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ÁREA DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURO DE NUTRIÇÃO DISCIPLINA DE BROMATOLOGIA MÉLANE LAGO PALMITATO DE ASCORBILA: O QUE É, MODO DE AÇÃO E USOS Santa Maria 2017 1. INTRODUÇÃO O Decreto nº 55.871 define “aditivo” para alimento a substância intencionalmente adicionada ao mesmo, com a finalidade de conservar, intensificar ou modificar suas propriedades, desde que não prejudique seu valor nutritivo. O Decreto-Lei nº 986 considera aditivo intencional toda substância ou mistura de substâncias, dotadas ou não de valor nutritivo, adicionadas ao alimento com a finalidade de impedir alterações, manter, conferir ou intensificar seu aroma, cor e sabor, modificar ou manter seu estado físico geral, ou exercer qualquer ação exigida para uma boa tecnologia de fabricação do alimento (GAVA, 1998). A legislação brasileira considera as seguintes classes de aditivos para uso alimentar: corante, aromatizante, conservador, antioxidante, estabilizante, espumífero, espessante, edulcorante, umectante, antiumectante e acidulante. Os alimentos que contiverem aditivos deverão trazer na rotulagem a indicação dos aditivos utilizados, explicitamente ou em código (GAVA, 1998). Os antioxidantes podem ser classificados em primários, sinergistas, removedores de oxigênio, biológicos, agentes quelantes e antioxidantes mistos. Os removedores de oxigênio são compostos que atuam capturando o oxigênio presente no meio, através de reações químicas estáveis tornando-os, consequentemente, indisponíveis para atuarem como propagadores da autoxidação. Ácido ascórbico, seus isômeros e seus derivados são os melhores exemplos deste grupo (RAMALHO; JORGE, 2006). Entre os removedores de oxigênio permitidos pela legislação brasileira, encontra-se o palmitato de ascorbila, podendo ser encontrado no rótulo dos alimentos como INS 304. 2. PALMITATO DE ASCORBILA 2.1.O QUE É: O palmitato de ascorbila é um antioxidante sintético, derivado do éster de ácido ascórbico, com eficiência em retardar a oxidação lipídica. Esse derivado é considerado a forma mais estável da vitamina C, sendo aplicado como aditivo antioxidante em produtos farmacêuticos, médicos e cosméticos (ANGELO; JORGE, 2008). É importante considerar que a obtenção deste derivado se dá através de uma modificação química no grupo hidroxila do ácido ascórbico, ocorrendo uma reação de esterificação entre a cadeia carbônica (C16) oriunda do ácido palmítico, e o anel enediol mantido inalterado, provindo do ácido ascórbico, resultando em uma estrutura com ligação éster, a qual fica extremamente suscetível a reações de hidrólise. Estas reações ocorrem de forma irreversível, o que leva a instabilidade da formulação, Devido a isto, diversos estudos estão sendo realizados para promover uma maior estabilidade deste ativo. Embora o palmitato de ascorbila seja mais estável que a vitamina C, sua baixa estabilidade química e insolubilidade em água limitam suas utilizações (PANEVA apud SILVA, 2012, p. 23). O Ministério da Saúde, no Brasil, limita o uso do palmitato de ascorbila 500mg/kg como concentração máxima permitida (RAMALHO; JORGE, 2006). 2.2. MODO DE AÇÃO: O palmitato de ascorbila é um composto sintético obtido a partir de ácidos naturais: o ascórbico e o palmítico. Seu mecanismo de ação ainda não é conhecido (TONIOLO, 2012). Com intuito de otimizar as preparações farmacêuticas do ácido ascórico, o L- ascorbil-6-palmitato (PA), derivado lipossolúvel do aa, tem sido comumente utilizado. O PA apresenta ausência de toxidade, sendo uma molécula estável em pH neutro e mantém as mesmas propriedades antioxidantes do aa. Além disso, devido a sua estrutura lipofílica, o PA é capaz de atravessar as barreiras biológicas, servindo como um carreador de ascorbato no organismo. No entanto, embora o PA apresente maior estabilidade que a vitamina C em formulações, a esterificação com ácido palmítico na posição 6 reduz a hidrólise do aa, mas não garante resultados satisfatórios em relação a estabilidade em produtos acabados, pois as propriedades de estabilização do PA são também influenciadas pelas propriedades estruturais das formulações (IANISKI et al., 2013). Em um estudo realizado em estímulo a substituição ou a diminuição do uso de antioxidantes sintéticos, verificou-se a atividade antioxidante do extrato de coentro e palmitato de ascorbila, para determinar as mais eficazes a serem aplicadas no óleo de girassol. O presente estudou demonstrou que para o palmitato de ascorbila, a estabilidade oxidativa aumentou proporcionalmente as concentrações, não demonstrando, deste modo, efeito pró-oxidante (RAMALHO; JORGE, 2006). Beddows, Jagait e Kelly (2001) estudaram diferentes concentrações de palmitato de ascorbila no óleo de girassol e verificaram que quanto maior a concentração, maior foi o período de indução e, consequentemente, o fator de proteção. O aumento do período de indução por meio da adição de um antioxidante tem sido relacionado à sua eficiência, que é expresso como fator de proteção ou índice antioxidante, isto é, a razão entre o período de indução de um óleo na presença do antioxidante e o período de indução do mesmo óleo na ausência do antioxidante. E quanto maior o valor do fator de proteção, melhor a atividade antioxidante. Segundo Ângelo e Jorge (2008), a adição do palmitato de ascorbila ao óleo de girassol mostrou efeito positivo sobre a estabilidade oxidativa, o que o torna um antioxidante alternativo na conservação de óleos, sendo que para todas as concentrações dos antioxidantes testados, observou-se melhor eficiência do palmitato de ascorbila. 2.3. USOS: É empregado como antioxidante e surfactante na indústria de alimentos e cosméticos, sendo utilizado principalmente, em produtos com alto teor de gordura (COSTA et al., 2010). Segundo a Resolução nº 04/88, os seguintes alimentos podem ser adicionados de palmitato de ascorbila: • Alimentos à base de cereais processados; • Coco ralado; • Conservas alimentícias para uso infantil; • Creme vegetal; • Gomas de mascar; • Leite de coco; • Margarinas; • Óleos e gorduras. Em produtos dermatológicos o palmitato de ascorbila tem sido amplamente utilizado, como alternativa de fonte mais estável da vitamina C e, consequentemente, apresenta novas aplicações, como em formulações tópicas (DALCIN; SCHAFFAZICK; GUTERRES, 2003). REFERÊNCIAS ANGELO P. M; JORGE, N. Efeito antioxidante do extrato de coentro e do palmitato de ascorbila na estabilidade oxidativa do óleo de girassol. Rev. Inst. Adolfo Lutz, v. 67, nº 1, p. 34-38, 2008. BEDDOWS C. G., JAGAIT C., KELLY M. J. Effect of ascorbyl palmitate on the preservation of α-tocopherol in sunflower oil, alone and with herbs and spices. Food Chem, v. 73, nº 3, p. 255-261, may/2001. BRASIL, Conselho Nacional de Saúde, Ministério da Saúde. Resolução nº 04, de 24 de novembro de 1988. Aditivos intencionais, 1988. COSTA et al. Quantificação de palmitato de ascorbila utilizando CLAE-EM/EM com ionização por “Electrospray”. 33ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química. Águas de Lindóia, SP, 2010. DALCIN, K. B.; SCHAFFAZICK, S. R.; GUTERRES, S. S. Vitamina C e seus derivados em produtos dermatológicos: aplicações e estabilidade. Caderno de Farmácia, v. 19, nº 2, p. 69-79, 2003. GAVA, A. J. Princípios de tecnologia de alimentos. São Paulo: Nobel, 1998. IANISKI, F. et al. Nanocápsulas contendo palmitato de ascorbila reduziram a susceptibilidade a convulsões induzidas por pentilenotetrazol em camundongos. Disciplinarum Scientia. Santa Maria, v. 14, nº 1, p. 157-172, 2013. RAMALHO, V. C.; JORGE, N. Antioxidantes utilizados em óleos, gorduras e alimentos gordurosos. Química Nova, v. 29, nº 4, p. 755-760, 2006. SILVA, A. Biometria cutânea com formulaçõessemissólidas contendo nanocápsulas de palmitato de ascorbila. 2012, 108 f. Dissertação (Mestrado em Nanociências) - Centro Universitário Franciscano, Santa Maria, RS, 2012. TONIOLO, R. O uso de extratos vegetais para inibir a oxidação lipídica em carne suína. Monografia (Curso Engenharia de Alimentos) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, 2012.
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