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CADERNO DE DIREITO AMBIENTAL PROFESSOR DR. DANIEL BRAGA LOURENÇO TURMA C – 2018.1 MARIA EUGÊNIA PINHEIRO SENA DA SILVA E-MAIL: daniel@lourenco.adv.br DIREITO AMBIENTAL - INTRODUÇÃO Uma primeira pergunta que devemos fazer, é o porquê da existência da regulação ambiental. Qual a razão da existência dessa regulação? Podemos responder essa questão com base no pensamento do autor Garret Hardin, no artigo "A Tragédia das Commons", 1968. Inicialmente, precisamos conceituar “Commons”. Commom é um instituto do direito anglo-saxão, que significa, basicamente, pedaço de terra explorado conjuntamente. Neste trabalho, o autor pede para que imaginemos uma commom onde há três pastores de ovelhas, com o rebanho de tamanho aproximadamente igual. Não podemos esquecer que o ser humano é um ser egoísta, e tende a querer maximizar seus interesses. Entre esses interesses, está o interesse de proteger e maximizar patrimônio. Passado algum tempo, um dos pastores tem a ideia de acrescentar mais um animal em seu rebanho, que é considerado pelo autor como uma unidade produtiva. Entende-se, então, que a partir deste acréscimo haverá um prejuízo para a coletividade, representado por uma fração resultante da pressão ambiental por existir mais um animal. Dito isso, o prejuízo derivado do incremento patrimonial afetará a todos os integrantes da Commom. O autor utiliza essa metáfora para resolver o problema que se dá entre a privatização de bônus e a socialização de perdas. Quando o empreendedor captura um bem ambiental para coloca-lo como um insumo em sua cadeia produtiva, está privatizando um bem, que em principio é um bem coletivo. Por outro lado, há sempre um aspecto negativo em termos de acréscimo de pressão ambiental. Assim, a perda gerada por essa atividade produtiva não será suportada apenas por um indivíduo. Esses impactos ambientais são compartilhados por uma sociedade inteira. Para solucionar esse problema, inserimos a figura do Estado, para tentar minimizar as perdas, regulando as atividades. Isto posto, entendemos que o direito ambiental é um direito puramente regulador, com a meta de limitar a livre iniciativa em nome da preservação ambiental. Cada vez mais, tem se pensado que um problema ambiental não é só um problema do Estado, mas da sociedade como um todo. A constituição quando trata da matéria ambiental impõe um dever, no sentido de preservar, de defender o meio ambiente. Muitas pessoas, equivocadamente, depositam esperança na resolução dos problemas ambientais através da tecnologia, e isso não tem se mostrado verdadeiro. As novas tecnologias são boas, mas normalmente, trazem novas questões que não eram inicialmente pensadas. Um exemplo disso está no artigo "As Raízes Históricas da Tecnologia Ambiental" - Lynn White, 1967, onde o autor diz que, nas grandes cidades em um período onde os meios de transporte eram basicamente de tração animal, o principal problema era lidar com os dejetos animais. Surge, então, como uma solução, o automóvel, que em um primeiro momento, resolveria o problema. Contudo, o que notamos atualmente, é que o automóvel é um dos principais causadores dos problemas ambientais. *Essa questão da solução para os dejetos animais foi a principal causa do primeiro encontro internacional sobre direito ambiental, conforme veremos nesta aula. O professor, ainda, cita o exemplo da energia elétrica. Indica que a lâmpada fluorescente veio após a lâmpada normal, o que contribuiu para uma econômica de energia. O LED é até melhor. No entanto, nos últimos 30 anos houve aumento do uso per capta de energia elétrica. Dessa forma, surge o seguinte questionamento: Se a lâmpada gasta menos energia, por que consumimos mais? A resposta é bem simples: porque os aparelhos eletrônicos à disposição são muito mais numerosos (celulares, computadores, ar condicionado, etc.). Atualmente, há certa vulgarização da sustentabilidade. Muitas pessoas e empresas tratam desse assunto, mas poucas delas realmente realizam atitudes sustentáveis. A Conferência de Estocolmo foi a primeira grande conferência internacional de direito ambiental, em 1972. Em 1992, houve a conferência Eco 92, e em seguida, em 2012, a Rio+20. A principal dificuldade encontrada nessas conferenciais é a de implementar políticas efetivas de preservação ambiental. No relatório final da conferência, a palavra natureza foi escrita apenas 5 vezes, “animais” apenas 2 vezes. A palavra desenvolvimento apareceu 293 vezes. HISTORIA DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL É equivocado pensar que a legislação ambiental é uma coisa nova, ou que surgiu com a Constituição de 1988, vez que, no Brasil sempre existiram normas ambientais, como, por exemplo, a legislação ambiental presente nas Ordenações do Reino, em que haviam normas ambientais proibindo caça de certas espécies e o sofrimento excessivo dos animais, por exemplo. É claro que essas normas não eram normas pontuais, mas sempre houve, em alguma medida, uma preocupação normativa com o tema. Em 1602, foi publicada uma lei sobre pesca de baleias no Brasil, e em 1605, uma lei sobre o Pau-Brasil. Por que a gente decide fazer uma lei sobre pesca de baleias? Porque na região nordeste a pratica da pesca de baleia era recorrente, e seu óleo era utilizado na iluminação pública. Partindo deste panorama, surge a preocupação com a pesca desenfreada de baleias e a possibilidade de extinção por conta da ausência de regulação. E qual a lógica dessa lei? A lógica dessa lei é enxergar essas baleias como uma commodity. Da mesma forma, a lei sobre a extração do Pau-Brasil, surge com a preocupação do esgotamento dessa commodity. Em 1934, Getulio Vargas editou uma série de normas ambientais por meio de decretos presidenciais, regulando alguns setores importantes, como por exemplo, os códigos de mineração, de águas, florestal, e a primeira grande lei de proteção aos animais. Embora fossem decretos, eles têm valor de lei. Depois da Segunda Guerra Mundial, temos uma modificação muito grande em termos no padrão de consumo (o padrão americano de vida), que traz muitas questões para o direito ambiental. Atrás dessas questões surgem grandes acidentes ambientais (que deram origem a Conferência de Estocolmo), como por exemplo, em 1952, o episódio do Smog (Smoke Fog) - nesse período, muitas pessoas utilizavam o carvão para se aquecer no inverno, e nesse ano, o fog se juntou a fumaça do carvão, e isso provocou a morte de muitas pessoas por contaminação da atmosfera. Em 1958, no Japão, houve um acidente na baia de Dinamarca, que envolveu uma fábrica muito poderosa naquele momento, que despejava regularmente mercúrio no mar. As pessoas passaram a ficar contaminadas por mercúrio. Hoje podemos dizer que o oceano é um grande poço de metais pesados. *A contaminação de mercúrio ocorre também por conta da atividade de mineração. No ano de 1962, foi lançado o livro "Primavera Silenciosa", em que a autora Rachel Carson chama atenção sobre o uso indiscriminado do uso de defensivos agrícolas na lavoura, e demonstrava isso com a redução da vida animal nos locais em que havia grande pulverização de agrotóxicos. Nos Estados Unidos, em 1969, surge o National Environmental Policy Ac - NEPA, uma grande norma que criou a política federal ambiental, que, posteriormente foi copiada pelo Brasil, em 1981. Em 1972, por conta de todos os problemas supracitados, é realizada a Conferência de Estocolmo, onde houve um grande debate entre os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento. Apesar de muito importante, a Conferência não trouxe muitas mudanças efetivas, porque os mais desenvolvidos queriam impedir o avanço do desenvolvimento dos menos; não houve consenso. No Brasil temos a Lei 6938/81 - Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), anterior a promulgação da Constituição de 1988, que traz uma conformação entre osprincipais órgãos de gestão ambiental no Brasil e um balizamento sobre a responsabilidade civil e administrativa ambiental. É o mais perto que temos de um código ambiental. Na sequência temos a Constituição de 1988, que inovou no mundo jurídico, dedicando um capitulo especifico para a matéria ambiental, formado por um único dispositivo, que é o Art.225. Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder público: I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente; VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. § 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei. § 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. § 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais. § 5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais. § 6º As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas. § 7º Para fins do disposto na parte final do inciso VII do § 1º deste artigo, não se consideram cruéis as práticas desportivas que utilizem animais, desde que sejam manifestações culturais, conforme o § 1º do art. 215 desta Constituição Federal, registradas como bem de natureza imaterial integrante do patrimônio cultural brasileiro, devendo ser regulamentadas por lei específica que assegure o bem- estar dos animais envolvidos. DEFINIÇÃO LEGAL DE MEIO AMBIENTE A definição legal de meio ambiente aparece na lei 6938/81, em seu artigo 3º, I. Esse artigo nos traz uma serie de conceitos em matéria ambiental. Art. 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas; - Quais os elementos que constituem o meio ambiente? Os autores dizem que a definição presente na lei esta muito voltada a uma dimensão de meio ambiente natural. O problema é que esta não seria a única dimensão da matéria ambiental, em outras palavras podemos dizer que esta definição é uma dimensão limitada. Os autores indicam que existe o chamado meio ambiente artificial, o meio ambiente cultural, e o meio ambiente do trabalho. Essas seriam as três outras principais dimensões do meio ambiente. • MEIO AMBIENTE ARTIFICIAL: o meio ambiente artificial designa toda a preocupação com o ordenamento urbano. Essa preocupação existe porque hoje a realidade é que a maioria das pessoas vive na cidade. Sentiu-se a necessidade, portanto, que criemos regras para permitir que as pessoas que vivem nas cidades tenham uma melhor qualidade de vida. A própria Constituição Federal quando trata da exigência do plano diretor, que é um dever que determinados municípios tem, procura organizar as cidades. Outro exemplo é o Estatuto das Cidades, que também procura criar mecanismos de gestão urbana, como o estudo de impacto de vizinhança (professor da o exemplo da construção de um shopping). Alguns autores defendem que o direito urbanístico seria um direito preocupado em enfrentar os mecanismos de gestão urbana. • MEIO AMBIENTE CULTURAL: o meio ambiente cultural procura cuidar das criações humanas que tem relevância cultural, sejam elas materiais ou imateriais. Por exemplo, obras de artes, estátuas, edifícios históricos, folclore, danças típicas, religiões, a musica, etc. São todas as manifestações que possuem relevância para a identidade e a memória do povo. A Constituição Federal em seus artigos 215 e 216, tutela, basicamente, os chamados direitos culturais e o patrimônio cultural (como por exemplo, o direito a meia entrada). A lei ambiental não protege todos os tipos de manifestações culturais. Um exemplo disso é o crime de balonismo, ou o caso do grafite e da pichação, ainda que muitas pessoas entendam que a pichação e o grafite são manifestações culturais. Juridicamente a lei de crimes ambientais prescreve também um tipo penal para a pichação e o grafite, ressalvando que é possível existir grafite desde que com autorização prévia. Entende-se, portanto, que existe a necessidade do ordenamento proteger e fomentar o meio ambiente artístico, mas que essa proteção não impossibilita a criação de restrições. *O tombamento é um instituto de preservação do meio ambiente cultural. Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais. § 1º O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional. § 2º A lei disporá sobre a fixação de datas comemorativas de alta significação para os diferentes segmentos étnicos nacionais. § 3º A lei estabelecerá o Plano Nacional de Cultura, de duração plurianual, visando ao desenvolvimento cultural do País e à integração das ações do poder público que conduzem à: I - defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro; II - produção, promoção e difusão de bens culturais; III - formação de pessoal qualificado para a gestão da cultura em suas múltiplas dimensões; IV - democratização do acesso aos bens de cultura; V - valorização da diversidade étnica e regional. Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I - as formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico,paleontológico, ecológico e científico. § 1º O poder público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação. § 2º Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da documentação governamental e as providências para franquear sua consulta a quantos dela necessitem. § 3º A lei estabelecerá incentivos para a produção e o conhecimento de bens e valores culturais. § 4º Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos, na forma da lei. § 5º Ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores de reminiscências históricas dos antigos quilombos. • MEIO AMBIENTE DO TRABALHO: o meio ambiente do trabalho desrespeito a todas as regras que visam garantir ao empregado melhores condições no ambiente em que realiza suas funções. Um exemplo disso são as regras de segurança do trabalho. É importante salientar, que o próprio Supremo Tribunal Federal, na ADI 3540, reconhece que a definição de meio ambiente não é só a definição de meio ambiente natural. (pegar o início com a Letícia) É importante tentarmos lembrar de dois biomas que não estão nessa lista, que são a caatinga e o serrado. O serrado é um dos biomas com mais diversidade biológica, tem associação direta com as principais bacias hidrográficas do planeta, mas é um dos mais degradados. Antes de tratarmos do aspecto relacionado a expressão “patrimônio nacional”, não podemos esquecer que a natureza jurídica do meio ambiente é bem difuso, não de bem público. Ser patrimônio nacional significa dizer que o estado deve dar uma atenção diferenciada em termos de proteção para essas áreas, que seriam um pouco mais sensíveis. Não significa dizer que essas áreas se tornam bens públicos. Tanto é assim, que os crimes ambientais dentro desses biomas serão julgados pela Justiça Comum. NATUREZA JURÍDICA Quando a Constituição fala em bens de uso comum do povo, devemos fazer a leitura do dispositivo utilizando a concepção de que o meio ambiente tem natureza difusa. Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. § 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais. Por conta disso, quando o artigo fala em patrimônio nacional, não quer dizer que esses biomas listados se tornam bens da União, considerando que essa mentalidade já foi quebrada quando tratamos da natureza jurídica do bem ambiental. Quando estudamos a classificação dos bens em Direito Civil (móveis, imóveis, consumíveis etc.), existe uma divisão, que vem lá do Direito Romano, entre bens públicos e bens privados. A primeira espécie de bem público que aparece no art. 99 do CC é o bem de uso comum do povo. A definição de bem público está explicitada no art. 99 do CC “os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno”. Assim, com base no art.98, os bens de uso comum do povo são aqueles que pertencem à União, aos Estados, ao DF e aos Municípios. O ar que respiramos é um bem ambiental? Sim. Ele é de propriedade do Município do Rio de Janeiro? Não. Portanto, a doutrina ambiental preconiza que, na verdade, o meio ambiente não é um bem público, é um bem difuso, de uso coletivo, visto que não pertence ao Estado, e sim à sociedade. Embora a CF utilize a expressão “bem de uso comum do povo”, ela não deve ser interpretada como um bem público, e sim como um bem difuso, coletivo, cujos titulares somos todos nós, a sociedade. O bem difuso se apresenta com uma categoria intermediária entre o bem público e o bem privado. Sua titularidade é diferente das outras duas classificações. Cada um de nós é “dono por inteiro” da qualidade ambiental. O Estado é tão somente um gestor público de um bem que é da sociedade. INTERESSES COLETIVOS Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo. Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de: I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato; II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base; III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum. Ao falamos em interesse coletivo, devemos observar se estamos tratando do gênero ou da espécie. INTERESSE GRUPO* OBJETO DA PRETENSÃO** ORIGEM*** DIFUSOS INDETERMINADO INDIVISÍVEL FATO COLETIVOS DETERMINADO INDIVISÍVEL RELAÇÃO JURÍDICA INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS DETERMINADO DIVISÍVEL FATO • Grupo: Determinado ou Indeterminado (observar se é ou não possível identificar individualmente os que compõem o grupo). • Objeto da pretensão: Divisível ou Indivisível • Origem: investiga se na origem do problema esse grupo de pessoas possui vinculo jurídico ou uma circunstância de fato. O art.81, parágrafo único, I, CDC, ao trazer a expressão “Transindividual”, determina que os direitos ali elencados vão para além do individual, ou seja, tratam-se de direitos coletivos. O CDC busca defender, proteger a parte mais vulnerável na relação de consumo, e uma das formas de defender o consumidor, é defendê-lo de propagandas enganosas e propagandas abusivas (Art.37, CDC). Propaganda enganosa é uma propaganda que ilude o consumidor, tanto pela qualidade, como pela quantidade. Imagine a seguinte situação: na década de 90, a Fanta Laranja vinculava uma propaganda, que no final do reclame, dizia "Beba Fanta Laranja, sinta o verdadeiro sabor da laranja". O direito se vale do homem médio, e o homem médio não somos nós, que felizmente, somos uma minoria, e não seríamos enganados com uma propaganda como essa. De acordo com o professor, o homem médio é o Homer Simpson, é um cara com pouco acesso a informação e mais vulnerável a algumas situações. Outra modalidade de propaganda vedada é a propaganda abusiva, que veicula a mensagem publicitária com algo que atente contra os valores sociais. A Devassa (marca de cerveja) volta e meia é condenada por propaganda abusiva. O caso mais teratológico da Devassa foi o da cerveja preta, onde colocaram a foto da garrafa da cerveja preta e ao lado a foto de uma mulher negra, com os dizeres "É pelo corpo que se reconhece a verdadeira negra". A primeira coisa a ser observada, é que associar a imagem de mulher à bebida, hoje é um pouco absurdo. Essa propaganda veicula um valor moralmente condenável. (INTERESSES DIFUSOS) Imagine a seguinte situação: foi veiculada na televisão uma propaganda enganosa ou abusiva. Houve um grupo de pessoas que sofreram um impacto dessa propaganda? Sim, um grupo indeterminado. Uma das pretensões básicas e imediatas é acabar com a propaganda. Eu posso parar a propaganda para um e para outro não? Não, não é possível fracionar o objeto da pretensão, o objeto é indivisível. Na origem, essas pessoas têm vinculo jurídico entre si? Não, são pessoas que não se conhecem, há apenas uma relação de fato. (INTERESSES COLETIVOS) O dano ambiental tipicamenteé um dano que afeta também o interesse difuso. Quando uma mineradora polui ilicitamente as águas de um rio, o dano ambientalmente repercute em quem? Todo mundo, indiretamente, em maior ou menor medida será afetado pela perda de qualidade ambiental. É um grupo indeterminado de pessoas. Quando ocorre o dano ambiental, queremos impor que o causador desse problema restaure o problema, e essa pretensão é indivisível. Ainda, dizemos que não há vínculo jurídico anterior, por tratar-se de um grupo indeterminado. Este vínculo se dá na divisão do grupo e na origem deste grupo. Imagine que eu seja um bom vendedor de automóveis e convença vocês a sair da aula e assinar um contrato de consórcio. Horas depois, alguns de vocês me ligam e dizem que no contrato havia uma cláusula abusiva, altamente prejudicial. O que podemos fazer em uma situação como esta? Ingressar em juízo, para pretender que o poder judiciário declarasse a nulidade dessa clausula abusiva. Este é um problema que envolve um interesse de pessoas (coletivo), determinável (é possível identificar individualmente cada um do grupo, através dos contratos assinados) e há uma relação jurídica anterior. O exemplo mais plausível é o nível de insalubridade no meio ambiente de trabalho, vez que essa categoria profissional esta sendo afetada ambientalmente no exercício daquela função. Interesses Individuais Homogêneos - Não parece esquisito esse nome? Não estamos falando de interesse coletivo? Não parece certo contrassenso? Realmente tem esse problema. Estou chamando atenção para o fato de que a ultima categoria é de interesse individual. O direito permite que essas pessoas que individualmente tenham interesses individuais muito parecidos com as outras, possam usar a tutela coletiva, que trás algumas vantagens a tutela meramente individual. Se abrirmos a lei de ação civil pública, vamos verificar que ela traz uma vantagem muito boa, que é a vantagem de não condenação a verbas sucumbenciais. O interesse individual homogêneo é esse interesse individual semelhante, que permite o uso da tutela coletiva. O interesse individual é determinado, divisível e na origem, é uma origem de fato. Se abandonarmos a coluna da origem, com as duas outras colunas do grupo e da origem, nos permite analisar a diferença entre cada uma dessas categorias. O professor da o exemplo do Fiat Tipo, que entrava em combustão sozinho. Em casos como esse, o CDC prevê o instituto do recall. Nesse caso do Fiat Tipo, a Fiat não fez o recall, e infelizmente, alguns acidentes aconteceram, possibilitando que e os proprietários fossem, individualmente, ao judiciário pretendendo se compensarem do prejuízo - valor equivalente ao conserto do carro, ou a perda de valor de mercado do veiculo. Contudo, há a hipótese de que os proprietários lancem mão da tutela coletiva. Outro exemplo é o caso da Samarco. Quando houve o derramamento de lama, houve um dano difuso, e, além desse aspecto, não existiam pessoas que viviam ali, que tiveram suas casas soterradas? O dano ambiental afeta difusamente a coletividade, mas pode também causar um dano individual a essas pessoas. CONCEITOS IMPORTANTES Art 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas; II - degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características do meio ambiente; III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos; IV - poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental; V - recursos ambientais, a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo e os elementos da biosfera. V - recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora. • DEGRADAÇÃO DO MEIO AMBIENTE (Inciso II): entende-se por degradação do meio ambiente toda alteração prejudicial da qualidade ambiental. Degradação é um gênero, e poluição é uma espécie de degradação. • POLUIÇÃO (Inciso III): A poluição é a degradação causada pelo homem, fruto de conduta humana. Por exemplo, cai um raio em uma floresta e pega fogo. Houve degradação ambiental? Sim. Houve poluição? Não. Contudo, se alguém vai até essa floresta, joga um cigarro, e este cigarro é o causador do incêndio, há degradação ambiental e poluição. • POLUIDOR (Inciso IV): poluidor é toda pessoa física ou jurídica de direito publico ou de direito privado, responsável direta ou indiretamente por dano ambiental. Quem é o responsável indireto? É aquele que indiretamente colabora para o dano ambiental. • RECURSOS NATURAIS (Inciso V): São a atmosfera, as águas, os estuários, o mar territorial (...). São os elementos naturais que compõe o meio ambiente. ÉTICA AMBIENTAL A Ética é um ramo da filosofia. Alguns preferem a denominação Filosofia Moral. O radical grego éthos significa comportamento, e se assemelha muito à palavra latina moral, que também significa comportamento. Nós as utilizamos muitas vezes para distinguir o certo do errado, o adequado do inadequado. Todavia, no campo acadêmico, alguns autores procuram traçar uma distinção entre o campo da ética e o da moral. A moral seria uma “fotografia” do comportamento social. Ela procura investigar e constatar como as pessoas se comportam de fato. Tem um sentido eminentemente descritivo de comportamentos. Regras de etiqueta social são um exemplo de normas de moralidade (ir nu para a sala de aula viola uma expectativa moral). A aceitação da escravidão nos séculos passados era uma questão moral, era a forma como agíamos. Os dilemas morais, dilemas de ética, são dilemas de difícil solução. Haverá algumas perguntas que são muito relevantes para a ética e outras nem tanto. A ética sempre foi pensada desde os gregos como algo que se dizia respeito do comportamento do homem com outro homem. O comportamento humano também pode afetar de maneira relevante, outros seres, outros entes. Ha limites éticos o que a gente pode fazer ou deixar de fazer. Já a ética não se compromete apenas com uma descrição de comportamentos. Ela pretende avaliar racionalmente esses comportamentos, para investigar se eles tem bom fundamento ou não. A ética examina, sob uma fundamentação racional, se a escravidão humana, por exemplo, possui bons fundamentos para existir. A ética, tal como o Direito, é um “dever ser”. A ética vai postular a existência de valores objetivos que vão informar a sociedade humana universalmente, como um todo. Isso gera uma certa perplexidade, porque é muito claro as sociedades humanas variam de comportamento. Mas será que elas variam de valor? Os gregos enterravam seus mortos em sinal de respeito, enquanto, pelo mesmo motivo, os calassianos os comiam. Caso do bonde desgovernado. Imagine uma situação em que temos uma linha de trem, e por alguma razão, você saiba que ele está desgovernado. Você é um espectador que sabe que o bonde está desgovernado, e que existem 5 pessoas inocentes, que estão amarradas no trilho do trem. Diante de você, há uma única alternativa, que é acionar uma alavanca, que desloca o trem para uma via secundaria, um outro trilho. Contudo, nessa outra via, temos uma pessoa amarrada no trilhodo trem. As opções são: não fazer nada ou acionar a alavanca e salvar o maior número de vidas humanas inocentes. A conduta moralmente correta é aquele que maximiza a felicidade, de acordo com o raciocínio utilitário, consequencialista. Esse filósofos são reformistas sociais, são todos ingleses, na sua grande maioria. O professor modifica o exemplo, retira a possibilidade de acionar a alavanca, e coloca um cara gordinho, que, se jogado no trilho, impedirá a morte dos 5 amarrados no trilho. Nesse caso, a maioria das pessoas da sala responderam que não sacrificariam o gordinho, se aproximando do pensamento deontológico. ADI4983/CE procurou analisar a constitucionalidade da Lei 15.299/CE, uma lei estadual que regulamentava a vaquejada como prática desportiva e cultural. Uma peculiaridade é que Associação Brasileira de Vaquejada pediu para ser ouvida como amicus curiae. A vaquejada é uma atividade cultural do Nordeste brasileiro, onde dois participantes, a cavalo, correm atrás de um boi em disparada. Os participantes devem tracionar o rabo do boi, para que ele caia dentro de uma área específica, a depender da pontuação. Lesões graves aos animais são comuns, visto que os mesmos são derrubados violentamente, e que o rabo é uma extensão da coluna vertebral. A ADI procurou questionar uma lei do estado do Ceara, que regulamentava a prática da vaquejada. De acordo com o procurador geral, a lei violava a previsão do Art.225, §1º, VII, CP – que preconiza que incumbe ao Poder Público, para assegurar a efetividade do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais à crueldade. Crueldade é um conceito jurídico indeterminado, mas os tribunais tem entendido que crueldade significa a imposição de um sofrimento desnecessário, sem razão, sem justificativa para existir. Por outro lado, a mesma constituição protege um outro valor, que é o valor da manifestação cultural, há uma tutela do patrimônio cultural. Haveria, portanto, na vaquejada, um confronto entre essas duas previsões, porque a vaquejada é uma manifestação cultural, e por outro lado, há a preocupação com a lesão aos animais. Existiria um obstáculo constitucional a prática da vaquejada? O STF decidiu esse caso, e foi um caso muito aflitivo, porque a decisão final foi de 6 a 5. O último voto foi da Ministra Carmem Lucia, que decidiu contra a vaquejada, sob o argumento que nesse conflito de valores, deveria prevalecer a proteção dos animais contra a crueldade. Um julgamento de mérito em sede de controle concentrado, projeta em princípio, efeito contra terceiros. Evidentemente, que o legislativo não fica vinculado a questão. Houve um efeito na bancada ruralista - atrelada ao agronegócio-, que se manifestou por conta do inconformismo após a ADI, e propôs a Emenda Constitucional 96, de 2017, a qual inseriu o §7º ao artigo 225, que diz que a vaquejada não se enquadra como uma prática cruel vedada pelo §1º, VII. “Se o STF tá dizendo que prática é inconstitucional, é simples de resolver: alteramos a Constituição”. Este é um caso de ativismo legislativo, que ocorre quando o Poder Legislativo quer contornar uma decisão judicial. Foi a Proposta de Emenda Constitucional que tramitou mais rápido na história do país. Em função disso, já foi proposta no STF uma ADI contra a EC 96. Existe um fenômeno hoje no direito constitucional, que é o chamado ativismo legislativo, que é uma reação do legislativo a uma decisão judicial. Propuseram então uma PEC, que modificaria o texto da constituição brasileira, inserindo um novo parágrafo no art.225. Essa PEC foi aprovada em tempo recorde, e passou a dizer (EC 96/17) que se uma prática, uma atividade for considerada patrimônio cultural, ela fica fora do alcance do art. 225, par.1, VII, CF. A decisão de mérito (procedência ou improcedência) no caso de uma ADI, no chamado controle concentrado de constitucionalidade, gera um primeiro grande efeito, que o efeito retroativo temporal. Quando o STF decide pela procedência de uma ADI, aquela norma é tida como inconstitucional desde a sua origem (ex tunc). Outro grande efeito dessa decisão é que ela afetará, em princípio, a todos (erga omnes). Em relação aos efeitos contra todos, existem duas correntes doutrinárias que analisam o tema. Para a corrente majoritária, só a parte dispositiva da decisão vincula terceiros. Para a corrente minoritária, toda a decisão vai gerar efeitos contra terceiros, todos os fundamentos de fato e de direito que permitiram aquela conclusão. A consequência prática é que, partindo da primeira visão, somente a Lei “X” é inconstitucional, mas, partindo da segunda visão, com base nos fundamentos da decisão, outras leis que se enquadram naquela discussão estariam maculadas pelo mesmo vício. Outra peculiaridade neste caso da ADI 4983 é que, logo após a decisão do STF, por conta da pressão de setores envolvidos com a prática da vaquejada (consideremos que esta “atração” gera bastante lucro), a bancada ruralista do Congresso Nacional, Já tramitam duas ADI's contra a Emenda. O principal argumento é o de que se está esvaziando a previsão constitucional. O STF quando decidiu contra a vaquejada, entendeu que o caso trazia um debate principiológica, utilizando- se da técnica de ponderação. De acordo com o professor, esse caso não é um caso resolvível por meio de ponderação, seja para delimitar que prepondera o valor de proteção aos animais, seja pela manutenção da vaquejada. Porque, o art.225, par.1, VII, CF, é uma regra. Embora crueldade seja um conceito jurídico indeterminado, isso se torna uma regra, uma mandamento proibitivo expresso. Nas palavras do professor o melhor método de solução para esse problema é a subsunção de fato a regra. O fato se amolda a regra ou não se amolda? Qual o fato? A vaquejada. A vaquejada é cruel ou não é cruel? Ainda, de acordo com o professor, a maioria dos ministros não fez uso dos precedentes da própria corte, e existe uma rega no Novo CPC que diz o seguinte: se a parte submete a corte um caso e pede que esse caso seja julgado de acordo com os precedentes da própria corte, que, nesse caso, deverá fazer um juízo de semelhança. Por conta disso, o STF deveria justificar o porquê as regras das decisões da farra do boi e dos casos da rinha de galo, se aplicam ou não ao caso da vaquejada. Além disso, o STF poderia ter decido a questão de uma maneira muito mais simples, utilizando o art. 489, §1º, do CPC/15, que estabelece que quando a parte invoca a se favor um precedente da Corte, a Corte é obrigada a dizer as razões pelas quais entende que os precedentes devem ser aplicados ou não aquele caso. No passado, o STF já havia julgado casos semelhantes (farra do boi, rinha de galo) e o MPF invocou esses precedentes em que o STF julgou tais práticas inconstitucionais. Contudo, neste caso, o STF ignorou o dispositivo do CPC e não ouviu o MPF. O tema do uso cultural de animais é bastante complicado. É difícil estabelecermos essa linha de até onde podemos ir. Por exemplo, a vedação de sacrifícios humanos, do uso de drogas que facilitam um estado de transe, a restrição da poluição sonora de alguns templos em horários impróprios. E a questão animal se enquadra exatamente aí. PRINCÍPIOS QUE ORIENTAM O DIREITO AMBIENTAL Não há ainda uma uniformidade entre os autores sobre quais são os princípios que regem o Direito Ambiental, contudo, vamos conhecer os principais: 1. FUNDAMENTALIDADE DA TUTELA DO MEIO AMBIENTE: Direito ambiental, é na verdade, direito humano. A tutela ambiental, na verdade, é um direito fundamental, ainda que não esteja previsto no rol de direitos ambientais. Aparece no próprio caput do art. 225 da CF “todos têm direito ao meio ambienteecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida (...)”. Eu protejo o meio ambiente para garantir a qualidade de vida das pessoas. Imaginemos, por exemplo, as condições de existência das pessoas que moram nos arredores de um lixão. Art.2, Lei 6938/81. Esse dispositivo trás o grande dispositivo da chamada política nacional do meio ambiente, que alem de proteger o meio ambiente, também busca um meio ambiente saudável Na ADI 3540, entre muitas coisas, o STF disse que a tutela ambiental é um direito humano de 3ª geração. A 3ª geração compreende os direitos humanos de titularidade coletiva, os direitos difusos (meio ambiente, direitos do consumidor). VALOR DOS TRATADOS INTERNACIONAIS A constituição federal, no art.5º, parágrafo 3º, vai passar a tratar, a partir de 2004 (EC 45/04), de um valor especial para os tratados de direitos humanos. Nesse sentido: Art.5º,§ 3º, CF. Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. Sendo o direito ambiental um direito humano. Por conta disso, um tratado de matéria ambiental, sendo o Brasil signatário, é um tratado de direitos humanos. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: § 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. Existe, desde 88, no art.5, o parágrafo 2, que nos diz que os direitos e garantias fundamentais estabelecidos pelo legislador nãoe excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. Isso dá uma ideia de que o Brasil pode assinar os tratados que achar conveniente. Além disso, o artigo nos dá a perspectiva de que os direitos fundamentais não são apenas os previstos na Constituição, sem excluir aquele que podem ser trazidos por via de tratados. A leitura desse dispositivo nos permite entender que os tratados internacionais de direitos humanos deveriam ingressar no nosso ordenamento com força constitucional. Um dos problemas, é que a nossa CF tem duas características: • Formal; • Rígida (significa dizer, que a nossa constituição, em tese, estabelece um procedimento especial para que seu texto seja modificado). Dessa forma, admitir que os tratados de direito internacional ingressem no Ordenamento Jurídico sem qualquer procedimento especial, seria como "quebrar" essa lógica da rigidez. Com base nesse questionamento, o STF consolidou uma posição, segundo a qual, esses tratados internacionais de direitos humanos deveriam gozar de forca supralegal. A supralegalidade é um espaço que fica entre a norma Constitucional e a Lei Ordinária. Em 2004, a nossa CF foi emendada, e tivemos a edição da EC/45, e no bojo dessa emenda, inserimos um novo parágrafo a esse artigo, que foi o parágrafo 3º. Tal parágrafo irá versar sobre a forma especial de incorporação (3/5 em 2 turnos nas duas casas - Câmara dos Deputados e Senado Federal), em que o tratado passará a ter forca constitucional. Em 2007 tivemos a internalização e a aprovação de um tratado de direitos humanos, que versava sobre as pessoas com Deficiência. Até o momento, nenhum tratado de direito ambiental foi internalizado dessa forma, tendo, portanto, força supralegal. 2. PRINCÍPIO DA NATUREZA PÚBLICA DA PROTEÇÃO AMBIENTAL: Também pode ser colhido da leitura do Art.225, caput, CF. Há uma imposição ao poder publico de defesa do meio ambiente, ou seja, tem um compromisso de efetivar políticas públicas e leis que visem melhorar a qualidade ambiental. Não devemos confundir com a natureza jurídica do meio ambiente, que tem natureza de bem difuso, não de bem publico. 3. IMPRESCRITIBILIDADE DO DANO AMBIENTAL: O cerne da discussão desrespeito ao instituto da prescrição. Todo mundo sabe, que a prescrição trabalha com um valor importante para o direito, que é o valor da segurança jurídica/estabilidade das relações jurídicas. O direito, em princípio, vai impor um prazo para que a vítima do dano possa resolver as situações lesivas. Nesse sentido: “Art. 189 - Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos prazos a que aludem os arts. 205 e 206”. Esse artigo traz os elementos centrais que compõe o instituto da prescrição. Violado o direito, quando alguém pratica um ato ilícito, nasce uma pretensão que se estingue com o tempo. A prescrição, então, representaria a extinção pelo decurso do tempo. Art. 206. Prescreve: § 1o Em um ano: I - a pretensão dos hospedeiros ou fornecedores de víveres destinados a consumo no próprio estabelecimento, para o pagamento da hospedagem ou dos alimentos; II - a pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste contra aquele, contado o prazo: a) para o segurado, no caso de seguro de responsabilidade civil, da data em que é citado para responder à ação de indenização proposta pelo terceiro prejudicado, ou da data que a este indeniza, com a anuência do segurador; b) quanto aos demais seguros, da ciência do fato gerador da pretensão; III - a pretensão dos tabeliães, auxiliares da justiça, serventuários judiciais, árbitros e peritos, pela percepção de emolumentos, custas e honorários; IV - a pretensão contra os peritos, pela avaliação dos bens que entraram para a formação do capital de sociedade anônima, contado da publicação da ata da assembléia que aprovar o laudo; V - a pretensão dos credores não pagos contra os sócios ou acionistas e os liquidantes, contado o prazo da publicação da ata de encerramento da liquidação da sociedade. § 2o Em dois anos, a pretensão para haver prestações alimentares, a partir da data em que se vencerem. § 3o Em três anos: I - a pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos ou rústicos; II - a pretensão para receber prestações vencidas de rendas temporárias ou vitalícias; III - a pretensão para haver juros, dividendos ou quaisquer prestações acessórias, pagáveis, em períodos não maiores de um ano, com capitalização ou sem ela; IV - a pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa; V - a pretensão de reparação civil; VI - a pretensão de restituição dos lucros ou dividendos recebidos de má-fé, correndo o prazo da data em que foi deliberada a distribuição; VII - a pretensão contra as pessoas em seguida indicadas por violação da lei ou do estatuto, contado o prazo: a) para os fundadores, da publicação dos atos constitutivos da sociedade anônima; b) para os administradores, ou fiscais, da apresentação, aos sócios, do balanço referente ao exercício em que a violação tenha sido praticada, ou da reunião ou assembléia geral que dela deva tomar conhecimento; c) para os liquidantes, da primeira assembléia semestral posterior à violação; VIII - a pretensão para haver o pagamento de título de crédito, a contar do vencimento, ressalvadas as disposições de lei especial; IX - a pretensão do beneficiário contra o segurador, e a do terceiro prejudicado, no caso de seguro de responsabilidade civil obrigatório. § 4o Em quatro anos, a pretensão relativa à tutela, a contar da data da aprovação das contas. § 5o Em cinco anos: I - a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou particular; II - a pretensão dos profissionais liberais em geral, procuradores judiciais, curadores e professores pelos seus honorários, contado o prazo da conclusão dos serviços, da cessação dos respectivos contratosou mandato; III - a pretensão do vencedor para haver do vencido o que despendeu em juízo. No caso ambiental, quando por exemplo uma empresa laca um material contaminante no rio. Violou o direito? Violou. Surge uma pretensão? Surge. Qual é a vítima? A sociedade. A sociedade tem representantes para ingressar essa ação? Sim, o MP. Incide prescrição? Dano imprescritível - Justificativas: Os defensores desta tese dizem que prescrição é instituto de direito privado. É correto dizer isso? A prescrição não se aplicaria ao direito público? De acordo com o professor, essa afirmativa é uma meia verdade, porque historicamente a prescrição nasce no direito privado, mas com o tempo ela se "desgarra dessa mãe” e vai sendo operacionalizada pelo direito público, como por exemplo, no direito penal. Esse argumento esta superado. Um dos elementos essenciais do instituto da prescrição é o tempo. Afirma-se que a legislação ambiental não traz prazo prescricional, como faz o código civil. Haveria uma carência da fixação do prazo, e isso prejudicaria o instituto da prescrição. Esse argumento é superado, por conta da analogia possível com os prazos da legislação penal e da legislação civil. O terceiro argumento trás um outro problema, que é a contagem do prazo, por conta, principalmente do termo inicial da contagem do prazo. Porque o dano ambiental, normalmente é um dano que se projeta no tempo e no espaço. Por conta disso, alguns autores vão dizer que de nada adianta estabelecer prazos para a legislação ambiental, pois a todo momento o termo inicial se renova, porque o dano vai se renovando a todo segundo. Esse argumento, faticamente, parece um argumento interessante, mas, a apesar disso, é possível identificar o termo inicial, o momento inicial do dano. No exemplo da Samarco, conseguimos estabelecer como termo inicial o momento do desabamento da barragem. O quarto argumento vai trabalhar com outro elemento da prescrição, que é o elemento da inércia. Para que a prescrição ocorra, a vitima não pode exercer a pretensão. No caso do dano ambiental, a vitima é a sociedade. Como podemos medir a inércia da sociedade? É impossível medir a inércia do titular do bem jurídico violado no dano jurídico ambiental. Reconhecendo isso, a lei legitima órgãos para a legitimação extraordinária, (ingressa em nome próprio defendendo direito alheio) que é caso, por exemplo, do MP. A inércia, nesse caso, seria a inércia dos representantes da sociedade. O quinto argumento faz uma analogia com o Art.37, parágrafo 5, CF- trata das ações de ressarcimento por danos causados ao erário público. as ações de ressarcimento por danos causados o erário publico são imprescritíveis. Sendo o dano ambiental muito próximo ao dano do erário publico, as ações de ressarcimento de dano ambiental também são imprescritíveis. A crítica a ser feita a esse argumento esta centrada na natureza jurídica do meio ambiente. Por fim, o sexto argumento estabelece uma conexão entre matéria ambiental e matéria de direitos humanos. Na teoria geral dos direitos humanos, ha uma tese de que os direitos humanos são imprescritíveis. Ha uma tese de que as graves lesões as direitos humanos são imprescritíveis. Dessa forma, um homicídio simples, por exemplo, ainda que configure uma violação a direito humano, se comparado ao genocídio, seria uma lesão menos grave. Dano Prescritível - Contrapontos: De fato, a prescrição foi pensada, inicialmente, no âmbito do direito privado, entretanto, hoje em dia podemos ver sua aplicação no direito público, por exemplo, no Direito Penal, Tributário, Administrativo. Por que não no Direito Ambiental? Não há um impedimento teórico que vede a aplicação deste instituto para além do direito privado. As ações de ressarcimento por danos ambientais, a princípio, têm natureza cível. Tanto é assim, que a principal ação é a ação civil pública. Embora não haja prazo específico de prescrição na legislação ambiental, por analogia, já que a natureza é cível, podemos buscar esses prazos na legislação civil. Então, qual vai ser esse prazo? Existe uma corrente que vai dizer que esse prazo é um prazo de 3 anos, que é o prazo de reparação civil fixado pelo Código Civil. Outros vão dizer que o prazo é de 5 anos, por uma analogia com o Art.27, CDC. Por fim, há uma corrente que defende que o prazo é de 10 anos, por conta do prazo geral. Tem havido uma simpatia por essa ultima corrente, por ser mais benéfico a vítima. Em relação a inércia da sociedade, está pode ser medida, já que legislação prevê que determinadas pessoas estejam autorizadas para falar em nome da sociedade (Ministério Público, Defensoria Pública, ONGs, Administração Direta, Administração Indireta). Estas pessoas estariam legitimadas para defender o meio ambiente em juízo, sendo possível a aferição da inércia da sociedade. Por fim, o dano ambiental projeta, sim, efeitos no tempo, mas é possível, através de uma perícia, identificar o termo inicial, o momento que o dano começou, o primeiro dia que o agente poluiu. O prazo deve ser contado deste momento, ou, quando muito, do conhecimento do fato poluidor/degradador. O STJ, em várias ocasiões, decidiu no seguinte sentido: fez uma distinção entre duas situações envolvendo dano ambiental. Vai dizer que existe o dano ambiental que repercute difusamente, e o dano ambiental que repercute individualmente. No exemplo da Samarco, quando a barragem se rompeu, esse dano teve repercussão difusa. A despeito dessa realidade, haviam pessoas que moravam embaixo da represa, e a lama invadiu a casa dessas pessoas. Esse dano é dano difuso? Não, é um dano ambiental repercutindo também individualmente. O STJ disse que o dano ambiental difuso é imprescritível, mas em relação ao dano individual, entendeu que é prescritível. 4. VEDAÇÃO DE RETROCESSO AMBIENTAL: Essa tese não é uma tese de direito ambiental. Novamente o direito ambiental vai beber da fonte dos direitos humanos, na teoria da vedação de retrocesso social. Essa ideia, em resumo, vai postular que, uma vez conquistados e garantidos determinados direitos, esses direitos não poderiam ser suprimidos ou alterados para pior. A única possibilidade seria ampliar esses direitos, mas nunca diminuir o alcance da proteção estabelecida, como as clausulas pétreas (cláusula gravada na pedra), por exemplo. Essa ideia encontra fundamento legal em duas vertentes: • Pacto de São José da Costa Rica - Convenção Americana dos Direitos Humanos - art. 26 - ideia de garantir os direitos fundamentais de maneira progressiva, ampliativa, nunca no sentido de retrocesso. • Lei 6938/81, art. 2º - objetivos da política nacional do meio ambiente - dentre eles, há o objetivo de melhoria da proteção ambiental. Quando a CF estabelece a idade penal em 18 anos, isso é uma garantia para o cidadão. A garantia de que, antes dos 18 anos, o fato ilícito praticado por ele não será nunca crime. É, portanto, uma garantia fundamental. Existe, então, um debate de que a alteração da idade penal seria uma violação a esse principio. Quanto à questão ambiental, recentemente, o Código Florestal foi alterado, em 2012, e o STF julgou varias ações diretas de inconstitucionalidade, que argumentava, em tese que o novo código florestal era inconstitucional, porque havia um retrocesso ambiental. Em relação à vaquejada, muitos defendem que, quando a constituição é alterada para permitir que práticas culturais possam ser cruéis, essas alterações são inconstitucionais, por violar o principio da vedação de retrocesso ambiental. 5. PRINCIPIO DO IN DUBIO PRO NATURA: In dubio pro natura, tem um viés hermenêutico, um viés normativo, uma dúvida em favor da natureza. Isso significa dizer que ha um compromisso interpretativo de realizar uma interpretação sempre mais favorável a natureza. Há pouco tempo, chegou no STF a questão do uso de fogo paraa supressão de plantação. Existem muitas questões envolvendo as queimadas, principalmente envolvendo a cana de açúcar. No código florestal há uma proibição do uso de fogo para suprimir a vegetação. Contudo, havia uma dúvida se essa proibição se estendia para a vegetação plantada ou se ela se restringia a vegetação nativa. O STF interpretou amplamente essa restrição, de acordo com o in dúbio pro natura. 6. PRINCÍPIO DO ACESSO EQUITATIVO AO MEIO AMBIENTE: Art.225, caput, CF. Todos têm direito ao meio ambiente (...). Será que todos realmente têm acesso a qualidade ambiental? Ou será que esse acesso não é distribuído igualmente por todos? Será que ha alguma classe de pessoas, categoria, que são mais atingidas pelos danos ambientais? Existem várias correntes ideológicas, e uma delas se chama corrente da justiça ambiental. Essa corrente tem origem na década de 80, nos EUA, em um estudo sobre os aterros sanitários. Nessa pesquisa foi constatado que os lixões são colocados nas regiões periféricas, impondo a um segmento social, que é mais vulnerável economicamente, a realidade de ter que lidar diretamente com esse ônus ambiental. Cita ainda, o exemplo do lixo internacional, momento em que o Brasil importava lixo da Europa. Outro aspecto importante é a equidade interageracional, ou seja, há um compromisso da nossa geração para com as gerações futuras. Alguns autores chegam a dizer que há até mesmo o conceito de racismo ambiental, de forma metafórica, como uma questão de impor as pessoas mais vulneráveis uma onerosidade ambiental excessiva. 7. PRINCIPIO DO POLUIDOR PAGADOR: Esse princípio tem um nome bem ingrato, porque quem nunca estudou pode imaginar que o principio trata de uma compra do direito de poluir. O principio do poluidor pagador não representa um pagamento pelo direito de poluir. Princípio 16. As autoridades nacionais devem procurar promover a internacionalização dos custos ambientais e o uso de instrumentos econômicos, tendo em vista a abordagem segundo a qual o poluidor deve, em princípio, arcar com o custo da poluição, com a devida atenção ao interesse público e sem provocar distorções no comércio e nos investimentos internacionais. O princípio do poluidor pagador, como alguns autores utilizam, pretende internalizar as exterioridades negativas - consta do principio 16 da Declaração do Rio, que foi realizada no período da ECO92. O processo produtivo gera, no final, coisas boas e coisas ruins, ou seja, externalidades positivas e negativas. Destrinchando os termos, temos que a palavra “externalidade” se refere a tudo aquilo que deriva do processo produtivo, que pode gerar (i) externalidades positivas (trabalho, renda, emprego e o próprio produto final) e (ii) externalidades negativas (tudo aquilo que é gerado a partir do processo produtivo e que não é, em princípio, desejado). Um grande exemplo de externalidade negativa é a própria degradação ambiental. A degradação ambiental é um exemplo clássico de externalidade negativa. Idealmente, no mundo “cor de rosa”, não teríamos que viver com a degradação ambiental, mas ela existe, e, por isso, temos que criar mecanismos para internalizar essa degradação, no sentido de fazer com que o degradador assuma os custos sociais e ambientais do seu processo produtivo. Normalmente, até os autores indicam que as externalidades negativas representam falhas de mercado, porque dificilmente o preço final do produto reflete o custo social e ambiental de produção. É uma anomalia no sentido de não ser capturada pelo preço do produto. Geralmente a solução mais típica é a solução de "taxação". O Estado - poder público- permite o exercício do empreendedorismo, mas sem ultrapassar determinados limites predeterminados. Caso esses limites sejam ultrapassados, haverá uma sanção econômica. Não é interessante, em princípio, para o fabricante ficar arcando continuamente com as sanções econômicas, porque isso vai gerar um efeito no preço final. É como se o Estado dissesse: “você, poluidor, pode poluir até determinado nível e eu aceito em nome de gerar renda, gerar aquecimento da economia e atender a demanda da população sobre determinado serviço. Aceito que você polua até aqui, e se você, todavia, ultrapassar esse limite que eu fixei, irei te sancionar, impor uma sanção pecuniária, uma multa”. A lógica desse sistema é que, quando o empreendedor ultrapassa esse limite e é multado/sancionado economicamente, como consequência, o custo produtivo dele aumenta e o preço do produto fica mais caro, repassando o custo desse aumento ao consumidor que reagirá não comprando o produto e migrando para outros fabricantes/fornecedores. É uma estratégia que, indiretamente, acaba fazendo com que o empreendedor não deseje poluir, que ele tente ficar ao máximo dentro dos limites que o Estado previamente fixa, tendo em vista que, se ele ultrapassar, o custo produtivo dele aumenta, assim como o preço do produto, e, normalmente, as pessoas migrarão para outros fabricantes com preços mais acessíveis. A solução pública de taxação tem um lado muito produtivo, que é o fato de tornar o produtor muito ativo na busca de novas soluções tecnológicas que lhe permitam continuar produzindo sem ultrapassar aquele limite que o Estado fixou. O lado negativo dessa proposta é que o custo operacional de fiscalização é muito alto, isso porque o fiscal, por exemplo, tem que ir na fábrica fiscalizar emissão (medir o nível de poluentes que sai da chaminé), tem que ir fazer análise bioquímica da água para saber se o limite foi, ou não, ultrapassado etc.. Ou seja, é uma fiscalização muito dispendiosa, e, considerando o nosso cenário de baixo investimento nos órgãos ambientais, e que, como consequência, o Estado não dispõe do aparato técnico e de pessoal necessário para tanto. Outra forma de tratar a solução pública é mediante a regulação. Aqui o Estado não cria uma limitação, ele fornece uma “receita de bolo”, ou seja, estabelece pré-requisitos para exercer determinada atividade atividade. Dessa forma, o poder publico condiciona aquele empreendedor. A vantagem desse segundo sistema é a diminuição do custo de fiscalização. O problema dessa segunda solução é acomodar o empresário, que não vai ficar atento as inovações tecnológicas. Não é fácil encontrar os mecanismos que sejam eficazes para fazer com que o empresário arque com os prejuízos ambientais por ele causados. No Brasil a gente tem um sistema misto, que aglutina os dois sistemas, mas sem muita efetividade. 8. PRINCIPIO DO USUÁRIO-PAGADOR: Muitos autores entendem esse princípio como um “princípio-filhote” do princípio do poluidor-pagador. Art. 4º - A Política Nacional do Meio Ambiente visará: VII - à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos. Preconiza que quem usa recursos naturais, especialmente para a finalidade econômica, deve pagar pelo uso desses recursos. O uso do bem ambiental deve ser um uso remunerado (mediante pagamento), e nunca gratuito. “O uso deve ser pago” traduz a lógica evidente de que, pagando, tenderemos a racionalizar o uso. Se o empreendedor necessita fazer uso da água, por exemplo, e a lei da Política Nacional dos Usos Hídricos (Lei nº 9433/97) prevê um custo, o que, tecnicamente faria com que a utilização fosse moderada. O mesmo ocorre com o uso racional da energia elétrica. Ou seja, esse princípio está interligado a ideia de racionalizar. 9. PRINCIPIO DO PROTETOR RECEBEDOR: Quem protege o meio ambiente, quem realiza atividades benéficas ao meio ambiente, em princípio deve ser estimulado. Nós devemos encontrar para que as pessoas se sintam estimuladas a proteger o meio ambiente. Um exemplo muito comum é a ideia de usarmos a extrafiscalidade, ou seja, usar ostributos na sua função extrafiscal para estimular ou desestimular determinadas condutas. No caso do meio ambiente, o uso adequado do meio ambiental poderia ser incentivado a partir de mecanismos tributários e, por outro lado, o aparato tributário poderia servir para desestimular usos inadequados. Exemplo: IPI - Para o estabelecimento da alíquota do IPI, funciona o princípio da seletividade, de acordo com o qual produtos mais essenciais devem ter uma alíquota menor e produtos supérfluos devem ter uma alíquota maior (exemplo do cigarro, que é muito tributado para, em tese, desestimular o consumo, que gera custo de saúde pública para o Estado/outro exemplo: alíquota favorecida para quem usufrui de maneira adequada o meio ambiente). Cita, ainda, o exemplo do IPVA, dizendo que os carros menos poluentes deveriam ter um favorecimento de alíquota do imposto. 10. PRINCÍPIOS DA PREVENÇÃO E PRECAUÇÃO: Dizem respeito a antecipação de riscos. a. Prevenção: desrespeito a antecipação de um risco conhecido, de um risco real. A humanidade sobre o risco de determinadas atividades, criando mecanismos de mitigação do risco. O dano ambiental é de difícil reparação, logo, deve-se evitar seu dano. Por exemplo, ao construir estradas, deve-se pensar nas alternativas que afetem menos o meio ambiente b. Precaução: desrespeito a antecipação de um risco desconhecido, um risco hipotético, porém, plausível. Muitas vezes o dano ambiental não consegue ser restaurado, e por conta disso, o poder público deve fazer de tudo para que ele não ocorra na prática. Exemplo 1: Transgêneros – há dúvida quanto ao risco para a saúde humana de alimentos geneticamente modificados. É plausível. Nesse sentido, a lei de biossegurança exerce controle sobre a liberação de organismos modificados. Exemplo 2: Ondas eletromagnéticas – Não há certeza quanto a geração de problemas de saúde, mas é plausível imaginar que pode ter. Assim, em alguns Municípios não se pode colocar uma antena de captação de dados ao lado de hospital. Na prática, é muito difícil medir os riscos da atividade. A precaução é uma ideia que esta associada a um cenário de incerteza cientifica, especialmente associados a novas tecnologias. DICA: o principio da precaução esta condensado como principio 15 da Declaração do Rio. Esse artigo coloca que mesmo diante da ausência de certeza, deve-se tomar precauções. O problema é que o princípio 15 da declaração do Rio tem uma redação um pouco trancada. In verbis: Princípio 15. Com o fim de proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deverá ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos graves ou irreversíveis, a ausência de certeza científica absoluta não será utilizada como razão para o adiamento de medidas economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental. 11. PRINCIPIO DA INFORMAÇÃO: A ideia é de que as pessoas devem ter o mais amplo acesso a informação ambiental. Existe uma lei que regula o acesso a informação ambiental, lei 10650/03. Art. 2o Os órgãos e entidades da Administração Pública, direta, indireta e fundacional, integrantes do Sisnama, ficam obrigados a permitir o acesso público aos documentos, expedientes e processos administrativos que tratem de matéria ambiental e a fornecer todas as informações ambientais que estejam sob sua guarda, em meio escrito, visual, sonoro ou eletrônico, especialmente as relativas a: I - qualidade do meio ambiente; II - políticas, planos e programas potencialmente causadores de impacto ambiental; III - resultados de monitoramento e auditoria nos sistemas de controle de poluição e de atividades potencialmente poluidoras, bem como de planos e ações de recuperação de áreas degradadas; IV - acidentes, situações de risco ou de emergência ambientais; V - emissões de efluentes líquidos e gasosos, e produção de resíduos sólidos; VI - substâncias tóxicas e perigosas; VII - diversidade biológica; VIII - organismos geneticamente modificados. § 1o Qualquer indivíduo, independentemente da comprovação de interesse específico, terá acesso às informações de que trata esta Lei, mediante requerimento escrito, no qual assumirá a obrigação de não utilizar as informações colhidas para fins comerciais, sob as penas da lei civil, penal, de direito autoral e de propriedade industrial, assim como de citar as fontes, caso, por qualquer meio, venha a divulgar os aludidos dados. § 2o É assegurado o sigilo comercial, industrial, financeiro ou qualquer outro sigilo protegido por lei, bem como o relativo às comunicações internas dos órgãos e entidades governamentais. § 3o A fim de que seja resguardado o sigilo a que se refere o § 2o, as pessoas físicas ou jurídicas que fornecerem informações de caráter sigiloso à Administração Pública deverão indicar essa circunstância, de forma expressa e fundamentada. § 4o Em caso de pedido de vista de processo administrativo, a consulta será feita, no horário de expediente, no próprio órgão ou entidade e na presença do servidor público responsável pela guarda dos autos. § 5o No prazo de trinta dias, contado da data do pedido, deverá ser prestada a informação ou facultada a consulta, nos termos deste artigo. O artigo segundo dessa lei vai dizer o seguinte: o cidadão deve ser amplo acesso as informações ambientais, independentemente de interesse. Isso se dá porque apenas um cidadão bem informado tem uma melhor condição de participar politicamente, de se inserir no debate das grandes questões ambientais. Está de mãos dadas com o princípio da participação comunitária/participação popular. Um dos grandes instrumentos desse principio é justamente as chamadas audiências públicas. Uma das etapas do licenciamento ambiental, por exemplo, é a realização de uma audiência pública. A pergunta que fica é a seguinte: o órgão ambiental é obrigado a realizar audiência pública em todos os procedimentos de licenciamento ambiental? Não, existe uma discricionariedade por parte do órgão ambiental, que permite a realização ou não de audiência pública. Há uma discricionariedade do órgão ambiental na delimitação de audiência pública – resolução 237/87 do CONAMA. O art. 3º dessa resolução coloca que os órgãos ambientais realizarão audiências públicas quando couber. RESOLUÇÃO 9/87, CONAMA. Se o órgão ambiental, por ventura, não determinar a realização da audiência pública, existe um mecanismos que a população pode usar para obrigar o órgão ambiental a fazer essa audiência pública: abaixo-assinado. Se 50 ou mais cidadãos requererem a audiência pública, o órgão ambiental é obrigado a requerer a audiência pública. O MP, representando a sociedade, assim como as ONGs Ambientais, podem requerer sua realização. A audiência pública é um sistema que vem funcionando relativamente bem, e foi incorporada inclusive em sede judicial. Logo, a realização da audiência é mitigada, pois pode-se supri-la por simples requerimento. 12. PRINCIPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: Preconiza uma harmonização, um equilíbrio entre três valores: a. O valor do desenvolvimento econômico; b. O valor do desenvolvimento social; c. O valor da proteção ambiental; Em termos normativos nossa, CF não fala em sustentabilidade ou desenvolvimento sustentável. O máximo que podemos encontrar sobre é o art. 170, VI, da CF, que trata sobre a ordem econômica, dizendo que esta deve ser exercida estando atenta à preservação do meio ambiente. É uma tentativa de condicionar o exercício da ordem econômica à atenção à problemática ambiental. Art. 170 - A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: [...] VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dosprodutos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação. Em termos infraconstitucionais, há o art. 4º, I, da Lei 6.938/81, que trata dos objetivos da Política Nacional do Meio Ambiente. O inciso I vai dizer que o objetivo central da PNMA é promover o desenvolvimento econômico atento às questões sociais e às questões ambientais. Fala indiretamente em desenvolvimento sustentável. Há também a Lei 8666/93, Lei de Licitações, que cita a expressão desenvolvimento sustentável. Existe uma preferência de aquisição de produtos sustentáveis, produzidos a partir de matrizes “ecologicamente mais sensíveis”. 13. PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE: Está previsto no Art.225, parágrafo 3 da CF. O infrator ambiental pode ficar sujeita a três esferas de responsabilidade: responsabilidade penal, responsabilidade administrativa e responsabilidade civil. Art. 225, § 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. • Lei 9658 - vai trazer os tipos penais ambientais. • Decreto 6514/08 - regula as infrações administrativas ambientais. • Art.14, parágrafo 1, da Lei 6938/81 - responsabilidade civil. Essas esferas não são excludentes, o que significa dizer que podem ser cumuladas. Não é uma repetição, não há bis in idem. 14. PRINCIPIO DA FUNCAO SOCIOAMBIENTAL DA PROPRIEDADE: A partir de 88, começa a ser construir a ideia de que alem da função social da propriedade, há um princípio da função socioambiental da propriedade, art.1228, parágrafo 1º, CC. Art. 1.228 - O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha. § 1º O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas. O Código florestal estabelece a necessidade da preservação de determinadas áreas, como a reserva legal (o proprietário rural tem que reservar uma parte do imóvel para a destinação ambiental, não pode dar destinação econômica àquela faixa). Essa limitação administrativa deve ser indenizada pela perda de oportunidade de uso econômico daquela parcela propriedade? É uma espécie de desapropriação indireta deste imóvel? Os tribunais têm entendido de modo negativo, dizendo que essa restrição imposta pela lei é uma limitação administrativa que cria um regime jurídico de proteção ambiental, e não há direito adquirido nem indenização cabível contra regime jurídico. Ou seja, as limitações administrativas impostas a propriedade em nome da preservação ambiental não geram direito a indenização pelo não-uso. COMPETÊNCIAS Competência Exclusiva Competência Privativa Competência Comum Competência Concorrente Administrativa Legislativa Administrativa Legislativa União União Todos União, Estados, DF Indelegável. art. 22, § único. art. 26, IV. Ex.: art. 24, VI. • Competência Exclusiva - art. 21, CF - é uma competência administrativa; tarefas de estado conferidas apenas à União; é indelegável, não pode compartilhar essa competência com outro entes federativos. Ex.: Emitir moeda. Neste artigo não se fala em Direito Ambiental. • Competência Privativa - art.22, CF - é uma competência legislativa; algumas matérias/assuntos serão tratados pela União. Ex.: legislar sobre Direito Penal, Direito Processual Civil. Há uma exceção no art. 22, § único, em que se admite a delegação por meio de lei complementar. A União pode editar uma lei complementar e delegar parte dessas atribuições aos Estados, mas não toda. Neste artigo não se fala em Direito Ambiental. • Competência Comum - art. 23, CF. - é uma competência administrativa; todos os entes federativos podem e devem executar as tarefas previstas neste artigo (União, Estados, DF e Municípios); o inciso VI trata da matéria ambiental, da preservação do meio ambiente. Todos farão, o que observaremos é a organização, como cada ente vai cumprir isso. • Competência Concorrente - art. 24, CF - é uma competência legislativa; aqui é pra União, Estados e DF - Municípios não; no inciso VI temos a competência destes entes para tratar da matéria ambiental. O município pode legislar sobre matéria ambiental? A resposta é positiva. A Doutrina procurou incluir os municípios neste jogo, por meio da alusão ao art. 30, I e II, da CF, que trata sobre a competência legislativa municipal. Segundo este entendimento, o município poderia criar uma lei municipal ambiental que tenha um caráter local, complementando a lei federal ou estadual. Portanto, mesmo sem a previsão no art. 24 da CF, a jurisprudência do STF tem reconhecido que essa atividade legislativa protetiva do meio ambiente se estende aos Municípios. O que, exatamente, significa suplementar? Suplementar significa preencher de sentido, complementar. Analisaremos 2 exemplos que discutem esse caráter suplementar da legislação ambiental, previsto no art. 24, §2º, CF: • 1º CASO - Em 2014, a Bahia editou uma lei estadual permitindo a comercialização e consumo de bebidas alcoólicas nos estádios de futebol. No entanto, havia o entendimento de sua proibição no Estatuto do Torcedor, que se trata de um lei federal. Dessa forma, essa lei estadual está dispondo em sentido contrário da federal, não suplementar. • 2º CASO - Em 2009, o Paraná definiu que os postos de gasolina deveriam colocar uma placa com informações detalhadas acerca da composição dos combustíveis, no entanto, o Código de Defesa do Consumidor não traz essa obrigação, vez que, o art. 6º, CDC prevê o acesso à informação. Assim, verifica-se que aqui também houve uma suplementação. • 3º CASO - No início dos anos 2000, vários estados proibiram a comercialização do amianto branco. No entanto, uma lei federal de 1995 permitia seu uso, sob certas condições. Entende-se que essa lei estadual seria inconstitucional por não ser suplementar. Outro entendimento seria que a União estabelece normas gerais e o Estado poderia ampliar essa proteção. Logo, seria válido, uma vez que o Estado está indo ao máximo da proteção ambiental. O STF tem entendido ser inconstitucional. COMPETÊNCIA ADMINISTRATIVA Quando falamos em competência administrativa, estamos falando da execução de ações de Estado, de tarefas administrativas de Estado. Na matéria ambiental, falamos de tarefas administrativas voltadas à proteção do meio ambiente, examinando o exercício do poder de polícia ambiental. Quanto ao poder de polícia ambiental, estamos fundamentalmente fazendo alusão às atividades de licenciamento ambiental e atividades de fiscalização. Por atividade de licenciamento ambiental tem-se uma atividade prévia, que representa um ato de consentimento estatal, ou seja, o Poder Público pode impor condições para o exercício da atividade econômica no momento da concessão da licença ambiental, dizer como deve ser desempenhada tal atividade. Já a atividade de fiscalização ocorre em um momento posterior ao licenciamento, com a atividade já licenciada em andamento. Essa fiscalização ambiental pode resultar na lavratura de um auto de infração e instauração de um processo administrativo para apurar a infração. Então, quando se fala de competência administrativa ambiental, quer se falar das atividades de licenciamento e de fiscalização: quem pode licenciar e quem deve fiscalizar a matéria ambiental no direito brasileiro? (1) Base no art. 23 CF. Estabelece que a competência administrativa ambiental é dita comum, pois é subdividida entre todos os entes federativos.
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