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0 CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DE BOM DESPACHO CURSO PEDAGOGIA ALICE APARECIDA JESUS TIBEIRO AMANDA MARIANA CORREIA LOPES FABIANA BÁRBARA DE OLIVEIRA FREITAS BATISTA SAMARA RODRIGUES BATISTA EDUCAÇÃO PATRIMONIAL E RELAÇÕES ETNICO-RACIAIS NA ESCOLA BOM DESPACHO 2017 1 ALICE APARECIDA JESUS TIBEIRO AMANDA MARIANA CORREIA LOPES FABIANA BÁRBARA DE OLIVEIRA FREITAS BATISTA SAMARA RODRIGUES BATISTA EDUCAÇÃO PATRIMONIAL E RELAÇÕES ETNICO-RACIAIS NA ESCOLA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Pedagogia do Centro Universitário Una de Bom Despacho, como requisito parcial para obtenção do título de Licenciado em Pedagogia. Orientadora: Prof.ª Tânia Maria Teixeira Nakamura BOM DESPACHO 2017 2 ALICE APARECIDA JESUS TIBEIRO AMANDA MARIANA CORREIA LOPES FABIANA BÁRBARA DE OLIVEIRA FREITAS BATISTA SAMARA RODRIGUES BATISTA A EDUCAÇÃO NO SISTEMA PRISIONAL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Pedagogia Centro Universitário Una de Bom Despacho, como requisito parcial para obtenção do título de Licenciado em Pedagogia. Aprovado em: ____/____/____ BANCA EXAMINADORA ____________________________________________________________ Orientadora: Prof.ª Tânia Maria Teixeira Nakamura Centro Universitário Una de Bom Despacho ____________________________________________________________ Avaliadora: Prof.ª Cristiane Aparecida de Oliveira Fidélis Centro Universitário Una de Bom Despacho ____________________________________________________________ Avaliador: Prof. José Valdir de Sousa Junior Centro Universitário Una de Bom Despacho 3 Dedicamos aos nossos pais, maridos, filhos e futuros educandos. 4 AGRADECIMENTOS Agradecemos primeiramente a Deus, que nos deu força e benefícios financeiros para concluirmos nosso curso de Pedagogia. Aos nossos pais, que estiveram ao nosso lado, nos incentivando todos estes anos. Ao marido, namorado, pela paciência e ajuda no que foi preciso. Aos parentes, que torceram por nós. Agradecemos a Universidade UNA- Bom Despacho, por estar sempre preocupados em melhorar suas dependências, para nos atender em nossos estudos. Um agradecimento especial à nossa professora Tânia Nakamura, por suas contribuições didáticas, que tanto nos beneficiaram com sua valiosa sabedoria; sendo nossa orientadora e amiga deste trabalho. Poderíamos dizer que nossa formação profissional, não teria sido a mesma. Agradecemos a banca examinadora pela apreciação do trabalho apresentado. Agradecemos também, a todos os demais professores que tivemos nestes quatro anos do curso de Pedagogia, obrigada pelas contribuições acadêmicas. Às novas amizades que fizemos, e conquistamos durante este curso, levaremos para o resto de nossas vidas. Enfim, agradecemos a todas as pessoas que direta ou indiretamente, contribuíram e fizeram parte dessa etapa decisiva em nossas vidas. 5 RESUMO: Os focos centrais de estudo foram às relações raciais, educação patrimonial e as práticas educativas de professores, especificamente dentro da realidade sócio-educacional de escola pública no município de Boa Vista. Foram entrevistados professores para saber como se dão as relações étnico-raciais e educação patrimonial na escola. A pesquisa evidenciou que a lei 10.639/03 é pouco conhecida e não está sendo colocada em prática pelos professores desta escola. Evidenciamos a sua importância para contribuir na problematização das relações raciais e apontar nova caminhos para diminuir as grandes diferenças sociais existentes no interior das escolas de todo o Brasil. Palavras-chave: relações étnico-raciais, educação Patrimonial, lei 10.639/03, práticas pedagógicas. ABSTRACT: The central focus of this study was on race relations, patrimonial education and the educational practices of teachers, specifically within the socio- educational reality of a public school in the city of Boa Vista. Teachers were interviewed to find out how ethnic-racial relations and heritage education are treated in the school. The research showed that the 10.639 / 03 law is little known and is not being put into practice by the teachers of this school. We highlight its importance to contribute to the study on race relations and to seek new ways to reduce the great social differences existing within schools throughout Brazil. Keywords: ethnic-racial relations, Patrimonial education, Law 10.639 / 03, pedagogical practices. 6 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 6 1 BOA VISTA DE MINAS E SUA HISTÓRIA ....................................................... 8 1.2 contando causos ............................................................................................ 9 1.3 contos do Sr Pedro Venâncio da Silva ........................................................... 9 2 EDUCAÇÃO FORMA E EDUCAÇÃO NÃO FORMAL ..................................... 10 3 EDUCAÇÃO PATRIMONIAL ........................................................................... 12 3.1 Como trabalhar educação patrimonial em sala de aula .............................. 16 4 RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS NA ESCOLA ................................................. 17 4.1 Alguns conceitos importantes sobre relações étnicos raciais .................... 19 4.1.1 Identidade ......................................................................................... 19 4.1.2 Identidade negra............................................................................... 20 4.1.3 Raça ................................................................................................ 20 4.1.4 Racismo ........................................................................................... 21 4.2 Relações étnico-raciais no ensino fundamental ....................................... 21 5 RESULTADOS, ANÁLISE DOS DADOS E DISCUSSÃO ............................... 27 5.1 Dados da instituição .................................................................................. 27 5.2 Visita e observação da organização escolar ............................................ 28 5.3 Analise dos dados e discussão dos resultados ......................................... 29 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 34 REFERÊNCIAS ................................................................................................... 35 ANEXO ................................................................................................................ 37 6 INTRODUÇÃO Atualmente a educação brasileira está muito defasada quando o assunto é educação patrimonial e relações étnicas raciais. Nos cenários das escolas nacionais um dos grandes problemas que acontecem é a falta do incentivo à valorização de patrimônios materiais e imateriais e a inclusão do trabalho com relações étnicas raciais. A educação patrimonial se baseia em levar os alunos a ter o interesse, através do conhecimento dos bens materiais e imateriais existentes. Visando que os conhecimentos dos mesmos tornaram os alunos sujeitos mais abertos a novas experiências e tendo mais respeito com lugares e culturas. O presente trabalho aborda a Educação Patrimonial e as Relações Étnicas Raciais presentes na Escola José Antônio de Lacerda. Busca analisar qual o sentido e a importânciada Educação Patrimonial no currículo escolar, sabendo que através da educação desses temas o professor introduz conhecimentos e valores necessários para se viver em uma sociedade. A Educação é direito de todos garantido pela Constituição Federal de 1988, sendo que ela traz uma legislação que reforça para as escolas a importância do trabalho da cultura local, da história africana e a valorização da identidade das crianças para uma formação de cidadãos sem preconceitos e de consciência social. Esta pesquisa vem abrindo espaço para a reflexão sobre a educação patrimonial e sua importância, pois é a partir da mesma que se é possível aprender a valorizar os bens locais, ressaltando sempre a educação patrimonial enquanto uma relação de resgate à memória e ao bem cultural. A cultura de Boa Vista traz muitos traços da cultura negra, como a tradicional festa de reinado, benzições, o cemitério de escravos que ainda existe no mesmo local. Porém, a população juntamente com o corpo docente desconhece a importância da cultura. Ressaltando que Alice Aparecida Jesus Ribeiro é residente do bairro e tem sua descendência negra pertencente do lugar, participa do reinado e trás consigo todos os traços culturais que existem em Boa Vista, partindo também no propósito de forma pessoal este campo de pesquisa foi escolhido pela discente e suas colegas. 7 O presente trabalho objetiva promover a valorização da origem de Boa Vista, relacionando educação étnico-racial e Patrimônio com intuito de investigar a importância da educação patrimonial no contexto escolar. A metodologia do trabalho se baseia na maneira de que a Escola José Antônio de Lacerda se relaciona e trabalha a cultura negra local, analisando como o tema é abordado dentro da instituição, por alunos e professores. Para conquistar tais resultados foram feitas visitas a escola e aplicação de questionário ao corpo docente. A pesquisa traduz em números, opiniões e informações para classificá- los e organizá-los. Utiliza métodos estatísticos, tendo caráter exploratório e considera a existência de uma relação dinâmica entre mundo real e sujeito. É descritiva e utiliza o método indutivo. O processo é o foco principal e busca através deste processo uma compreensão detalhada do que está sendo pesquisado. O mesmo está dividido em cinco capítulos que abordam em primeiro a Boa Vista De Minas Sua História, descrevendo algumas curiosidades da comunidade e sua população, um pouco da cultura e da história da comunidade; Educação Formal e Educação Não Formal que aponta o que é a educação e como se pode abordar a educação; Educação Patrimonial o que é, como realizar e a forma de se aplicar; Relações Étnicas Raciais nas Escolas, como são as relações dos alunos na escola e como o tema é abordado; Análise Dos Resultados que vem apontar a pesquisa realizada e os apontamentos levantados com os resultados 8 1. BOA VISTA DE MINAS E SUA HISTÓRIA Segundo Freitas 2002, “o documento mais antigo que cita explicitamente, Boa Vista tem a data de 4 e agosto de 1746. Trata-se de uma certidão de nascimento. Portanto, as regiões hoje denominadas Boa Vista Campo Alegre e Estação Cercado estavam inóspitas, até aquele nascimento de Ana Maria de Siqueira, certidão esta que serviu para compor a documentação de sua maioridade e da licença para usufruir da herança materna e paterna”. As únicas fontes que encontramos para se pensar na origem de Boa Vista eram documentos ou testamentos e até mesmo inventários. Ainda segundo Freitas 2002, “em 1809, por ocasião do falecimento de Lauriana Maria Clara, a segunda das três esposas de José Correia de Melo, no seu inventário de partilha constava terras situadas no Mato Dentro e na Barra do Macuco, assim descrita...” Uma fazenda de agricultura e campos denominada Mato Dentro que parte o quilombo com Domingos da Costa ou seus herdeiros e com Manoel Antônio Teixeira e com a Boa Vista com suas casas de vivendas cobertas de telhas que sendo vistas e examinadas por eles avaliadores. (FREITAS,2002, p112). Boa Vista foi presenteada com uma grande obra do estilo Barroco, feita por Antônio Francisco Lisboa que era mais conhecido como “Aleijadinho”, pois ele tinha uma deficiência física. Segundo o pessoal antigo que viveu em Boa Vista o Aleijadinho que teria ajudado na Construção da Igrejinha. Conta-se também a história de um fazendeiro muito rico que morava em Ouro Preto, apaixonou-se por uma escrava e fugiu vindo hospedar-se em Boa Vista. Este fazendeiro era amigo de Aleijadinho e o altar da igreja foi doado pelo fazendeiro. O altar foi esculpido na madeira, com todas as características do Barroco. O povo de Boa Vista de Minas, preserva até hoje a tradição católica. Outras religiões são cultivadas por alguns moradores, como a evangélica, porém a maioria são de católicos. A cultura de Boa Vista traz muitos traços da cultura negra, como o congado, as benzições, a ida ao cemitério de escravos que até hoje existe no lugar e a tradicional festa de reinado que envolve toda comunidade numa festa 9 de tradição e cultura negra, mas que por ser desta cultura muitos desconhecem sua origem. 1.2 Contando causos Como Boa Vista é uma comunidade ainda pequena e mais afastada, é um lugar que as pessoas conservam as tradições de contar causos e lendas. Valorizar patrimônios e manifestações culturais é de extrema importância dar valor a essa forma de expressão, e reforçar cada vez mais que muitas vezes o patrimônio de um lugar é aquele que é cantado, dançado ou até mesmo contado. 1.3 Contos do Sr. Pedro Venâncio da Silva O Sr. Pedro Venâncio da Silva, nascido e criado no Brejo, Sítio de Varginha, era homem honesto, calmo e pai de seis filhos, quatro homens e duas mulheres. Casou-se duas vezes e todos eram filhos do primeiro casamento. Era considerado o “benzedor” da região. Bastante religioso, foi presidente da Conferência de São Vicente de Paulo. Preocupado em apresentar-se sempre bem, usava terno de brim amarelo e sempre usava chapéu. Morreu em 1979, com noventa anos de morte natural, em sua própria casa. “Conta-se que o Sr. Pedrinho Venâncio, como era chamado, foi picado de cobra por mais de vinte vezes sem que nada lhe acontecesse. Certa vez, ele estava sentado numa roda de amigos na porta da antiga escola, atrás da igreja, quando apareceu uma cobra. Ele pediu aos amigos que a matasse porque ela iria picá-lo, mas os amigos não deram crédito e a cobra foi se aproximando dele e ele, imóvel, quando viu que ninguém ia matá-la, ele próprio, apontou o dedo para a cobra e disse: - “É bichinha, você me segue há muitos dias!” Dizem que a cobra morreu ali mesmo, sem que ninguém tocasse nela. “Os moradores contam até hoje a história do homem que matou a cobra com o dedo...” 10 Nota: Esta história foi contada pelo Sr. Celmo, neto mais velho do Sr. Pedrinho Venâncio. Em 1950, o Sr. Celmo morava com sua família em Várzea da Varginha. A casa era feita de pau-a-pique, coberta de telha cumbuca. Cozinhava-se em fogão a lenha feita de cupim e barro branco. No quintal, ao lado da casa havia uma árvore de “birosca” que foi cultivada pela família. Esta árvore tem mais de cinquenta anos e ainda está lá até hoje. Sr. Celmo hoje é motorista e transportam os alunos da zona rural para a Escola Municipal José Antônio de Lacerda e outras escolas de Nova Serrana. 2. EDUCAÇÃO FORMAL E EDUCAÇÃO NÃO FORMAL Iremos falar neste capítulo, sobre duas das três modalidades de educação: Educação Formal, e Educação Não Formal. Com o intuito de entender a presença e a influência delas na sociedade para mudar o mundo; acreditando assim, que a Educação é o caminho, pois está presente em todos os momentos da vida. De acordo com a Lei n° 9394/96, Art. 1º A educação abrange os processos formativosque se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. § 1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias. § 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social. Segundo José Carlos Libâneo, as práticas educativas não se restringem à escola ou à família, estas ocorrem em todo o a existência humana individual ou social, institucionalizado ou não, em várias modalidades. 11 Maria Lúcia de Arruda Aranha destaca que o espaço familiar modela a primeira educação dos filhos: fornecem valores que moldam o comportamento dos filhos, antes educação formal Segundo a professora Maria da Glória Gohn, Um dos supostos básicos da educação não-formal é o de que a aprendizagem se dá por meio da prática social. É a experiência das pessoas em trabalho coletivo que gera um aprendizado. A produção de conhecimentos ocorre não pela absorção de conteúdos previamente sistematizados, objetivando ser apreendidos, mas o conhecimento é gerado por meio da vivencia de certas situações- problema. As ações interativas entre os indivíduos são fundamentais para a aquisição de novos saberes, e essas ações ocorrem fundamentalmente no plano da comunicação verbal, oral, carregadas de todo conjunto de representações e tradições culturais que as expressões orais contêm. A maior importância da educação não- formal está na possibilidade de criação de novos conhecimentos, ou seja, a criatividade humana passa pela educação não-formal. O agir comunicativo dos indivíduos, voltado para o entendimento dos fatos e fenômenos sociais cotidianos, baseia-se em convicções práticas, muitas delas advindas da moral, elaboradas a partir das experiências anteriores, segundo as tradições culturais e as condições histórico- sociais de determinado tempo e lugar. “O conjunto desses elementos fornece o amálgama para a geração de solução nova, construída em face dos problemas que dia-a-dia coloca nas ações dos homens e das mulheres”. (GOHN 2006) Maria Lúcia de Arruda Aranha destaca que A Escola Formal não existiu desde sempre tal como nós a conhecemos hoje. Ela começou a se institucionalizar na Idade Moderna, pressionada pela passagem do modelo econômico e social do feudalismo para o capitalismo burguês e também devido à atuação das igrejas católica e protestante. Desde a sua implantação, com raras exceções, o que predominou foi o elitismo, a exclusão da maior parte da população, que, quando tem acesso à escola, não recebe o mesmo tipo de educação. “Embora no século XX a frequência na escola tenha se ampliado significativamente, em muitos países ainda não foi alcançada a sua universalização”. (ARANHA, 2006) De acordo com Gohn (2006) as características da Educação Não-Formal seriam o aprendizado quanto às diferenças, aprende-se a conviver com os demais: socializa-se o respeito mútuo; através da Educação Não-Formal, se faz um trabalho de adaptação do grupo a diferentes culturas trabalhando a diversidade, construindo a identidade coletiva de um grupo, através das regras 12 fundamentadas na ética, da conduta social. Assim se faz uma educação para os Direitos Humanos, Sociais, Políticos e Culturais. Notemos que a escola só se compreende inserida no contexto social e econômico: ao se exigir mudanças na escola refletem mudanças na própria sociedade: nenhuma reforma educacional é “apenas técnica”: Existem posições políticas e interesses de grupos e instituições. A escola adquire, portanto um papel de mediadora entre as novas gerações e a cultura acumulada, diante de uma sociedade cada vez mais complexa. 3. EDUCAÇÃO PATRIMONIAL Neste capítulo iremos falar da importância e o que é Educação Patrimonial, mas para se ter essa compreensão primeira tem que conhecer o que é Patrimônio que segundo a nossa compreensão vai além do que entendemos até o momento. Art. 216. Constitui patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I - as formas de expressão; I - as formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. (CONSTITUIÇÃO 1988 Art. 216) Esse artigo vem complementar os dados inseridos no DECRETO LEI n°25/37 que abrange além dos bens materiais e naturais como os sítios históricos e arqueológicos assim como os bens imateriais como toda a forma de manifestação artístico-cultural, patrimônios arquitetônicos e bens naturais, abrangendo assim muito além daquilo que se pode tocar, mas se pode sentir, toda a forma de cultura religiosa, artística, manifestada. Então se compreende que patrimônio é toda a herança, bens materiais ou manifestações que um indivíduo sociedade ou grupo é capaz de produzir e a preservação desse patrimônio é de cunho individual e governamental 13 cabendo assim pelas legislações vigentes decretos a sua preservação, assim como a punição do não comprimento dessa preservação ou degradação, mas pode-se por meio da Educação Patrimonial levar a uma forma mais eficiente de preservação da cultura e portando da identidade de cada indivíduo sociedade regional e nacional pela pluralidade que temos em nosso território dessas formas culturais. A educação Patrimonial vem conscientizar e trazer a participação das pessoas (escola, professores alunos e a comunidade) e seu envolvimento na preservação de seus bens culturais e materiais. Essa preservação do sítio encontrado em Boa Vista que até o momento é muito pouco realizada, ou de nenhuma forma, degradando a cada dia ainda mais os bens por lá encontrados. A Educação Patrimonial é uma proposta interdisciplinar de ensino voltada para questões pertinentes ao patrimônio ambiental/cultural. “Pode ser aplicada em comunidades próximas a patrimônios reconhecidos, como sítios arqueológicos, assim como em escolas com o objetivo de sensibilização sobre a importância do reconhecimento da valorização e da conservação do patrimônio da região.” (Educação Patrimonial: Um Recurso Para Alfabetização Cultural No Ensino Fundamental, 2009, p. 92) O processo educativo tem como objetivo levar os alunos a aquisição de conceitos e habilidades assim como uso na prática cotidiana desses conceitos para a resolução de problemas, assim como novas indagações que levarão a novos conceitos e habilidades e assim um círculo de conhecimento que sempre gira no sentido em que o aluno aponta suas inquietações. A Educação Patrimonial consiste em provocar situações de aprendizado sobre o processo cultural e seus produtos e manifestações, que despertem nos alunos o interesse em resolver questões significativas para sua própria vida, pessoais e coletivas. (Guia Básico Da Educação Patrimonial P6 HORTA, MARI DE LOURDES PARREIRAS E CUSTÓDIO, LUIZ ANTÔNIO BOLCATO) A educação Patrimonial tem como um de seus objetivos levarem os alunos a questionarem no passado a herança deixada, a solução de um problema no passado deixou consequências no seu presente, a visão crítica desse passado, do problema e da resolução desse problema no passado pode trazer a nova visão de problemas encontrados no presente. 14 A Educação Patrimonial vêm conscientizar a importância dessa preservação de bens materiais ali encontrados, pois nos estudos desses bens pode-se encontrara história do passado e nesse passado a identidade de jovens que buscam por um futuro. Trazendo do respeito ao passado e o que ele representa a sua compreensão melhorada do futuro. Respeitando a cultura de suas avós, por exemplo, não se abre mão da tecnologia apresentada hoje, mas se conhecem a sua origem, a cultura de sua família e as origens de seus hábitos e culturas, a sua culinária, os seus dotes artísticos, de onde vem o seu vocábulo e os termos que usa. O contemporâneo que respeita o seu passado conhece e valoriza a si mesmo e aos outros. Essa conscientização pode ser trabalhada em sala de aula de amplas formas já que nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) vem se falando sobre o estudo do Patrimônio Cultural como um tema transversal que pode ser trabalhado em projetos de dois dos seus temas propostos, Meio ambiente e Pluralidade Cultural. Podendo ser incorporado em amplas disciplinas. No que se refere a Educação podemos verificar que os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) revelam a importância de uma educação que dê direito a memória como dimensão fundamental da cidadania, o que nos remete a valorizar o currículo como facilitador e promotor de uma educação cidadã (Educação Patrimonial: Um Desafio Constante: OLIVEIRA LIÉLIA BARBOSA; OLIVEIRA THOMAS BRUNO 2011, p42) Sendo assim podem-se fazer diversas formas para trabalhar a Educação Patrimonial dentro das salas de aulas, envolvendo todas as disciplinas desde matemática, portuguesa geografia ciências e todas as demais de forma a trabalhar com os alunos as suas identidades, os antepassados que ali viveram, como preservar o seu patrimônio cultural. Vemos em estudos, para elaboração desse trabalho, artigos que contam com o sucesso dos estudos para conscientizar e participação de toda a comunidade, como exemplo o projeto “A Pré-História dos Homens contada por meio dos Objetos”, em 2007 e esse projeto traz o estudo de 15 sítios arqueológicos localizados no Município de Iepê. E nesse projeto vê-se o êxito da Educação patrimonial onde professores com apoio da prefeitura e de órgãos governamentais através de verbas apóiam o projeto. 15 Nesse contexto pretende-se o apoio além da prefeitura com ajuda financeira, de transporte no que diz respeito às especializações para profissionais que atuam no campo, pois para se ter uma EDUCAÇÃO de qualidade necessita primeiro capacitar os seus professores para que possam conduzir os seus alunos e a comunidade ao conhecimento de qualidade. Investir em cursos, palestras, capacitações e esclarecimentos a toda a comunidade e aos docentes. Podem-se promover em amplitude as aulas práticas com o manuseio de produtos dessa cultura material, oficinas que ensinam a sua fabricação, como visitação aos seus sítios (como a igreja do município que contém obras do artista Aleijadinho). Para haver uma preservação patrimonial ou a não degradação do mesmo deve ter uma educação popular ou de massa, que começa pela educação básica abrangendo a comunidade por meios de panfletos educativos, mas principalmente nas escolas que promovam a integração da comunidade e que delas saiam pessoas conscientes da preservação do patrimônio da identidade. Essa Educação garantida pela Lei de Diretrizes (LDB) firmada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) vem enfatizar a obrigação dessa realização de educação patrimonial que valorize os bens materiais e culturais regionais. E que possa assim proteger a sua cultura e identidade local. O Sítio Histórico de Boa Vista não foi tombado ainda como Patrimônio Cultural e Material portando ainda não está sobre proteção do Decreto de n°25 de 30 de novembro de 1937 que consiste em: Constitui o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico (DECRETO LEI n°25/37) Esse fato vem dificultar ainda mais os trabalhos com relação a informações sobre o local, a educação patrimonial, pois poderiam ter projetos que auxiliassem na conservação dos bens que poderiam receber recursos e apoios de órgãos federais para facilitar a sua preservação e ainda a disseminação da sua cultura, pois apesar de fazer parte da comunidade ali 16 presente grande maioria população não tem o conhecimento real da sua importância histórica. 3. 1 Como trabalhar educação patrimonial em sala de aula Comece com o planejamento escolhendo um tema e observando se vai se ratar de atividade ou projeto, patrimônios podem ser palpáveis, aquilo que as crianças podem ver tocar e sentir, como um patrimônio arquitetônico, um objeto de uso cotidiano dos seus antepassados como um vaso encontrado num sítio, ou podem ser também as manifestações culturais locais, como no caso da Boa Vista onde a herança de congado é muito forte, pode-se pedir um estudo mais aprofundado do assunto. Manifestações culturais, como dança, culinária, reinado, congado, folia de reis, festa junina também deve ser trabalhada e com uma particularidade, pois a maioria dos alunos não vêem essas manifestações como bens históricos, apenas como manifestações ou festas e vão perdendo o interesse ao longo do tempo. Estas manifestações já vêm deixando de ter o mesmo peso na vida das pessoas, portanto deve- se ter uma grande responsabilidade para levar os alunos a se interessarem e valorizar esses patrimônios, ressaltando a introdução das relações étnicos raciais, através dos patrimônios. O trabalho em campo deve ser indispensável em qualquer formato de desenvolvimento do conhecimento do Patrimônio Histórico, seja ele por visita em loco, por documentários, por depoimentos de pessoas da comunidade com propriedade do assunto. Essas formas ajudam na compreensão dos alunos na exploração do seu patrimônio, da sua cultura. Siga os seguintes passos para ter um bom desempenho e alcançar seus objetivos: 1 observação: percepção dos alunos sobre o assunto, manipulação do objeto, experimentação, comparação. 2 registro: pode ser realizado por desenhos, descrição, maquetes, mapas. 3 exploração: questionamento, análise, levantamento de hipóteses 4 apropriação: recriação, releitura, interpretação da mesma em diferentes formatos. 17 Isso fará com que se alcancem seus objetivos na educação de um aluno crítico, social e participativo, ao desenvolver habilidades como a capacidade de ver no passado problemas e soluções encontradas para resolver os mesmos atuais, a herança desse passado. Na forma de vida atual. 4. RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS NAS ESCOLAS O Brasil se encontra com várias possibilidades de discussão sobre a diversidade, na nossa pesquisa vamos focar na população negra e sua posição perante a educação. E não tem como falar de diversidade étnico-racial e educação sem falar do racismo, um assunto que é afastado das discussões e dos planejamentos em que deveria estar. A presença do racismo na sociedade brasileira acarreta num cenário alarmante de desigualdade socioeconômica da população negra com a população branca. Conhecendo a história da população brasileira caracterizada por marcas de preconceito e desigualdade, reforça-se mais ainda a importância de dar um olhar de mais importância de levar as relações raciais para as escolas. É de fundamental importância o conhecimento da real desigualdade que existe no país. Segundo pesquisas oficiais realizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) vêm revelando oficialmente como se dá a população das desigualdades raciais e sociais no Brasil. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostragem a Domicílio (Censo 2000), em 1999, a taxa de analfabetismoda população branca brasileira de 25 anos ou mais era de 10,4%. Já os pardos apresentavam taxa de 25,2% de analfabetos, enquanto os pretos 25,9%. Esses dados apontam a presença da desigualdade racial ao analisarmos a taxa de analfabetismo do País. Esses dados como tantos em que os negros estão em situação de inferioridade revelam que existe um racismo muito forte. Racismo este que principalmente em uma escola quando a pessoa está em construção de sua identidade, pode levar a danos muito graves para a vítima do racismo. 18 Também dentro da diversidade temos atualmente a intolerância religiosa que é um problema gigantesco no Brasil, visto que é um país diverso em religiões. Segundo dados da Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República fiéis de religiões afro-brasileiras são as principais vítimas de discriminação, isso já acarreta o racismo que também é bem forte em relação à cultura e as tradições negras em geral. Uma das soluções é introduzir a cultura negra nos parâmetros educacionais e exigir recursos e ações afirmativas das políticas publicas para que as lutas dos negros não sejam em vão. É preciso criar espaços para introduzir a diversidade cultural nas escolas, trabalhar com educação patrimonial e com todas as formas de introdução da cultura. Já temos os trabalhos que o Ministério da Educação MEC, que vem realizando um trabalho de educação da diversidade com indígenas, quilombolas, com as culturas populares, através da Secretaria da Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD). Temos também um grande marco para educação de relações raciais que é a lei 10639/03, que tornou obrigatório o ensino de História e Cultura Africana e Afro-brasileira nas escolas de Educação Básica das redes pública e privada do país. Para dar reforço à implementação da lei foram instituídas as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Africana e Afro-brasileira. Mas para que tudo isso se torna real e efetivo nas escolas é necessário entender o que realmente os negros passam dentro das escolas, o racismo é algo cruel que tem o poder de ferir fisicamente nos casos mais graves de agressividades e discriminações e de destruir a autoestima e identidades de pessoas afetadas o que na maioria das vezes levam ao fracasso escolar e complexos de inferioridade. Reconhecemos a escola como um espaço sociocultural que deve refletir a pluralidade cultural e racial de nossa nação, no entanto, isso não ocorre (NASCIMENTO, 2005). A Escola tem sido palco de exclusões e disseminação de preconceitos e discriminações, e esta realidade promove aos alunos exclusão e/ou sentimento de inferiorização racial (CAVALLEIRO, 2005). 19 Visando a melhoria da educação das relações étnicas raciais o pensamento da nossa pesquisa é que através da introdução da educação patrimonial, sejam trabalhados reconhecimentos valores e valorização do espaço pertencente de cada aluno. Boa Vista que é nosso campo de pesquisa é um lugar rico em cultura negra e em características de descendência africanas muito fortes, que merecem muito valor, mas não são tão reconhecidas. 4.1 Alguns conceitos importantes sobre relações étnicos raciais No Brasil o debate sobre os vários conceitos que permeiam s relações étnicos raciais gera muito conflitos, muitos pesquisadores, e cientistas já registram vários conceitos para raça, identidade, etnia, identidade negra, racismo, preconceito racial e outros. Esses conceitos revelam a visão distorcida da realidade e a tentativa de sempre inferiorizar o negro nos parâmetros biológicos e sociais. O que deve ser observado é que todos ou a maioria desses conceitos são ideológicos e excludentes com a população negra. Por este motivo revela- se a importância dos movimentos negros que são exemplos de resistência perante tanta injustiça. 4.1.1 Identidade A identidade é o modo em que as pessoas vivem e como seus grupos vivem suas crenças, e suas reivindicações. De acordo com o antropólogo Kabengele Munanga: A identidade é uma realidade sempre presente em todas as sociedades humanas. Qualquer grupo humano, através do seu sistema axiológico sempre selecionou alguns aspectos pertinentes de sua cultura para definir-se em contraposição ao alheio. A definição de si (auto definição) e a definição dos outros (identidade atribuída) têm funções conhecidas: a defesa da unidade do grupo, a proteção do território contra inimigos externos, as manipulações ideológicas por interesses econômicos, políticos, psicológicos, etc. (MUNANGA, 1994: 177-178) A identidade tem como base os semelhantes de um individuo que muitas vezes luta e se manifesta sozinho, mas sempre em prol de seus antepassados. 20 A cultura passa a ser um ponto de partida para que a pessoa tome sua posição no mundo, reivindicando e lutando pela preservação de sua cultura. 4.1.2 Identidade negra A identidade negra se constitui pelo reconhecimento cultural, político e social de um negro. Ela se estende da concepção de identidade, engloba a identidade social, a identidade racial, a identidade cultural e a identidade política todas elas se unem e caracterizam as pessoas e se assumir em uma identidade corresponde em defendê-la, reconhecê-la e demonstrá-la de forma afirmativa. Portanto é necessário entender que a entender a identidade negra é algo complexo, pois é um povo que vem de uma história muito sofrida e que sempre luta por reivindicações que muitas vezes não são aceitas, principalmente no meio político. Munanga ressalta a identidade negra através do sentido político: Tomada de consciência de um segmento étnico-racial excluído da participação na sociedade, para a qual contribuiu economicamente, com trabalho gratuito como escravo, e também culturalmente, em todos os tempos na história do Brasil (MUNANGA, 1994, p. 187). Desta perspectiva se faz necessário ressaltar novamente a importância dos movimentos negros que são um forte e um dos maiores exemplos de reconhecimento da identidade negra. 4.1.3 Raça A raça é um termo que vem sofrendo definições diferentes de acordo com o passar dos tempos, mas na realidade o conceito de raça biológico não deve ser considerado, pois ele existe para inferiorizar uma determinada etnia por seus traços fenótipos. O que existe é o conceito de raça sociológico que da origem ao racismo partindo desse contexto absurdo da raça biológica. “Raça” é um conceito que não corresponde a nenhuma realidade natural. Trata-se, ao contrário, de um conceito que se denota tão-somente uma forma de classificação social, baseada numa atitude negativa frente a certos grupos sociais, e informada por uma noção especifica de natureza, como algo indeterminado. A realidade das raças limita-se, portanto, ao mundo social. Mas, por mais que nos repugne a empulhação que o conceito de ‘raça’ permite – ou seja, fazer passar por 21 realidade natural preconceitos, interesses e valores sociais negativos e nefastos –, tal conceito tem uma realidade social plena, e o combate ao comportamento social que ele enseja é impossível de ser travado sem que se lhe reconheça a realidade social que só o ato de nomear permite (GUIMARÃES, 1999, p. 99) Não tem como dizer que não existe raça, pois a sociedade demonstra em na maioria de suas situações as diferenças de oportunidades e a desigualdade do crescimento econômico que existem entre brancos e não brancos. 4.1.4 Racismo O racismo é a questão que faz necessária a discussão sobre raça, o racismo é a exclusão e discriminação das pessoas por características fenótipos como cor da pele, tipo de cabelo e etc. Oliveira nos trás alguns exemplos de racismo: […] alguns alunos a rejeitavam. Diziam que não queriam sentar no mesmo grupo que ela nem realizar atividades coletivasjunto com ela. Em algumas situações, piadinhas e chacotas eram feitas, envolvendo seu nome. Conversando com a professora, esta relatou-nos que ALC já havia reclamado do fato de alguns meninos ficarem “mexendo” com ela na hora do recreio e de rirem dela. “Escuridão, “noite” eram apelidos utilizados por alguns meninos para se referirem a ela. ALC tinha traços de negritude bastante ressaltados (OLIVEIRA, 2007, p. 47). Portanto esses atos devem ser eliminados das instituições educacionais, racismo na escola pode ser um dano gigantesco na vida escolar de aluno. 4.2 Relações étnico-raciais no ensino fundamental O preconceito é uma construção social. Ao longo da sua formação histórica, sociedade brasileiras muitas práticas e ações institucionais contribuíram para a disseminação do preconceito e do racismo, por exemplo: O Decreto no 1.331, de 17 de fevereiro de 1854 estabelecia que nas escolas públicas do país não seriam admitidos escravos, e a previsão de instrução para adultos negros dependia da disponibilidade de professores. O Decreto no 7.031-A, de 6 de setembro de 1878, estabelecia que os negros só podiam estudar no período noturno e diversas estratégias foram montadas no sentido de impedir o acesso pleno dessa população aos bancos escolares (BRASIL, 2004, p.7). 22 Para a construção de uma pedagogia não-racista é preciso subsidiar o trabalho realizados pelos componentes do âmbito escolar. Contribuir para a construção de uma educação que seja geradora de cidadania, que atenda e respeite as diversidades e peculiaridades da população brasileira (p.54) A escola precisa-se ter a visão de “vida” para ser compartilhada, ambiente onde se encontra satisfação, lugar potencializador da existência, circulação de saberes, constituição de conhecimentos, felicidades e energias positivas. Um dos fatores que possibilita a sensibilização do ambiente escolar para o conhecimento e exercício de seus direitos e deveres como cidadãos, é currículo, entende- se ele é mostra mestra. No que se refere aos currículos escolares, chamou-se a atenção para a falta de conceitos ligados à cultura afro- brasileira que estejam apontando para a importância desta população na construção da identidade brasileira, não apenas no registro folclórico ou de datas comemorativas, mas principalmente buscando uma revolução de mentalidades para a compreensão do respeito às diferenças. (SILVA, 1995, p. 56) Nenhum ser nasce racista, mas se torna racista com base a um histórico processo onde há a negação dos povos africanos. É papel da escola repensar suas atitudes e avaliar tais paradigmas. A luta contra o racismo vem quebrando muitas barreiras, o que possibilita compreender melhor todo o processo de vida dos negros, através de pesquisas é possível estabelecer o diálogo com este passado. Ao compreender todo o processo de vida dos africanos, todos os esquemas em que o negro é situado abaixo que os demais, irão reduzir. A população negra foi a mais discriminada. Desvalorizados, os negros ainda são ridicularizados e excluídos por sua identidade e estética não serem estabelecidas pela sociedade como um padrão ideal. Reconhecer exige a valorização e respeito às pessoas negras, à sua descendência africana, sua cultura e história. Significa buscar, compreender seus valores e lutas, ser sensível ao sofrimento causado por tantas formas de desqualificação: apelidos depreciativos, brincadeiras, piadas de mau gosto sugerindo incapacidade, ridicularizando seus traços físicos, a textura de seus cabelos, fazendo pouco das religiões de raiz africana. Implica criar condições para que os estudantes negros não sejam rejeitados em virtude da cor da sua pele, menosprezados em virtude de seus antepassados terem sido 23 explorados como escravos, não sejam desencorajados de prosseguir estudos, de estudar questões que dizem respeito à comunidade negra. (BRASIL, 2004, p. 12). A partir do diálogo verdadeiro os sujeitos que dialogam aprendem e crescem juntos na diferença, a cima de tudo, no respeito a diferenças. Ao se tratar de raça negra, logo se tem o conceito de hierarquização de raças, etnias e culturas, incorporando também o termo escravidão. Não se pode abandonar a história dos povos africanos, pois fazem parte da formação da Brasilidade. Muitos estudos sobre a vida dos africanos são necessários, para que não continuemos a reproduzir todos os esquemas. A cultura negra valoriza muito o corpo, ele é fundamental, nele há toda uma rede de sentidos e significações. Acredita-se muito na partilha, todos trocam algo entre si, assim há existência. Nas comunidades africanas as pessoas não são imaginadas, e sim, aceitas, independentemente de suas convicções. “Uma visão de mundo negra implica a possibilidade de abertura para o mundo, para a vida e principalmente para o outro”. (p.59) A escola tem uma função social, essa função deve ser exercida como uma contribuição para a formação de cidadãos pensantes, de respeito e sem prejulgamentos e preconceitos, os professores tem a função de mediar os conhecimentos sobre diversidade, etnicidade, valores, sempre mostrando uma relação de respeito entre todos. Valorização e respeito esses são uns dos principais objetivos de se trabalhar a história e cultura afro-brasileira e africana. O que se busca é um currículo que tenha um repertório que direcione o caminho da educação ao entendimento de ser humano que produz historia a partir das relações vivenciadas no meio. Um caminho para abranger o currículo, seja incluir a historia, geografia, artes e a literatura africanas e afro-brasileira, e trabalhar em busca da valorização. Ao se referir ao ensino fundamental, imaginamos apenas crianças e adolescentes entre 7 a 14 anos de idade, ao máximo ao s seus 17 anos, não os enxergando além da idade. Porém, é preciso conhecer e entende-los na sua complexidade humana, como seres que tem sua personalidade, suas frustrações, posturas, memórias e histórias, sorriem e sofrem, têm ideais e sonhos, entre outros aspectos. É necessário levantar algumas questões, para que de fato seja possível ressignificar quem são os estudantes, considerar as 24 diferenças regionais e a diversidade étnico-cultural do Brasil. É necessário reconhecer o legado da história e cultura africana e afro-brasileira é patrimônio da humanidade. Se o educador se ver como produtor de história, de conhecimento, de ações que podem transformar vidas, ou seja, ele será potencialmente um indivíduo transformador e criativo. O que se espera, contudo, é a efetiva implantação no cotidiano escolar, de uma pedagogia da diversidade e do respeito ás diferenças. Esta reconhecerá a importância de visualizar os propósitos a alcançar com os estudantes do Ensino Fundamental, relacionando-os as características de seu desenvolvimento, e articular estes dois aspectos as necessidades especificas do aluno, considerando-se as particularidades de sua socialização e vivencias adversas em função do racismo e das discriminações. É necessário reconhecer que o legado da história e cultura africana e afro-brasileira é um patrimônio da humanidade. Se o docente se constituir como produtor consciente de conhecimento, pesquisador de sua própria prática, sua própria ação educativa, de saberes a este respeito, isto pode se tornar altamente transformador. É de sua importância que o docente se veja como produtor de histórias, de conhecimento de ações que podem transformar vidas, ou seja, que é potencialmente um indivíduo transformador, criativo. Alterações fundamentais podem ser empreendidas no sentido de contribuir para a melhoria do sistema educacional, podendo ser efetivas através da inserção da questão étnico-racial no Projeto Político Pedagógico da escola. Assim havendo a construção do ambiente escolar que favoreça a formação sistemática da comunidade sobrediversidade étnico-racial, a partir da própria comunidade, considerando a contribuição que esta pode dar ao currículo escolar; estabelecer canais de comunicação com troca de experiências com os movimentos negros, com os grupos sociais e culturas da comunidade, possibilitando diálogos efetivos. A escola é um espaço privilegiado para a promoção da igualdade e a eliminação de toda forma de discriminação e racismo, e para isso os professores devem trabalhar com materiais adequados que possibilite a compreensão do aluno para com a diversidade, as discussões 25 e práticas pedagógicas quando bem elaboradas são capazes de combater as injustiças e preconceitos. Enfim, a escola que deseja se constituir democrática, respeitando a todos os segmentos da sociedade, pode ter como meta a aquisição de recursos adequados para o trato das questões étnico-raciais, como, por exemplo, munindo a biblioteca de acervo compatível, folhetos, gravuras e outros materiais que contemplem a dimensão étnicos-racial; videoteca com filmes que abordem a temática e brinquedoteca com bonecos negros, jogos que valorizem a cultura negra e decoração multiétnica. (P 66) Criar uma pratica escolar diária direcionando para uma educação anti- racista é um caminho que necessariamente tem que se percorrer. No percorrer deste caminho pode-se identificar alguns pontos que poderão mobilizar a reflexão sobre as ações do cotidiano escolar, no sentido de tratar pedagogicamente a diversidade racial, visualizando com dignidade o povo negro e toda a sociedade brasileira, são: - A questão social como conteúdo multidisciplinar durante o ano letivo: é importante trabalhar sobre a questão social durante todo o ano letivo, além das datas comemorativas, de maneira íntegra e não isolada. - Reconhecer e valorizar as contribuições do povo negro: estudar a cultura afro-brasileira é compreendê-la com consciência e dignidade. Enfatizando suas contribuições sociais, econômicas, culturais, políticas, intelectuais, experiências, estratégias e valores. - Abordar as situações de diversidade étnico-racial e a vida cotidiana nas salas de aula: tratar questões raciais no ambiente escolar deve ser de forma contextualizada, assim aprenderão conceitos, analisarão fatos e poderão se capacitar para intervir na sua realidade e transformá-la: Os objetos de conhecimento histórico se deslocaram dos grandes fatos nacionais e mundiais para a investigação das relações cotidianas, dos grupos excluídos e dos sujeitos sociais construtores da história (SEE/MG,2005). - Combater as posturas etnocêntricas para a desconstrução de estereótipos de preconceitos atribuídos aos grupos negros: essa ação sobre as 26 realidades serem interpretadas e transformadas leva a rever constantemente conceitos, ou seja, a acomodá-las ás novas circunstâncias que se apresentam. - Incorporar como conteúdo do currículo escolar a história e cultura do povo negro: ao incorporar o conteúdo os alunos compreenderão melhor os porquês das condições de vida dessas populações e correlação entre estas e o racismo presente em nossa sociedade. Deverão ser pontos de reflexão todas as situações de desigualdades, estabelecendo relações humanas mais fraternas e solidárias. -Recusar o uso de material pedagógico contendo imagens estereotipadas do negro, como postura pedagógica voltada à desconstrução de atitudes preconceituosas e discriminatórias: é imprescindível banir de seu ambiente qualquer texto, referência, descriminação, decoração, desenho, qualificativo ou visão que construir ou fortalecer imagens estereotipadas de negros e negras, ou de qualquer outro segmento étnico-racial diferenciado. - Construir coletivamente alternativas pedagógicas com suporte de recursos didáticos adequados: algumas ações são essenciais nessa construção, como por exemplo, a disponibilização de recursos didáticos adequados, a construção de materiais pedagógicos eficientes, o aumento do acervo de livros da biblioteca sobre o assunto, a oferta de variedade de brinquedos contemplando as dimensões multiculturais. 27 5. RESULTADOS, ANÁLISE DOS DADOS E DISCUSSÃO Esta pesquisa foi realizada de maneira qualitativa e descritiva analisando a ação docente diante da educação patrimonial e as relações étnicas raciais na escola. Os recursos utilizados foram questionários e observações do perfil dos docentes da instituição. A pesquisa foi realizada em uma escola municipal da rede pública de Nova Serrana, localizada no bairro de Boa Vista. A inserção da Educação Étnico-racial na Ensino fundamental aproxima os alunos das relações com as diferenças e que essas diferenças são sinônimo da pluralidade que faz a população brasileira ser tão cultural e biologicamente diversa. Esta proposta de educação possibilitará afastar tratamentos preconceituosos e combater a discriminação racial no interior dos estabelecimentos de ensino da escola. Foi em busca da verificação de como as diretrizes e orientações curriculares instituídas estavam sendo colocadas em prática no Ensino Fundamental que nos dirigimos a Recantos do Quilombo. O Intuito era verificar se a prática pedagógica do estabelecimento selecionado contém a história patrimonial e cultura afro-brasileira em seu programa de trabalho, a frequência do trabalho realizado, se este era feito de forma continua e quais as posturas tomadas pelos docentes, referente a este assunto. 5.1 Dados da instituição A escola está localizada no município de Nova Serrana, Bairro Boa Vista, Rua Marilda das Graças. A instituição foi inaugurada em 1917. Esta instituição esta inserida em uma comunidade que está em crescimento, é uma população de baixo poder aquisitivo, porém ninguém passa nenhuma necessidade. Os responsáveis das crianças são na maioria operários de fábricas de calçados, que é a maior fonte de renda da população da cidade. Tem como filosofia formar cidadão: crítico, criativo, reflexivo, capaz de transformar a sociedade. Cidadão comprometido com seu meio e com o mundo. Tornar o processo educativo um ato criador, um instrumento de leitura do mundo, promovendo a interação escola e vida. Mudando assim a prática 28 pedagógica de ensino informativo, para aprendizagem formativa, através da construção do conhecimento e da habilidade de “aprender a aprender” Este Centro Educacional elege como missão de oferecer aos seus alunos um ensino de qualidade, sempre visando à transformação de sua realidade social, e buscando desenvolver em seus alunos, autonomia, e valores humanos necessários para uma boa convivência. É neste contexto que se faz necessário o intercâmbio familiar, pois é a família o primeiro grupo social com a qual a criança convive. A instituição esta atendendo no momento um numero de 370 alunos, tem um espaço bem organizado com oito salas, quadra de esportes, uma sala de vídeo, uma cozinha, três banheiros para meninas e três banheiros para meninos, tem refeitório com seis, parquinho, horta cultivada pelos alunos e área de lazer.Todas as áreas da instituição são simples, mas oferecem o necessário para as crianças aprenderem e se desenvolverem da melhor forma. A escola recebe crianças especiais por isso já possui rampas, apoio pedagógico e esta sempre procurando fazer mais alterações necessárias, a instituição agora também conta com o apoio da prefeitura para dar continuar com o projeto de tempo integral que oferece reforço de português e matemática e aulas de violão, futsal e artesanato. Vale ressaltar também que este ano a escola teve uma grande festa envolvendo toda a cidade, pois teve a festa de aniversario dos 100 anos da escola na comunidade de Boa Vista. A escola tenta sempre manter sua cultura organizacional e conta com a participação de toa a comunidade. 5.2 Visita e observação da organizaçãoescolar O procedimento permitiria tanto confrontar os resultados obtidos com a aplicação dos questionários quanto coletar novas informações. Desse modo, para colocar em prática a observação foi realizada uma visita à escola para identificar sinais de atividades que revelassem como a temática da história patrimonial e afro-brasileira era trabalhada na escola e se acontecia de forma contínua. Esta visita ocorreu no dia 04 de dezembro de 2017. Foi observado que a escola não realizou atividades voltadas para a semana da consciência negra. No decorrer das pesquisas foi identificado que 29 a escola não realiza atividades relacionadas para a educação patrimonial e relações étnico-raciais, somente em datas comemorativas. A escola comemorou seu centenário 16 setembro, o qual foi um momento festivo, havendo apresentações dos alunos, exposições de trabalhos e celebração da santa missa. Para as apresentações do dia 19 de setembro onde as pessoas alegaram ser a cultura muito importante, o corte de Boa Vista foi convidado para se apresentar, representado a cultura e uma dança típica, não foi feita nenhuma explicação sobre o que é o reinado e sobre sua importância e sim como mais uma das apresentações. 5.3 Analise dos dados e discussão dos resultados A pesquisa realizada por questionários foi aplicada dia 04 de dezembro de 2017, com as docentes do ensino fundamental da escola. Os sujeitos da pesquisa foram 6 professoras dos anos iniciais do Ensino fundamental, docentes do turno da tarde. A maioria das professoras, participantes da pesquisa são naturais de outras cidades, residem em bairros relativamente distantes de onde se localiza a escola e alguns, inclusive, residem em outras cidades, apenas uma se reside no bairro de Boa Vista e é da cidade. Referente à questão um do questionário “Quais foram seus primeiros contatos com o tema (relações étnico-raciais)?” Com análise da pesquisa nota- se que grande parte do corpo docente do ensino fundamental tiveram os primeiros contatos com tema relações étnico-raciais no ensino superior, evidenciando que no ensino superior que se trata da questão referida. Segundo Bento 2014 as Instituições de Ensino Superior têm o desafio de preservar o seu papel ético e político e não sucumbir à ideologia mercantilista da educação e não perder a capacidade de pensamento crítico. Mais do que formar profissionais qualificados e detentores do conhecimento, do como fazer, é preciso formar cidadãos reflexivos. Só pela reflexão e pelo espírito crítico torna-se possível questionar o porquê, para quê e para quem. Não basta saber fazer, é preciso saber por que fazer, para que se faz e para quem se faz. Sobre a questão dois “Qual sua proximidade com a lei 10.639/03 (Incluir a cultura Afro-Brasileira e africana no ambiente escolar)? 30 As docentes possuem pouco conhecimento sobre a Lei 10.639/03, que torna obrigatório nos currículos dos níveis fundamentais e médios, em estabelecimentos oficiais e particulares do país, a inclusão da temática História e Cultura Afro-Brasileira e Africana (BRASIL, 2004). Percebendo que os conhecimentos adquiridos são embasados ainda somente nos conteúdos acadêmicos. Diante da questão três, sobre a presença do trabalho com relações raciais no projeto político pedagógico, encontramos o resultado de que não está incluído no projeto conteúdos com essa temática. O projeto pedagógico é um documento que não se reduz à dimensão pedagógica, nem muito menos ao conjunto de projetos e planos isolados de cada professor em sala de aula. O projeto pedagógico é, portanto, um produto específico que reflete a realidade da escola. Situado em um contexto mais amplo, que a influência e que pode ser por ela influenciado. Em suma, é um instrumento clarificador da ação educativa da escola em sua totalidade. (VEIGA, 1998; p.11). Com esses resultados podemos afirmar juntamente com Veiga 1998, que no projeto não reflete a realidade da escola como deve ser. A questão quatro diz respeito a freqüência em que a cultura afro- brasileira em sala. De acordo com esta pesquisa a cultura afro-brasileira é raramente trabalhada, ou seja, não cumprem com as diretrizes e com a lei 10639 que diz deve se trabalhar com a cultura afro-brasileira, pois a escola é um lugar fundamental de formação e deve aproveitar o seu espaço de diversidade, como reforça Costa e Dutra Descolonizar o saber é o primeiro passo na luta do preconceito racial. A educação tem fundamental importância nesta luta, pois se acredita que o espaço escolar seja responsável por boa parte da formação pessoal dos indivíduos sendo assim um ambiente fundamental para separação das desigualdades raciais e superação do racismo. (2009, p. 1) Então se a escola não trabalha a cultura afro-brasileira, automaticamente ela está reforçando a desigualdade e os conhecimentos que ajudam em formação de identidade negra e também reforça a prática de racismo, pois na maioria das vezes as pessoas não gostam por falta de conhecimento. Segunda os resultados da questão cinco a maioria opta por retirar trabalhos para questões raciais em internet, o que não é tão viável se este site não for o do MEC, muitos sites têm informações que favorecem apenas 31 poderes políticos e que fala de culturas apenas a procura de mais fama. É necessário ter um bom material que realmente fale sobre coisas relevantes que existem na cultura negra, Cavalleiro observa que, Os estudos apresentados evidenciam o fato de o sistema formal de educação ser desprovido de elementos propícios à identificação positiva de alunos negros com o sistema escolar. Esses estudos demonstram a necessidade de uma ação pedagógica de combate ao racismo e aos seus desdobramentos, tais como preconceito e discriminação étnicos. Eles podem estar ocorrendo no cotidiano escolar, provocando distorções de conteúdo curricular e veiculando estereótipos étnicos e de gênero, entre outros, por intermédio dos meios de comunicação e dos livros didáticos e paradidáticos. (CAVALLEIRO, 2000, p.35) Por isso é necessário ter uma segurança de qual material trabalhar para que o mesmo não influencie ainda mais o ato de racismo Perante a questão seis “Os alunos de sua turma apresentam algum tipo de preconceito contra Pessoas Negras?", comprovou-se que o racismo aparece em alguns alunos de toas as docentes entrevistadas. E para melhor explicar, vamos exemplificar através de Oliveira: […] alguns alunos a rejeitavam. Diziam que não queriam sentar no mesmo grupo que ela nem realizar atividades coletivas junto com ela. Em algumas situações, piadinhas e chacotas eram feitas, envolvendo seu nome. Conversando com a professora, esta relatou-nos que ALC já havia reclamado do fato de alguns meninos ficarem “mexendo” com ela na hora do recreio e de rirem dela. “Escuridão, “noite” eram apelidos utilizados por alguns meninos para se referirem a ela. ALC tinha traços de negritude bastante ressaltados (OLIVEIRA, 2007, p. 47). É papel de a escola ter metodologias para banir estes comportamentos. Frente à questão sete “Qual a importância de se trabalhar com as questões étnico-raciais no ensino fundamental? Todas as docentes colocaram que muito importante se trabalhar com relações étnico-raciais. É tarefa de todo professor e da equipe da escola estarem atentos, operando criticas sobre materiais didáticos, dando atenção ao modo como é tratada a noção da diversidade, que deve fazer sempre uma base de respeito as qualidades de cada ser humano. Tal critica deve incluir decididamente o repudio a materiais que tragam erros, preconceitos, difusão de atitudes discriminatórias, assim como a discussão de materiais que sejam, eventualmente, trazidos pela criança para a situação de sala de aula, e contenham incorreções (BRASIL, 2000, p. 99). 32 Ficou claro que a escola tem o papel centralde mediar no processo de reeducação das questões étnico-raciais, e é preciso promover junto a sua comunidade escolar o caminho do diálogo e do debate aberto e plural. Na análise da questão oito “Como os alunos se comportam nas atividades desenvolvidas em sala de aula, é notório que os alunos não estão acostumados a desenvolver um diálogo mútuo de respeito sobre a questão racial, mas que quando são expostos a essas atividades todos participam com muito interesse. Para o aluno, importa ter segurança da aceitação de suas características, ter disponível a abertura para que possa dar-se a conhecer naquelas que sejam experiências particulares suas ou do grupo humano a que se vincule e receber incentivo para partilhar com seus colegas a vivencia que tenha fora do mundo da escola, mas que possa ali ser referida, como contribuição sua ao processo de aprendizagem. Resumindo, trata-se de oferecer à criança, e construir junto com ela, um ambiente de respeito, pela aceitação; de interesse, pelo apoio à sua expressão; de valorização, pela incorporação das contribuições que venha a trazer (BRASIL, 2000, p. 54). A escola como instituição social deve ser mediadora, com grande responsabilidade na socialização e interação do diferentes sujeitos. Diante da última questão do questionário “O projeto político pedagógico da escola inclui o trabalho para a Educação Patrimonial”, a escola é incumbida de desenvolver com os alunos a Educação Patrimonial, valorizando as raízes da comunidade em que está inserida. No Projeto Político Pedagógico da escola a cultura local deve estar inserida, pois a mesmo tem deve de preservar de valorizar o patrimônio. A historiadora Maria de Lourdes Parreiras Horta (1999) identifica a Educação Patrimonial como um processo permanente e sistemático de trabalho educacional, centrado no patrimônio cultural como fonte primária de conhecimento e enriquecimento individual e coletivo. Neste caminho, ainda nas palavras da autora, o contato direto com as evidências e manifestações da cultura proporciona um trabalho que leva os indivíduos a um processo ativo de apropriação e valorização de sua herança cultural. Trabalhar a cultura africana e afro-brasileira no ensino fundamental é estimular o respeito mútuo, a identidade, a autoestima, e a cidadania. Cabe à escola desenvolver práticas educativas para que essa formação aconteça, e oferecer oportunidades para que a aprendizagem seja adquirida de forma 33 significativa, prazerosa e que leve os alunos a serem cidadãos livres de preconceitos. 34 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao longo de todo o processo de elaboração e pesquisa sobre o tema abordado, o conhecimento aprimorado foi de inestimável valia para as discentes do curso de Pedagogia, para aprimorar as suas práticas docentes. Reconhecer e valorizar a cultura local, a identidade, a história e preservação das mesmas e sua importância na vida social da comunidade e pessoal do indivíduo enquanto cidadão. A legislação que respalda o trabalho dentro das instituições de ensino sobre a cultura local, o racismo, a cultura negra, a valorização de bens patrimoniais e culturais e a sua preservação e como mesmo com essas legislações em vigência a escola e os profissionais de ensino ainda negligenciam os temas, causando assim enorme prejuízo social e na identidade de suas crianças e sua auto-estima. A valorização das pequenas manifestações como uma simples palavra, uma receita, um ditado popular a sua origem, parar para refletir sobre tudo aquilo que está ao redor de um ser social que teve origem onde, quando, como? Tudo isso teve seu valor na formação da sociedade contemporânea, mas para valorizar o hoje é preciso esquecer o passado? Ao contrário, conhecendo bem o passado, se conhece a origem e, portanto vislumbra o futuro. O conhecimento trazido do passado é de enorme valor para se ter um futuro melhor. Portanto conclui-se nesse prazeroso artigo o valor da cultura, do patrimônio, das relações étnicos raciais as formas a serem abordadas nas instituições de ensino e como isso é além de direito, dever de todo profissional de ensino que tem consciência da valorização do ser social e da formação de cidadãos. 35 REFERENCIAS BENTO, Jorge Olímpio. Por uma Universidade Anticonformista. Belo Horizonte: Penses, 2014. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais: Pluralidade Cultural e Orientação Sexual. Brasília: MEC, 2001. ______. Plano Nacional de Implementação das diretrizes curriculares nacionais para educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afrobrasileira e africana. Secretaria especial de Políticas de Promoção da Igualdade racial. Subsecretaria de políticas de Ações afirmativas. Brasília: MEC, 2009. BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes curriculares nacionais da educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana. Brasília: MEC, 2004. Disponível em: . Acesso em: 06 de setembro de 2014 CAVALLEIRO, Eliane dos Santos. Do Silêncio do Lar ao Silêncio Escolar: Racismo, Preconceito e Discriminação na Educação Infantil. São Paulo: Contexto, 2005. 110 p. CAVALLEIRO, E. Educação anti-racista: compromisso indispensável para um mundo melhor. In: CAVALLEIRO, E. (Org.). Racismo e anti-racismo - repensando nossa escola. São Paulo: Summus, 2001. COSTA, Raphael Luiz Silva da; DUTRA, Diego França. A lei 10639/2003 e o ensino de Geografia: representação dos negros e áfrica nos livros didáticos. 10º ENCONTRO NACIONAL DE PRÁTICA DE ENSINO DE GEOGRAFIA. Porto Alegre, 2009. Disponível em:. Acesso em: 03 out. 2009. FREITAS, Orlando Ferreira de; FONSECA, Maria Beatriz de Freitas As origens de Nova Serrana. Nova Serrana: Grafica Sidil, 2002. GUIMARÃES, Antônio Sérgio Alfredo. Racismo e Anti-Racismo no Brasil. São Paulo: Editora 34, 1999. MUNANGA, Kabengele e GOMES, Nilma Lino. Para entender o negro no Brasil de hoje: história, realidades, problemas e caminhos. São Paulo: Global; Ação Educativa, 2004. . OLIVERA, Ivone Martins de. Preconceito e Autoconceito: Identidade e Interação na sala de aula. São Paulo: Papirus, 2007. 36 VEIGA, Ilma Passos Alencastro. Projeto Político-Pedagógico da escola: Uma construção possível. Campinas: Papirus, 2011.29ª Edição. novembro_de_1937.pdfpesquisado em11/09/2017as20:14 http://portal.iphan.gov.br/uploads/legislacao/Constituicao_Federal_art_216.pdfp esquisado em12/-9 as 14:38 http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/343/pesquisadoem12/-9 as14:55 . http://portal.iphan.gov.br/uploads/legislacao/Decreto_no_25_de_30_de_novembro_de_1937.pdf http://portal.iphan.gov.br/uploads/legislacao/Decreto_no_25_de_30_de_novembro_de_1937.pdf http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/343/ 37 ANEXO QUESTIONÁRIO A EDUCAÇÃO PARA AS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS NA ESCOLA Essa pesquisa será realizada na Escola Municipal José Antônio de Lacerda do município de Boa Vista, com o intuito de contribuir para uma pesquisa referente ao trabalho de conclusão de curso, do curso de Pedagogia da Universidade Una Bom Despacho. O objetivo é compreender como os professores do ensino fundamental do município de Boa vista estão trabalhando com os alunos, as relações étnico- raciais, Educação Patrimonial, cultura afro-brasileira e o preconceito em sala de aula. Dados de identificação Nome/ Idade: Cor: Profissão: Formação/ano: Tempo de atuação: Questionário 1- Quais foram seus primeiros contatos com o tema (relações étnicos- raciais)? ( ) Universidade ( ) Projeto Político Pedagógico da escola () Lei Federal que constitui a cultura Afro-Brasileira nas escolas 2- Qual sua proximidade com a lei 10.639/03 (Incluir a cultura Afro- Brasileira e africana no ambiente escolar)? ( ) Não conheço ( ) Pouco conhecimento 38 ( ) Conheço 3- O projeto político pedagógico da escola inclui o trabalho para as relações étnico-raciais e trabalho para a diversidade? ( ) Sim ( ) Não 4- Com frequência é trabalhada a cultura afro-brasileira em sua sala? ( ) Muito trabalhada ( ) Pouca trabalhada ( ) Raramente trabalhada 5- Onde você encontra materiais (conteúdos/atividades) que lhe ajudem a trabalhar com a questão racial? ( ) Escola ( ) Material do MEC ( ) Internet ( ) Outros. Especifique: 6- Os alunos de sua turma apresentam algum tipo de preconceito contra Pessoas Negras? ( ) Sim ( ) Não ( ) Alguns alunos 7- Qual a importância de se trabalhar com as questões étnico-raciais no ensino fundamental? ( ) Muito importante ( ) Pouco importante ( ) Não vejo importância 8- Como os alunos se comportam nas atividades desenvolvidas em sala de aula? ( ) Com atenção, demonstrando interesse 39 ( ) Normalmente ( ) Não dão importância ( ) Comportamento diferente, apresentando rejeição e/ou preconceito 9- O projeto político pedagógico da escola inclui o trabalho para a Educação Patrimonial? ( ) Sim ( ) Não
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