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RESENHA América Latina e o giro decolonial - Luciana Ballestrin

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Resenha do artigo “América Latina e o giro decolonial”
Disciplina: Teoria de Relações Internacionais II - Turma PPGRI 2019
Tema: Colonialidade 
Aluna: Bianca Petermann Stoeckl
Em América Latina e o giro decolonial, Luciana Ballestrin propõe a radicalização do argumento pós-colonial na América-Latina por meio da noção de “giro decolonial” a partir do pensamento de intelectuais do Grupo Modernidade/Colonialidade(M/C).
Inicialmente, traçam-se dois entendimentos da origem do termo “pós-colonialismo”. O primeiro refere-se a ideia de emancipação das sociedades do “terceiro mundo” exploradas pelo imperialismo e pelo neocolonialismo a partir da metade do século XX. O segundo trata de contribuições teóricas de estudos literários e culturais que se tornaram relevantes em universidades do Estados Unidos e Inglaterra a partir dos anos 80. 
Sob os argumentos de Costa sobre o pós-colonialismo, a autora observa que as situações de opressão e exploração não ocorrem exclusivamente em razão do colonialismo, ainda que possam ser reforçadas ou ser indiretamente reproduzidas por ele. Também contesta a omissão do autor sobre a noção da institucionalização do pós-colonialismo como corrente ser posterior aos pensadores pós-coloniais e sobre o fato que o pós-colonialismo surgiu a partir da identificação de uma relação antagônica, denominada de diferença colonial por Mignolo (2003) - a do colonizado e a do colonizador, impedindo a constituição de identidades plenas, como observado por Fanon, em 1961. Diante disso, o argumento pós-colonial intercedeu sobre o colonizado, comprometido com a superação das relações de colonização, colonialismo e colonialidade, e sua legitimidade não deveria ser prerrogativa de autores colonizados. 
A autora apresenta o movimento do Grupo de Estudos Subalternos, com origem no sul da Ásia e formado por autores como Partha Chatterjee, Dipesh Chakrabarty e Gayatri Chakrabarty Spivak, que acabou por reforçar o pós-colonialismo como um movimento epistêmico, intelectual e político, expandindo seus estudos subalternos para outros continentes e que se aproximaram das correntes pós-modernas e pós-estruturalistas. Em 1980, o debate pós-colonial foi difundido na Inglaterra e nos Estados Unidos. As lógicas coloniais modernas passam a ser relacionadas à cultura, identidade (classe/etnia/gênero), migração e diáspora, convergindo com estudos pós-coloniais. Inserido nesse debate, em 1990 é fundado o Grupo Latino-Americano dos Estudos Subalternos, que, devido à divergências teóricas entre seus componentes, se dissolveu. 
A autora resume que ambos os grupos de estudos subalternos não aprofundaram sua crítica ao eurocentrismo, provavelmente influenciados por pensadores ocidentais. 
A partir daí, é apresentado o Grupo Modernidade/Colonialidade que teve origem a partir de intelectuais com pensamento crítico latino-americano do século XX e do qual são apresentados conceitos chaves relativamente originais de seus estudos sobre colonialismo.
A colonialidade do poder é um conceito desenvolvido originalmente por Aníbal Quijano, que designa um processo fundamental de estruturação do sistema-mundo moderno/colonial, que articula os lugares periféricos da divisão internacional do trabalho com a hierarquia étnico-racial global e com a inscrição de migrantes do Terceiro Mundo na hierarquia étnico-racial das cidades metropolitanas globais (Grosfoguel, 2008, p. 126). É uma estrutura que está vinculada ao controle da economia, ao controle da autoridade, ao controle da natureza, ao controle do gênero e sexualidade e ao controle da subjetividade e do conhecimento (Mignolo, 2010). 
A colonialidade é condição para a modernidade, por estar “intrinsecamente associada à experiência colonial”. Para Dussel, Mignolo, Quijano e Wallerstein o fundamento da modernidade/colonialidade está no descobrimento e na invenção da América, que coloca noção da diferença colonial a partir da noção de sistema-mundo. 
Outro problema fundamental para o Grupo M/C é a colonialidade do saber, que Mignolo (2002) chamou de “diferença colonial e geopolítica do conhecimento”, a qual é influenciada diretamente pelo eurocentrismo, isto é, segundo Quijano (2005) , formada a partir de uma perspectiva de conhecimento cuja elaboração sistemática tem início na Europa Ocidental e que ao longo dos anos se tornou hegemônica associada ao pensamento burguês e às necessidades padrão mundial de poder capitalista, colonial/moderno, eurocentrado, estabelecido a partir da América. A diferença colonial epistêmica é cúmplice do universalismo, sexismo e racismo. A grande sacada do grupo M/C foi o movimento de descobrimento e de revalorização das teorias e epistemologias do sul por meio de outros paradigmas, como uma nova roupagem. 
Finalmente, a abordagem do giro decolonial, contrapondo o argumento pós-colonial, significa o movimento de resistência teórico e prático, político e epistemológico, à lógica da modernidade/colonialidade, pensamento emergente especialmente por um movimento latino-americano. Para o Grupo M/C a decolonização, apesar de ter influência, difere do pós-colonialismo pelas diferentes experiências envolvendo diversas dimensões relacionadas com a colonialidade do ser, saber e poder. Traz consigo o contexto de que é preciso decolonizar os próprios estudos pós-coloniais e subalternos. 
Ballestrin sintetiza essa ideia citando outros autores
O processo de decolonização [...] pode ser lido como contraponto e resposta à tendência histórica da divisão de trabalho no âmbito das ciências sociais (Alatas, 2003), na qual o Sul Global fornece experiências, enquanto o Norte Global as teoriza e as aplica (Connell, 2012).
O artigo traz as contribuições do Grupo Modernidade/Colonialidade a análise e interpretação dos processos de modernidade/colonialidade/decolonialidade, que pode ser provocativa sob o ponto de vista das ciências sociais clássicas, já que consiste em uma revisão do que é considerado clássico. A autora destaca uma problemática que não povoa o imaginário pós-colonial e decolonial do Grupo Modernidade/Colonialidade é a discussão sobre e com o Brasil, o que mereceria atenção pela experiência de colonização duradoura portuguesa, diferente dos demais países latino-americanos. Também aponta para a ausência de elaboração e preocupação com a teoria democrática no espectro da modernidade/colonialidade.
Referência Bibliográfica:
Ballestrin, Luciana (2013) “América Latina e o Giro Decolonial” Revista Brasileira de Ciência Política 11 (maio-agosto), 89-117.

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