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CADERNO DE DIREITO AMBIENTAL

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CADERNO DE DIREITO AMBIENTAL 
PROFESSOR DR. DANIEL BRAGA LOURENÇO 
TURMA C – 2018.1 
MARIA EUGÊNIA PINHEIRO SENA DA SILVA 
 
E-MAIL: daniel@lourenco.adv.br 
DIREITO AMBIENTAL - INTRODUÇÃO 
Uma primeira pergunta que devemos fazer, é o porquê da existência da 
regulação ambiental. Qual a razão da existência dessa regulação? Podemos 
responder essa questão com base no pensamento do autor Garret Hardin, no 
artigo "A Tragédia das Commons", 1968. Inicialmente, precisamos conceituar 
“Commons”. Commom é um instituto do direito anglo-saxão, que significa, 
basicamente, pedaço de terra explorado conjuntamente. 
Neste trabalho, o autor pede para que imaginemos uma commom onde 
há três pastores de ovelhas, com o rebanho de tamanho aproximadamente 
igual. Não podemos esquecer que o ser humano é um ser egoísta, e tende a 
querer maximizar seus interesses. Entre esses interesses, está o interesse de 
proteger e maximizar patrimônio. 
Passado algum tempo, um dos pastores tem a ideia de acrescentar mais 
um animal em seu rebanho, que é considerado pelo autor como uma unidade 
produtiva. Entende-se, então, que a partir deste acréscimo haverá um prejuízo 
para a coletividade, representado por uma fração resultante da pressão 
ambiental por existir mais um animal. 
Dito isso, o prejuízo derivado do incremento patrimonial afetará a todos 
os integrantes da Commom. O autor utiliza essa metáfora para resolver o 
problema que se dá entre a privatização de bônus e a socialização de perdas. 
Quando o empreendedor captura um bem ambiental para coloca-lo 
como um insumo em sua cadeia produtiva, está privatizando um bem, que em 
principio é um bem coletivo. Por outro lado, há sempre um aspecto negativo em 
termos de acréscimo de pressão ambiental. Assim, a perda gerada por essa 
atividade produtiva não será suportada apenas por um indivíduo. Esses 
impactos ambientais são compartilhados por uma sociedade inteira. 
Para solucionar esse problema, inserimos a figura do Estado, para tentar 
minimizar as perdas, regulando as atividades. Isto posto, entendemos que o 
direito ambiental é um direito puramente regulador, com a meta de limitar a 
livre iniciativa em nome da preservação ambiental. 
Cada vez mais, tem se pensado que um problema ambiental não é só 
um problema do Estado, mas da sociedade como um todo. A constituição 
quando trata da matéria ambiental impõe um dever, no sentido de preservar, de 
defender o meio ambiente. 
Muitas pessoas, equivocadamente, depositam esperança na resolução 
dos problemas ambientais através da tecnologia, e isso não tem se mostrado 
verdadeiro. As novas tecnologias são boas, mas normalmente, trazem novas 
questões que não eram inicialmente pensadas. 
Um exemplo disso está no artigo "As Raízes Históricas da Tecnologia 
Ambiental" - Lynn White, 1967, onde o autor diz que, nas grandes cidades em 
um período onde os meios de transporte eram basicamente de tração animal, o 
principal problema era lidar com os dejetos animais. Surge, então, como uma 
solução, o automóvel, que em um primeiro momento, resolveria o problema. 
Contudo, o que notamos atualmente, é que o automóvel é um dos principais 
causadores dos problemas ambientais. *Essa questão da solução para os 
dejetos animais foi a principal causa do primeiro encontro internacional sobre 
direito ambiental, conforme veremos nesta aula. 
O professor, ainda, cita o exemplo da energia elétrica. Indica que a 
lâmpada fluorescente veio após a lâmpada normal, o que contribuiu para uma 
econômica de energia. O LED é até melhor. No entanto, nos últimos 30 anos 
houve aumento do uso per capta de energia elétrica. Dessa forma, surge o 
seguinte questionamento: Se a lâmpada gasta menos energia, por que 
consumimos mais? A resposta é bem simples: porque os aparelhos eletrônicos 
à disposição são muito mais numerosos (celulares, computadores, ar 
condicionado, etc.). Atualmente, há certa vulgarização da sustentabilidade. 
Muitas pessoas e empresas tratam desse assunto, mas poucas delas 
realmente realizam atitudes sustentáveis. 
A Conferência de Estocolmo foi a primeira grande conferência 
internacional de direito ambiental, em 1972. Em 1992, houve a conferência Eco 
92, e em seguida, em 2012, a Rio+20. A principal dificuldade encontrada 
nessas conferenciais é a de implementar políticas efetivas de preservação 
ambiental. No relatório final da conferência, a palavra natureza foi escrita 
apenas 5 vezes, “animais” apenas 2 vezes. A palavra desenvolvimento 
apareceu 293 vezes. 
 
HISTORIA DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 
É equivocado pensar que a legislação ambiental é uma coisa nova, ou 
que surgiu com a Constituição de 1988, vez que, no Brasil sempre existiram 
normas ambientais, como, por exemplo, a legislação ambiental presente nas 
Ordenações do Reino, em que haviam normas ambientais proibindo caça de 
certas espécies e o sofrimento excessivo dos animais, por exemplo. É claro 
que essas normas não eram normas pontuais, mas sempre houve, em alguma 
medida, uma preocupação normativa com o tema. 
Em 1602, foi publicada uma lei sobre pesca de baleias no Brasil, e em 
1605, uma lei sobre o Pau-Brasil. Por que a gente decide fazer uma lei sobre 
pesca de baleias? Porque na região nordeste a pratica da pesca de baleia era 
recorrente, e seu óleo era utilizado na iluminação pública. Partindo deste 
panorama, surge a preocupação com a pesca desenfreada de baleias e a 
possibilidade de extinção por conta da ausência de regulação. E qual a lógica 
dessa lei? A lógica dessa lei é enxergar essas baleias como uma commodity. 
Da mesma forma, a lei sobre a extração do Pau-Brasil, surge com a 
preocupação do esgotamento dessa commodity. 
Em 1934, Getulio Vargas editou uma série de normas ambientais por 
meio de decretos presidenciais, regulando alguns setores importantes, como 
por exemplo, os códigos de mineração, de águas, florestal, e a primeira grande 
lei de proteção aos animais. Embora fossem decretos, eles têm valor de lei. 
Depois da Segunda Guerra Mundial, temos uma modificação muito 
grande em termos no padrão de consumo (o padrão americano de vida), que 
traz muitas questões para o direito ambiental. Atrás dessas questões surgem 
grandes acidentes ambientais (que deram origem a Conferência de 
Estocolmo), como por exemplo, em 1952, o episódio do Smog (Smoke Fog) - 
nesse período, muitas pessoas utilizavam o carvão para se aquecer no inverno, 
e nesse ano, o fog se juntou a fumaça do carvão, e isso provocou a morte de 
muitas pessoas por contaminação da atmosfera. 
Em 1958, no Japão, houve um acidente na baia de Dinamarca, que 
envolveu uma fábrica muito poderosa naquele momento, que despejava 
regularmente mercúrio no mar. As pessoas passaram a ficar contaminadas por 
mercúrio. Hoje podemos dizer que o oceano é um grande poço de metais 
pesados. *A contaminação de mercúrio ocorre também por conta da atividade 
de mineração. 
No ano de 1962, foi lançado o livro "Primavera Silenciosa", em que a 
autora Rachel Carson chama atenção sobre o uso indiscriminado do uso de 
defensivos agrícolas na lavoura, e demonstrava isso com a redução da vida 
animal nos locais em que havia grande pulverização de agrotóxicos. 
Nos Estados Unidos, em 1969, surge o National Environmental Policy Ac 
- NEPA, uma grande norma que criou a política federal ambiental, que, 
posteriormente foi copiada pelo Brasil, em 1981. 
Em 1972, por conta de todos os problemas supracitados, é realizada a 
Conferência de Estocolmo, onde houve um grande debate entre os países 
desenvolvidos e os países em desenvolvimento. Apesar de muito importante, a 
Conferência não trouxe muitas mudanças efetivas, porque os mais 
desenvolvidos queriam impedir o avanço do desenvolvimento dos menos; não 
houve consenso. 
No Brasil temos a Lei 6938/81 - Lei da Política Nacional do Meio 
Ambiente (PNMA), anterior a promulgação da Constituição de 1988, que traz 
uma conformação entre osprincipais órgãos de gestão ambiental no Brasil e 
um balizamento sobre a responsabilidade civil e administrativa ambiental. É o 
mais perto que temos de um código ambiental. 
Na sequência temos a Constituição de 1988, que inovou no mundo 
jurídico, dedicando um capitulo especifico para a matéria ambiental, formado 
por um único dispositivo, que é o Art.225. 
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente 
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia 
qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o 
dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras 
gerações. 
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder 
público: 
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover 
o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; 
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do 
País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de 
material genético; 
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e 
seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a 
alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada 
qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que 
justifiquem sua proteção; 
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade 
potencialmente causadora de significativa degradação do meio 
ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará 
publicidade; 
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, 
métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade 
de vida e o meio ambiente; 
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a 
conscientização pública para a preservação do meio ambiente; 
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas 
que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção 
de espécies ou submetam os animais a crueldade. 
§ 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar 
o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida 
pelo órgão público competente, na forma da lei. 
§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente 
sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções 
penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar 
os danos causados. 
§ 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do 
Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio 
nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de 
condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive 
quanto ao uso dos recursos naturais. 
§ 5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos 
Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos 
ecossistemas naturais. 
§ 6º As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua 
localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser 
instaladas. 
§ 7º Para fins do disposto na parte final do inciso VII do § 1º deste 
artigo, não se consideram cruéis as práticas desportivas que utilizem 
animais, desde que sejam manifestações culturais, conforme o § 1º 
do art. 215 desta Constituição Federal, registradas como bem de 
natureza imaterial integrante do patrimônio cultural brasileiro, 
devendo ser regulamentadas por lei específica que assegure o bem-
estar dos animais envolvidos. 
 
DEFINIÇÃO LEGAL DE MEIO AMBIENTE 
A definição legal de meio ambiente aparece na lei 6938/81, em seu 
artigo 3º, I. Esse artigo nos traz uma serie de conceitos em matéria ambiental. 
Art. 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: 
I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e 
interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e 
rege a vida em todas as suas formas; 
 
- Quais os elementos que constituem o meio ambiente? 
Os autores dizem que a definição presente na lei esta muito voltada a 
uma dimensão de meio ambiente natural. O problema é que esta não seria a 
única dimensão da matéria ambiental, em outras palavras podemos dizer que 
esta definição é uma dimensão limitada. Os autores indicam que existe o 
chamado meio ambiente artificial, o meio ambiente cultural, e o meio ambiente 
do trabalho. Essas seriam as três outras principais dimensões do meio 
ambiente. 
• MEIO AMBIENTE ARTIFICIAL: o meio ambiente artificial designa toda a 
preocupação com o ordenamento urbano. Essa preocupação existe 
porque hoje a realidade é que a maioria das pessoas vive na cidade. 
Sentiu-se a necessidade, portanto, que criemos regras para permitir que 
as pessoas que vivem nas cidades tenham uma melhor qualidade de 
vida. A própria Constituição Federal quando trata da exigência do plano 
diretor, que é um dever que determinados municípios tem, procura 
organizar as cidades. Outro exemplo é o Estatuto das Cidades, que 
também procura criar mecanismos de gestão urbana, como o estudo de 
impacto de vizinhança (professor da o exemplo da construção de um 
shopping). Alguns autores defendem que o direito urbanístico seria um 
direito preocupado em enfrentar os mecanismos de gestão urbana. 
• MEIO AMBIENTE CULTURAL: o meio ambiente cultural procura cuidar 
das criações humanas que tem relevância cultural, sejam elas materiais 
ou imateriais. Por exemplo, obras de artes, estátuas, edifícios históricos, 
folclore, danças típicas, religiões, a musica, etc. São todas as 
manifestações que possuem relevância para a identidade e a memória 
do povo. A Constituição Federal em seus artigos 215 e 216, tutela, 
basicamente, os chamados direitos culturais e o patrimônio cultural 
(como por exemplo, o direito a meia entrada). A lei ambiental não 
protege todos os tipos de manifestações culturais. Um exemplo disso é o 
crime de balonismo, ou o caso do grafite e da pichação, ainda que 
muitas pessoas entendam que a pichação e o grafite são manifestações 
culturais. Juridicamente a lei de crimes ambientais prescreve também 
um tipo penal para a pichação e o grafite, ressalvando que é possível 
existir grafite desde que com autorização prévia. Entende-se, portanto, 
que existe a necessidade do ordenamento proteger e fomentar o meio 
ambiente artístico, mas que essa proteção não impossibilita a criação de 
restrições. *O tombamento é um instituto de preservação do meio 
ambiente cultural. 
Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos 
culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e 
incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais. 
§ 1º O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, 
indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do 
processo civilizatório nacional. 
§ 2º A lei disporá sobre a fixação de datas comemorativas de alta 
significação para os diferentes segmentos étnicos nacionais. 
§ 3º A lei estabelecerá o Plano Nacional de Cultura, de duração 
plurianual, visando ao desenvolvimento cultural do País e à 
integração das ações do poder público que conduzem à: 
I - defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro; 
II - produção, promoção e difusão de bens culturais; 
III - formação de pessoal qualificado para a gestão da cultura em 
suas múltiplas dimensões; 
IV - democratização do acesso aos bens de cultura; 
V - valorização da diversidade étnica e regional. 
 
Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de 
natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em 
conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória 
dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais 
se incluem: 
I - as formas de expressão; 
II - os modos de criar, fazer e viver; 
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; 
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços 
destinados às manifestações artístico-culturais; 
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, 
artístico, arqueológico,paleontológico, ecológico e científico. 
§ 1º O poder público, com a colaboração da comunidade, promoverá 
e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, 
registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras 
formas de acautelamento e preservação. 
§ 2º Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da 
documentação governamental e as providências para franquear sua 
consulta a quantos dela necessitem. 
§ 3º A lei estabelecerá incentivos para a produção e o conhecimento 
de bens e valores culturais. 
§ 4º Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos, na 
forma da lei. 
§ 5º Ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores de 
reminiscências históricas dos antigos quilombos. 
 
• MEIO AMBIENTE DO TRABALHO: o meio ambiente do trabalho 
desrespeito a todas as regras que visam garantir ao empregado 
melhores condições no ambiente em que realiza suas funções. Um 
exemplo disso são as regras de segurança do trabalho. 
É importante salientar, que o próprio Supremo Tribunal Federal, na ADI 
3540, reconhece que a definição de meio ambiente não é só a definição de 
meio ambiente natural. 
(pegar o início com a Letícia) 
 
É importante tentarmos lembrar de dois biomas que não estão nessa 
lista, que são a caatinga e o serrado. O serrado é um dos biomas com mais 
diversidade biológica, tem associação direta com as principais bacias 
hidrográficas do planeta, mas é um dos mais degradados. 
Antes de tratarmos do aspecto relacionado a expressão “patrimônio 
nacional”, não podemos esquecer que a natureza jurídica do meio ambiente é 
bem difuso, não de bem público. Ser patrimônio nacional significa dizer que o 
estado deve dar uma atenção diferenciada em termos de proteção para essas 
áreas, que seriam um pouco mais sensíveis. Não significa dizer que essas 
áreas se tornam bens públicos. Tanto é assim, que os crimes ambientais 
dentro desses biomas serão julgados pela Justiça Comum. 
 
NATUREZA JURÍDICA 
Quando a Constituição fala em bens de uso comum do povo, devemos 
fazer a leitura do dispositivo utilizando a concepção de que o meio ambiente 
tem natureza difusa. 
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente 
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia 
qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o 
dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras 
gerações. 
§ 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do 
Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio 
nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de 
condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive 
quanto ao uso dos recursos naturais. 
 
Por conta disso, quando o artigo fala em patrimônio nacional, não quer 
dizer que esses biomas listados se tornam bens da União, considerando que 
essa mentalidade já foi quebrada quando tratamos da natureza jurídica do bem 
ambiental. 
Quando estudamos a classificação dos bens em Direito Civil (móveis, 
imóveis, consumíveis etc.), existe uma divisão, que vem lá do Direito Romano, 
entre bens públicos e bens privados. A primeira espécie de bem público que 
aparece no art. 99 do CC é o bem de uso comum do povo. 
A definição de bem público está explicitada no art. 99 do CC “os bens do 
domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno”. 
Assim, com base no art.98, os bens de uso comum do povo são aqueles que 
pertencem à União, aos Estados, ao DF e aos Municípios. 
O ar que respiramos é um bem ambiental? Sim. Ele é de propriedade do 
Município do Rio de Janeiro? Não. Portanto, a doutrina ambiental preconiza 
que, na verdade, o meio ambiente não é um bem público, é um bem difuso, de 
uso coletivo, visto que não pertence ao Estado, e sim à sociedade. Embora a 
CF utilize a expressão “bem de uso comum do povo”, ela não deve ser 
interpretada como um bem público, e sim como um bem difuso, coletivo, cujos 
titulares somos todos nós, a sociedade. 
O bem difuso se apresenta com uma categoria intermediária entre o bem 
público e o bem privado. Sua titularidade é diferente das outras duas 
classificações. Cada um de nós é “dono por inteiro” da qualidade ambiental. O 
Estado é tão somente um gestor público de um bem que é da sociedade. 
 
INTERESSES COLETIVOS 
Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das 
vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título 
coletivo. 
Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de: 
I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste 
código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam 
titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato; 
II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos 
deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja 
titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com 
a parte contrária por uma relação jurídica base; 
III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos 
os decorrentes de origem comum. 
 
Ao falamos em interesse coletivo, devemos observar se estamos 
tratando do gênero ou da espécie. 
 
 
INTERESSE GRUPO* OBJETO DA 
PRETENSÃO** 
ORIGEM*** 
DIFUSOS INDETERMINADO INDIVISÍVEL FATO 
 
COLETIVOS 
 
DETERMINADO 
 
INDIVISÍVEL 
 
RELAÇÃO 
JURÍDICA 
 
INDIVIDUAIS 
HOMOGÊNEOS 
 
DETERMINADO 
 
DIVISÍVEL 
 
FATO 
 
• Grupo: Determinado ou Indeterminado (observar se é ou não possível 
identificar individualmente os que compõem o grupo). 
• Objeto da pretensão: Divisível ou Indivisível 
• Origem: investiga se na origem do problema esse grupo de pessoas 
possui vinculo jurídico ou uma circunstância de fato. 
 
O art.81, parágrafo único, I, CDC, ao trazer a expressão 
“Transindividual”, determina que os direitos ali elencados vão para além do 
individual, ou seja, tratam-se de direitos coletivos. 
O CDC busca defender, proteger a parte mais vulnerável na relação de 
consumo, e uma das formas de defender o consumidor, é defendê-lo de 
propagandas enganosas e propagandas abusivas (Art.37, CDC). Propaganda 
enganosa é uma propaganda que ilude o consumidor, tanto pela qualidade, 
como pela quantidade. 
Imagine a seguinte situação: na década de 90, a Fanta Laranja vinculava 
uma propaganda, que no final do reclame, dizia "Beba Fanta Laranja, sinta o 
verdadeiro sabor da laranja". O direito se vale do homem médio, e o homem 
médio não somos nós, que felizmente, somos uma minoria, e não seríamos 
enganados com uma propaganda como essa. De acordo com o professor, o 
homem médio é o Homer Simpson, é um cara com pouco acesso a informação 
e mais vulnerável a algumas situações. 
Outra modalidade de propaganda vedada é a propaganda abusiva, que 
veicula a mensagem publicitária com algo que atente contra os valores sociais. 
A Devassa (marca de cerveja) volta e meia é condenada por propaganda 
abusiva. O caso mais teratológico da Devassa foi o da cerveja preta, onde 
colocaram a foto da garrafa da cerveja preta e ao lado a foto de uma mulher 
negra, com os dizeres "É pelo corpo que se reconhece a verdadeira negra". A 
primeira coisa a ser observada, é que associar a imagem de mulher à bebida, 
hoje é um pouco absurdo. Essa propaganda veicula um valor moralmente 
condenável. 
(INTERESSES DIFUSOS) Imagine a seguinte situação: foi veiculada na 
televisão uma propaganda enganosa ou abusiva. Houve um grupo de pessoas 
que sofreram um impacto dessa propaganda? Sim, um grupo indeterminado. 
Uma das pretensões básicas e imediatas é acabar com a propaganda. Eu 
posso parar a propaganda para um e para outro não? Não, não é possível 
fracionar o objeto da pretensão, o objeto é indivisível. Na origem, essas 
pessoas têm vinculo jurídico entre si? Não, são pessoas que não se conhecem, 
há apenas uma relação de fato. 
(INTERESSES COLETIVOS) O dano ambiental tipicamenteé um dano 
que afeta também o interesse difuso. Quando uma mineradora polui 
ilicitamente as águas de um rio, o dano ambientalmente repercute em quem? 
Todo mundo, indiretamente, em maior ou menor medida será afetado pela 
perda de qualidade ambiental. É um grupo indeterminado de pessoas. 
Quando ocorre o dano ambiental, queremos impor que o causador desse 
problema restaure o problema, e essa pretensão é indivisível. Ainda, dizemos 
que não há vínculo jurídico anterior, por tratar-se de um grupo 
indeterminado. Este vínculo se dá na divisão do grupo e na origem deste 
grupo. 
Imagine que eu seja um bom vendedor de automóveis e convença vocês 
a sair da aula e assinar um contrato de consórcio. Horas depois, alguns de 
vocês me ligam e dizem que no contrato havia uma cláusula abusiva, 
altamente prejudicial. O que podemos fazer em uma situação como esta? 
Ingressar em juízo, para pretender que o poder judiciário declarasse a nulidade 
dessa clausula abusiva. Este é um problema que envolve um interesse de 
pessoas (coletivo), determinável (é possível identificar individualmente 
cada um do grupo, através dos contratos assinados) e há uma relação 
jurídica anterior. 
O exemplo mais plausível é o nível de insalubridade no meio ambiente 
de trabalho, vez que essa categoria profissional esta sendo afetada 
ambientalmente no exercício daquela função. 
Interesses Individuais Homogêneos - Não parece esquisito esse 
nome? Não estamos falando de interesse coletivo? Não parece certo 
contrassenso? Realmente tem esse problema. Estou chamando atenção para o 
fato de que a ultima categoria é de interesse individual. O direito permite que 
essas pessoas que individualmente tenham interesses individuais muito 
parecidos com as outras, possam usar a tutela coletiva, que trás algumas 
vantagens a tutela meramente individual. Se abrirmos a lei de ação civil 
pública, vamos verificar que ela traz uma vantagem muito boa, que é a 
vantagem de não condenação a verbas sucumbenciais. O interesse individual 
homogêneo é esse interesse individual semelhante, que permite o uso da tutela 
coletiva. 
O interesse individual é determinado, divisível e na origem, é uma 
origem de fato. 
Se abandonarmos a coluna da origem, com as duas outras colunas do 
grupo e da origem, nos permite analisar a diferença entre cada uma dessas 
categorias. 
O professor da o exemplo do Fiat Tipo, que entrava em combustão 
sozinho. Em casos como esse, o CDC prevê o instituto do recall. Nesse caso 
do Fiat Tipo, a Fiat não fez o recall, e infelizmente, alguns acidentes 
aconteceram, possibilitando que e os proprietários fossem, individualmente, ao 
judiciário pretendendo se compensarem do prejuízo - valor equivalente ao 
conserto do carro, ou a perda de valor de mercado do veiculo. Contudo, há a 
hipótese de que os proprietários lancem mão da tutela coletiva. 
Outro exemplo é o caso da Samarco. Quando houve o derramamento de 
lama, houve um dano difuso, e, além desse aspecto, não existiam pessoas que 
viviam ali, que tiveram suas casas soterradas? O dano ambiental afeta 
difusamente a coletividade, mas pode também causar um dano individual a 
essas pessoas. 
 
CONCEITOS IMPORTANTES 
 
Art 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: 
I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e 
interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e 
rege a vida em todas as suas formas; 
II - degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das 
características do meio ambiente; 
III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de 
atividades que direta ou indiretamente: 
a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; 
b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; 
c) afetem desfavoravelmente a biota; 
d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; 
e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões 
ambientais estabelecidos; 
IV - poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, 
responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de 
degradação ambiental; 
V - recursos ambientais, a atmosfera, as águas interiores, superficiais 
e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo e os 
elementos da biosfera. 
V - recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais 
e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os 
elementos da biosfera, a fauna e a flora. 
 
• DEGRADAÇÃO DO MEIO AMBIENTE (Inciso II): entende-se por 
degradação do meio ambiente toda alteração prejudicial da qualidade 
ambiental. Degradação é um gênero, e poluição é uma espécie de 
degradação. 
• POLUIÇÃO (Inciso III): A poluição é a degradação causada pelo 
homem, fruto de conduta humana. Por exemplo, cai um raio em uma 
floresta e pega fogo. Houve degradação ambiental? Sim. Houve 
poluição? Não. Contudo, se alguém vai até essa floresta, joga um 
cigarro, e este cigarro é o causador do incêndio, há degradação 
ambiental e poluição. 
• POLUIDOR (Inciso IV): poluidor é toda pessoa física ou jurídica de 
direito publico ou de direito privado, responsável direta ou indiretamente 
por dano ambiental. Quem é o responsável indireto? É aquele que 
indiretamente colabora para o dano ambiental. 
• RECURSOS NATURAIS (Inciso V): São a atmosfera, as águas, os 
estuários, o mar territorial (...). São os elementos naturais que compõe o 
meio ambiente. 
 
ÉTICA AMBIENTAL 
A Ética é um ramo da filosofia. Alguns preferem a denominação Filosofia 
Moral. O radical grego éthos significa comportamento, e se assemelha muito à 
palavra latina moral, que também significa comportamento. Nós as utilizamos 
muitas vezes para distinguir o certo do errado, o adequado do inadequado. 
Todavia, no campo acadêmico, alguns autores procuram traçar uma distinção 
entre o campo da ética e o da moral. 
A moral seria uma “fotografia” do comportamento social. Ela procura 
investigar e constatar como as pessoas se comportam de fato. Tem um sentido 
eminentemente descritivo de comportamentos. Regras de etiqueta social são 
um exemplo de normas de moralidade (ir nu para a sala de aula viola uma 
expectativa moral). A aceitação da escravidão nos séculos passados era uma 
questão moral, era a forma como agíamos. 
Os dilemas morais, dilemas de ética, são dilemas de difícil solução. 
Haverá algumas perguntas que são muito relevantes para a ética e outras nem 
tanto. 
A ética sempre foi pensada desde os gregos como algo que se dizia 
respeito do comportamento do homem com outro homem. O comportamento 
humano também pode afetar de maneira relevante, outros seres, outros entes. 
Ha limites éticos o que a gente pode fazer ou deixar de fazer. 
Já a ética não se compromete apenas com uma descrição de 
comportamentos. Ela pretende avaliar racionalmente esses comportamentos, 
para investigar se eles tem bom fundamento ou não. A ética examina, sob uma 
fundamentação racional, se a escravidão humana, por exemplo, possui bons 
fundamentos para existir. A ética, tal como o Direito, é um “dever ser”. 
A ética vai postular a existência de valores objetivos que vão informar a 
sociedade humana universalmente, como um todo. Isso gera uma certa 
perplexidade, porque é muito claro as sociedades humanas variam de 
comportamento. Mas será que elas variam de valor? Os gregos enterravam 
seus mortos em sinal de respeito, enquanto, pelo mesmo motivo, os 
calassianos os comiam. 
Caso do bonde desgovernado. Imagine uma situação em que temos 
uma linha de trem, e por alguma razão, você saiba que ele está desgovernado. 
Você é um espectador que sabe que o bonde está desgovernado, e que 
existem 5 pessoas inocentes, que estão amarradas no trilho do trem. Diante de 
você, há uma única alternativa, que é acionar uma alavanca, que desloca o 
trem para uma via secundaria, um outro trilho. Contudo, nessa outra via, temos 
uma pessoa amarrada no trilhodo trem. As opções são: não fazer nada ou 
acionar a alavanca e salvar o maior número de vidas humanas inocentes. 
A conduta moralmente correta é aquele que maximiza a felicidade, de 
acordo com o raciocínio utilitário, consequencialista. Esse filósofos são 
reformistas sociais, são todos ingleses, na sua grande maioria. 
O professor modifica o exemplo, retira a possibilidade de acionar a 
alavanca, e coloca um cara gordinho, que, se jogado no trilho, impedirá a morte 
dos 5 amarrados no trilho. Nesse caso, a maioria das pessoas da sala 
responderam que não sacrificariam o gordinho, se aproximando do 
pensamento deontológico. 
ADI4983/CE procurou analisar a constitucionalidade da Lei 15.299/CE, 
uma lei estadual que regulamentava a vaquejada como prática desportiva e 
cultural. Uma peculiaridade é que Associação Brasileira de Vaquejada pediu 
para ser ouvida como amicus curiae. A vaquejada é uma atividade cultural do 
Nordeste brasileiro, onde dois participantes, a cavalo, correm atrás de um boi 
em disparada. Os participantes devem tracionar o rabo do boi, para que ele 
caia dentro de uma área específica, a depender da pontuação. Lesões graves 
aos animais são comuns, visto que os mesmos são derrubados violentamente, 
e que o rabo é uma extensão da coluna vertebral. 
A ADI procurou questionar uma lei do estado do Ceara, que 
regulamentava a prática da vaquejada. De acordo com o procurador geral, a lei 
violava a previsão do Art.225, §1º, VII, CP – que preconiza que incumbe ao 
Poder Público, para assegurar a efetividade do direito ao meio ambiente 
ecologicamente equilibrado, proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da 
lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a 
extinção de espécies ou submetam os animais à crueldade. 
Crueldade é um conceito jurídico indeterminado, mas os tribunais tem 
entendido que crueldade significa a imposição de um sofrimento 
desnecessário, sem razão, sem justificativa para existir. Por outro lado, a 
mesma constituição protege um outro valor, que é o valor da manifestação 
cultural, há uma tutela do patrimônio cultural. 
Haveria, portanto, na vaquejada, um confronto entre essas duas 
previsões, porque a vaquejada é uma manifestação cultural, e por outro lado, 
há a preocupação com a lesão aos animais. Existiria um obstáculo 
constitucional a prática da vaquejada? O STF decidiu esse caso, e foi um caso 
muito aflitivo, porque a decisão final foi de 6 a 5. O último voto foi da Ministra 
Carmem Lucia, que decidiu contra a vaquejada, sob o argumento que nesse 
conflito de valores, deveria prevalecer a proteção dos animais contra a 
crueldade. 
Um julgamento de mérito em sede de controle concentrado, projeta em 
princípio, efeito contra terceiros. Evidentemente, que o legislativo não fica 
vinculado a questão. 
Houve um efeito na bancada ruralista - atrelada ao agronegócio-, que se 
manifestou por conta do inconformismo após a ADI, e propôs a Emenda 
Constitucional 96, de 2017, a qual inseriu o §7º ao artigo 225, que diz que a 
vaquejada não se enquadra como uma prática cruel vedada pelo §1º, VII. “Se o 
STF tá dizendo que prática é inconstitucional, é simples de resolver: alteramos 
a Constituição”. 
Este é um caso de ativismo legislativo, que ocorre quando o Poder 
Legislativo quer contornar uma decisão judicial. Foi a Proposta de Emenda 
Constitucional que tramitou mais rápido na história do país. Em função disso, já 
foi proposta no STF uma ADI contra a EC 96. 
Existe um fenômeno hoje no direito constitucional, que é o chamado 
ativismo legislativo, que é uma reação do legislativo a uma decisão judicial. 
Propuseram então uma PEC, que modificaria o texto da constituição brasileira, 
inserindo um novo parágrafo no art.225. Essa PEC foi aprovada em tempo 
recorde, e passou a dizer (EC 96/17) que se uma prática, uma atividade for 
considerada patrimônio cultural, ela fica fora do alcance do art. 225, par.1, VII, 
CF. 
A decisão de mérito (procedência ou improcedência) no caso de uma 
ADI, no chamado controle concentrado de constitucionalidade, gera um 
primeiro grande efeito, que o efeito retroativo temporal. Quando o STF decide 
pela procedência de uma ADI, aquela norma é tida como inconstitucional desde 
a sua origem (ex tunc). Outro grande efeito dessa decisão é que ela afetará, 
em princípio, a todos (erga omnes). 
Em relação aos efeitos contra todos, existem duas correntes doutrinárias 
que analisam o tema. Para a corrente majoritária, só a parte dispositiva da 
decisão vincula terceiros. Para a corrente minoritária, toda a decisão vai gerar 
efeitos contra terceiros, todos os fundamentos de fato e de direito que 
permitiram aquela conclusão. 
A consequência prática é que, partindo da primeira visão, somente a Lei 
“X” é inconstitucional, mas, partindo da segunda visão, com base nos 
fundamentos da decisão, outras leis que se enquadram naquela discussão 
estariam maculadas pelo mesmo vício. 
Outra peculiaridade neste caso da ADI 4983 é que, logo após a decisão 
do STF, por conta da pressão de setores envolvidos com a prática da 
vaquejada (consideremos que esta “atração” gera bastante lucro), a bancada 
ruralista do Congresso Nacional, 
Já tramitam duas ADI's contra a Emenda. O principal argumento é o de 
que se está esvaziando a previsão constitucional. O STF quando decidiu contra 
a vaquejada, entendeu que o caso trazia um debate principiológica, utilizando-
se da técnica de ponderação. De acordo com o professor, esse caso não é um 
caso resolvível por meio de ponderação, seja para delimitar que prepondera o 
valor de proteção aos animais, seja pela manutenção da vaquejada. 
Porque, o art.225, par.1, VII, CF, é uma regra. Embora crueldade seja 
um conceito jurídico indeterminado, isso se torna uma regra, uma mandamento 
proibitivo expresso. Nas palavras do professor o melhor método de solução 
para esse problema é a subsunção de fato a regra. O fato se amolda a regra ou 
não se amolda? Qual o fato? A vaquejada. A vaquejada é cruel ou não é cruel? 
Ainda, de acordo com o professor, a maioria dos ministros não fez uso 
dos precedentes da própria corte, e existe uma rega no Novo CPC que diz o 
seguinte: se a parte submete a corte um caso e pede que esse caso seja 
julgado de acordo com os precedentes da própria corte, que, nesse caso, 
deverá fazer um juízo de semelhança. Por conta disso, o STF deveria justificar 
o porquê as regras das decisões da farra do boi e dos casos da rinha de galo, 
se aplicam ou não ao caso da vaquejada. 
Além disso, o STF poderia ter decido a questão de uma maneira muito 
mais simples, utilizando o art. 489, §1º, do CPC/15, que estabelece que 
quando a parte invoca a se favor um precedente da Corte, a Corte é obrigada a 
dizer as razões pelas quais entende que os precedentes devem ser aplicados 
ou não aquele caso. No passado, o STF já havia julgado casos semelhantes 
(farra do boi, rinha de galo) e o MPF invocou esses precedentes em que o STF 
julgou tais práticas inconstitucionais. Contudo, neste caso, o STF ignorou o 
dispositivo do CPC e não ouviu o MPF. 
 O tema do uso cultural de animais é bastante complicado. É difícil 
estabelecermos essa linha de até onde podemos ir. Por exemplo, a vedação de 
sacrifícios humanos, do uso de drogas que facilitam um estado de transe, a 
restrição da poluição sonora de alguns templos em horários impróprios. E a 
questão animal se enquadra exatamente aí. 
 
PRINCÍPIOS QUE ORIENTAM O DIREITO AMBIENTAL 
Não há ainda uma uniformidade entre os autores sobre quais são os 
princípios que regem o Direito Ambiental, contudo, vamos conhecer os 
principais: 
1. FUNDAMENTALIDADE DA TUTELA DO MEIO AMBIENTE: Direito 
ambiental, é na verdade, direito humano. A tutela ambiental, na verdade, 
é um direito fundamental, ainda que não esteja previsto no rol de direitos 
ambientais. 
Aparece no próprio caput do art. 225 da CF “todos têm direito ao meio 
ambienteecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e 
essencial à sadia qualidade de vida (...)”. Eu protejo o meio ambiente 
para garantir a qualidade de vida das pessoas. Imaginemos, por 
exemplo, as condições de existência das pessoas que moram nos 
arredores de um lixão. 
Art.2, Lei 6938/81. Esse dispositivo trás o grande dispositivo da 
chamada política nacional do meio ambiente, que alem de proteger o meio 
ambiente, também busca um meio ambiente saudável 
Na ADI 3540, entre muitas coisas, o STF disse que a tutela ambiental é 
um direito humano de 3ª geração. A 3ª geração compreende os direitos 
humanos de titularidade coletiva, os direitos difusos (meio ambiente, direitos do 
consumidor). 
VALOR DOS TRATADOS INTERNACIONAIS 
A constituição federal, no art.5º, parágrafo 3º, vai passar a tratar, a partir 
de 2004 (EC 45/04), de um valor especial para os tratados de direitos 
humanos. Nesse sentido: 
Art.5º,§ 3º, CF. Os tratados e convenções internacionais sobre direitos 
humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em 
dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão 
equivalentes às emendas constitucionais. 
 
Sendo o direito ambiental um direito humano. Por conta disso, um 
tratado de matéria ambiental, sendo o Brasil signatário, é um tratado de direitos 
humanos. 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, 
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a 
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à 
propriedade, nos termos seguintes: 
§ 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem 
outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos 
tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. 
 
Existe, desde 88, no art.5, o parágrafo 2, que nos diz que os direitos e 
garantias fundamentais estabelecidos pelo legislador nãoe excluem outros 
decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados 
internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. Isso dá uma 
ideia de que o Brasil pode assinar os tratados que achar conveniente. Além 
disso, o artigo nos dá a perspectiva de que os direitos fundamentais não são 
apenas os previstos na Constituição, sem excluir aquele que podem ser 
trazidos por via de tratados. A leitura desse dispositivo nos permite entender 
que os tratados internacionais de direitos humanos deveriam ingressar no 
nosso ordenamento com força constitucional. 
Um dos problemas, é que a nossa CF tem duas características: 
• Formal; 
• Rígida (significa dizer, que a nossa constituição, em tese, 
estabelece um procedimento especial para que seu texto seja 
modificado). 
Dessa forma, admitir que os tratados de direito internacional ingressem 
no Ordenamento Jurídico sem qualquer procedimento especial, seria como 
"quebrar" essa lógica da rigidez. Com base nesse questionamento, o STF 
consolidou uma posição, segundo a qual, esses tratados internacionais de 
direitos humanos deveriam gozar de forca supralegal. A supralegalidade é um 
espaço que fica entre a norma Constitucional e a Lei Ordinária. 
Em 2004, a nossa CF foi emendada, e tivemos a edição da EC/45, e no 
bojo dessa emenda, inserimos um novo parágrafo a esse artigo, que foi o 
parágrafo 3º. Tal parágrafo irá versar sobre a forma especial de incorporação 
(3/5 em 2 turnos nas duas casas - Câmara dos Deputados e Senado Federal), 
em que o tratado passará a ter forca constitucional. Em 2007 tivemos a 
internalização e a aprovação de um tratado de direitos humanos, que versava 
sobre as pessoas com Deficiência. 
Até o momento, nenhum tratado de direito ambiental foi internalizado 
dessa forma, tendo, portanto, força supralegal. 
2. PRINCÍPIO DA NATUREZA PÚBLICA DA PROTEÇÃO AMBIENTAL: 
Também pode ser colhido da leitura do Art.225, caput, CF. Há uma 
imposição ao poder publico de defesa do meio ambiente, ou seja, tem 
um compromisso de efetivar políticas públicas e leis que visem melhorar 
a qualidade ambiental. Não devemos confundir com a natureza jurídica 
do meio ambiente, que tem natureza de bem difuso, não de bem publico. 
 
3. IMPRESCRITIBILIDADE DO DANO AMBIENTAL: O cerne da 
discussão desrespeito ao instituto da prescrição. Todo mundo sabe, que 
a prescrição trabalha com um valor importante para o direito, que é o 
valor da segurança jurídica/estabilidade das relações jurídicas. O direito, 
em princípio, vai impor um prazo para que a vítima do dano possa 
resolver as situações lesivas. 
Nesse sentido: “Art. 189 - Violado o direito, nasce para o titular a 
pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos prazos a que aludem os 
arts. 205 e 206”. Esse artigo traz os elementos centrais que compõe o instituto 
da prescrição. Violado o direito, quando alguém pratica um ato ilícito, nasce 
uma pretensão que se estingue com o tempo. 
A prescrição, então, representaria a extinção pelo decurso do tempo. 
Art. 206. Prescreve: 
§ 1o Em um ano: 
I - a pretensão dos hospedeiros ou fornecedores de víveres destinados a 
consumo no próprio estabelecimento, para o pagamento da hospedagem ou 
dos alimentos; 
II - a pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste contra aquele, 
contado o prazo: 
a) para o segurado, no caso de seguro de responsabilidade civil, da data em 
que é citado para responder à ação de indenização proposta pelo terceiro 
prejudicado, ou da data que a este indeniza, com a anuência do segurador; 
b) quanto aos demais seguros, da ciência do fato gerador da pretensão; 
III - a pretensão dos tabeliães, auxiliares da justiça, serventuários judiciais, 
árbitros e peritos, pela percepção de emolumentos, custas e honorários; 
IV - a pretensão contra os peritos, pela avaliação dos bens que entraram 
para a formação do capital de sociedade anônima, contado da publicação 
da ata da assembléia que aprovar o laudo; 
V - a pretensão dos credores não pagos contra os sócios ou acionistas e os 
liquidantes, contado o prazo da publicação da ata de encerramento da 
liquidação da sociedade. 
§ 2o Em dois anos, a pretensão para haver prestações alimentares, a partir 
da data em que se vencerem. 
§ 3o Em três anos: 
I - a pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos ou rústicos; 
II - a pretensão para receber prestações vencidas de rendas temporárias ou 
vitalícias; 
III - a pretensão para haver juros, dividendos ou quaisquer prestações 
acessórias, pagáveis, em períodos não maiores de um ano, com 
capitalização ou sem ela; 
IV - a pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa; 
V - a pretensão de reparação civil; 
VI - a pretensão de restituição dos lucros ou dividendos recebidos de má-fé, 
correndo o prazo da data em que foi deliberada a distribuição; 
VII - a pretensão contra as pessoas em seguida indicadas por violação da 
lei ou do estatuto, contado o prazo: 
a) para os fundadores, da publicação dos atos constitutivos da sociedade 
anônima; 
b) para os administradores, ou fiscais, da apresentação, aos sócios, do 
balanço referente ao exercício em que a violação tenha sido praticada, ou 
da reunião ou assembléia geral que dela deva tomar conhecimento; 
c) para os liquidantes, da primeira assembléia semestral posterior à 
violação; 
VIII - a pretensão para haver o pagamento de título de crédito, a contar do 
vencimento, ressalvadas as disposições de lei especial; 
IX - a pretensão do beneficiário contra o segurador, e a do terceiro 
prejudicado, no caso de seguro de responsabilidade civil obrigatório. 
§ 4o Em quatro anos, a pretensão relativa à tutela, a contar da data da 
aprovação das contas. 
§ 5o Em cinco anos: 
I - a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento 
público ou particular; 
II - a pretensão dos profissionais liberais em geral, procuradores judiciais, 
curadores e professores pelos seus honorários, contado o prazo da 
conclusão dos serviços, da cessação dos respectivos contratosou mandato; 
III - a pretensão do vencedor para haver do vencido o que despendeu em 
juízo. 
No caso ambiental, quando por exemplo uma empresa laca um material 
contaminante no rio. Violou o direito? Violou. Surge uma pretensão? Surge. 
Qual é a vítima? A sociedade. A sociedade tem representantes para 
ingressar essa ação? Sim, o MP. Incide prescrição? 
 
Dano imprescritível - Justificativas: 
Os defensores desta tese dizem que prescrição é instituto de direito 
privado. É correto dizer isso? A prescrição não se aplicaria ao direito público? 
De acordo com o professor, essa afirmativa é uma meia verdade, porque 
historicamente a prescrição nasce no direito privado, mas com o tempo ela se 
"desgarra dessa mãe” e vai sendo operacionalizada pelo direito público, como 
por exemplo, no direito penal. Esse argumento esta superado. 
Um dos elementos essenciais do instituto da prescrição é o tempo. 
Afirma-se que a legislação ambiental não traz prazo prescricional, como faz o 
código civil. Haveria uma carência da fixação do prazo, e isso prejudicaria o 
instituto da prescrição. Esse argumento é superado, por conta da analogia 
possível com os prazos da legislação penal e da legislação civil. 
O terceiro argumento trás um outro problema, que é a contagem do 
prazo, por conta, principalmente do termo inicial da contagem do prazo. Porque 
o dano ambiental, normalmente é um dano que se projeta no tempo e no 
espaço. Por conta disso, alguns autores vão dizer que de nada adianta 
estabelecer prazos para a legislação ambiental, pois a todo momento o termo 
inicial se renova, porque o dano vai se renovando a todo segundo. Esse 
argumento, faticamente, parece um argumento interessante, mas, a apesar 
disso, é possível identificar o termo inicial, o momento inicial do dano. No 
exemplo da Samarco, conseguimos estabelecer como termo inicial o momento 
do desabamento da barragem. 
O quarto argumento vai trabalhar com outro elemento da prescrição, que 
é o elemento da inércia. Para que a prescrição ocorra, a vitima não pode 
exercer a pretensão. No caso do dano ambiental, a vitima é a sociedade. Como 
podemos medir a inércia da sociedade? É impossível medir a inércia do titular 
do bem jurídico violado no dano jurídico ambiental. Reconhecendo isso, a lei 
legitima órgãos para a legitimação extraordinária, (ingressa em nome próprio 
defendendo direito alheio) que é caso, por exemplo, do MP. A inércia, nesse 
caso, seria a inércia dos representantes da sociedade. 
O quinto argumento faz uma analogia com o Art.37, parágrafo 5, CF- 
trata das ações de ressarcimento por danos causados ao erário público. as 
ações de ressarcimento por danos causados o erário publico são 
imprescritíveis. Sendo o dano ambiental muito próximo ao dano do erário 
publico, as ações de ressarcimento de dano ambiental também são 
imprescritíveis. A crítica a ser feita a esse argumento esta centrada na natureza 
jurídica do meio ambiente. 
Por fim, o sexto argumento estabelece uma conexão entre matéria 
ambiental e matéria de direitos humanos. Na teoria geral dos direitos humanos, 
ha uma tese de que os direitos humanos são imprescritíveis. Ha uma tese de 
que as graves lesões as direitos humanos são imprescritíveis. Dessa forma, um 
homicídio simples, por exemplo, ainda que configure uma violação a direito 
humano, se comparado ao genocídio, seria uma lesão menos grave. 
Dano Prescritível - Contrapontos: 
De fato, a prescrição foi pensada, inicialmente, no âmbito do direito 
privado, entretanto, hoje em dia podemos ver sua aplicação no direito público, 
por exemplo, no Direito Penal, Tributário, Administrativo. Por que não no Direito 
Ambiental? Não há um impedimento teórico que vede a aplicação deste 
instituto para além do direito privado. 
As ações de ressarcimento por danos ambientais, a princípio, têm 
natureza cível. Tanto é assim, que a principal ação é a ação civil pública. 
Embora não haja prazo específico de prescrição na legislação ambiental, por 
analogia, já que a natureza é cível, podemos buscar esses prazos na 
legislação civil. Então, qual vai ser esse prazo? 
Existe uma corrente que vai dizer que esse prazo é um prazo de 3 anos, 
que é o prazo de reparação civil fixado pelo Código Civil. Outros vão dizer que 
o prazo é de 5 anos, por uma analogia com o Art.27, CDC. Por fim, há uma 
corrente que defende que o prazo é de 10 anos, por conta do prazo geral. Tem 
havido uma simpatia por essa ultima corrente, por ser mais benéfico a vítima. 
Em relação a inércia da sociedade, está pode ser medida, já que 
legislação prevê que determinadas pessoas estejam autorizadas para falar em 
nome da sociedade (Ministério Público, Defensoria Pública, ONGs, 
Administração Direta, Administração Indireta). Estas pessoas estariam 
legitimadas para defender o meio ambiente em juízo, sendo possível a aferição 
da inércia da sociedade. 
Por fim, o dano ambiental projeta, sim, efeitos no tempo, mas é possível, 
através de uma perícia, identificar o termo inicial, o momento que o dano 
começou, o primeiro dia que o agente poluiu. O prazo deve ser contado deste 
momento, ou, quando muito, do conhecimento do fato poluidor/degradador. 
O STJ, em várias ocasiões, decidiu no seguinte sentido: fez uma 
distinção entre duas situações envolvendo dano ambiental. Vai dizer que existe 
o dano ambiental que repercute difusamente, e o dano ambiental que repercute 
individualmente. No exemplo da Samarco, quando a barragem se rompeu, 
esse dano teve repercussão difusa. A despeito dessa realidade, haviam 
pessoas que moravam embaixo da represa, e a lama invadiu a casa dessas 
pessoas. Esse dano é dano difuso? Não, é um dano ambiental repercutindo 
também individualmente. 
O STJ disse que o dano ambiental difuso é imprescritível, mas em 
relação ao dano individual, entendeu que é prescritível. 
 
4. VEDAÇÃO DE RETROCESSO AMBIENTAL: Essa tese não é uma tese 
de direito ambiental. Novamente o direito ambiental vai beber da fonte 
dos direitos humanos, na teoria da vedação de retrocesso social. Essa 
ideia, em resumo, vai postular que, uma vez conquistados e garantidos 
determinados direitos, esses direitos não poderiam ser suprimidos ou 
alterados para pior. A única possibilidade seria ampliar esses direitos, 
mas nunca diminuir o alcance da proteção estabelecida, como as 
clausulas pétreas (cláusula gravada na pedra), por exemplo. 
Essa ideia encontra fundamento legal em duas vertentes: 
• Pacto de São José da Costa Rica - Convenção Americana dos 
Direitos Humanos - art. 26 - ideia de garantir os direitos 
fundamentais de maneira progressiva, ampliativa, nunca no 
sentido de retrocesso. 
• Lei 6938/81, art. 2º - objetivos da política nacional do meio 
ambiente - dentre eles, há o objetivo de melhoria da proteção 
ambiental. 
Quando a CF estabelece a idade penal em 18 anos, isso é uma garantia 
para o cidadão. A garantia de que, antes dos 18 anos, o fato ilícito praticado 
por ele não será nunca crime. É, portanto, uma garantia fundamental. Existe, 
então, um debate de que a alteração da idade penal seria uma violação a esse 
principio. 
Quanto à questão ambiental, recentemente, o Código Florestal foi 
alterado, em 2012, e o STF julgou varias ações diretas de 
inconstitucionalidade, que argumentava, em tese que o novo código florestal 
era inconstitucional, porque havia um retrocesso ambiental. Em relação à 
vaquejada, muitos defendem que, quando a constituição é alterada para 
permitir que práticas culturais possam ser cruéis, essas alterações são 
inconstitucionais, por violar o principio da vedação de retrocesso ambiental. 
 
5. PRINCIPIO DO IN DUBIO PRO NATURA: In dubio pro natura, tem um 
viés hermenêutico, um viés normativo, uma dúvida em favor da 
natureza. Isso significa dizer que ha um compromisso interpretativo de 
realizar uma interpretação sempre mais favorável a natureza. 
Há pouco tempo, chegou no STF a questão do uso de fogo paraa 
supressão de plantação. Existem muitas questões envolvendo as queimadas, 
principalmente envolvendo a cana de açúcar. No código florestal há uma 
proibição do uso de fogo para suprimir a vegetação. Contudo, havia uma 
dúvida se essa proibição se estendia para a vegetação plantada ou se ela se 
restringia a vegetação nativa. O STF interpretou amplamente essa restrição, de 
acordo com o in dúbio pro natura. 
 
6. PRINCÍPIO DO ACESSO EQUITATIVO AO MEIO AMBIENTE: Art.225, 
caput, CF. Todos têm direito ao meio ambiente (...). Será que todos 
realmente têm acesso a qualidade ambiental? Ou será que esse acesso 
não é distribuído igualmente por todos? Será que ha alguma classe de 
pessoas, categoria, que são mais atingidas pelos danos ambientais? 
Existem várias correntes ideológicas, e uma delas se chama corrente 
da justiça ambiental. Essa corrente tem origem na década de 80, nos EUA, 
em um estudo sobre os aterros sanitários. Nessa pesquisa foi constatado que 
os lixões são colocados nas regiões periféricas, impondo a um segmento 
social, que é mais vulnerável economicamente, a realidade de ter que lidar 
diretamente com esse ônus ambiental. Cita ainda, o exemplo do lixo 
internacional, momento em que o Brasil importava lixo da Europa. 
Outro aspecto importante é a equidade interageracional, ou seja, há 
um compromisso da nossa geração para com as gerações futuras. Alguns 
autores chegam a dizer que há até mesmo o conceito de racismo ambiental, de 
forma metafórica, como uma questão de impor as pessoas mais vulneráveis 
uma onerosidade ambiental excessiva. 
7. PRINCIPIO DO POLUIDOR PAGADOR: Esse princípio tem um nome 
bem ingrato, porque quem nunca estudou pode imaginar que o principio 
trata de uma compra do direito de poluir. O principio do poluidor pagador 
não representa um pagamento pelo direito de poluir. 
Princípio 16. As autoridades nacionais devem procurar promover a 
internacionalização dos custos ambientais e o uso de instrumentos 
econômicos, tendo em vista a abordagem segundo a qual o poluidor deve, 
em princípio, arcar com o custo da poluição, com a devida atenção ao 
interesse público e sem provocar distorções no comércio e nos 
investimentos internacionais. 
 
O princípio do poluidor pagador, como alguns autores utilizam, pretende 
internalizar as exterioridades negativas - consta do principio 16 da Declaração 
do Rio, que foi realizada no período da ECO92. O processo produtivo gera, no 
final, coisas boas e coisas ruins, ou seja, externalidades positivas e negativas. 
Destrinchando os termos, temos que a palavra “externalidade” se refere a tudo 
aquilo que deriva do processo produtivo, que pode gerar (i) externalidades 
positivas (trabalho, renda, emprego e o próprio produto final) e (ii) 
externalidades negativas (tudo aquilo que é gerado a partir do processo 
produtivo e que não é, em princípio, desejado). Um grande exemplo de 
externalidade negativa é a própria degradação ambiental. 
A degradação ambiental é um exemplo clássico de externalidade 
negativa. Idealmente, no mundo “cor de rosa”, não teríamos que viver com a 
degradação ambiental, mas ela existe, e, por isso, temos que criar mecanismos 
para internalizar essa degradação, no sentido de fazer com que o degradador 
assuma os custos sociais e ambientais do seu processo produtivo. 
Normalmente, até os autores indicam que as externalidades negativas 
representam falhas de mercado, porque dificilmente o preço final do produto 
reflete o custo social e ambiental de produção. É uma anomalia no sentido de 
não ser capturada pelo preço do produto. 
Geralmente a solução mais típica é a solução de "taxação". O Estado - 
poder público- permite o exercício do empreendedorismo, mas sem ultrapassar 
determinados limites predeterminados. Caso esses limites sejam 
ultrapassados, haverá uma sanção econômica. Não é interessante, em 
princípio, para o fabricante ficar arcando continuamente com as sanções 
econômicas, porque isso vai gerar um efeito no preço final. É como se o Estado 
dissesse: “você, poluidor, pode poluir até determinado nível e eu aceito em 
nome de gerar renda, gerar aquecimento da economia e atender a demanda da 
população sobre determinado serviço. Aceito que você polua até aqui, e se 
você, todavia, ultrapassar esse limite que eu fixei, irei te sancionar, impor uma 
sanção pecuniária, uma multa”. 
A lógica desse sistema é que, quando o empreendedor ultrapassa esse 
limite e é multado/sancionado economicamente, como consequência, o custo 
produtivo dele aumenta e o preço do produto fica mais caro, repassando o 
custo desse aumento ao consumidor que reagirá não comprando o produto e 
migrando para outros fabricantes/fornecedores. É uma estratégia que, 
indiretamente, acaba fazendo com que o empreendedor não deseje poluir, que 
ele tente ficar ao máximo dentro dos limites que o Estado previamente fixa, 
tendo em vista que, se ele ultrapassar, o custo produtivo dele aumenta, assim 
como o preço do produto, e, normalmente, as pessoas migrarão para outros 
fabricantes com preços mais acessíveis. 
A solução pública de taxação tem um lado muito produtivo, que é o fato 
de tornar o produtor muito ativo na busca de novas soluções tecnológicas que 
lhe permitam continuar produzindo sem ultrapassar aquele limite que o Estado 
fixou. O lado negativo dessa proposta é que o custo operacional de fiscalização 
é muito alto, isso porque o fiscal, por exemplo, tem que ir na fábrica fiscalizar 
emissão (medir o nível de poluentes que sai da chaminé), tem que ir fazer 
análise bioquímica da água para saber se o limite foi, ou não, ultrapassado etc.. 
Ou seja, é uma fiscalização muito dispendiosa, e, considerando o nosso 
cenário de baixo investimento nos órgãos ambientais, e que, como 
consequência, o Estado não dispõe do aparato técnico e de pessoal necessário 
para tanto. 
Outra forma de tratar a solução pública é mediante a regulação. Aqui o 
Estado não cria uma limitação, ele fornece uma “receita de bolo”, ou seja, 
estabelece pré-requisitos para exercer determinada atividade atividade. Dessa 
forma, o poder publico condiciona aquele empreendedor. A vantagem desse 
segundo sistema é a diminuição do custo de fiscalização. O problema dessa 
segunda solução é acomodar o empresário, que não vai ficar atento as 
inovações tecnológicas. 
Não é fácil encontrar os mecanismos que sejam eficazes para fazer com 
que o empresário arque com os prejuízos ambientais por ele causados. No 
Brasil a gente tem um sistema misto, que aglutina os dois sistemas, mas sem 
muita efetividade. 
 
8. PRINCIPIO DO USUÁRIO-PAGADOR: Muitos autores entendem esse 
princípio como um “princípio-filhote” do princípio do poluidor-pagador. 
Art. 4º - A Política Nacional do Meio Ambiente visará: 
VII - à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou 
indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização 
de recursos ambientais com fins econômicos. 
 
Preconiza que quem usa recursos naturais, especialmente para a 
finalidade econômica, deve pagar pelo uso desses recursos. O uso do bem 
ambiental deve ser um uso remunerado (mediante pagamento), e nunca 
gratuito. “O uso deve ser pago” traduz a lógica evidente de que, pagando, 
tenderemos a racionalizar o uso. 
Se o empreendedor necessita fazer uso da água, por exemplo, e a lei da 
Política Nacional dos Usos Hídricos (Lei nº 9433/97) prevê um custo, o que, 
tecnicamente faria com que a utilização fosse moderada. O mesmo ocorre com 
o uso racional da energia elétrica. Ou seja, esse princípio está interligado a 
ideia de racionalizar. 
 
9. PRINCIPIO DO PROTETOR RECEBEDOR: Quem protege o meio 
ambiente, quem realiza atividades benéficas ao meio ambiente, em 
princípio deve ser estimulado. Nós devemos encontrar para que as 
pessoas se sintam estimuladas a proteger o meio ambiente. 
Um exemplo muito comum é a ideia de usarmos a extrafiscalidade, ou 
seja, usar ostributos na sua função extrafiscal para estimular ou desestimular 
determinadas condutas. No caso do meio ambiente, o uso adequado do meio 
ambiental poderia ser incentivado a partir de mecanismos tributários e, por 
outro lado, o aparato tributário poderia servir para desestimular usos 
inadequados. 
Exemplo: IPI - Para o estabelecimento da alíquota do IPI, funciona o 
princípio da seletividade, de acordo com o qual produtos mais essenciais 
devem ter uma alíquota menor e produtos supérfluos devem ter uma alíquota 
maior (exemplo do cigarro, que é muito tributado para, em tese, desestimular o 
consumo, que gera custo de saúde pública para o Estado/outro exemplo: 
alíquota favorecida para quem usufrui de maneira adequada o meio ambiente). 
Cita, ainda, o exemplo do IPVA, dizendo que os carros menos poluentes 
deveriam ter um favorecimento de alíquota do imposto. 
 
10. PRINCÍPIOS DA PREVENÇÃO E PRECAUÇÃO: Dizem respeito a 
antecipação de riscos. 
a. Prevenção: desrespeito a antecipação de um risco conhecido, de 
um risco real. A humanidade sobre o risco de determinadas 
atividades, criando mecanismos de mitigação do risco. O dano 
ambiental é de difícil reparação, logo, deve-se evitar seu dano. 
Por exemplo, ao construir estradas, deve-se pensar nas 
alternativas que afetem menos o meio ambiente 
b. Precaução: desrespeito a antecipação de um risco 
desconhecido, um risco hipotético, porém, plausível. Muitas vezes 
o dano ambiental não consegue ser restaurado, e por conta disso, 
o poder público deve fazer de tudo para que ele não ocorra na 
prática. Exemplo 1: Transgêneros – há dúvida quanto ao risco 
para a saúde humana de alimentos geneticamente modificados. É 
plausível. Nesse sentido, a lei de biossegurança exerce controle 
sobre a liberação de organismos modificados. 
Exemplo 2: Ondas eletromagnéticas – Não há certeza quanto a 
geração de problemas de saúde, mas é plausível imaginar que 
pode ter. Assim, em alguns Municípios não se pode colocar uma 
antena de captação de dados ao lado de hospital. 
Na prática, é muito difícil medir os riscos da atividade. A precaução é uma 
ideia que esta associada a um cenário de incerteza cientifica, especialmente 
associados a novas tecnologias. 
DICA: o principio da precaução esta condensado como principio 15 da 
Declaração do Rio. Esse artigo coloca que mesmo diante da ausência de 
certeza, deve-se tomar precauções. O problema é que o princípio 15 da 
declaração do Rio tem uma redação um pouco trancada. In verbis: 
Princípio 15. Com o fim de proteger o meio ambiente, o princípio da 
precaução deverá ser amplamente observado pelos Estados, de acordo 
com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos graves ou 
irreversíveis, a ausência de certeza científica absoluta não será utilizada 
como razão para o adiamento de medidas economicamente viáveis para 
prevenir a degradação ambiental. 
 
11. PRINCIPIO DA INFORMAÇÃO: A ideia é de que as pessoas devem ter 
o mais amplo acesso a informação ambiental. Existe uma lei que regula 
o acesso a informação ambiental, lei 10650/03. 
Art. 2o Os órgãos e entidades da Administração Pública, direta, indireta e 
fundacional, integrantes do Sisnama, ficam obrigados a permitir o acesso 
público aos documentos, expedientes e processos administrativos que 
tratem de matéria ambiental e a fornecer todas as informações ambientais 
que estejam sob sua guarda, em meio escrito, visual, sonoro ou eletrônico, 
especialmente as relativas a: 
I - qualidade do meio ambiente; 
II - políticas, planos e programas potencialmente causadores de impacto 
ambiental; 
III - resultados de monitoramento e auditoria nos sistemas de controle de 
poluição e de atividades potencialmente poluidoras, bem como de planos e 
ações de recuperação de áreas degradadas; 
IV - acidentes, situações de risco ou de emergência ambientais; 
V - emissões de efluentes líquidos e gasosos, e produção de resíduos 
sólidos; 
VI - substâncias tóxicas e perigosas; 
VII - diversidade biológica; 
VIII - organismos geneticamente modificados. 
§ 1o Qualquer indivíduo, independentemente da comprovação de interesse 
específico, terá acesso às informações de que trata esta Lei, mediante 
requerimento escrito, no qual assumirá a obrigação de não utilizar as 
informações colhidas para fins comerciais, sob as penas da lei civil, penal, 
de direito autoral e de propriedade industrial, assim como de citar as fontes, 
caso, por qualquer meio, venha a divulgar os aludidos dados. 
§ 2o É assegurado o sigilo comercial, industrial, financeiro ou qualquer outro 
sigilo protegido por lei, bem como o relativo às comunicações internas dos 
órgãos e entidades governamentais. 
§ 3o A fim de que seja resguardado o sigilo a que se refere o § 2o, as 
pessoas físicas ou jurídicas que fornecerem informações de caráter sigiloso 
à Administração Pública deverão indicar essa circunstância, de forma 
expressa e fundamentada. 
§ 4o Em caso de pedido de vista de processo administrativo, a consulta será 
feita, no horário de expediente, no próprio órgão ou entidade e na presença 
do servidor público responsável pela guarda dos autos. 
§ 5o No prazo de trinta dias, contado da data do pedido, deverá ser 
prestada a informação ou facultada a consulta, nos termos deste artigo. 
 
O artigo segundo dessa lei vai dizer o seguinte: o cidadão deve ser amplo 
acesso as informações ambientais, independentemente de interesse. Isso se 
dá porque apenas um cidadão bem informado tem uma melhor condição de 
participar politicamente, de se inserir no debate das grandes questões 
ambientais. 
Está de mãos dadas com o princípio da participação 
comunitária/participação popular. Um dos grandes instrumentos desse 
principio é justamente as chamadas audiências públicas. Uma das etapas do 
licenciamento ambiental, por exemplo, é a realização de uma audiência 
pública. 
A pergunta que fica é a seguinte: o órgão ambiental é obrigado a 
realizar audiência pública em todos os procedimentos de licenciamento 
ambiental? Não, existe uma discricionariedade por parte do órgão ambiental, 
que permite a realização ou não de audiência pública. Há uma 
discricionariedade do órgão ambiental na delimitação de audiência pública – 
resolução 237/87 do CONAMA. O art. 3º dessa resolução coloca que os órgãos 
ambientais realizarão audiências públicas quando couber. 
RESOLUÇÃO 9/87, CONAMA. Se o órgão ambiental, por ventura, não 
determinar a realização da audiência pública, existe um mecanismos que a 
população pode usar para obrigar o órgão ambiental a fazer essa audiência 
pública: abaixo-assinado. Se 50 ou mais cidadãos requererem a audiência 
pública, o órgão ambiental é obrigado a requerer a audiência pública. 
O MP, representando a sociedade, assim como as ONGs Ambientais, 
podem requerer sua realização. A audiência pública é um sistema que vem 
funcionando relativamente bem, e foi incorporada inclusive em sede judicial. 
 
Logo, a realização da audiência é mitigada, pois pode-se supri-la por 
simples requerimento. 
 
12. PRINCIPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: Preconiza uma 
harmonização, um equilíbrio entre três valores: 
a. O valor do desenvolvimento econômico; 
b. O valor do desenvolvimento social; 
c. O valor da proteção ambiental; 
Em termos normativos nossa, CF não fala em sustentabilidade ou 
desenvolvimento sustentável. O máximo que podemos encontrar sobre é o art. 
170, VI, da CF, que trata sobre a ordem econômica, dizendo que esta deve ser 
exercida estando atenta à preservação do meio ambiente. É uma tentativa de 
condicionar o exercício da ordem econômica à atenção à problemática 
ambiental. 
Art. 170 - A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano 
e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, 
conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: 
[...] 
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado 
conforme o impacto ambiental dosprodutos e serviços e de seus processos 
de elaboração e prestação. 
 
Em termos infraconstitucionais, há o art. 4º, I, da Lei 6.938/81, que trata 
dos objetivos da Política Nacional do Meio Ambiente. O inciso I vai dizer que o 
objetivo central da PNMA é promover o desenvolvimento econômico atento às 
questões sociais e às questões ambientais. Fala indiretamente em 
desenvolvimento sustentável. 
Há também a Lei 8666/93, Lei de Licitações, que cita a expressão 
desenvolvimento sustentável. Existe uma preferência de aquisição de produtos 
sustentáveis, produzidos a partir de matrizes “ecologicamente mais sensíveis”. 
 
13. PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE: Está previsto no Art.225, 
parágrafo 3 da CF. O infrator ambiental pode ficar sujeita a três esferas 
de responsabilidade: responsabilidade penal, responsabilidade 
administrativa e responsabilidade civil. 
Art. 225, § 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio 
ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções 
penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os 
danos causados. 
 
• Lei 9658 - vai trazer os tipos penais ambientais. 
• Decreto 6514/08 - regula as infrações administrativas ambientais. 
• Art.14, parágrafo 1, da Lei 6938/81 - responsabilidade civil. 
Essas esferas não são excludentes, o que significa dizer que podem ser 
cumuladas. Não é uma repetição, não há bis in idem. 
 
14. PRINCIPIO DA FUNCAO SOCIOAMBIENTAL DA PROPRIEDADE: A 
partir de 88, começa a ser construir a ideia de que alem da função social 
da propriedade, há um princípio da função socioambiental da 
propriedade, art.1228, parágrafo 1º, CC. 
Art. 1.228 - O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, 
e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou 
detenha. 
§ 1º O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as 
suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, 
de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as 
belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, 
bem como evitada a poluição do ar e das águas. 
 
 O Código florestal estabelece a necessidade da preservação de 
determinadas áreas, como a reserva legal (o proprietário rural tem que reservar 
uma parte do imóvel para a destinação ambiental, não pode dar destinação 
econômica àquela faixa). Essa limitação administrativa deve ser indenizada 
pela perda de oportunidade de uso econômico daquela parcela 
propriedade? É uma espécie de desapropriação indireta deste imóvel? Os 
tribunais têm entendido de modo negativo, dizendo que essa restrição imposta 
pela lei é uma limitação administrativa que cria um regime jurídico de proteção 
ambiental, e não há direito adquirido nem indenização cabível contra regime 
jurídico. Ou seja, as limitações administrativas impostas a propriedade em 
nome da preservação ambiental não geram direito a indenização pelo não-uso. 
 
COMPETÊNCIAS 
 
Competência 
Exclusiva 
Competência 
Privativa 
Competência 
Comum 
Competência 
Concorrente 
Administrativa 
Legislativa Administrativa Legislativa 
União 
União Todos União, Estados, 
DF 
Indelegável. 
art. 22, § 
único. 
art. 26, IV. Ex.: art. 24, VI. 
 
 
• Competência Exclusiva - art. 21, CF - é uma competência 
administrativa; tarefas de estado conferidas apenas à União; é 
indelegável, não pode compartilhar essa competência com outro entes 
federativos. Ex.: Emitir moeda. Neste artigo não se fala em Direito 
Ambiental. 
• Competência Privativa - art.22, CF - é uma competência legislativa; 
algumas matérias/assuntos serão tratados pela União. Ex.: legislar sobre 
Direito Penal, Direito Processual Civil. Há uma exceção no art. 22, § 
único, em que se admite a delegação por meio de lei complementar. A 
União pode editar uma lei complementar e delegar parte dessas 
atribuições aos Estados, mas não toda. Neste artigo não se fala em 
Direito Ambiental. 
• Competência Comum - art. 23, CF. - é uma competência 
administrativa; todos os entes federativos podem e devem executar as 
tarefas previstas neste artigo (União, Estados, DF e Municípios); o inciso 
VI trata da matéria ambiental, da preservação do meio ambiente. Todos 
farão, o que observaremos é a organização, como cada ente vai cumprir 
isso. 
• Competência Concorrente - art. 24, CF - é uma competência 
legislativa; aqui é pra União, Estados e DF - Municípios não; no inciso VI 
temos a competência destes entes para tratar da matéria ambiental. 
 
O município pode legislar sobre matéria ambiental? A resposta é 
positiva. A Doutrina procurou incluir os municípios neste jogo, por meio da 
alusão ao art. 30, I e II, da CF, que trata sobre a competência legislativa 
municipal. Segundo este entendimento, o município poderia criar uma lei 
municipal ambiental que tenha um caráter local, complementando a lei federal 
ou estadual. Portanto, mesmo sem a previsão no art. 24 da CF, a 
jurisprudência do STF tem reconhecido que essa atividade legislativa protetiva 
do meio ambiente se estende aos Municípios. 
O que, exatamente, significa suplementar? Suplementar significa 
preencher de sentido, complementar. Analisaremos 2 exemplos que discutem 
esse caráter suplementar da legislação ambiental, previsto no art. 24, §2º, CF: 
• 1º CASO - Em 2014, a Bahia editou uma lei estadual permitindo a 
comercialização e consumo de bebidas alcoólicas nos estádios de 
futebol. No entanto, havia o entendimento de sua proibição no Estatuto 
do Torcedor, que se trata de um lei federal. Dessa forma, essa lei 
estadual está dispondo em sentido contrário da federal, não 
suplementar. 
• 2º CASO - Em 2009, o Paraná definiu que os postos de gasolina 
deveriam colocar uma placa com informações detalhadas acerca da 
composição dos combustíveis, no entanto, o Código de Defesa do 
Consumidor não traz essa obrigação, vez que, o art. 6º, CDC prevê o 
acesso à informação. Assim, verifica-se que aqui também houve uma 
suplementação. 
• 3º CASO - No início dos anos 2000, vários estados proibiram a 
comercialização do amianto branco. No entanto, uma lei federal de 1995 
permitia seu uso, sob certas condições. Entende-se que essa lei 
estadual seria inconstitucional por não ser suplementar. 
 Outro entendimento seria que a União estabelece normas gerais e o 
Estado poderia ampliar essa proteção. Logo, seria válido, uma vez que o 
Estado está indo ao máximo da proteção ambiental. O STF tem entendido ser 
inconstitucional. 
 
COMPETÊNCIA ADMINISTRATIVA 
Quando falamos em competência administrativa, estamos falando da 
execução de ações de Estado, de tarefas administrativas de Estado. Na 
matéria ambiental, falamos de tarefas administrativas voltadas à proteção do 
meio ambiente, examinando o exercício do poder de polícia ambiental. 
Quanto ao poder de polícia ambiental, estamos fundamentalmente 
fazendo alusão às atividades de licenciamento ambiental e atividades de 
fiscalização. 
Por atividade de licenciamento ambiental tem-se uma atividade prévia, 
que representa um ato de consentimento estatal, ou seja, o Poder Público pode 
impor condições para o exercício da atividade econômica no momento da 
concessão da licença ambiental, dizer como deve ser desempenhada tal 
atividade. 
Já a atividade de fiscalização ocorre em um momento posterior ao 
licenciamento, com a atividade já licenciada em andamento. Essa fiscalização 
ambiental pode resultar na lavratura de um auto de infração e instauração de 
um processo administrativo para apurar a infração. 
Então, quando se fala de competência administrativa ambiental, quer se 
falar das atividades de licenciamento e de fiscalização: quem pode licenciar e 
quem deve fiscalizar a matéria ambiental no direito brasileiro? 
(1) Base no art. 23 CF. Estabelece que a competência administrativa 
ambiental é dita comum, pois é subdividida entre todos os entes federativos.

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