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Adna Gomes Oliveira Mestranda em História Social do PPGHS - UERJ Resenha: PEREIRA, Amauri. “Um raio em céu azul”. Reflexão sobre a política de cotas e a identidade nacional brasileira. In: Estudos Afro-Asiáticos, ano 25, nº 23, 2003, p. 463- 482. Amauri Mendes Pereira é doutor em Ciências Sociais e especialista em História da África, militante do movimento negro foi participante da criação do Movimento Negro Unificado (MNU) em São Paulo, fundou a Sociedade de Intercambio Brasil-África (Sinba), foi redator e dirigente do jornal Sinba, publicado pela mesma entidade em 1977 e 1980. Integrou a direção do Instituto de Pesquisas das Culturas Negras (IPCN) fundado em 1975 no Rio de Janeiro. Sempre envolvido em movimento da questão da cultura afro tendo seus trabalhos acadêmicos sempre direcionado nessa temática. E nesse artigo ele traz uma abordagem acerca da identidade brasileira, o pensamento social utilizando como tema central a política de cotas raciais implementadas a partir de 2001. No texto propriamente dito “Um raio em céu azul”. Reflexões sobre a política de cotas e a identidade nacional brasileira, Amauri Mendes Pereira busca abordar o pensamento social brasileiro a luz do impacto social causado pela implantação das cotas raciais em 2001. Medida anunciada pela presidência da República durante a Conferência Mundial contra o Racismo em Durban. Naquela ocasião o presidente autorizava a delegação brasileira a defender a adoção de cotas com fins de atenuar as desigualdades raciais. O objetivo de sua análise é mostrar como essa medida trouxe à tona e desmascara o ideal identitário e suscitou novamente o debate acerca da questão racial no pensamento social brasileiro. O autor utiliza como método de estudo uma breve análise e discussão da trajetória do pensamento social brasileiro, buscando encontrar respostas que conformem esse impacto causado pela adoção das cotas naquele momento, resultado que é atribuído a um processo sociocultural. Fazem parte desse pensamento os chamados Estudos Afro- Brasileiros, nos quais são colocados em cheque pelo autor, afim de confrontar esses resultados, e trazer para o debate a sua contribuição das discussões e movimentos que tem como alvo a “questão racial no país”, e em que proporções tem esses movimentos, estudos, debates e pensamento cientifico “responsabilidades no quadro atual”. O texto aborda uma temática muito atual, considerando a nossa conjuntura sócio política, na qual vemos a revelação do racismo explicito e implícito sendo reconfigurado através das redes sociais. Por isso compreendemos quando o autor afirma, em outras palavras, que o pensamento sobre a questão racial não abarca, nem mesmo com toda abordagem dos especialistas no assunto, pois estes também encontram dificuldades para se posicionarem, apesar da interação dos seus estudos com as lutas anti-racistas. Sendo este o motivo para a elaboração desse texto. O autor sugere um estudo das relações raciais, em substituição ao tema “questão racial, pois a seu ver dialogam muito mais entre si do que com a dinâmica efetiva – que é a presença permanente (queira-se ou não) da questão racial, pois de acordo com sua percepção esse tema dá sinais de desgastes e intolerância pela própria sociedade, passando uma impressão de que as pessoas se incomodam com o tema a ponto de se tornar intolerantes. pg. 466. Através do conceito de dinâmica efetividade, Amauri vai traçando a trajetória das tentativas de se abordar e inserir a questão racial no processo social brasileira e incluí-la de alguma forma no contexto brasileiro. Ao que parece sendo concebida e instalada provoca e exige soluções, pois percebe-se que a não efetivação da questão racial nas várias instâncias torna o racismo velado e oculto. Mesmo que tenha sido somente utilizada como pano de fundo de projetos e sustentação política conforme afirma em sua análise. A efetividade da questão racial é o fio condutor da observação quanto ao problema do debate racial no Brasil, para ele o termo é utilizado por grupos de movimentos antirracistas e estudiosos do assunto como forma de forçar a sociedade e as instituições ceder espaço para as discussões. Entretanto o tema “Questão Racial” ficou, durante todo esse tempo, no plano das ideias da intelectualidade, ação efetivamente não houvera, até a implantação das cotas raciais, momento em que eclode um furor social com discussões da legitimidade das cotas, no qual polarizou-se o debate, e trouxe a participação, a oportunidade efetiva dos negros no pensamento intelectual e a possibilidade de se posicionar na sociedade. O autor vai costurando sua análise mencionando momentos em que a intelectualidade do pensamento social brasileiro destacava a questão racial no país desde as teses do branqueamento. Figuras emblemáticas como Nina Rodrigues1 e Oliveira 1 Raimundo Nina Rodrigues foi um médico legistas, interessado nos estudos raciais no Brasil que defendia a tese da inferioridade física e mental dos negros e mestiços, baseando-se no conhecimento produzido pelo criminalista italiano Lombroso e outros. Produziu diversas obras nas quais buscou analisar e explicar Viana,2 assim como também Roquete Pinto e Manuel Bonfim, levantaram debates da questão racial, entretanto preocupados com o lugar que a raça negra estava ocupando na sociedade brasileira, lugar este que não lhes seria possível, pois suas teses contrariavam a miscigenação, há uma defesa da pureza da etnia brasileira e a inferiorizarão do negro. Através dessa metodologia o autor faz um panorama sobre o pensamento social brasileiro frente a questão racial e mostra mudanças de abordagem do tema após a Conferência Mundial contra o Racismo em Durban em 2001. Durante o processo da Conferência foram se formando alianças de vários setores e movimentos, juntamente com o legislativo e judiciário no qual foi possível alcançar maior visibilidade à questão das desigualdades raciais e a necessidade de implementação de ações afirmativas. Quanto a proposta de reflexão, o autor tenta responder o porquê do impacto e da comoção relativo a proposta das cotas raciais, para tanto aborda pontuais acontecimentos que levaram algumas poucas ações e tentar mostrar que o pensamento social do país é racista. A questão existe e sempre existiu, mas a sua efetividade servia para lembrar da sua existência, entretanto o autor não chega a nenhum denominador. Ele perde fio condutor ao tentar associar o pensamento negativo da questão racial como as teses de branqueamento com os estudos afro-brasileiro e os movimentos dos negros em determinada época. O texto possui um indicativo de ser para os estudiosos do assunto, sua linguagem não é muito acessível para leigos, sendo muito própria para acadêmicos, entretanto se salva por tratar de um tema que hoje está na pauta da sociedade, o que faz com que proporcione desejo ao leitor de pesquisar mais a respeito do assunto. Para os estudiosos no assunto é uma contribuição no quesito conceito, pois foi bem adequado e bem defendido o conceito de “efetividade da questão racial”, como também sua proposta de se substituir o debate para relações raciais ao invés de questão racial. provas irrefutáveis da inferioridade do negro e mestiço. Suas provas baseavam-se em casos de crimes, de loucura, e crenças religiosas. 2 Oliveira Viana, jurista e professor, suas obras, versando sobre a formação do povo brasileiro, têm o mérito de ser das primeiras que tentaram abordar o tema sob um prisma sociológico e diferenciado, defensor da eugenia racial no Brasil, limpeza étnica
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