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1 www.g7juridico.com.br INTENSIVO I Cleber Masson Direito Penal Aula 01 ROTEIRO DE AULA Introdução ao Direito Penal 1. Conceito de Direito Penal O Direito como um todo – e não apenas o Direito Penal – é composto por normas jurídicas, as quais se subdividem em regras e princípios: aquelas são rígidas; estes, flexíveis. Portanto, o Direito Penal é o conjunto de regras e princípios destinados a combater o crime e a contravenção penal, mediante a imposição de uma sanção penal. • Crime e contravenção penal são espécies do gênero infração penal. • Sanção penal é a resposta do Estado a quem viola a lei penal. Tem como espécies a pena e a medida de segurança. 2. Posição do Direito Penal na teoria geral do Direito O Direito Penal é um ramo do Direito Público: é composto por regras indisponíveis e dirigidas a todas as pessoas. Ademais, o direito de punir (“ius puniendi”) pertence ao Estado, com exclusividade. Em outras palavras, o Estado é o titular exclusivo do direito de punir, inclusive nos crimes de ação penal privada, nos quais o Estado delega somente o direito à persecução penal. Outro fundamento que justifica o Direito Penal como ramo do Direito Público é o de que o Estado figura como sujeito passivo em todo e qualquer crime ou contravenção penal. O Estado poderá ser: • Sujeito passivo imediato. Exemplo: crimes contra a Administração Pública. 2 www.g7juridico.com.br • Sujeito passivo mediato. Exemplo: homicídio – o Estado é o responsável pela manutenção da paz e da segurança pública. 3. Nomenclatura: “Direito Penal” x “Direito Criminal” A expressão “Direito Criminal” é mais abrangente, pois enfatiza o crime (e não a pena). A expressão foi empregada em 1830 pelo primeiro diploma codificado em matéria penal - Código Criminal do Império. Nada obstante a expressão “Direito Criminal” ser mais abrangente, atualmente o correto é falar-se em “Direito Penal”, pois temos em vigor um Código Penal (Dec.-Lei n. 2.848/40 – recepcionado pela Constituição Federal de 1988 como lei ordinária). Ademais, a própria Constituição Federal cita a expressão “direito penal” (CF, art. 22, I). 4. Características do Direito Penal De acordo com Magalhães Noronha, “O Direito Penal é uma ciência cultural, normativa, valorativa e finalista”. Análise: • Ciência: o Direito Penal é uma ciência porque suas normas dialogam entre si e compõem a dogmática penal. • Ciência cultural: o Direito Penal pertence à classe da Ciência que estuda o denominado “dever-ser”. • Ciência normativa: o objetivo de estudo do Direito Penal é a norma penal. • Ciência valorativa: o Direito Penal possui sua própria escala de valores na apreciação dos fatos que lhe são submetidos. • Ciência finalista: o Direito Penal tem uma finalidade prática (e não meramente acadêmica) de proteção de bens jurídicos (Claus Roxin). O Direito Penal é constitutivo ou sancionador? Para Zaffaroni, “o direito penal é predominantemente sancionador e excepcionalmente constitutivo”. O Direito Penal cria sanções para reforçar a proteção que já é dada por outros ramos do Direito a um determinado interesse ou bem jurídico. Exemplo: o crime de furto proporciona uma especial proteção ao direito de propriedade, o qual é criado pelo Direito Civil. Excepcionalmente, o Direito Penal é constitutivo ao tutelar interesses não regulados pelos demais ramos do Direito. Exemplo: crime de posse ilegal de droga para consumo pessoal. 5. Funções do Direito Penal http://www.iceni.com/infix.htm 3 www.g7juridico.com.br 5.1. Proteção de bens jurídicos Para Claus Roxin, a função do Direito Penal é exclusivamente a proteção de bens jurídicos, os quais consubstanciam valores ou interesses relevantes para a manutenção e o desenvolvimento do indivíduo e da sociedade. Todo e qualquer bem jurídico pode ser protegido pelo Direito Penal? Não. Somente os bens jurídicos mais relevantes para o indivíduo e para a sociedade é que podem ser tutelados pelo Direito Penal. Portanto, compete ao legislador fazer a seleção, mediante um juízo de valor positivo. Por fim, a proteção de bens jurídicos é a função precípua do Direito Penal, dando-lhe legitimidade. 5.2. Instrumento de controle social O Direito Penal é utilizado pelo Estado para controlar o comportamento das pessoas e, consequentemente, para manter a paz social e a ordem pública. 5.3. Garantia Para Franz von Liszt, “o Código Penal é a magna carta do delinquente”. Assim, o Direito Penal, mais do que perseguir e punir as pessoas, serve para protegê-las do arbítrio e da ingerência indevida do Estado em suas vidas particulares. 5.4. Função ético-social do Direito Penal A função ético-social também é denominada de “função criadora dos costumes” ou “função configuradora dos costumes”. Ela tem origem na estreita vinculação entre o Direito Penal e os valores éticos de uma sociedade. A função ético-social se vale do Direito Penal para buscar na sociedade um efeito moralizador. É o “mínimo ético” que deve vigorar na sociedade. 5.5. Função simbólica A função simbólica existe em toda e qualquer lei, mas é mais acentuada no Direito Penal. É aquela que não produz efeitos externos ou concretos, mas somente na consciência dos governantes e dos governados. http://www.iceni.com/infix.htm 4 www.g7juridico.com.br A função simbólica manifesta-se com o chamado “Direito Penal do terror”, caracterizado pela “inflação legislativa” (Direito Penal de emergência) e pela “hipertrofia do Direito Penal”. Tal função deve ser afastada do Direito Penal. Justificativas: • Em curto prazo ela se limita a fazer propaganda de programas de governo, o qual não é papel do Direito Penal. • Em médio e longo prazos ela leva ao descrédito do Direito Penal. 5.6. Função motivadora O Direito Penal, mediante a ameaça da imposição de uma sanção penal, motiva as pessoas a não violarem as suas normas. 5.7. Função de redução da violência estatal Trata-se de proposta de Jesús-Maria Silva Sanchez. Para ele, a função de redução da violência estatal tem íntima relação com a intervenção mínima do Direito Penal: se o Direito Penal se destina a reduzir a violência, tal redução também deve ser dirigida ao Estado. Em outras palavras, a violência estatal deve ser reservada para os casos em que ela é efetivamente necessária. 5.8. Função promocional Segundo a função promocional, o Direito Penal deve ser encarado como um instrumento de transformação social. Em outras palavras, o Direito Penal deve auxiliar a sociedade a promover uma melhora em seu desenvolvimento (segura, equilibrada, respeitadora de normas). 6. A ciência do Direito Penal A ciência do Direto Penal ampara-se no tripé: • Crime. • Criminoso. • Sanção Penal. O crime, o criminoso e a sanção penal são objetos de várias ciências, as quais formam a “Enciclopédia de Ciências Penais” – expressão cunhada por José Cerezo Mir. http://www.iceni.com/infix.htm 5 www.g7juridico.com.br 6.1. Dogmática Penal Dogmática Penal é a interpretação, sistematização e aplicação lógico-racional do Direito Penal. “Dogmatismo” é distinto de “dogmática”. Dogmatismo é a aceitação cega e imutável de algo tido como uma verdade absoluta. Ele é incompatível com a ideia de ciência. 6.2. Política criminal Política criminal é o filtro entre a letra fria da lei e os interesses da sociedade. Por meio dela realiza-se uma adaptação da letra lei aos valores atuais da sociedade. 6.3. Criminologia De acordo com o Antonio Garcia Pablos de Molina, “a criminologia é uma ciência empírica e interdisciplinar” que estuda o crime, o criminoso, a vítima e os fatores sociais que levaram à prática do crime, dentre outros. A criminologia é empírica porque se preocupa com aquiloque é provado; e interdisciplinar porque emprega diversas áreas do conhecimento. Diferença entre a criminologia e o Direito Penal: • Direito Penal: estuda o “dever-ser” (ciência cultural) e ocupa-se das consequências do crime. • Criminologia: estuda o “é” (ciência empírica) e ocupa-se das causas do crime. 6.4. Vitimologia É uma tendência moderna estudar o papel da vítima no Direito Penal. Observações: • O CP, art. 59, “caput” cita o comportamento da vítima como uma das circunstâncias judiciais que orientam o juiz na fixação da pena-base. • A vitimologia também se preocupa com a proteção da vítima. Exemplos: justiça restaurativa e justiça negociada. http://www.iceni.com/infix.htm 6 www.g7juridico.com.br 7. Divisões do Direito Penal 7.1. Direito Penal fundamental versus Direito Penal complementar O Direito Penal fundamental também é chamado de Direito Penal primário. Trata-se do conjunto de normas aplicáveis a todo o Direito Penal, inclusive aos crimes previstos por leis especiais, quando estas não preveem regras específicas. No Direito Penal fundamental há, basicamente, a Parte Geral do Código Penal e algumas normas da Parte Especial – exemplo: CP, art. 327 (conceito de funcionário público para fins penais). Já o Direito Penal complementar também é chamado de Direito Penal secundário. São as normas que integram a legislação penal especial (extravagante). 7.2. Direito Penal comum versus Direito Penal especial Direito Penal comum é aquele que se aplica a todas as pessoas, indistintamente. Exemplos: Código Penal, Lei de Drogas e Código de Trânsito Brasileiro. Direito Penal especial é aquele que se aplica somente a determinadas pessoas que preenchem os requisitos exigidos pela lei específica. Exemplos: Código Penal Militar (Dec.-Lei n. 1.001/1969) e Dec.-Lei n. 201/1967 (crimes de Prefeitos). 7.3. Direito Penal geral versus Direito Penal local Direito Penal geral é aquele que tem incidência em todo o território nacional. É produzido pela União, de acordo com a competência prevista na CF, art. 22, I. Direito Penal local é aquele que se aplica somente em uma determinada parte do território nacional. É produzido pelos Estados, com fundamento na CF, art. 22, parágrafo único. 7.4. Direito Penal objetivo versus Direito Penal subjetivo Direito Penal objetivo é o conjunto de leis penais em vigor, ou seja, são todas aquelas leis penais que já foram produzidas e ainda não foram revogadas. O Direito Penal subjetivo é o direito de punir, exclusivo do Estado, que se concretiza no momento em que alguém viola a lei penal. O direito de punir deve ser encarado sob uma tríplice vertente: direito de punir, dever de punir e poder de punir. http://www.iceni.com/infix.htm 7 www.g7juridico.com.br 7.5. Direito Penal material versus Direito Penal formal O Direito Penal material também é chamado de Direito Penal substantivo. Trata-se do Direito Penal propriamente dito: o conjunto de leis penais em vigor. O Direito Penal formal também é chamado de Direito Penal adjetivo. Trata-se das leis processuais penais em vigor. 8. Fontes do Direito Penal “Fontes” dizem respeito às formas pelas quais se opera a criação e, depois, a aplicação prática do Direito Penal. As fontes dividem-se em dois grandes grupos: 8.1. Fontes materiais, substanciais ou de produção São os órgãos encarregados de criar o Direito Penal. A fonte material por excelência do Direito Penal é a União (CF, art. 22, I). Excepcionalmente, os Estados também podem legislar sobre Direito Penal (CF, art. 22, parágrafo único). Para que os Estados legislem sobre Direito Penal exigem-se dois requisitos: • Natureza formal: autorização da União por lei complementar. • Natureza material: o conteúdo deve tratar de questões específicas de interesse do Estado. 8.2. Fontes formais, cognitivas ou de conhecimento São fontes que dizem respeito à aplicação prática do Direito Penal, ou seja, aos modos pelos quais o Direito Penal se exterioriza: • Fonte formal imediata: lei – somente ela pode criar crimes e cominar penas (princípio da estrita legalidade: CF, art. 5º, XXXIX, e CP, art. 1º). • Fontes formais mediatas ou secundárias - elas não criam crimes ou cominam penas, mas auxiliam na aplicação do Direito Penal: http://www.iceni.com/infix.htm 8 www.g7juridico.com.br ✓ Constituição Federal: possui princípios, limites ao poder punitivo do Estado e mandados de criminalização. Inclusive, fala-se em “Constituição Penal”: são os dispositivos da Constituição relacionados ao Direito Penal. ✓ Tratados internacionais sobre direitos humanos1. ✓ Jurisprudência: o parâmetro para aferir se a jurisprudência é considerada fonte do Direito Penal encontra-se no CPC, art. 927, pois nem toda decisão deve ser tida como tal. ✓ Doutrina: é necessária uma posição crítica sobre a doutrina como fonte formal do Direito Penal em razão de abusos ou excessos. ✓ Princípios gerais do Direito. ✓ Costumes: é a reiteração de um comportamento (elemento objetivo) em razão da crença na sua obrigatoriedade (elemento subjetivo). Observações: ▪ É o elemento subjetivo (crença na sua obrigatoriedade) que diferencia o costume do hábito (mera repetição de um comportamento). ▪ No Direito Penal o costume não pode criar crimes ou cominar penas. Ele só pode ser utilizado no campo das normas não incriminadoras. ▪ Espécies de costumes: o “Secundum legem” ou interpretativo: é aquele que auxilia o intérprete do Direito Penal a esclarecer o conteúdo de elementares ou circunstâncias do tipo penal. Exemplo: a definição de “ato obsceno” leva em consideração os costumes da época em que se vive de determinada localidade. o “Contra legem” ou negativo (desuetudo): é aquele que contraria a lei penal, mas não a revoga, por mais arraigado que seja. Exemplo: a contravenção penal do “jogo do bicho”. o “Praeter legem” ou integrativo: é aquele que supre a lacuna da lei. Tal costume só pode ser utilizado no tocante às normas penais não incriminadoras. Exemplo: circuncisão peniana realizada em crianças de determinadas religiões. ✓ Atos administrativos: funcionam como complemento de algumas normas penais em branco. 9. Interpretação da lei penal 9.1. Introdução 1 Para ser incorporado exige-se: (a) assinatura pelo Brasil; (b) aprovação pelo Congresso Nacional, por decreto legislativo; e (c) ratificação por decreto do Presidente da República. Caso aprovados com quórum de emenda constitucional terão força de norma constitucional. Do contrário, terão força supralegal. http://www.iceni.com/infix.htm 9 www.g7juridico.com.br A tarefa de interpretar consiste em buscar o alcance e o significado da lei penal. Em outras palavras, é a atividade mental que busca descobrir a vontade da lei, e não do legislador. Toda e qualquer lei, por mais simples que seja, tem que ser interpretada. Distinção entre “hermenêutica” e “exegese”: • Hermenêutica: é a ciência que estuda a interpretação das leis em geral. • Exegese: é a atividade prática. 9.2. Espécies de interpretação 9.2.1. Quanto ao sujeito: autêntica, judicial ou doutrinária I – Autêntica (ou legislativa) Interpretação autêntica é aquela efetuada pelo próprio legislador. Cria-se uma norma com o intuito de esclarecer o conteúdo e o significado de outra norma. Portanto, há uma norma interpretativa e uma norma interpretada. a) A norma interpretativa pode ser: • Contextual: a norma interpretativa está no mesmo corpo da norma interpretada. • Posterior: a norma interpretativa é editada após a edição da norma interpretada. b) A norma interpretativa tem eficácia retroativa e é obrigatória. Exemplos: CP, art. 13, “caput” (conceito de causa) e CP,art. 327 (conceito de funcionário público para fins penais). II – Judicial (ou jurisprudencial) http://www.iceni.com/infix.htm 10 www.g7juridico.com.br Interpretação judicial é aquela efetuada pelos juízes e pelos Tribunais no caso concreto. Ela é obrigatória na decisão do caso concreto ou quando constituir algum dos precedentes obrigatórios (CPC, art. 927) que são fontes do Direito Penal. III – Doutrinária (ou científica) Interpretação doutrinária é aquela efetuada pelos doutrinadores do Direito Penal. Ela não é obrigatória. A Exposição de Motivos é interpretação doutrinária – ela não integra a parte normativa de uma lei. 9.2.2. Quanto aos meios ou métodos: gramatical e lógica I – Gramatical (literal ou sintática) Interpretação gramatical é aquela que decorre da mera análise das palavras que integram a lei. É um modo de interpretação precário. II – Lógica (ou teleológica) Interpretação lógica é aquela que busca esclarecer o sentido da norma na totalidade do ordenamento jurídico – ela é sugerida pela LINDB (art. 5º). É a interpretação mais confiável e técnica. 9.2.3. Quanto ao resultado: declaratória, extensiva ou restritiva Resultado é a conclusão obtida pelo intérprete da lei penal. I – Declaratória (declarativa ou estrita) É aquela em que há perfeita sintonia entre a letra da lei e a sua vontade – não há nada para ser acrescentado ou suprimido. II - Extensiva http://www.iceni.com/infix.htm 11 www.g7juridico.com.br É aquela que busca conferir um alcance maior à lei – a lei disse menos do que queria. A interpretação extensiva é admitida pela maioria da doutrina e da jurisprudência no sentido de que não se trata de analogia “in malam partem” ou de abarcar uma situação não prevista pela lei. Observação (aplicação em concurso): a interpretação extensiva, via de regra, prejudica o réu. III – Restritiva É aquela que vai restringir ou limitar o alcance da lei – a lei disse mais do que queria. 9.2.4. Interpretação progressiva, adaptativa ou evolutiva É aquela que busca adaptar a letra da lei à realidade atual. 9.2.5. Interpretação analógica ou “intra legem” I – Interpretação analógica é distinta de analogia. A analogia é uma forma de integração da lei penal (e não uma forma de interpretação). Integrar significa suprir um vácuo legislativo. II - A Interpretação analógica ocorre quando a lei penal traz uma fórmula casuística seguida de uma fórmula genérica. Exemplo: CP, art. 121: “(...). § 2º: Se o homicídio é cometido: I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; (...)”. • Fórmula casuística: “paga ou promessa de recompensa”. • Fórmula genérica: “ou por outro motivo torpe”. O Código Penal está dizendo que a “paga ou promessa de recompensa” são motivos de natureza torpe, mas não são os únicos. No caso concreto podem surgir outros motivos semelhantes e igualmente torpes. http://www.iceni.com/infix.htm 12 www.g7juridico.com.br III - O legislador penal se socorre da interpretação analógica porque é impossível prever todas as situações que podem surgir na vida real. Princípios do Direito Penal 1. Introdução I - No Direito as normas se subdividem em regras e em princípios. Portanto, o princípio é uma espécie de norma. II - Os princípios são caracterizados pela flexibilidade e pela conformação ao caso concreto. III – Princípios são valores fundamentais que inspiram a criação e a aplicação do Direito Penal. Assim, os princípios se dirigem tanto ao legislador como ao aplicador do Direito Penal, orientando-os no sentido de controlar o poder punitivo do Estado. IV – Existem princípios que estão consagrados expressamente em leis em sentido amplo - exemplo: princípio da reserva legal (CF e CP); outros não estão previstos expressamente, mas são reconhecidos por toda a comunidade jurídica - exemplo: princípio da insignificância. 2. Princípio da reserva legal ou estrita legalidade I – O princípio da reserva legal inaugura o Código Penal: CP, art. 1º: “Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal”. Caso ocorra a revogação do art. 1º do CP, o princípio da reserva legal deixará de existir? Não: CF, art. 5º, XXXIX: “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”. O princípio da reserva legal integra o núcleo imutável da Constituição (cláusula pétrea). II – O princípio da reserva legal proclama o monopólio e a exclusividade da lei penal para criar crimes e cominar penas. A lei, e somente ela, é a fonte formal imediata do Direito Penal. 2.1. Origem http://www.iceni.com/infix.htm 13 www.g7juridico.com.br Não obstante a expressão latina “nullum crimen nulla poena sine lege”, o princípio da reserva legal não tem origem no Direito romano. O antecedente seguro ocorreu na Inglaterra no ano de 1215: art. 39 da Magna Carta do Rei João sem Terra. Ao longo do tempo, o princípio da reserva legal foi sendo aperfeiçoado. Um dos principais responsáveis foi Feuerbach, com a “teoria da coação psicológica”. Para ele, toda ameaça ou intimidação de pena só pode ser efetuada por lei. 2.2. Previsão normativa e conceito • CP, art. 1º: “Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal”. • CF, art. 5º, XXXIX: “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”. I – Tanto no CP como na CF há a previsão de dois princípios: reserva legal e anterioridade. II – Conceito: a lei tem a exclusividade para a criação de crimes e cominação de penas. A lei é a fonte formal imediata do Direito Penal. 2.3. Fundamentos a) Fundamento jurídico O fundamento jurídico também é denominado de taxatividade, certeza ou determinação. De acordo com esse fundamento, a lei deve descrever com precisão o “conteúdo mínimo” da conduta criminosa. A descrição do “conteúdo mínimo” da conduta criminosa legitima os crimes culposos, os tipos penais abertos e as normas penais em branco. Qual é o desdobramento automático do fundamento jurídico? É a proibição da analogia “in malam partem” no Direito Penal. http://www.iceni.com/infix.htm 14 www.g7juridico.com.br b) Fundamento político O princípio da reserva legal é um direito fundamental de 1º geração (ou dimensão). Os direitos fundamentais de 1º geração correspondem às liberdades públicas negativas: são aquelas que buscam proteger o cidadão do arbítrio do Estado. c) Fundamento democrático (ou popular) O STF já empregou a expressão “A dimensão democrática do princípio da reserva legal”. É povo, pelos seus representantes, definindo quais são os crimes e as penas que interessam ao País. http://www.iceni.com/infix.htm
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