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Galileu - Brasil - Edição 313 (2017-08)

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Prévia do material em texto

Gabriel Estrela
YOUTUBER RECEBEU
O DIAGNÓSTICO HÁ 7 ANOS
Teste de farmácia começa a ser
vendido nestemês e remédio
preventivo deve chegar até
ofimdo ano—a ciência avança
para conter a aids,mas
o estigma continua omesmo
P. 34
E U V I V O C O M H I V
E O PRECONCEITO É A PIOR PARTE
EDIÇÃO
ACIÊNCIAAJUDAVOCÊAMUDAROMUNDO
CELEBRIDADES REFLETEM
MOMENTOS DA SOCIEDADEP. 52
A E XPLICAÇÃO CIENTÍFICA
DO SEU COMPORTAMENTOP. 46
P. 56 ENTENDA COMO FUNCIONAO SUICÍDIO ASSISTIDO
DOSSIÊ
CULTURAMAKER
AGO. 17
313
R$ 15,00
DO S NOR T E-A ME R IC v A NO S
S Ã O A DE P T O S DO
"FA Ç A V OCÊ ME S MO " P. 25
57%
P. 9P E S Q UI S A MUN DI A L IN É D I TA D E S C O B R IR Á Q U A I S MI C R Ó B I O S V I V E M N O M E T R Ô
313CAPAaids.indd 1 17/07/2017 21:31:51
edição de ipad
Da sala de aula
veio a insp i ração para Ney Mel lo cont inuar ens inando biologia a seus
alunos também fora dela. Tanto que participou do Geração Futura Educadores
e virou membro do Conselho de Educadores do Futura n Facebook. Isso
fo i só um passo para se transformar em coautor e co sultor da sér ieultl
ebo
or d
bbba no
cons
oa no
cons
futuraplay.org
Ney está online. Ney está no Futura.
para dentro do estúdio.
“O Que É, O Que É?”, um programa que revela como os animais influenciam
a criação de inovações tecnológicas que conhecemos. Por sua nova relação
com o Futura, Ney pôde levar a biologia, assunto que tanto ama, também
ANTIMATÉRIA MATÉRIAS
P.10 ESTUDO GLOBAL ANALISA
MICRÓBIOS DEMETRÔS
P.15 REINO UNIDO QUER
ESPIONARREDESSOCIAIS
P.16 LUNETA: A TERCEIRA
ONDA GRAVITACIONAL
P.19 COLUNA
CONEXÕES CÓSMICAS
P.20 CARTOGRÁFICO
RESGATE DE REFUGIADOS
P.20 MÁQUINA DO TEMPO
AVIÕES DE GUERRA
P.22 TECHTUDO:MICROSOFT
LANÇASEUCHROMECAST
P.23 LISTA DE APLICATIVOS
PARA A VIDA ADULTA
P.14 OMAR DE LAMA DE
MARIANA NÃO ACABOU
P.17 ASGARDIA, A NAÇÃO QUE
DESEJA VIVER NO ESPAÇO
P.34 HIV: CIÊNCIA AVANÇA,
ESTIGMA PERMANECE
P.56 COMO FUNCIONA O
SUICÍDIO ASSISTIDO
P.52 ENTREVISTA
ANNE HELEN PETERSEN
P.71 COLUNA
TUBO DE ENSAIOS
P.72 PANORÂMICA
P.74 ULTIMATO
P.46 POR QUE VOCÊ SE
COMPORTA ASSIM?
P.64 ENSAIO
A VIAGEMDOS DRONES
INOVAÇÃO
Espaços para
desenvolver
projetos com
ferramentas
tecnológicas
ganham força
no Brasil
P.24 ELEMENTAR
PÁGINA DE REVISTA
P.25 DOSSIÊ
CULTURAMAKER
EDIÇÃODEAGOSTODE2017
COMPOSIÇÃO
313Composicao.indd 4 17/07/2017 21:47:17
Na verdade, eu já
aprendi, sim, a dizer
adeus — tanto que
usei esse mesmo tí-
tulo emprestado de
Leandro&Leonardo há poucomais
de um ano, quando Rafael Quick, en-
tão editor de arte da revista, deixava
a GALILEU para ir em busca dos
famosos “novos desafios”. Desta vez,
no entanto, quem se despede sou eu.
Diz o senso comum que devemos
“criar nossos filhos para omundo”. E,
nos últimos três anos e meio, a GA-
LILEU foi omais próximo que já tive
de um filho. Mas, para ser sincera,
sinto que elame criou para omundo
muito mais do que o contrário.
Nunca gostei tanto de trabalhar
em algum lugar quanto gostei daqui;
nunca aprendi tanto quanto aprendi
aqui; nunca acreditei tanto na impor-
tância do que fazia quanto acreditei
aqui. E de todas as reportagens que
fizemos, uma das quemais gosto até
hoje é a de capa da edição de feve-
reiro de 2016, O bandido está morto.
E agora?, que tratava da história
dos linchamentos no Brasil. Foi a
minha primeira capa como editora-
-executiva e fiquei muito orgulhosa
de publicá-la (meses depois, ela re-
ceberia o Prêmio Vladimir Herzog
de Direitos Humanos). O texto foi
assinado pelo editor Nathan Fernan-
des, um especialista em tratar com
leveza dos temas mais delicados.
Conto tudo isso porque a matéria
de capa desta edição, minha últi-
ma como editora-chefe, coinciden-
temente também é assinada pelo
Nathan — e também já é uma das
minhas preferidas (mas essa parte
não é coincidência).
No próximo mês, não assinarei
mais este espaço, mas certamente
continuarei acompanhando a revis-
ta como leitora em busca de repor-
tagens tão boas quanto essas duas
feitas pelo Nathan. Curiosamente,
esta edição também é a última da
editora de arte Fernanda Didini,
que, depois de ganhar todos os
prêmios possíveis, está de mudança
para Nova York. Nós nos encontra-
mos pelo mundo — eu, a Didini e
vocês! Um beijo (e obrigada).
“NÃO APRENDI
DIZER ADEUS,
MAS TENHO
QUE ACEITAR”
N
!
REPORTA-
GEMDOANO
No fim de
julho, a
reportagem
Essa novinha
é uma criança,
da repórter
Isabela
Moreira, foi
escolhida a
melhor do ano
no Prêmio
Editora Globo
de Jornalis-
mo. No ano
passado, a
capa dessa
mesma edição
foi eleita a ter-
ceira melhor
do ano pelo
voto popular
no concurso
daAner.
Cristine Kist — Editora-chefe
ckist@edglobo.com.br
COLABORADORES DOMÊS
ONDE NASCEU E ONDE MORA
Niterói (RJ)
HISTÓRICO
Jornalista especializada em tecnologia.
Adora escrever sobre celulares, apps,
redes sociais e tudo que ajude a deixar
a vida das pessoas menos complicada.
O QUE FEZ NESTA EDIÇÃO
Techtudo: Aplicativos
só para maiores (p. 22)
Nicolly
Vimercate
JORNALISTA
ONDE NASCEU E ONDE MORA
São Paulo (SP)
HISTÓRICO
Formada em Artes Visuais, trabalhou
como designer gráfica durante 12
anos e hoje se dedica integralmente a
desenvolver ilustrações para revistas.
O QUE FEZ NESTA EDIÇÃO
Antimatéria (p. 9)
Brunna
Mancuso
ILUSTRADORA
FOTO Tomás Arthuzzi
ASSISTÊNCIA Iago Fundaro e Biano Lima
PRODUÇÃO Beatriz Liranço
MODELO Gabriel Estrela
MAQUIAGEM Ananda Resende
AGRADECIMENTOS
Blazer Ricardo Almeida (11) 3887-4114
Camisa Cotton Project (11) 3062-9986
Calça GAP (11) 3038-2588
Banqueta Etna (11) 5112-3000
QUEM FEZA CAPA
ONDE NASCEU E ONDE MORA
Rio de Janeiro (RJ) e Los Angeles (EUA)
HISTÓRICO
Formada pela UFSC, com passagem
pelo Estadão. Recentemente, mudou-
-se para Los Angeles, onde vai estudar
roteiro para cinema e TV.
O QUE FEZ NESTA EDIÇÃO
Quem é você na fila do pão? (p. 46)
Marília
Marasciulo
JORNALISTA
PRIMEI -
RAMENTE
WWW.GALILEU.GLOBO.COM
PORCRISTINEKIST
08.2017#313
313Primeiramente.indd 5 17/07/2017 20:32:35
PRODUZIDO POR
APRESENTA
CULTURA
MAKER
Tudo sobre a “culturamaker”:
quem são e o quemove esses
profissionais que utilizam recursos
tecnológicos para desenvolver
projetos de inovação emudar
a cultura dentro de
empresas e da sala
de aula
AIDSNO
SÉCULO 21
Aexpectativadevidade
quemvivecomHIVépraticamente
igual àdequemnão temovírus.Apesar
disso, amentalidadeemrelaçãoàaids
poucoevoluiueopreconceitomargi-
nalizaquemtemasorologia
positiva, contribuindo
paraoaumentoda
epidemia
MICRÓBIOS
DOMETRÔ
Projeto global de cientistas
analisamicróbios presentes em
metrôsmundo afora. No Brasil, o
grupo de pesquisadores coletou
amostras emSão Paulo,
Ribeirão Preto e Rio de
Janeiro durante a
Olimpíada
DISCUTINDO
PADRÕES
Ementrevista, jornalistanorte-
americanadiscuteporquemulheresque
fogemdopadrãodefeminilidade incomodam
tantoasociedade tradicional. Eporque
aculturapopular criouecultivou
a imagemdeumamulher
irreal por tantosanos
QUANDO
NÃOSOMOS
NÓSMESMOS
Livrosobreneurociênciarecém-lançado
nosEstadosUnidosdemonstraporque
somoscapazesdenoscomportar
comopessoascompletamente
diferentesdiantedesitua-
çõesextremas
AIDS E
PRECONCEITO,
SUICÍDIO ASSISTIDO,
MULHERES QUE
TRANSCENDEM
PADRÕES EMUITOMAIS
A reportagemde capa daGalileu de agosto
confronta os avanços damedicina com a
mentalidade retrógrada da sociedade em
relação às pessoas que vivem comHIV.
Outros destaques da edição são o dossiê
sobre “culturamaker”, as pessoas que
buscam suicídio assistido na Europa
e como a sociedade lida com as
“mulheres indomáveis”
SUICÍDIO
ASSISTIDO
Comreportagemdiretoda
Alemanha,mostramoscomofunciona
nopaísapráticadosuicídioassistido(quan-
doumapessoacomodesejodemorrer,
geralmentecomumgraveproblema
desaúde, recebeajudapara
isso,maséelaquem
executaoatode
sematar)
A GOL quer sempre que você aproveite
melhor o seu tempo. Por isso, oferece
uma versão rápida da sua revista
para você aproveitar o conteúdo
empoucosminutos
GANHE TEMPO!
UM GIRO PELOS PRINCIPAIS
DESTAQUES DESTA EDIÇÃO
Gostei. Apesar da
pressa, entendi tudo80% Gostei, mas estava
correndo e não
entendi nada
20%
Gostei, meu
nariz agradece
100%
Para se corresponder com a Redação: endereçar cartas à editora-chefe, GALILEU.
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edição atual desde que haja disponibilidade de estoque.
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DIRETORADOGRUPOCASAE JARDIM, CRESCER, GALILEUETECHTUDO:Daniela Tófoli
REDAÇÃO
EDITORA-CHEFE:Cristine Kist
EDITORADEARTE:Fernanda Didini
EDITORES:Giuliana de Toledo, Nathan Fernandes e Thiago Tanji
REPÓRTERES:André Jorge de Oliveira e IsabelaMoreira
DESIGNERS: Felipe Eugênio (Feu) e João Pedro Brito
ESTAGIÁRIOS:Giuliana Viggiano, Júlio Viana e Nathalia FabroMendes (texto);
Carol Malavolta e Fernanda Ferrari (arte)
COLABORADORESDESTAEDIÇÃO:Cartola Conteúdo, Gabriel Estrela, Marcelle Souza
e Marília Marasciulo (texto); Ananda Resende, Beatriz Liranço, Brunna Mancuso,
Dulla, Estúdio Barca, Flávia Zimbardi, Marcus Penna e Tomás Arthuzzi (arte);
Monique Murad Velloso (revisão)
E-MAILDAREDAÇÃO: galileu@edglobo.com.br
DIRETORGERAL:Frederic Zoghaib Kachar
DIRETOREDITORIAL:Fernando Luna
DIRETORDEAUDIÊNCIA:Luciano Touguinha de Castro
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OBureauVeritas Certification, combase nos processos e procedimentos descritos no seuRelatório de
Verificação, adotando umnível de confiança razoável, declara que o Inventário
deGases de Efeito Estufa—Ano 2012 da Editora Globo S.A. é preciso, confiável e livre de
erro ou distorção e é uma representação equitativa dos dados e informações deGEE sobre
o período de referência para o escopo definido; foi elaborado emconformidade coma
NBR ISO 14064-1:2007 e as Especificações doProgramaBrasileiro GHGProtocol.
Galileu é umapublicação da EDITORAGLOBOS.A.—Av. Nove de Julho, 5.229, 8º andar,
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TECNOLOGIADA INFORMAÇÃO
DIRETORDETECNOLOGIA:Rodrigo Gosling
ESTRATÉGIADIGITAL
COORDENADOR:Santiago Carrilho
DESENVOLVEDORES:FabioMarciano, Fernando Raatz, Fred Campos, Leandro Paixão,
Murilo Amendola, Thiago Previero eWilliamAntunes.
ESTRATÉGIADECONTEÚDODIGITAL
GERENTE:Silvia Balieiro
MERCADOANUNCIANTE
FINANCEIRO, IMOBILIÁRIO, TI, COMÉRCIO EVAREJO—DiretordeNegóciosMultiplataforma:
EmilianoMorad Hansenn;Gerente deNegóciosMultiplataforma: Ciro Horta Hashimoto;Execu-
tivos Multiplataforma: Christian Lopes Hamburg, Cristiane de Barros Paggi Succi, Milton Luiz
Abrantes e Roberto Loz Junior.MODA, BELEZA E HIGIENE PESSOAL—Diretora de Negócios
Multiplataforma: Selma Souto; Executivos Multiplataforma: Eliana Lima Fagundes, Giovanna
Sellan Perez, Selma Teixeira da Costa e Soraya Mazerino Sobral. CASA, CONSTRUÇÃO, ALI-
MENTOSEBEBIDAS, HIGIENEDOMÉSTICAESAÚDE—Diretora deNegóciosMultiplataforma:
LucianaMenezes; ExecutivosMultiplataforma:FatimaOttaviani e Paula Santos.MOBILIDADE,
SERVIÇOSPÚBLICOS E SOCIAIS,AGROE INDÚSTRIA—DiretordeNegóciosMultiplataforma:
RenatoAugusto Cassis Siniscalco;ExecutivosMultiplataforma:Diego Fabiano, Cristiane Soares
Nogueira, Jessica de Carvalho Dias, João CarlosMeyer e Priscila Ferreira da Silva. EDUCAÇÃO,
CULTURA, LAZER, ESPORTE, TURISMO,MÍDIA, TELECOMEOUTROS—Diretora deNegócios
Multiplataforma: Sandra Regina de Melo Pepe; Executivos de NegóciosMultiplataforma:Ana
Silvia Costa, Dominique Petroni de Freitas e Lilian deMarche Noffs. ESCRITÓRIOSREGIONAIS
—GerenteMultiplataforma: Larissa Ortiz;Executiva deNegóciosMultiplataforma:Babila Garcia
Chagas Arantes. UNIDADE DE NEGÓCIOS — RIO DE JANEIRO — Gerente de Negócios Multi-
plataforma:Rogerio Pereira Ponce de Leon; ExecutivosMultiplataforma:Daniela Nunes Lopes
Chahim, Juliane Ribeiro Silva, Maria Cristina Machado e Pedro Paulo Rios Vieira dos Santos.
UNIDADEDENEGÓCIOS—BRASÍLIA—GerenteMultiplataforma:Barbara Costa Freitas Silva;
ExecutivosMultiplataforma:Camila Amaral da Silva e Jorge Bicalho Felix Junior.GERENTEDE
EVENTOS:DanielaValente.OPECOFFLINE:Carlos Roberto de Sá, Douglas Costa e Bruno Granja.
OPEC ONLINE: Danilo Panzarini, Higor Daniel Chabes, Rodrigo Pecoschi. EGCN — Consultora
de Marcas: Olivia Cipolla Bolonha. G.LAB — Diretor de Desenvolvimento Comercial e Digital:
Tiago Joaquim Afonso; Equipe: Caio Henrique Caprioli, Guilherme Iegawa Sugio, Vera Ligia
Rangel Cavalieri, Lucas Fernandes, Luiz Claudio dos Santos Faria e Rodrigo Girodo Andrade.
AUDIÊNCIA
Diretor deMarketingConsumidor:Cristiano Augusto Soares Santos
Diretor dePlanejamento eDesenvolvimentoComercial: Ednei Zampese
Coordenadores deMarketing:Eduardo Roccato Almeida e Patricia Aparecida Fachetti
Edição 312
Julho de 2017
DA REPORTAGEM
DE CAPA
DO DOSSIÊ
ALERGIA
MÉDIAS DASMATÉRIAS
Estamos ficando
doentes...
8,8
A ciência brasileira
vai quebrar?
9,7
Floresta aberta
para negócio
10
Omestre
mandou
9,6
Papo cabeça:
Artur Avila
9,4
O QUE O NOSSO CONSELHO ACHOU...
TEMPO DE SOBRA
PARA AVALIAR
CONSELHO
PORNATHANFERNANDES
Ainda tem gente
que pensa que se a
ciência não for algo
complicado não é de
qualidade, o que nem
sempre é verdade,
e isso foi plenamen-
te demonstrado
na reportagem.
ITALLO LEAL
Paripiranga (BA),
sobre amatéria
de capa
A construção das
cores, as colagens,
o recorte de
tópicos e até o
título mostraram
uma matéria
coesa e de uma
excelência visual
para se inspirar.
Teria sido legal discu-
tir como as mídias so-
ciais também influen-
ciam na ortorexia,
com pessoas desquali-
ficadas e/ou desin-
formadas passando
“dicas” que consi-
deram saudáveis.
BOM, BONITO E
COMPREENSÍVEL
COREIA
LINDA
TODA
BLOGUEIRINHA
CAIOMELO
São Paulo (SP),
sobre a reportagem
Omestre mandou
FLÁVIA SEREGATI
Araras (SP),
sobre Estamos ficando doen-
tes de tanto comer bem?
313Conselho.indd 8 17/07/2017 12:55:51
08 . 20 1 7 1 BRUNNAMANCUSO (BM)2 ESTÚDIOBARCA (EB)
ILUSTRADORES CONVIDADOSEDIÇÃO
THIAGOTANJI
DESIGNFEU,
FERNANDAFERRARI
ECAROLMALAVOLTA
Cientistas do
mundo todo
se reúnem
para estudar
os micróbios
dometrô
Fig. - (BM)
P.0908.2017
ANTI-
MATÉ-
RIA
FATOS • FEITOS • NÚMEROS • NOTAS • NOTÁVEIS
313AMAbre.indd 9 17/07/2017 15:48:22
VOCÊ JÁ SE PERGUNTOU QUAIS MICRÓBIOS
NOS FAZEM COMPANHIA DIARIAMENTE
nometrô, no ônibus, na calçada, na maçaneta da por-
ta, no banco da praça? Pois um grande grupo de cien-
tistas do mundo todo só pensa nisso. A inquietação
deles é tanta que resolveram arregaçar as mangas,
colocar um par de luvas e partir para a pesquisa.
Graças aesse grupo, que compõe o projeto
MetaSUB (sigla para Metagenomics and Metadesign
of Subways and Urban Biomes — Metagenômica e
Metadesign de Metrôs e Biomas Urbanos, em portu-
guês), a resposta para a pergunta, nunca feita antes,
chegará nos próximos meses. No Brasil, moradores
de São Paulo, Rio de Janeiro e Ribeirão Preto (SP)
Estudo global
revelará os
micróbios
que vivem
nos metrôs
e em áreas
urbanas
PORGIULIANA
DE TOLEDO
PASSAGEIROS
INVISÍVEIS
APOIO
O projeto de
pesquisa é
financiado em
parte pela fun-
dação de Bill
Gates, criador
da Microsoft
P. 10 08.2017
313AMAbre.indd 10 17/07/2017 15:48:23
serão os que poderão matar a curiosi-
dade sobre esses vizinhos invisíveis: as
três cidades já forneceram mais de 500
amostras para a pesquisa.
“Fizemos coleta até nas bicicletas pú-
blicas. O que será que tem no selim, com
o qual as pessoas têm um contato bem
íntimo? O que será que tem no guidão?”,
inquieta-se Emmanuel Dias-Neto, coorde-
nador do laboratório de genômica médi-
ca do A. C. Camargo Cancer Center, que
negociou a entrada do Brasil no projeto.
Também lideram o estudo no país Houtan
Noushmehr (USP de Ribeirão Preto) e
Milton Ozório Moraes (Fiocruz).
Ao todo, com o auxílio de swabs — es-
pécie de cotonete de náilon bem gran-
de e esterilizado —, já foram coletadas
ao longo de um ano e meio mais de 12
mil amostras em 70 cidades de sete con-
tinentes. Cada swab esfregado por aí é
catalogado em um sistema digital com
suas coordenadas geográficas, data, hora
e tipo de superfície. Os mutirões de co-
leta são feitos em diversos momentos,
mas existe um dia especial, o Global City
Sampling Day, em 21 de junho. Em 2016
e neste ano — no solstício de inverno da-
qui e no de verão do hemisfério Norte —
foram recolhidos DNAs para montar “um
retrato” de todas as cidades na data.
Todo o material coletado é congelado
e enviado de avião para Nova York, sede
do consórcio de pesquisa. Lá, o DNA de
tudo que grudou nos swabs está sendo se-
quenciado. Esta etapa, a mais cara e de-
morada, é também a mais desafiadora, já
que, para descobrir a que micro-organis-
mo pertence cada código genético, diver-
sas buscas em bancos de dados precisam
ser feitas. É como montar um quebra-ca-
beça com os genes: as letrinhas aos pou-
cos são lidas por computadores até que
se encontre um nome conhecido. Ou não.
MISTÉRIO
Realizada em Nova York de 2013 a 2015,
a pesquisa que deu origem ao atual es-
tudo global concluiu que 48% dos mais
de 15 mil DNAs de diferentes espé-
cies encontrados na maior cidade dos
Estados Unidos não pertencem a nada
que os cientistas já conheçam. Ou seja,
“metade do mundo debaixo das pon-
tas dos nossos dedos é desconhecida”,
como definiu Christopher Mason, gene-
ticista do Weill Cornell Medical College,
ao comentar os resultados.
Se ainda sabemos tão pouco sobre os
micro-organismos que habitam as cidades,
devemos então perder o sono? Calma, di-
zem os especialistas. “As superfícies de
uma estação precisam apenas abrigar ní-
veis não perigosos de bactérias e conter
umamistura saudável demuitas espécies”,
afirma uma cartilha do MetaSUB.
Dias-Neto ressalta que os resultados
do estudo serão revelados com o cui-
dado de não criar pânico. “A gente che-
cará tudo para evitar falsos alarmes do
tipo ‘Encontramos antraz no metrô de
São Paulo’”, diz. “Queremos desmistifi-
car essa ideia de que o projeto vai tra-
zer grandes alardes. Não é isso. O que
estamos propondo, em primeiro lugar,
é um sistema para conhecer outros or-
ganismos que habitam o planeta.” Para
o hospital especializado em câncer, por
exemplo, a experiência será aplicada em
pesquisas específicas da área.
Outro motivo para não termos medo
é que os resultados podem mostrar um
micróbio que já não representa mais pe-
rigo. Primeiro, porque os resultados sai-
rão meses depois das coletas. Segundo,
porque a análise pode ter pegado um ser
morto. “Pode ser o DNA de um organis-
mo que morreu há meia hora, por exem-
plo, mas não de algo que passou há 15
anos”, explica Dias-Neto. Para futuras
pesquisas, os cientistas estão estudando
formas de diminuir essa imprecisão.
Nem por isso, porém, o impacto do es-
tudo global será pequeno ou pouco útil.
Um dos principais usos pode ser a iden-
tificação de bactérias super-resistentes
a antibióticos, problema que assombra
a medicina. “O que gera a resistência de
uma bactéria a um antibiótico é uma se-
quência de genes. Nós podemos moni-
torar onde estão essas bactérias hoje”,
conta o pesquisador do A. C. Camargo.
Longe da área médica, o levantamento
é de interesse até para arquitetos e enge-
nheiros. Isso porque o estudo responde-
rá quais seres estão escondidos nas cons-
truções urbanas — e que podem fazê-las
desabar se comerem as suas estruturas.
A CARA DO BRASIL
Para o Brasil, um projeto especial den-
tro do MetaSUB, o Olimpioma, pretende
apurar quais micro-organismos passaram
pelo Rio durante os Jogos Olímpicos. Para
uma avaliação completa, foram recolhidas
amostras antes, durante e depois do even-
to. A próxima coleta, para ver que fim leva-
ram os micróbios trazidos por turistas há
um ano, será neste mês. Outro Olimpioma
está previsto para Tóquio, em 2020.
Enquanto não se sabem os resultados
dessa mistura toda, uma coisa é certa: o
Brasil já deixou sua marca no MetaSUB.
Foi o único país com um roubo de swabs.
Na chegada de uma remessa de novos
“cotonetes”, o carro da transportadora
foi assaltado perto do A. C. Camargo, na
Liberdade, em São Paulo. “Na reunião
mundial do projeto, me pediram para
contar essa história. Fiquei morrendo
de vergonha”, recorda Dias-Neto.
CENSO DOSMICRÓBIOS
Conheça alguns números do estudo
Fonte:MetaSUB, dados até 12/7/2017
Para descobrir quais
micróbios estão nas áreas
públicas, foram coletadas
AMOSTRAS em todoomundo
são do BRASIL
Rio de
Janeiro
Ribeirão
Preto
São
Paulo
158145247
de pessoas
vivem na
TERRA
moramem
áreas urbanas
de pessoas
passam
pelos metrôs
e ônibus
de todo o
planeta
dos moradores
urbanos usam
TRANSPORTE PÚBLICO
30
BIL
HÃO
550
%
57
12.040
P. 1108.2017
313AMAbre.indd 11 17/07/2017 15:48:23
APRESENTA
O projeto Móbile na Metrópole tira os alunos da zona de conforto, possibilita conhecer outras
realidades e transforma a maneira como os adolescentes pensam e se relacionam com o mundo
CONHECER A CIDADE
UM NOVO MODO
O portunidade. É isso que os alunos da EscolaMóbile recebem quando ganham seu BilheteÚnico na porta do colégio, localizado emMoema(zona sul de São Paulo), e partem para uma
“viagem” pela maior cidade do Brasil, onde moram, mas
que não conhecem totalmente. Durante três dias, o projeto
Móbile na Metrópole leva 160 adolescentes do 2º ano do
Ensino Médio a explorar espaços que dificilmente visita-
riamporcontaprópriaoucomsuas famílias. Sãooitogrupos
de 20 alunos, em média, que percorrem itinerários dife-
rentes, mas que pernoitam em um mesmo hotel no centro
da cidade, que é o ponto de encontro da turma. “A ideia do
projeto é possibilitar experiências distintas e o conheci-
mento de lugares e pessoas de um contexto ao qual normal-
mente os alunos não teriam acesso. Queremos promover a
interação desses meninos e meninas com os espaços e as
pessoas que ali estão”, explica Fepa Teixeira, professor de
Filosofia e coordenador doMóbile naMetrópole.
Os desafios começam pelo uso do transporte coletivo,
uma novidade para boa parte dos estudantes do colégio. São
eles que decidem qual meio de transporte utilizar, o que os
coloca como sujeitos desde o primeiro momento da intensa
jornada. “Isso lhes possibilita vivenciar a cidade de uma
maneira diferente, sem que simplesmente sejam guiados,
dentro de um ônibus fretado com um monitor mostrando
os pontos turísticos. A nossa proposta é que esses jovens
sejam ativos durante todo o Estudo do Meio, e por isso eles
primeiro têm de pensar na locomoção”, diz Teixeira.
Dessa maneira, os alunos aprendem a pesquisar e, ao
mesmo tempo, têm papel de criadores do processo, porque
vivenciamas experiências. Antes da “viagem”, na escola,
os adolescentes são divididos em quartetos, às vezes,
quintetos. Já em campo, os membros dos grupos traba-
lham separadamente para que todos possam comparti-
lhar suas experiências posteriormente com os colegas.
“Cada grupo alimenta seu blog com posts sobre as vivên-
cias para compartilhar conhecimentos e experiências
vividos. Por meio de contas no Instagram, os alunos uti-
lizam a hashtag ‘#MNM’ para publicar suas fotos”, explica
Wilton Ormundo, diretor do Ensino Médio da Móbile.
O projeto, que dura o ano todo e envolve os pro-
fessores da área de Humanas, é finalizado com um
Tour ajuda alunos a
conhecer diferentes
formas de morar, consumir
e viver na capital paulista
DE APRENDER E DE
PRODUZIDO POR
minidocumentário autoral, de cerca de 8 minutos, por
meio do qual cada grupo apresenta um tema relacionado
ao Estudo doMeio. Assim que a “viagem” acaba, começa o
processo de produção, com a apresentação de um video-
argumento, no qual os alunos contextualizam seu projeto
e sua pretensão com o trabalho final.
No ano passado, houve uma mostra de 11 minidocu-
mentários no Cine Belas Artes, em um evento aberto à
comunidade. A escola disponibilizou um link para uma
votação on-line após as apresentações, e o vencedor levou
um prêmio em reconhecimento ao bom trabalho.
PONTOS DE DIVERSIDADE
Ao longo das etapas que compõem o projeto, os alunos
passampormuitas experiências. Emanos anteriores, eles
chegaram a um ponto que lhes é conhecido: o Shopping
JK Iguatemi. Mas, antes, percorreram importantes ende-
reços comerciais da capital paulista: a Rua 25 de Março, a
Oscar Freire, o Brás. Com isso, puderamperceber as carac-
terísticas de cada centro comercial, como os diferentes
perfis de consumidores e os diversos preços dos pro-
dutos. Outro ponto de visitação foi o coletivo São Mateus
emMovimento, que fica em São Mateus (zona leste de São
Paulo), considerado uma das maiores galerias abertas de
grafite do mundo. Choveu demais nesse dia e os alunos
não tinham como sair da comunidade a pé. Foram, porém,
surpreendidos com a hospitalidade dos moradores da
comunidade. “A gente precisava ir até o metrô, que não
era perto, e os moradores não pensaram duas vezes em
nos oferecer uma carona. Os alunos ficarammuito felizes
com essa relação de acolhimento e confiança partindo de
pessoas desconhecidas”, conta Teixeira.
CAINDO NA REAL
Talvez a parte mais difícil do projeto tenha sido enfrentar
a resistência dos alunos no ano inaugural. Era 2013 e, até
então, os alunos do 2º ano do Ensino
Médio faziam um Estudo do Meio tra-
dicional, hospedados em um hotel com
quadra e piscina, um programa que os
adolescentes aguardavam ansiosa-
mente. Por isso, quando os professores
informaram no auditório da escola que
a tal “viagem” seria na própria cidade
de São Paulo, tiveram de lidar com a
explícita reprovação do grupo.
Liderando o coro, estava Fernanda
Lopes de Alcantara Gil, na época
com 15 anos. Ela organizou um
“ESSA ‘VIAGEM’ MUDOU
A MINHA VIDA PORQUE
ME ENSINOU QUE
ÀS VEZES VOCÊ ACHA
QUE ESTÁ ENXERGANDO
O MUNDO, MAS NÃO
ESTÁ VENDO UM
PALMO À SUA FRENTE”
FERNANDA LOPES DE ALCANTARA GIL, 19 ANOS,
ESTUDANTE DE DIREITO DA FGV-SP
abaixo-assinado, reclamou com todos os professores, coor-
denadores e diretores e, como última tentativa, apelou para
os pais. Eles, no entanto, não foram solidários emandaram
a menina para o Estudo do Meio como ele havia sido pro-
gramado, postura que ela não cansa de agradecer. “Foi uma
imersão na cidade e eu mudei muito. Eu me arrependi de
tudo que fiz para bloquear essa vivência, que foi uma das
melhores experiências da minha vida. Conheci uma rea-
lidade totalmente diferente da minha”, diz Fernanda, hoje
com 19 anos, estudante de Direito da FGV-SP.
Houve também resistência por parte dos pais, a maioria
por temer pela segurança dos seus filhos. Foi o caso da enge-
nheiraquímicaAnaCristinaCasteloBranco,55,mãedeThais,
20, e André, 17, ambos ex-alunos daMóbile. “Foi umaproposta
que me preocupou na época, mas, depois que a Thais parti-
cipou da vivência, fiz questão de dizer que eu estava errada,
que minha preocupação com segurança
não fazia omenor sentido e que esse pro-
jeto é um sucesso”, lembra. “O Móbile na
Metrópole faz com que os alunos viven-
ciem sua cidade, se apropriem dela, que-
brem preconceitos. Isso só os engran-
dece como cidadãos, sujeitos pensantes
e críticos. Oolhar dosmeusfilhosmudou
completamente. Eles começaram a
enxergar que São Paulo não é apenas o
bairro onde eles vivem.”
Saiba mais em www.escolamobile.com.br
Os alunos passearam por
diversas ruas do centro de São
Paulo e regiões da periferia
FIG. - BM
Unidades de conservação ambiental
no Espírito Santo e arquipélago na
Bahia ainda são ameaçados pelo
mar de lama que correu no Rio Doce
POR GIULIANA VIGGIANO
as consequências ao
meio ambiente causa-
das pelo rompimento da
Barragem do Fundão, na
cidade de Mariana (MG), ainda não
chegaram ao fim. Para medir o impac-
to do crime ambiental, que ocorreu em
novembro de 2015, o Instituto Chico
Mendes (ICMBio) realiza um monito-
ramento supervisionado por cientistas.
E as notícias não são nada animadoras:
as unidades de conservação ambiental
Comboios e Costa das Algas, bem como
o Refúgio de Vida Silvestre de Santa
Cruz, que ficam no Espírito Santo, fo-
ram afetados pelo mar de lama que per-
correu a extensão do Rio Doce.
De acordo comMarcelo Marcelino, di-
retor de pesquisa do ICMBio, o monitora-
mento acontece desde 2016 a fim de reu-
nir informações capazes de fundamentar
uma ação ação judicial contra a Samarco,
empresa responsável pela administração
da barragem. O rompimento da constru-
ção, que acumulava resíduos da extração
de minério de ferro, liberou 62 milhões
de metros cúbicos de lama — o suficien-
te para encher 24 mil piscinas olímpicas.
O monitoramento é realizado em parce-
ria com a diretoria de Pesquisa, Avaliação
e Monitoramento da Biodiversidade
(Dibio) e professores das universidades
federais do Espírito Santo (Ufes) e de
Rio Grande (Furg), além da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro.
arquipélago ameaçado
Projeções feitas pelos pesquisadores
indicam que o próximo alvo dos res-
quícios do mar de lama que invadiu o
Rio Doce é o Arquipélago de Abrolhos,
localizado no litoral da Bahia. Heitor
Evangelista, geocientista e professor da
Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(Uerj), afirma que a situação é preocu-
pante, já que o arquipélago abriga for-
mações de corais que reúnem diferentes
espécies de animais e plantas.
De acordo com o especialista, os com-
postos de ferro, zinco, cádmio, arsênio
e outros metais pesados provenientes
do Rio Doce já foram detectados no li-
toral da Bahia. “Quando os dejetos che-
garam a Abrolhos ainda não havia ne-
nhum material de pesquisa concreto”,
ressalta. Para divulgar a extensão do
impacto, o professor criou uma página
no Facebook, a Abrolhos Sky Watch.
Com o auxí lio de Evangelista,
o ICMBio também analisará essa re-
gião a partir de agora. “As superfícies
de corais são organismos extremamen-
te sensíveis, que demoraram anos para
se adaptar às condições de luminosi-
dade e mineralogia daquele ambiente”,
destaca o professor da Uerj.
AQUI NÃO,
AQUECIMENTO
GLOBAL
Corais encontrados na Amazônia
em 2016 estariam imunes
às alterações climáticas
POR NATHALIA FABRO
NO ENCONTRO DO RIO
Amazonas com o Oceano
Atlântico, no norte do Brasil,
está localizado um novo tipo
de bioma que traz esperan-
ças para a preservação de
animais aquáticos. Os Corais
da Amazônia, cuja existência
foi confirmada em 2016, são
uma aposta para proteger
Extensão do
impacto do
crime ambiental
é monitorada
por cientistas
A
Tragédiapara
nãoesquecer
diferentes espécies dos efeitos
das mudanças climáticas.
Em janeiro deste ano, uma expe-
dição em submarino foi promovi-
da pelo Greenpeace para explorar
a região e registrar as primeiras
imagens do ecossistema. Os
pesquisadores da ONG encontra-
ram esponjas, rodolitos (nome
dado a uma espécie dealga) e
peixes que vivem em locais com
profundidade de 30 a 185metros.
Justamente por ser um território
de água turva e pouca luz solar,
os cientistas acreditam que o
bioma esteja imune aos efeitos
do aquecimento global, o que
ajudará a preservar formas de
vida ameaçadas de desaparecer
em outras partes do planeta.
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DE OLHO...
Google, Facebook e
Twitter se uniram
para exigir do
governo norte-
-americano maior
transparência em
relação aos pedidos
de vigilância de
usuários suspeitos
de terrorismo
... EM TUDO
Umcomunicado
da organização
Wikileaks afirmou
que a CIA, agência
de inteligência
dos Estados
Unidos, é capaz de
espionar qualquer
equipamento
conectado à internet
F
IG
.-
B
M
FIG.- BM
FREUD
ROBÓTICO
Com base em um chat online,
oWoeBot oferece assistência
psicológica a pacientes
PORJ. V.
OS ALGORITMOS SÃO
a verdadeira chave para
entender a mente humana?
Os desenvolvedores do robô te-
rapeutaWoeBot acreditam que
sim. O sistema virtual é capaz
de analisar o estado mental do
paciente baseando-se apenas
nas palavras e emojis utiliza-
dos pelo usuário em um chat.
OWoeBot recomenda vídeos,
propõe jogos e “conversa”
durante 24 horas por dia, iden-
tificando as questões que fazem
o usuário se sentir mal. O custo
mensal do serviço é de R$ 128.
Os criadores alertam, no
entanto, que oWoeBot
ainda não é capaz de subs-
tituir um psicólogo “real”.
Abaixo, conheça outros robôs
com sistemas sensíveis.
A INTERNET
PODE SER
POLICIADA?
Para combater ações
terroristas, o governo
do Reino Unido deseja
investigar redes sociais
POR JULIO VIANA
OSTRÊSATAQUESTERRORISTAS
que ocorreram no Reino Unido
nos primeiros meses deste ano
levaram o gabinete da primeira-
-ministra Theresa May a propor
uma medida drástica contra
as organizações extremistas.
O governo deseja instituir uma lei
para obrigar empresas de tecno-
logia, como o Facebook e aApple,
a fornecer informações sobre as
mensagens criptografadas troca-
das em suas redes sociais.
May afirma que vasculhar os
dados de alguns usuários ajudaria
a barrar a disseminação de pro-
paganda online promovida pelo
Estado Islâmico, organização ter-
rorista que recruta jovens euro-
peus para realizar os ataques.
A proposta de lei é criticada
por especialistas. “Quando se
abre uma brecha na tecnologia,
nada garante que quem a utili-
zará serão os agentes de polícia.
Na verdade, o que ocorre é que
se cria uma vulnerabilidade arti-
ficial no sistema”, afirma Carlos
Affonso, professor da Faculdade
de Direito da Uerj e diretor do
Instituto de Tecnologia e Socie-
dade do Rio (ITS Rio).
“Se o Reino Unido permitir o
acessoàsmensagens, oquegaran-
tequeumgovernoautoritário não
utilize esse precedente para con-
trolar seus cidadãos?”, questiona
Affonso.Alémdisso, deacordocom
oprofessor, amedida será inútil, já
que os criminosos migrarão para
uma plataforma ainda mais difícil
de ser acessada pela polícia.
KARIM
O robô da startup norte-americana
X2AI foi criado especialmente para
conversar com refugiados sírios.
XIAOICE
Desenvolvido pela Microsoft, ficou
popular na China ao oferecer suporte
emocional a pessoas solitárias.
ELLIE
É capaz de associar expressões fa-
ciais a sentimentos. Foi fabricada por
pesquisadores nos Estados Unidos.
P. 1508.2017
313AMAmazoniaINTERNET.indd 15 17/07/2017 13:02:46
LU-
NE-
TA
OESPAÇOÉLOGOALI
PORANDRÉJORGEDEOLIVEIRA
FIG. - BM
(1) Em massas solares
(2) Em anos-luz
SUA FUSÃO
NOS DÁ ONDAS
Fusão de buracos negros está por
trás das três ondas gravitacionais
detectadas até o momento — o que
falta agora é ouvir coisas diferentes
Nossas
crianças
vão à ISS
Estudantes de escolas públicas
brasileiras farão experimento
que deve ser lançado à Estação
Espacial Internacional em 2018
TODASAS ESTRELAS do Universo juntas não
emitiriamaenergiaque foi liberadaquandoum
buraco negro se fundiu com outro há 3 bilhões
de anos. Na época, ondulações gravitacionais
propagaram-se pelo espaço-tempo: é o que
ocorre quando corpos pesados sofrem acele-
ração.Asmarolas foramdetectadasem janeiro
e anunciadas em junho pelo observatório Ligo,
nos EUA. Foi a terceira vez que isso aconteceu.
“Essadetecçãoé similaràsprecedentes”, diz o
físico Riccardo Sturani, da UFRN. Ele coordena
um dos grupos brasileiros que colaboram com
o Ligo. Dos três sinais, o último foi o que veio
de mais longe. Mais uma vez, a teoria da relati-
vidade de Einstein explicou tudo direitinho.
Mas a terceira onda também
trouxe novidades: o giro (spin) de
cada buraco estava desalinhado
— indício de que não nasceram
juntos, mas se trombaram. “Bu-
racos negros que se encontram
têm spin em qualquer direção,
já os que se formam de estrelas
binárias são alinhados com a ro-
tação orbital”, explica Sturani.
Nós escutamos buracos negros
pois eles cantam comoPavarottis.
“Têm voz de tenores”, diz Odylio
Aguiar, astrofísico do Inpe que
coordena o outro grupo brasilei-
ro. Comoo Ligo serámais sensível
em 2020, a tendência é de que o
número de detecções aumente.
“Aguardamosansiosamenteade-
tecção de estrelas de nêutron”, diz
Aguiar. Densas, quandose fundemFonte: Ligo
1 (GW150914)
14/9/2015
62
1,3 bilhão
Massa pós-fusão(1)
Distância da Terra(2)
Data da detecção
3 (GW170104)
4/1/2017
49
3 bilhões
Massa pós-fusão(1)
Distância da Terra(2)
Data da detecção
2 (GW151226)
26/12/2015
21
1,4 bilhão
Massa pós-fusão(1)
Distância da Terra(2)
Data da detecção
ONDAS
GRAVITACIONAIS
O trio de detecções
ou caem em um buraco negro, es-
sas estrelas emitem não só ondas
gravitacionais mas também raios
X e gama. Do estudo comparativo
podesurgiraexplicaçãodamatéria
escuraouatéateoriadagravitação
quântica—quedeveexplicaragra-
vidade no nível das partículas.
Dias após o anúncio do Ligo, a
Agência Espacial Europeia cravou
para 2034 o lançamento do Lisa,
primeiro observatório espacial de
ondasgravitacionais, queestudará
buracos negros supermassivos.
Do espaço, é possível prever
as fusões com antecedência: Ligo
e Lisa vão ser como uma dupla
sertaneja. “Esses eventos serão
programados”, dizAguiar.Aí ficará
fácil: basta apontar todos os teles-
cópios para obter dados a rodo.
DESDEQUEOASTRONAUTAMar-
cosPontes fezexperimentosnaEs-
tação Espacial Internacional (ISS)
em 2006, não tivemos pesquisas
brasileirasemórbita.Mas issodeve
mudar: um experimento nacional
será elaborado nos próximos me-
sespara ser lançadoentremarçoe
junhode2018.Omais interessante
é que a concepção será de adoles-
centes de 15 anos. Parceria entre
o projeto Garatéa, organizador da
missão lunarbrasileira, e o colégio
Dante Alighieri, a participação no
programa SSEP mobilizará 150
estudantesda redepública deSão
Paulo. Em gruposmistos com 300
alunos do Dante, eles serão trei-
nados por pesquisadores e, até o
fim do ano, uma das mais de 60
propostas de experimento de mi-
crogravidade será escolhida.
É preciso captarUS$ 24mil da ini-
ciativa privada. “Batemos à porta
eperguntamossenãoqueremado-
tarumacriançadoensinopúblico”,
diz o diretor Lucas Fonseca, que
pensa até emdarviagens àNasa e
templanosousadosparaoanoque
vem. “Estamos costurando uma
parceriacomaOlimpíadaBrasileira
deAstronomiaeAstronáuticapara
chegar a 1milhão de alunos.”
P. 16 08.2017
313AMLuneta.indd 16 17/07/2017 15:20:38
SEM
DÚVIDA
FIG. - BM
Projeto utópico da primeira nação
espacial anuncia que colocará
em órbita um nanossatélite com
milhares de dados de seus “cidadãos”
MORADACELESTIAL dos
deuses nórdicos serviu como
inspiração para a criação de
Asgardia, primeiro projeto
de nação espacial. Nos próximos meses,
milhares de terráqueos serão lançados ao
espaço—mas só virtualmente, na forma
de arquivos em um satélite. Falamos com
Lena De Winne, CEO da ONG Asgardia.
ASGARDIALANÇAEMBREVESUAPRIMEIRAPRESENÇA
CONCRETANOESPAÇO.OQUEOSATÉLITEREPRESENTA?
Levaremos, pela primeira vez e de graça, os
dados de nossos cidadãos para fora daTerra.
É um simbolismo da democracia no espaço e
marca o início deAsgardia como nação espacial.
OQUEEXATAMENTEGANHARÍAMOSCONSTRUINDOE
MANTENDOUMANAÇÃONAÓRBITADENOSSOPLANETA?
Assegurar ouso pacífico do espaço, proteger
aTerra de perigos cósmicos e criar uma base
espacial de conhecimento científico. Contar com
essa plataforma é algo crucial para acompanhar
a expansão da humanidade para fora do planeta.
Nocéutem
estado-nação
Asteroides
podem trazer
à Terra uma
nova forma
de ser vivo?
Bruno Pimentel,
via Facebook Live
OLHODOTOUROPAIRA
SOBREALUACRESCENTE
Olhe para o Leste às 2h: Aldebarã,
estrela mais brilhante da conste-
lação de Touro, surge próxima à
Lua. Em Roraima, ela estará oculta
pelo disco lunar até 2h30, quando
poderá ser vista aparecendo.
16
EUAAGRACIADOSCOMUM
BELÍSSIMOECLIPSESOLAR
Primeiro eclipse total do Sol em
38 anos cruza os Estados Unidos
de ponta a ponta pela manhã.
Por aqui, terá visibilidade parcial
em alguns estados das regiões Nor-
te e Nordeste, das 16h30 às 17h20.
21
AGENDA
-
6
13
20
27
2
9
16
23
30
-
7
14
21
28
3
10
17
24
31
1
8
15
22
29
4
11
18
25
-
5
12
19
26
-
ssd s t q q
Agosto de 2017
VOCÊSTÊMALGUMAESTIMATIVADEQUANDOAONU IRÁ
RECONHECEROFICIALMENTEOESTADODEASGARDIA?
Oplano inicial é se firmar como nação, não como
estado. ConformeAsgardia for desenvolvendo
atividades benéficas a toda a humanidade, terá
maior reconhecimento dos outros estados e,
consequentemente, acabará se tornando um.
A
Talvez amesma per-
gunta tenha inquietado
Anaxágoras, filósofo naturalista
da GréciaAntiga que criou a
hipótese da panspermia cósmica,
afirmando que avida pegaria
carona emasteroides ou come-
tas. Experimentos científicos
mostramque certosmicróbios
são tão fortes que sobreviveriam
ao serem ejetados de umplaneta
e reentrarem emoutro, alémde
resistirem àviagem interpla-
netária. Mas calma lá: isso não
prova que existambichinhos
alienígenas entre nós. “Apesarde
ser umprocesso possível, ainda
não encontramos exemplos de
organismos extraterrestres que
tenham chegado pormeios de
dispersão pelo espaço”, diz o
astrobiólogoDouglas Galante.
R:
As notícias espaciais da semana são
discutidas em transmissão ao vivo
via Facebook. Assista e capriche nas
perguntas: você pode sair na revista.
O engenheiro Lucas Fonseca participa
do programa no dia 28/7 para falar
sobre o experimento educacional de
alunos brasileiros na ISS. Não perca!
SEXTAS,ÀS 17H,
NA FANPAGE
DAGALILEU
LUNETA
LIVE
UMTRIÂNGULOROUBAA
CENAAOCAIRDANOITE
A lua crescente, o planeta Júpiter e
a estrela Spica aparecem no Oeste
em uma interessante formação
triangular logo após o pôr do Sol.
Só não demore a observar: o trio
ficará por ali até por volta de 21h.
25
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313AMLuneta.indd 17 17/07/2017 15:20:40
* ADILSON DE OLIVEIRA é professor
de Física da Universidade Federal de São Carlos
(UFSCar) e fundador do Laboratório Aberto de
Interatividade (LAbI), voltado
para o desenvolvimento demetodolo-
gias para divulgação científica.
QUANDO ERA PEQUENO, eu achava
muito estranho os relógios nãomarca-
remasmesmas horas emtodo omun-
do. Como era possível ser duas horas
da tarde em cidades comoSãoPaulo e
duas horas da manhã no Japão?
As horas não são as mesmas em
todoogloboporque elas sãomarcadas
em funçãodos fusos horários. Conven-
cionou-se usar como referência o fuso
que passa em Greenwich, próximo de
Londres. A partir dele, a cada 15° se
deslocando para leste ou oeste adi-
ciona-se ou subtrai-se uma hora. Em
Brasília, temostrêshoras amais doque
em Greenwich. Em partes das regiões
Norte eCentro-Oeste doBrasil e no es-
tadodoAcre, éprecisoacrescentaruma
e duas horas amais, respectivamente,
em relação aohorário deBrasília.Mas,
afinal de contas, o que é o tempo?
Donossopontodevista, essa noção
variadepessoaparapessoa,dependen-
doda idadeoudomomentodavidaem
que se está. Na infância, achamos que
elepassadevagar.Algumas crianças re-
clamam da demora para chegar o ani-
versário,mas, quandoestãode castigo,
os minutos parecem uma eternidade.
Aoatingirmosa fasedaadolescência e,
posteriormente, como adultos, nossos
compromissos aumentam. Com isso,
temos o sentimento de que o tempo
passa cada vezmais rápido.
A noção cotidiana do tempo não
está ligada apenas ao nosso íntimo—
o tempo psicológico —, mas também
à cultura e à sociedade que nos cerca.
Por vivermos em uma era na qual as
comunicações são instantâneas, essa
sensação se torna mais acentuada.
Do ponto de vista da física, o
tempo pode ser definido de maneira
“operacional”, ou seja, com base em
grandezas mensuráveis. Podemos
defini-lo como o parâmetro que
descreve a mudança de um sistema
a partir de um determinado estado.
Os relógios utilizam repetições pe-
riódicas de um fenômeno para me-
dir a passagem do tempo, que podem
ser o movimento de um pêndulo ou
oscilações de um cristal de quartzo,
por exemplo. Nos computadores,
são circuitos osciladores que fazem
amarcação a partir de mudanças pe-
riódicas das tensões em seus dispo-
sitivos. Os relógios atômicos medem
a frequência da radiação emitida por
determinados átomos, como o Césio
133. Relógios desse tipo atrasam ape-
nas 1 segundo em 1 milhão de anos.
No início do século 20, o conceito
de tempo, principalmente na física,
mudou radicalmente. Para explicar as
novas descobertas e ideias — como o
fato de que a luz sempre viaja names-
mavelocidade (300mil km/s) indepen-
dentemente de quem a esteja obser-
vando —, Albert Einstein introduziu a
ideia de que tempo e espaço não são
coisas distintas e formam uma unida-
de: o espaço-tempo. Einsteinmostrou
que o tempo depende da velocidade
comaqual nosmovemos. Quantomais
próximos estamos da velocidade da
luz, mais devagar ele flui.
Imagine uma viagem para um pla-
neta distante, a dezenas de anos-luz
da Terra (um ano-luz tem quase 10
trilhões de quilômetros). Considere
ainda que essa viagem seja feita com
umavelocidade bempróxima à da luz.
Na volta, o viajante vai perceber que,
para as pessoas que ficaram na Terra,
passaram-se dezenas de anos, mas
para ele foram apenas alguns meses.
Embora ainda não possamos em-
preendermissões como essa, o efeito
é verificado em experimentos reali-
zados nos aceleradores de partículas,
nos quais prótons e elétrons sofrem
a dilatação temporal ao se moverem
próximos da velocidade da luz.
O físico alemão também mostrou
que, quanto mais intensa for a gravi-
dade,mais lentamente o tempopassa.
Esse fato é usado para corrigir os re-
lógios atômicos nos satélites de GPS.
Eles determinam a posição dos obje-
tos marcando as diferenças de tempo
dos sinais que chegam até eles. Como
estão distantes da superfície daTerra,
sentem uma gravidademenor. Se não
fossem considerados os efeitos rela-
tivísticos, eles errariam a localização
dos objetos emmais de 15 quilômetros.
De fato, o tempo é um tema fasci-
nante e é inegável que tenhaprofundas
conexões com nosso cotidiano e com
a própria natureza. Ainda precisamos
aprender a lidar comesse conceito tão
presente emnossasvidas e, assim, en-
tender os seus profundos mistérios.
O físico Albert Einstein mostrou que o tempo,
conceito tão presente em nossas vidas, não é
igual em todo o Universo e que ele depende
da velocidade com que nos movemos
OTEMPO
ESEUS
MISTÉRIOS
Segundo
Einstein,
quanto mais
próximos
estamos da
velocidade
da luz, mais
devagar o
tempo flui 19
CONEXÕES CÓSMICAS
PORADILSONDEOLIVEIRA*
313ConexoesCosmicas.indd 19 17/07/2017 13:55:06
~ P A S S A D O ~
Águas
internacionais
Região costeira do norte da
TUNÍSIA
MALTA
LAMPEDUSA
LÍBIA
ITÁLIA
Trípoli
2014
2015
2016
MÁQUINA
DO TEMPO
ASES
DA GUERRA
Dos aviões que cruzaram os céus
durante as batalhas da Segunda
Guerra Mundial às armas que
destruirão mísseis na
velocidade da luz, conheça
o passado, presente e futu-
ro dos aviões de combate
POR THIAGO TANJI
PORGIULIANAVIGGIANO
CARTO-
GRÁFICO
A cada ano, pessoas que buscam
refúgio na Europa são resgatadas
mais perto do litoral — mas isso
não é necessariamente bom
Tão perto,
tão longe
SUPERMARINE SPITFIRE (REINO UNIDO)
Lançado durante a década de 1930, o avião
tornou-se uma das principais armas do
Reino Unido para combater as incursões
aéreas promovidas pelas forças nazistas
durante a Segunda Guerra Mundial. Com
velocidademáxima de 595 quilômetros por
hora, carregava metralhadoras e canhões.
MIG-25 (UNIÃO SOVIÉTICA)
Com capacidade de quebrar a barreira
do som e atingir velocidade de 3,4 mil
quilômetros por hora, o caça da União
Soviética começou a ser utilizado na
década de 1970 e era equipado com
mísseis para combates no céu. O peso
máximo da nave era de 36,7 mil quilos.
NO ÚLTIMO ANO, o resgate da maior
parte dos refugiados ocorreu em regiões
mais próximas do litoral da Líbia, uma das
principais rotas de fuga para a Europa, em
relação aos anos anteriores. De acordo com
a Agência Europeia da Guarda de Frontei-
ras e Costeira, a Frontex, isso acontece
porque as condições das pessoas que
buscam uma nova vida em solo europeu
ficaram ainda piores. As embarcações, por
exemplo, estão ainda mais superlotadas
e precárias. “Migrantes e refugiados são
incentivados pelas histórias de sucesso da-
queles que conseguiram fazer a travessia”,
afirma a Frontex em documento oficial.
P.20 08.2017
313AMCartograficoAVIOES.indd 20 17/07/2017 13:17:48
~ P R E S E N T E ~ ~ F U T U R O ~
a do norte da África
Delimitação das
águas internacionais
Resgates realizados em 2014
Resgates realizados em 2015
Resgates realizados em 2016
Região onde ocorreram resgates
Principais pontos de desembarque
Locais de partida dos refugiados
GRÉCIA
M
A
R
M
E
D
I T E R R Â N E O
Benghazi
SAAB GRIPEN NG (SUÉCIA)
O avião de combate é resistente a di-
ferentes condições climáticas e possui
sensores e radares que oferecem diversas
informações, como um sistema de alerta
de aproximação de mísseis inimigos. Pode
atacar alvos no ar e em superfície. A Força
Aérea Brasileira encomendou 36 unidades.
TRANSFORMER (REINO UNIDO)
Pesquisadores da empresa britânica BAE
Systems divulgaram suas ideias para o
avião de combate do futuro: operadas
sem a necessidade de um piloto humano,
as aeronaves seriam equipadas com
armas que disparariam na velocidade
da luz para destruir mísseis inimigos.
TRANSA PRÉ-
-HISTÓRICA
Homo sapiens acasalou
com neandertais há 219 mil anos
PORG. V.
A HISTÓRIA DA EVOLUÇÃO
do humano moderno ganhou
mais um capítulo: a análise
do DNAmitocondrial do osso
de um neandertal encontra-
do na Alemanha indica que o
Homo sapiens provavelmente
procriou com espécies humanas
extintas há mais de 200 mil
anos. Até então, acreditava-
-se que nossos ancestrais só
teriam chegado à Europa há
aproximadamente 60 mil anos.
Com mais de 99% do DNA
semelhante ao dos humanos
modernos, os neandertais fo-
ram extintos há cerca de 29 mil
anos. De acordo com os cien-
tistas, os donos das ossadas se
separaram dos demais nean-
dertais e se juntaram ao Homo
sapiens em algum momento en-
tre 316 mil e 219 mil anos atrás.
Pesquisas recentes indicam que
a concorrência dos neandertais
com os humanos foi a principal
causa da extinção da espécie.
A partir de agora, os pesqui-
sadores investigarão outros
vestígios do contato entre
humanos modernos e neander-
tais, como o compartilhamento
de diferentes hábitos culturais.
QUAL IDEOLOGIA?
Orientação política dos
brasileiros em 2017
Direita23%
9% Centro-direita
26% Centro
9% Centro-esquerda
19% Esquerda
14% Não sabe
Fonte:Datafolha
Fonte: ACNUR
P.2108.2017
313AMCartograficoAVIOES.indd 21 17/07/2017 13:17:50
ara turbinar sua tv:
similar ao Chromecast, do
Google, o Wireless Display
Adapter cria pontos wi-fi em televi-
sões tradicionais. À venda por R$ 349,
o dispositivo fabricado pela Microsoft
é fácil de instalar e é capaz de espelhar
o que aparece na tela de celulares, ta-
blets e PCs com Windows.
Um diferencial em relação ao Chro-
mecast é que o aparelho possibilita
transmitir qualquer imagem para as te-
levisões — como a tela inicial do smar-
tphone — sem restringir o uso a aplicati-
vos oficiais, como a Netflix e o YouTube.
Além disso, por conta do Wi--Fi Direct,
é possível utilizar o equipamento sem
estar conectado à internet.
A imagem mostrada na televisão não
perde qualidade. O raio de alcance de
sete metros também garante conforto
para quem está usando o computador
ou telefone longe da TV. Ao fazer uma
pausa, porém, há necessidade de pare-
ar novamente com o equipamento.
Um ponto importante — e desvantajo-
so para a maior parte dos usuários — é
que o Wireless Display Adapter só faz
transmissões com dispositivos que ro-
dam o Windows 10 ou o Windows 8.1. Já
o Chromecast tem suporte para Android
e iOS. Mesmo assim, o acessório é uma
boa opção para quem não quer gastar
muito e deseja melhorar sua TV.
P
FICHA TÉCNICA
PREÇO:R$ 349
ESPECIFICAÇÕES:
Com saída HDMI
e dimensão de
12 centímetros, o
aparelho tem raio
de alcance de sete
metros e funciona
em dispositivos que
utilizamWindows
SmartTVsem
pesarnobolso
Com tecnologia sem fio, dispositivo
da Microsoft exibe filmes e fotos
do celular para a sua televisão
POR CAROLINA OCHSENDORF
P.22 08.2017
TECNOLOGIADESCOMPLICADA
313AMtechtudo.indd 22 17/07/2017 19:13:42
@techtudo_oficial /techtudo @TechTudo
FIG. - BM
APLICATIVOS SÓ
PARA MAIORES
Conheça serviços online
que prometem facilitar
os deveres da vida adulta
POR NICOLLY VIMERCATE
SE VOCÊ COLECIONA POTES DE PLÁSTICO,
adora uma promoção de produtos de lim-
peza ou fica muito feliz ao ver boletos pa-
gos... parabéns, você provavelmente chegou
à vida adulta. No Brasil, mais de 50% dos
jovens começam a viver sem um “responsá-
vel” a partir dos 23 anos de idade, no caso
das mulheres, e dos 26, para os homens, de
acordo com o censo 2010 do IBGE.
Para ajudar quem está passando por essa
fase de transição e precisa aprender a se
virar sozinho, selecionamos alguns aplica-
tivos grátis e disponíveis para smartphones
que rodamAndroid ou iPhone. Afinal, adulto
gosta mesmo é de praticidade!
PAGARBOLETOS
Como Papelada fica
fácil deixar boletos
em dia. Basta tirar
foto do boleto e ele
alerta sobre a data
de pagamento, além
de ler o código de
barras e abrir direto no
aplicativo do seu banco.
ACHARDESCONTOS
Uma promoção é
sempre bem-vinda. O
Cuponeria tem códigos
de desconto para uti-
lizar em lojas físicas e
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app de cashback: você
recebe de volta parte
do dinheiro que gastou.
UBERMAISBARATO
Uber, Cabify ou 99
Pop — qual app utili-
zar na hora da pressa?
O mais barato, claro!
O VAH compara apli-
cativos de transporte
disponíveis no local
e mostra o preço da
corrida e o tempo
de embarque.
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Além do peso da
responsabilidade,
adulto sente... dores.
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fugir do sedentarismo,
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completas emvídeo.
É só dar play emalhar
sem sair de casa.
RACHARACONTA
Ser adulto e indepen-
dente não significa que
você faz tudo sozinho,
certo? Então, na hora
de dividir despesas
com os amigos, como
emumaviagem ou nos
gastos da república, o
Conta Coletiva pode ser
uma ferramenta útil.
COZINHAR
Chegar em casa e achar
comida pronta é coisa
de adolescente. Adulto
precisa saber se virar
na cozinha. OReceitas
de Culináriamostra
diferentes opções de
pratos com passo a
passo completo.
FIG. - EB
O iOS juntará a tela de bloqueio
com a tela de notificações. No
sistema Android, pontos na
lateral dos atalhos de aplicativos
indicarão ao usuário a quantidade
de novidades que o aguarda.
As fotos feitas com o iOS 11
ocuparãomenos espaço no
armazenamento do celular.
OAndroid 8 aposta em segurança,
com um antivírus de fábrica e um
CTRL C + CTRLV inteligente.
A voz da Siri, assistente virtual
do iPhone, ficará menos robótica.
Além disso, ela também saberá
fazer traduções. Já a câmera no
Android 8 será capaz de identificar
lojas e paisagens famosas.
Espera-se que a Apple libere o novo
iOS a partir de setembro. Os iPhones
5, 5C e modelos anteriores não serão
compatíveis com o novo sistema.
Já o novo Android aparecerá no
mercado somente em 2018.
LANÇAMENTO
INTELIGÊNCIA
RECURSOS
NOTIFICAÇÕES
MUDANÇAS
NO SISTEMA
Saiba das novidades que chegarão
como iOS 11 e comoAndroid 8
PORALINE BATISTA
FIG. - EB
P.2308.2017
313AMtechtudo.indd 23 17/07/2017 19:13:47
O CAMINHO ATÉ AQUI
Nomês de aniversário da GALILEU, descubra como
é feita uma página derevista — PORRENATA CARDOSO
udo começa, claro, pelo papel,
que é obtido da madeira limpa
e lavada. Os pedaços da madei-
ra são levados a um digestor, onde são
cozidos em temperaturas em torno de
160°C. Nessa etapa, obtém-se uma pasta
marrom que é espalhada em uma super-
fície plana para depois passar por vários
cilindros aquecidos, onde será prensada
até atingir a espessura desejada.
Existem vários tipos de papel, porém
os mais utilizados na produção de revistas
são o offset e o Lightweight Coated Paper
(LWC). Muito usado para impressões em
grande escala, o offset é um papel encorpa-
do, tem textura fosca e resiste mais à ação
da umidade. A revista que você lê agora, por
exemplo, tem a capa e o primeiro caderno
(páginas 3, 4, 5, 6, 71, 72, 73 e 74) impres-
sos em offset e as outras páginas em LWU
(isso mesmo, um outro tipo de papel).
A saga da impressão da GALILEU co-
meça com o recebimento dos arquivos em
PDF da redação. Assim que eles chegam,
são analisados pelo setor de pré-impressão,
que ordena as páginas. Depois, é feita a gra-
vação das chapas com feixes de laser. Cada
chapa leva, em média, seis minutos para
ser gravada. A máquina tem ainda um for-
no acoplado, onde o papel
passa para que a tinta seque
mais rápido. Após a impres-
são, todos os elementos são
levados para a grampeadeira
e, por fim, passam por uma
esteira e por uma guilhotina
automática que faz o corte
no formato desta página que
você está lendo agora.
T
Fontes: Adriano Tadeu Carnielli, gerente de operações da Editora Globo; Prof. Dr. Claudio Luis Crescente Frankenberg — professor
de Engenharia Química da PUCRS; e Daniel Andriotti, da Celulose Riograndense. Foto: Tomás Arthuzzi
LIGNINA
Macromolécula
que também in-
terfere na colo-
ração — quanto
mais escuro o
papel, maior a
quantidade de
lignina na sua
composição.
CLORO
DIÓXIDODE CLORO
OXIGÊNIO OZÔNIO
HIPOCLORITO DE SÓDIO
Cl2
ClO2
NaClO
(C31H34O11)n
CELULOSE
Polímero que também
é encontrado no
algodão e, conse-
quentemente, usado
com frequência na
indústria têxtil.
(C6H10O5)nC
6
H
1
O
8
Cl
8
Cl
1
O
8
O
8
Cl
6
Na
1
O
8
03
C
6
H
1
O
8
02
24
Há dois tipos de
papel na GALILEU:
o offset e o LWU
ELEMENTAR
PÁGINADEREVISTA
313Elementar.indd 24 17/07/2017 13:24:53
DOSSIÊ CULTURAMAKER
DESIGN FERNANDA DIDINI
REPORTAGEM THIAGO TANJI
FOTOS TOMÁS ARTHUZZI
Desenvolver empresas inovadoras, promover mudanças no ensino,
gerar transformação social: a culturamaker ganha força no
Brasil para impulsionar uma nova revolução tecnológica
equipados com motores,
fios, engrenagens e uma varie-
dade de engenhocas, inventores
de todas as idades ocuparam a
Casa Branca em 2014 para a rea-
lização de uma feira que reúne
pessoas interessadas em criar e
compartilhar projetos tecnoló-
gicos. Entusiasta da utilização
de impressoras 3D, cortadoras
a laser e softwares de código li-
vre para modelagem de peças,
o então presidente norte-ame-
ricano Barack Obama afirmou
que apoiar o movimento maker
era essencial para fomentar uma
nova revolução industrial.
Assim como o ex-líder dos Es-
tados Unidos, milhares de pes-
soas ao redor do mundo apos-
tam em uma nova maneira de
conceber suas ideias. Saem de
cena as grandes linhas de pro-
dução industriais e são introdu-
zidas máquinas baratas, capazes
de fabricar diferentes itens e que
são operadas de maneira simples.
“O movimento maker começou
nos hacker spaces, que juntam a
ideia do ‘faça você mesmo’ com
o conceito do código aberto”, afir-
ma Rafael Câmera, um dos sócios
do PandoraLab, que fornece tu-
toriais em português e comer-
cializa kits para a fabricação de
produtos. Para colocar a mão na
massa, são desenvolvidos proje-
tos em cooperação, e as desco-
bertas são registradas para que
outras pessoas possam ter acesso
e aprimorar os produtos.
“Há um pouco da cultura punk,
de não ter muitas regras: a pes-
soa se habilita e se torna mais in-
dependente”, diz Mauricio Jabur,
especialista em computação físi-
ca. Com o furor do espírito punk,
makers brasileiros apresentam
projetos em diferentes áreas do
conhecimento e mostram que
vieram para revolucionar.
M Ã O S À O B R A !
25
313DOSSIEculturamaker.indd 25 17/07/2017 20:24:43
A INVASÃO
HACKER
CHEGOU À
FÁBRICA
gilidade, cooperação, democratiza-
ção — palavras incorporadas ao vo-
cabulário dos makers e que ajudam
a entender as possibilidades dessa nova ma-
neira de desenvolver produtos: graças ao au-
mento da circulação de informações por con-
ta da revolução digital e ao barateamento de
maquinário (veja alguns desses equipamentos
no quadro da página ao lado), tirar as ideias do
papel nunca foi tão acessível. Se ao longo dos
séculos 19 e 20 a fabricação de mercadorias
dependia de uma rígida cadeia produtiva e de
segredos industriais para proteger a proprie-
dade intelectual, os makers propõem a criação
de projetos em espaços abertos e com intera-
ção constante entre os inventores.
Com tantas possibilidades para a inova-
ção, os conceitos do movimento maker ga-
nharam os corredores de grupos econômi-
cos tradicionais. “As empresas precisam
desenvolver produtos com maior agilida-
de, mas essas mercadorias ficam cada vez
menos tempo no mercado”, afirma Ricardo
Cavallini, fundador da plataforma Makers,
que realiza projetos para educação e
inovação. “Há a necessidade de uma
A
Conceitos do movimentomaker são
utilizados por grandes empresas na
hora de desenvolver novos negócios
O renascimento do
Cinturão Enferrujado
Criação de empresas ligadas à inovação
resgata regiões dos Estados Unidos em
que ocorreram fechamentos de fábricas
Com a adoção das políticas neoliberais do
presidente Ronald Reagan, na década de 1980,
milhares de postos de trabalho da indústria
norte-americanamigraram para países onde
amão de obra eramais barata, deixando
parques industriais abandonados e um exército
de desempregados. Apelidada de “Cinturão
Enferrujado”, a zona das antigas cidades fabris
dos Estados Unidos ganhou umnovo fôlego
graças ao surgimento de negócios ligados
à culturamaker: na cidade de Pittsburgh,
localizada na região nordeste do país, espaços
abertos para desenvolvimento de projetos
tecnológicos e pesquisas de engenharia
robótica realizadas nas universidades locais
fizeram dinamizar o setor econômico e
expandir as oportunidades de empregos.Fontes: Asbai e WAO
40
58.074
éonúmero de
FabLabs emoperação
no Brasil
projetos divulgados
no Kickstarter
em2016
US$ 4
BILHÕES
135MILHÕES
DE PESSOAS
Até2025,negócioscom
as impressoras
3Dalcançarão
57%da população
dos Estados Unidos
se consideramaker:
MAKERS
mudança de cultura, para que a empresa
fique mais apta a fazer inovação de manei-
ra aberta e compartilhada.”
Para demonstrar que o desenvolvimento de
produtos pode ser feito com maior colabora-
ção, aWeFab desenvolve projetos para introdu-
zir a culturamaker nas empresas. “Realizamos
workshops para trazer o espírito de colabora-
ção e mostrar como diferentes áreas de gran-
des empresas podem participar desse pro-
cesso”, diz Heloisa Neves, uma das sócias da
iniciativa —Natura e L’Oréal são algumas das
companhias que solicitaram consultorias.
Até grandes montadoras automotivas re-
correram às tecnologias abertas para pro-
mover mudanças na linha de montagem: a
francesa Renault utiliza impressoras 3D para
desenvolver protótipos de peças, em um pro-
cesso que diminui o tempo de fabricação e re-
duz os custos finais na área de pesquisa e de-
senvolvimento. “O universo maker é poderoso
quando se apoia na indústria”, diz Neves.
26
313DOSSIEculturamaker.indd 26 17/07/2017 20:24:46
FERRAMENTAS
PARA A INOVAÇÃO
Itens básicos do
movimentomaker
IMPRESSORA 3D
Fabrica produtos tridi-
mensionais, desenvolvi-
dos em softwares de cria-
ção. É capaz de imprimir
em diferentes materiais,
como plástico e metal.
Equipamentos básicos
custam cerca de R$ 2mil.
MICROCOMPUTADOR
As placas Rapsberry Pi e
Arduino permitem reali-
zar projetos de robótica
e automação de maneira
acessível aousuário.
O Arduino custa pouco
mais de R$ 100.
CORTADORAA LASER
Amáquina corta com
precisão diferentes mate-
riais, como papel, tecido
e madeira. Opera a partir
das informações forneci-
das por um software.
FRESADORA CNC
Realiza o corte demate-
riais. Fresadorasmaiores
são capazes de produzir di-
ferentes tipos de produtos,
comomóveis demadeira.
CAIXADEFERRAMENTAS
Nem só de tecnologia
vivemosmakers: é neces-
sário utilizar ferramentas
como alicate, serra,marte-
lo e chave de fenda.
QUEM DISSE QUEAS IMPRESSORAS 3D
servem apenas para imprimir copos e chaveiros de
plástico? Inspirados pelas inovações nomercado
de produtos personalizados, os fundadores
da BioArchitects utilizaram os conceitos do
movimentomaker na indústriamédica.
“O benefício da impressora 3D é a customização
emmassa: hoje, conseguimos desenvolver
próteses a um customuito baixo”, destaca Felipe
Marques, um dos sócios da empresa, criada em
2013. Ao fabricar próteses de titânio de ossos
do crânio, os empreendedores esbarraram em
problemas burocráticos: como o Brasil ainda não
reconhece produtosmédicos customizados, eles
tiveram de abrir uma filial nos Estados Unidos.
“Antes era necessário uma fábrica, uma equipe,
um galpão industrial, mas com a tecnologia 3D
você não precisa disso: pode produzir em um
escritório ou até em casa”, dizMarques.
Além das próteses, a BioArchitects produz
biomodelos para quemédicos realizem
treinamentos para cirurgias. “Pego a imagem
de uma tomografia do coração, por exemplo,
faço a reconstrução 3D e imprimo com todas as
características”, revela o empreendedor.
A consistência domaterial é semelhante à
do órgão humano e omédico pode utilizar
instrumentos cirúrgicos reais durante o treino.
BRASILEIROS DESENVOLVEMPRÓTESES
PERSONALIZADAS EMODELOS DE ÓRGÃOS
ÓRGÃOPARA IMPRIMIR
Treinamentos
de cirurgias já
são realizados
com modelos
produzidos em
impressoras 3D
27
313DOSSIEculturamaker.indd 27 17/07/2017 20:24:48
Especialistas apostam em
ferramentas tecnológicas
para revolucionar o ensino
a crianças e jovens
EDUCAÇÃO NA
PRÁTICA
De acordo com dados da Fundação
Lemann, mesmo estudantes de es-
colas de elite do Brasil apresentam
um desempenho emMatemática inferior ao de
alunos dos 35 países que compõem a Organi-
zação para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE). Para especialistas em
educação, a dificuldade dos brasileiros em en-
tender conceitos apresentados em sala de aula
D
DO PROTÓTIPO
AO DIPLOMA
Laboratóriomaker é
instalado em faculdade
CRIADO EM 2001 NO MIT
(Instituto de Tecnologia de
Massachusetts), o FabLab
foi idealizado para ser um
laboratório aberto para a
comunidade e equipado
com diferentes máquinas
maker. Desde então, diver-
sos FabLabs foram mon-
tados ao redor do mundo:
no Brasil, há 40 laborató-
rios espalhados pelo país.
Em 2014, o Insper abriu um
FabLab para seu curso de
Engenharia. “Os estudantes
trabalham comprojetos e a
didática é associada à cria-
çãodeprojetos para contex-
tualizar a parte teórica das
aulas”, conta Rodrigo Arru-
da, professor da instituição.
PROVADO BIMESTRE: CONSTRUIR UM SABRE DE LUZ. Fundada em2015, a
Escola de Inventor iniciou suas atividades oferecendo cursos de robótica para
crianças, que aprendiamo desenvolvimento de programação e a fabricação
elétrica emecânica dos robôs. Com o sucesso das oficinas, os sócios da
instituição, localizada em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, planejam
criar uma escola regular para estudantes do Ensino Fundamental. “Estamos
montando uma equipe multidisciplinar, com engenheiros, arquitetos e
psicológos, para desenvolver conteúdos que serão utilizados por pedagogos
INSTITUIÇÃOQUE OFERECE CURSOS DE ROBÓTICAPARACRIANÇAS
PRETENDETORNAR-SE UMAESCOLAFORMALCOMTÉCNICASMAKER
ESCOLAMÃONAMASSA
seria resolvida com o estudo prático. “A forma-
ção de professores ainda vive em um sistema
de reprodução que não tem permitido avanços
em práticas inovadoras”, afirma LucianoMeira,
professor da Universidade Federal de Pernam-
buco (UFPE) e sócio-fundador da Joy Street,
empresa que desenvolve games educacionais
no formato de e-sports para ensinar conteúdos
abordados na prova do Enem. “Ao colocar qua-
1.161
emtodos os continentes
domundo
FabLabs
28
313DOSSIEculturamaker.indd 28 17/07/2017 20:24:54
BATALHA DOS ROBÔS
Mais de 124mil estudantes de escolas
públicas e privadas participam da edição
2017 da Olimpíada Brasileira de Robótica
CONSTRUIR UM ROBÔ PARA O RESGATE DE
vítimas que não pode ser operado por contro-
le remoto e deve ter capacidade de reconhecer
obstáculos e percorrer um circuito. Esse é um
dos desafios da Olimpíada Brasileira de Robóti-
ca, que neste ano acontecerá em novembro na
cidade de Curitiba, no Paraná. Nesta edição,
124.361 estudantes dos ensinos Fundamental e
Médio se inscreveram na competição, que é di-
vidida entre as modalidades teórica e prática.
“As escolas e os professores perceberam como o
ensino da robótica ajuda amelhorar aspectos pes-
soais e de aprendizado”, afirma Rafael Aroca, pro-
fessor da Universidade Federal de São Carlos (UFS-
Car) e coordenador da Olimpíada. “Os professores
ensinamMatemática, Física, Inglês, Geografia, e isso
se torna um elementomotivador para aprender um
assunto e resolver o problema do robô.” As equipes
de estudantes podem utilizar qualquermaterial, de
blocos de Lego a materiais recicláveis, e são pre-
miadas pela dedicação e criatividade no projeto.
ESPÍRITO OLÍMPICO
Equilíbrio da presença
de mulheres e homens é destaque
na competição dos estudantes
como métodos ativos de aprendizagem e ensino
de ciência aplicada”, afirma João Guilherme
Camargo, coordenador da escola.
A experiência com os cursos que já são
ministrados anima os fundadores: ao ensinar
a construir um sabre de luz, por exemplo, os
professores transmitem conceitos dos circuitos
elétricos emparalelo. “As crianças têm uma
relação mais profunda com a aprendizagem ao
construir conhecimento por meio de um objeto”,
diz Camargo. “Há o fortalecimento do trabalho
de equipe e a tolerância ao fracasso: mesmo que
um projeto dê errado, isso pode ser o estopim
para que se possa melhorar em uma nova etapa.”
tro crianças em uma bancada resolvendo pro-
blemas interessantes, você está construindo
uma premissa de inovação”, diz Meira. “Uma
série de estudos demonstra que professores
em locais improváveis e com recursos ape-
nas suficientes são capazes
de formar equipes de robóti-
ca e dar vez à inventividade
dos estudantes.”
Gênero
Escola
Equipes por região
MULHERES
PÚBLICA
PARTICULAR
HOMENS
46% 54%
58%
42%
NORTE
212
NORDESTE
1.401
CENTRO-OESTE
299
SUL
418
SUDESTE
1.031
29
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PROJETOSÀVENDA
Ideias que fizeram
sucesso em sites
de financiamento
BLAZE
Uma empresa britânica
desenvolveu um dispositi-
vo de LED que possibilita
aos automóveis observar
a presença de ciclistas.
O projeto arrecadou 55mil
libras — o equivalente a
mais de R$ 230mil.
PEBBLE 2
Projeto mais bem-suce-
dido no site Kickstarter
em 2016, o smartwatch
Pebble 2, que realiza o
monitoramento de ativi-
dades físicas, arrecadou
quase US$ 13 milhões.
FIDGET CUBE
Um brinquedo para adul-
tos estressados: em cada
face do cubo há um “dis-
positivo de relaxamento”,
como rolar uma engre-
nagem de metal, clicar
em botões ou apertar um
interruptor. Aparente-
mente inútil? Diga isso
para os US$ 6,4 milhões
que a empresa recebeu
dos financiadores.
ONAGOFLY
O drone, que arrecadou
mais de US$ 3,5 milhões
no site Indiegogo, pesa
140 gramas e produz
fotos e vídeos em alta
definição. Com conexão
wi-fi, o aparelho possi-
bilita a sincronização de
fotos com o smartphone
e possui navegação GPS
para localização.
Ao conhecer um FabLab em uma viagem ao
Peru, em 2011, o professor Alex Garcia se in-
teressou pelas possibilidades do movimento
maker na educação. Servidor da Prefeitura de Guaru-
lhos, município da Grande São Paulo, ele desenvolveu
oficinas para estudantes de escolas públicas utilizando
impressoras 3D e cortadoras — em um dos projetos,
ensinava conceitosde geometria ao utilizar canudinhos
de plástico conectados a papel recortado.
Com o sucesso da iniciativa, a prefeitura convidou
Garcia para administrar um curso para os servidores
do munícipio: nas atividades, os funcionários deveriam
identificar problemas e propor soluções para a cidade
envolvendo a ideia de inovação aberta. Em grupo, fa-
bricaram protótipos com as ferramentas disponíveis,
como os softwares de criação para impressão 3D.
De acordo com Arthur Sinnhofer, diretor do Departa-
mento de Modernização Administrativa de Guarulhos, o
projeto de um balcão de atendimento acessível para servi-
dores cadeirantes já será colocado em prática pela prefei-
tura. A iniciativa foi proposta por um grupo de funcioná-
rios que trabalham em diferentes secretarias da cidade.
A
Prefeitura de Guarulhos,
em São Paulo, oferece
cursos a servidores
em laboratóriomaker
NOVIDADES
PARA A
GESTÃO
As impressoras
3D evoluíram
e fabricam
produtos com
maior qualidade
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Acriatividade
transforma
PROFESSORADE
ESCOLAMUNICIPAL
ENCORAJAESTUDANTES
AREALIZAREMPROJETOS
COMSUAS FAMÍLIAS
FABRICAR UM HAND SPINNER utilizando tampinhas de garrafas PET foi uma das tarefas realizadas
por estudantes da Escola Municipal Ary Parreiras Alm, localizada na zona sul de São Paulo. A cultura
de inovação despontou graças ao trabalho da professora Débora Garofalo, queministra aulas de infor-
mática: em 2015, ela liderou um projeto que desafiava os alunos a utilizarem sucata para a fabricação
de brinquedos. Colocar a mão na massa e coletar materiais encontrados nos arredores da escola logo
superou a resistência inicial ao projeto: ao longo dosmeses, estudantes do primeiro ao nono ano cons-
truíram carrinhos com rolos de papel higiênico que semovimentavam como esvaziar de umbalão, além
de barquinhosmovidos a pilha. De acordo coma professora, alunos que apresentavamnotas ruins emau
comportamento descobriram suas potencialidades e se engajaram nos projetos. Além disso, familiares
também participaram da iniciativa, coletando as matérias-primas juntamente com as crianças e
os jovens, doando ferramentas e dando ideias para a fabricação dos brinquedos.
CULTURAMAKER
SEMBARREIRAS
Instalado na cidade de Santarém (PA),
laboratório é aberto para jovens que
moram em comunidades da região
A INOVAÇÃO É CAPAZ DE SUPERAR OS
limites geográficos. Localizada à margem do Rio
Tapajós, naAmazônia, a cidade paraense de Santa-
rém foi escolhida pela ONG Saúde e Alegria para a
instalação do LabMocorongo, um espaço com ferra-
mentasmaker destinado aos jovens que vivem na
região. A iniciativa também atende as 70 comuni-
dades que formam a Reserva Extrativista Tapajós
Arapiuns — para chegar a algumas dessas locali-
dades são necessárias horas de viagens de barco.
“O espaço tornou-se um local para a inovação
cidadã: temos uma equipe voltada à área de em-
preendedorismo que avalia como um aplicativo
ou um negócio poderá resolver os problemas da
região”, ressalta Caroline Pilletti, coordenadora do
projeto. O LabMocorongo também promove ofici-
nas para estimular a culturamaker entre aqueles
que ainda não conhecem omovimento — em um
dos desafios, jovens precisam fabricar um barco
movido a bateria para atravessar uma piscina.
Para superar os obstáculos de logística, os coor-
denadores da Saúde eAlegria planejammontar um
laboratóriomaker no centro da reserva. “Com isso,
os jovens pensariam em soluções interessantes
para as comunidades com baixo custo”, diz Pilletti.
PENSAR,
CRIAR,
APOIAR,
MUDAR
quipamentos para a fa-
bricação de produtos fi-
carammais baratos nos
últimos anos, mas isso não sig-
nifica que eles tenham se torna-
do acessíveis para a maior par-
te da população. “Os ambientes
dedicados à apropriação de tec-
nologias ainda seguem ocupados
pelo estereótipo dos engenheiros
brancos, homens, sendo um ni-
cho que achamos pouco diverso”,
afirma Gabriela Agustini, uma
das criadoras do Olabi. Fundada
em 2014 na cidade do Rio de Ja-
neiro, a organização realiza proje-
tos de empoderamento e impacto
social utilizando as ferramentas
do movimento maker.
Entre outras iniciativas, o Ola-
bi realizou uma rodada de pro-
gramação destinada a mulheres
E
Espaçomaker no Rio de
Janeiro realiza projetos de
transformação social
negras, promoveu cursos para
crianças sobre investigação de
genoma de frutas na comunidade
do Cantagalo e ofereceu cursos de
eletrônica e robótica para jovens
do Complexo da Maré. “Fomos
inseridos no mundo tecnológi-
co a partir do consumo e pensa-
mos pouco em possibilidades de
criação”, diz Agustini. “E se não
ampliarmos uma diversidade de
pontos de vista, teremos sempre
ferramentas mediadas por uma
única visão do mundo.”
Mas, apesar de utilizar re-
cursos tecnológicos na realiza-
ção de projetos, a organização
acredita que é necessário esti-
mular técnicas e repertórios já
usados pelas pessoas. “Aquilo
que é mais novo não necessaria-
mente será a melhor ferramen-
ta para resolver um problema”,
destaca a criadora do Olabi. Em
uma oficina para modelagem de
roupas, por exemplo, os coor-
denadores do curso mostravam
como os padrões do bordado e
do crochê eram semelhantes à
modelagem em três dimensões.
E, a partir das técnicas do cro-
chê, apresentavam os compo-
nentes da fabricação digital.
“A tecnologia por si só não
resolve os problemas: pelo con-
trário, ela pode produzir conse-
quências totalmente antagôni-
cas”, diz Agustini. “Por isso, o
nosso foco é melhorar a quali-
dade de vida estabelecendo ini-
ciativas para promover sistemas
mais justos e diversos.”
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cidade de São Paulo conta com
uma rede de FabLabs públicos
em operação desde o final de
2015, instalados por iniciativa da admi-
nistração municipal. Desde a inaugura-
ção da primeira unidade do projeto, no
bairro de Cidade Tiradentes, outros 11
espaços já estão disponíveis em diferen-
tes partes da metrópole, como em um
Centro Educacional Unificado (CEU) lo-
calizado em Heliópolis, a maior comuni-
dade da capital paulista.
Chamada de FabLab Livre, a rede
paulistana de unidades públicas oferece
cursos para que a comunidade aprenda
a operar os equipamentos do laborató-
rio e entenda as técnicas para o desen-
A volvimento de novos produtos e ideias.Além disso, é possível inscrever proje-
tos e fabricar protótipos com o auxílio
de especialistas — que ajudam na ope-
ração do maquinário, como cortadoras
a laser e impressoras 3D.
Os demais FabLabs localizados em di-
ferentes estados brasileiros também es-
tão abertos ao público — para pertencer
à rede criada no MIT, uma das premissas
desses espaços é oferecer oportunidades
para que a comunidade possa participar
e conhecer o movimento maker. No site
fablabs.io é possível encontrar informações
sobre o funcionamento das unidades para
que você possa, finalmente, tirar as ideias
da gaveta e colocar a mão na massa.
HISTÓRIA
Lançado em 2005 na
Itália, o Arduino tem o
objetivo de fornecer uma
plataforma de prototi-
pagem e ensino a baixo
custo, democratizando o
acesso à tecnologia.
PC EMMINIATURA
Para operar como um
microcomputador, a
placa utiliza um contro-
lador desenvolvido pela
empresa Atmel.
VERSATILIDADE
Alémde se conectar a sen-
sores e outrosmódulos,
há uma saídaUSB para
realizar a programação e
omonitoramento da placa
emum computador.
LIBERDADE
Aplataforma de progra-
mação doArduino utiliza
código livre, em que não
existem restrições de pro-
priedade e há comparti-
lhamento de informações.
AJUDINHA
Para quem não tem ex-
periência com progra-
mação, sites como o
PandoraLab disponibili-
zam tutoriais e um passo
a passo para configurar e
utilizar o Arduino.
MIL E UMA IDEIAS
Entre as iniciativas como
Arduino que fizeram suces-
so estão um robô equipado
com sensores que desvia
de obstáculos e um sistema
de irrigação automático.
Manual do Arduino
CONHEÇAAPLACAQUE UTILIZA CÓDIGO LIVRE PARAFUNCIONAR E OFERECE
DIFERENTES

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