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Kalecki - Teoria da dinâmica econômica

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Teoria da
Dinâmica
Econômica
Kalecki,1954
Kalecki
Michal Kalecki, mesmo tendo partido da obra de Marx, nunca adotou de fato as suas diretrizes metodológicas. Desenvolveu apenas, isto sim, uma longa e profícua carreira de economista. De fato, ele nunca pretendeu mais do que desenvolver uma teoria positiva do funcionamento do capitalismo. 
Apesar de algumas divergências, construiu uma teoria muito similar à de Keynes – um economista liberal por formação e por opção política. Mesmo sendo um socialista, Kalecki não produziu uma teoria crítica do capitalismo. Tal como Keynes, analisou o sistema capitalista pela ótica da circulação do capital, dando sustentação à tese de que a meta desse sistema é a produção de valores de uso. Não escapou também, verdadeiramente, do paradigma da economia do equilíbrio.
 A teoria de Kalecki sobre a distribuição da renda parte de uma base microeconômica, atribuindo à formação de preços importância determinante na distribuição funcional da renda. 
11/01/2021
11/01/2021
As economias capitalistas em geral se desenvolvem dentro de um padrão cíclico: ou seja, elas se expandem, mas com flutuações periódicas. Assim, a produção ao longo do tempo pode ser representada como um movimento ondulatório, como a curva C na Figura 1. Mas, apesar das flutuações, a produção continua a crescer; isto é, o movimento ondulatório se dá em torno de uma tendência crescente, expressa pela reta T na Figura 1. Nesse comportamento das economias capitalistas, é possível separar três tipos de questões:
1) por que, num determinado ano, a renda atingiu um certo nível, e não outro nível qualquer? 
por que a renda oscila ao longo do tempo? Ou, por que a renda apresenta o movimento descrito pela curva C?;
por que a renda cresce? Ou, como explicar a tendência crescente T?
10/01/2021
 A longo prazo trata-se de um único problema: como explicar o comportamento da produção no decorrer do tempo? A explicação geral para essa pergunta responderia simultaneamente as três referidas questões: a tendência crescente da produção, seu movimento cíclico e o nível atingido em cada ano, tendo em vista que, ao longo do tempo, o comportamento da produção nada mais é do que uma sucessão de produções anuais. 
10/01/2021
Parte I:
Grau de Monopolização e distribuição de Renda
De modo geral, as alterações de preço dos produtos acabados são “determinadas pelo custo”, enquanto as alterações de preço das matérias-primas, inclusive produtos alimentícios primários, são “determinadas pela demanda”. Claro está que o preço dos produtos acabados é afetado por quaisquer mudanças “determinadas pela demanda” ocorridas nos preços das matérias-primas, mas é através dos custos que essa influência é transmitida.
quanto às matérias-primas, a situação é diferente. É necessário um período de tempo relativamente grande para se conseguir um aumento da oferta de produtos agrícolas. O mesmo se pode dizer com relação à mineração, embora a coisa aqui se dê em grau menor. Mantendo-se a oferta inelástica durante um período de tempo curto, uma elevação da procura motiva uma diminuição dos estoques e, consequentemente, um aumento dos preços.
Capítulo I
Custos e preços
10/01/2021
Flutuações dos preços de matérias-primas
as modificações a curto prazo nos preços dos produtos primários refletem principalmente as alterações da demanda. Dessa forma, esses preços caem bastante com a contração da atividade econômica e sobem bastante com sua expansão.
os preços das matérias-primas sofrem flutuações cíclicas maiores do que os níveis salariais. As causas desse fenômeno podem ser explicadas da seguinte forma: mesmo com os salários mantidos constantes, os preços das matérias-primas cairiam durante uma depressão, devido à queda da demanda “real”. Ora, os cortes de salários durante uma depressão nunca podem “alcançar” o preço das matérias-primas em sua queda, porque os cortes salariais por sua vez provocam uma queda na demanda e portanto uma nova queda nos preços dos produtos primários. 
10/01/2021
Formação de preços de produtos acabados
Uma vez que as flutuações dos salários no decurso do ciclo econômico são muito menores que as dos preços das matérias-primas, conclui-se que os preços dos produtos acabados também tendem a flutuar bem menos que os preços das matérias primas.
Quanto às diferentes categorias de preços de produtos acabados, supõe-se frequentemente que os preços dos bens de capital durante um período de depressão caem mais que os preços dos bens de consumo. 
O peso dos produtos primários, inclusive produtos alimentícios, provavelmente será maior no montante dos bens de consumo que no caso dos bens de capital e os preços dos produtos primários caem mais que os salários durante a depressão.
10/01/2021
A razão entre os preços de bens de capital e os preços de bens de consumo demonstra uma clara tendência ascendente. Contudo, transparece da curva temporal dessa relação no gráfico 2 que houve uma elevação mais pronunciada durante as contrações de 1929/33.
10/01/2021
Capítulo 2
Os determinantes da parcela relativa dos salários na renda
A parcela relativa dos salários no valor agregado da indústria manufatureira é determinada, não só pela composição industrial do valor agregado, como pelo grau de monopólio e pela razão entre os preços das matérias-primas e os custos de salários por unidade. Uma elevação do grau de monopólio ou dos preços das matérias-primas com relação aos custos de salários por unidade provoca uma queda da parcela relativa dos salários no valor agregado.
O grau de monopolização, a razão entre os preços de matérias-primas e custos de salários por unidade e a composição industrial26 são os determinantes da parcela relativa dos salários na renda bruta do setor privado.
Distribuição da 
Renda Nacional
10/01/2021
As mudanças a longo prazo na parcela relativa dos salários, quer no valor agregado de um grupo industrial como o setor manufatureiro ou na renda bruta de todo o setor privado, são, de acordo com o que foi visto acima, determinadas pelas tendências a longo prazo do grau de monopolização e dos preços das matérias-primas com relação aos custos de salários por unidade, bem como da composição industrial. 
É possível dizer algo mais específico quanto a mudanças na parcela relativa dos salários na renda no decurso do ciclo econômico. Verificamos que o grau de monopólio tende a aumentar um pouco durante as depressões.
 Nessa fase, os preços das matérias-primas caem com relação aos salários A primeira influência apontada tende a reduzir a parcela relativa dos salários na renda, enquanto a segunda tende a aumentá-la. 
Finalmente, as modificações da composição industrial durante uma depressão afetam de maneira adversa a parcela relativa dos salários. 
Mudanças a longo e a curto prazo na distribuição da renda
11/01/2021
O que significa então?
Os efeitos líquidos das modificações desses três fatores sobre a parcela relativa dos salários na renda — o primeiro e o terceiro dos quais são negativos, enquanto o segundo é positivo — parecem ser pequenos. Assim, a parcela relativa dos salários, quer no valor agregado de um grupo industrial, quer na renda bruta do setor privado como um todo, parece não apresentar flutuações cíclicas significativas.
11/01/2021
Parte II:
A Determinação dos Lucros e da Renda Nacional
A teoria dos lucros em um modelo simplificado Podemos considerar em primeiro lugar os determinantes dos lucros em um modelo fechado, no qual tanto os gastos do setor público como a tributação sejam desprezíveis. 
O produto nacional bruto, portanto, será igual à soma do investimento bruto (em capital fixo e estoques) e o consumo. 
O valor do produto nacional bruto será dividido entre trabalhadores e capitalistas e nada, praticamente, será pago como impostos. 
A renda dos trabalhadores consiste em salários e em ordenados. 
A renda dos capitalistas (ou lucros brutos) engloba a depreciação e lucros não distribuídos, dividendos e saques não operacionais, aluguéis e juros. 
Capítulo 3
Os Determinantes dos Lucros
11/01/2021Temos assim o seguinte balanço do produto nacional bruto, no qual fazemos a distinção entre o consumo dos capitalistas e o consumo dos trabalhadores:
Se supusermos ainda que os trabalhadores não fazem poupança, o consumo dos trabalhadores será então igual à sua renda. Daí se conclui diretamente então que
Lucros brutos = Investimento bruto + consumo dos capitalistas
11/01/2021
	Lucros brutos	Investimento bruto
	Salários e Ordenados	Consumo dos Capitalistas Consumo dos Trabalhadores
	Produto Nacional Bruto	Produto Nacional Bruto
os lucros brutos reais em um dado período curto de tempo são determinados por decisões dos capitalistas, com respeito a seu consumo e investimento, tomadas no passado e sujeitas a correções diante de modificações inesperadas no volume dos estoques.
os lucros são determinados pelo consumo e investimento dos capitalistas, é a renda dos trabalhadores (igual aqui ao consumo dos trabalhadores) que é determinada pelos “fatores de distribuição”. 
Dessa forma, o consumo e o investimento dos capitalistas, em conjunto com os “fatores de distribuição”, determinam o consumo dos trabalhadores e, consequentemente, a produção e o emprego em escala nacional. 
11/01/2021
Uma vez que o valor total da produção é dividido entre capitalistas e trabalhadores ou pago em impostos, o valor do produto nacional bruto do lado da renda será igual aos lucros brutos depois de deduzidos os impostos, salários e ordenados depois de deduzidos os impostos, mais todos os impostos, tanto diretos como indiretos. Dessa forma, temos o seguinte balanço do produto nacional bruto:
11/01/2021
	Lucros brutos	Investimento bruto
	 deduzidos os impostos (diretos)	Saldo da balança comercial
	Salários e ordenados	Gastos do Governo em
	 deduzidos os impostos (diretos)
Impostos (diretos e indiretos)	 bens e serviços
Consumo dos capitalistas
Consumo dos trabalhadores
	Produto Nacional Bruto	Produto Nacional Bruto
Uma parte dos impostos é empregada em transferências tais como gastos sociais, enquanto a parte restante serve para financiar os gastos do setor público em bens e serviços. Subtraiamos de ambos os lados do balanço os impostos menos as despesas de transferência. Do lado da renda, o item “impostos” irá desaparecer e somaremos as transferências aos salários e ordenados. Do outro lado, a diferença entre os gastos do Governo em bens e serviços e os impostos menos as transferências será igual ao déficit orçamentário. 
11/01/2021
	Lucros brutos	Investimento bruto
	 deduzidos os impostos	Saldo da balança comercial
	Salários, ordenados e despesas	Déficit orçamentário
	 de transferência deduzidos os	Consumo dos capitalistas
	 impostos	Consumo dos trabalhadores
	Produto Nacional Bruto menos	Produto Nacional Bruto
	 impostos, mais despesas de	menos impostos, mais
	 transferência	despesas de transferência
Poupança e investimento
, o total da poupança é igual à soma de investimento privado, saldo da balança comercial e déficit orçamentário, enquanto a poupança dos capitalistas é igual, é claro, a essa soma menos a poupança dos trabalhadores.
Se supusermos que tanto o comércio externo como o orçamento do Governo são equilibrados, teremos que:
	Poupança bruta	=	Investimento bruto
Se supusermos, ademais, que os trabalhadores não poupam, teremos que:
	Poupança bruta dos capitalistas	= Investimento bruto
Essa equação é equivalente a:
Lucros líquidos = Investimento bruto 	+ Consumo dos capitalistas
11/01/2021
 O efeito do saldo da balança comercial e do
déficit orçamentário
A existência de um saldo positivo na balança comercial significa um aumento do valor devido pelos países estrangeiros ao país considerado. A existência de um déficit orçamentário significa um aumento do valor devido pelo setor público ao setor privado da economia. Esses dois excedentes da receita sobre as despesas geram lucros da mesma forma.
Os lucros são condicionados pela capacidade dos capitalistas de consumir ou de empreender o investimento de capital. O saldo da balança comercial e o déficit orçamentário é que permitem aos capitalistas auferir lucros sobre e acima de suas próprias compras de bens de serviços.
11/01/2021
Capítulo 4
Os lucros serão função tanto do investimento corrente como do investimento do passado recente; ou, falando em termos aproximados, os lucros seguem o investimento com um hiato temporal. 
Os lucros, são determinados completamente pelo investimento, achando-se envolvido um certo hiato temporal. Ademais, o investimento depende de decisões de investir ainda mais remotas no passado. Conclui-se que os lucros são determinados pelas decisões passadas de investir.
A poupança aumentará imediatamente junto com o investimento e os lucros também subirão na mesma proporção. Contudo, o consumo dos capitalistas subirá somente depois de algum tempo, como resultado desse aumento primário dos lucros. Dessa forma, os lucros ainda estarão aumentando depois de já se ter detido o aumento do investimento e da poupança.
Os Lucros e o investimento
11/01/2021
Pontos críticos do modelo kaleckiano 
1. Epistemologicamente não dá implicar “causalidade” em conjuntos estatísticos (agregados) 
2. A divisão dos atores econômicos seguinte da classe dos “capitalistas” e da classe dos “assalariados” não concorda com a realidade de hoje (incluindo nos países emergentes) 
3. Igualmente não concorda com a realidade de hoje a tese que os “assalariados” consomem toda a sua renda 
4. A poupança (S) no modelo kaleckiano é só a poupança privada. Mas para um modelo macroeconômico é necessário a poupança nacional que inclui a poupança pública. No caso se esta seja negativa (G > T), a poupança macroeconômica se diminui com a consequência que a formação de capital se diminui. 
5. Se os investimentos são iguais à poupança privada no modelo, e tem um déficit público, a implicação ceteris paribus é um déficit no comércio exterior com (X < M). 
6. Neste caso, um déficit público não vai aumentar a poupança macroeconômica. 
7. A validez do modelo kaleckiano é epistemologicamente, teoricamente e praticamente limitado (causalidade, modelagem dos atores, aplicação na política econômica). 
11/01/2021

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