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Revista do Tribunal Superior do Trabalho TST 80-04.indb 1 29/12/2014 10:45:18 TST 80-04.indb 2 29/12/2014 10:45:18 PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO Revista do Tribunal Superior do Trabalho Ministro Antonio José de Barros Levenhagen Presidente Ministro Ives Gandra da Silva Martins Filho Vice-Presidente Ministro João Batista Brito Pereira Corregedor-Geral da Justiça do Trabalho Ministra Maria de Assis Calsing (presidente) Ministro Guilherme Augusto Caputo Bastos Ministro Augusto César Leite de Carvalho Ministro Márcio Eurico Vitral Amaro (suplente) Comissão de Documentação Ano 80 – nº 4 – out. a dez. – 2014 Rua da Consolação, 77 – 9º andar – CEP 01301-000 – São Paulo-SP comercial@lex.com.br – www.lex.com.br TST 80-04.indb 3 29/12/2014 10:45:18 Coordenação: Comissão de Documentação Organização e Supervisão: Virgínia Ramos Veríssimo Revisão: José Geraldo Pereira Baião Capa: Ivan Salles de Rezende (sobre foto de Marta Crisóstomo) Editoração Eletrônica: Editora Magister Tiragem: 700 exemplares Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do Tri- bunal Superior do Trabalho. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate sobre questões jurídicas relevantes para a sociedade brasileira e de refletir as várias tendências do pensamento jurídico contemporâneo. Instruções para submissão de artigo encontram-se no link “Revista do TST” na página www.tst.jus.br. Tribunal Superior do Trabalho Setor de Administração Federal Sul Quadra 8, lote 1, bloco “B”, mezanino 70070-600 – Brasília – DF Fone: (61) 3043-3056 E-mail: revista@tst.jus.br Internet: www.tst.jus.br Lex Editora S.A. Rua da Consolação, 77 – 9º andar 01301-000 – São Paulo-SP Fone: (11) 2126-9000 Assinaturas: comercial@lex.com.br www.lex.com.br Revista do Tribunal Superior do Trabalho / Tribunal Superior do Trabalho. – Vol. 21, n. 1 (set./dez. 1946) – Rio de Janeiro : Imprensa Nacional, 1947-. v. Trimestral. Irregular, 1946-1968; suspensa, 1996-1998; trimestral, out. 1999-jun. 2002; semestral, jul. 2002-dez. 2004; quadrimestral, maio 2005-dez. 2006. Continuação de: Revista do Conselho Nacional do Trabalho, 1925-1940 (maio/ago.). Coordenada pelo: Serviço de Jurisprudência e Revista, 1977-1993; pela: Comissão de Documentação, 1994-. Editores: 1946-1947, Imprensa Nacional; 1948-1974, Tribunal Superior do Trabalho; 1975-1995, LTr; out. 1999-mar. 2007, Síntese; abr. 2007- jun. 2010, Magister; jul. 2010- , Lex. ISSN 0103-7978 1. Direito do Trabalho. 2. Processo Trabalhista. 3. Justiça do Trabalho – Brasil. 4. Jurisprudência Trabalhista – Brasil. I. Brasil. Tribunal Superior do Trabalho. CDU 347.998.72(81)(05) ISSN 0103-7978 TST 80-04.indb 4 29/12/2014 10:45:18 Composição do Tribunal Superior do Trabalho TST 80-04.indb 5 29/12/2014 10:45:18 TST 80-04.indb 6 29/12/2014 10:45:18 Tribunal Pleno Ministro Antonio José de Barros Levenhagen, Presidente do Tribunal Ministro Ives Gandra da Silva Martins Filho, Vice-Presidente do Tribunal Ministro João Batista Brito Pereira, Corregedor-Geral da Justiça do Trabalho Ministro João Oreste Dalazen Ministra Maria Cristina Irigoyen Peduzzi Ministro Renato de Lacerda Paiva Ministro Emmanoel Pereira Ministro Lelio Bentes Corrêa Ministro Aloysio Silva Corrêa da Veiga Ministro Luiz Philippe Vieira de Mello Filho Ministro Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira Ministra Maria de Assis Calsing Ministra Dora Maria da Costa Ministro Fernando Eizo Ono Ministro Guilherme Augusto Caputo Bastos Ministro Márcio Eurico Vitral Amaro Ministro Walmir Oliveira da Costa Ministro Mauricio Godinho Delgado Ministra Kátia Magalhães Arruda Ministro Augusto César Leite de Carvalho Ministro José Roberto Freire Pimenta Ministra Delaíde Alves Miranda Arantes Ministro Hugo Carlos Scheuermann Ministro Alexandre de Souza Agra Belmonte Ministro Cláudio Mascarenhas Brandão Ministro Douglas Alencar Rodrigues Órgão Especial Ministro Antonio José de Barros Levenhagen, Presidente do Tribunal Ministro Ives Gandra da Silva Martins Filho, Vice-Presidente do Tribunal Ministro João Batista Brito Pereira, Corregedor-Geral da Justiça do Trabalho Ministro João Oreste Dalazen Ministra Maria Cristina Irigoyen Peduzzi Ministro Renato de Lacerda Paiva TST 80-04.indb 7 29/12/2014 10:45:18 Ministro Emmanoel Pereira Ministro Guilherme Augusto Caputo Bastos Ministro Walmir Oliveira da Costa Ministro Mauricio Godinho Delgado Ministro Augusto César Leite de Carvalho Ministra Delaíde Alves Miranda Arantes Ministro Hugo Carlos Scheuermann Ministro Alexandre de Souza Agra Belmonte Seção Especializada em Dissídios Coletivos Ministro Antonio José de Barros Levenhagen, Presidente do Tribunal Ministro Ives Gandra da Silva Martins Filho, Vice-Presidente do Tribunal Ministro João Batista Brito Pereira, Corregedor-Geral da Justiça do Trabalho Ministra Maria de Assis Calsing Ministra Dora Maria da Costa Ministro Fernando Eizo Ono Ministro Walmir Oliveira da Costa Ministro Mauricio Godinho Delgado Ministra Kátia Magalhães Arruda Subseção I da Seção Especializada em Dissídios Individuais Ministro Antonio José de Barros Levenhagen, Presidente do Tribunal Ministro Ives Gandra da Silva Martins Filho, Vice-Presidente do Tribunal Ministro João Batista Brito Pereira, Corregedor-Geral da Justiça do Trabalho Ministro João Oreste Dalazen Ministro Renato de Lacerda Paiva Ministro Lelio Bentes Corrêa Ministro Aloysio Silva Corrêa da Veiga Ministro Luiz Philippe Vieira de Mello Filho Ministro Guilherme Augusto Caputo Bastos Ministro Márcio Eurico Vitral Amaro Ministro Augusto César Leite de Carvalho Ministro José Roberto Freire Pimenta Ministro Hugo Carlos Scheuermann Ministro Alexandre de Souza Agra Belmonte TST 80-04.indb 8 29/12/2014 10:45:18 Subseção II da Seção Especializada em Dissídios Individuais Ministro Antonio José de Barros Levenhagen, Presidente do Tribunal Ministro Ives Gandra da Silva Martins Filho, Vice-Presidente do Tribunal Ministro João Batista Brito Pereira, Corregedor-Geral da Justiça do Trabalho Ministra Maria Cristina Irigoyen Peduzzi (Afastada temporariamente da jurisdição – Membro do CNJ) Ministro Emmanoel Pereira Ministro Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira Ministra Delaíde Alves Miranda Arantes Ministro Cláudio Mascarenhas Brandão Ministro Douglas Alencar Rodrigues Primeira Turma Ministro Lelio Bentes Corrêa, Presidente Ministro Walmir Oliveira da Costa Ministro Hugo Carlos Scheuermann Segunda Turma Ministro Renato de Lacerda Paiva, Presidente Ministro José Roberto Freire Pimenta Ministra Delaíde Alves Miranda Arantes Terceira Turma Ministro Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, Presidente Ministro Mauricio Godinho Delgado Ministro Alexandre de Souza Agra Belmonte Quarta Turma Ministro João Oreste Dalazen, Presidente Ministra Maria de Assis Calsing Ministro Fernando Eizo Ono TST 80-04.indb 9 29/12/2014 10:45:18 Quinta Turma Ministro Emmanoel Pereira, Presidente Ministro Guilherme Augusto Caputo Bastos Desembargador Marcelo Lamego Pertence (Convocado) Sexta Turma Ministro Aloysio Silva Corrêa da Veiga, Presidente Ministra Kátia Magalhães Arruda Ministro Augusto César Leite de Carvalho Sétima Turma Ministro Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, Presidente Ministro Cláudio Mascarenhas Brandão Ministro Douglas Alencar Rodrigues Oitava Turma Ministra Maria Cristina Irigoyen Peduzzi (Afastada temporariamente da jurisdição – Membro do CNJ) Ministro Márcio Eurico Vitral Amaro, Presidente Ministra Dora Maria da Costa Desembargador João Pedro Silvestrin (Convocado) TST 80-04.indb 10 29/12/2014 10:45:18 Ministros do Tribunal Superior do Trabalho JOÃO ORESTE DALAZEN BARROS LEVENHAGEN Presidente BRITO PEREIRA Corregedor-Geral MAURICIO GODINHO DELGADO WALMIR OLIVEIRA DA COSTA MÁRCIO EURICO VITRAL AMARO GUILHERME CAPUTO BASTOS FERNANDO EIZO ONODORA COSTA ALBERTO BRESCIANIVIEIRA DEMELLO FILHO EMMANOEL PEREIRA LELIO BENTES ALOYSIO VEIGA RENATO PAIVA IVES GANDRA FILHO Vice-Presidente AUGUSTO CÉSAR LEITE DE CARVALHO KÁTIA MAGALHÃES ARRUDA CRISTINA PEDUZZI MARIA DE ASSIS CALSING JOSÉ ROBERTO FREIRE PIMENTA DELAÍDE ALVES MIRANDA ARANTES HUGO CARLOS SCHEUERMANN ALEXANDRE AGRA BELMONTE CLÁUDIO MASCARENHAS BRANDÃO DOUGLAS ALENCAR TST 80-04.indb 11 29/12/2014 10:45:19 TST 80-04.indb 12 29/12/2014 10:45:19 Sumário DOUTRINAS 1. O novo sistema recursal trabalhista (Lei nº 13.015/2014): influências do projeto do novo CPC ...........................................................................................17 Alexandre Agra Belmonte 2. O defeito formal nos recursos de revista e de embargos: possibilidade de correção ...............................................................................................................41 Claudio Mascarenhas Brandão 3. Reflexões sobre a Lei nº 13.015/2014 .................................................................74 Estêvão Mallet 4. A Lei nº 13.015/2014 como introdutora dos julgamentos de recursos repetitivos e da teoria dos precedentes no processo trabalhista ........................112 Firmino Alves Lima 5. Reforma no processo trabalhista brasileiro em direção aos precedentes obrigatórios: a Lei nº 13.015/2014 ....................................................................143 Fredie Didier Jr. e Lucas Buril de Macêdo 6. Lei nº 13.015/2014: nova sistemática recursal trabalhista em face do novo Código de Processo Civil ..................................................................................168 Gustavo Filipe Barbosa Garcia 7. O recurso de revista e a Lei nº 13.015/2014 .....................................................196 Ives Gandra da Silva Martins Filho 8. Apontamentos sobre a Lei nº 13.015/2014 e impactos no sistema recursal trabalhista ..........................................................................................................204 João Oreste Dalazen 9. O novo Processo Civil .......................................................................................264 Luiz Fux 10. Cultura e previsibilidade do direito ...................................................................291 Luiz Guilherme Marinoni 11. Perlustrações à Lei nº 13.015/2014: com destaque para o incidente de recursos de revista repetitivos ...........................................................................311 Manoel Antonio Teixeira Filho TST 80-04.indb 13 29/12/2014 10:45:19 12. Os recursos de embargos no TST sob a égide da Lei nº 13.015/2014: a influência do novo CPC e o princípio da segurança jurídica dinâmica ..........349 Marcos Ulhoa Dani 13. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica no novo Código de Processo Civil e uma possível implicação de ordem prática no processo do trabalho .........................................................................................................369 Reis Friede TST 80-04.indb 14 29/12/2014 10:45:19 Doutrina TST 80-04.indb 15 29/12/2014 10:45:19 TST 80-04.indb 16 29/12/2014 10:45:19 Rev. TST, Brasília, vol. 80, no 4, out/dez 2014 17 * Ministro do Tribunal Superior do Trabalho; doutor em Justiça e Sociedade; mestre em Direito das Relações Sociais; especialista em Direito Privado Aprofundado; professor de mestrado da UNIPAC; coordenador da FGV na área trabalhista do Exame da OAB; membro das Academias Brasileira de Direito do Trabalho e Nacional de Direito Desportivo e do Instituto de Direito Social Cesarino Junior. O NOVO SISTEMA RECURSAL TRABALHISTA (LEI Nº 13.015/2014): INFLUÊNCIAS DO PROJETO DO NOVO CPC Alexandre Agra Belmonte* 1 – INTRODUÇÃO OTribunal Superior do Trabalho tem por função precípua uniformizar a aplicação e interpretação do direito objetivo em todo o território nacional. Assim, nos dissídios individuais os recursos contra as suas decisões e dos Tribunais Regionais não têm por objeto a discussão da justiça ou injustiça das decisões, muito menos a revisão dos fatos e provas que lhe serviram de embasamento. A sua admissão é restrita e, portanto, extraordinária, visando a verificação da conformidade das referidas decisões com a dicção do direito objetivo. Como corolário, o cabimento dos recursos de revista contra as deci- sões proferidas pelos Tribunais Regionais está condicionado à existência de ofensas à literalidade da lei federal ou da norma constitucional (art. 896, c, da CLT), de divergências entre Regionais na interpretação da lei federal, estadual, norma coletiva ou regulamento empresarial de abrangência ultrarregional, de divergência entre a decisão Regional e a da Seção de Dissídios Individuais do TST sobre a mesma matéria, ou, ainda, entre a decisão regional e súmula da jurisprudência uniforme do TST ou súmula vinculante do STF (art. 896, a e b). Nessa mesma linha, o cabimento de recurso interno de embargos está condicionado à existência de divergência entre decisões de Turmas do TST, para unificação da interpretação a ser dada ao tema questionado, ou de divergência entre decisão de Turma e súmula ou orientação jurisprudencial do Tribunal TST 80-04.indb 17 29/12/2014 10:45:19 D O U T R I N A 18 Rev. TST, Brasília, vol. 80, no 4, out/dez 2014 Superior do Trabalho, ou súmula vinculante do Supremo Tribunal Federal, quando contrariadas (art. 894, II). Portanto, o recurso de revista tem por fim a unificação e controle da jurisprudência dos Tribunais Regionais em relação ao Tribunal Superior do Trabalho, e o recurso de embargos tem por escopo a unificação e controle dessa jurisprudência dentro do próprio TST. Nos termos do art. 160 do Regimento Interno do TST, para efeito de uni- formização da jurisprudência no exame dos recursos de revista e de embargos fundados em divergência de interpretação da lei, norma coletiva ou regulamento empresarial, a jurisprudência predominante do Tribunal Superior do Trabalho será consubstanciada em súmula, pacificando assim os temas, na busca de uma só diretriz em todo o território nacional. Súmulas são, portanto, os verbetes que, atendidos os requisitos para a respectiva edição, resumem a jurisprudência majoritária e consolidada dos Tribunais, na interpretação e aplicação do direito aos casos concretos que envolvem um mesmo tema. Diferentemente das súmulas, destinadas a revelar a uniformização da jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho, as orientações jurisprudenciais expressam a iterativa e notória jurisprudência das Subseções Especializadas em Dissídios Individuais. Essa jurisprudência é a prevalecente nas respecti- vas Subseções, como decorrência dos debates por elas examinados. Podem anteceder as súmulas, porque três acórdãos unânimes ou cinco acórdãos por maioria simples da Subseção Especializada em Dissídios Individuais, desde que presentes aos julgamentos pelos menos 2/3 dos membros efetivos do órgão, servem de pressuposto para o projeto de edição de súmula (art. 165 do RITST). Logo, as orientações jurisprudenciais muitas vezes funcionam como simples antecedentes sobre interpretação de tese sobre tema ainda não abor- dado em súmula e outras vezes como aspectos ou nuances relativos a temas já interpretados pelo TST, contidos nas súmulas. De acordo com a Súmula nº 333 do TST, “não ensejam recurso de revista decisões superadas por iterativa, notória e atual jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho”. No mesmo sentido, o § 3º do art. 894, o inciso II do § 1º-A e o § 7º do art. 896, da CLT. Outrossim, conforme art. 557, caput, do CPC, “o relator negará segui- mento a recurso manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado ou em confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior”, dispondo o TST 80-04.indb 18 29/12/2014 10:45:19 D O U T R I N A Rev. TST, Brasília, vol. 80, no 4, out/dez 2014 19 § 1º-A que,“se a decisão recorrida estiver em manifesto confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior, o relator poderá dar provimento ao recurso”. Tem-se, portanto, que se jurisprudência é o conjunto de decisões continu- adas e reiteradas sobre um mesmo tema, os precedentes que levam à uniformiza- ção interpretativa ensejam a consolidação dos temas pacificados em súmulas do TST e orientações jurisprudenciais das Subseções Especializadas em Dissídios Individuais. E essas súmulas e orientações jurisprudenciais uniformizadoras da jurisprudência e concretizadoras do papel constitucional do Tribunal Superior do Trabalho passam a servir não apenas de norte interpretativo em relação aos temas por elas examinados como também de parâmetro para o conhecimento dos recursos de revista e de embargos, que buscam exatamente a uniformização da jurisprudência, atribuindo, assim, celeridade aos processos, para a rejeição ou acolhimento dos recursos contra decisões que as contrariem. Tudo considerado, tem-se que a Lei nº 13.015/2014 teve como uma de suas finalidades reforçar o papel uniformizador dos recursos de revista e de embargos para a SDI, além de esclarecer questões que se encontravam em aberto, relacionadas aos embargos de declaração, ao agravo de instrumento, ao recurso de revista nas execuções fiscais e à flexibilização do conhecimento do recurso de revista na hipótese de defeito formal não reputado grave. Contudo, seria inócuo transferir unicamente para o TST esse papel uniformizador nacional das decisões dos Regionais, sem que eles próprios concretizassem a uniformização no âmbito regional. Daí a Lei nº 13.015/2014 ter se dedicado à concretização da uniformização jurisprudencial regional, para lhes dar unidade decisória e propiciar o conhecimento dos recursos que contrariarem a jurisprudência nacionalmente pacificada, para o necessário ajuste ou a inadmissibilidade daqueles que estiverem em consonância com essa jurisprudência. Outrossim, em nome da segurança das relações jurídicas na aplicação e interpretação do direito objetivo, para evitar-se o risco de decisões conflitantes sobre um mesmo tema ou o exame isolado e multiplicado de temas iguais, a Lei nº 13.015/2014 buscou regular os recursos repetitivos, igualmente visan- do a uniformização jurisprudencial na hipótese de multiplicidade de recursos fundados em idêntica questão de direito, uma vez verificada a existência de entendimentos divergentes entre os Ministros da Subseção de Dissídios Indi- viduais ou das Turmas do Tribunal Superior do Trabalho a respeito da matéria. TST 80-04.indb 19 29/12/2014 10:45:19 D O U T R I N A 20 Rev. TST, Brasília, vol. 80, no 4, out/dez 2014 Finalmente, verifica-se que a novel lei instituiu o incidente de relevância de matéria, de competência do Tribunal Pleno, cabível ainda que não se trate de recurso repetitivo (§ 13 do art. 896 da CLT). Este artigo tem por fim investigar a nova disciplina dos recursos tra- balhistas no Tribunal Superior do Trabalho e sua repercussão nos Tribunais Regionais e juízos singulares. 2 – INFLUÊNCIAS DO PROJETO DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL NO NOVO SISTEMA RECURSAL TRABALHISTA O Projeto do novo CPC demonstra a preocupação com a uniformidade das decisões judiciais, bem como com a observância da disciplina judiciária, em nome da unidade do Poder Judiciário, da celeridade, da estabilidade e da segurança jurídica. Com efeito, ele inaugura o Livro IV (Do Processo nos Tribunais e dos Meios de Impugnação das Decisões Judiciais), Título I (Do Processo nos Tri- bunais), Capítulo I (Disposições Gerais), determinando, no art. 881, I a V, que os Tribunais velarão pela uniformização e pela estabilidade da jurisprudência, pela edição de enunciados das súmulas da jurisprudência dominante, pela dis- ciplina dos órgãos fracionários e dos juízes singulares em relação à orientação do plenário, do órgão especial, dos órgãos fracionários superiores aos quais estiverem vinculados e à jurisprudência pacificada dos Tribunais Superiores e do Supremo Tribunal Federal. O Projeto também prevê a modulação de efeitos da alteração da jurispru- dência do STF, dos Tribunais Superiores e da oriunda do julgamento dos casos repetitivos, pelo impacto social, econômico e jurídico que podem provocar (§ 1º do art. 882). A Lei nº 13.015/2014, editada sob a égide do atual CPC, estatui que as normas relativas ao julgamento dos recursos extraordinário e especial repetitivos são aplicáveis ao recurso de revista, no que couber (art. 2º). Todavia, os dispositivos da nova lei, incluindo a disciplina dos recursos repetitivos, são orientados pelos mesmos princípios que informam o sistema recursal do Projeto do novo Código de Processo Civil: da uniformidade, da disciplina judiciária e da modulação dos efeitos da decisão em virtude da alte- ração da jurisprudência, em nome da celeridade, da unidade do Poder Judiciário e estabilidade e segurança jurídica, razão pela qual a nova lei se antecipou e está perfeitamente adaptada às diretrizes da legislação que está por vir e que é TST 80-04.indb 20 29/12/2014 10:45:20 D O U T R I N A Rev. TST, Brasília, vol. 80, no 4, out/dez 2014 21 subsidiariamente aplicável, no que couber, à legislação trabalhista, por força do art. 769 da CLT. 3 – AS ALTERAÇÕES INTRODUZIDAS PELA LEI Nº 13.015/2014 A Lei nº 13.015/2014 introduziu alterações nos recursos de revista (art. 896, a e §§ 1º e 3º a 13 da CLT), de embargos (art. 894, II e §§ 2º a 4º do art. 896), de embargos de declaração (art. 897-A) e de agravo de instrumento (art. 899, § 8º). Embora as normas contidas na novel lei sejam, de regra, aplicáveis aos recursos interpostos das decisões publicadas a partir da data de sua vigência, as normas procedimentais da nova lei e as que não afetarem o direito pro- cessual adquirido de qualquer das partes aplicam-se aos recursos interpostos anteriormente à data de sua vigência, em especial as que regem o sistema de julgamento de recursos de revista repetitivos, o efeito interruptivo dos embargos de declaração e a afetação do recurso de embargos ao Tribunal Pleno do TST, dada a relevância da matéria (art. 1º, caput e parágrafo único do Ato nº 491/ SEGJUD.GP, de 23 de setembro de 2014, do TST). As alterações legislativas promovidas pela nova lei visaram sanar con- trovérsias e dar maior celeridade e/ou segurança no conhecimento e tramitação dos recursos de revista e de embargos, por meio de disciplinamento judiciário voltado precipuamente para os efeitos uniformizadores da jurisprudência e unidade do Judiciário Trabalhista. Relativamente ao recurso de revista, a novel lei também esclarece as hipóteses de cabimento de recurso nas execuções fiscais e nas controvérsias da fase de execução que envolvam a Certidão Negativa de Débitos Trabalhistas (art. 896, § 10) e permite o conhecimento do recurso que contiver defeito formal que não se repute grave (art. 896, § 11). Ainda quanto ao recurso de revista, autoriza o seu cabimento, nas causas sujeitas ao procedimento sumaríssimo, não apenas por contrariedade a súmula de jurisprudência uniforme do Tribunal Superior do Trabalho e por violação direta da Constituição Federal, como também por contrariedade a súmula vin- culante do Supremo Tribunal Federal (art. 896, § 9º). Visando à segurança e à unidade do Judiciário Trabalhista na busca do tratamento uniforme de matérias iguais dentro dos Tribunais Regionais e no Tribunal Superior do Trabalho, disciplinou os recursos repetitivos (arts. 896-B e 896-C), o incidente de relevância de matéria (art. 896, § 13) e adotou proce- TST 80-04.indb 21 29/12/2014 10:45:20 D O U T R I N A 22 Rev. TST, Brasília, vol. 80, no 4, out/dez 2014 dimento específico para a concretização da uniformização da jurisprudência nos Regionais (art. 896, §§ 3º a 6º). Por fim, regulou, no art. 896-C, §§ 16 e 17, o overruling e o distinguishingcomo técnicas de afastamento da jurisprudência consolidada diante de alterações econômicas, sociais e jurídicas ou de particularidades capazes de diferenciar o caso concreto da norma jurisprudencial interpretativa. 4 – RECURSOS DE EMBARGOS DE DECLARAÇÃO, EMBARGOS PARA A SDI, REVISTA E AGRAVO DE INSTRUMENTO 4.1 – Quanto ao recurso de embargos de declaração Foi mantido o caput do art. 897-A, que dispõe que “caberão embargos de declaração da sentença ou acórdão, no prazo de cinco dias, devendo seu julgamento ocorrer na primeira audiência ou sessão subsequente à sua apre- sentação, registrada na certidão, admitido efeito modificativo da decisão nos casos de omissão e contradição no julgado e manifesto equívoco no exame dos pressupostos extrínsecos do recurso”. Dispunha ainda o parágrafo único do referido dispositivo que “os erros materiais poderão ser corrigidos de ofício ou a requerimento de qualquer das partes”. Esse texto passou a constar do novel § 1º, com introdução de dois outros parágrafos: “§ 2º Eventual efeito modificativo dos embargos de declaração somente poderá ocorrer em virtude da correção de vício na decisão embargada e desde que ouvida a parte contrária, no prazo de 5 (cinco) dias”; e “§ 3º Os em- bargos de declaração interrompem o prazo para interposição de outros recursos, por qualquer das partes, salvo quando intempestivos, irregular a representação da parte ou ausente a sua assinatura”. O art. 897-A da CLT, em sua redação originária, apenas dispunha sobre o cabimento dos embargos de declaração, prazo e efeitos, levando assim à utili- zação supletiva das normas de processo comum sobre a matéria, quanto à oitiva prévia da parte contrária em caso de efeito modificativo. Pelo que, na ausência de norma trabalhista expressa em sentido contrário, aplicava-se subsidiariamente o CPC, por força do art. 769 da CLT, daí a OJ nº 142 da SBDI-1 do TST: “I – É passível de nulidade decisão que acolhe embargos de de- claração com efeito modificativo sem que seja concedida oportunidade de manifestação prévia à parte contrária. TST 80-04.indb 22 29/12/2014 10:45:20 D O U T R I N A Rev. TST, Brasília, vol. 80, no 4, out/dez 2014 23 II – Em decorrência do efeito devolutivo amplo conferido ao recurso ordinário, o item I não se aplica às hipóteses em que não se concede vista à parte contrária para se manifestar sobre os embargos de declaração opostos contra sentença.” O novel § 2º do art. 897-A é agora expresso a respeito do disposto na OJ nº 142, item I, restringindo as hipóteses de modificação do julgado à correção de vícios e fixando em cinco dias o prazo para manifestação da parte contrária. Como o efeito modificativo decorrente da correção de vícios pode impor- tar em alteração da sentença ou acórdão, ou seja, o alcance e efeitos do julgado, a parte contrária precisa ser ouvida, em nome do contraditório. Por outro lado, a Lei nº 8.950/94 alterou a redação do art. 538, do CPC, para determinar que os embargos de declaração interrompam o prazo do recurso principal. E o novel § 3º do art. 897-A veio a explicitar a interrupção do prazo para interposição de outros recursos por meio dos embargos de declaração para qualquer das partes, salvo, para a parte embargante, quando intempestivos, irregular a representação da parte ou ausente a sua assinatura. Nos termos da Súmula nº 184 do TST, “ocorre preclusão se não forem opostos embargos declaratórios para suprir omissão apontada em recurso de revista ou de embargos”, pelo que a interposição do recurso é, nesse caso, obrigatória. Não bastasse, a Súmula nº 297 do TST, dispõe que: “I – Diz-se preques- tionada a matéria ou questão quando na decisão impugnada haja sido adotada, explicitamente, tese a respeito; II – Incumbe à parte interessada, desde que a matéria haja sido invocada no recurso principal, opor embargos declaratórios objetivando o pronunciamento sobre o tema, sob pena de preclusão; III – Considera-se prequestionada a questão jurídica invocada no recurso principal sobre a qual se omite o Tribunal de pronunciar tese, não obstante opostos embargos de declaração”. De igual sorte, conforme OJ nº 62 da SBDI-1 do TST: “É necessário o prequestionamento como pressuposto de admissibilidade em recurso de natureza extraordinária, ainda que se trate de incompetência absoluta”. Daí se conclui que o vício que fundamenta o recurso visando à supres- são da omissão pode abranger o pedido de complementação da sentença, com consideração do enfoque dado à questão pelo interessado (tese), como emba- samento para o acolhimento ou rejeição do pedido formulado (para efeito de prequestionamento e pronunciamento explícito). TST 80-04.indb 23 29/12/2014 10:45:20 D O U T R I N A 24 Rev. TST, Brasília, vol. 80, no 4, out/dez 2014 4.2 – Relativamente ao recurso de embargos para a SDI O recurso de embargos para a SDI, recurso interno (nasce e se exaure no TST), tem por fim: a) resolver divergências decisórias entre Turmas do TST; e b) exercer o controle sobre a jurisprudência quanto às decisões de Turmas que contrariarem súmula ou OJ do TST ou súmula vinculante do STF. O inciso II do art. 894, com a redação dada pela Lei nº 11.496/07, admitia o recurso das decisões das Turmas que divergissem entre si ou das decisões proferidas pela SDI, salvo se a decisão estivesse em consonância com súmula ou OJ do TST ou do STF. Pela nova redação, é cabível das decisões das Turmas que divergirem entre si ou das decisões proferidas pela SDI, ou contrárias à súmula ou orien- tação jurisprudencial do TST ou súmula vinculante do STF. Logo, a contrariedade à orientação jurisprudencial do STF não é mais fundamento para a interposição dos embargos, e a contrariedade à súmula vinculante do STF passou a sê-lo. Por outro lado, o § 5º do art. 896 da CLT dispunha que, “estando a deci- são recorrida em consonância com enunciado da Súmula da Jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho, poderá o Ministro Relator, indicando-o, negar seguimento ao Recurso de Revista, aos Embargos, ou ao Agravo de Instrumen- to. Será denegado seguimento ao Recurso nas hipóteses de intempestividade, deserção, falta de alçada e ilegitimidade de representação, cabendo a interpo- sição de Agravo”. O referido dispositivo foi revogado pela nova lei, recebendo o recurso de embargos, a respeito, tratamento específico nos §§ 2º, 3º e 4º, que incorporam o texto que constava do § 5º do art. 896. Com efeito, o novel § 2º dispõe que “a divergência apta a ensejar os embargos deve ser atual, não se considerando tal a ultrapassada por súmula do Tribunal Superior do Trabalho ou do Supremo Tribunal Federal, ou superada por iterativa e notória jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho”, sendo que, nos termos do também novel § 3º, “o Ministro Relator denegará seguimento aos embargos: I – se a decisão recorrida estiver em consonância com súmula da jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho ou do Supremo Tribunal Federal, ou com iterativa, notória e atual jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho, cumprindo-lhe indicá-la; II – nas hipóteses de intempestividade, deserção, irregularidade de representação ou de ausência de qualquer outro pressuposto extrínseco de admissibilidade.” Além do que, conforme o novel § 4º, “da decisão denegatória dos embargos caberá agravo, no prazo de 8 (oito) dias”. TST 80-04.indb 24 29/12/2014 10:45:20 D O U T R I N A Rev. TST, Brasília, vol. 80, no 4, out/dez 2014 25 Tem-se, portanto, que o recurso é cabível das decisões das Turmas que divergirem entre si ou das decisões proferidas pela SDI, ou contrárias à súmula ou orientação jurisprudencial do TST ou à súmula vinculante do STF, mas, se o relator verificar que inexiste divergência específica ou que a decisão recorrida está em consonância com súmula da jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho ou do Supremo Tribunal Federal, ou com iterativa, notória e atual jurisprudência doTribunal Superior do Trabalho, pode denegar seguimento ao recurso, também podendo fazê-lo nas hipóteses de intempestividade, deserção, irregularidade de representação ou de ausência de qualquer outro pressuposto extrínseco de admissibilidade. Em síntese, a lei regulou os pressupostos extrínsecos e intrínsecos do recurso de embargos para a SBDI-1 do TST. São pressupostos intrínsecos os referentes ao próprio direito de recorrer: cabimento, legitimidade, interesse e inexistência de fato impeditivo ou extintivo do direito de recorrer. E são pressu- postos extrínsecos os atinentes ao modo de exercer esse direito: tempestividade, representação, preparo e regularidade formal. Esclarece a Resolução Administrativa do TST, em seu § 2º, que, “sem prejuízo da competência do Ministro Relator do recurso de embargos, o Presi- dente de Turma, na forma do RITST, denegar-lhe-á seguimento nas hipóteses previstas no § 3º do art. 894 da CLT e também quando a divergência apresentada não se revelar atual, nos termos do § 2º do referido dispositivo legal”. Note-se que, nos termos do art. 173 do RITST, as orientações jurispru- denciais são aplicáveis inclusive para o que dispõe o art. 557, caput e § 1º-A do CPC. Dessa decisão, monocrática e denegatória, caberá agravo (§ 4º do art. 894 da CLT), para apreciação pela SBDI-1. Observe-se ainda que, nos termos da OJ nº 378 da SBDI-1 do TST, “não encontra amparo no art. 894 da CLT, quer na redação anterior quer na redação posterior à Lei nº 11.496, de 22.06.07, recurso de embargos interposto à decisão monocrática exarada nos moldes dos arts. 557 do CPC e 896, § 5º, da CLT, pois o comando legal restringe seu cabimento à pretensão de reforma de decisão colegiada proferida por Turma do Tribunal Superior do Trabalho”. Essa regra, no entanto, comporta as exceções previstas na Súmula nº 353 do TST, verbis: “Não cabem embargos para a Seção de Dissídios Individuais de decisão de Turma proferida em agravo, salvo: a) da decisão que não conhece de agravo de instrumento ou de agravo pela ausência de pres- TST 80-04.indb 25 29/12/2014 10:45:20 D O U T R I N A 26 Rev. TST, Brasília, vol. 80, no 4, out/dez 2014 supostos extrínsecos; b) da decisão que nega provimento a agravo contra decisão monocrática do Relator, em que se proclamou a ausência de pressupostos extrínsecos de agravo de instrumento; c) para revisão dos pressupostos extrínsecos de admissibilidade do recurso de revista, cuja ausência haja sido declarada originariamente pela Turma no julgamento do agravo; d) para impugnar o conhecimento de agravo de instrumento; e) para impugnar a imposição de multas previstas no art. 538, parágrafo único, do CPC, ou no art. 557, § 2º, do CPC; f) contra decisão de Turma proferida em agravo em recurso de revista, nos termos do art. 894, II, da CLT.” 4.3 – Com relação ao recurso de revista O recurso de revista tem por fim: a) velar pela autoridade do direito objetivo, afastando as violações à literal disposição de lei ou afronta direta e literal à Constituição Federal; b) resolver divergências decisórias entre Regio- nais na interpretação da lei federal ou estadual, norma coletiva ou regulamento empresarial de abrangência ultrarregional ou entre Regional e a SDI do TST; e c) exercer o controle sobre a jurisprudência, afastando as contrariedades a sumulas do TST ou súmula vinculante do STF. O recurso de revista só cabe por violação literal à lei federal ou norma constitucional (art. 896, c), por divergência e por contrariedade a súmula do TST ou súmula vinculante do STF (art. 896, a e c). Nas causas sujeitas ao procedimento sumaríssimo (§ 9º do art. 896) e nas execuções de sentença, o cabimento do recurso de revista é ainda mais restrito (§ 2º do art. 896). Nas execuções, a admissibilidade está condicionada à violação direta e literal da Constituição (não cabe por divergência) e nos sumaríssimos apenas na hipótese de contrariedade à súmula de jurisprudência uniforme do TST ou, conforme lei nova, à súmula vinculante do STF (não cabe por violação de lei federal e nem por divergência). Em se tratando de execuções fiscais, no entanto, esclarece a nova lei que o recurso de revista será admissível com base nos pressupostos do art. 896, a e c, sem as limitações do § 2º do art. 896 da CLT. A jurisprudência já admitia esse recurso em violações do Código Tributário Nacional, pelo que a lei a incorporou. De igual sorte, quando a controvérsia na execução disser respeito à Cer- tidão Negativa de Débitos Trabalhistas da Lei nº 12.440/2011, o recurso será admissível por violação da literalidade da lei federal e da norma constitucional, bem como por divergência. TST 80-04.indb 26 29/12/2014 10:45:20 D O U T R I N A Rev. TST, Brasília, vol. 80, no 4, out/dez 2014 27 A Certidão Negativa de Débitos Trabalhistas tem por finalidade estimu- lar o adimplemento dos débitos trabalhistas como condição à habilitação das empresas nas licitações. A redação da alínea a do art. 896 foi alterada para admitir o recurso contra as decisões proferidas em grau de recurso ordinário que contrariarem súmula de jurisprudência uniforme do TST ou súmula vinculante do Supremo Tribunal Federal, ou que derem ao mesmo dispositivo de lei federal interpretação diversa da que lhe houver dado outro Tribunal Regional do Trabalho, no seu Pleno ou Turma, ou a Seção de Dissídios Individuais do Tribunal Superior do Trabalho. Logo, tal como ocorreu com os embargos, foi inserida na alínea a a con- trariedade à súmula vinculante do STF como fundamento para a interposição do recurso de revista. A redação do § 1º é semelhante à anterior, mas o novel § 1º-A dispõe que: “Sob pena de não conhecimento, é ônus da parte: I – indicar o trecho da decisão recorrida que consubstancia o prequestionamento da controvérsia objeto do recurso de revista; II – indicar, de forma explícita e fundamentada, contrariedade a dispositivo de lei, súmula ou orientação jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho que conflite com a decisão regional; III – expor as razões do pedido de reforma, impugnando todos os fundamentos jurídicos da decisão recorrida, inclusive mediante demonstração analítica de cada dispo- sitivo de lei, da Constituição Federal, de súmula ou orientação jurisprudencial cuja contrariedade aponte”. A Súmula nº 337 do TST, no item I, b, complementa a interpretação a ser dada ao dispositivo legal. Assim, se o relator verificar que inexiste na decisão regional atacada contrariedade a dispositivo de lei, súmula do TST ou súmula vinculante do STF, ou falta de indicação, pelo recorrente, do trecho da decisão recorrida que con- substancia o prequestionamento da controvérsia, com indicação da contrariedade a dispositivo de lei, súmula ou orientação jurisprudencial do TST que conflite com a decisão regional ou exposição das razões do pedido de reforma, com impugnação de todos os fundamentos jurídicos da decisão recorrida, inclusive mediante demonstração analítica de cada dispositivo de lei, da Constituição Federal, de súmula ou orientação jurisprudencial cuja contrariedade aponte, pode, com fundamento no § 1º do art. 896 c/c § 1º-A, alínea a e incisos I, II e III, denegar seguimento ao recurso. Também poderá denegar seguimento ao recurso quando não observa- dos os pressupostos extrínsecos da admissibilidade, ou seja, nas hipóteses de TST 80-04.indb 27 29/12/2014 10:45:20 D O U T R I N A 28 Rev. TST, Brasília, vol. 80, no 4, out/dez 2014 intempestividade, deserção, irregularidade de representação ou de ausência de qualquer outro pressuposto extrínseco. Aliás, nos termos do art. 557 do CPC, subsidiariamente aplicável à CLT, deve o relator, monocraticamente, negar seguimento a recurso manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado ou em confronto com súmula ou ju- risprudência dominante do próprio Tribunal, do STF ou de Tribunal Superior. Outrossim, o § 1º-A do art. do art. 557, do CPC, igualmente aplicável à CLT, permite que aorelator também proveja monocraticamente recurso de decisão proferida em manifesto confronto com súmula ou com jurisprudência do STF ou de Tribunal Superior. Nos termos do art. 173 do RITST, as orien- tações jurisprudenciais são aplicáveis inclusive para o que dispõe o art. 557, caput e § 1º-A do CPC. Todavia, quando o recurso tempestivo contiver defeito formal que não se repute grave, o TST poderá desconsiderar o vício ou mandar saná-lo, julgando o mérito (§ 11 do art. 896). Quanto ao defeito formal que não se repute grave, trata-se de cláusula aberta, a ser preenchida pela jurisprudência. São exemplos: uma folha faltante ou ilegível do recurso ou da transcrição do acórdão paradigma, que não com- prometa a sua compreensão; guia de depósito com autenticação ilegível, sem impugnação da parte contrária; falta de indicação do número do PIS/Pasep na guia do depósito recursal (OJ nº 264); nomes errados das partes no recolhimento, mas com número correto do processo e dados que permitam a identificação; e esmaecimento temporal da autenticação bancária. O texto que constava do § 4º do art. 896 da CLT, foi parcialmente repro- duzido no novel § 7º, com acrescentamento de súmula do STF, ou seja, pelo novo texto, a divergência apta a ensejar o recurso de revista deve ser atual, não se considerando como tal a ultrapassada por súmula do Tribunal Superior do Trabalho ou do Supremo Tribunal Federal, ou superada por iterativa e notória jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho. Neste sentido, incorpora o disposto na Súmula nº 333 do TST. Quando o recurso fundar-se em dissenso de julgados, incumbe ao re- corrente o ônus de produzir prova da divergência jurisprudencial, mediante certidão, cópia ou citação do repositório de jurisprudência, oficial ou creden- ciado, inclusive em mídia eletrônica, em que houver sido publicada a decisão divergente, ou ainda pela reprodução de julgado disponível na internet, com indicação da respectiva fonte, mencionando, em qualquer caso, as circunstâncias que identifiquem ou assemelhem os casos confrontados (§ 8º). TST 80-04.indb 28 29/12/2014 10:45:20 D O U T R I N A Rev. TST, Brasília, vol. 80, no 4, out/dez 2014 29 O dispositivo legal incorpora o disposto nos itens I, a, II, III e IV da Súmula nº 337, do TST. 4.4 – Com relação ao recurso de agravo de instrumento A nova lei introduziu o § 8º no art. 899 da CLT, que determina que, em caso de o agravo de instrumento objetivar o destrancamento de recurso de revista que se insurge contra decisão que contraria a jurisprudência uniforme do TST, consubstanciada nas suas súmulas ou em orientação jurisprudencial, não haverá obrigatoriedade de se efetuar o depósito referido no § 7º do referido dispositivo (de 50% do valor do depósito do recurso de revista). Note-se, no entanto, que a dispensa de depósito não será aplicável aos casos em que o agravo de instrumento se refira a uma parcela da condenação, pelo menos, que não seja objeto de arguição de contrariedade a súmula ou a orientação jurisprudencial do TST (art. 23 do Ato nº 491/SEGJUD.GP, de 23 de setembro de 2014, do TST). Por outro lado, quando a arguição revelar-se manifestamente infunda- da, temerária ou artificiosa, o agravo de instrumento será considerado deserto (parágrafo único do art. 23 do Ato nº 491/SEGJUD.GP, de 23 de setembro de 2014, do TST). 5 – RECURSO REPETITIVO NO TST 5.1 – Definição e objetivos A litigiosidade em massa exige a adoção de mecanismos de tutela de direitos coletivos, como a ação popular, a ação civil pública, a ação coletiva, a ação de improbidade administrativa, o mandado de segurança coletivo e o dissídio coletivo. Todavia, as situações repetitivas continuam a multiplicar-se e a conges- tionar as vias judiciais, pelo que foram introduzidos instrumentos específicos, destinados a lhes conferir solução uniforme, a exemplo da súmula vinculante, da repercussão geral e da obrigatoriedade da uniformização da jurisprudência pelos Tribunais Regionais e de sua compatibilização com a jurisprudência dos Tribunais Superiores. O recurso repetitivo é mais um instrumento destinado a racionalizar a utilização do Judiciário. Por meio do exame de recursos representativos de igual controvérsia de massa, é apreciada uma tese destinada a servir de precedente para questões idênticas, por meio da técnica de processamento e julgamento por amostragem, para dar uniformidade aos julgamentos, concentrando a discussão TST 80-04.indb 29 29/12/2014 10:45:20 D O U T R I N A 30 Rev. TST, Brasília, vol. 80, no 4, out/dez 2014 num só órgão e contribuindo para a solução e diminuição do fluxo de casos que são encaminhados aos Tribunais Superiores. Desta forma, em vez do recebimento descontrolado de recursos veicu- lando uma mesma tese capaz de ensejar soluções distintas, são selecionados um ou alguns recursos representativos de uma mesma controvérsia, destacando-os para julgamento e firmando a tese a ser seguida nos casos idênticos, o que im- porta em concentração da discussão e contribui para o descongestionamento. O julgamento do recurso repetitivo objetiva firmar um precedente para servir de paradigma aos demais casos. Pela Lei nº 13.015/2014, recurso repetitivo é aquele em que, verificada a multiplicidade de recursos fundados em idêntica questão de direito e a relevância da matéria ou a existência de entendimentos divergentes entre os Ministros que compõem a Subseção Especializada ou das Turmas do TST, ela é apreciada considerando um ou mais recursos representativos da controvérsia, para servir de paradigma quanto à tese adotada. O objetivo do recurso repetitivo é o de suspender o exame das questões idênticas no Tribunal de origem até o pronunciamento definitivo pelo Tribunal Superior, a fim de dar-se uniformidade às decisões relacionadas à mesma tese. Para tanto, o relator, no Tribunal Superior, seleciona um ou mais recursos que possam representar a controvérsia, dando preferência aos que contiverem maior diversidade de fundamentos no acórdão e de argumentos no recurso, eis que o objetivo é o de ampliar a discussão sobre a tese, pelo que a escolha deve recair sobre o conteúdo de acórdãos paradigmas que possam abranger a análise de todos os fundamentos suscitados à tese jurídica discutida, favoráveis ou contrários. Para efeito de seleção de recursos e instrução do procedimento, o relator poderá solicitar, ao Tribunal de origem, informações a respeito da controvérsia e, dada a relevância da matéria contida no recurso repetitivo e sua repercussão, admitir manifestação de pessoa, órgão ou entidade com interesse na contro- vérsia (amicus curiae), bem como fixar data para, em audiência pública, ouvir depoimentos de pessoas com experiência e conhecimento na matéria. Sobrevindo o julgamento da questão, o juízo de admissibilidade deverá, quanto aos recursos suspensos pelo Tribunal de origem, negar seguimento ao recurso que coincidir com o posicionamento do Tribunal Superior ou apreciar novamente a matéria na hipótese de o acórdão recorrido divergir do posiciona- mento do Tribunal Superior. Se mantida a decisão divergente pelo Tribunal de origem, far-se-á o exame de admissibilidade do recurso de revista. TST 80-04.indb 30 29/12/2014 10:45:20 D O U T R I N A Rev. TST, Brasília, vol. 80, no 4, out/dez 2014 31 Para evitar-se a equivocada suspensão de um recurso que não se iden- tifica com a tese objeto da controvérsia referente aos recursos selecionados, a parte pode demonstrar a ausência de afinidade e requerer que o julgamento de seu recurso prossiga. 5.2 – Iniciativa A nova lei introduz, no art. 896-B, a aplicação das normas do CPC, re- lacionadas aos recursos extraordinário e especial repetitivos, para os recursos repetitivos no TST. São duas as hipóteses quanto à iniciativa do procedimento: na Turma e na Subseção Especializada em Dissídios Individuais. A primeira, referente às revistas repetitivas, quando a Turma do TST, à unanimidade ou por maioria assim decidir,a requerimento do relator; a segunda, pertinente aos embargos repetitivos, quando a própria SDI assim decidir, a requerimento de qualquer ministro que a compõe. Tanto é assim que os §§ 1º e 2º do art. 896-C fazem referência à iniciativa do presidente de Turma ou da Seção Especializada, e o § 5º do art. 896-C menciona, expressamente, os embargos. 5.3 – Competência A competência quanto à instauração do procedimento de recurso repeti- tivo é da SDI e para a seleção de recursos e julgamento da matéria é, conforme o caso, da SDI ou do Tribunal Pleno do TST (art. 9º, caput e inciso I, do Ato nº 491). Não seria lógico que as Turmas, compostas por três ministros, indivi- dualmente pudessem adotar o procedimento, representando o TST no exame de questão de tamanha repercussão. Havendo multiplicidade de recursos de revista fundados em idêntica questão de direito, Turma do TST poderá submeter à apreciação da Seção Especializada em Dissídios Individuais I a afetação do recurso em relação ao tema que destacar, a fim de que ela decida sobre adoção do procedimento de recurso repetitivo para o tema e o sobre o órgão competente para a apreciação da questão, se a própria SDI, considerada a existência de entendimentos divergentes no TST a respeito do tema, ou o Tribunal Pleno, considerada a relevância da matéria (art. 896-C, caput c/c § 1º e art. 9º, parágrafo único, I, do Ato nº 491). Em existindo multiplicidade de recursos de embargos fundados em idêntica questão de direito, qualquer Ministro componente da SDI poderá submeter à Subseção a proposta de afetação à própria SDI diante da existência de entendimentos divergentes entre os Ministros da Subseção Especializada, ou ao Pleno, se a matéria for relevante (pelos efeitos sociais ou econômicos TST 80-04.indb 31 29/12/2014 10:45:20 D O U T R I N A 32 Rev. TST, Brasília, vol. 80, no 4, out/dez 2014 da questão) ou o resultado do julgamento do recurso for capaz de contrariar súmula do TST ou OJ da SDI (art. 896-C, caput, da CLT). De qualquer sorte, independentemente da existência de vários processos com temas idênticos, o Pleno também terá competência quando a matéria for relevante (art. 896, § 13, da CLT c/c art. 7º, caput e parágrafo único do Ato nº 491) ou quando o debate tiver por pressuposto a declaração de inconstitucio- nalidade de lei ou ato normativo do Poder Público. 5.4 – Cabimento São dois os pressupostos para a adoção do procedimento de julgamento de recursos de revista e de embargos repetitivos: a) multiplicidade de recursos fundados em idêntica questão de direito; e, b) tema relevante ou existência de entendimentos divergentes a respeito do tema entre os ministros da Subseção ou das Turmas do Tribunal (art. 896-C, caput). Somente poderão ser afetados recursos representativos da controvérsia que sejam admissíveis e que contenham abrangente argumentação e discussão a respeito da questão decidida (art. 8º do Ato nº 491/SEGJUD.GP, de 23 de setembro de 2014, do TST). Recursos que não dão conhecimento ou decididos de forma singela, sem adequada discussão ou argumentação que permita a verificação da abrangência da questão decidida não se prestam à afetação. 5.5 – Procedimento Por decisão da maioria simples de seus membros, se a Turma do TST verificar a existência de recursos de revista fundados em idêntica questão de direito e considerar que a matéria veiculada é relevante ou que existem en- tendimentos divergentes a respeito do tema no TST, poderá afetar a questão à apreciação pela Seção Especializada em Dissídios Individuais I ou ao Tribunal Pleno (art. 896-C, caput). O presidente da Turma que afetar processo para julgamento sob o rito dos recursos repetitivos deverá expedir comunicação aos demais presidentes de Turma, que poderão afetar outros processos sobre a questão para julgamento conjunto, a fim de conferir ao órgão julgador visão global da questão (§ 2º do art. 896-C da CLT). O presidente da Subseção em Dissídios Individuais submeterá a proposta da Turma ao colegiado no prazo máximo de 30 dias de seu recebimento (art. 9º, caput, do Ato nº 491/SEGJUD.GP, de 23 de setembro de 2014, do TST). TST 80-04.indb 32 29/12/2014 10:45:20 D O U T R I N A Rev. TST, Brasília, vol. 80, no 4, out/dez 2014 33 Rejeitada a proposta, os autos serão devolvidos à Turma respectiva, para que o julgamento do recurso de revista prossiga regularmente (art. 9º, III, do Ato nº 491). Acolhida a proposta, por maioria simples, o colegiado também decidirá se a questão será analisada pela própria SBDI-1 ou pelo Tribunal Pleno (art. 9º, I, d, do Ato nº 491). O processo será distribuído a um relator e a um revisor do órgão jurisdi- cional correspondente, para apreciação da questão (art. 9º, II, do Ato nº 491). Adotado o procedimento do recurso repetitivo, o presidente do TST ofi- ciará os presidentes dos Regionais para que suspendam os recursos interpostos em casos idênticos aos afetados como recursos repetitivos, até o pronunciamento definitivo do TST (§ 3º do art. 896-C da CLT). Oficiado pelo TST, compete ao presidente do respectivo Tribunal Re- gional do Trabalho determinar a suspensão dos recursos interpostos em casos idênticos aos afetados como recursos repetitivos até o pronunciamento definitivo do Tribunal Superior do Trabalho (§ 4º do art. 896-C c/c art. 10 do Ato nº 491). Selecionados os recursos, o relator, na Subseção Especializada em Dissí- dios Individuais ou no Tribunal Pleno, constatada a presença do pressuposto do caput do art. 896-C da CLT, proferirá decisão de afetação, na qual: I) identificará com precisão a questão a ser submetida a julgamento; II) poderá determinar a suspensão dos recursos de revista ou de embargos de que trata o § 5º do art. 896-C da CLT; III) requisitará aos presidentes ou vice-presidentes dos Regio- nais a remessa de até dois recursos de revista representativos da controvérsia; e IV) poderá conceder vista ao MPT e às partes, nos termos e para os efeitos do § 9º do art. 896-C da CLT. As partes dos processos suspensos em virtude da afetação deverão ser intimadas da decisão, podendo requerer o prosseguimento de seu processo se demonstrar distinção entre a questão a ser decidida no seu processo e aquela a ser julgada no recurso afetado, sempre ouvida a parte contrária sobre o reque- rimento, no prazo de cinco dias, e cabendo agravo da decisão, nos termos do Regimento Interno dos respectivos Tribunais (art. 19 do Ato nº 491). Se, após receber os recursos de revista selecionados pelo presidente ou vice-presidente do TRT, não se proceder à sua afetação, o relator, no TST, co- municará o fato ao presidente do vice-presidente que os houver enviado, para que seja revogada a decisão de suspensão referida no art. 896-C, § 4º, da CLT. TST 80-04.indb 33 29/12/2014 10:45:21 D O U T R I N A 34 Rev. TST, Brasília, vol. 80, no 4, out/dez 2014 Para efeito de seleção de recursos, o relator poderá solicitar aos Tribunais Regionais do Trabalho informações a respeito da controvérsia, a serem prestadas no prazo de 15 dias (§ 7º do art. 896-C). Nos termos do § 8º, dada a relevância da matéria contida no recurso repe- titivo e sua repercussão, o relator poderá admitir manifestação de pessoa, órgão ou entidade com interesse na controvérsia, inclusive como assistente simples, na forma da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de Processo Civil). Recebidas as informações e, se for o caso, após cumprido o disposto no § 7º deste artigo, terá vista o Ministério Público pelo prazo de 15 dias (§ 9º do art. 896-C). Para instruir o procedimento, poderá o relator fixar data para, em audi- ência pública, ouvir depoimentos de pessoas com experiência e conhecimento na matéria (art. 16 do Ato nº 491). Transcorrido o prazo para o Ministério Público e remetida cópia do relatório aos demais ministros, o processo será incluído em pauta na Seção Especializada ou no Tribunal Pleno, devendo ser julgado com preferência sobre os demais feitos (§ 10do art. 896-C). O conteúdo do acórdão paradigma abrangerá a análise de todos os fun- damentos suscitados à tese jurídica discutida, favoráveis ou contrários, posto que o objetivo é o de ampliar a tese (art. 17 do Ato nº 491). Nos termos do § 11 do art. 896-C, publicado o acórdão do Tribunal Superior do Trabalho, os recursos de revista sobrestados na origem: I – terão seguimento denegado na hipótese de o acórdão recorrido coincidir com a orientação a respeito da matéria no Tribunal Superior do Trabalho; ou II – se- rão novamente examinados pelo Tribunal de origem na hipótese de o acórdão recorrido divergir da orientação do Tribunal Superior do Trabalho a respeito da matéria. Na hipótese prevista no inciso II do § 11 do referido artigo, mantida a decisão divergente pelo Tribunal de origem, far-se-á o exame de admissibilidade do recurso de revista (§ 12 do art. 896-C). Esclarecendo o § 11 do art. 896-C, CLT, dispõe o art. 20 do Ato nº 491/ SEGJUD.GP, de 23 de setembro de 2014, que: “Decidido o recurso represen- tativo da controvérsia, os órgãos jurisdicionais respectivos declararão prejudi- cados os demais recursos versando sobre idêntica controvérsia ou os decidirão aplicando a tese”. TST 80-04.indb 34 29/12/2014 10:45:21 D O U T R I N A Rev. TST, Brasília, vol. 80, no 4, out/dez 2014 35 Esclarece ainda o Ato, no art. 21: “Publicado o acórdão paradigma: I – O Presidente ou Vice-Presidente do Tribunal de origem negará seguimento aos recursos de revista sobrestados na origem, se o acórdão recorrido coincidir com a orientação do Tribunal Superior do Trabalho; II – o órgão que proferiu o acórdão recorrido, na origem, reexaminará a causa de competência originária ou o recurso anteriormente julgado, na hipótese de o acórdão recorrido contrariar a orientação do Tribunal Superior do Trabalho; III – os processos suspensos em primeiro e segundo graus de jurisdição retomarão o curso para julgamento e aplicação da tese firmada pelo Tribunal Superior do Trabalho”. Em caso de decisão de manutenção do entendimento, o órgão que pro- feriu o acórdão recorrido demonstrará, fundamentadamente, a existência de distinção, quando se tratar de caso particularizado por hipótese fática distinta ou questão jurídica não examinada, a impor solução jurídica diversa (§ 1º do art. 21 do Ato nº 491). Mantido o acórdão divergente pelo Regional de origem, o recurso de revista será remetido ao TST, após novo exame de sua admissibilidade pelo presidente ou vice-presidente do Regional (§ 2º do art. 21 do Ato nº 491). Realizado o juízo de retratação, com alteração do acórdão divergente, o Tribunal de origem, se for o caso, decidirá as demais questões ainda não de- cididas, cujo enfrentamento se tornou necessário em decorrência da alteração (§ 3º do art. 21 do Ato nº 491). Quando for alterado o acórdão divergente na forma do parágrafo ante- rior e o recurso versar sobre outras questões, caberá ao presidente do Tribunal Regional, depois do reexame pelos órgãos de origem e independentemente de ratificação do recurso ou juízo da admissibilidade, determinar a remessa do recurso ao TST para julgamento das demais questões (§ 4º do art. 21 do Ato nº 491). Caso a questão afetada e julgada sob o rito dos recursos repetitivos também contenha questão constitucional, a decisão proferida pelo Tribunal Pleno não obstará o conhecimento de eventuais recursos extraordinários sobre a questão constitucional (§ 13 do art. 896-C da CLT). Em se tratando do procedimento de embargos repetitivos iniciados na própria SDI, o rito será o mesmo. 5.6 – Distinguishing e Overruling Firmado o precedente, duas situações distintas podem ocorrer diante das peculiaridades de determinado caso: uma mudança de regra, quando o Tribu- TST 80-04.indb 35 29/12/2014 10:45:21 D O U T R I N A 36 Rev. TST, Brasília, vol. 80, no 4, out/dez 2014 nal, em certo julgamento, percebe que a sua jurisprudência merece ser revista (overruling) ou quando percebe que o caso concreto apresenta particularidades que o distanciam do conteúdo de uma norma de interpretação, refletida na jurisprudência (distinguishing). No caso do overruling, a necessidade de mudança da jurisprudência ocorre em virtude de alguma alteração do ordenamento jurídico que a funda- mentava ou de evolução fática histórica. Assim, prevê o art. 896-C, § 17, da Lei nº 13.015/2014 que, diante de alterações econômicas, sociais e jurídicas, o precedente firmado pode ser revisto. No overruling, em respeito à segurança jurídica, é possível ainda se recorrer ao prospective overruling (mudança de regra prospectiva, apenas para o futuro, também denominada de modulação de efeitos) quando, apesar de reconhecer a mudança da regra, o Tribunal deixa de aplicá-la ao caso con- creto, mas sinalizando para a mudança da norma de interpretação em relação aos fatos futuros. Hipótese distinta é a do distinguishing (dissonância entre a norma de interpretação e a norma de decisão quando o caso concreto em julgamento apresenta particularidades que não permitem aplicar adequadamente a juris- prudência do Tribunal, importando no seu afastamento). Logo, não havendo identidade entre o caso a ser julgado e o precedente fixado, em virtude de situação de fato ou de direito, dar-se-á o distinguishing, aplicável, inclusive, para evitar a suspensão de processo (art. 896-C, § 16, da Lei nº 13.015/2014). 6 – INCIDENTE DE RELEVÂNCIA DE MATÉRIA Nos termos do § 13 do art. 896 da CLT, dada a relevância da matéria, por iniciativa de um dos membros da Seção Especializada em Dissídios Individuais do Tribunal Superior do Trabalho, aprovada pela maioria dos integrantes da Seção, o julgamento poderá ser afetado ao Tribunal Pleno. Neste caso, como esclarece o art. 7º do Ato nº 491/SEGJUD.GP, de 23 de setembro de 2014, do TST, a afetação de julgamento ao Tribunal Pleno, em face da relevância da matéria (aferida diante dos efeitos sociais ou econômicos), somente poderá ocorrer em processos em tramitação na Subseção de Dissídios Individuais do Tribunal Superior do Trabalho. Essa afetação não pressupõe, necessariamente, a existência de diversos processos em que a questão relevante seja debatida (parágrafo único do art. 7º do referido Ato). TST 80-04.indb 36 29/12/2014 10:45:21 D O U T R I N A Rev. TST, Brasília, vol. 80, no 4, out/dez 2014 37 Também serão afetadas ao Pleno as matérias cujo debate tiver por pressuposto a declaração de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público, que exijam reserva de plenário, ou o resultado do julgamento de embargos na Subseção de Dissídios Individuais for capaz de contrariar súmula ou OJ do TST. 7 – INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA PELOS REGIONAIS, POR INICIATIVA DO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO Se o TST uniformiza a sua jurisprudência por meio dos embargos, de igual sorte devem os Regionais uniformizar a própria jurisprudência. Essa uniformização, dentro dos Regionais, servirá para orientação dos juízes de primeiro grau e criará a cultura dos precedentes e da disciplina judiciária no âmbito de todo o Judiciário Trabalhista. Embora o art. 896, § 3º, da CLT, em sua redação antiga, determinasse aos Tribunais Regionais a uniformização obrigatória de sua jurisprudência, tal não se verificou com a agilidade e segurança necessárias à celeridade do processo do trabalho e unidade do Judiciário Trabalhista. A nova lei, mantendo a determinação da uniformização obrigatória de sua jurisprudência pelos Tribunais Regionais (§ 3º), obriga o Tribunal Superior do Trabalho, diante da constatação da existência de decisões atuais e conflitantes no âmbito de um mesmo Regional com a jurisprudência do TST sobre o tema objeto de recurso de revista, que providencie o retorno dos autos à Corte de origem, a fim de que proceda à uniformização de sua jurisprudência (art. 896, § 4º). Ou seja, verificada a existência de decisão conflitante com a jurisprudência já uniformizada do TRT deorigem, deverão os autos retornar à instância a quo para a sua adequação à súmula regional ou à tese jurídica prevalecente no TRT e não conflitante com súmula ou orientação jurisprudencial do TST (art. 3º do Ato nº 491/SEGJUD.GP, de 23 de setembro de 2014,). Essa providência deverá ser determinada pelo presidente do TRT, ao emitir juízo de admissibilidade sobre o recurso de revista, ou pelo ministro- relator da revista no TST, mediante decisão irrecorrível (§ 5º). Após o julgamento do incidente, unicamente a súmula regional ou a tese jurídica prevalecente no TRT e não conflitante com súmula ou orientação jurisprudencial do TST servirá como paradigma para viabilizar o conhecimento do recurso de revista com fundamento em divergência jurisprudencial (§ 6º do art. 896). TST 80-04.indb 37 29/12/2014 10:45:21 D O U T R I N A 38 Rev. TST, Brasília, vol. 80, no 4, out/dez 2014 Nos termos do art. 4º, do Ato nº 491/SEGJUD.GP, de 23 de setembro de 2014, do TST, “a comprovação da existência da súmula regional ou da tese jurídica prevalecente no Tribunal Regional do Trabalho e não conflitante com súmula ou orientação jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho servirá para os efeitos do art. 896, a, da CLT, desde que regularmente demonstrada sua fonte de publicação”. “No caso de decisão regional em consonância com súmula ou orientação jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho, o Relator denegará segui- mento ao recurso” (art. 5º do Ato nº 491/SEGJUD.GP, de 23 de setembro de 2014, do TST). Em virtude do julgamento do incidente, é admitido o juízo de retratação pelo TRT, com alteração do acórdão divergente da jurisprudência do TST, hi- pótese em que o Tribunal de origem, se for o caso, decidirá as demais questões ainda não decididas, cujo enfrentamento se tornou necessário em decorrência da alteração (inteligência do § 3º do art. 21 do Ato nº 491/SEGJUD.GP, de 23 de setembro de 2014). Os Tribunais Regionais do Trabalho deverão manter e dar publicidade as suas súmulas e teses jurídicas prevalecentes mediante banco de dados, organizando-as por questão jurídica decidida e divulgando-as, preferencial- mente, na rede mundial de computadores (art. 6º do Ato nº 491/SEGJUD.GP, de 23 de setembro de 2014, do TST). 8 – INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA NO TST O incidente de uniformização de jurisprudência nos Regionais por ini- ciativa do TST (art. 896, § 4º, da CLT) não se confunde com a uniformização obrigatória de sua jurisprudência pelos Tribunais Regionais (§ 3º), com o papel uniformizador do TST no exame dos recursos de revista e de embargos calcados em divergência jurisprudencial (arts. 896, a e c, e 894, II, da CLT) e nem com o incidente de uniformização de jurisprudência no Tribunal Superior do Trabalho, previsto no Regimento Interno do Tribunal Superior do Trabalho – RITST. Do incidente de uniformização no Tribunal Superior do Trabalho em relação às próprias decisões a Lei nº 13.015/2014 não cuida, mas a referência é necessária, a fim de esclarecer a sua disciplina, que é diferente da hipótese da uniformização de jurisprudência determinada pelo TST em relação aos Regionais. O incidente de uniformização das decisões do próprio Tribunal Superior do Trabalho ocorrerá quando a Subseção Especializada constatar que a decisão TST 80-04.indb 38 29/12/2014 10:45:21 D O U T R I N A Rev. TST, Brasília, vol. 80, no 4, out/dez 2014 39 se inclina contrariamente a reiteradas decisões dos órgãos fracionários sobre interpretação de regra jurídica, não necessariamente sobre matéria de direito, hipótese em que poderá ser suscitado por ministro ao proferir o seu voto perante a referida Subseção (art. 156, §§ 1º e 2º do RITST). Verificando a Subseção Especializada que a maioria conclui contraria- mente a decisões reiteradas de órgãos fracionários sobre tema relevante de natureza material ou processual, deixará de proclamar o resultado e suscitará o incidente de uniformização ao Tribunal Pleno (§ 4º). Nos processos que tratem de matéria objeto de incidente de uniformiza- ção de jurisprudência, haverá o sobrestamento do feito até decisão do incidente (art. 159 do RITST). 9 – CONCLUSÕES As alterações introduzidas pela Lei nº 13.015/2014 na CLT buscaram, em relação aos recursos de revista, embargos para a SDI, embargos de declaração e agravos de instrumento, sanar controvérsias quanto ao manejo dos referidos apelos. Quanto aos recursos de revista e de embargos, visou reforçar o papel uniformizador do TST. Indo além, a Lei nº 13.015/2014 buscou concretizar a uniformização jurisprudencial regional, para dar aos Tribunais Regionais unidade decisória e propiciar o conhecimento ou descabimento das decisões que contrariem a jurisprudência nacionalmente pacificada, de modo a aprimorar a uniformização da jurisprudência e estimular a disciplina judiciária necessária à estabilidade e segurança jurídica em relação ao jurisdicionado. Em nome da segurança das relações jurídicas na aplicação e interpre- tação do direito objetivo, para evitar-se o risco de decisões conflitantes sobre um mesmo tema ou o exame isolado e multiplicado de temas iguais, a Lei nº 13.015/2014 buscou regular os recursos repetitivos, igualmente visando a uniformização jurisprudencial, sendo que diante da relevância da matéria, quer se trate de recurso repetitivo ou não, o julgamento poderá ser afetado ao Tribunal Pleno. Em que pese a priorização pelo precedente como guia para o exame das questões submetidas ao Judiciário, o art. 896-C, §§ 16 e 17, prevê o overruling e o distinguishing como técnicas de inaplicabilidade da súmula ou da orien- tação jurisprudencial ao caso concreto, quando se percebe, respectivamente, TST 80-04.indb 39 29/12/2014 10:45:21 D O U T R I N A 40 Rev. TST, Brasília, vol. 80, no 4, out/dez 2014 necessidade de mudança da jurisprudência em virtude de alguma alteração do ordenamento jurídico ou de evolução fática-histórica da norma de interpretação que a fundamentava ou que a decisão judicial apresenta particularidades que a afastam do conteúdo de uma norma de interpretação jurisprudencial. Verifica-se, portanto, que as alterações trazidas pela Lei nº 13.015/2014, já compatibilizada com os princípios recursais que norteiam no novo Código de Processo Civil, dotaram o processo do trabalho de instrumentos necessários a um disciplinamento judiciário voltado precipuamente para os efeitos unifor- mizadores da jurisprudência, no intuito de evitar decisões divergentes sobre um mesmo tema e dar unidade ao Poder Judiciário Trabalhista no seu todo, e maior segurança e celeridade aos processos, na busca do aprimoramento da prestação jurisdicional. TST 80-04.indb 40 29/12/2014 10:45:21 Rev. TST, Brasília, vol. 80, no 4, out/dez 2014 41 O DEFEITO FORMAL NOS RECURSOS DE REVISTA E DE EMBARGOS: POSSIBILIDADE DE CORREÇÃO Cláudio Mascarenhas Brandão* 1 – INTRODUÇÃO Em vigor a Lei nº 13.015/2014, altera-se, significativamente, a disciplina normativa dos recursos no âmbito do Tribunal Superior do Trabalho. O primeiro aspecto a ser destacado diz respeito ao questionamento que naturalmente pode surgir em torno da necessidade da própria edição da nor- ma, partida que foi de iniciativa interna corporis. A resposta positiva emerge inexoravelmente. O cenário que se revela ao simples exame do conteúdo dos mais de 300.000 recursos recebidos no último ano1, o que significou crescimento da ordem de 27% em relação a 2012, evidencia que, há muito, o TST deixou de cumprir o seu papel de Corte unificadora da interpretação da legislação e, em boa parte dos casos, se limita a resolver querelas jurisprudenciais internas dos TRTs, diante dos incontáveis casos que revelam divergências entre as turmas que os compõem. Significa, portanto, afirmar que o debate que deveria ocorrer entre Tribunais, na essência, pauta-se no âmbito interno de cada um deles – é, por- tanto, intra tribunal – e é transportado para oâmbito nacional, diante da clara possibilidade de identificar-se acórdão paradigma de outro TRT e, com isso, viabilizar o conhecimento do recurso de revista ou, quando negado o trâmite, permitir a interposição dos intermináveis agravos de instrumento. * Ministro do Tribunal Superior do Trabalho; mestre em Direito pela Universidade Federal da Bahia; professor de Direito do Trabalho e de Direito Processual do Trabalho da Faculdade Baiana de Direito; membro do Instituto Baiano de Direito do Trabalho; professor convidado da Escola Judicial do TRT da 5ª Região e da Faculdade Baiana de Direito; autor de livros jurídicos. 1 Precisamente, 301.329, dos quais 239.644 casos novos, cujo crescimento alcançou 30,7%, segundo dados divulgados pelo Tribunal na internet. TST 80-04.indb 41 29/12/2014 10:45:21 D O U T R I N A 42 Rev. TST, Brasília, vol. 80, no 4, out/dez 2014 Ainda que dados estatísticos nem sempre forneçam elementos qualita- tivos de análise, a simples observação dos números do último ano transmite a dimensão desse preocupante quadro e do dilema vivido cotidianamente por cada um dos ministros e suas equipes de trabalho: 239.644 casos novos dis- tribuídos, correspondentes a 175.273 agravos de instrumento (73,1%), 53.841 recursos de revista (22,5%) e 2.689 recursos ordinários (1,1%), além de 50.084 recursos internos. O índice de provimento dos agravos de instrumento é extremamente reduzido, o que importa afirmar a preservação da esmagadora maioria das decisões proferidas em segunda instância e, por consequência, a sua correção, ainda que por via indireta, ou mesmo em virtude de defeitos técnicos relativos à sua formação, preparo e correta elaboração. Outro elemento que aponto nessa reflexão inicial se relaciona à crítica direcionada ao que se denomina de “jurisprudência defensiva”, de modo a nela indicar postura propositadamente adotada pelos ministros e pela própria Corte no sentido de dificultar o acesso à instância extraordinária e, com isso, obter pronunciamento final em torno de cada uma dos mais de três milhões de processos ajuizados anualmente na Justiça do Trabalho. Em primeiro lugar, porque, como assentado em abalizada doutrina, não há que se falar, em sede constitucional, na existência do direito fundamental ao duplo grau de jurisdição e, menos ainda, a três, quatro ou mais pronuncia- mentos jurisdicionais. Ao discorrerem sobre o direito fundamental à ampla defesa, afirmam Luiz Guilherme Marinoni e Daniel Mitidiero: “O direito à ampla defesa constitui direito do demandado. É direito que respeita ao polo passivo do processo. O direito de defesa é direito à resistência no processo e, à luz da necessidade de paridade de armas no processo, deve ser simetricamente construído a partir do direito de ação. O direito de defesa – com os meios e recursos a ele inerentes – grava todo e qualquer processo. Jurisdicional ou não, estatal ou não, o direito de defesa se impõe como núcleo duro que contribui para a legi- timação da imposição da tutela jurisdicional ao demandado. O direito à ampla defesa determina: (i) a declinação pormenorizada pelo autor da demanda das razões pelas quais pretende impor consequências jurí- dicas ao demandado; (ii) a adoção de procedimento de cognição plena e exauriente como procedimento padrão para tutela dos direitos e para persecução penal; (iii) o direito à defesa pessoal e à defesa técnica no TST 80-04.indb 42 29/12/2014 10:45:21 D O U T R I N A Rev. TST, Brasília, vol. 80, no 4, out/dez 2014 43 processo penal; e (iv) o direito à dupla cientificação da sentença penal condenatória.”2 Não há, portanto, direito inexorável ao recurso. A prevalecer tese em sentido contrário, sequer se poderia falar nas condicionantes por todos admitida dos pressupostos processuais e condições da ação como legítimos limitadores do exercício do direito de ação e, de igual modo, nos pressupostos extrínsecos e intrínsecos de conhecimento do recurso. Ademais, não parece minimamente razoável que todo e qualquer pro- cesso tenha que ser submetido a tantos pronunciamentos, como a identificar a premissa de confirmações sucessivas do veredito pronunciado pelo magistra- do de primeiro grau, sobretudo porque, como dizia o saudoso e inesquecível professor José Joaquim Calmon de Passos, em sua verve crítica, “quanto mais alto é o Tribunal, mais distante está a justiça do povo”. Decididamente, tenho a nítida convicção de que há processos – a esma- gadora maioria, friso – que não poderiam estar no TST, e esses processos estão tomando o lugar de muitos que deveriam obter o exame do TST, em virtude da relevância da controvérsia. O problema é que, para cada litigante, o processo não é um número; não é um registro imaterial; é o seu processo, ao passo que, para os que nele atuam, é mais um processo. Com isso, quem perde sempre quer mais uma chance de tentar reverter o resultado e não se conforma quando lhe é negada essa possibilidade. As Cortes superiores, como por todos sabido, não são Tribunais de Justiça, no sentido de buscar a decisão mais justa à causa. A sua atuação se pauta no plano estrita e rigorosamente técnico, e esse é o primeiro e maior dilema vivenciado por aqueles que nelas ingressam e frequentemente se deba- tem com o ímpeto de reanalisar em profundidade a decisão – como fazem os Tribunais Regionais –, o que não se mostra possível. O “registro fático feito pelo Tribunal” é inalterável, ainda que não tenha sido o mais correto à luz das provas produzidas. Tal como um mantra diariamente repetido na redação dos acórdãos, seria algo como um quadro pintado pelo Tribunal Regional (descrição fática), e cabe ao ministro apenas contemplá-lo (análise jurídica), sem nele tocar (impossi- bilidade de revisão das premissas fáticas) para extrair a interpretação que lhe pareça possível (enquadramento jurídico). 2 SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de direito constitucional. 2. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: RT, 2013. p. 735. TST 80-04.indb 43 29/12/2014 10:45:21 D O U T R I N A 44 Rev. TST, Brasília, vol. 80, no 4, out/dez 2014 Portanto, se, em regra, o objetivo não é fazer justiça e proferir a decisão mais justa possível, diante da controvérsia trazida à apreciação do Judiciário, em face do conflito que precede o ingresso em juízo, longe deverá estar o dilema em torno do resultado injusto, não raras vezes debruçado à sua frente. Isso sem se falar nas incontáveis situações em que o defeito técnico relativo ao processamento do recurso inviabiliza o seu exame. Aliás, nesse particular, sem querer ser ofensivo, infelizmente não são raras as situações em que a responsabilidade recai inteiramente sobre os ombros dos advogados, o que até autorizaria discussão quanto à responsabilidade pelo dano causado à parte em razão da perda de uma chance. Portanto, se o defeito é técnico, a responsabilidade não pode ser atribuída à “jurisprudência defensiva”, a indicar uma certa má vontade do Tribunal em examinar o apelo do caso concreto. A instância, repita-se, é técnica e técnico deve ser – e é – o exame. Tanto é verdade que o Tribunal, por meio de alteração promovida em sua jurisprudência, materializada na Súmula nº 425, limitou o jus postulandi às denominadas “instâncias ordinárias”, em que pese a redação contida no art. 791 da CLT, que o confere aos empregados e empregadores, os quais, na dicção do citado dispositivo, “poderão reclamar pessoalmente perante a Justiça do Trabalho e acompanhar as suas reclamações até o final”, e o “final” poderia passar pelo crivo do TST. Desde então, não mais “poderão”. Portanto, o advento da lei não deve ser encarado como simplória tentativa de redução do acervo de processos do Tribunal e, com isso, minimizar a angústia de cada um dos seus integrantes ao consultar, diariamente, o saldo de processos pendentes de exame, no trabalho singularmente apelidado de “enxugar gelo”. O “processômetro”
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