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INEFICÁCIA DAS MEDIDAS PROTETIVAS DA LEI 11.340/2006

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A INEFICÁCIA DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA PREVISTAS 
NA LEI 11.340/2006 
 
THE INEFFECTIVENESS OF PROTECTIVE EMERGENCY MEASURES 
PROVIDED FOR IN LAW 11.340/2006 
 
Isabele Dias Porto1 
 
 
 
RESUMO 
 
O presente estudo trata da Lei 11.340/06, conhecida como Lei Maria da 
Penha, e suas medidas protetivas de urgência que trazem em seu texto, inúmeros 
mecanismos de proteção à mulher em situação de violência. O objetivo geral é 
destacar os problemas que afetam a eficácia destas, que mesmo sendo 
instrumentos de grande valia, não alcançam o efeito esperado. Tem como objetivo 
específico entender cada um dos fatores que mais contribuem para ineficácia das 
medidas protetivas contidas na referida Lei, e ressaltar ainda, a ineficácia estatal no 
que tange a fiscalização do cumprimento de tais medidas. Reforçando a 
necessidade de Políticas Públicas que aperfeiçoam os instrumentos de proteção à 
mulher, trazendo modelos que, somados as medidas já existentes, podem garantir 
efetividade e proteção às vítimas de violência doméstica. As vistas da sociedade, a 
Lei Maria da Penha ainda não tem total suficiência para combater a violência 
cometida contra a mulher. As consequências que a falta de efetividade da lei traz 
consigo, além de outros fatores de cunho social, denota a quantidade de casos em 
que as mulheres são vítimas. Os números no Brasil são surpreendentes. Dessa 
forma o tema de violência doméstica sempre será de grande relevância em qualquer 
cenário e a qualquer momento. 
 
Palavras-chave: Lei 11.340/06. Medidas Protetivas. Ineficácia. 
 
ABSTRACT 
 
This study deals with Law 11.340/06, known as Maria da Penha Law, and its 
protective measures of urgency that bring in its text, innumerable mechanisms of 
protection to women in situation of violence. The general objective is to highlight the 
problems that affect the effectiveness of these, that even being instruments of great 
value, they do not reach the expected effect. Its specific objective is to understand 
each of the factors that most contribute to the ineffectiveness of the protective 
measures contained in the referred Law, and to highlight the ineffectiveness of the 
State in terms of the enforcement of such measures. Reinforcing the need for Public 
Policies that improve the instruments of protection for women, bringing models that, 
added to the already existing measures, can guarantee effectiveness and protection 
to the victims of domestic violence. In the eyes of society, the Maria da Penha Law 
still does not have total suffience to fight the violence committed against women. The 
consequences of the law's lack of effectiveness, in addition to other social factors, 
indicate the number of cases in which women are victims. The numbers in Brazil are 
 
1 Discente do Curso de Direito do Centro Universitário de João Pessoa (UNIPÊ). E-mail: 
isabele_porto@hotmail.com; Orientador/a: Prof.: Bruno Teixeira de Paiva . E-mail: brunotpaiva@gmail.com. 
2 
 
surprising. Thus, the issue of domestic violence will always be of great relevance in 
any scenario and at any time. 
 
Keywords: Law 11.340/06. Protective measures. Ineffectiveness. Public 
Policy. 
 
INTRODUÇÃO. 
 
 Sabe-se que a violência contra a mulher ocorre há décadas, e nessas 
circunstâncias a mulher sempre esteve subjugada ao homem. Historicamente, a 
condenação dos chamados “crimes contra os costumes” era rara. Por serem crimes 
que, de um modo geral, aconteciam em ambientes privados, a prova era quase 
utópica e a palavra da mulher desprestigiada. Em grande parte dos casos a culpa 
era atribuída a ela, e o réu, absolto. Em alguns casos com resultado morte, ao 
agressor restava a legítima defesa da honra, excludente de punibilidade que nem 
mesmo existia na Lei. 
 A história evoluiu, e conforme o tempo surgiram leis para proteger as 
mulheres contra a violência , dentre elas a Lei 11.340/06, que foi um grande marco 
na conquista do direito das mulheres, trazendo uma mudança considerável de 
modelo da conduta da violência contra a mulher, exibindo uma realidade invisível à 
maioria: a prática habitual da violência doméstica no âmbito familiar, em suas mais 
variadas formas. Esta surge com o intuito de proporcionar instrumentos para “coibir, 
prevenir e erradicar” a violência doméstica e familiar contra a mulher, garantindo sua 
integridade física, psíquica, sexual, moral e patrimonial. Mas por que mesmo diante 
de leis, normas, dados, estatísticas, fatos, políticas públicas e todas as outras 
formas de ajuda e incentivo no combate a esse tipo de violência, o número ainda é 
tão alto? 
 A Lei 11.340/06 (Lei Maria da Penha) introduziu uma série de ferramentas 
que visam proteger os aspectos físicos, psicológicos e patrimoniais das vítimas de 
violência. Dentre elas se destacam as medidas protetivas de urgência, que garantem 
a mulher buscar a proteção estatal, e em especial, a jurisdicional, contra o seu 
suposto agressor. Essas medidas mostram total necessidade. No entanto, sua 
eficácia ainda é questionada, por não condizerem inteiramente com o cenário atual, 
uma vez que os casos de violência em sua totalidade ainda são altos. 
A eficácia dessas medidas não depende apenas da interpretação da 
aplicação da lei e seus institutos, para atingir os fins a que se pretende 
constitucionalmente pela Lei Maria da Penha, mas de alternativas para além da 
punição dos agressores que deem complemento as medidas protetivas de urgência. 
O fator cultural também é crucial para entender o porquê de, não raramente, as 
vítimas não denunciarem esses criminosos, ou demorarem a fazê-lo. Além da noção 
de subserviência aos maridos que muitas têm, há uma série de fatores envolvidos: 
falta de autonomia financeira, dependência emocional, medo, vergonha e até o 
desconhecimento da lei e de todo o aparato público de apoio. São situações 
complexas, que pedem políticas que deem conta de responder a isso. 
 O objetivo geral do presente estudo é demostrar que essas medidas 
protetivas contidas na referida lei, não atingem o propósito para o qual foram 
criadas. Para que os objetivos específicos fossem alcançados foi utilizada técnica de 
pesquisa teórico- bibliográfica, que visa perscrutar leis, doutrinas, artigos científicos, 
revistas, periódicos e afins, com a finalidade de obter informações que contribuam 
para uma melhor discussão do tema. 
3 
 
Quanto à estrutura, esta introdução traz a especificação do problema, expõe 
os objetivos e metodologia, seguida pela primeira sessão, que traz a evolução das 
medidas de proteção a mulher vítima de violência. A segunda sessão trata das 
medidas protetivas de urgência previstas na Lei 11.340/06 – Lei Maria da Penha – e 
suas classificação quanto às medidas que obrigam o agressor e as que obrigam a 
vítima. Seguida da terceira sessão, que versa sobre a ineficácias das medidas 
protetivas de urgência elencadas na Lei supracitada. Na quarta sessão será 
abordada a ineficácia do Estado ante à fiscalização dos cumprimento de tais 
medidas em razão de sua precariedade estrutural, seguido das politicas que podem 
ser adotadas pelo judiciário no enfrentamento a violência contra a mulher, esse ser 
tão resiliente que sempre foi obrigada a manter-se calada, por quem prometeu amá-
la e respeitá-la. Por fim, as considerações finais que surgiram das análises das 
informações obtidas dos estudos bibliográficos. 
 
1. PRINCIPAIS DISPOSITIVOS LEGAIS QUE FORAM CRIADOS OU 
MODIFICADOS, OU QUE AINDA ESTÃO EM TRAMITAÇÃO, VISANDO O 
COMBATE A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER . 
 
Historicamente falando, a violência contra mulher é herdeira de uma cultura 
de raízes machista e patriarcal, que trouxe a ideia de que a mulher deveria manter-
se no lugar imposto pela sociedade e se calar em face de toda e qualquer violência 
praticada. Tal sistema foi perpetuado ao longo de todo Brasil colônia, influenciado 
pelo Estado Português, que não apenas o praticava, como atuava de modo que 
qualquer resistência ou mesmo pensamento contrário,fosse combatido 
obtundentemente. 
“Somente a partir do século XIX esse comportamento começa a se 
modificar por meio de alterações na maneira de pensar, bem como 
na atitude de mulheres corajosas. Estas, já cansadas, insatisfeitas e 
revoltadas com a maneira pela qual eram tratadas, com a violência a 
que eram submetidas e o descaso da sociedade, deram início a uma 
revolução silenciosa, que foi tomando forma e ganhado força à 
medida que se buscavam garantias devido á violação dos direitos da 
mulher (BARROS, 2018).” 
 
Direitos foram adquiridos, apesar da contínua prática de atos violentos. A luta 
constante deu reconhecimento a esses direitos que, finalmente foram transformados 
em leis que pudessem não somente garanti-los, mas, principalmente, protegê-los. 
Na década de 50 a Organização das Nações Unidas, criou a Comissão de Status da 
Mulher, que entre os anos de 1949 e 1962 elaborou vários tratados com base em 
provisões da Carta das Nações Unidas, declarando igualdade de direitos entre 
homens e mulheres sem distinção de qualquer natureza. 
Desde então, várias ações têm sido impelidas, a âmbito mundial, no intuito de 
promover direitos as mulheres, e, no que compete ao Brasil, uma série de medidas 
protetivas vêm sendo empregadas visando à solução desse problema. Porém, essas 
medidas efetivas em relação ao combate da violência contra a mulher só foram 
realmente adotadas a partir da segunda metade do século XIX, e tiveram maior 
amparo após a promulgação da Constituição de 1988 e da Lei n. 11.340/2006, que 
ficou conhecida como Lei Maria da Penha, esta introduziu importantes mecanismos 
de prevenção e combate à violência contra a mulher, seja ela física, psicológica, 
sexual, moral ou patrimonial. 
4 
 
A Lei Maria da Penha criou mecanismos para prevenir, punir e erradicar a 
violência doméstica e familiar contra a mulher, tornando mais rigorosa a punição 
para agressões quando ocorridas no âmbito do lar. Ao longo de 14 anos de sanção 
da Lei Maria da Penha, a norma passou por mudanças significativas, desde o 
atendimento primário às mulheres vítimas de violência até tornar crime o 
descumprimento de medida protetiva. A partir de sua sanção, várias outras 
normas foram estabelecidas para garantir a proteção às vitimas de tais atos 
violentos. 
Em novembro de 2017, foi publicada a Lei 13.505, que estabeleceu que 
mulheres em situação de violência devem ser atendidas de preferência por 
policiais e peritos do sexo feminino. A Lei garante também que, não haverá 
contato algum, em nenhuma hipótese, da vítima de violência ou de seus familiares 
e testemunhas, com investigados ou suspeitos de terem cometido a violência ou, 
pessoas a eles relacionadas. 
Em abril de 2018, o presidente Michel Temer sancionou a Lei 13.641, que 
tipifica o crime de descumprimento de medidas protetivas de urgência. A norma 
estabelece que o descumprimento de decisão judicial que defere a medida enseja 
pena de detenção de três meses a dois anos. 
Em dezembro desse mesmo ano, a norma passou por nova alteração. Desta 
vez, com a edição da lei 13.772,que reconhece a violação da intimidade da mulher 
como violência doméstica e familiar, e criminaliza o registro não autorizado de 
conteúdo com cena de nudez ou ato sexual. Conforme dispõe a norma, que 
também alterou o Código Penal, "produzir, fotografar, filmar ou registrar, por 
qualquer meio, conteúdo com cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de 
caráter íntimo e privado sem autorização dos participantes" é crime com de pena 
que varia de seis meses a um ano de detenção e multa. 
Em maio de 2019, foi sancionada pelo então presidente Jair Bolsonaro a Lei 
13.827, que estabelece algumas mudanças na Lei Maria da Penha, e autoriza a 
aplicação de medida protetiva de urgência, pela autoridade judicial ou policial à 
mulher em situação de violência doméstica e familiar, ou a seus dependentes, e 
determina o registro da medida protetiva de urgência em banco de dados mantido 
pelo Conselho Nacional de Justiça. 
 Menos de um mês depois, em 4 de junho, foi sancionada a lei 13.836/19, a 
norma acrescenta dispositivo a Lei 11.340/06, tornando obrigatória a inclusão de 
informação nos boletins de ocorrência quando a mulher vítima de violência 
doméstica for pessoa com deficiência. Em setembro de 2019, a Lei Maria da Penha 
foi modificada através do Projeto de Lei 2.438/19, acrescentando os §§4º e 5º ao art. 
9º, para dispor sobre responsabilidade do agressor em ressarcir os custos 
relacionados aos serviços de saúde prestados pelo Sistema Único de Saúde - SUS e 
aos dispositivos de segurança em caso de pânico, utilizados pelas vítimas de 
violência doméstica e familiar. 
Em outubro de 2019 foi transformada em norma jurídica o PL 510/19 que 
permite à ofendida, propor ação de divórcio no Juizado de Violência Doméstica e 
Familiar contra a Mulher, e estabelece prioridade de tramitação, em qualquer juízo 
ou tribunal, para os procedimentos judiciais em que figure como parte a vítima de 
violência doméstica e familiar. 
Tramita no Congresso a PLS 191/17, pronto para deliberação no plenário do 
Senado, que altera a redação do art. 2º da Lei nº 11.340, para assegurar à mulher 
as oportunidades e facilidades para viver sem violência, independentemente de sua 
identidade de gênero. 
5 
 
 Outro projeto em tramitação é o PL 2661/2019. Ele proíbe a nomeação, na 
esfera da Administração Pública Federal, Direta e Indireta, em cargos de livre 
nomeação e exoneração, daqueles que forem condenados com trânsito em julgado 
por delitos previstos na Lei Maria da Penha. Nesse sentido, o Estado do Rio de 
Janeiro já impede a nomeação no âmbito da administração pública direta e 
indireta. A medida está prevista na lei estadual 8.301/19, sancionada em março de 
2019. Estes, e vários outros projetos tramitam em suas respectivas casas, com 
intuito de garantir segurança e defesa a mulher vítima de violência, com destaque 
para 2019, ano em que mais houve propostas no sentido de erradicar a violência 
doméstica. 
Como podemos verificar, as leis existem, e seus textos trazem vários instrumentos 
no sentido de prevenção, combate e erradicação da violência doméstica e familiar, 
que é o intuito pelo qual foi sancionada a Lei que tornou-se marco quando se trata 
deste assunto. A lei 11.340/06 – Lei Maria da Penha- possibilita, mesmo existindo 
alguns obstáculos, uma mudança de paradigma no trato da violência contra a 
mulher. Esses instrumentos permitem a proteção integral e efetiva das mulheres em 
situação de violência. As chamadas medidas protetivas de urgência, elencadas na 
Lei supracitada, prevê dois tipos: as que obrigam o agressor e as medidas que são 
direcionadas à vítima, visando protegê-las. Estas serão tratadas adiante. 
 
2. DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA PREVISTAS NA LEI 11.340/06. 
 
A Lei n. 11.340/2006 trouxe uma das maiores contribuições no combate a 
violência contra a mulher, a garantia das chamadas medidas protetivas, que tem o 
intuito não somente de proteger a mulher, como também de lhe garantir o direito a 
viver sem violência. Todavia, para que se possa aplicar uma medida protetiva, é 
necessário informar que os requisitos para o deferimento destas medidas previstas 
na Lei 11.340/06 não se confundem com os requisitos das ações cautelares, 
embora sejam medidas cautelares criminais, tem finalidade diversa das cautelares 
previstas no CPP, que tem como requisitos (fumus comissi delicti e periculum 
libertatis), nos termos dos artigos 282, I e II, e 312 do CPP, o inciso I do referido 
artigo objetiva a garantia dos processo criminais nas medidas cautelares criminais. 
Já as medidas protetivas de urgência da Lei Maria da Penha não são instrumentos 
para asseguras processos, estas têm por escopo, proteger os direitos fundamentais, 
evitando a violência contínua e situações que a favoreçam. 
As medidas protetivas de urgência previstas na 11.340/06 estão dispostas 
nos artigos 22, 23 e 24 da referida lei e se dividem entre as medidas que obrigamo 
agressor, e as medidas protetivas à ofendida. Todavia, antes de nos aprofundarmos 
em quais são as medidas que obrigam cada uma das partes envolvidas, devemos 
falar dos procedimentos que devem ser seguidos após recebimento do registro da 
ocorrência da violência, que se encontra elencado no artigo 12 da referida Lei: 
Art. 12. Em todos os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, 
feito o registro da ocorrência, deverá a autoridade policial adotar, de imediato, os 
seguintes procedimentos, sem prejuízo daqueles previstos no Código de Processo 
Penal: 
 
I - ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e tomar a representação a 
termo, se apresentada; 
II - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e de 
suas circunstâncias; 
6 
 
III - remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, expediente apartado ao 
juiz com o pedido da ofendida, para a concessão de medidas protetivas de 
urgência; 
IV - determinar que se proceda ao exame de corpo de delito da ofendida e 
requisitar outros exames periciais necessários; 
V - ouvir o agressor e as testemunhas; 
VI - ordenar a identificação do agressor e fazer juntar aos autos sua folha de 
antecedentes criminais, indicando a existência de mandado de prisão ou registro 
de outras ocorrências policiais contra ele; 
VII - remeter, no prazo legal, os autos do inquérito policial ao juiz e ao 
Ministério Público. 
§ 1o O pedido da ofendida será tomado a termo pela autoridade policial e 
deverá conter: 
I - qualificação da ofendida e do agressor; 
II - nome e idade dos dependentes; 
III - descrição sucinta do fato e das medidas protetivas solicitadas pela 
ofendida. 
§ 2o A autoridade policial deverá anexar ao documento referido no § 1o o 
boletim de ocorrência e cópia de todos os documentos disponíveis em posse da 
ofendida. 
§ 3o Serão admitidos como meios de prova os laudos ou prontuários 
médicos fornecidos por hospitais e postos de saúde. 
Esta fase é apenas de conhecimento, sendo dispensável a apresentação de 
documentos probatórios. Isso se deve ao fato de ser declarado caráter de urgência 
ou de cautelaridade que foi atribuída a estas medidas protetivas. Conforme o artigo 
19 da Lei 11.340/06, cita que para que sejam deferidas as medidas protetivas 
previstas na referida lei, pode-se dispensar a oitiva das partes ou até mesmo a 
manifestação do Ministério Público conforme § 1º: 
Art. 19. As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas pelo juiz, 
a requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida. 
§ 1o As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas de 
imediato, independentemente de audiência das partes e de manifestação do 
Ministério Público, devendo este ser prontamente comunicado. 
§ 2o As medidas protetivas de urgência serão aplicadas isolada ou 
cumulativamente, e poderão ser substituídas a qualquer tempo por outras de maior 
eficácia, sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou 
violados. 
§ 3o Poderá o juiz, a requerimento do Ministério Público ou a pedido da 
ofendida, conceder novas medidas protetivas de urgência ou rever aquelas já 
concedidas, se entender necessário à proteção da ofendida, de seus familiares e 
de seu patrimônio, ouvido o Ministério Público. 
 Essas medidas poderão ser aplicadas isoladas ou de forma cumulativa, 
podendo ser substituídas em qualquer tempo, sempre que os direitos reconhecidos 
na lei 11.340/06 forem violados ou ameaçados. Em contrário ao artigo 12, inciso III, 
que em princípio determinou a exclusiva legitimidade da ofendida para pleitear 
medidas protetivas de urgência, o caput do artigo 19 estende a legitimidade para o 
Ministério Público. De acordo com Hermann (2007) “para não se interpretar de 
forma contraditória tal disposição legal, é preciso ser coerente, concluindo que o 
Ministério Público será parte legítima para pleitear medidas protetivas de urgência 
7 
 
em caso de impossibilidade da vítima.” Do contrário, o pedido feito pelo Ministério 
Público deve estar instruído por representação da ofendida. 
O § 2º dá ao magistrado a liberdade para conceder todas as medidas 
protetivas postuladas, ou as que julgar necessárias. O § 3º amplia, o poder 
decisório do Juiz, quando lhe dá a opção de acrescentar outras medidas protetivas, 
além das que já forem concedidas, ou até mesmo revê-las para garantir sua 
efetividade. A única ressalva que se deve fazer é que o art. 19, caput, da Lei impede 
a concessão ex officio pelo juiz das medidas, mesmo que ele possa dar deferimento 
à medidas diversas das já concedidas. De mais a mais, o art. 22, caput, da Lei é 
clarividente ao prever que, constatada quaisquer daquelas formas de violência 
contra a mulher especificadas no art. 7º da Lei (logo, independentemente da 
existência de prova de crime, de juízo positivo de tipicidade jurídicopenal ou ainda 
do oferecimento ou não de representação nos casos de ação penal pública 
condicionada), o juiz poderá aplicar quaisquer das medidas protetivas previstas 
expressamente na Lei, sem prejuízo de outras previstas na legislação extravagante, 
sempre que a segurança da ofendida ou as circunstâncias o exigirem (art. 22, § 1º). 
A respeito do tempo de eficácia das medidas protetivas, elas não se sujeitam 
a limitação temporal prevista no artigo 806 do Código de Processo Civil, não sendo 
interposto a vítima ação principal em 30 dias, pois as medidas protetivas não 
dispõem de caráter temporário, e sim satisfativo. 
O Artigo 21 da lei em questão, determina que a vítima seja notificada de todos 
os atos processuais referentes ao seu agressor, sobretudo referente a entrada e 
saída da prisão, o parágrafo único traz um medida de cuidado e proteção do 
Estado, proibindo a entrega de qualquer notificação ou intimação ao agressor no 
intuito de evitar situação de vulnerabilidade e risco. A partir do Artigo 22 da Lei 
Maria da Penha, são arroladas as medidas protetivas de urgência que obrigam o 
agressor e as que são de obrigação a ofendida, que serão analisadas a seguir. 
 
2.1 Das medidas protetivas de urgência que obrigam agressor. 
 
 Constatada a prática de violência, poderá ser aplicada de imediato as medidas 
protetivas que obrigam o agressor, estas estão previstas no artigo 22 da referida Lei, 
e visam garantir a eficácia do processo criminal protegendo a vítima de violência, 
assim como os membros da família, com intuito de romper o ciclo violento a que 
estas pessoas estejam expostas. Em sua essência, essas medidas possuem 
natureza restritiva administrativa, que vão desde a suspensão do porte de arma, até 
a regulação às relações familiares. Podendo ser estendidas até a decisão penal 
definitiva. Conforme citadas a seguir: 
“Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, 
nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou 
separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras: 
I – suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao 
órgão competente, nos termos da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003; 
II – afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida; 
III – proibição de determinadas condutas, entre as quais: 
a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o 
limite mínimo de distância entre estes e o agressor; 
b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de 
comunicação; 
8 
 
c) frequentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física 
e psicológica da ofendida; 
IV – restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a 
equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar; 
V – prestação de alimentos provisionais ou provisórios. 
§ 1º As medidas referidas neste artigo não impedem a aplicação de outras 
previstas na legislação em vigor, sempre que a segurança da ofendida ou as 
circunstâncias o exigirem, devendo a providência ser comunicada ao MinistérioPúblico. 
§ 2º Na hipótese de aplicação do inciso I, encontrando- se o agressor nas 
condições mencionadas no caput e incisos do art. 6º da Lei no 10.826, de 22 de 
dezembro de 2003, o juiz comunicará ao respectivo órgão, corporação ou instituição 
as medidas protetivas de urgência concedidas e determinará a restrição do porte de 
armas, ficando o superior imediato do agressor responsável pelo cumprimento da 
determinação judicial, sob pena de incorrer nos crimes de prevaricação ou de 
desobediência, conforme o caso 
 § 3º Para garantir a efetividade das medidas protetivas de urgência, poderá o 
juiz requisitar, a qualquer momento, auxílio da força policial. 
§ 4º Aplica-se às hipóteses previstas neste artigo, no que couber, o disposto no 
caput e nos §§ 5º e 6º do art. 461 da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973.(Código 
de Processo Civil). 
O intuito dessas medidas nada mais é do que garantir a eficácia do processo 
criminal e proteger a vítima de violência doméstica, que ocorre comumente na 
constância do lar onde residem autor, vítima e integrante da família. Situação que 
acaba por concitar o autor e subjugar a mulher, que na maioria das vezes aceita as 
agressões para garantir o seu lar e a companhia dos filhos ou até mesmo pelo fator 
econômico. 
A medida de afastamento do agressor do lar, domicílio ou local de convivências 
com a ofendida, traz aparentemente a sensação de segurança para vítima e 
familiares. Nessa hipótese o patrimônio da vítima também é preservado já que os 
objetos do lar não poderão ser destruídos. Há que se falar que na avaliação da 
concessão da referida medida, o magistrado faz uma ponderação de valores.Esta 
medida não é regra, alerta Campos: 
 
“A prioridade da lei é sempre a de afastar o acusado da residência 
comum, como dispõe o inciso II do art. 22 desta lei, até por ser mais 
prático que o agressor sozinho deixe a casa e busque abrigo num 
hotel ou na casa de parentes e amigos, do que faça a vítima e seus 
dependentes”. (2007, p. 419) 
 
 Tais medidas preveem ainda proibição de condutas do agressor, tais como: a) 
proibição de se aproximar da vítima, de seus familiares ou testemunhas; b) 
abstenção de manutenção de qualquer tipo de contato com a vítima, seus familiares 
e testemunhas; c) proibição de frequentação dos mesmos lugares que a vítima, 
familiares e testemunha. Vale mencionar que tais restrições não configuram 
constrangimento ilegal, pois não infringem o direito de ir e vir mencionado no texto 
constitucional. Caso haja necessidade, pode ser solicitado força policial para 
garantia da efetividade das medidas, havendo também a possibilidade da prisão 
preventiva quando descridas as medidas protetivas de urgência. 
 Além das medidas que obrigam o agressor que comete violência doméstica e 
familiar, na garantia de puní-lo, foi alterada a legislação com a Lei 13.641/18 que 
9 
 
passa a considerar crime, o descumprimento das medidas protetivas de urgência e 
passa a vigorar acrescedido da Seção IV. Com esta alteração, o agressor que 
descumprir as medidas supracitadas comete o crime tipificado no artigo 24-A : 
Art. 24-A. Descumprir decisão judicial que defere medidas protetivas de 
urgência previstas nesta Lei: 
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos. 
§ 1o A configuração do crime independe da competência civil ou criminal do 
juiz que deferiu as medidas. 
§ 2o Na hipótese de prisão em flagrante, apenas a autoridade judicial poderá 
conceder fiança. 
§ 3o O disposto neste artigo não exclui a aplicação de outras sanções 
cabíveis.” 
Art. 3o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. 
 
 
2.2 Das Medidas Protetivas De Urgência À Ofendida 
 
Uma vez imposta uma medida que puna o agressor, o magistrado poderá 
tomar outras medidas, sem prejudicar as já tomadas, a fim de que a ofendida fique 
protegida e seja amparada pelo Estado. A lei prevê, dentre as medidas protetivas de 
urgência, aquelas que obrigam o agressor (artigo 22) e aquelas que visam à 
proteção da vítima (artigos 23 e 24). 
“Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas: 
I – encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou 
comunitário de proteção ou de atendimento; 
II – determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao 
respectivo domicílio, após afastamento do agressor; 
III – determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direitos 
relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos; 
 IV – determinar a separação de corpos. 
Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou 
daqueles de propriedade particular da mulher, o juiz poderá determinar, 
liminarmente, as seguintes medidas, entre outras: 
I – restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à ofendida; II – 
proibição temporária para a celebração de atos e contratos de compra, venda e 
locação de propriedade em comum, salvo expressa autorização judicial; 
III – suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao agressor; 
IV – prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e 
danos materiais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a 
ofendida. 
Parágrafo único. Deverá o juiz oficiar ao cartório competente para os fins 
previstos nos incisos II e III deste artigo”. 
Tais medidas foram introduzidas para garantir uma proteção imediata às 
mulheres em situação de violência. Tanto as medidas protetivas de urgência que 
obrigam o agressor, quanto as medidas que protegem a vítima, caracterizam-se 
como ferramentas imprescindíveis para o tratamento da questão da proteção integral 
da mulher vítima de violência doméstica e familiar, dada a diversidade de sua 
natureza. 
10 
 
Ocorrendo a violência doméstica e familiar contra a mulher, a vítima poderá 
procurar a autoridade policial, a qual, dentre outras providências, deverá garantir 
proteção policial, quando necessário, comunicando de imediato ao Ministério Público 
e ao Poder Judiciário; encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de saúde e ao 
Instituto Médico Legal, fornecer transporte para a ofendida e seus dependentes para 
abrigo ou local seguro, quando houver risco de vida; se necessário, acompanhar a 
ofendida para assegurar a retirada de seus pertences do local da ocorrência ou do 
domicílio familiar; e, por fim, informar à ofendida os direitos a ela conferidos na Lei 
11.340/06 e os serviços disponíveis. 
Neste contexto, Dias cita que: “adoção de providência de natureza cautelar 
está condicionada à vontade da vítima.” (2010) 
Dessa forma, conforme mencionado anteriormente, o juiz somente poderá 
conceder, de ofício, outras medidas que garantam a proteção da vítima, após a 
manifestação expressa por ela, requerendo a concessão das medidas protetivas de 
urgência. Após o conhecimento do episódio por parte da autoridade policial, que 
configure a violência doméstica, deverá ser tomada as providencias legais cabíveis 
como cita a art.10 da referida Lei, o Ministério Público tem igual compromisso de 
requerer que sejam aplicadas as medidas protetivas ou que seja feita a revisão das 
medidas já adotadas, para assegurar a proteção da vítima (art. 18, III, art. 19 e § 
3º). Contudo, para que haja ação do juiz é necessário que este seja provocado. 
Logo poderá o juiz determinar que a ofendida e seus dependentes sejam 
encaminhados a programas oficiais ou comunitários que se destinam à proteção ou 
atendimento à mulher em situação de violência, no intuito de oferecer apoio a ela e 
seus dependentes. Poderá ainda, ser determinada por meio de auxílio policial, a 
recondução da vítima e seus dependentes ao lar, mediante afastamento do 
agressor, ou até mesmo o afastamento da vítima, não havendo prejuízo algum aos 
direitos relativos à guarda, alimentos e bens patrimoniais do casal. 
Por fim, conforme dispõe o inciso IV, do artigo 23, poderá ser determinada a 
separação de corpos, isso para que a vítima não permaneça no mesmo ambiente 
que o agressor, resguardando assim sua integridadefísica e psicológica e de sua 
família. Não se identifica no texto da Lei Maria da Penha especificidade de prazo 
para a manutenção dessas medidas protetivas de urgência, razão pela qual, em 
consonância com a mens legis, tem-se que as mesmas devem perdurar pelo tempo 
que se fizer necessário ao fim a que se destina. Do mesmo modo, fere o mister da 
norma, a revogação da medida imposta, sem que seja certificado junta à vitima sua 
desnecessidade, sob pena de desampará-la. 
3. DA INEFICÁCIA DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA PREVISTAS 
NA LEI 11.340/06 E A INEFICÁCIA ESTATAL NA FISCALIZAÇÃO DO 
CUMPRIMENTO DESTAS. 
 
A introdução das medidas protetivas de urgência constitui um dos pontos 
mais importantes da Lei Maria da Penha, uma vez que garante o aumento na 
proteção das mulheres vítimas de violência doméstica e familiar. Contudo, se há de 
notar, que nem sempre tais medidas são cumpridas de acordo com a determinação 
judicial ou simplesmente não são cumpridas. 
Assim, pode-se aduzir que mesmo sendo instrumento de grande valia na 
proteção às vítimas de violência doméstica, não tem alcançado o efeito esperado. 
Isso se deve entre outras coisas, à morosidade dos procedimentos legais que tratam 
da implementação das medidas. Jara, citando Freitas, fala que: 
11 
 
 
“Grande parte desta ineficácia se dá pela falta de aparato às polícias 
e ao judiciário, onde o baixo número de agentes, servidores, juízes e 
promotores não conseguem suportar o número de procedimentos e 
processos que a cada dia avoluma-se nas delegacias e judiciário, 
não só decorrentes desta lei, promovendo um sentimento de 
impunidade aos agressores que possuem contra si medidas 
protetivas em favor de seus cônjuges, companheiras e namoradas, 
pois ora há demora na emissão de tais medidas, ora, quando são 
emitidas, sua efetividade é minguada pela falta de punição aos 
agressores que as descumpre”. (2014, p.64) 
 
Consequente, esta falta de aparato e a ineficiência da estrutura estatal são 
contribuintes diretos para o descumprimento dessas medidas protetivas. Nesse 
sentido, Melo trata da ineficácia dessas medidas, e da ineficiência estatal da 
seguinte forma: 
 
“Grande parte da morosidade na concessão ou até mesmo na 
fiscalização do cumprimento destas se dá a falta de pessoal, 
implicando no acúmulo de processos causando a resposta tardia em 
alguns casos, ou simplesmente a falta dela. Não obstante, é evidente 
a falta de cooperação entre os diversos órgãos estatais envolvidos 
na concessão das medidas protetivas, quer seja pelo não 
compartilhamento de informações necessárias, quer seja pela 
demora em atender pedidos feitos ou mesmo por não dispor de 
equipamentos e tecnologia que viabilizem o processamento mais 
rápido dos pedidos de concessão e dos deferimentos das medidas. 
Além disso, existe ainda a dificuldade do poder judiciário em atender 
as reclamações feitas no que diz respeito a descumprimento das 
medidas.” (MELO, 2011) 
 
A Lei Maria da Penha é eficaz, porém, a sua aplicabilidade deixa a desejar, e 
isso se dá tanto no Poder Executivo, como no Judiciário e no Ministério Público, 
ocasionando uma certa impunidade na apuração do fato em si, conforme afirma 
Miguel Reale Júnior em entrevista realizada ao Jornal Recomeço, com a Tribuna do 
Direito. 
TD — De quem é a falta de vontade para que a lei se cumpra? 
Reale Jr. — Do Executivo, do Judiciário e do Ministério Público. 
TD — Como resolver a situação? 
Reale Jr. — Não adianta reformar a lei se não ocorrer uma mudança 
de mentalidade. Há uma resistência, especialmente na Magistratura, 
na adoção de novas medidas. Não é um fenômeno que ocorre só no 
Brasil, mas também em vários outros países, onde foram criadas as 
penas restritivas, que são fáceis de serem aplicadas, de ser 
controladas e cujo resultado no plano preventivo e também como 
punição é extraordinário. E se não se aplica gera-se a impunidade. 
 
 Ou seja, é precípuo a união de todos os poderes para torna-se aplicável 
sansões previstas em Lei, para se conseguir o objetivo de coibir a impunidade dos 
agressores. Conforme citado anteriormente, o inciso I do art.22 traz o seguinte texto: 
I – suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao 
órgão competente, nos termos da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003. Nota-
se que há a preocupação em desarmar o agressor, restringindo a possibilidade de 
12 
 
sua posse somente mediante registro na Polícia Federal. No entanto, há ainda os 
casos em que o uso e a posse não tem registro, não sendo possível nenhum tipo de 
controle pelos órgãos competentes, nesses casos, o seguinte dispositivo não surtiria 
eficácia. A medida tratada no inciso II que garante afastamento do lar, domicílio ou 
local de convivência com a ofendida; esbarra na questão do direito patrimonial sobre 
o imóvel compartilhado pelo agressor e vítima, sendo necessária a análise do juiz 
para determinar se haverá o afastamento ou não, do lar. 
 O descumprimento das medidas protetivas de urgência é considerada crime e 
possibilita a prisão do agressor, nesse contexto nos deparamos mais uma vez com a 
ineficiência do estado, no sentido de garantir o cumprimento dessas medidas, visto 
que, o sistema carcerário brasileiro, encontrasse defasado e não comporta a grande 
quantidade de pessoas, logo não possui estrutura física quando se trata da 
ressocialização do agressor. Por sua vez, o Judiciário decide por penas alternativas, 
que muitas vezes ainda apresentam falhas em seu monitoramento, como por 
exemplo, o uso da tornozeleira eletrônica. Ademais, ainda existe as situações em 
que a ofendida desiste da continuidade do processo, argumentando a conciliação do 
casal, tornando contínuo o ciclo de violência, fato este que não pode sofrer nenhum 
impedimento por parte do Estado ou do Judiciário. 
As medidas protetivas de urgência prevê ainda a proibição da prática de certas 
condutas ao agressor, com intuito de prevenir outros crimes assim como, proteger as 
vítimas de violência. Porém como menciona Porto: 
 
“Há dificuldades estruturais do Estado em implementá-las. E, nesse 
ponto, é bom ter presente que impor medidas que não poderão ser 
fiscalizadas ou implementadas com um mínimo de eficácia é sempre 
um contributo para o desprestigio da Justiça. De nada adianta o juiz 
justificar-se intimamente com escusas do tipo: ‘isso é problema da 
polícia, do poder executivo, etc.’, pois, na visão social, todos os 
órgãos – polícia, Poder Judiciário, advogados, Ministério Público – 
estão entre as imbricados e compreendem o grande sistema de 
justiça, de modo que as falhas em quaisquer dessas engrenagens 
depõem contra o todo sistêmico.”(2009 p.95). 
Mesmo tendo em vista a excelente elaboração da legislação de combate a 
violência doméstica e domiciliar, o Estado mostra-se ineficiente no que tange a 
fiscalização do cumprimento dessas medidas protetivas, pois fica evidente que a 
falta de estrutura tem acarretado prejuízo a implementação das medidas e acaba por 
gerar enorme descaso em relação ao direito das vítimas. A falta de contingente 
aliada ao mau preparo em muitas localidades, bem como equipamentos 
ultrapassados, também atuam para que não exista uma fiscalização precisa e 
atuante, tornando assim as regras frouxas e permitindo que os agressores 
continuem agindo impunemente. 
Ademais, a troca de informações entre diferentes órgãos judiciais não 
acontece com frequência, o que torna ainda mais deficiente a fiscalização do 
cumprimento das medidas com relação ao tamanho do País e o número de casos de 
agressões. Para mais, o agressor muitas vezes não é localizado para receber a 
intimação que determina o deferimento da medida. Nesse sentido, Carneiro, 
referindo-se ao que afirmam Martiello e Tibola, assevera que: 
 
“Nesta linha, é válido destacar que são inúmeros os 
casos em que o oficial de justiça não consegue encontrar o 
13 
 
agressor ou ainda cientificá-lo em tempo hábil. Aliás, existem 
casos em que o agressor está em local desconhecido,e sequer 
é encontrado para ser cientificado acerca das medidas. Ou na 
maioria esmagadora das vezes o agressor somente é 
cientificado após uma ou duas semanas da decisão e a vítima 
continua a sofrer reiteradas agressões e ameaças, estando 
todo o tempo vulnerável a algum atentado a sua integridade 
física ou psicológica. “(2010, p. 16) 
 
 Fora o que foi citado anteriormente, que torna deficiente a aplicação e 
fiscalização de tais medidas, ainda existem diversos fatores que contribuem para a 
falha da aplicabilidade das medidas protetivas. O projeto da Lei 11.340/06 previa em 
seu texto, a criação de uma extensa rede de acolhimento as mulheres vítimas de 
violência doméstica, com abrigos e casas de apoio. No entanto, tal rede resume-se a 
alguns abrigos que foram disponibilizados apenas nos grandes centros. Trazendo a 
falta de amparo e proteção aquelas vítimas que moram em lugares que estes 
centros não alcançam, este é um grande óbice à eficácia das medidas protetivas de 
urgência, a falta de uma rede de proteção ampla, que abranja a grande quantidade 
de mulheres violentadas e que esteja apta a recebê-las, sendo bem estruturada e 
dotada de infraestrutura e profissionais devidamente qualificados, prontos a atender 
as necessidades das mulheres que se encontram em situação de violência. 
 Somada a esta falta de aparato estatal, e a ineficácia do Estado na aplicação 
das medidas, está o fato de algumas mulheres permanecerem no silêncio ou 
omitirem a situação de violência, por motivos variados, seja por receio de voltarem 
para casa após prestarem a queixa, seja por depender financeiramente ou 
emocionalmente do cônjuge/companheiro, seja por vergonha, por medo da 
retaliação, ou até mesmo pelo o desconhecimento da Lei e do aparato público 
disponível para apoio. 
 Mesmo com todos os avanços que a lei trouxe em seu texto, ainda há muito a 
ser feito, e o aperfeiçoamento do sistema estatal de fiscalização do cumprimento 
dessas medidas protetivas se faz necessário a curto prazo. A lei é eficiente em sua 
aplicação, está claro que está muito bem assistida, pois determina a punição ao 
agressor e proteção as vítimas, porém, o estado torna-se negligente quando não são 
tomadas as providências para coibir e prevenir os atos violentos contra a mulher, 
promovendo condições favoráveis na proteção da vítima. Falta ao poder público agir 
com responsabilidade, possibilitando ações corretas de projetos que tragam 
segurança às mulheres que são constantemente agredidas por seus companheiros. 
 
4. O ISOLAMENTO SOCIAL DEVIDO A PANDEMIA DO COVID-19 E A 
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. 
 
O isolamento social de ordem mundial, em razão da pandemia do coronavírus 
tem sido primordial para conter o avanço do números de infectados e mortos. 
Todavia, a medida tem seus efeitos colaterais, causando impacto não somente na 
saúde e economia, mas principalmente na segurança pública. O lar que deveria ser 
lugar de segurança e refúgio, torna-se o lugar mais perigoso para algumas mulheres 
que sofrem com a violência doméstica. Diante esta pandemia, a rota, que já era 
crítica piorou. Toda a rede de serviço e amparo social no combate a violência 
doméstica ficou prejudicada. 
O Brasil apresentou algumas medidas no intuito de conter os índices de 
violência e feminicídio. Em abril, os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito 
14 
 
Santo e o Distrito Federal antecipando a ampliação de seus serviços da delegacia 
eletrônica, disponibilizaram o registro online de boletins de ocorrências de violência 
doméstica. 
 O Governo Federal anunciou a criação de um aplicativo intitulado de “Direitos 
Humanos BR”, essa ferramenta foi criada para que as mulheres vítimas de violência 
no âmbito familiar possam denunciar as diversas violações a que forem acometidas. 
Ainda no mês de abril, a então Ministra dos Direitos Humanos juntamente com o 
Procurador Geral da República, assinaram um acordo de cooperação técnica, que 
tem por escopo, o combate a violência doméstica durante a pandemia. O termo 
firmado determina o encaminhamento direto de denúncias durante a pandemia à 
Comissão de Defesa dos Direitos Fundamentais do CNMP (Conselho Nacional do 
Ministério Público). Além disso, a Central de Atendimento à Mulher segue disponível 
24 horas por dia pelo Ligue 180 e pelo Disque 100. Os casos com mais urgência 
devem ser denunciados à Polícia Militar pelo número 190. 
Essas medidas, no entanto, estão longe de serem suficientes, diante as 
estatísticas dessa quarentena, que intensificou o problema de subnotificações de 
ocorrência, que já era recorrente. A Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, 
através do aplicativo criado para denúncias de violência durante a pandemia 
registou, até o dia 24 de abril 7.563 queixas; destes 5.156 foram de “violência contra 
pessoa socialmente vulnerável,” que pode incluir mulheres, crianças e idosos. As 
denúncias específicas de violência contra a mulher somam até e a data citada 208 
ocorrências, 11 delas envolvendo risco de morte. 
 O Fórum Brasileiro de Segurança Pública realizou recente pesquisa que 
aponta uma redução no número de registros de casos de lesão corporal dolosa, com 
queda de 29,1% no Ceará, 28,6% no Acre, 21,9% em Mato Grosso, 13,2 no Pará e 
9,4% no Rio Grande do Sul e 8,9% em São Paulo. No entanto, o número de 
feminicídios aumentou 400% em Mato Grosso, 300% no Rio Grande do Norte, 100% 
no Acre e 46,2%, em São Paulo. Esses dados são comparações feitas entre março 
de 2019 e o mesmo mês deste ano. Ainda segundo a pesquisa, houve uma queda 
considerável da concessão do número das medidas protetivas de urgência: 67,7% 
no Acre, 32,9% no Pará e 31,5% em São Paulo (os demais estados não 
disponibilizaram a informação). 
A Organização das Nações Unidas por meio de seu Secretário Geral , tem 
recomendado aos países algumas medidas para combater e prevenir a violência 
domestica nesse período de pandemia. Destacando, entre essas medidas, maiores 
investimentos em serviços de atendimento online, estabelecimento de serviços de 
alerta de emergência em farmácias e supermercados e criação de abrigos 
temporários para vítimas de violência de gênero. Alguns países adotaram ainda 
medidas alternativas, com uso de códigos para pedir socorro. Na Espanha, na 
França e no Chile, por exemplo, farmácias foram instruídas a avisar autoridades 
sempre que uma mulher ligar perguntando pela “máscara 19” ou “máscara 
vermelha”, termo usado na Argentina. Aqui no Brasil, ainda não foi adotada 
nenhuma recomendação nesse sentido, o que seria bastante afanoso, ante a falta 
de estrutura estatal para atendimento desse tipo. 
A diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, apontou 
alguns problemas na estrutura estatal como forte aliado do crescimento desses 
números. 
 “Todos os países estão aprendendo a lidar com a pandemia, é uma 
situação sem precedentes. Há outros problemas como a falta de 
capacidade do serviço público de atender a todos. Se uma mulher 
agredida for até um posto de saúde, ela talvez não seja atendida pois 
15 
 
o local estará lotado de vítimas de Covid-19. Além disso, muitos 
policiais estão afastados e delegacias estão funcionando em 
esquema de plantão, o que dificulta o andamento dos processos”. 
(Samira Bueno, 2020). 
 
Muito provavelmente, os números são bem maiores, não refletindo a 
realidade atual, dado que, a maioria das vítimas estando em tempo integral ao lado 
do agressor, não tenha a possibilidade de denunciar, seja na delegacia ou por 
chamadas telefônicas ou virtuais. Ademais, não podemos esquecer das classes 
menos favorecidas, que não possuem nenhum meio que possibilite a denuncia, já 
que a maior parte das políticas de segurança ficam restritas a regiões metropolitanas 
e capitais, desprotegendo as mulheres vítimas em regiões mais afastadas, além das 
que não possuem instrução alguma, e sequer tem conhecimento sobre a existência 
de uma rede de proteção nesses casos, ou ainda os lugares onde não existe 
serviços especializadosnesse tipo de atendimento. 
O sistema judiciário continua funcionando, é possível, sempre que houver a 
necessidade, o afastamento do autor do lar, mediante requisição das medidas 
protetivas. Nesse sentido, o TJ de São Paulo lançou o projeto “Carta para Mulheres”, 
que disponibiliza um formulário, preenchem os campos e aguardam as orientações 
da equipe especializada, que informará os locais onde podem ser feito o 
atendimento adequado, além de alguns programas de ajuda de instituições públicas 
ou organizações não governamentais. Além de prestar esclarecimento acerca dos 
procedimentos adotados em caso de denúncia e as medidas protetivas de urgência 
existentes. 
Diante desta situação mundial atual, cabe o dilema de como assegurar o 
princípio da dignidade humana e direito a vida da mulher vítima de violência e do 
agressor, e como se dará o afastamento do agressor do lar, se nessas 
circunstâncias ele também estará exposto a risco de saúde fora do confinamento, ou 
mesmo como será assegurado o pagamento de alimentos a mulher, se o agressor 
na grande maioria dos casos, sofre com cortes expressivos em suas economias. 
Deve-se pensar, e a curto prazo, formas constantes e alternativas que 
contribuam para a evolução do sistema, garantindo às pessoas com vulnerabilidade, 
o acesso irrestrito a ele, e uma forma de alcançar todo e qualquer lugar mais semoto 
que esteja, seja com criação de políticas públicas inovadoras, seja em formas mais 
avançadas de se combater esse ciclo de violência. 
 
5. POLITICAS PÚBLICAS DE ENFRENTAMENTO A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 
NO ÂMBITO FAMILIAR 
 
 É nítido que estas estatísticas sobre a violência acometida contra a mulher 
é apenas uma parcela de todas as ocorrências, das mais variadas formas as quais 
elas são submetidas cotidianamente. A falta de políticas públicas concretas sobre o 
tema, interfere diretamente na aplicação da lei e representa um obstáculo gigante ao 
enfrentamento à violência de gênero. 
Grande parte dos casos de violência doméstica, têm como principal 
características a invisibilidade, pois não geram nenhum tipo de atendimento, não 
podendo, dessa forma, serem captadas em nenhum sistema de informação, fazendo 
com que o número real dos fatos ocorridos na constância do lar seja bem maior, 
afetando de forma muda e taciturna, milhares de mulheres, sem acompanhar 
nenhum padrão social, econômico, religioso ou cultural especifico. 
16 
 
Esse elevado número de ocorrência evidencia a necessidade de se repensar 
as políticas de enfrentamento a violência doméstica e familiar, dando ênfase à 
prevenção e assistência. O fator cultural também é essencial para entender os 
motivos que levam as vítimas a não denunciarem os seus agressores, ou 
demorarem a fazê-lo, somados a isso ainda temos vários outros fatores envolvidos: 
falta de autonomia financeira, dependência emocional, medo, vergonha e até o 
desconhecimento da lei e de todo o aparato público de apoio. São situações 
complexas, que pedem políticas que deem conta de responder a isso. 
 As leis, que hoje estão em vigor no Brasil para combate a violência 
doméstica são excelentes. A Lei Maria da Penha é reconhecida pela Organização 
das Nações Unidas como uma das mais avançadas no mundo quando o assunto é 
violência de gênero. No entanto, as leis sozinhas não dão conta, a necessidade de 
politicas publicas que sejam de fato eficazes, ultrapassa a mera concessão de 
medidas protetivas, que por si só não garantem segurança às mulheres. 
 Para o enfrentamento da violência contra a mulher, é necessário integrar 
conhecimentos produzidos nas diversas ciências. Começando com um ponto de 
suma importância, que diz respeito à educação, esta precisa vir desde cedo, tanto 
nas famílias quanto nas escolas, sendo adaptados os conteúdos de acordo com a 
idade da criança que, muitas vezes em situação de violência doméstica, não possui 
discernimento para entender o que acontece, desta forma, a educação de gênero 
deve ser trabalhada no intuito de ensinar que as mulheres são tão capazes quanto 
os homens, e são detentoras de direitos, devendo assim ser respeitadas. É 
necessário que desde cedo se tenha noção disso, para que possamos passar por 
essa travessia de uma sociedade que viola os direitos inerentes à mulher, para uma 
sociedade igualitária. 
 “As questões de gênero estão vinculadas às expressões do 
masculino e do feminino, atribuídas historicamente, por meio de 
imposições sociais e culturais. Essas imposições de caráter 
biológico, em nossa cultura, estão estritamente ligadas aos papéis 
que cada um/a tem que assumir socialmente. Acabam sendo 
injunções sociais e culturais, convenções de naturalização de papéis 
que designaram poder ao homem e promoveram, como resultado, 
uma sociedade machista e sexista. Desse modo, a discussão sobre 
gênero e violência é fundamental para evidenciar os determinismos 
impostos na sociedade.” (Poggio 2012) 
 
 Atrelado a educação infante, deve-se efetuar ações educativas de 
conscientização das relações violentas, tratar dos vários tipos de violência 
doméstica, assegurando à mulher conhecimento e esclarecimento do que é a 
violência doméstica, para que a própria vítima consiga se identificar no início desse 
processo,assim como, é necessário investimento em campanhas que conscientizem 
as vítimas a denunciar o agressor, intensificando essas ações nos lugares onde não 
há uma rede de proteção efetiva e onde não há cobertura de tecnologias e serviços que 
instruam as mulheres em situações de violência, efetuando assim, ações assertivas 
de prevenção primária, secundária e terciária deste grave fenômeno social. 
Deve-se também melhorar o atendimento prestados nas unidades policiais, e 
de acolhimento as mulheres vítimas de violência, para que se fortaleça a confiança 
dessas vítimas no Poder Público, já que a maioria das pessoas que atendem essas 
mulheres não são especializadas ou não receberam um treinamento adequado, é 
necessário que os funcionários de toda a rede de prevenção, combate e apoio a 
essas mulheres, estejam aptos a observar sinais de violência, e que essa rede de 
17 
 
apoio funcione com a participação de diversos órgãos, não restringindo-se apenas 
aos grandes centros, mas principalmente nos lugares onde não há delegacias 
especializadas, ou que não funcionam durante a noite e em finais de semana ou 
feriados. 
Há que se pensar também no envolvimento da vizinhança e das redes 
sociais, que podem atuar como agentes de prevenção. Abstraindo a cultura de “não 
meter a colher”, de acreditar que todo problema familiar deve ser mantido dentro das 
famílias, oferecendo ações educativas que promovam a transformação de valores 
culturais e oferecer ações de cuidados a vítima, e de reabilitação e reintegração do 
agressor. 
Trabalhar com os profissionais de serviços especializados no sexo feminino, 
como salões de beleza, spas, centros de estética e bronzeamento, lojas de vestuário 
feminino ou de vendas de produtos de maquiagem e vários outros, dando a estes 
profissionais, treinamento suficiente para que reconheçam situações de violência 
doméstica e possam comunicar as unidades de referência nesse assunto, buscando 
sempre a segurança de ambos, tanto a vítima, quanto o denunciante, já que a 
maioria não efetua a denúncia por medo de retaliações. 
Ademais, deve ser dado a mulher vítima de violência o suporte necessário 
desde o primeiro contato com a rede de proteção, garantindo as estas mulheres 
segurança de fato, expandindo o atendimento nas casas abrigo, proporcionando que 
todo e qualquer localidade possua um centro especializado e capacitado para 
atender as vítimas, que além disso, sejam criados centos de qualificação 
profissional, que trabalhem em conjunto com empresas públicas e privadas, no 
sentido de criar a autonomia financeira que muitas necessitam. É primordial 
propostas que tragam mudanças culturais e de consciência, e que visem de fato 
proteger esse ser tão resiliente, pois a impunidade não está nafragilidade da lei, 
está nos procedimentos adotados após a denúncia. 
 
 
6. CONCLUSÃO 
 
Desde os primórdios da sociedade, a mulher é vítima em situações de 
violência, essa cultura machista que nos assola, vem durante anos garantindo ao 
homem uma certa impunidade nesse sentindo. Esse problema cultural é marcado 
pela discriminação e submissão, que faz com que o homem veja a mulher como um 
objeto para sua uso e comodidade. Esse pensamento foi edificado durante décadas, 
e se levará uma grande contagem de tempo para desconstruir esse conceito. 
No entanto, a história passou por evoluções e vários mecanismos foram 
criados no intuito de prevenir a violência doméstica. A lei 11.340/06 que passou a 
ser chamada de Lei Maria da Penha, trouxe avanços significativos e várias 
conquistas no sentido de prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher, e é 
tratada como a terceira melhor legislação do mundo pela ONU. Ela traz ainda em 
seu texto, elencadas nos artigos 22 a 24, as medidas protetivas de urgência que 
visam garantir a proteção à mulher vítima de violência, assim como de seus 
familiares, e nesse sentido, essas elencadas na referida Lei, contribui de fato para 
diminuição dos casos de violência doméstica e familiar. 
 Entretanto, ao longo desse estudo podemos verificar que, a Lei Maria da 
Penha, em se tratando da proteção à vítima e punição do agressor, é eficaz, no 
entanto, como pontuam diversos juristas, ainda existe uma deficiência enorme em 
sua aplicabilidade, apesar de sua progressão, no que tange essas medidas 
18 
 
protetivas, relacionada ao cumprimento e fiscalização, não alcançando a real 
finalidade a que foram instituídas, que é proteger a integridade física, psicológica, 
moral, sexual e patrimonial da vítima de violência doméstica e familiar. Mesmo que 
estas medidas sejam imprescindíveis para garantir a preservação e a integridade da 
vítima e seus direitos, sua ineficiência traz descrença no poder público perante a 
inércia do Estado em sua aplicação e fiscalização. 
O cumprimento de todos os dispositivos elencados na lei 11.340/06, e os que 
implementam esta, só tornar-se-á de fato efetivo, se cumpridos à risca de acordo 
com o texto que os instituiu. Além de todo esse aparato que a lei traz consigo,é 
necessário esforço e colaboração conjunta de todas as partes envolvidas, desde a 
vítima até o Estado e o Poder Judiciário. Somando estes esforços as políticas 
públicas de prevenção, combate e apoio que devem ser criadas fortalecendo essa 
rede que busca combater a violência doméstica e familiar, afastando a sensação de 
impunidade que faz parte do atual cenário. E dando suporte suficiente às vítimas, 
com implementações de ações que garantam a sua segurança principalmente após 
a denúncia. 
Para tanto, muito ainda deverá ser feito para que haja avanço da sociedade 
no combate ao preconceito e à discriminação do gênero feminino, na criação de 
políticas públicas que atendam a demanda da violência doméstica, na criação de 
programas de atendimento a mulheres e também aos agressores, e na inclusão de 
novas medidas à mulher agredida. 
 
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19 
 
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 Orientador (a): Prof . Bruno Teixeira de Paiva. 
 Artigo Científico (Curso de Direito) – Centro 
Universitário de João Pessoa – UNIPÊ. 
 
 Lei 11.340/06. 2. Medidas Protetivas. 3. 
Ineficácia I.Título. 
 
UNIPÊ / BC CDU - 342.726-055.2

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