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Tendências e Inovação W B A 0 5 3 6 _ v1 _ 2 2/237 Tendências e Inovação Autoria: Edgar Barassa Como citar este documento: BARASSA, Edgar. Tendências e Inovação. Valinhos, 2017. Sumário Apresentação da Disciplina 03 Unidade 1: Aspectos conceituais básicos da Ciência, Tecnologia & Inovação 06 Unidade 2: Ferramentas de prospecção tecnológica 33 Unidade 3: Mudanças demográficas e sociais 70 Unidade 4: (des)Globalização, tensões políticas e incertezas econômicas: será o fim do sonho da integração mundial? 99 2/237 Unidade 5: Avanços Tecnológicos 122 Unidade 6: Mudanças climáticas e sustentabilidade 148 Unidade 7: Tendências em mobilidade 171 Unidade 8: Políticas de ciência tecnologia e inovação: oportunidades e desafios 203 3/237 Apresentação da Disciplina Olá aluno. Bem vindo à disciplina de ten- dências e inovação! Com o advento da utilização em massa das tecnologias da informação e comunicação (TICs), bem como os avanços nos meios de transportes em geral, nota-se, nestes pri- meiros anos que seguem o século XXI, um momento ímpar na história da humanidade. Este se caracteriza por uma densidade de integração e globalização entre pessoas/re- giões/países, outrora jamais presenciada. A Ciência, Tecnologia e Inovação (C,T&I) apre- senta papel decisivo neste contexto, seja por proporcionar a expansão do corpo de conhecimentos existentes (ciência) ou por providenciar tecnologias e inovações que busquem atender esta demanda de merca- do por integração, conectividade e serviços. No que tange às empresas, trata-se de ado- tar uma posição de ganho de competitivi- dade por direcionar recursos e esforços em prol da pesquisa e desenvolvimento (P&D) de novos produtos e soluções. Porém, o fu- turo da C,T&I trilha um caminho permeado por incertezas, pois se molda a partir de fa- tores de ordens diversas: é afetado direta- mente pelas ações da esfera do Estado, está interconectado entre diversos atores e não é linear, pois apresenta momentos que se alternam entre a continuidade e a ruptura. Em face de estas colocações, algumas ques- tões emergem: como identificar estas mu- danças em curso? Quem são os atores por trás destas transformações e tecnologias? Quais regiões e países são afetados? Tais in- 4/237 dagações são sistematicamente trabalha- das pela disciplina Tendências e Inovações. O objetivo da disciplina é explorar e carac- terizar as principais tendências, inovações e mudanças tecnológicas que se colocam no horizonte para os próximos 20 anos. Para o alcance do objetivo proposto, a disciplina está organizada em torno de dois tópicos principais. O primeiro aborda os aspectos conceituais básicos da Ciência, Tecnologia Inovação. Esta caracterização é pertinen- te, pois situa o aluno junto ao debate da transformação técnica e mudança tecno- lógica. Complementa-se aos conceitos in- trodutórios, baseado em um referencial di- ferenciado, a apresentação de ferramentas de prospecção tecnológica que podem ser utilizadas para entender as dinâmicas do processo inovativo, tais como indicadores bibliométricos e de patentes. Esta carac- terização é pertinente, pois viabiliza a ple- na compreensão dos estudos de casos das transformações que moldaram nosso fu- turo, foco do segundo tópico da disciplina. No segundo tópico, apresentam-se as se- guintes tendências, com enfoques nas es- feras: (1) mudanças demográficas, sociais e de gênero (ascensão das mulheres no mer- cado de trabalho, envelhecimento da po- pulação, crescimento geral da população, fluxos migratórios); (2) (des)Globalização, tensões políticas e incertezas econômicas; (3) tecnológicas (transformações de caráter tecnológico em curso que estão moldando a sociedade como um todo); (4) ambiental (mudanças climáticas e sustentabilidade); 5/237 e, por fim, (5) tendências em mobilidade (veículo elétrico, economia do compartilha- mento, drones e veículos autônomos). Espera-se que o aluno, ao final da disci- plina, assimile e compreenda as referidas transformações e o modo como elas im- pactam a sociedade, bem como com quais instrumentais elas podem ser acessadas e mapeadas. Vamos começar? 6/237 Unidade 1 Aspectos conceituais básicos da Ciência, Tecnologia & Inovação Objetivos 1. Traçar a definição e a apresentação dos aspectos conceituais e teóricos de Ciência, Tecnologia e Inovação; estabelecer as relações entre ciên- cia, tecnologia e inovação; apresentar inovação e difusão: conceitos funda- mentais, bem como invenção e ino- vação; conhecer os tipos de inovação e a difusão de inovações. Apresentar conceitos que orientam o debate so- bre as megatendências. Unidade 1 • Aspectos conceituais básicos da Ciência, Tecnologia & Inovação7/237 Introdução Quer se considere a tecnologia como fonte para melhorar a qualidade de vida, quando proporciona bens que facilitam o dia a dia ou prolongam a expectativa de vida, quer se considere como fator de destruição, quan- do torna possível a devastação do meio am- biente, o fato é que ela faz parte da vida in- dependentemente dos valores pelos quais a analisamos ou julgamos. Tecnologias que fazem parte do dia a dia da maioria das pes- soas são lançadas a cada dia no mercado, sejam novas versões de smartphones, novas tecnologias para transferência de dados, novos medicamentos, ou novos equipamen- tos utilizados por empresas na produção in- dustrial. Ao mesmo tempo, as matérias dos jornais e revistas apresentam descobertas da ciência que aumentam a fronteira do co- nhecimento e muitas vezes são esperanças para se resolver problemas práticos, como a cura de uma doença. Trataremos neste tema mais das inovações tecnológicas in- troduzidas pelas empresas do que de ciên- cia, mas, na primeira seção, abordaremos brevemente a relação entre ciência, tecno- logia e inovação, e como esta relação se deu através do tempo. Num segundo momento, apresentaremos os conceitos chave sobre inovação e seus tipos. De forma subsequen- te, trataremos da diferença entre invenção e inovação. Por fim, serão apresentados as- pectos básicos da importância do processo de difusão das inovações na sociedade. Unidade 1 • Aspectos conceituais básicos da Ciência, Tecnologia & Inovação8/237 1. Relações entre Ciência, Tec- nologia e Inovação As relações entre ciência e tecnologia não são facilmente delimitadas, mas é possível determinar ao menos um padrão ao olhar para a história: ao passo que o capitalismo avança no tempo, mais a ciência passa a fa- zer parte do desenvolvimento tecnológico e do surgimento de inovações. A percepção da relação entre tecnologia e inovação como fenômenos próprios do ca- pitalismo remete à Primeira Revolução In- dustrial, ocorrida durante o século XVIII na Inglaterra. Essa Revolução teve como ca- racterísticas o surgimento da indústria têx- til algodoeira, a utilização do carvão como fonte principal de energia e a introdução massiva das máquinas no processo produti- vo. No que diz respeito à inovação, a carac- terística central é de que as novas máquinas introduzidas na indústria têxtil, que aumen- tavam significativamente a produtividade, foram resultado de aperfeiçoamentos rea- lizados por pessoas individualmente, como inventores empresários que se dedicavam a pensar formas de melhorar os equipamen- tos para a produção nas fábricas (Szmrec- sányi, 2001). Do fim século XIX até a I Guerra Mundial, o estágio seguinte de desenvolvimento ca- pitalista, a chamada Segunda Revolução Industrial, a inovação empresarial já não era apenas uma tarefa de inventores indi- viduais, mas passou a se tornar uma tarefa profissionalizada, realizada em laboratórios Unidade 1 • Aspectos conceituais básicos da Ciência, Tecnologia & Inovação9/237 específicos de grandes empresas, nos quais o conhecimento científico passou a ter um papel cada vez mais relevante. A Segunda Revolução Industrial teve como protagonis- tas Alemanha e Estados Unidos, tendo como tecnologias chave o aço, os equipamentos e materiaiselétricos, a química e os primór- dios da indústria automobilística (Szmrec- sányi, 2001). Com o surgimento dos laboratórios de pes- quisa dentro das empresas para que fossem desenvolvidas inovações, atividade chama- da de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), o século XX consolida o papel da pesquisa científica como atividade responsável por fomentar a criação de novas tecnologias. Essa institucionalização da P&D no decor- rer do século XX é considerada um dos mais importantes fatos do desenvolvimento ca- pitalista desse período, e consolidou o papel da ciência na atividade de inovação, papel esse que cresceu com o tempo e é central para tecnologias como a microeletrônica e indústria farmacêutica (Freeman e Soete, 2008). Dessa forma, podemos fazer o seguinte questionamento: seria a ciência a respon- sável pelo surgimento de novas tecnologias, o caminho natural para que sejam criadas inovações? A questão acima tem sido alvo de estudos de economistas e historiadores da ciência e tecnologia há décadas. A ideia de que a ci- ência precede a inovação é ainda bastante presente no ideário de políticos, da impren- sa e da sociedade em geral. Após a Segunda Unidade 1 • Aspectos conceituais básicos da Ciência, Tecnologia & Inovação10/237 Guerra Mundial, que marcou o surgimen- to dos grandes projetos científicos, como aquele que deu origem às bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki (Projeto Manhat- tan), propagou-se a ideia de que a inovação seria resultado de um processo linear que teria origem na pesquisa científica básica. Entretanto, sabe-se que a relação entre ci- ência, tecnologia e inovação não é uma via de mão única. A ciência não é a única fon- te de inovações, nem mesmo é exógena à tecnologia, pois existem muitos casos nos quais se observou que a tecnologia surgiu anteriormente ao conhecimento científico, ou seja, conhecia-se o funcionamento da técnica, mas não se entendiam os princípios científicos por trás dela. Além disso, a tec- nologia não é a mera aplicação prática da ciência, pois se constitui em si mesma como um corpo de conhecimentos independen- tes (Rosenberg, 2006). Enfim, apesar da importância da ciência para o desenvolvimento tecnológico ter au- mentado com o tempo, não podemos pen- sar que ela é a única fonte para o desen- volvimento tecnológico, pois as inovações podem surgir de atividades menos formais que a pesquisa científica. Mas em que consiste uma inovação? Como podemos identificá-la? Na próxima parte serão abordados alguns conceitos chaves com os quais se identifica uma atividade inovadora. Unidade 1 • Aspectos conceituais básicos da Ciência, Tecnologia & Inovação11/237 Para saber mais Para saber mais sobre a relação entre ciência, tecnologia e inovação, o texto clássico do economista Na- than Rosenberg introduz o tema de forma clara e com diversos exemplos históricos. ROSENBERG, N. O. Quão Exógena é a Ciência? Revista Brasileira de Inovação, v.5, n.2, Julho/Dezembro, 2006, p.245-271. Disponível em: <http://www.ie.ufrj.br/intranet/ie/userintranet/hpp/arquivos/rosemberg_por_ dentro_da_caixa_preta.pdf>. Acesso em: 07 dez. 2018. Link James Watt e a Máquina a Vapor. Publicado por Jackson Silva, em 17 de dez de 2015. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=lyrqSfVRW7o>. Acesso em: 07 dez. 2018. 2. Inovação e Difusão: Conceitos Fundamentais O entendimento de que as inovações tecnológicas eram fatores importantes para que se au- http://www.ie.ufrj.br/intranet/ie/userintranet/hpp/arquivos/rosemberg_por_dentro_da_caixa_preta.pdf http://www.ie.ufrj.br/intranet/ie/userintranet/hpp/arquivos/rosemberg_por_dentro_da_caixa_preta.pdf https://www.youtube.com/watch?v=lyrqSfVRW7o Unidade 1 • Aspectos conceituais básicos da Ciência, Tecnologia & Inovação12/237 mentasse a produção das fábricas já era reconhecido desde a Primeira Revolução Industrial, como se pode ver no trabalho de economistas da época, como Adam Smith (1723 – 1790). Porém, foi somente no início do século XX que o economista austríaco Joseph Schum- peter (1883–1950) apresentou de forma mais elaborada um conceito de inovação tecnológica que ainda se mantém como uma base para a compreensão atual. Schumpeter (1997) afirmou que as inova- ções poderiam acontecer em cinco casos diferentes: 1° - A introdução de um novo bem, ou seja, um produto que os consumidores ainda não estivessem familiarizados; 2° - Introdução de um novo método de produção, ou seja, uma forma de produ- zir que ainda não tenha sido testada pela indústria, que também pode consistir numa nova forma de comercializar uma mercadoria; 3° - A abertura de um novo mercado, ou seja, um mercado em que um ramo da indústria de determinado país ainda não tenha entrado; 4° - A descoberta de uma nova fonte de matérias-primas; 5° - Estabelecimento de uma nova orga- nização na indústria, como a formação de um monopólio, ou a fragmentação de um monopólio existente. São esses os cinco casos apresentados por Unidade 1 • Aspectos conceituais básicos da Ciência, Tecnologia & Inovação13/237 Schumpeter que podem determinar a ocor- rência de uma inovação. Porém, este autor também apresentou outra definição que é fundamental para entender como a inova- ção de fato ocorre na economia e se dife- rencia da simples atividade de inventar no- vos produtos. 2.1. Invenção e Inovação Schumpeter (1997) afirmou que o ato de apenas inventar um produto que tenha uma nova aplicação prática não é o mesmo que inovar. A invenção é caracterizada pela cria- ção de algo com uma nova aplicação, que tem por objetivo a resolução de um proble- ma prático ou mesmo uma utilidade com- pletamente nova. O que Schumpeter perce- beu é que uma invenção não tem qualquer relevância econômica se permanecer longe das mãos do mercado consumidor. A inovação, por outro lado, difere-se da in- venção pelo fato de que necessariamente é lançada no mercado. É por esse motivo que uma inovação pode ser a comercialização de uma invenção existente há muito tempo, mas que ainda não ocupava espaço no mer- cado. Embora a invenção seja considerada um fa- tor importante para a criação de novos pro- dutos e aplicações, a atividade empresarial reconhecida como inovadora é aquela que tem sucesso na introdução dessas aplica- ções no mercado. Unidade 1 • Aspectos conceituais básicos da Ciência, Tecnologia & Inovação14/237 Para saber mais Para saber mais: o caso da fotografia digital é uma ilustração da diferença entre invenção e inovação. A em- presa Kodak, outrora líder do mercado de fotografia analógica, empregava o engenheiro responsável por inventar a primeira câmera digital, na década de 1970. Porém, à época da invenção, o produto não estava desenvolvido o suficiente para ser lançado no mercado e a empresa estava focada em seu negócio principal de filmes e câmeras analógicas. Somente décadas mais tarde as câmeras digitais ganharam o mercado tor- nando-se inovações, substituindo substancialmente a fotografia analógica e praticamente excluindo a líder Kodak, que não conseguiu acompanhar as inovações tecnológicas do setor de fotografia. Ver: FICHTNER, U. A Ruína da Kodak na era digital. Estadão, 2012. Disponível em: <http://economia.es- tadao.com.br/noticias/geral,a-ruina-da-kodak-na-era-digital,104136e>. Acesso em: 20 set. 2017. 2.2. Tipos de Inovação Apesar da conceituação proposta por Schumepter ainda ser uma referência para se pensar os diferentes tipos de inovação, uma padronização mais objetiva foi desenvolvida pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) no intuito de se observarem os pro- http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,a-ruina-da-kodak-na-era-digital,104136e http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,a-ruina-da-kodak-na-era-digital,104136e Unidade 1 • Aspectos conceituais básicos da Ciência, Tecnologia & Inovação15/237 cessos inovadores de forma direta, tornando-se a definição padrão para coleta de dados sobre inovações nas empresas. Os tiposde inovação definidos pela OCDE são: produto, processo, or- ganizacional e de marketing. Uma inovação de produto é a introdução de um bem ou serviço novo ou significativamente melhorado no que concerne a suas características ou usos previstos. Incluem-se melhoramentos significativos em especificações técni- cas, componentes e materiais, softwares incorporados, facilidade de uso ou outras características funcionais. (OCDE, 2005, p. 57) Uma inovação de processo é a implementação de um método de produção ou distribuição novo ou significativamente melhorado. Incluem-se mudanças significativas em técnicas, equipamentos e/ou softwares. (OCDE, 2005. p. 58) Uma inovação de marketing é a implementação de um novo método de marketing com mudanças significativas na concepção do produto ou em sua embalagem, no posicionamento do produto, em sua promoção ou na fixação de preços. (OCDE, 2005, p.58) Unidade 1 • Aspectos conceituais básicos da Ciência, Tecnologia & Inovação16/237 Uma inovação organizacional é a implementação de um novo método orga- nizacional nas práticas de negócios da empresa, na organização do seu local de trabalho ou em suas relações externas. (OCDE, 2005, p. 61) Outra importante consideração a respeito do conceito de inovação é que os produtos e proces- sos não precisam ser totalmente novos. Uma inovação pode ser um incremento em um produto ou processo produtivo já existente. As inovações incrementais são entendidas como os diversos e constantes aperfeiçoamentos pelos quais uma inovação já existente passa ao longo do tempo. São pequenos melhoramentos feitos na inovação original e o desenvolvimento de outras inova- ções complementares que, no decorrer do tempo, de forma a se acumularem, transformam subs- tancialmente a inovação original e acabam por ter grande importância econômica (ROSENBERG, 1972). 2.3. Difusão de Inovações Do ponto de vista do impacto generalizado e das transformações que as inovações tecnológi- cas podem ocasionar na sociedade, a propagação dos novos produtos e processos por todo o Unidade 1 • Aspectos conceituais básicos da Ciência, Tecnologia & Inovação17/237 ambiente econômico, em diferentes em- presas, indústrias e países, apresenta-se como um dos fatores mais importantes desse processo. A difusão é entendida como um processo generalizado de propagação das inovações, quando um novo produto, que até então era desconhecido dos consumidores, por exem- plo, passa a se tornar comum e fazer parte da vida das pessoas. A difusão é uma par- te fundamental do processo de inovação, ocorrendo também com as imitações feitas por outras empresas de uma determinada inovação original, sendo que os efeitos que surgem no decorrer da difusão melhoram a inovação original, pois as empresas que imi- tam tendem a aperfeiçoar a inovação (Hall, 2005). Rogers (2003) tem uma abordagem mais ampla para a difusão de inovações, sendo útil para pensarmos na difusão de bens de consumo como smartphones e redes sociais. Rogers (2003) afirma que a difusão é o pro- cesso pelo qual uma inovação é comunica- da por certos canais durante certo tempo, dentre os membros de um sistema social. A difusão das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), como computadores, smartphones e internet, principalmente a partir da década de 1980, influenciou tan- to as interações puramente interpessoais, quanto os processos de produção e comer- cialização na economia, possibilitando o surgimento de uma verdadeira “sociedade em rede”. A difusão das TICs é um exem- plo que ilustra a importância da difusão das Unidade 1 • Aspectos conceituais básicos da Ciência, Tecnologia & Inovação18/237 tecnologias para a transformação da vida social e econômica (Castells, 1996). 3. Expectativas Tecnológicas Por outro lado, um tema que tem ficado à margem deste debate refere-se ao ritmo e às expectativas em que são adotadas as tec- nologias, sejam elas novas ou aprimoradas. Sobre o tema, faz-se necessária referência à obra de Rosenberg (2006), Por dentro da Caixa-Preta1, na qual o autor inclina-se, no capítulo 5, a analisar as expectativas, o rit- mo e a difusão das inovações, e exalta tais temas como fatores de peso nas decisões empresariais. 1 Em inglês, Inside the Black Box (publicação original de 1982). Para saber mais Para saber mais sobre a teoria de difusão de ino- vações, assista ao vídeo “Difusão de Inovações: A curva de adoção”. RARE. Difusão de Inovações: A curva da adoção. Disponível em: <https://www. youtube.com/watch?v=l6KwMVsZPy8>. Acesso em: 13 jul. 2017. https://www.youtube.com/watch?v=l6KwMVsZPy8 https://www.youtube.com/watch?v=l6KwMVsZPy8 Unidade 1 • Aspectos conceituais básicos da Ciência, Tecnologia & Inovação19/237 Nas palavras de Rosenberg (2006, p. 164): A escolha do momento e a natureza da decisão de adoção, por parte das firmas de negócios individuais, é uma questão-chave, com importantes implicações para ambos os níveis, micro e marco da análise. Pretendo su- gerir que existem na decisão de adoção, elementos de expectativa que não receberam atenção nem foram explorados de forma tão sistemática quan- to seria possível, para iluminar o processo de difusão. A contribuição de Rosenberg (2006) para o debate evolucionista sobre o melhoramento tecno- lógico consiste na adição da dimensão de incerteza face à decisão de inovar, de um modo não colocado nos termos de Schumpeter sobre a natureza descontínua da inovação. Trata-se da in- certeza gerada “pelo aperfeiçoamento ulterior da tecnologia cuja introdução está no momento sendo considerada” (ROSENBERG, 2006, p. 167). Para Rosenberg (2006), a decisão de inovar em “x”, hoje, pode ser afetada diretamente pela perspectiva de que, amanhã, sejam introduzidos melhoramentos expressivos em “x”, ou pela espera que, amanhã, uma nova tecnologia, “y”, será introduzida no mercado. Unidade 1 • Aspectos conceituais básicos da Ciência, Tecnologia & Inovação20/237 Dado que o horizonte tecnológico e as possibilidades de rendas futuras advindas das inovações são permeados por riscos e incertezas, supõe-se que os empresários apresentarão expectativas diferentes, de acordo com seus critérios de decisão subjetivos. Em algumas circunstâncias, os empresários podem esperar uma rápida mudança tecnológica. Do mesmo modo, em outros ca- sos, podem-se esperar melhoramentos tecnológicos contínuos de uma mesma tecnologia após a introdução de alguma inovação do tipo incremental. Em resumo, há incerteza tanto nas ino- vações tecnológicas quanto o aperfeiçoamento futuro de uma tecnologia já introduzida. Tais expectativas podem guiar a escolha proposital por parte dos empresários em atrasar a difusão da inovação. Nas palavras do autor: As expectativas do aperfeiçoamento contínuo de uma nova tecnologia po- dem, portanto, levar ao adiamento de uma inovação, a diminuição da ve- locidade da difusão, ou à sua adoração sob uma forma modificada, que permita maior flexibilidade no futuro. Unidade 1 • Aspectos conceituais básicos da Ciência, Tecnologia & Inovação21/237 Além disso, devem-se considerar não apenas as expectativas com relação a possíveis melhoramentos da tecnologia em consideração, mas também a possibilidade de melhoramentos de tecnologias substitutas e comple- mentares. Melhoramentos extras num produto já existente podem ser re- tardados devido à expectativa de que um novo produto, superior, venha a ser desenvolvido em breve. Ao mesmo tempo, as expectativas do conti- nuo melhoramento da velha tecnologia exercerão um efeito similar. (RO- SENBERG 2006, p.177) Deste modo, é possível observar empresas que resistam à introdução de novas tecnologias se elas acreditarem na ocorrência de melhoramentos tecnológicos futuros. Ao mesmo tempo, Ro- senberg (2006) argumenta que as inovações, frequentemente, são imperfeitas em seus estágios iniciais de implementação. Se algum empresário espera por futuras melhorias2 em torno de uma tecnologia, pode ser um contrassensoempreender a inovação no momento atual. 2 As melhorias podem ser empreendidas pela via do learning-by-doing, que é o aprendizado pela prática e pela experiência acumulada dos produtores. Paralelamente, as melhorias podem estar ligadas à passagem de tempo necessária para aquisição de informações ad- vindas de resultados de experiências prévias. Unidade 1 • Aspectos conceituais básicos da Ciência, Tecnologia & Inovação22/237 Face ao exposto, concluímos que, aceit- ando a ideia da natureza contínua da mu- dança tecnológica, isto é, a tecnologia sen- do passível de melhoramentos, o momento ótimo para a introdução de uma inovação no mercado será vigorosamente influen- ciado pelas expectativas a respeito do mo- mento da incorporação da inovação e de seus aperfeiçoamentos futuros. Unidade 1 • Aspectos conceituais básicos da Ciência, Tecnologia & Inovação23/237 Glossário P&D: Pesquisa e Desenvolvimento. “A pesquisa e o desenvolvimento experimental incluem o tra- balho criativo empregado de forma sistemática, com o objetivo de aumentar o volume de co- nhecimentos, abrangendo o conhecimento do homem, da cultura e da sociedade, bem como a utilização desses conhecimentos para novas aplicações” (OCDE, 2002, p.38). Pode ser executada em universidades, empresas ou institutos de pesquisa. A P&D empresarial tem a ver com as ativi- dades, que podem ser contínuas ou ocasionais, nas quais o objetivo é, ao menos no longo prazo, encontrar novas aplicações práticas e comerciais. TICs: Tecnologias de Informação e Comunicação. Difusão: O ato ou efeito de difundir-se. Propagação, multiplicação. Questão reflexão ? para 24/237 Acabamos de apresentar alguns conceitos chave sobre ciência, tecnologia e inovação. A importância em pen- sar que essa relação se dá pelo poder transformador que a ciência e a tecnologia têm na sociedade. Mas no que consiste essa transformação? Pense numa tecno- logia (uma tecnologia de comunicação, por exemplo) e identifique algumas transformações que ela provocou na vida social, como as relações pessoais, trabalhistas e oportunidades de emprego. 25/237 Considerações Finais • Embora a relação entre ciência, tecnologia e inovação não seja linear (ci- ência inovação), no decorrer do desenvolvimento capitalista a ciência tor- nou-se cada vez mais importante para a inovação, especialmente após o surgimento dos departamentos de P&D dentro das empresas. • Invenção é diferente de inovação. A condição básica para um novo produto consistir em uma inovação é que ele seja lançado no mercado. • Os tipos de inovação empresariais mais comuns são: inovações de produto, processo, organizacional e de marketing. • A difusão é a propagação das inovações no ambiente econômico e social. É através da difusão que as inovações têm o impacto de transformar a socie- dade. Unidade 1 • Aspectos conceituais básicos da Ciência, Tecnologia & Inovação26/237 Referências CASTELLS, M. A Sociedade em Rede. São Paulo: Paz e Terra, 1996. FREEMAN, C.; SOETE, L. A economia da inovação industrial. Campinas: Editora da UNICAMP, 2008. HALL, B.H., Innovation and diffusion. In: FAGERBERG, J., MOWERY, D.C., NELSON, R.R. (Eds.), Ox- ford Handbook of Innovation. Oxford University Press, Oxford, pp. 459–484, 2005. OCDE. Manual de Frascati. 2002. OCDE, Manual de Oslo - Diretrizes para coleta e interpretação de dados sobre inovação, 2005. ROGERS, E. Diffusion of innovations. New York: Free Press, 2003. ROSENBERG, N. Factors affecting the diffusion of technology. Explorations in economic history, v. 10, n. 1, p. 3-33, 1972. ROSENBERG, N. O Quão Exógena é a Ciência? Revista Brasileira de Inovação, 2006. ROSENBERG, N. Sobre as expectativas tecnológicas. In: ROSENBERG, Nathan. Por dentro da cai- xa preta: tecnologia e economia. Campinas: Editora da Unicamp, 2006. Cap. 5. p. 163-184. SCHUMPETER, J. Teoria do Desenvolvimento Econômico. São Paulo: Nova Cultural, 1997. SZMRECSÁNYI, T. Esboços de história econômica da ciência e da tecnologia. In: SOARES, L. Da Revolução Científica à Big (Business) Science. Hucitec/Eduff, p. 155-200, 2001. 27/237 1. Uma empresa de eletrônica lança no mercado um computador que possui as mesmas especificações técnicas de uma versão antiga, mas com a opção de novas cores e acabamento externo. Essa atividade configura que tipo de inovação? a) Inovação de produto b) Inovação de processo c) Inovação organizacional d) Inovação de marketing e) Não é inovação Questão 1 28/237 2. A respeito da relação entre ciência, tecnologia e inovação no sistema capitalista, é possível afirmar que: a) toda inovação é uma aplicação do conhecimento científico. b) a ciência não existe sem inovação. c) a ciência pode fomentar o surgimento de inovações. d) a invenção de máquinas é sempre uma atividade científica. e) ciência e tecnologia não têm qualquer relação. Questão 2 29/237 3. A difusão de inovações é um dos fatores mais relevantes do processo de inovação porque: a) promove a propagação das inovações e transformação da sociedade. b) faz o conhecimento científico retroceder. c) impede que surjam inovações que prejudiquem o meio ambiente. d) está relacionada apenas com a propagação de inovações de produto. e) tem o poder de fazer a sociedade permanecer sem mudanças. Questão 3 30/237 4. Uma inovação de processo pode ser identificada quando uma empresa: a) lança no mercado um produto com uma nova embalagem. b) introduz uma nova tecnologia de produção e métodos de distribuição. c) cria uma nova máquina que não é utilizada na produção de mercadorias. d) altera sua estratégia de preços. e) altera o local de trabalho da gerência. Questão 4 31/237 5. Sobre o papel da ciência no desenvolvimento tecnológico, podemos afirmar que: a) a ciência e a tecnologia estavam intimamente ligadas desde a Primeira Revolução Industrial. b) a pesquisa realizada dentro das empresas (P&D) foi a consolidação do papel da ciência para a inovação. c) a pesquisa científica só gera inovações de produto. d) durante a Segunda Revolução Industrial, destacou-se o papel de inventores individuais. e) as inovações de marketing são produto da pesquisa científica. Questão 5 32/237 Gabarito 1. Resposta: D. Para ser uma inovação de produto é neces- sário que seja um bem novo ou com melho- ramento significativo naquilo que é a sua função principal. Neste caso, houve somen- te melhoramentos estéticos, design externo do produto e novas cores, o que configura apenas uma inovação de marketing. 2. Resposta: C. A ciência fomenta inovações, mas não é fa- tor obrigatório para a atividade inovadora. 3. Resposta: A. A propagação das inovações e transforma- ções na vida econômica e social são alguns dos principais efeitos da difusão de inovações. 4. Resposta: B. A inovação de processo caracteriza-se pela introdução de um método de produção ou distribuição novo ou significativamente melhorado. 5. Resposta: B. O surgimento dos laboratórios de P&D em- presarial foi um dos principais aconteci- mentos durante e após a Segunda Revolu- ção industrial, fazendo com que a ciência passasse a ser cada vez mais importante para os processos de inovação. 33/237 Unidade 2 Ferramentas de prospecção tecnológica Objetivos 1. Introdução aos estudos sobre o aprimoramento tecnológico e tendências em ino- vações. Apresentar o processo de prospecção tecnológica e estratégia de pesquisa por meio de palavras chave em banco de patentes e artigos, ou seja, utilização de operadores booleanos de busca. Entender os dados de patentes como indicadores de tendências tecnológicas para monitorar a capacitação tecnológica; Identificar tecnologias emergentes e novos mercados; monitoramento de concorrentes e parceiros tecnológicos. Introdução das bases de Informação de patentes: USPTO, WIPO, Espacenet, Questel ORBIT, Google Patents e INPI. Caracterizar o rastrea- mento da atividade científica a partir de dados bibliométricos: principais atores e instituições de pesquisa, redes de colaboraçãoem pesquisa. Identificação de ba- ses de informações bibliométricas: SCOPUS, Web of Science e Google Acadêmico. Unidade 2 • Ferramentas de prospecção tecnológica34/237 Introdução Retomando as ideais postuladas no tema 1, a tecnologia pode ser entendida como um corpo próprio de conhecimento, dotado de técnicas, métodos, procedimentos, experi- ências de sucessos e malogros, bem como da infraestrutura física referente aos instru- mentos e laboratórios (ROSENBERG, 2006; DOSI, 2006). Os estudos a respeito da tecnologia e seu comportamento ao longo do tempo apre- sentam cada vez mais destaque na litera- tura da inovação tecnológica. Dosi (2006) é um dos autores que contribui nesta ar- gumentação ao propor seu modelo de de- terminantes e das direções em que ocorre a mudança técnica, nas quais se destacam os conceitos de paradigmas tecnológicos e trajetórias tecnológicas. Discussão semelhante sobre o aperfeiço- amento da tecnologia é empreendida por Nelson e Winter (2005). Os autores traba- lham com a ideia de “trajetórias naturais”, referindo-se aos caminhos - mecanismos de busca e seleção - em que passa o desen- volvimento de uma tecnologia até chegar ao ponto de apresentar um ímpeto próprio. Sob outra perspectiva, Freeman e Perez (1988) trabalham com o termo “paradigma tec- Para saber mais Ver, a esse respeito, Dosi (2006) Capítulo 2 - Ten- dências da Inovação e seus determinantes: os ingredientes do processo inovador, em Mudança técnica e transformação industrial: a teoria e uma aplicação à indústria de semicondutores. Unidade 2 • Ferramentas de prospecção tecnológica35/237 noeconômico”, ao contrário de “paradigma tecnológico”, pois os autores entendem que a análise do processo competitivo vai além dos elementos do progresso técnico. Outros autores debruçam suas análises nos aspec- tos incrementais da tecnologia, tais como Rosenberg (1976) e Patel & Pavitt (1994), os quais destacam a função das inovações in- crementais, da realização de melhoramen- tos e aperfeiçoamentos para viabilizar um novo produto no mercado. Não cabe aqui descrever cada abordagem em especifico, dado o objetivo da discipli- na e pela grande quantidade de autores que trabalham com o tema; mas, deve-se assinalar que os estudos sobre o compor- tamento e perspectivas de uma tecnologia possuem lugar de destaque junto à litera- tura da inovação e é um campo recorrente de investigação. Para saber mais PELAEZ-ALVAREZ, V.; SZMRECSANYI, T. Economia da inovação tecnológica. São Paulo: Hucitec: Ordem dos Economistas do Brasil, 2006, 497 p. (Economia & planejamento. Obras didáticas). Na busca por um cenário mais nítido sobre quais caminhos a tecnologia segue e pode seguir no futuro, destacam-se a utilização das ferramentas de inteligência tecnológica. Dentre as ferramentas possíveis, os estudos de prospecção tecnológica são de suma im- portância para a identificação de tendências e rotas tecnológicas promissoras. Unidade 2 • Ferramentas de prospecção tecnológica36/237 A seguir, apresentam-se recomendações sobre como acessar estas tendências. Não se figura como única a metodologia apre- sentada a seguir, dado que existem outras formas de empreender os estudos de pros- pecção, porém este roteiro foi elaborado a partir da literatura específica da área da gestão da inovação, que será referenciada em cada seção correspondente, bem como a partir da experiência do autor em seus tra- balhos na área de prospecção tecnológica. 1. Prospecção Tecnológica e In- teligência Competitiva: Passo a Passo do Exercício Em primeiro lugar, deve-se realizar o esfor- ço de elaborar as questões de investigação. Estas orientarão a análise e servem como fio condutor do trabalho, podendo ser exem- plificadas: qual o comportamento de uma tecnologia ao longo do tempo? Quem são os principais atores? Quais os países líde- res? Estas e diversas outras questões. Para o alcance destas indagações, desenham- -se os objetivos específicos e se elaboram métodos para a prospecção. Nesta discipli- na, recomenda-se um passo a passo frente à experiência do autor, a qual consiste em quatro fases. A seguir, aponta-se e descre- ve-se cada fase deste processo. Unidade 2 • Ferramentas de prospecção tecnológica37/237 1.1. Primeira Fase: Definição do Campo Tecnológico, Palavras Chave e Equa- ção de Busca Busca-se delimitar o campo tecnológico a ser estudado. Este pode ser um campo de conheci- mento sobre uma tecnologia, a tecnologia em si, ou um grupo de tecnologias que compõem um produto ou artefato especifico. Para saber mais Para isso, definem-se palavras chave e equações de busca. As palavras chave são os termos específicos de uma tecnologia; por exemplo: motores elétricos, dispositivos ópticos, sensores digitais, entre outros. Recomenda-se a obtenção destas palavras a partir de uma revisão preliminar de fontes secundárias (ar- tigos, teses, dissertações) e/ou consulta a especialistas com amplo domínio e conhecimento sobre o as- sunto. Com as palavras chave em mãos, cria-se uma equação de busca a partir do uso de operadores bo- oleanos. Os operadores booleanos são palavras que têm o objetivo de definir para um sistema de busca a combinação entre termos ou expressões de uma pesquisa. A descrição destes é feita no Quadro 1. Unidade 2 • Ferramentas de prospecção tecnológica38/237 Quadro 1: Significado dos Operadores Booleanos Operador Booleano Nome em português Significado AND (+) E Restringe a pesquisa, refere-se à expressão “com todas as palavras”. Os resultados esperados devem conter um termo e o outro. NOT (-) AND NOT Não Exclui um dos termos da pesquisa, equivalendo à expressão “sem a(s) palavra(s)”. Em alguns sistemas poderá encontrar somente o NOT/ NÃO ou AND NOT/E NÃO. OR Ou Amplia a pesquisa, equivalendo a expressão “com qualquer uma das palavras”. Os resultados recuperados devem conter um termo ou o outro. ( ) Parênteses Indica a combinação que deve ter prioridade dentro da expressão. “ “ Aspas As palavras contidas entre aspas especificam uma frase exata. * Asterisco O asterisco é utilizado para realizar buscas por famílias de palavras. Fonte: Elaborado pelo autor. Unidade 2 • Ferramentas de prospecção tecnológica39/237 1.2. Segunda Fase: Identifica- ção, Busca e Coleta de Informa- ções Nesta fase será feita a escolha das fontes e bases de dados que permitem a identifica- ção de trajetórias tecnológicas. Envolve três estratégias: • Rastreamento da atividade científica, via estudo bibliométrico, observando os principais atores, instituições de pesquisa e redes de colaboração em pesquisa. • Acesso a bases de Informação de patentes: USPTO, WIPO, Espacenet, Questel ORBIT, Google Patents e INPI. Monitoramento de concorrentes e parceiros tecnológicos. • Utilização de fontes secundárias para calibração e aperfeiçoamento da bus- ca: livros, periódicos, artigos científi- cos e literatura técnica chave. Estudos de prospecção e vigilância já feitos; conversa com especialistas nos temas de pesquisa; diálogo com experts ex- ternos (organizações relevantes, as- sociações, grupos de pesquisa). 1.2.1 Rastreamento da Ativida- de Científica, Via Estudo Biblio- métrico Por definição, a bibliometria é o estudo dos aspectos quantitativos da produção, disse- minação e utilização da informação regis- Unidade 2 • Ferramentas de prospecção tecnológica40/237 trada em artigos científicos. Estes podem ser mapeados via bibliotecas digitais e ba- ses de dados, conforme será descrito sub- sequentemente. Para Daim et al., “A bibliometria ajuda a ex- plorar, organizar e analisar grandes quan- tidades de dados, identificando ‘padrões ocultos’ que possam ajudar aos pesquisa- dores na tomada de decisões” (DAIM et al, 2006 p. 2, tradução nossa). As principais fontes de informações estão listadas abaixo: • Buscar literatura / dados, etc. - Goo- gle Scholar, Web of Science, Sco- pus, Mendeley, WordCat, PubMed, Pa- perity, PLOS, LinkNovate,Standard Analytics, Crossref, NanoHUB, Refin- dit, CiteSeer(X), CERN Open Data, One Repo, Expertnova, Libraccess, OA- Lib, OpenAIRE, ResearchPad, JS- TOR, Zanran, etc. Sugerimos também o Busca Integrada, Dedalus, BDTD/ USP, BBDTD/Brasil e BDTI/USP. • Acessar literatura / dados, etc. – Acesso institucional (No Brasil: Ca- pes e/ou USP), ResearchGate, e-mail do autor, Open Access Button, Pay-per-view to publishers, Goo- gle, Academia.edu, Research4Li- fe, ArXiv, colegas e sites de pesqui- sadores, Sci-Hub, empréstimo entre bibliotecas, Twitter etc. • Receber alertas e recomenda- ções – Google Scholar, Research- Gate, JournalTocs, Mendeley, Pub- http://scholar.google.com/ http://scholar.google.com/ http://thomsonreuters.com/thomson-reuters-web-of-science/ http://www.scopus.com/ http://www.scopus.com/ https://www.mendeley.com/ http://www.worldcat.org/ https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/ http://paperity.org/ http://paperity.org/ http://groups.ischool.berkeley.edu/ploscloudexplorer/ http://www.linknovate.com/ http://www.standardanalytics.io/ http://www.standardanalytics.io/ http://www.crossref.org/SimpleTextQuery/ https://nanohub.org/ http://www.refindit.org/ http://www.refindit.org/ http://citeseerx.ist.psu.edu/ http://opendata.cern.ch/ http://onerepo.net/ http://onerepo.net/ https://en.expernova.com/ http://libraccess.org/ http://www.oalib.com/ http://www.oalib.com/ https://www.openaire.eu/ http://researchpad.co/ http://www.zanran.com/ http://www.sibi.usp.br/noticias/ferramentas-gestao-pesquisa-disponiveis-pesquisadores-2016/www.buscaintegrada.usp.br http://dedalus.usp.br/ http://www.teses.usp.br/ http://www.teses.usp.br/ http://bdtd.ibict.br/ http://www.producao.usp.br/ http://www.periodicos.capes.gov.br/ http://www.periodicos.capes.gov.br/ http://www.sibi.usp.br/servicos/conexao-remota/ https://www.researchgate.net/ https://www.openaccessbutton.org/ http://www.google.com/ http://www.google.com/ http://www.academia.edu/ http://www.research4life.org/ http://www.research4life.org/ https://arxiv.org/ http://sci-hub.cc/ https://twitter.com/ http://scholar.google.com/ https://www.researchgate.net/ https://www.researchgate.net/ http://www.journaltocs.hw.ac.uk/ https://www.mendeley.com/ https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/ Unidade 2 • Ferramentas de prospecção tecnológica41/237 Med, Academia.edu, F1000 Pri- me, Browzine, Twitter, Web of Scien- ce, Scopus, Alertas de Revistas, Scien- ceDirect, PubCrawler, Sparrho, RSS, Fa- cebook, SciFeed etc. • Ler, ver, anotar e gerenciar referên- cias – Acrobat Reader, HTML view, MS Word, Mendeley, ReadCube, iAnno- tate, Hypothes.is, Papers, Annota- ted Books Online, HistoryPin, Peer- Library, TagTeam, Google Scholar Library, Zotero, EndNote Web, Ci- teUlike, Proquest Flow, RefBank, Sta- ckly, Reference Manager, RefWorks, etc. Fonte: Extraído de USP (2017) Neste sentido, a identificação de artigos científicos acessa o estado da arte e situa as pesquisas relacionadas a um determina- do campo no plano científico, identificando também as instituições de ensino e pesqui- sa por trás das publicações, bem como as lo- calidades das mesmas; analisa as capacida- des e competências científicas, a dinâmica de publicação de artigos; por fim, identifica os atores chave e suas redes de colaboração (países e instituições). 1.2.2 Utilização de Dados de Pa- tentes como Indicadores de De- senvolvimento Tecnológico Na busca pela construção de competências e manutenção da vantagem competitiva, as empresas destinam esforços e recursos para o processo de Pesquisa, Desenvolvimento e https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/ http://www.academia.edu/ http://f1000.com/prime http://f1000.com/prime http://thirdiron.com/browzine/ https://twitter.com/ http://thomsonreuters.com/thomson-reuters-web-of-science/ http://thomsonreuters.com/thomson-reuters-web-of-science/ http://www.scopus.com/ http://www.sciencedirect.com/ http://www.sciencedirect.com/ http://pubcrawler.gen.tcd.ie/ https://www.sparrho.com/ http://www.facebook.com/ http://www.facebook.com/ https://scifeeds.com/ https://acrobat.adobe.com/br/pt/acrobat/pdf-reader.html https://products.office.com/pt-br/word https://products.office.com/pt-br/word https://www.mendeley.com/ https://www.readcube.com/ https://www.iannotate.com/ https://www.iannotate.com/ https://www.annotate.co/about.html http://papersapp.com/ http://www.annotatedbooksonline.com/ http://www.annotatedbooksonline.com/ https://www.historypin.org/ http://peerlibrary.org/ http://peerlibrary.org/ http://tagteam.harvard.edu/ http://scholar.google.com/scholar?scilib=1 http://scholar.google.com/scholar?scilib=1 https://www.zotero.org/ http://www.sibi.usp.br/noticias/ferramentas-gestao-pesquisa-disponiveis-pesquisadores-2016/www.myendnoteweb.com http://www.citeulike.org/ http://www.citeulike.org/ https://flow.proquest.com/ http://refbank.refindit.org/RefBank/search https://www.stackly.org/ https://www.stackly.org/ http://www.refman.com/ http://www.refworks.com/ Unidade 2 • Ferramentas de prospecção tecnológica42/237 Inovação (P, D & I) seja em seus produtos ou em seus processos. Existem diversos meca- nismos que visam proteger uma tecnologia frente à concorrência objetivando assegu- rar ao inventor seu direito de exclusividade na exploração econômica de sua invenção e, neste contexto, as patentes classificam- -se como um dos mecanismos possíveis para atingir tais objetivos. As patentes são definidas como um título de propriedade intelectual, sendo outor- gadas pelo Estado via sua força de lei, que confere ao seu detentor a possibilidade de exploração econômica de caráter exclusivo para uma invenção e também permite ao inventor a possibilidade de impedir tercei- ros a explorar o objeto de sua patente. Para tanto, o inventor deve fornecer as in- formações técnicas necessárias de modo a permitir a difusão tecnológica das ino- vações geradas pelas patentes, sem expli- citar os segredos industriais envolvidos no processo. Sua concessão se dá através de agências governamentais autorizadas res- ponsáveis pela abrangência de uma deter- minada região, com suas regras e procedi- mentos próprios (INPI, 2017). Para saber mais Veja a respeito das atividades que circundam a propriedade intelectual no Brasil, INPI. PROPRIE- DADE INTELECTUAL. Disponível em: <http:// www.inpi.gov.br/>. Acesso em: 28 jun. 2017. http://www.inpi.gov.br/ http://www.inpi.gov.br/ Unidade 2 • Ferramentas de prospecção tecnológica43/237 Podemos destacar que uma patente é uma propriedade limitada temporalmente, uma vez que, após o transcurso do período de exclusividade de exploração, a patente en- tra em domínio público, podendo ser usada por toda a sociedade. Outra característica destaca que o interesse público fica preser- vado na divulgação da informação, ou seja, permite que a sociedade tenha acesso ao conhecimento do objeto de uma patente por meio de sua publicação (INPI, 2017). A utilização de indicadores que se baseiam em banco de dados de direitos de proprie- dade intelectual (patentes) tem ganhado força nos campos da Ciência e Tecnologia (C&T). De acordo com Pilkington & Dyer- son (2006), os dados sobre patentes carac- terizam-se como importantes indicadores de possíveis rotas tecnológicas em curso. Outras informações relevantes: por meio da análise de patentes, podem-se identifi- car quais são os países mais empenhados em desenvolver determinada tecnologia; é possível saber quais os principais atores que estão direcionando esforços em proteger seu direito de propriedade intelectual, entre outros apontamentos que as informações sobre propriedade intelectual podem trazer (PILKINGTON; DYERSON, 2006). 1.2.2.1 Exemplos de banco de dados de patentes INPI - Instituto Nacional de Propriedade In- telectual • A busca online em documentos de pa- tente depositados no Brasil pode ser Unidade 2 • Ferramentas de prospecção tecnológica44/237 feita gratuitamente na base de paten- tes do INPI, com osistema Busca Web, através da combinação de palavras- -chave com a Classificação Interna- cional de Patentes. • Disponível em: <http://www.inpi.gov. br/>. Acesso em: 20 set. 2017. Questel – ORBIT INTELLIGENCE • Realiza a cobertura de 93 escritórios de patentes, muitos dos quais contêm os textos integrais, status legal, citações pesquisáveis e ferramentas de aná- lise estatística e semântica acoplada numa única interface. É um sistema de busca e análise de informações de patentes e desenhos industriais. • Este sistema tem ferramentas de aná- lise estatística e de correlação, que permitem a geração e visualização de gráficos sobre grandes conjuntos de patentes. • Disponível em: <https://www.questel. com/software/ipbi/orbit-intelligen- ce/>. Acesso em: 07 dez. 2018. USPTO • Escritório de patentes dos Estados Unidos • Disponível em: <https://www.uspto. gov/>. Acesso em: 20 set. 2017. ESPACENET • Escritório de patentes Europeu • Disponível em: <https://worldwide. espacenet.com/>. Acesso em: 20 set. http://www.inpi.gov.br/ http://www.inpi.gov.br/ https://www.questel.com/software/ipbi/orbit-intelligence/ https://www.questel.com/software/ipbi/orbit-intelligence/ https://www.questel.com/software/ipbi/orbit-intelligence/ https://www.uspto.gov/ https://www.uspto.gov/ https://worldwide.espacenet.com/ https://worldwide.espacenet.com/ Unidade 2 • Ferramentas de prospecção tecnológica45/237 2017. Google PATENTS • Buscador de patentes do Google • Disponível em: <https://patents.goo- gle.com/>. Acesso em: 20 set. 2017. 1.2.3 Validação e Calibração de Especialistas Trata-se de consultar agentes externos para validar as estratégias de buscas e resultados preliminares encontrados. Consiste em le- gitimar o processo de prospecção. Também serve para coleta, calibração e aperfeiçoa- mento de novas informações. 1.3 Terceira Fase: Armazena- mento e Registro da Informação A partir da informação coletada, pode-se armazená-la de maneira estruturada em softwares do tipo Microsoft Excel, nas pró- prias plataformas, se for possível (como é o caso do Orbit), ou em softwares de minera- ção de dados, conforme será visto a seguir. Em todo caso, recomenda-se o registro de todas as equações de busca feitas nas dife- rentes fontes, quais escritórios de patentes e bases de dados foram acessados, as datas da pesquisa, os resultados obtidos (número de patentes/artigos), e a avaliação da perti- nência dos resultados. https://patents.google.com/ https://patents.google.com/ Unidade 2 • Ferramentas de prospecção tecnológica46/237 1.4 Quarta Fase: Análise da In- formação e o Apoio da Minera- ção de Dados Recomenda-se a observação das seguintes categorias de análise face aos resultados encontrados: • Dinâmica de publicação e patentea- mento: observação do número de ar- tigos e patentes publicados em deter- minado período de tempo. • Países líderes: tratam-se dos princi- pais países que publicam artigos e patentes, considerados expoentes em determinada tecnologia e pesquisa. • Instituições de excelência e inven- tores: são as instituições que se des- tacam nas publicações e podem ser consideradas aliadas estratégicas. Estas instituições podem ser oriundas dos Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs), Governo e empresas. • Tendências Tecnológicas: indica as principais temáticas através das pa- lavras-chaves e sua dinâmica de pu- blicação no tempo. Identifica tecno- logias emergentes e novos mercados; monitoramento de concorrentes e parceiros tecnológicos. Definição de potenciais rotas para aperfeiçoamen- tos em produtos e processos existen- tes. • Mercados tecnológicos: são os escri- tórios internacionais nos quais se re- gistram as patentes e fazem referên- Unidade 2 • Ferramentas de prospecção tecnológica47/237 cia aos países que têm interesse em proteger as invenções. • Redes de colaboração entre países e instituições: mostra a articulação en- tre instituições e países líderes. Se o volume de informações for expressivo, recomenda-se a utilização de ferramen- tas de mineração de dados para uma me- lhor experiência e organização dos dados. A mineração de dados (data mining) é uma ferramenta que facilita e complementa os exercícios de vigilância tecnológica e inte- ligência competitiva porque permite extrair e buscar informações valiosas em grandes volumes de dados. Atualmente, há ferra- mentas comerciais de mineração de dados como o software Vantage Point, que facili- tam a gestão da informação. 2. Exemplos de Aplicação de Es- tudo Bibliométrico: Geração Dis- tribuída (GD) Visando uma maior compreensão sobre a aplicação das ferramentas de inteligência tecnológica, serão apresentados os resulta- Para saber mais Este software da empresa norte-americana Sear- ch Technology é uma ferramenta de mineração de dados com capacidade de processamento de lite- ratura científica, técnica e textos de patentes, ex- traindo tendências, pautas e relações de termos a partir da informação dos documentos. Ver, a esse respeito, <https://www.thevantagepoint. com/>. Acesso em: 20 set. 2017. https://www.thevantagepoint.com/ https://www.thevantagepoint.com/ Unidade 2 • Ferramentas de prospecção tecnológica48/237 dos parciais encontrados para um estudo de caso focado nas tecnologias envolvidas no campo da Geração Elétrica Distribuída (GD). Para isso, são utilizados dados de patentes como indicadores de desenvolvimento tec- nológico e dados de produção acadêmica e técnica como indicadores bibliométricos. Os dados sobre patentes e produção biblio- gráfica encontram-se em bases indexadas (SCOPUS E QUESTEL ORBIT). Deve-se ressaltar que se tratam de resulta- dos parciais. Porém, ao realizar sua análise preliminar, os gráficos processados permi- tem uma reflexão sobre tendências das tec- nologias relacionadas a GD. Verifica-se que as tecnologias que compõem a GD passam por um processo expressivo de desenvolvi- mento, que se reflete no aumento quanti- tativo das publicações de famílias1 de pa- tentes nos últimos 20 anos, acentuando-se principalmente a partir de 2009-2015. 1 Forma de apresentação dos resultados. Unidade 2 • Ferramentas de prospecção tecnológica49/237 Gráfico 1: Evolução das publicações de patentes em GD (1996-2015) Fonte: Elaboração própria a partir de Questel ORBIT (2016). Quanto aos atores envolvidos, é visível a liderança de empresas chinesas. Outra evidência apon- ta para o domínio destas tecnologias em países mais desenvolvidos (Japão, Estados Unidos, Ale- manha e França), porém com destaque para a Coréia do Sul e China, denotando o avanço destes Unidade 2 • Ferramentas de prospecção tecnológica50/237 novos países ingressantes neste segmento. O estudo bibliométrico corrobora com o comporta- mento de patentes e revela uma trajetória similar à evolução do setor. Gráfico 2: Publicações de Patentes em GD por países (1996-2015) Fonte: Elaboração própria a partir de Questel ORBIT (2016). Unidade 2 • Ferramentas de prospecção tecnológica51/237 Figura 1: Distribuição de Patentes de GD por países (1996–2015) (localização cartesiana) Fonte: Elaboração própria a partir de Questel ORBIT (2016). Unidade 2 • Ferramentas de prospecção tecnológica52/237 Gráfico 3: Distribuição de Patentes de GD por Instituição (1996-2015) Fonte: Elaboração própria Unidade 2 • Ferramentas de prospecção tecnológica53/237 Figura 2: Redes de colaboração de Patentes de GD (1996–2015) Fonte: Elaboração própria a partir de Questel ORBIT (2016). Unidade 2 • Ferramentas de prospecção tecnológica54/237 Figura 3: Domínios Tecnológicos das Patentes de GD (1996–2015) Fonte: Elaboração própria a partir de Questel ORBIT (2016). Unidade 2 • Ferramentas de prospecção tecnológica55/237 Gráfico 4: Evolução das publicações de artigos e livros de GD (1996–2015) Fonte: Elaboração própria a partir de SCOPUS (2016). Unidade 2 • Ferramentas de prospecção tecnológica56/237 Gráfico 10: Publicações de artigos e livros de GD por instituição (1996–2015)Fonte: Elaboração própria a partir de SCOPUS (2016). Unidade 2 • Ferramentas de prospecção tecnológica57/237 Gráfico 11: Publicações de artigos e livros de GD por países (1996–2015) Fonte: Elaboração própria a partir de SCOPUS (2016). Unidade 2 • Ferramentas de prospecção tecnológica58/237 Glossário INPI: Instituto Nacional de Propriedade Intelectual. É uma autarquia federal vinculada ao Minis- tério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, responsável pelo aperfeiçoamento, dissemina- ção e gestão do sistema brasileiro de concessão e garantia de direitos de propriedade intelectual para a indústria (INPI, 2017). ICT: As Instituições de Pesquisa Científica e Tecnológica (ICT) são órgãos ou entidades da admi- nistração pública ou entidades privadas sem fins lucrativos que tenham como missão institucio- nal, dentre outras, executar atividades de pesquisa básica ou aplicada de caráter científico ou tecnológico (REDETIC, 2017). Patente: título de propriedade intelectual, sendo outorgada pelo Estado via sua força de lei, que confere ao seu detentor a possibilidade de exploração econômica de caráter exclusivo para uma invenção e também permite ao inventor a possibilidade de impedir terceiros de explorar o objeto de sua patente. Questão reflexão ? para 59/237 Face ao exposto, notou-se que com a utilização das ferra- mentas de prospecção - baseadas em indicadores de paten- tes e dados bibliométricos - é possível acessar informações de ordem diversas como identificação de atores, dinâmica temporal e competitiva entre outras. Trazendo esta discus- são para o seu ambiente de trabalho, seja ele realizado em instituição pública ou privada, como as ferramentas citadas podem auxiliar no aprimoramento de suas atividades, na descoberta de novos parceiros e oportunidades de inovação? 60/237 Considerações Finais (1/2) • Estudos sobre o comportamento de uma tecnologia possuem lugar de des- taque junto à literatura da inovação e é um campo recorrente de investiga- ção. • Prospecção tecnológica é de suma importância para a identificação de ten- dências e rotas tecnológicas promissoras. • As palavras chave são os termos específicos de uma tecnologia ou área do conhecimento. Os operadores booleanos são palavras que definem e deli- mitam a combinação entre termos ou expressões de uma pesquisa. • Dados de patentes são adotados como indicadores de tendências tecno- lógicas para monitorar a capacitação tecnológica; Identificar tecnologias emergentes e novos mercados; monitoramento de concorrentes e parcei- ros tecnológicos; definição de potenciais rotas para aperfeiçoamentos em produtos e processos existentes. 61/237 • Rastreia-se a atividade científica a partir de dados bibliométricos: olham- -se os principais esforços científicos, atores e instituições de pesquisa, bem como as redes de colaboração em pesquisa. Considerações Finais (2/2) Unidade 2 • Ferramentas de prospecção tecnológica62/237 Referências CARLSSON, B. et al. Innovation systems: Analytical and methodological issues. Research Policy, 2002. v. 31, n. 2. DAIM, T.U., RUEDA, G., MARTIN, H. & GERDSRI, P. (2006). Forecasting emerging technologies: Use of bibliometrics and patent analysis. Technological Forecasting and Social Change, 73(8), 981–1012. DOSI, G. Mudança Técnica e Transformação Industrial. Campinas: Editora da Unicamp, 2006. FREEMAN, C.; PEREZ, C. Structural crises of adjustment, business cycles and investment be- haviour. In: DOSI, G.; FREEMAN, C.; NELSON, R.; SILVERBERG, G. & SOETE, L. Technical Change and Economic Theory. London and New York: Pinter Publisher, 1988. INPI. INPI — Instituto Nacional da Propriedade Industrial. [S.l.], 2017. Disponível em: <http:// www.inpi.gov.br/>. Acesso em: 16 jun. 2017. NELSON, R.; WINTER, S. Uma teoria evolucionária da mudança econômica. Campinas, SP: Edi- tora da Unicamp, 2005. NESTA, L.; MANGEMATIN, V. The economics of innovation alliances. Working Paper GAEL 2004- 25, 2004. http://www.inpi.gov.br http://www.inpi.gov.br Unidade 2 • Ferramentas de prospecção tecnológica63/237 PATEL, P.; PAVITT, K. The continuing, widespread (and neglected) importance of improvements in mechanical technologies. Research policy, 23: 533-545, 1994. PILKINGTON, A.; DYERSON, R. Innovation in disruptive regulatory environments: A patent study of electric vehicle technology development. European Journal of Innovation Management, 2006. v. 9, n. 1, p. 79–91. REDETIC. Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs). Disponível em: <http://www.redetic.rnp. br/redetic/instituicoes-de-ciencia-e-tecnologia-icts/>. Acesso em: 28 jun. 2017. ROSENBERG, N. Perspectives on technology. Cambridge: Cambridge University, 1976. ROSENBERG, N. Sobre as expectativas tecnológicas. In: ROSENBERG, Nathan. Por dentro da caixa preta: tecnologia e economia. Campinas: Editora da Unicamp, 2006. Cap. 5. p. 163-184. USP, Universidade de São Paulo. Acontece Mais de 400 ferramentas de gestão de pesquisa disponíveis para os pesquisadores – edição 2017. Disponível em: <http://www.sibi.usp.br/no- ticias/ferramentas-gestao-pesquisa-disponiveis-pesquisadores-2016/>. Acesso em: 28 jun. 2017. http://www.redetic.rnp.br/redetic/instituicoes-de-ciencia-e-tecnologia-icts http://www.redetic.rnp.br/redetic/instituicoes-de-ciencia-e-tecnologia-icts http://www.sibi.usp.br/noticias/ferramentas-gestao-pesquisa-disponiveis-pesquisadores-2016 http://www.sibi.usp.br/noticias/ferramentas-gestao-pesquisa-disponiveis-pesquisadores-2016 64/237 1. Que tipo de indicador é usualmente utilizado para caracterizar as atividades inventivas e tecnológicas? a) Patentes b) Difusão c) Novos entrantes na indústria d) Artigos e) Redes de colaboração Questão 1 65/237 2. Que tipo de indicador é usualmente utilizado para caracterizar as ativida- des científicas? Questão 2 a) Patentes b) Difusão c) Novos entrantes na indústria d) Artigos e) Redes 66/237 3. Quais as primeiras ações a serem realizadas em uma atividade de pros- pecção tecnológica? Questão 3 a) Registro das fontes em Excel. b) Obtenção das fontes de informações (dados de patentes e /ou bibliometria). c) Definição das questões de pesquisa, objetivos específicos e campos tecnológicos mapeados. d) Consulta aos especialistas. e) Definição das palavras chave e operadores booleanos. 67/237 4. Sobre os estudos em comportamento tecnológico e suas perspectivas, assi- nale a alternativa correta. Questão 4 a) É um campo de estudos que fica à margem do debate da teoria da inovação. b) Refutam qualquer possibilidade de mensuração e identificação de trajetórias tecnológicas. c) Possuem lugar de destaque junto à literatura da inovação e é um campo recorrente de inves- tigação. d) Entendem o papel da tecnologia como um corpo distinto e sem relacionamento com a ciên- cia. e) Nenhuma das alternativas anteriores está correta. 68/237 5. Qual é a instituição responsável pela gestão, discussão, averiguação e concessão dos pedidos de patentes no Brasil? Questão 5 a) Espacenet b) USPTO c) CAPES d) INPI e) Nenhuma das anteriores. 69/237 Gabarito 1. Resposta: A. A utilização de indicadores que se baseiam em banco de dados de direitos de proprieda- de intelectual (patentes) é uma proxy para a atividade inventiva e tecnológica. 2. Resposta: D. Artigos figuram-se como a principal repre- sentação de estudos bibliométricos para fins de mensuração da atividade científica. 3. Resposta: C. Trata-se da base do estudo e ponto de par- tida da análise. 4. Resposta: C. Um dos temas mais explorados pela econo- mia da inovação refere-se ao mapeamento de trajetórias tecnológicas. 5. Resposta: D. Refere-se ao Instituto Nacional de Proprie- dade Intelectual. 70/237 Unidade 3 Mudanças demográficas e sociais Objetivos 1. Trata-se de olhar para as principais mudanças de- mográficas em curso, que estão moldando o Bra- sil e o mundo nestas primeiras décadas do século XXI. Primeiramente, nessa temática, estaremos nos focando em: imigraçãoe fluxos imigratórios; ampliação das mulheres no mercado de trabalho: quais as posições ocupadas pelas mulheres e quais os desafios de uma agenda de gênero voltada à igualdade; o prolongamento da vida: crescimento da população acima de 65 anos e inversão da pirâ- mide etária no Brasil e as implicações envolvidas. Unidade 3 • Mudanças demográficas e sociais71/237 Introdução O arcabouço conceitual caracterizado pelas aulas 1 e 2 forneceu uma visão abrangen- te sobre ciência, tecnologia e inovação, no que se refere ao comportamento tecnológi- co, onde e como as tendências são percep- tíveis. A ideia de tendências vem sendo referen- ciada pela literatura específica como me- gatrends, sendo uma apropriação literal da terminologia inglesa. Na presente discipli- na, estas serão referidas como megaten- dências, tradução livre do termo utilizado. Existem diversas definições postuladas em trabalhos que se inclinam a explorar esta te- mática e corroboram as definições outrora colocadas na seção 1 e 2. Para a consultoria PWC, megatendências são forças macroe- conômicas e geoestratégicas que moldam e interferem na sociedade e no mundo con- temporâneo (PWC, 2017). De acordo com a consultoria Frost Sullivan (2017), são trans- formações contínuas e globais que impac- tam os negócios, economias nacionais, so- ciedades, culturas e vidas pessoais. O escopo desta aula é trazer a discussão de megatendências para o tema que aqui será abordado, qual seja: observar as mudanças demográficas e sociais. Estas se referem às transformações que afetam em medidas diversas, a estatística da população, como: tamanho, composição racial, taxa de mor- talidade e natalidade, distribuição geográ- fica no nível local, regional e global, e ex- pectativa de vida e riqueza econômica. Unidade 3 • Mudanças demográficas e sociais72/237 1. Vivendo Mais e Crescendo: Uma Análise Sobre o Comporta- mento Demográfico no Séc. XXI e suas Perspectivas. De acordo com os estudos promovidos pe- las Nações Unidas e consultorias como Ro- land Berger e PWC, nota-se um consenso de que a população mundial crescerá substan- cialmente nos próximos 20 anos. Para as Nações Unidas, a população mun- dial alcançará, em 2030, aproximadamente 8 bilhões de pessoas. Para a Roland Berger, este número é ainda mais agressivo, che- gando a 8,3 bilhões de pessoas. Se com- parado aos números de 2010 (6,9 bilhões), trata-se de um crescimento da ordem de aproximadamente 20%. Em 1990, a popu- lação mundial era de cerca de 5 bilhões de pessoas. Porém, este crescimento populacional não será homogêneo nas áreas povoadas ao redor do mundo. Os países em desenvolvi- mento, liderados principalmente por Índia e China, crescerão aproximadamente 7 ve- zes mais que os países desenvolvidos. Como resultado, aponta-se um aumento da par- ticipação global dos primeiros de 8,2%, em 2010, para cerca de 8,5%, representando um salto de 5,7 bilhões de pessoas para 7 bilhões. A população dos países desenvol- vidos, por sua vez, crescerá 3,6% até 2030, de 1,2 bilhões para 1,3 bilhões de pessoas (PWC, 2017; UN, 2017; ROLAND BERGER, 2017).,Os gráficos e tabelas que seguem demonstram estas informações de maneira Unidade 3 • Mudanças demográficas e sociais73/237 desagregada para cada continente e, também, com projeções para 2030, 2050 e 2100. Figura 1: Taxa de crescimento da população anual (2000-2050) Fonte: Extraído de PWC apud UN. Unidade 3 • Mudanças demográficas e sociais74/237 Figura 2: Crescimento da população anual (2010-2100) Fonte: Extraído de UN (2017). Unidade 3 • Mudanças demográficas e sociais75/237 1.1 A Expectativa de Vida Global Continuará a Crescer Segundo relatório das Nações Unidas, con- firmam-se ganhos significativos na ex- pectativa de vida alcançados nos últimos anos. Globalmente, a expectativa de vida aumentou em 3,6 anos entre 2000-2005 e 2010-2015, saltando de 67,2 a 70,8 anos. Todas as regiões compartilham do aumen- to da expectativa de vida durante esse pe- ríodo, mas os maiores ganhos localizam-se no continente Africano, onde a expectativa de vida aumentou 6,6 anos entre esses dois períodos. A expectativa de vida na África, em 2010-2015, foi de 60,2 anos, em com- paração com 71,8 na Ásia, 74,6 na América Latina e no Caribe, 77,2 na Europa, 77,9 na Oceania e 79,2 na América do Norte (con- forme aponta figura 3). Unidade 3 • Mudanças demográficas e sociais76/237 Figura 3: Expectativa de vida ao nascer (por região) Fonte: Extraído de UN (2017). Unidade 3 • Mudanças demográficas e sociais77/237 Ainda, de acordo com as Nações Unidas, em termos globais, estima-se que a expectativa de vida1 salte de 71 anos (2010-2015) para 77 anos em 2045/2050 Espera-se que o continente africano aumente 11 anos a ex- pectativa de vida para sua população, alcan- çando a casa dos 71 anos em 2045-2050. Este salto expressivo dialoga diretamente com a supressão e tratamento de doenças como HIV/AIDS, entre outros tipos de doen- ças e infecções. Na Ásia, Europa, América Latina e Caribe calcula-se um aumento de 6 a 7 anos em 2045/2015 e, por fim, para a América do Norte e Oceania projeta-se um ganho de 4 a 5 anos no mesmo período. 1 Este indicador refere-se à expectativa de vida na data de na- scimento. 1.2 Deslocamento da Força de Trabalho A análise que segue foi extraída a partir dos dados da PWC. Para a consultoria, a pró- xima geração de trabalhadores, nascidos entre 1980 e 1995, apresenta expectativas maiores de trabalhar internacionalmente do que seus pares no passado. Para saber mais Para saber mais sobre a PWC, consulte PWC. PwC analysis (NextGen: A Global Generational Stu- dy). Disponível em: <https://www.pwc.com/ gx/en/hr-management-services/pdf/pwc- -nextgen-study-2013.pdf>. Acesso em: 13 jul. 2017. https://www.pwc.com/gx/en/hr-management-services/pdf/pwc-nextgen-study-2013.pdf https://www.pwc.com/gx/en/hr-management-services/pdf/pwc-nextgen-study-2013.pdf https://www.pwc.com/gx/en/hr-management-services/pdf/pwc-nextgen-study-2013.pdf Unidade 3 • Mudanças demográficas e sociais78/237 É uma tendência globalmente consistente com, por exemplo, 93% na África, 81% na América Latina e 74% no Oriente Médio, com entrevistados apontando que gosta- riam de trabalhar fora de seu país de origem em algum momento de sua carreira. Na úl- tima década, o número de funcionários com mobilidade internacional aumentou 25% e, provavelmente, deverá acelerar em 50% até 2025. Considerando que, no passado, os “novos talentos” apresentam tendên- cia de movimento do leste para oeste, até 2025, estima-se um mercado mais interco- nectado em nível mundial. Neste, os fun- cionários se moverão em todas as direções e trabalharão de novas maneiras, incluindo freelancers, viagens empresariais prolonga- das e trabalhos virtuais de curto prazo. Os fluxos de migração de trabalho podem con- tinuar a representar uma grande proporção do crescimento populacional dos países de- senvolvidos. Em 2030, 85% do crescimento da população nas economias do G7 pode ser da migração pelo trabalho, o que pode- ria ser benéfico para essas economias, mas também poderia levar a maiores tensões sociais e políticas (como indicado pelo voto do Brexit do Reino Unido para deixar a eu, em junho de 2016, no qual a migração foi uma das principais questões do debate). 2. Mulheres no Mercado de Tra- balho A inserção das mulheres no mercado de tra- balho passou por grandes transformações Unidade 3 • Mudanças demográficas e sociais79/237 nas últimas seis décadas. Essa inserção é também reflexo de mudanças demográfi- cas que aconteceram neste período, como a diminuição da taxa de fecundidade. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Esta- tística (IBGE) demonstram que, em 1950, apenas 13,6% das mulheres faziam parte da população economicamente ativa (PEA). Em 2010, o censo populacional verificou que 49% das mulheres faziam parte da PEA (ANDRADE, 2016). O perfil da mulher que se inseriu no mercadode trabalho também se alterou. Na década de 1960, a mulher que ocupava cargos fora do trabalho doméstico era preponderantemente jovem, solteira e sem filhos. Em 2010, a maioria das mulhe- res que trabalhavam fora de casa tinha mais de trinta anos, estavam casadas ou em re- lações de união estável, e já eram mães. Da mesma forma, a escolarização das mulheres também teve papel importante nesse con- texto, com um aumento significativo das mulheres com curso superior, sendo elas em 2010 maioria absoluta entre os diplomados no Brasil e também maioria entre a popula- ção com ensino superior (ARRETCHE, 2015). As mulheres representavam 15,1% da fre- quência na população de 18 a 24 anos ma- triculada no ensino superior, enquanto os homens somavam 11,3% (IBGE, 2014). Nesse sentido, é impossível negar os avan- ços que as mulheres tiveram do ponto de vista da inserção no mercado de trabalho e redução das desigualdades de gênero. En- quanto na década de 1960 estavam desig- nadas principalmente para o trabalho do- Unidade 3 • Mudanças demográficas e sociais80/237 méstico, atualmente são parte importante da população com ocupação formal. Porém, a introdução das mulheres no mercado de trabalho não implica necessariamente um processo natural que promove uma alte- ração de papéis na sociedade e, embora tenham sido observados estes importan- tes avanços, os dados demonstram que as mulheres ainda estão longe de um estágio de igualdade em relação aos homens. A de- sigualdade é especialmente verificada no tipo de postos de trabalhos ocupados pelas mulheres e, aliado a isso, na desigualdade de remuneração entre homens e mulheres. Os dados dos censos demográficos de- monstram que as mulheres brasileiras ainda ocupam postos de trabalho menos formais que os homens, ou seja, proporcionalmen- te estão mais alocadas em ocupações sem carteira assinada. No ano de 2000, 32,7% das mulheres com alguma ocupação pos- suíam empregos com carteira de trabalho assinada, enquanto 36,5% dos trabalha- dores homens eram ocupados formalmen- te nesse período. Em 2010, esses números aumentaram para ambos os gêneros, com 39,8% das mulheres e 46,5% dos homens ocupados em trabalhos com carteira assi- nada (IBGE, 2014). No mesmo sentido, a desigualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho se observa também nos rendimentos. Ape- sar de serem mais escolarizadas, as mulhe- res brasileiras ganham 74% do rendimento médio dos homens (IBGE, 2015). Essa desi- gualdade verifica-se também em diversos Unidade 3 • Mudanças demográficas e sociais81/237 tipos de atividades, como se pode observar na Tabela 1. Percebe-se que as mulheres têm rendi- mentos médios inferiores aos dos homens inclusive nas áreas onde são maioria expressiva, como educação, na qual as mulheres são 83%, mas recebem apenas 71,2% do rendimento médio dos homens. O mesmo se verifica em outras áreas como humanidades e artes, ou saúde e bem-estar social. Em serviços as mulheres são maioria e recebem pouco mais da metade em relação aos homens. Tabela 1 - Razão do rendimento das mulheres em relação ao dos homens e proporção de mu- lheres, segundo as áreas gerais de formação da população – Brasil, 2010 Áreas gerais de formação da população com mais de 25 anos de idade Proporção dos rendimentos das mu- lheres em relação ao dos homens (%) Proporção de mu- lheres na área (%) Educação 71,2 83,0 Humanidades e artes 78,5 74,2 Ciências sociais, negócios e direito 66,3 49,4 Ciências, matemática e computação 65,4 47,0 Engenharia, produção e construção 66,4 21,9 Agricultura e veterinária 62,5 27,4 Saúde e bem-estar social 55,6 68,1 Serviços 53,2 54,8 Fonte: Adaptado de IBGE, 2014, p. 107. Unidade 3 • Mudanças demográficas e sociais82/237 As desigualdades de gênero também se ve- rificam no fato de que as mulheres, apesar de serem maioria na população, ocupam menos cargos de chefia em relação aos ho- mens, estão pouco representadas nos car- gos políticos do executivo e legislativo, e também são minoria no judiciário brasileiro. Segundo estudo da consultoria britânica PwC, estima-se que a redução da desigual- dade de remuneração entre homens em mulheres poderia gerar um aumento de 2 trilhões de dólares no Produto Interno Bruto (PIB) dos países membros da OCDE. Sem dú- vida, uma inserção inclusiva das mulheres no mercado de trabalho é um dos desafios e megatendências para as próximas décadas, existindo uma grande margem para que a inclusão igualitária das mulheres no mer- cado de trabalho possa gerar um aumento de renda para a população em geral (PwC, 2017). Para saber mais Para saber mais sobre mulheres em cargos de che- fia, ver: ALMEIDA, C. Mulheres estão em apenas 37% dos cargos de chefia nas empresas. O Globo, Março de 2017. Disponível em: <https://oglobo. globo.com/economia/mulheres-estao-em- -apenas-37-dos-cargos-de-chefia-nas-em- presas-21013908>. Acesso em: 20 set. 2017. https://oglobo.globo.com/economia/mulheres-estao-em-apenas-37-dos-cargos-de-chefia-nas-empresas-21013908 https://oglobo.globo.com/economia/mulheres-estao-em-apenas-37-dos-cargos-de-chefia-nas-empresas-21013908 https://oglobo.globo.com/economia/mulheres-estao-em-apenas-37-dos-cargos-de-chefia-nas-empresas-21013908 https://oglobo.globo.com/economia/mulheres-estao-em-apenas-37-dos-cargos-de-chefia-nas-empresas-21013908 Unidade 3 • Mudanças demográficas e sociais83/237 3. Desafios do Envelhecimento da População Os fatores responsáveis pelo envelheci- mento da população, a redução da fecun- didade e da mortalidade, podem ser vistos como conquistas, pois refletem uma melho- ra na qualidade de vida da população, assim como avanços tecnológicos em saúde e o acesso da população à saúde. Esse avanço na expectativa de vida tem, entretanto, im- portantes implicações para a dinâmica eco- nômica e organização social. Uma popula- ção que está envelhecendo necessita de um sistema de saúde e seguridade social mais amplo, o que é um desafio. No caso do Brasil, a proporção de pessoas com mais de 60 anos, em 1940, compunha 4% da população; em 2010, eram 11%. A projeção é que esse grupo de pessoas cor- responda a 28% da população brasileira em 2040 (CAMARANO; KANSO, 2009). Um grande desafio é que uma população que envelhece em virtude da baixa taxa de fe- cundidade e do aumento da expectativa de vida, consequentemente terá menos traba- lhadores em idade de trabalho. Para saber mais Para saber mais sobre a trajetória da desigualda- de das mulheres, veja o vídeo: USP. 1960-2010: Mulheres cada vez mais iguais. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=xOg- VXKoK1A0>. Acesso em: 28 jul. 2017. https://www.youtube.com/watch?v=xOgVXKoK1A0 https://www.youtube.com/watch?v=xOgVXKoK1A0 Unidade 3 • Mudanças demográficas e sociais84/237 Figura 4: Projeção da População (1980- 2050) Fonte: IBGE (2017) Segundo estudos do Banco Mundial, a população brasileira está envelhecendo a uma velocidade superior à que foi observada nos países desenvolvidos durante o século XX. A população idosa em idade ativa que, em 2005, correspondia a 11% da população, em 2050, será 49%. Ao mesmo Unidade 3 • Mudanças demográficas e sociais85/237 tempo, a população em idade escolar diminuirá de 50% para 29% no mesmo período, ou seja, a pressão nos gastos governamentais em saúde e previdência aumentará, mas será diminuída no sistema educacional. Dessa forma, a diminuição do tamanho da população escolar é uma opor- tunidade para se elevar o investimento por aluno a níveis mais próximos dos países da OCDE, sem aumentar a pressão fiscal sobre esses gastos (BIRD, 2011). As transferências públicas no Brasil foram eficazes para reduzir a pobreza entre os idosos. Em particular, o sistema previdenciário cobre a maioria da população mais velha e oferece proteção para os segmentos mais pobres da sociedade. Da mesma forma, os programas sociais têm contribuído para a redução da pobreza e da desigualdade, principalmente nas áreas rurais. (BIRD, 2011,