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W1 DE TEMAS TRANSVERSAIS

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Abílio Paulo Armando 
Fernanda João Assulai 
Nélio Paulo Sanjala 
Inês Constantino Tomás 
Jaquelina António Lemos 
 
 
 
 
 
 
 
Responsabilidade dos Indivíduos na Prevenção do SIDA e da Gravidez, 
Educação para a Sexualidade e Igualdade do Género no Espaço Escolar 
(Curso de Licenciatura em Administração e Gestão Educacional) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Universidade Rovuma 
Nampula 
2021 
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Abílio Paulo Armando 
Fernanda João Assulai 
Nélio Paulo Sanjala 
Inês Constantino Tomás 
Jaquelina António Lemos 
 
 
 
 
 
 
Responsabilidade dos Indivíduos na Prevenção do SIDA e da Gravidez, 
Educação para a Sexualidade e Igualdade do Género no Espaço Escolar 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Universidade Rovuma 
Nampula 
2021 
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Trabalho de carácter avaliativo da 
Cadeira de Temas Transversais III: 
Educação Para a Igualdade de Género a 
ser apresentado no curso de Licenciatura 
em Administração e Gestão Educacional, 
Departamento de Ciências da Educação e 
Psicologia (EAD), Centro de Recursos de 
Cuamba, 4º ano, leccionada pela docente: 
Dr
a
. Sónia Nido 
3 
 
Índice 
Introdução .............................................................................................................................. 3 
1. Responsabilidade do homem e da mulher na prevenção do SIDA e da gravidez ................. 4 
1.1. Prevenção do HIV/SIDA ................................................................................................. 5 
1.1.1. O uso do preservativo e da Circuncisão Masculina ....................................................... 5 
1.1.2. Pré-exposição ............................................................................................................... 5 
1.1.3. Pós-exposição .............................................................................................................. 6 
1.1.4. Prevenção de transmissão vertical: Mãe-filho ............................................................... 6 
1.2. Prevenção da gravidez indesejada .................................................................................... 6 
1.2.1. Métodos de planeamento familiar ................................................................................. 7 
1.2.2. Participação do homem no planeamento familiar: métodos naturais .............................. 7 
2. Educação para a sexualidade e igualdade do género: metodologia e estratégias de .............. 8 
2.1. Estratégias das Escolas na Educação Sexual e Igualdade de Género .............................. 10 
Conclusão ............................................................................................................................ 12 
Bibliografia .......................................................................................................................... 13 
 
 
 
 
 
 
ii 
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Introdução 
O presente trabalho tem como tema: “Responsabilidade dos indivíduos na prevenção do SIDA 
e da gravidez, educação para a sexualidade e igualdade do género no espaço escolar”. Trata-se 
de um suporte teórico fruto de uma pesquisa em grupo para o debate. 
Tem como objectivo geral, analisar a responsabilidade dos indivíduos na prevenção do SIDA 
e da gravidez e da educação para a sexualidade e igualdade do género no ambiente escolar. 
Isso foi possível mediante o uso dos seguintes objectivos específicos: 
 Indicar as responsabilidades do homem e da mulher na prevenção do SIDA e da 
gravidez; 
 Caracterizar a Educação para a sexualidade e igualdade do género; e 
 Mostrar as metodologias e estratégias de implementação da educação para a 
sexualidade e igualdade de género no espaço escolar. 
O trabalho ganha importância na medida em que trás uma consciência para o estudante na 
educação para a sexualidade e igualdade de género no exercício das suas actividades de 
docência. 
A concretização dessa pesquisa foi possível através do uso do método qualitativo baseado na 
técnica bibliográfica. Em termos de estrutura, o trabalho encontra-se organizado em dois 
principais títulos. O primeiro fala da responsabilidade do homem e da mulher na prevenção do 
SIDA e da gravidez e o segundo inteira-se em caracterizar as estratégias necessárias com vista 
a caracterizar a educação para a sexualidade e igualdade de género. 
 
 
 
4 
 
1. Responsabilidade do homem e da mulher na prevenção do SIDA e da gravidez 
A SIDA é uma doença provocada pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH). Este vírus 
é transmitido por contacto com uma pessoa infectada, contacto este que pode ser por via 
sexual, através de contacto com sangue infectado, e da mãe para o filho durante a gravidez, 
parto ou amamentação. 
O VIH (Vírus da Imunodeficiência Humana) é um vírus que ataca e destrói o sistema 
imunitário do nosso organismo, isto é, destrói os mecanismos de defesa que nos 
protegem das doenças. Uma pessoa infectada pelo VIH revela-se progressivamente 
débil e frágil, podendo contrair ou desenvolver infecções muito variadas e/ou mesmo 
certos tipos de cancro. Este vírus pode permanecer “adormecido” no organismo 
durante muito tempo, sem manifestar sinais e sintomas. Durante este período, a 
pessoa portadora do VIH é designada de seropositiva e pode infectar outras pessoas se 
tiver comportamentos de risco (UNESCO, 2006:3). 
O vírus HIV encontra-se principalmente no sangue, no esperma, no líquido pré-ejaculatório e 
nas secreções vaginais de pessoas infectadas. Assim, a transmissão do vírus só pode ocorrer 
se estes fluídos corporais entrarem directamente em contacto com o corpo de uma pessoa, 
pela via sexual e/ou sanguínea. 
Desde a descoberta do SIDA em 1981, “mais de 60 milhões de pessoas foram infectadas pelo 
HIV, e estima-se que cerca de 30 milhões de pessoas perderam segundo ONUSIDA (2014), 
em 2013 o SIDA tirou cerca de 1,5 milhões de vidas, a nível mundial. Estima-se que cerca de 
2,1 milhões de novas pessoas foram infectadas pela doença” (TENGLER & LAISSONE, 
2015:59). A mortalidade e as novas infecções estão a diminuir no mundo, mas o número de 
pessoas a viverem com HIV estão a aumentar, devido ao tratamento e há mais longa 
esperança de vida das pessoas a viverem com HIV. A nível mundial, o número de pessoas a 
viverem actualmente com os vírus, é aproximadamente 30 milhões. 
A gravidez é um processo pelo qual um novo ser humano é gerido a partir do cruzamento 
entre o aparelho reprodutor masculino (espermatozóides) e o aparelho reprodutor feminino 
(óvulo), essas componentes quando se cruzam forma-se o ovo e dá-se o inicio de um novo ser 
humano, esse que vai se desenvolvendo no útero até o seu nascimento. 
No entanto, uma mulher pode ficar grávida, antes de ter o primeiro período menstrual porque 
um óvulo pode ter começado a amadurecer, nos ovários, e pode ser fecundado mesmo na 
primeira relação sexual. Aliás, tudo depende do ciclo menstrual. Se existe um óvulo maduro, 
que saiu do ovário, no mesmo dia, em que a mulher faz sexo com um homem, ela pode 
engravidar. 
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1.1. Prevenção do HIV/SIDA 
Para se prevenir do SIDA dependendo da idade, pode se optar pela abstinência, pela 
fidelidade e pelas práticas de sexo seguro, para garantir a saúde sexual própria e do parceiro, 
evitando assim ITS’s e a infecção por HIV. 
1.1.1. O uso do preservativo e da Circuncisão Masculina 
Segundo Tengler e Laissone (2015:61), “o uso de preservativos reduz o risco de transmissão 
de HIV em cerca de 80% a longo prazo”. Quando os preservativos são utilizados de forma 
consistente por um casal em que uma das pessoas está infectada, a taxa de contaminação por 
HIV é inferior a 1% por ano. Há algumas evidências que sugerem que o preservativo 
feminino pode oferecer um nível de protecção equivalente. A aplicação de um gel vaginal 
contendo tenofovir (um inibidor da transcriptase reversa) imediatamente antes do sexoreduziu as taxas de infecção em aproximadamente 40% entre as mulheres africanas. 
A circuncisão na África subsaariana “reduziu a contaminação de HIV por homens 
heterossexuais entre 38% e 66% em 24 meses”. Com base nesses estudos, a Organização 
Mundial de Saúde e a UNAIDS recomendaram em 2007 a circuncisão como um método 
válido de prevenção da transmissão de HIV da mulher para o homem. A eficácia desse 
método na protecção contra a transmissão de homem para mulher ainda é contestada e os 
benefícios da circuncisão nos países desenvolvidos e entre homens que fazem sexo com 
homens ainda são indeterminados, (Idem). 
1.1.2. Pré-exposição 
O tratamento de pessoas infectadas com HIV, cuja contagem de células CD4 for igual ou 
maior que 350 células/μL, com anti-retrovirais protege 96% dos seus parceiros sexuais contra 
a infecção. Trata-se de uma redução de 10 a 20 vezes no risco de transmissão. A profilaxia 
pré-exposição com uma dose diária de tenofovir, com ou sem emtricitabina, é eficaz em uma 
série de grupos, incluindo homens que fazem sexo com homens, casais heterossexuais em que 
um dos membros está infectado pelo HIV e jovens africanos. Ela também pode ser eficaz em 
usuários de drogas injectáveis, sendo que um estudo determinou uma diminuição no risco 
entre 0,7 e 0,4 por 100 pessoas ao ano (ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO 
TRABALHO, 2006:26). 
Algumas precauções universais dentro do ambiente de assistência de saúde são consideradas 
eficazes na redução do risco de contaminação por HIV. O uso de drogas injectáveis é um 
6 
 
importante factor de risco e estratégias de redução de danos, como programas de troca de 
agulhas e de terapia de substituição de opiáceos, parecem ser eficazes em diminuir este risco. 
1.1.3. Pós-exposição 
A administração de anti-retrovirais dentro de 48 a 72 horas após a exposição ao sangue ou 
secreções genitais de uma pessoa infectada pelo HIV é o período referido como profilaxia 
pós-exposição (PPE). A utilização de um único anti-retroviral, a zidovudina, reduz o risco de 
uma infecção por HIV em cinco vezes após um ferimento por picada de agulha. Em 2013, o 
regime de prevenção recomendado nos Estados Unidos consistia em três medicamentos: 
tenofovir, emtricitabina e raltegravir, alcançando uma redução ainda maior do risco. 
O tratamento PPE é recomendado após uma agressão sexual quando sabe-se que o agressor 
seja HIV positivo, mas é controverso quando o seu estado sorológico é desconhecido. 
Geralmente, a duração do esquema profilático é de quatro semanas e é frequentemente 
associado com efeitos colaterais quando a zidovudina é usada; cerca de 70% dos casos 
resultam em sintomas adversos, como náuseas (24%), fadiga (22%), angústia emocional 
(13%) e dores de cabeça (9%), (UNESCO, 2006:63). 
1.1.4. Prevenção de transmissão vertical: Mãe-filho 
Na concepção de Tengler e Laissone (2015:82), programas de prevenção da infecção perinatal 
pelo HIV (de mãe para filho) podem reduzir as taxas de transmissão de 92 a 99%. A 
prevenção é principalmente usar uma combinação de medicamentos antivirais durante a 
gravidez e após o nascimento do bebé, além de usar mamadeiras ao invés de amamentar a 
criança. Se a substituição da alimentação é aceitável, factível, acessível, sustentável e segura, 
as mães devem evitar amamentar seus bebés; a amamentação exclusiva porém é recomendada 
durante os primeiros meses de vida, se este não for o caso. Se a amamentação exclusiva é 
realizada, o fornecimento de profilaxia anti-retroviral prolongada ao lactente diminui o risco 
de transmissão do vírus. 
1.2. Prevenção da gravidez indesejada 
Como se pode constatar, para prevenirem-se do SIDA e da gravidez indesejada, é importante 
que o homem e a mulher optem por um comportamento responsável, quer dizer, é necessário 
que optem por uma atitude consciente da sua sexualidade definindo quando e com quem 
pode-se envolver sexualmente. 
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1.2.1. Métodos de planeamento familiar 
O Casal, Parceiro ou parceira deve ficar bem informado, sobre os métodos de Planeamento 
Familiar disponíveis, e fazer a escolha do método mais apropriado, conforme a sua 
consciência. 
O planeamento familiar ajuda a: 
 Evitar uma gravidez indesejada; 
 Diminuir as mortes maternas e infantis; 
 Ter melhores condições de saúde e vida, para os pais e as crianças, porque: 
 A mulher pode ter mais tempo, para descansar, e ter mais energia e tempo, para cuidar 
de si, das crianças e de toda família. 
 O bebé pode receber leite do peito materno, por mais tempo, e receber mais carinho 
dos pais. 
 O homem e a mulher podem organizar melhor a sua família, e assegurar-lhe melhores 
condições económicas e de saúde. 
Para os adolescentes, o planeamento familiar faz com que se evitem as seguintes 
consequências de ter o seu bebé precoce e de forma não planificada: 
 Complicações para a saúde da rapariga; 
 Complicações para a saúde do bebé, como, por exemplo, o nascimento com baixo 
peso; 
 Consequências negativas para a vida do rapaz ou rapariga, como por exemplo: deixar 
de estudar, não ter condições financeiras, para uma família, conflitos nas famílias, etc., 
(TENGLER & LAISSONE, 2015:20). 
1.2.2. Participação do homem no planeamento familiar: métodos naturais 
Ter uma família e uma relação feliz é um desejo de ambos os parceiros. O planeamento 
familiar contribui para uma vida feliz e saudável, e por isso não é só um assunto de mulheres, 
é um assunto do casal. 
Há métodos de Planeamento Familiar só para homens. O homem pode ajudar a mulher a 
descansar, do uso dos métodos do Planeamento Familiar. 
Os métodos naturais do planeamento familiar são: 
 Abstinência: o método mais seguro de PF, e sem nenhum efeito colateral. 
8 
 
 Coito interrompido: permanece um risco de gravidez, porque alguns espermatozóides 
podiam entrar na vagina, quando inicia a ejaculação e o pénis ainda não foi retirado. 
 Uso do calendário: precisa de um registo confiável. 
 Método de temperatura basal, para determinar os dias férteis da mulher, e abster-se das 
relações sexuais, durante estes dias. Depende do ciclo da mulher. Permanece um risco 
de engravidar. 
Os métodos modernos do planeamento familiar são: 
 Pílulas; 
 Injectável (Depo-Provera); 
 Preservativo (masculino e feminino); 
 DIU (Dispositivo Intra-uterino); 
 Implante; 
 Laqueação; 
 Vasectomia. 
2. Educação para a sexualidade e igualdade do género: metodologia e estratégias de 
implementação no espaço escolar 
Sexualidade refere-se ao lado afectivo, psicológico e sexual de uma pessoa do sexo feminino 
ou masculino, ou transgénero ou transsexual. Possui uma abrangência muito maior, levando à 
construção dos papéis sexuais esperados para cada membro da sociedade (homem/mulher), 
dentro de um dado grupo social, (TENGLER & LAISSONE, 2015:27). 
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, “a Sexualidade forma a parte integral da 
personalidade de cada um. É uma necessidade básica e um aspecto do ser humano, que não 
pode ser separado de outros aspectos da vida. A Sexualidade é a energia que motiva a 
encontrar o amor, o contacto e a intimidade, e se expressa, na forma de sentir, na forma de as 
pessoas se tocarem e serem tocadas, na busca de prazer” (OMS, 2004). Inclui sensualidade, 
erotismo, desejo de contacto, ternura e amor. 
O desenvolvimento da sexualidade acontece, durante toda a vida, no ser humano, conhecendo 
as etapas fisiológicas: infância, adolescência, idade adulta e terceira idade. A sexualidade é 
produto de características genéticas, interacções ambientais, influências socioculturais e 
religiosas. Por exemplo, em algumas sociedades, promove-se a poligamia, enquanto em outras 
não. 
9 
 
O termo género, por sua vez, tem sido usado em vários contextos tomando conotações bem 
distintas. No âmbito de correntes feministas, a definição do termo enfatiza a noção de cultura, 
ressaltando diferentemente do conceitode sexo, que se situa no plano biológico, um carácter 
intrinsecamente relacional do feminino e do masculino. 
Por ser a definição desse termo muito complexa, Silva e Vargens (2009:402), adverte que: 
Há uma complexidade ao definir a palavra género, pois se relaciona com o social e o 
subjectivo e exerce influências em diversas situações. Género é a forma de apontar as 
construções sociais, na ideia de papéis diferentes para homens e mulheres. É uma 
maneira de se referir às origens sociais das identidades exclusivas de homens e 
mulheres. 
Dessa forma, todo processo de organização social é determinado por assimetrias de género, 
como argumenta Fonseca (2005:453), ao afirmar que cada sociedade e, nela cada grupo 
social, criam padrões de dominação, manifestos por meio de condições como riscos de 
contrair doenças e práticas socioculturais negativas somente para serem aceitos como 
membros da mesma sociedade. 
Quando reflectimos a esse respeito e nas questões de género no ambiente proposto a 
investigação, vemos que na escola se encontram as mais variadas experiências de vida e 
realidades sociais. Torna-se fundamental compreender e saber lidar com essas diversidades, 
serrando o preconceito, estigma e discriminação e tornando a sociedade mais justa e 
igualitária. 
A desigualdade de género é uma das violações mais persistentes dos Direitos Humanos em 
nosso tempo. Propor diálogos, e desenvolver projectos que promovam a igualdade entre os 
géneros na escola é remover barreiras sociais e culturais, barreiras estas que por muitas vezes 
impedem a sociedade elevar-se culturalmente e potencialmente. É essencial que nós como 
educadores possamos ajudar essa nova geração a modelar uma nova sociedade, livre do ódio, 
do ópio das desigualdades, justa e igualitária. 
A violência de género no ambiente escolar tem causado um impacto negativo na educação de 
milhões de crianças em todo o mundo (UNESCO, 2015). Por esse motivo promover a 
reflexão e debate ao presente tema em ambiente escolar é necessário sendo que esta é uma das 
formas de construir uma nova sociedade livre de preconceitos, reflexiva, crítica e igual. É 
através da educação que o mundo pode ser transformado. 
Conforme expõe Nora Fyles, directora da Iniciativa da ONU pela Educação das Meninas: 
10 
 
Apesar dos avanços nos últimos 20 anos, a violência de género na sala de aula e no 
ambiente escolar permanece invisível. Para lidar com esse problema, os governos, e a 
sociedade civil devem se envolver mais para proteger as crianças e buscar por meio 
da educação a mudança necessária. A violência de género relacionada ao ambiente 
escolar inclui assédio verbal ou sexual, abuso sexual, punição física, além do 
bullying, que afecta cerca de 246 milhões de meninos e meninas todos os anos 
(UNESCO 2015: 24). 
A violência de género pode gerar aumento da evasão, fraco desempenho, desistência escolar, 
baixa auto-estima, depressão. Todos estes elementos têm impacto negativo na aprendizagem e 
no bem-estar dos estudantes (UNESCO, 2015). As escolas devem ser um refúgio para as 
crianças, especialmente para aquelas em cidades e bairros marginalizados afectados pelas 
desigualdades sociais. É vital que a comunidade académica realize pesquisas para 
compreender a escala e o alcance da desigualdade de género relacionada ao ambiente escolar, 
bem como para desenvolver políticas e propostas pedagógicas para eliminá-las. 
2.1. Estratégias das Escolas na Educação Sexual e Igualdade de Género 
Analisando a situação actual sobre a falta de conteúdo sobre a sexualidade e igualdade de 
género nas escolas, verifica-se que isso deve-se pelo facto de, em primeiro lugar, a maior 
parte da docência não ter a formação académica sobre esses temas para se apropriar dos 
conhecimentos que vêm sendo produzidos já há algumas décadas nesse campo. 
Louro (2004:68) aponta que, “no campo da educação, a ignorância sempre foi concebida 
como o outro do conhecimento e, então, repudiada. Agora, a ideia é compreendê-la como 
implicada no conhecimento, o que, surpreendentemente, leva a considerá-la valiosa”. Ela 
explica que qualquer problema, quando posto, deixa de fora outras perguntas. Ou seja, o que 
fica de fora é a resistência ao conhecimento e é justamente o que nos deveria incentivar a 
compreender certos grupos. 
Em segundo lugar, a implicação do sujeito nas suas acções pedagógicas se constitui em outra 
dificuldade de abordagem dos conteúdos de género e sexualidade. É a implicação da autoria 
do discurso, do seu lugar de fala e de seus interesses políticos. Portanto, qualquer docente, em 
sala de aula, é um sujeito implicado porque vai se expressar a partir de seu ponto de vista. 
A terceira razão para não tratar dos temas da diversidade sexual e de género seria a protecção 
das crianças e, nesse sentido, vale frisar as considerações apontadas por Foucault quando trata 
da sexualidade e as crianças. O autor nos possibilita pensar a escola como uma fábrica de 
construção de corpos dóceis (FOUCAULT, 2009:131). 
11 
 
O mesmo autor afirma que: 
As crianças, por exemplo, sabe-se muito bem que não têm sexo: boa razão para 
interditá-lo, razão para proibi-las de falarem dele, razão para fecharem os olhos e 
tapar os ouvidos onde quer que venham a manifestá-lo, razão para impor um silêncio 
geral e aplicado. Isso seria próprio da repressão e é o que a distingue das interdições 
mantidas pela simples lei penal: a repressão funciona, decerto, como condenação ao 
desaparecimento, mas também como injunção ao silêncio, afirmação de inexistência 
e, consequentemente, constatação de que, em tudo isso, não há nada para dizer, nem 
para ver, nem para saber (FOUCAULT, 2014:10). 
Uma outra questão recorrente é o entendimento de que falar de sexualidade é explorar os 
conteúdos curriculares de reprodução humana, métodos anticoncepcionais e doenças 
sexualmente transmissíveis. A docência de Biologia e de Ciência é reiteradamente convocada 
para tratar desses assuntos, mas é importante não limitar essa abordagem apenas às 
perspectivas biológicas da ciência moderna, negando suas implicações socioculturais. 
Apesar das razões anteriormente citadas, a docência pode se posicionar de variadas formas. 
Pode calar e, com seu silêncio, ser cúmplice das injúrias e demais violências praticadas por 
estudantes e/ou docentes; pode abertamente se posicionar ao apoiar os movimentos 
discriminatórios; pode também oportunizar o aparecimento do discurso religioso para 
condenar esse/a ou aquele/a estudante; pode buscar a gestão e a família para tentar “resolver o 
problema” do/a estudante afeminado/a (MISKOLCI, 2012: 58-60); mas pode, ainda, em um 
processo dialógico permanente e cuidadoso, aproveitar as inúmeras situações que surgem no 
quotidiano escolar para lidar com as questões de género e de sexualidade e buscar a 
problematização da heterossexualidade obrigatória, independentemente da disciplina 
leccionada. Nesse sentido, calar-se está longe de uma postura de neutralidade; ao contrário, 
significa cumplicidade com o preconceito, consequência da ignorância sobre o assunto. Calar-
se é também contribuir com as estatísticas de exclusões e de mortes oriundas do processo 
social da homo-lesbo-transfobia. 
Com isso, é importante na formação de professores: aprofundar o conhecimento sobre os 
diferentes temas/problemas interdisciplinares da sexualidade humana e os modelos teóricos; 
reflectir sobre a prática para melhorar o conhecimento pedagógico do conteúdo e 
consequentemente, ensina-lo aos alunos em sala de aulas. 
 
12 
 
Conclusão 
Em gesto de conclusão, importa referir que a sexualidade é uma componente fundamental da 
vida humana. É preciso vivê-la, com responsabilidade e com respeito pela sua própria pessoa 
e pelo parceiro. 
Enquanto o sexo é fixado pela natureza, os papéis do género são atribuídos pela sociedade, e 
mudam, de uma sociedade para outra, e ao longo do tempo. 
A nossasociedade considera a heterossexualidade como padrão; o que causou estigma e 
discriminação para pessoas com orientação e identidade sexual fora da heterossexualidade. 
Assim, programas de incentivo a abstinência sexual não parecem afectar o risco de 
contaminação por HIV. Evidências de benefícios em educação de casais também são 
igualmente pobres. No entanto, uma educação sexual abrangente, desde a escola, pode 
diminuir os comportamentos de alto risco. Uma minoria significativa de jovens continua a se 
envolver em práticas de alto risco, apesar de saberem sobre a existência e as consequências da 
AIDS, subestimando seu próprio risco de se infectar com o HIV. 
 
 
 
 
13 
 
Bibliografia 
FOUCAULT, Michel. A história da sexualidade: A vontade de saber. São Paulo: Paz e Terra, 
 2014. 
_____________. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009. 
LOURO, Guacira Lopes. Género, sexualidade e educação. Petrópolis: Vozes, 2004. 
MISKOLCI, Richard. Teoria queer: um aprendizado pelas diferenças. Belo Horizonte: 
 Autêntica Editora, UFOP- Universidade Federal de Ouro Preto, 2012. 
ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. Trabalho digno: trabalho m 
 Segurança – VIH/SIDA. Relatório do BIT para o dia mundial da segurança e 
 segurança no trabalho; Genebra, 2006. 
SILVA, C. M. & VARGENS, O. M. C. Percepção de mulheres quanto à vulnerabilidade 
 Feminina para contrair DTS/HIV. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 2009. 
TENGLER, Hemma & LAISSONE, Elton. Habilidades de vida, saúde sexual e reprodutiva, 
 Género e HIV/SIDA. Beira, UCM – Manual do Estudante; 2015. 
UNESCO studies the Pulaar culture. HIV and AIDS prevention: Courtship and marriage in 
 tje Pulaar tradition oral history by Pulaar elders. UNESCO. Paris, UNESCO, 2006.

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