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Grécia Período Arcaico: Esparta e Atenas A pólis de esparta Esparta ficava na região da Lacônia, na península do Peloponeso, em um terreno fértil que era uma exceção no conjunto geográfico grego. Fun- dada no século IX a.C. pelos dórios, que logo submeteram os primeiros habitantes da região, a sociedade espartana teve um desenvolvimento semelhante ao das demais pólis gregas pelo menos até o século VII a.C. As difi culdades econômicas pelas quais passaram as demais cidades-Esta- do na Grécia foram menos acentuadas em Esparta, que, diferentemente daquelas, não conheceu uma grande escassez agrícola combinada com o crescimento da população. A sociedade espartana era formada por: • espartanos: principal grupo social e elite militar, composto pelos de- scendentes dos conquistadores dórios; detentores do poder econômico, concentravam também o poder político e religioso, marginalizando as demais categorias sociais e utilizando a força militar para manter seus privilégios; • periecos: habitantes da periferia da pólis, eram pequenos proprietários que se dedicavam às atividades rejeitadas pelos espartanos, como o ar- tesanato e o comércio em pequena escala; • hilotas: servos que eram propriedade da cidade--Estado; descendiam dos primitivos habitantes da Lacônia dominados pelos dórios; sem dire- itos políticos, seu trabalho era explorado pelos espartanos. A legislação espartana teria sido criada por Licurgo, personagem lendário, e se baseava no monopólio político dos cidadãos-guerreiros, os espartanos, e na marginalização dos demais. Como as demais cidades-Es- tado gregas, Esparta evoluiu, do ponto de vista político, para um siste- ma oligárquico, encabeçado pela Apela (a assembleia de guerreiros) e a Gerúsia (conselho de anciãos, formado por membros das famílias mais ricas, que exercia funções legislativas). Diferentemente de outras pólis gregas que também tinham instituições oligárquicas, Esparta não pas- sou pelas transformações econômicas (expansão do comércio, criação de novas cidades ao redor do Mediterrâneo que mantinham laços com- erciais e religiosos com a pólis de origem) e sociais (ascensão de comerciantes enriquecidos e empobrecimento dos pequenos proprietários) ocorridas nas demais cidades-Estado. Essas transformações foram responsáveis pelas dispu- tas sociopolíticas e favoreceram a introdução da democracia em outras pólis. A sociedade espartana, menos dinâmica que as demais, permaneceria, assim, oligárquica e aristocrática. Outra peculiaridade espartana residia no fato de as terras e a mão de obra – representada pelos hilotas – pertencerem ao Estado, monopolizado pelos es- partanos. As áreas mais férteis ficavam no centro da pólis; a exploração de áreas mais pobres e montanhosas, em regiões periféricas, cabia aos periecos. Numericamente inferiores aos hilotas, os espartanos passaram cada vez mais a se militarizar, como forma de manter a ordem vigente. A educação espartana, que estava sob a responsabilidade do Estado, enfatizava o aspecto militar, ex- igindo obediência e aptidão física. Crianças que nascessem com alguma defi- ciência física eram sacrificadas ao nascer, pois no futuro não poderiam servir ao Estado. Meninos saudáveis, por sua vez, eram separados da família aos 7 anos de idade e entregues ao Estado para receber formação militar. Aos 18 anos es- tavam prontos para ingressar no exército como hoplitas, soldados de infantaria armados de lanças e escudos e que envergavam pesadas armaduras. Aos 30 anos podiam casar-se e participar da vida política. Somente aos 60 deixavam de ter obrigações militares, e então poderiam ser eleitos para a Gerúsia. Apesar de seu tradicional isolamento, Esparta acabou por buscar sua expansão já no Período Clássico (V a.C.-IV a.C.), levada por pressões externas, ameaças es- trangeiras e o desejo de se transformar em uma potência hegemônica. A pólis de Atenas Atenas, situada na região da Ática, sul da Grécia, tinha no porto de Pireu um centro irradiador para sua expansão. Ocupada inicialmente pelos aqueus, seguidos pelos eólios e pelos jônios, a Ática estava organizada em comuni- dades gentílicas. A unificação dessas comunidades em tribos, perto do século X a.C., impulsionou a formação de uma sociedade de classes em torno do centro político-militar-religioso representado pela Acrópole ateniense. Durante muito tempo, Atenas manteve um regime monárquico, até que o últi- mo basileu foi derrubado pela aristocracia proprietária de terras, a qual estabe- leceu um regime oligárquico fundado no arcontado, órgão do poder formado por indivíduos com mandatos anuais e funções religiosas, jurídicas e militares. Havia ainda o areópago, conselho de eupátridas (os já citados “bem-nascidos”), responsáveis pelo controle e pela fiscalização dos arcontes. A escassez de ter- ras férteis, bem como os interesses comerciais, fizeram com que os atenienses, assim como os gregos de outras cidades-Estado, se voltassem para o Mediter- râneo, com o objetivo de fundar comunidades comerciais ou de povoamento (Segunda Diáspora Grega). Entre os séculos VIII a.C. e VI a.C. os atenienses se es- tabeleceram especialmente no sul da península Itálica e no litoral do mar Negro, além de progressivamente dominarem toda a Ática. A expansão pelo Mediterrâneo provocou profundas alterações na estrutura econômica e social ateniense. Atenas praticava um vasto comércio com outras cidades-Estado, buscando nelas excedentes agrícolas (em especial trigo), me- tais e madeira, e vendendo-lhes produtos já beneficiados (vinho, azeite e peças de artesanato). Pequenos proprietários, os georgoi, incapazes de concorrer com o trigo barato que vinha dessas cidades e de oferecer produtos melhores, aca- baram perdendo suas terras. Muitas vezes, diante da impossibilidade de pagar as dívidas que acabavam fazendo, eram escravizados. Enquanto a tensão social crescia em Atenas, ameaçando a estabilidade do re- gime oligárquico, surgia uma categoria de homens enriquecidos pelo comércio que, por causa do crescente poder originado da ascensão econômica, começar- am a questionar o monopólio político dos eupátridas. A chegada de grande número de escravos – trazidos quase sempre como prisioneiros de guerra – con- solidou uma economia fundada na exploração do trabalho escravo e aumentou as tensões sociais já existentes, tornando impossível a manutenção do poder nas mãos de um único grupo social. Diante desse quadro de instabilidade, vári- os legisladores atenienses fizeram propostas para superar os conflitos e atenuar as tensões sociais. Os mais importantes foram: • Drácon – organizou e tornou público um registro escrito das leis, que até en- tão se baseavam na tradição oral e eram conhecidas apenas pelos eupátridas; apesar de significar um avanço, os privilégios dos eupátridas continuaram inal- terados e a insatisfação social, crescente. • Sólon – eliminou a escravidão por dívidas, libertando todos aqueles que hav- iam se tornado escravos por esse motivo; dividiu a sociedade de forma censitária, ou seja, de acordo com a renda de cada indivíduo, possibilitando a ascensão dos demiurgos (trabalhadores livres, como artesãos, comerciantes, magistra- dos); criou a bulé, conselho formado por quatrocentos membros com funções administrativas e legislativas. As leis criadas pela bulé eram submetidas à eclésia, assembleia popular aberta a todos os cidadãos: homens livres com mais de 18 anos. As reformas propostas por Sólon desagradaram a elite eupátrida, intensificando as lutas sociais e inau- gurando um período de agitação política que atingiu seu ponto máximo com o advento de sucessivas tiranias. Em 510 a.C., o estadista ateniense Clístenes (c. 570 a.C.-508 a.C.) liderou uma re- belião contra o último tirano, derrubando-o e iniciando reformas que culminar- am na implantação da democracia e na pacificação da pólis. Clístenes dividiu os cidadãos da Ática em dez tribos, formadas de acordo com o território que hab- itavam e não pela riqueza. A bulépassou a ter quinhentos membros, cinquenta por tribo, sendo presidida de forma sucessiva, com períodos iguais de tempo ao longo do ano, por membros de cada uma das tribos. A eclésia, assembleia popu- lar, teve seu poder ampliado, dedicando-se a discutir e votar as leis. Finalmente, Clístenes criou o ostracismo, mecanismo de defesa da democracia: tratava-se da condenação ao exílio, por dez anos, de todo aquele que fosse considerado uma ameaça à democracia. O exilado, todavia, não perdia suas propriedades. Para a tomada de decisões importantes, como o ostracismo, exigia-se que o número de votantes na eclésia fosse de pelo menos 6 mil cidadãos. As reformas de Clístenes encerraram o Período Ar- caico ateniense e deram início ao Período Clássico (V a.C.-IV a.C.). Durante o século V a.C., as dezenas de pólis gregas uniram-se militarmente pela primeira vez para enfrentar um inimigo comum, os persas, que ameaça- vam suas fronteiras orientais. Em Esparta, as mulheres tinham uma vida mais ativa que em Atenas, onde per- maneciam em casa, não tinham direitos políticos e deviam obediência ao pai e ao marido: [...] o tratamento dispensado à mulher grega encontra- se diferencia- do, a mulher ateniense aparece descrita nos relatos antigos reclusa em suas ca- sas – o oikos, enquanto a mulher espartana exercita-se em público com vestes curtas. De acordo com os relatos dos antigos, a mulher espartana era livre para circular na cidade e recebia a educação estatal destinada a atender às necessi- dades do seu meio social. Essa mulher desempenhava a relevante função so- cial de gerar filhos robustos e corajosos, ao passo que a mulher ateniense man- tinha-se confinada em sua casa, aprendendo com as mulheres mais próximas, em geral a mãe, como administrar o lar e desenvolver as atividades domésti- cas, tais como tecer, fabricar utensílios de cerâmica e cuidar dos filhos. Contu- do, esses modelos sustentados pelos antigos encontram-se incompletos, o que dificulta nossa interpretação da história da mulher grega no mundo antigo. O século IV a.C., período do qual dispomos de maior informação sobre a mulher espartana, representou uma fase de transição entre a prosperidade do século V e a decadência do sistema políade no terceiro século antes de Cristo. Os escritos de Platão remetem à necessidade de inclusão da mulher no funcionamento da pólis. Para o filósofo, a mulher deve receber a mesma educação ministrada ao homem, qual seja, o ensino da música, ginástica e também da guerra (Repúbli- ca, 452a). A cidade idealizada por Platão responsabiliza a mulher pelo funciona- mento da pólis, e ainda garante ao sexo feminino a igualdade de condições na organização social, política e econômica da cidade-Estado. As ideias de Platão sobre o aproveitamento do potencial feminino demonstram a preocupação do filósofo em manter a independência da pólis, principalmente com relação aos que exigiam grandes quantias por seus serviços na defesa da cidade.
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