de obter clones mais produtivos e com melhor valor nutritivo. Dentre as variedades testadas, o clone IPA-20 tem se mostrado promissor, com produção 50 % maior do que a variedade gigante, a mais cultivada no Estado de Pernambuco (Santos et al., 1994). Os materiais de palma IPA-20, IPA-90-110, IPA 90-111 e IPA 90-156 produzem mais que a cultivar gigante, que é a mais cultivada na região. A seguir serão apresentadas as características agronômicas das variedades gigante, redonda e miúda. 4.1. Palma gigante (Opuntia ficus-indica L.) Mill. Chamada também de graúda, azeda ou santa. São plantas de porte bem desenvolvido e caule menos ramificado (Figura 3), o que lhes transmite um aspecto mais ereto e crescimento vertical pouco frondoso. Sua raquete pesa cerca de 1,0 -1,5 kg, apresentando até 50 cm de comprimento, forma oval-elíptica ou sub- ovalada, coloração verde-fosco. As flores são hermafroditas, de tamanho médio, coloração amarelo brilhante e cuja corola fica aberta na antese. O fruto é uma baga ovóide, grande, de cor amarela, passando à roxa quando madura. Essa palma é considerada a mais produtiva e mais resistente às regiões secas, no entanto é menos palatável e de menor valor nutricional. 4.2. Palma redonda (Opuntia sp.) É originada da palma gigante, são plantas de porte médio (Figura 4) e caule muito ramificado lateralmente, prejudicando assim o crescimento vertical. Sua raquete pesa cerca de 1,8 kg, possuindo quase 40 cm de comprimento, de forma arredondada e ovóide. Apresenta grandes rendimentos de um material mais tenro e palatável que a palma gigante. Figura 4. Palma redonda. Figura 3. Palma gigante ou graúda. 17 4.3. Palma doce ou miúda (Nopalea cochenillifera Salm-Dyck) São plantas de porte pequeno e caule bastante ramificado (Figura 5). Sua raquete pesa cerca de 350 g, possuem quase 25 cm de comprimento, forma acentuadamente obovada (ápice mais largo que a base) e coloração verde intenso brilhante. As flores são vermelhas e sua corola permanece meio fechada durante o ciclo. Nos três tipos, as raquetes são cobertas por uma cutícula que controla a evaporação, permitindo o armazenamento de água (90-93% de água). 5. Clima e solo 5.1. Clima - as condições climáticas do Semi-árido são caracterizadas por períodos secos e precipitações pluviométricas variando de 400 a 800 milímetros, irregularmente distribuídas e concentradas no verão. A temperatura oscila entre 23ºC a 28ºC, com amplitude diária de mais ou menos 10ºC. A luminosidade média é de 2.800 horas de luz ao ano. A cobertura vegetal predominante é a caatinga constituída por plantas efêmeras, suculentas ou carnosas e lenhosas, geralmente, tolerantes a longos períodos de estiagem. A má distribuição e irregularidade de chuvas no Semi-árido são responsáveis por estiagens prolongadas, resultando em sérios prejuízos econômicos para os pecuaristas, que, assim, são forçados a comercializar o rebanho, periodicamente, com preços abaixo do mercado, em função da falta de alimentos (Felker, 2001). Na época das chuvas a disponibilidade de forragens é quantitativamente e qualitativamente satisfatória, todavia nas épocas críticas do ano, além da escassez de forragens o valor nutritivo se apresenta em níveis bastante baixos o que acarreta queda de produtividade e compromete a produção de leite e carne (Lima et al., 2004). Diante desse cenário, a produção de alimentos para as populações e para os rebanhos na região, deverá ser baseada em espécies vegetais que apresentem características de alta adaptabilidade às condições edafo-climáticas regionais. Devido à influência da irregularidade de distribuição das chuvas sobre a alimentação de ruminantes nas regiões semi-áridas é necessário buscar alternativas para a alimentação do rebanho. Assim, uma alternativa seria a utilização de uma fonte energética de menor custo e disponível na região (Melo et al., 2003). Neste caso, a utilização da palma forrageira. poderia ser uma alternativa para as regiões semi-áridasdo Brasil Figura 5. Palma doce ou miúda. 18 Segundo Felker (2001), a palma forrageira, ao lado dos atributos de resistência a estiagens prolongadas, podem fornecer energia, água e vitamina A, garantindo o suprimento de alimentos extremamente importantes para a manutenção dos rebanhos, evitando frustrações na atividade pecuária, nos períodos de seca. O bom rendimento dessa cultura está climaticamente relacionado a áreas com 400 a 800mm anuais de chuva, umidade relativa acima de 40% (Viana, 1969) e temperatura diurna/noturna de 25 a 15ºC (Nobel, 1995). Vale ressaltar que umidade relativa baixa e temperaturas noturnas elevadas encontradas em algumas regiões do semi-árido podem justificar as menores produtividades ou até a morte da palma. Na Paraíba, a palma forrageira é cultivada nas Microrregiões do Carirí Ocidental e Oriental, Curimataú Ocidental e Oriental, Campina Grande, Serra do Teixeira, Umbuzeiro, Itaporanga, Piancó, Cajazeiras e Seridó Oriental. Nas primeiras sete microrregiões é onde concentram - se as maiores áreas cultivadas, pois o clima reinante é ameno, com temperaturas baixas à noite (13-18ºC) e umidade relativa do ar (UR), altas, (em torno de 80%), também, à noite, fatores climáticos esses muito importantes do ponto de vista do enchimento (nutrição) dos cladódios. Pelas características morfofisiológicas das espécies da família Cactaceae, especialmente as palmas forrageiras – O. ficus-indica e N. cochenillifera, possuem os requisitos para suportar os rigores de clima e as especificidades físicoquímicas dos solos das zonas semi-áridas. O sucesso agroecológico da palma diz respeito à sua capacidade de captação diária de CO2 e a perda de água, fenômenos que ocorrem geralmente à noite, cujo intercâmbio de gases é, atualmente conhecido como metabolismo ácido das crassuláceas – Crassulacean acid metabolism – CAM (Nobel, 2001), diferindo da assimilação fotossintética das plantas clorofiladas C3 e C4, caracterizadas por formarem como primeiro produto da fotossíntese, ácidos com três e quatro moléculas de Carbono, respectivamente. Essas características são extremamente importantes do ponto de vista ambiental, podendo ser utilizadas para reduzir os danos causados pelo efeito estufa ao ambiente, resultante do aumento na concentração de CO2 e outros gases na atmosfera. 5.2. Solo - as condições edáficas do Semi-árido são caracterizadas por solos rasos, pedregosos ou arenosos, com pouca matéria orgânica, porém ricos em minerais solúveis e pH neutro ou próximo de sete. A palma forrageira é uma cultura relativamente exigente quanto às características físico-químicas do solo. Desde que sejam férteis, podem ser indicadas áreas de textura arenosa à argilosa, sendo, porém mais freqüentemente recomendados os solos argilo- arenosos. Além da fertilidade, é fundamental, também, que os mesmos sejam de boa drenagem, 19 uma vez que áreas sujeitas a encharcamento não se prestam ao cultivo da palma. Evitar o plantio em áreas marginais, pois a palma não tolera terras duras e pedregosas, pobres em nutrientes e salinas. No Nordeste brasileiro, desde a sua introdução e devido à grande rusticidade e facilidade de desenvolvimento e propagação das mudas, a espécie vem sendo cultivada em condições adversas, nas piores áreas das propriedades e sem o mínimo manejo e tratos culturais necessários ao seu desenvolvimento. O resultado disso é a baixa produtividade nos plantios. Como termo de comparação, no México, país com características ambientais semelhantes às do Nordeste seco, onde se faz o plantio com mudas selecionadas, preparo de solo, adubação, densidade de plantio e tratos culturais, são garantidas colheitas médias anuais da ordem de 400 toneladas por hectare (volume capaz de suprir as demandas energéticas de 220 caprinos ou 20 bovinos), representando cerca de 8 a 10 vezes mais o volume atualmente obtido no Semi-Árido brasileiro, que só consegue produzir o suficiente para 22 caprinos ou 2 bovinos por hectare. Como qualquer outra planta, a palma necessita de adubação, sendo um fator determinante na produção de matéria verde, exigindo maior quantidade quando se trata de plantio de palma adensado. Segundo Teles et al. (2002) o espaçamento de plantio da palma forrageira varia de acordo com a fertilidade do solo, quantidade de chuvas, finalidade de exploração e com o consórcio a ser utilizado. A adubação pode ser orgânica e/ou mineral. Em caso de se optar pela adubação orgânica, pode ser utilizado estrume bovino e caprino, na quantidade de 10 a 30t/ha na época do plantio, e a cada dois anos, no período próximo ao início da estação chuvosa. Dependendo do espaçamento de plantio e nível de fertilidade do solo, nos plantios mais adensados usar 30 t de esterco de curral/hectare, bem curtido e livre de ervas daninhas. Para a adubação mineral, é necessário se proceder a uma análise do solo para uma melhor orientação quanto aos níveis a serem recomendados. 5.2.1. Tipos de solos explorados com a palma forrageira A palma forrageira, planta dotada de sistema radicular fasciculado de crescimento horizontal, se mantém a poucos centímetros de profundidade em relação à superfície do solo. Quando explorada em regime de cultivo requer solos de textura leve, preferencialmente os argilo- arenosos ou areno-argilosos não sujeitos a encharcamento, para que alcance um bom desenvolvimento vegetativo e produtivo. Entretanto, desde que se faça a descompactação do solo através de mecanização, e se adicione matéria orgânica ao mesmo, outros tipos de solo também podem ser usados para este fim. Excetuando-se, todavia, os solos com afloramentos rochosos e aqueles íngremes, onde a aração ou gradagem não se aplicam. 20 Neste aspecto, em se tratando das microrregiões paraibanas “Cariri e Curimatau”, com muita freqüência, se encontram grandes plantações dessa cultura em solos dos tipos Bruno não Calcico e Litólico, solos esses cuja estrutura, em estado natural, é bastante compactada, porém, depois de mecanizados, se tornaram aptos ao cultivo dessa forrageira. No Estado de Alagoas, a palma vem sendo tradicionalmente cultivada em latossolo vermelho - escuro, podzólico vermelho-amarelo e solos escuros e pedregosos. Observa-se, deste modo, que o tipo de solo, por si só, não constitui impedimento para o cultivo de palma forrageira. Para a região de interesse do cultivo da palma a ocorrência das classes de solos relacionadas a seguir, serve como indicativo do seu uso juntamente com uma breve descrição de suas características (EMBRAPA/CNPS. Sistema brasileiro de classificação de solos. Rio de Janeiro, 1999.): 5.2.1.1. Argissolos Vermelho-Amarelos Eutróficos (Podzólicos Vermelho-Amarelos Equivalentes Eutróficos) - Classe caracterizada por solos com horizonte B textural, de profundidade média a profundos (Figura 6), bem drenados, textura média nas camadas superficiais passando a argilosa em profundidade, moderada susceptibilidade à erosão hídrica e fertilidade natural média a alta. Situam-se em relevo plano a suave ondulado e, em determinados locais, podem apresentar perfis com caráter plíntico e/ou solódico. A aptidão agrícola para agricultura de sequeiro, do conceito central desses solos, é classificada como 2 abc, ou seja, aptidão regular em qualquer nível de manejo considerado, tendo como principal restrição as características adversas do clima regional 5.2.1.2. Luvissolos Crômicos Vérticos (Brunos não Cálcicos Vérticos) - Classe caracterizada por solos pouco profundos ou rasos, com horizonte B textural pouco espesso e com cores avermelhadas (Figuras 7 e 8), bem a imperfeitamente drenados, com presença de fendas e “slickensides” na porção inferior do perfil (caráter vértico), existindo áreas onde este caráter não se manifesta. Figura 6. Argissolo com palma gigante em Bonito de Santa Fé, PB. 21É bastante freqüente a presença de calhaus e matacões cobrindo a superfície do terreno. Ocorrem normalmente em relevo suavemente ondulado e plano. Do ponto de vista químico, são eutróficos e apresentam alta disponibilidade de nutrientes para as plantas. Não obstante, para a utilização agrícola de sequeiro, em virtude da excessiva deficiência hídrica regional, foram incluídos na classe 5n, ou seja, na de terras com aptidão regular para pastagens naturais. A utilização da prática de irrigação deverá ser bastante cautelosa, pois em muitos locais, apresentam caráter solódico, ou seja, com 6 a 15% de saturação com sódio trocável nos horizontes subsuperficiais. 5.2.1.3. Neossolos Regolíticos Eutróficos (Regosolos Eutróficos) - Classe constituída de solos normalmente arenosos (Figura 9), pouco desenvolvidos, não hidromórficos, com horizontes na seqüência A e C, podendo ou não apresentar fragipan logo acima da rocha. São profundos a moderadamente profundos, porosos, moderada a excessivamente drenados. São pouco desenvolvidos, mas apresentam contato lítico em profundidade superior a 50 cm. Em conseqüência da textura grosseira predominante, estes solos possuem baixa capacidade de troca de cátions e, conseqüentemente, baixa capacidade de retenção e disponibilidade de água, características que se constituem nas suas principais limitações ao uso agrícola. Do ponto de vista da aptidão para agricultura de sequeiro foram enquadrados na classe 2 (a)b(c), ou seja, com Figura 9. Neossolo Regolítico plantado com palma em Pocinhos, PB. Figura 7. Luvissolo Crômico plantado com palma em Monteiro, PB. Figura 8. Luvissolo Crômico plantado com palma em Soledade, PB. 22 aptidão restrita para cultivos que utilizem práticas agrícolas de baixo ou alto nível tecnológico, e regular para aquelas de nível intermediário í. 5.2.1.4. Neossolos Litólicos Eutróficos (Solos Litólicos Eutróficos) - Classe caracterizada com afloramento de rocha, rasos. Ocorrem em relevo suave ondulado a plano, e, pedregoso (Figura 10) dependendo do local de ocorrência. A principal diferença para os solos dessa última classe deve- se ao fato dos solos apresentarem um horizonte nátrico, isto é, com saturação com sódio trocável superior a 15%. Normalmente são eutróficos, apresentando altos valores de soma e saturação de bases, e solódicos em virtude de apresentarem, na superfície do solo, camada com saturação com sódio trocável que atende aos requisitos desse caráter. Quanto à aptidão agrícola para cultivos de sequeiro, também foram incluídos na classe 5n, devido às características restritivas do clima regional. 5.2.2. Limpeza do terreno e preparo do solo A adaptação da área quanto ao desmatamento é igual a que se faz para as demais culturas semi-tecnificadas. Ou seja, compreende apenas desmatamento, destocamento e remoção dos materiais. Em se tratando de uma cultura permanente cuja área deve ser mecanizada, é recomendável evitarem-se áreas com declividades superiores a 5% (Costa et al., 1973), com afloramento rochoso ou com excesso de pedras superficiais soltas. Escolhida a gleba para o plantio, as operações antes de plantar incluem análises do solo e fertilização, sendo necessária à limpeza do terreno. Nesta deve ser feito a retirada da vegetação espontânea, que será encoivarada fora da área e deixar se decompor naturalmente. Nunca fazer queimadas (Figura 11) dentro da área, pois, o fogo, degrada o solo física, química e biologicamente. Figura 11. Queimadas no semi-árido. Figura 10. Neossolo Litólico plantado com palma em Pocinhos, PB. 23 Uma vez desmatada e destocada, se a área for representada por solos compactados a mesma deverá ser arada e gradeada conforme determinam as orientações técnicas, ou seja, o primeiro corte seguindo a declividade do terreno e o segundo no sentido transversal a este. Porém, se os solos apresentarem tendência arenosa duas gradagens são suficientes. O solo deve ser arado (Figura 12) a uma profundidade de 30 a 50 cm para assegurar uma boa drenagem e uma boa armazenagem de água, e erradicar as ervas daninhas que competem com as palmas forrageiras, principalmente nos primeiros estágios depois de plantadas. Adicionalmente o solo deve ser rasgado com um subsolador para melhorar a drenagem e evitar alterações em seu perfil. Em solos arenosos e livres de ervas daninhas, as operações antes de plantar podem se restringir à escavação de covas individuais ou de sulcos. Junto com a preparação do solo há uma fertilização de fundação com esterco de curral. 6. Plantio Quando se vivem períodos de invernos normais, as plantas que vão fornecer as mudas permite que as raquetes permaneçam túrgidas o ano todo, e neste caso o plantio deve ocorrer nos meses de novembro e/ou dezembro, pois se realizado nessa época, assegura que no início do inverno seguinte as plantas já estejam enraizadas, condição esta que evita o tombamento das plantas em conseqüência do impacto das primeiras chuvas e proporcionando um bom desenvolvimento inicial da plantação. A orientação da raquete deve ser no sentido Norte/Sul. Todavia, nos anos de invernos escassos, quando normalmente, as plantas matrizes atingem estágios críticos de desidratação reduzindo, portanto, a capacidade de enraizamento no solo seco, o plantio só deve ser realizado quando as raquetes readquirirem um certo teor de umidade (turgidez) (Figura 13). Pois se plantadas muito murchas na época acima referida, a tendência é que a elevada temperatura do solo elimine em definitivo a grande maioria das raquetes plantadas. Figura 13. Raquetes túrgidas, ideal para o plantio. Figura 12. Solo arado pronto para o plantio. 24 Na definição do sistema de plantio, deve ser levado em consideração a necessidade do uso da forragem a ser gerada pela palma. Quando não há palma na propriedade ou, se existe, é insuficiente para atender a demanda, recomenda-se usar sistemas de plantios adensados com vistas a alcançar uma razoável oferta de massa verde a partir de um ano de idade da cultura. Porém, quando o objetivo é gerar reservas estratégicas adicionais prevendo evitar escassezes futuras, sugerem-se adotar sistemas de plantios menos adensados. Neste caso, embora a densidade populacional por unidade de área seja menor que nos plantios adensados, os resultados finais geralmente são satisfatórios, pois graças à possibilidade de um bom manejo cultural no tocante aos tratos culturais/fitossanitários e adubação orgânica em cobertura, obtêm-se materiais de boa qualidade alem de preservar meio ambiente. Os plantios muito adensados, via de regra, impossibilitam essas ações. Neste contexto, em se tratando de palma forrageira, em que pense ser uma cultura até então pouco pesquisada, já existe uma significativa quantidade de modelos de plantio. Sobretudo, quanto a espaçamento, sistemas de arranjo e posição dos propágulos no solo. O plantio da palma geralmente é realizado no terço final do período seco (outubro a dezembro), pois quando se iniciar o período chuvoso os campos já estarão implantados, evitando- se o apodrecimento das raquetes que, plantadas na estação chuvosa, com alto teor de água e em contato com o solo úmido, apodrecem, diminuindo muito a pega devido à contaminação por fungos e bactérias. Por ocasião do plantio, a posição do artículo, que é um cladódio, também denominada pelo produtor de “raquete” ou de “folha”, pode ser inclinada ou vertical dentro da cova, com a parte cortada da articulação voltada para o solo (Figura 14) e, plantada na posição da menor largura do artículo, obedecendo à curva de nível do solo. O espaçamento depende do sistema adotado pelo produtor. Quando se pretende fazer cortes a cada dois anos e obter maior produção, pode-se optar por plantio em sulcos em espaçamento adensado (Figuras 15, 16 e 17) de 2,0 x 0,10m, ou 2,0 x 0,20m, que demandará maisadubação e capinas. Figura 14. Artículo inclinado para baixo. Figura 15. Espaçamento 2,0 x 0,20m. 25 O cultivo de palma em espaçamento adensado tem sido mais utilizado recentemente. Nesses espaçamentos, os tratos culturais e a colheita são dificultados, aumentando os gastos de mão-de-obra. Além desses aspectos, neste caso, ocorre uma maior quantidade de nutrientes extraídos do solo, considerando que em espaçamento 2,0 m x 1,0 m tem-se 5.000 plantas/ha, sendo necessário um maior cuidado com as adubações, enquanto que no espaçamento 1,0 m x 0,25 a quantidade de plantas é duas vezes menor, ou seja, 40.000 plantas/ha,.O cultivo adensado da palma, ou seja, a utilização de espaçamentos menores (2,0 x 0,10m ou 2,0 x 0,20m) tem sido recentemente usados como forma de obter altas produtividades. Segundo Farias et al. (2000) utilizando espaçamentos mais adensados, pode-se alcançar maiores produções, mas os custos de estabelecimento do palmal são maiores e os tratos culturais ficam mais difíceis e não permitem consorciação com outras culturas. O emprego de espaçamentos em filas duplas, mais espaçadas, pode permitir a utilização de consórcio durante toda a vida útil do palmal, favorecendo a produção de grãos e restolhos de culturas para o produtor que optar por esse sistema, possibilitando um melhor emprego de mecanização no controle de ervas daninhas. Esse sistema também facilita a colheita e transporte, podendo também contribuir para reduzir os riscos de incêndio no palmal e controlar a erosão em áreas de cultura. Por outro lado, a consorciação da palma com outras culturas reduz a produção dessa forrageira. Esses autores puderam concluir que a maior produção de artículos de palma é obtido no espaçamento 2, 0 m x 1,0 m, e a menor, em 7,0 m x 1,0 m x 0,50 m. O número de plantas e o arranjo espacial das plantas influenciam a produtividade de sorgo granífero, sendo a maior produtividade no espaçamento 7,0 m x 1,0 m x 0,50 m. A produção de grãos de sorgo é maior na freqüência de colheita da palma de dois anos, com a conservação apenas de artículos primários. Albuquerque & Rao (1997), estudando espaçamentos em palma forrageira cultivar gigante, de 1,0 x 1,0 m; 2,0 x 1,0 m; 2,0 x 0,50 m; 2,0 x 0,67 m e 3,0 x (1,0 m Figuras 16. Plantio adensado (2,0 x 0,10m). Figuras 17. Plantio adensado (2,0x0,10m). 26 x 0,50m), verificaram que houve diferença de produção de forragem entre os espaçamentos estudados. Em trabalhos realizados pelo IPA – PE, usando a palma em consórcio com outras culturas, usou-se espaçamentos de 2,0 x 1,0m; 3,0 x 1,0 x 0,5m 7,0 x 1,0 x 0,5m. Também foram adotados espaçamentos para plantio em fileira simples de 1,0 x 0,25m e 1,0 x 0,5m. Trabalhos em andamento, conduzidos pelo Agrônomo PAULO SUASSUNA no Município de Joazeirinho - PB, todos plantados em sulco sendo, um caso em fileira simples, no espaçamento de 2,0m entre fileiras e 0,1m entre raquetes na linha, onde as raquetes foram plantadas na posição vertical, evidenciaram uma alta produção de massa verde/hectare. Um segundo arranjo espacial com o mesmo espaçamento do primeiro, porém com as raquetes intercaladas na linha; e finalmente um terceiro arranjo plantado em sulco com duas linhas de plantas no mesmo sulco, onde as raquetes contínuas se tocam lateralmente, postas no sulco, sem cobertura de terra. Como pode ser observado, ainda não existe um sistema de plantio definido para a palma forrageira. O que se observa são novas modalidades de plantio, em sulco, nos espaçamentos: 2,0 x 0,10m com palma vertical 2,0 x 0,10 x 1,0m (fila dupla) 1,50 x 0,10m com raquetes na posição vertical; 1,50 x 0,10m com raquetes na posição perpendicular e alternadas; 1,0 x 0,10m com raquetes na posição vertical; 1,0 x 0,10m com raquetes na posição perpendicular alternadas. 1,0x 0,10 x 0,50m; OBS: Nos plantios convencionais ainda predominam os espaçamentos de 1,0 x 1,0m e 1,0 x 0,5m entre linhas e covas respectivamente. 6.1. Rendimento da palma forrageira no cultivo adensado na Paraíba Tabela 1. Rendimento da palma forrageira variedade gigante no cultivo adensado na Paraíba, utilizando-se o espaçamento de 2 x 0,10m, nos municípios de Logradouro, Monteiro e Taperoá. Município Menor resultado obtido Maior resultado obtido Lograduro 240 t/ha (Palma miúda) 388 t/ha (Palma Gigante) Monteiro 364 t/ha (Palma Gigante) 378 t/ha (Palma Gigante) Taperoá 156 t/ha (Palma Gigante) 350 t/ha (Palma Gigante) Fonte: Suassuna (2007). 27 Tabela 2. Lucratividade da palma forrageira variedade gigante no cultivo adensado na Paraíba, utilizando-se o espaçamento de 2 x 0,20m, nos municípios de Logradouro, Monteiro e Taperoá. Município Produção atingida (t) N° caminhões 3/4 colhidos Valor unitário (r$) Valor total (r$) Logradouro 370 93 250,00 23.125,00 Monteiro 360 90 180,00 16.200,00 Taperoá 253 63 220,00 13.915,00 Fonte: Suassuna (2007). A palma adensada (espaçamento de 1,0 x 0,25m) vem produzindo na primeira colheita em torno de 400t MV/ha, enquanto que no plantio menos adensado (espaçamento de 1,0 x 0,5m) produziu 300t/ha e, no espaçamento de 3,5 x 1,0 x 0,5m, produziu 100t/ha, permitindo a consorciação com milho, feijão, algodão e outras culturas. A preferência e a disponibilidade de capital do produtor são fatores decisivos na escolha do sistema de plantio. Porém, em qualquer sistema utilizado, devem ser evitados os piores solos e a cultura deve ser adubada e receber os tratos culturais adequados. A palma miúda, cultivada no espaçamento de 1,0 x 0,5m e adubada com 20 t/ha de esterco bovino, produziu em torno de 75 t MV/ha/ano, o que corresponde a 9,4 t MS/ha/ano. Esta cv. é mais exigente quanto aos tratos culturais e demais condições ambientais, porém é a cv. de maior teor de matéria seca, carboidratos solúveis e digestibilidade. A produção obtida em um hectare de palma adensada (sistema onde se utiliza os espaçamentos entre fileiras e raquetes, menores que os normalmente usados pelos agricultores, ou seja, numa mesma área pode se plantar quantidade maior de raquetes) é de aproximadamente 300 toneladas a cada dois anos, o que permite alimentar, no período de seca, 30 vacas durante 180 dias com um consumo médio diário de 50 kg de palma por vaca. 7. Adubação A palma é uma planta que exige solo de qualidade para ter bom rendimento. Uma boa fonte de nutrientes, o esterco de curral, é muitas vezes desprezado por produtores que desconhecem o potencial deste adubo orgânico, capaz de duplicar a produtividade de palma por hectare. A falta de conhecimento leva muitos pecuaristas a venderem grandes quantidades do adubo orgânico para produtores de fumo e hortaliças. Considerando-se que o cultivo de palma, via de regra, se dá em regiões deficientes em chuva, e que a época convencional para o plantio corresponde ao quarto trimestre de cada ano, período seco, conclui-se que o uso de adubação química em fundação é uma medida 28 desaconselhável. Prudente é que a adubação de fundação se feita apenas com matéria orgânica (esterco de bovinos/caprino/aves e / ou bagaço de sisal). O ultimo elemento químico que pode ser aplicado nessa época, se for o caso, haja vista a sua baixa mobilidade é o fósforo. Elementos tais como nitrogênio e potássio só devem ser aplicados em cobertura, com o solo bastante úmido. Quando da adubação orgânica (Figura 18), o uso de 10 a 15 t/ha em fundação e após cada colheita, para plantios mais espaçados, e 30t/ha para plantios adensados, produzem efeitos bastante satisfatórios. A adubação pode ser orgânica e/ou mineral. Em caso de se optar pela adubaçãoorgânica, pode ser utilizado estrume bovino ou caprino, na quantidade de 10 a 30t/ha na época do plantio, e a cada dois anos, no período próximo ao início da estação chuvosa. Dependendo do espaçamento de plantio e nível de fertilidade do solo, nos plantios mais adensados usar 30 t/ha. Adubação de cobertura com adubo orgânico (Figura 19) e mineral a partir do segundo ano em diante, deve ser uma prática rotineira visando suprir os nutrientes removidos pela palma (Tabela 3) a cada colheita, onde o N, K e Ca são os elementos mais removidos. Para a adubação mineral, é necessário se proceder a uma análise do solo para uma melhor orientação quanto aos níveis a serem recomendados. Em São Bento do Una, (PE), foram obtidos aumentos da ordem de 81% na produção com 10 t de estrume de curral/ha e de 29% com a fórmula de 50, 50 e 50kg/ha de N, P2O5 e K2O, respectivamente, quando comparada com a palma não adubada. Já o calcário, na quantidade de 2t/ha, não propiciou aumento de produtividade (Santos et al., 1996). Trabalhos em andamento mostram produtividades crescentes até 600kg/ha de nitrogênio. Figuras 18. Adubação em fundação no plantio, com esterco de caprinos. Figuras 19. Adubação em cobertura com esterco de curral. 29 A Tabela 3 apresenta os valores da extração de nutrientes pela cultura da palma forrageira (Santos et al., 1990). Vale ressaltar que melhores resultados de produção têm sido observados quando se associam as adubações orgânica e mineral. O emprego da adubação orgânica (20 a 30t/ha de esterco de curral bem curtido) ou mineral (100kg de N/ha e fósforo, potássio e calcário de acordo com análise de solo) e de um espaçamento adequado podem propiciar aumentos de mais de 100% na produção de forragem. Tabela 3. Extração de nutrientes pela cultura da palma forrageira. Quantidade de nutrientes removidos (kg/ha) Produtividade (t de MS/ha/ano) N P K Ca 10 90 16 258 235 Obs: Admitindo-se teores de N, P, K e Ca de 0,9%; 0,16%; 2,58% e 2,35%, respectivamente (Santos et al., 1990). Como qualquer outra planta, a palma necessita de adubação, sendo um fator determinante na produção de matéria verde, exigindo maior quantidade quando se trata de plantio de palma adensado. Segundo Teles et al. (2002) o espaçamento de plantio da palma forrageira varia de acordo com a fertilidade do solo, quantidade de chuvas, finalidade de exploração e com o consórcio a ser utilizado. Pesquisa realizada por esses mesmos autores em telado do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal Rural de Pernambuco, utilizando vasos de 30 cm de diâmetro e 22 cm de altura, para o plantio usou-se cladódios de palma cv. gigante, tendo como tratamento: testemunha, testemunha mais nematicida, testemunha mais nitrogênio, testemunha mais fósforo, testemunha mais potássio, testemunha mais cálcio, testemunha mais magnésio, testemunha mais enxofre, solução de macronutrientes completa (SMC), SMC nitrogênio, SMC fósforo, SMC potássio, SMC cálcio, SMC magnésio, SMC enxofre. SMC mais macronutrientes e SMC mais micronutrientes mais nematicida concluíram que não houve efeito dos micronutrientes e nematicida para número total de cladódio, número de cladódio secundário, área de cladódio, índice de área de cladódio, e produção de matéria seca, no grupo dos tratamentos com solução de macronutrientes completa. De maneira geral, a fertilização promoveu aumento crescente da palma forrageira. A aplicação de nematicida Furadan não influenciou o crescimento da palma, mas diminuiu o número de nematóides de todos os espécimes. 30 8. Consorciação O consórcio com a palma pode ser feito com o milho (Figura 20), sorgo, feijão, fava, jerimum, mandioca etc., tem sido uma prática adotada pelos produtores com objetivo de viabilizar o cultivo em termos econômicos e de tratos culturais desta forrageira. Todavia, nos espaçamentos simples de 2,0 x 0,5m e 2,0 x 1,0m, recomenda-se fazer-lo no primeiro. O consórcio em fileiras duplas é o mais recomendado e poderá ser de 3,0 x 1,0 x 0,5m ou em fileiras com mais de 3m entre as filas duplas, dependendo da necessidade do produtor (Farias et al., 1986). Em pesquisa realizada em São Bento do Una, PE, durante 12 anos, Farias et al. (2000) obtiveram produções de 5,2; 4,8 e 2,9t MS/ha/ano de palma, de 1,6; 1,3 e 2,0t ha/ano de grão de sorgo e 2,1; 2,1 e 3,1t MS/ha/ano de restolho do sorgo, para os tratamentos 2,0 x 1,0m; 3,0 x 1,0 x 0,5m e 7,0 x 1,0 x 0,5m, respectivamente. Foram feitas adubações com 20t/ha de estrume de curral no ano das colheitas da palma. O espaçamento em fileiras duplas também favorece o uso de mecanização, diminuindo-se, assim, os custos de produção, além de contribuir para o controle da erosão do solo. O plantio da palma em filas duplas, nos espaçamentos de 3,0 x 1,0 x 0,5m ou 7,0 x 1,0 x 0,5m, permite a consorciação com milho, feijão, algodão e outras culturas, diminuindo os custos com tratos culturais e promovendo maior produtividade da terra e economicidade das culturas; Albuquerque & Rao (1997) observaram decréscimo na produção de palma de 24,31%, quando consorciada com feijão-de-corda (Vigna unguiculata L.) e de 42,81% quando foi consorciada com sorgo (Sorghum bicolor L.). 9. Manejo cultural O manejo cultural da palma forrageira compreende apenas capinas, adubação e cuidados fitossanitários. Estas ações variam dependendo do sistema de plantio. Para os plantios com espaçamentos superiores a 1,0m entre linhas, geralmente são feitas duas capinas no primeiro ano e a partir daí, uma capina por ano. Com relação aos plantios adensados, se o adensamento for apenas na linha, procede-se como no caso anterior, contudo, se o adensamento for total (entre linhas e nas linhas) quando muito, se fazem as capinas do primeiro ano. Neste caso, o Figura 20. Consórcio milho x palma. 31 entrelaçamento da cultura em todos os sentidos cobrindo a área total, impede quaisquer ações internas. A palma deve ser tratada como cultura, pois a mesma responde muito bem a capinas e roços. Em plantios adensados devem ser efetuadas, em média, três capinas por ano. Em São Bento do Una - PE, quando foi feita roçagem, foram obtidos aumentos acima de 100% na produção de forragem, quando comparada com a palma sem trato cultural. Em plantios tradicionais, os tratos culturais podem ser um roço no final da estação chuvosa. Em cultivos adensados, Farias et al. (1998), em trabalho conduzido em Caruaru, encontraram que os herbicidas de pré-emergência Tebuthiuron e Ametryne em uso exclusivo ou aplicado em conjunto com Simazine e o Diuron aplicado isoladamente ou com Trifluralina nas dosagens recomendadas pelos fabricantes, foram eficientes no controle de plantas daninhas. Também, não causarem efeitos adversos no número médio de brotações por planta e não deixaram resíduos no solo nem na planta. Em termos de produção o Diuron (Cention SC) proporcionou produção de 9,67 e o Ametryne (Gesapax 500) 8,74 t MS/ha de palma, enquanto que no tratamento sem tratos culturais, a produção foi de 3,03 t/ha, dois anos após o plantio (Farias et al., 2001). No Brasil, não existem produtos registrados para controle de ervas daninhas na cultura da palma. Desta forma, os resultados obtidos são válidos enquanto informações da pesquisa. Recomendações neste sentido só após o registro dos produtos citados. Os tratos culturais do palmal, por meio do roço ou capina, são essenciais para se obter um aumento de produtividade em torno de 100%. Vale ressaltar que no plantio, utilizando-se espaçamento adensado, observou-se que herbicidas de pré-emergência foram eficientes no controle de plantas daninhas sem causar efeitos fitotóxicos na cultura da palma. 10. Colheita Normalmente inicia-se a colheita com cerca de 1,5 a 2 anos ou mais dependendo do desenvolvimentoda cultura, dependerá apenas das condições do solo, clima. Posteriormente poderá ser feito o corte anual. A palma de maneira geral é colhida manualmente apesar de aumentar o custo de produção, mais é a maneira mais racional de utilização da palma. As raquetes são colhidas diariamente e fornecidos aos animais nos cochos. A utilização da palma também poderia ser por pastejo, porém promove muitas perdas por causa da presença dos animais no palmal, por isso, mesmo com o acréscimo de mão-de-obra para o corte manual fica mais viável para o produtor. Santos et al. (1998), estudando o efeito do período de armazenamento pós-colheita sobre a composição química da palma cv. gigante, observaram que 32 durante períodos de armazenamento de 0, 8 e 16 dias não ocorreram perdas aparentes de matéria- seca, proteína bruta e fibra-bruta. Também foi semelhante à produção de leite das vacas alimentadas com palma armazenadas nesses três períodos. Esses autores sugerem que maior quantidade de palma pode ser colhida, independente do uso imediato, promovendo assim uma redução no custo no corte e transporte da palma. Quando o plantio e a manutenção são feitos em padrões adequados, é possível iniciar-se a colheita quando a cultura tem entre 12 e 15 meses. A colheita convencional pode ser feita das seguintes maneiras: a) arrancando-se a planta completa; b) colhendo-se apenas parte das raquetes. O primeiro caso geralmente é usado quando se tratam de plantios muito adensados, antigos ou com sintomas acentuados de doenças. Nestes casos os palmais são totalmente arrancados e re- implantados em seguida. Porém o sistema mais comum é a colheita parcial. Por este sistema, colhem-se apenas parte da aérea copada da planta e deixa-se o tronco com algumas raquetes para propagação da cultura. Neste caso a colheita pode ser feita a partir das raquetes primárias (Figura 21 ) ou das secundárias. Estes procedimentos asseguram a próxima colheita sem a necessidade de replantio, cujo procedimento pode ser repetido por várias vezes, necessitando apenas que se proporcionem intervalos de descanso de 02 anos entre as colheitas e se promova a manutenção adequada da cultura. Em casos extremos de carência de forragem, não raro, os pequenos produtores fazem colheitas rasas em plantios jovens onde são colhidas apenas algumas das raquetes mais antigas da plantação. Resultados experimentais mostraram que a palma se beneficia, em termos de produtividade e longevidade, quando não se faz uma redução drástica da superfície fotossintetizante, ou seja, a coleta de artículos. Assim, para cultivos onde se utilizam espaçamentos menores ou se adotam culturas intercalares como feijão, sorgo, milho ou algodão, deve-se deixar todos os artículos primários (Figura 21), enquanto que, para cultivo em filas duplas, devem-se deixar todos os artículos secundários. A palma normalmente é colhida manualmente e, dependendo do espaçamento e da necessidade do criador, pode ser colhida em intervalos de dois ou quatro anos, sem perda do valor nutritivo (Farias et al., 1989). Resultados preliminares obtidos em Caruaru e Arcoverde, PE, com população de 40 mil plantas/ha, apresentaram produção de 320 t MV/ha dois anos após o plantio. Com população de 20 mil plantas (1,0 x 0,5m), a produção foi de 240 t MV/ha e, com 5 mil (2,0 x 1,0m), de 104t MV/ha, a cada dois anos. Em cultivo com fileiras duplas de 3,0 x 1,0 x 0,5m, consorciada com sorgo, a produção de palma foi de 100 t MV/ha. Além disso, nesse sistema foram obtidas produções de 1,3 e 2,1t MS/ha/ano de grãos e restolhos de sorgo, respectivamente. Vale ressaltar que neste sistema ocorre uma redução das culturas consorciadas, 33 em relação ao cultivo isolado. Mas por outro lado ocorre ganho no índice de produtividade da terra (Farias et al., 1986). Os sistemas de plantio nos espaçamentos 2,0 x 1,0 m e 3,0 x 1,0 x 0,5m permitem colheitas a cada quatro anos, com produções duas vezes superiores às colheitas a cada dois anos, quando são conservados apenas os artículos primários (Farias et al., 1989). Em colheitas anuais, com a cultivar miúda, tem-se obtido uma produção média de 10,6t MS/ha/ano e 77,8t MV/ha/ano, adubada com 20t de estrume de curral/ha/ano e com população de 20 mil plantas/ha. Esperam-se produções maiores nas colheitas subseqüentes devido a um maior número de artículos primários ou secundários distribuídos nas plantas (Santos et al., 1998a). A palma, após a colheita, pode ser utilizada de imediato ou mantida à sombra até 16 dias, para ser fornecida aos animais, sem que haja perda do valor nutritivo (Santos et al., 1998b). A palma, depois de colhida, pode ser armazenada à sombra por um período de até 16 dias, sem perda do valor nutritivo e comprometimento da produção de leite, o que pode representar uma redução dos custos com colheita e transporte. A freqüência de corte, a cada quatro anos, do palmal plantado em espaçamentos de dois ou mais metros entre filas, deve ser considerada uma importante estratégia de convívio com o semi-árido, pois a palma acumula a produção com persistência do valor nutritivo. Figura 21. Colheita deixando o artículo primário. 34 CAPÍTULO II PRAGAS DA PALMA Edson Batista Lopes Jacinto de Luna Batista Carlos Henrique de Brito Djalma Cordeiro dos Santos 1. Introdução Cultivada em áreas com acentuado nível de pobreza nos Estados nordestinos a palma forrageira tem grande importância sócio-econômica para a região do semi-árido, onde, nos longos períodos de estiagem, serve de alimentação dos rebanhos, sobretudo em pequenas propriedades, notadamente na agricultura familiar. Além de servir como alimentação animal, também é utilizada na alimentação humana, a exemplo dos habitantes da região da Chapada Diamantina, BA, com grande valor nutricional, rica em vitamina A, ferro e cálcio, inclusive com propriedades medicinais que vêm sendo pesquisadas. As populações de insetos/animais causam danos diretos ou indiretos às plantas da palma forrageira, quando fatores climáticos ou condições específicas do agroecossistema favorecem o crescimento destas populações, e aí sim, elas passam a causar danos econômicos que, para serem evitados, necessitam do uso de medidas de controle. A forma mais eficiente e econômica de prevenir os danos causados por insetos e ácaros é através do monitoramento da cultura, de modo que as populações possam ser detectadas no seu início. Isto pode ser feito através da determinação direta do número de insetos sobre as plantas ou de seus danos sobre estas, ou através de outros meios como a utilização de armadilhas. De posse destas informações e outras sobre a biologia e ecologia das espécies pode-se estimar com bom nível de precisão as épocas mais favoráveis para sua ocorrência, freqüência e densidade populacional, tipo e importância econômica dos danos causados. Ainda que predomine nos sistemas de produção atuais o controle químico, através da aplicação de inseticidas e acaricidas e seja o método empregado mais freqüentemente, observa-se que na maioria das vezes esta prática é desnecessária e, portanto antieconômica e danosa ao homem, animais domésticos e ao meio-ambiente. Diversos insetos ocorrem sobre a palma forrageira, tais como besouros (Coleoptera), 35 formigas (Hymenoptera), gafanhotos (Orthoptera), lagartas (Lepidoptera), tripes (Thysanoptera), etc., porém o que realmente constituem pragas da palma no Nordeste do Brasil são as cochonilhas do carmim (Dactylopius opuntiae Cockerell) e de escama (Diaspis echinocacti Bouché, 1833) (Hemiptera, Diaspididae), conhecida vulgarmente por escama, piolho ou mofo da palma. 2. Cochonilha-do-carmim (Dactylopius opuntiae) É a principal praga da palma forrageira no semi-árido nordestino. A cochonilha do carmim foi importada pelo Estado de Pernambuco visando à obtenção do
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