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Gabriel Estrela YOUTUBER RECEBEU O DIAGNÓSTICO HÁ 7 ANOS Teste de farmácia começa a ser vendido nestemês e remédio preventivo deve chegar até ofimdo ano—a ciência avança para conter a aids,mas o estigma continua omesmo P. 34 E U V I V O C O M H I V E O PRECONCEITO É A PIOR PARTE EDIÇÃO ACIÊNCIAAJUDAVOCÊAMUDAROMUNDO CELEBRIDADES REFLETEM MOMENTOS DA SOCIEDADEP. 52 A E XPLICAÇÃO CIENTÍFICA DO SEU COMPORTAMENTOP. 46 P. 56 ENTENDA COMO FUNCIONAO SUICÍDIO ASSISTIDO DOSSIÊ CULTURAMAKER AGO. 17 313 R$ 15,00 DO S NOR T E-A ME R IC v A NO S S Ã O A DE P T O S DO "FA Ç A V OCÊ ME S MO " P. 25 57% P. 9P E S Q UI S A MUN DI A L IN É D I TA D E S C O B R IR Á Q U A I S MI C R Ó B I O S V I V E M N O M E T R Ô 313CAPAaids.indd 1 17/07/2017 21:31:51 edição de ipad Da sala de aula veio a insp i ração para Ney Mel lo cont inuar ens inando biologia a seus alunos também fora dela. Tanto que participou do Geração Futura Educadores e virou membro do Conselho de Educadores do Futura n Facebook. Isso fo i só um passo para se transformar em coautor e co sultor da sér ieultl ebo or d bbba no cons oa no cons futuraplay.org Ney está online. Ney está no Futura. para dentro do estúdio. “O Que É, O Que É?”, um programa que revela como os animais influenciam a criação de inovações tecnológicas que conhecemos. Por sua nova relação com o Futura, Ney pôde levar a biologia, assunto que tanto ama, também ANTIMATÉRIA MATÉRIAS P.10 ESTUDO GLOBAL ANALISA MICRÓBIOS DEMETRÔS P.15 REINO UNIDO QUER ESPIONARREDESSOCIAIS P.16 LUNETA: A TERCEIRA ONDA GRAVITACIONAL P.19 COLUNA CONEXÕES CÓSMICAS P.20 CARTOGRÁFICO RESGATE DE REFUGIADOS P.20 MÁQUINA DO TEMPO AVIÕES DE GUERRA P.22 TECHTUDO:MICROSOFT LANÇASEUCHROMECAST P.23 LISTA DE APLICATIVOS PARA A VIDA ADULTA P.14 OMAR DE LAMA DE MARIANA NÃO ACABOU P.17 ASGARDIA, A NAÇÃO QUE DESEJA VIVER NO ESPAÇO P.34 HIV: CIÊNCIA AVANÇA, ESTIGMA PERMANECE P.56 COMO FUNCIONA O SUICÍDIO ASSISTIDO P.52 ENTREVISTA ANNE HELEN PETERSEN P.71 COLUNA TUBO DE ENSAIOS P.72 PANORÂMICA P.74 ULTIMATO P.46 POR QUE VOCÊ SE COMPORTA ASSIM? P.64 ENSAIO A VIAGEMDOS DRONES INOVAÇÃO Espaços para desenvolver projetos com ferramentas tecnológicas ganham força no Brasil P.24 ELEMENTAR PÁGINA DE REVISTA P.25 DOSSIÊ CULTURAMAKER EDIÇÃODEAGOSTODE2017 COMPOSIÇÃO 313Composicao.indd 4 17/07/2017 21:47:17 Na verdade, eu já aprendi, sim, a dizer adeus — tanto que usei esse mesmo tí- tulo emprestado de Leandro&Leonardo há poucomais de um ano, quando Rafael Quick, en- tão editor de arte da revista, deixava a GALILEU para ir em busca dos famosos “novos desafios”. Desta vez, no entanto, quem se despede sou eu. Diz o senso comum que devemos “criar nossos filhos para omundo”. E, nos últimos três anos e meio, a GA- LILEU foi omais próximo que já tive de um filho. Mas, para ser sincera, sinto que elame criou para omundo muito mais do que o contrário. Nunca gostei tanto de trabalhar em algum lugar quanto gostei daqui; nunca aprendi tanto quanto aprendi aqui; nunca acreditei tanto na impor- tância do que fazia quanto acreditei aqui. E de todas as reportagens que fizemos, uma das quemais gosto até hoje é a de capa da edição de feve- reiro de 2016, O bandido está morto. E agora?, que tratava da história dos linchamentos no Brasil. Foi a minha primeira capa como editora- -executiva e fiquei muito orgulhosa de publicá-la (meses depois, ela re- ceberia o Prêmio Vladimir Herzog de Direitos Humanos). O texto foi assinado pelo editor Nathan Fernan- des, um especialista em tratar com leveza dos temas mais delicados. Conto tudo isso porque a matéria de capa desta edição, minha últi- ma como editora-chefe, coinciden- temente também é assinada pelo Nathan — e também já é uma das minhas preferidas (mas essa parte não é coincidência). No próximo mês, não assinarei mais este espaço, mas certamente continuarei acompanhando a revis- ta como leitora em busca de repor- tagens tão boas quanto essas duas feitas pelo Nathan. Curiosamente, esta edição também é a última da editora de arte Fernanda Didini, que, depois de ganhar todos os prêmios possíveis, está de mudança para Nova York. Nós nos encontra- mos pelo mundo — eu, a Didini e vocês! Um beijo (e obrigada). “NÃO APRENDI DIZER ADEUS, MAS TENHO QUE ACEITAR” N ! REPORTA- GEMDOANO No fim de julho, a reportagem Essa novinha é uma criança, da repórter Isabela Moreira, foi escolhida a melhor do ano no Prêmio Editora Globo de Jornalis- mo. No ano passado, a capa dessa mesma edição foi eleita a ter- ceira melhor do ano pelo voto popular no concurso daAner. Cristine Kist — Editora-chefe ckist@edglobo.com.br COLABORADORES DOMÊS ONDE NASCEU E ONDE MORA Niterói (RJ) HISTÓRICO Jornalista especializada em tecnologia. Adora escrever sobre celulares, apps, redes sociais e tudo que ajude a deixar a vida das pessoas menos complicada. O QUE FEZ NESTA EDIÇÃO Techtudo: Aplicativos só para maiores (p. 22) Nicolly Vimercate JORNALISTA ONDE NASCEU E ONDE MORA São Paulo (SP) HISTÓRICO Formada em Artes Visuais, trabalhou como designer gráfica durante 12 anos e hoje se dedica integralmente a desenvolver ilustrações para revistas. O QUE FEZ NESTA EDIÇÃO Antimatéria (p. 9) Brunna Mancuso ILUSTRADORA FOTO Tomás Arthuzzi ASSISTÊNCIA Iago Fundaro e Biano Lima PRODUÇÃO Beatriz Liranço MODELO Gabriel Estrela MAQUIAGEM Ananda Resende AGRADECIMENTOS Blazer Ricardo Almeida (11) 3887-4114 Camisa Cotton Project (11) 3062-9986 Calça GAP (11) 3038-2588 Banqueta Etna (11) 5112-3000 QUEM FEZA CAPA ONDE NASCEU E ONDE MORA Rio de Janeiro (RJ) e Los Angeles (EUA) HISTÓRICO Formada pela UFSC, com passagem pelo Estadão. Recentemente, mudou- -se para Los Angeles, onde vai estudar roteiro para cinema e TV. O QUE FEZ NESTA EDIÇÃO Quem é você na fila do pão? (p. 46) Marília Marasciulo JORNALISTA PRIMEI - RAMENTE WWW.GALILEU.GLOBO.COM PORCRISTINEKIST 08.2017#313 313Primeiramente.indd 5 17/07/2017 20:32:35 PRODUZIDO POR APRESENTA CULTURA MAKER Tudo sobre a “culturamaker”: quem são e o quemove esses profissionais que utilizam recursos tecnológicos para desenvolver projetos de inovação emudar a cultura dentro de empresas e da sala de aula AIDSNO SÉCULO 21 Aexpectativadevidade quemvivecomHIVépraticamente igual àdequemnão temovírus.Apesar disso, amentalidadeemrelaçãoàaids poucoevoluiueopreconceitomargi- nalizaquemtemasorologia positiva, contribuindo paraoaumentoda epidemia MICRÓBIOS DOMETRÔ Projeto global de cientistas analisamicróbios presentes em metrôsmundo afora. No Brasil, o grupo de pesquisadores coletou amostras emSão Paulo, Ribeirão Preto e Rio de Janeiro durante a Olimpíada DISCUTINDO PADRÕES Ementrevista, jornalistanorte- americanadiscuteporquemulheresque fogemdopadrãodefeminilidade incomodam tantoasociedade tradicional. Eporque aculturapopular criouecultivou a imagemdeumamulher irreal por tantosanos QUANDO NÃOSOMOS NÓSMESMOS Livrosobreneurociênciarecém-lançado nosEstadosUnidosdemonstraporque somoscapazesdenoscomportar comopessoascompletamente diferentesdiantedesitua- çõesextremas AIDS E PRECONCEITO, SUICÍDIO ASSISTIDO, MULHERES QUE TRANSCENDEM PADRÕES EMUITOMAIS A reportagemde capa daGalileu de agosto confronta os avanços damedicina com a mentalidade retrógrada da sociedade em relação às pessoas que vivem comHIV. Outros destaques da edição são o dossiê sobre “culturamaker”, as pessoas que buscam suicídio assistido na Europa e como a sociedade lida com as “mulheres indomáveis” SUICÍDIO ASSISTIDO Comreportagemdiretoda Alemanha,mostramoscomofunciona nopaísapráticadosuicídioassistido(quan- doumapessoacomodesejodemorrer, geralmentecomumgraveproblema desaúde, recebeajudapara isso,maséelaquem executaoatode sematar) A GOL quer sempre que você aproveite melhor o seu tempo. Por isso, oferece uma versão rápida da sua revista para você aproveitar o conteúdo empoucosminutos GANHE TEMPO! UM GIRO PELOS PRINCIPAIS DESTAQUES DESTA EDIÇÃO Gostei. Apesar da pressa, entendi tudo80% Gostei, mas estava correndo e não entendi nada 20% Gostei, meu nariz agradece 100% Para se corresponder com a Redação: endereçar cartas à editora-chefe, GALILEU. Caixa postal 66011, CEP 05315-999, São Paulo/SP.FAX: (11) 3767-7707 DESEJAFALAR COMAEDITORAGLOBO? ATENDIMENTO 4003-9393 www.sacglobo.com.br LICENCIAMENTO DECONTEÚDO (11) 3767-7005 venda_conteudo@edglobo.com.br VENDASCORPORATIVAS EPARCERIAS (11) 3767-7226 parcerias@edglobo.com.br EDIÇÕESANTERIORES Opedido será atendido pormeio do jornaleiro ao preço da edição atual desde que haja disponibilidade de estoque. Faça seu pedido na bancamais próxima. PARAANUNCIAR SP: (11) 3736-7128 l 3767-7447 3767-7942 l 3767-7889 3736-7205 l 3767-7557 RJ: (21) 3380-5930 l 3380-5923 BSB: (61) 3316-9584 NA INTERNET www.assineglobo.com.br/sac 4003-9393 ASSINATURAS 4003-9393 www.sacglobo.com.br DIRETORADOGRUPOCASAE JARDIM, CRESCER, GALILEUETECHTUDO:Daniela Tófoli REDAÇÃO EDITORA-CHEFE:Cristine Kist EDITORADEARTE:Fernanda Didini EDITORES:Giuliana de Toledo, Nathan Fernandes e Thiago Tanji REPÓRTERES:André Jorge de Oliveira e IsabelaMoreira DESIGNERS: Felipe Eugênio (Feu) e João Pedro Brito ESTAGIÁRIOS:Giuliana Viggiano, Júlio Viana e Nathalia FabroMendes (texto); Carol Malavolta e Fernanda Ferrari (arte) COLABORADORESDESTAEDIÇÃO:Cartola Conteúdo, Gabriel Estrela, Marcelle Souza e Marília Marasciulo (texto); Ananda Resende, Beatriz Liranço, Brunna Mancuso, Dulla, Estúdio Barca, Flávia Zimbardi, Marcus Penna e Tomás Arthuzzi (arte); Monique Murad Velloso (revisão) E-MAILDAREDAÇÃO: galileu@edglobo.com.br DIRETORGERAL:Frederic Zoghaib Kachar DIRETOREDITORIAL:Fernando Luna DIRETORDEAUDIÊNCIA:Luciano Touguinha de Castro DIRETORADEMERCADOANUNCIANTE:Virginia Any OBureauVeritas Certification, combase nos processos e procedimentos descritos no seuRelatório de Verificação, adotando umnível de confiança razoável, declara que o Inventário deGases de Efeito Estufa—Ano 2012 da Editora Globo S.A. é preciso, confiável e livre de erro ou distorção e é uma representação equitativa dos dados e informações deGEE sobre o período de referência para o escopo definido; foi elaborado emconformidade coma NBR ISO 14064-1:2007 e as Especificações doProgramaBrasileiro GHGProtocol. Galileu é umapublicação da EDITORAGLOBOS.A.—Av. Nove de Julho, 5.229, 8º andar, CEP01407-907, SãoPaulo/SP. Tel. (11) 3767-7000. Distribuidor exclusivo para todo oBrasil: Dinap—DistribuidoraNacional de Publicações. Impressão: Plural Indústria Gráfica Ltda.—Av.Marcos Penteado deUlhoaRodrigues, 700, Tamboré, Santana de Parnaíba/SP, CEP06543-001 ATENDIMENTOAOASSINANTE Disponível de segunda a sexta-feira, das 8às 21 horas; sábados, das 8às 15 horas. INTERNET:www.sacglobo.com.br— SÃOPAULO: (11) 3362-2000 DEMAIS LOCALIDADES:4003-9393— FAX: (11) 3766-3755 *Custo de ligação local. Serviço nãodisponível em todooBrasil. Para saber dadisponibilidadedo serviço emsua cidade, consulte sua operadora local. PARAANUNCIARLIGUE: SP: (11) 3767-7700/3767-7500 RJ: (21) 3380-5924 E-MAIL:publigalileu@edglobo.com.br PARASECORRESPONDERCOMAREDAÇÃO: endereçar cartas à editora-chefe da GALILEU. Caixa postal 66011, CEP 05315-999, São Paulo/SP. 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ESTRATÉGIADECONTEÚDODIGITAL GERENTE:Silvia Balieiro MERCADOANUNCIANTE FINANCEIRO, IMOBILIÁRIO, TI, COMÉRCIO EVAREJO—DiretordeNegóciosMultiplataforma: EmilianoMorad Hansenn;Gerente deNegóciosMultiplataforma: Ciro Horta Hashimoto;Execu- tivos Multiplataforma: Christian Lopes Hamburg, Cristiane de Barros Paggi Succi, Milton Luiz Abrantes e Roberto Loz Junior.MODA, BELEZA E HIGIENE PESSOAL—Diretora de Negócios Multiplataforma: Selma Souto; Executivos Multiplataforma: Eliana Lima Fagundes, Giovanna Sellan Perez, Selma Teixeira da Costa e Soraya Mazerino Sobral. CASA, CONSTRUÇÃO, ALI- MENTOSEBEBIDAS, HIGIENEDOMÉSTICAESAÚDE—Diretora deNegóciosMultiplataforma: LucianaMenezes; ExecutivosMultiplataforma:FatimaOttaviani e Paula Santos.MOBILIDADE, SERVIÇOSPÚBLICOS E SOCIAIS,AGROE INDÚSTRIA—DiretordeNegóciosMultiplataforma: RenatoAugusto Cassis Siniscalco;ExecutivosMultiplataforma:Diego Fabiano, Cristiane Soares Nogueira, Jessica de Carvalho Dias, João CarlosMeyer e Priscila Ferreira da Silva. EDUCAÇÃO, CULTURA, LAZER, ESPORTE, TURISMO,MÍDIA, TELECOMEOUTROS—Diretora deNegócios Multiplataforma: Sandra Regina de Melo Pepe; Executivos de NegóciosMultiplataforma:Ana Silvia Costa, Dominique Petroni de Freitas e Lilian deMarche Noffs. ESCRITÓRIOSREGIONAIS —GerenteMultiplataforma: Larissa Ortiz;Executiva deNegóciosMultiplataforma:Babila Garcia Chagas Arantes. UNIDADE DE NEGÓCIOS — RIO DE JANEIRO — Gerente de Negócios Multi- plataforma:Rogerio Pereira Ponce de Leon; ExecutivosMultiplataforma:Daniela Nunes Lopes Chahim, Juliane Ribeiro Silva, Maria Cristina Machado e Pedro Paulo Rios Vieira dos Santos. UNIDADEDENEGÓCIOS—BRASÍLIA—GerenteMultiplataforma:Barbara Costa Freitas Silva; ExecutivosMultiplataforma:Camila Amaral da Silva e Jorge Bicalho Felix Junior.GERENTEDE EVENTOS:DanielaValente.OPECOFFLINE:Carlos Roberto de Sá, Douglas Costa e Bruno Granja. OPEC ONLINE: Danilo Panzarini, Higor Daniel Chabes, Rodrigo Pecoschi. EGCN — Consultora de Marcas: Olivia Cipolla Bolonha. G.LAB — Diretor de Desenvolvimento Comercial e Digital: Tiago Joaquim Afonso; Equipe: Caio Henrique Caprioli, Guilherme Iegawa Sugio, Vera Ligia Rangel Cavalieri, Lucas Fernandes, Luiz Claudio dos Santos Faria e Rodrigo Girodo Andrade. AUDIÊNCIA Diretor deMarketingConsumidor:Cristiano Augusto Soares Santos Diretor dePlanejamento eDesenvolvimentoComercial: Ednei Zampese Coordenadores deMarketing:Eduardo Roccato Almeida e Patricia Aparecida Fachetti Edição 312 Julho de 2017 DA REPORTAGEM DE CAPA DO DOSSIÊ ALERGIA MÉDIAS DASMATÉRIAS Estamos ficando doentes... 8,8 A ciência brasileira vai quebrar? 9,7 Floresta aberta para negócio 10 Omestre mandou 9,6 Papo cabeça: Artur Avila 9,4 O QUE O NOSSO CONSELHO ACHOU... TEMPO DE SOBRA PARA AVALIAR CONSELHO PORNATHANFERNANDES Ainda tem gente que pensa que se a ciência não for algo complicado não é de qualidade, o que nem sempre é verdade, e isso foi plenamen- te demonstrado na reportagem. ITALLO LEAL Paripiranga (BA), sobre amatéria de capa A construção das cores, as colagens, o recorte de tópicos e até o título mostraram uma matéria coesa e de uma excelência visual para se inspirar. Teria sido legal discu- tir como as mídias so- ciais também influen- ciam na ortorexia, com pessoas desquali- ficadas e/ou desin- formadas passando “dicas” que consi- deram saudáveis. BOM, BONITO E COMPREENSÍVEL COREIA LINDA TODA BLOGUEIRINHA CAIOMELO São Paulo (SP), sobre a reportagem Omestre mandou FLÁVIA SEREGATI Araras (SP), sobre Estamos ficando doen- tes de tanto comer bem? 313Conselho.indd 8 17/07/2017 12:55:51 08 . 20 1 7 1 BRUNNAMANCUSO (BM)2 ESTÚDIOBARCA (EB) ILUSTRADORES CONVIDADOSEDIÇÃO THIAGOTANJI DESIGNFEU, FERNANDAFERRARI ECAROLMALAVOLTA Cientistas do mundo todo se reúnem para estudar os micróbios dometrô Fig. - (BM) P.0908.2017 ANTI- MATÉ- RIA FATOS • FEITOS • NÚMEROS • NOTAS • NOTÁVEIS 313AMAbre.indd 9 17/07/2017 15:48:22 VOCÊ JÁ SE PERGUNTOU QUAIS MICRÓBIOS NOS FAZEM COMPANHIA DIARIAMENTE nometrô, no ônibus, na calçada, na maçaneta da por- ta, no banco da praça? Pois um grande grupo de cien- tistas do mundo todo só pensa nisso. A inquietação deles é tanta que resolveram arregaçar as mangas, colocar um par de luvas e partir para a pesquisa. Graças aesse grupo, que compõe o projeto MetaSUB (sigla para Metagenomics and Metadesign of Subways and Urban Biomes — Metagenômica e Metadesign de Metrôs e Biomas Urbanos, em portu- guês), a resposta para a pergunta, nunca feita antes, chegará nos próximos meses. No Brasil, moradores de São Paulo, Rio de Janeiro e Ribeirão Preto (SP) Estudo global revelará os micróbios que vivem nos metrôs e em áreas urbanas PORGIULIANA DE TOLEDO PASSAGEIROS INVISÍVEIS APOIO O projeto de pesquisa é financiado em parte pela fun- dação de Bill Gates, criador da Microsoft P. 10 08.2017 313AMAbre.indd 10 17/07/2017 15:48:23 serão os que poderão matar a curiosi- dade sobre esses vizinhos invisíveis: as três cidades já forneceram mais de 500 amostras para a pesquisa. “Fizemos coleta até nas bicicletas pú- blicas. O que será que tem no selim, com o qual as pessoas têm um contato bem íntimo? O que será que tem no guidão?”, inquieta-se Emmanuel Dias-Neto, coorde- nador do laboratório de genômica médi- ca do A. C. Camargo Cancer Center, que negociou a entrada do Brasil no projeto. Também lideram o estudo no país Houtan Noushmehr (USP de Ribeirão Preto) e Milton Ozório Moraes (Fiocruz). Ao todo, com o auxílio de swabs — es- pécie de cotonete de náilon bem gran- de e esterilizado —, já foram coletadas ao longo de um ano e meio mais de 12 mil amostras em 70 cidades de sete con- tinentes. Cada swab esfregado por aí é catalogado em um sistema digital com suas coordenadas geográficas, data, hora e tipo de superfície. Os mutirões de co- leta são feitos em diversos momentos, mas existe um dia especial, o Global City Sampling Day, em 21 de junho. Em 2016 e neste ano — no solstício de inverno da- qui e no de verão do hemisfério Norte — foram recolhidos DNAs para montar “um retrato” de todas as cidades na data. Todo o material coletado é congelado e enviado de avião para Nova York, sede do consórcio de pesquisa. Lá, o DNA de tudo que grudou nos swabs está sendo se- quenciado. Esta etapa, a mais cara e de- morada, é também a mais desafiadora, já que, para descobrir a que micro-organis- mo pertence cada código genético, diver- sas buscas em bancos de dados precisam ser feitas. É como montar um quebra-ca- beça com os genes: as letrinhas aos pou- cos são lidas por computadores até que se encontre um nome conhecido. Ou não. MISTÉRIO Realizada em Nova York de 2013 a 2015, a pesquisa que deu origem ao atual es- tudo global concluiu que 48% dos mais de 15 mil DNAs de diferentes espé- cies encontrados na maior cidade dos Estados Unidos não pertencem a nada que os cientistas já conheçam. Ou seja, “metade do mundo debaixo das pon- tas dos nossos dedos é desconhecida”, como definiu Christopher Mason, gene- ticista do Weill Cornell Medical College, ao comentar os resultados. Se ainda sabemos tão pouco sobre os micro-organismos que habitam as cidades, devemos então perder o sono? Calma, di- zem os especialistas. “As superfícies de uma estação precisam apenas abrigar ní- veis não perigosos de bactérias e conter umamistura saudável demuitas espécies”, afirma uma cartilha do MetaSUB. Dias-Neto ressalta que os resultados do estudo serão revelados com o cui- dado de não criar pânico. “A gente che- cará tudo para evitar falsos alarmes do tipo ‘Encontramos antraz no metrô de São Paulo’”, diz. “Queremos desmistifi- car essa ideia de que o projeto vai tra- zer grandes alardes. Não é isso. O que estamos propondo, em primeiro lugar, é um sistema para conhecer outros or- ganismos que habitam o planeta.” Para o hospital especializado em câncer, por exemplo, a experiência será aplicada em pesquisas específicas da área. Outro motivo para não termos medo é que os resultados podem mostrar um micróbio que já não representa mais pe- rigo. Primeiro, porque os resultados sai- rão meses depois das coletas. Segundo, porque a análise pode ter pegado um ser morto. “Pode ser o DNA de um organis- mo que morreu há meia hora, por exem- plo, mas não de algo que passou há 15 anos”, explica Dias-Neto. Para futuras pesquisas, os cientistas estão estudando formas de diminuir essa imprecisão. Nem por isso, porém, o impacto do es- tudo global será pequeno ou pouco útil. Um dos principais usos pode ser a iden- tificação de bactérias super-resistentes a antibióticos, problema que assombra a medicina. “O que gera a resistência de uma bactéria a um antibiótico é uma se- quência de genes. Nós podemos moni- torar onde estão essas bactérias hoje”, conta o pesquisador do A. C. Camargo. Longe da área médica, o levantamento é de interesse até para arquitetos e enge- nheiros. Isso porque o estudo responde- rá quais seres estão escondidos nas cons- truções urbanas — e que podem fazê-las desabar se comerem as suas estruturas. A CARA DO BRASIL Para o Brasil, um projeto especial den- tro do MetaSUB, o Olimpioma, pretende apurar quais micro-organismos passaram pelo Rio durante os Jogos Olímpicos. Para uma avaliação completa, foram recolhidas amostras antes, durante e depois do even- to. A próxima coleta, para ver que fim leva- ram os micróbios trazidos por turistas há um ano, será neste mês. Outro Olimpioma está previsto para Tóquio, em 2020. Enquanto não se sabem os resultados dessa mistura toda, uma coisa é certa: o Brasil já deixou sua marca no MetaSUB. Foi o único país com um roubo de swabs. Na chegada de uma remessa de novos “cotonetes”, o carro da transportadora foi assaltado perto do A. C. Camargo, na Liberdade, em São Paulo. “Na reunião mundial do projeto, me pediram para contar essa história. Fiquei morrendo de vergonha”, recorda Dias-Neto. CENSO DOSMICRÓBIOS Conheça alguns números do estudo Fonte:MetaSUB, dados até 12/7/2017 Para descobrir quais micróbios estão nas áreas públicas, foram coletadas AMOSTRAS em todoomundo são do BRASIL Rio de Janeiro Ribeirão Preto São Paulo 158145247 de pessoas vivem na TERRA moramem áreas urbanas de pessoas passam pelos metrôs e ônibus de todo o planeta dos moradores urbanos usam TRANSPORTE PÚBLICO 30 BIL HÃO 550 % 57 12.040 P. 1108.2017 313AMAbre.indd 11 17/07/2017 15:48:23 APRESENTA O projeto Móbile na Metrópole tira os alunos da zona de conforto, possibilita conhecer outras realidades e transforma a maneira como os adolescentes pensam e se relacionam com o mundo CONHECER A CIDADE UM NOVO MODO O portunidade. É isso que os alunos da EscolaMóbile recebem quando ganham seu BilheteÚnico na porta do colégio, localizado emMoema(zona sul de São Paulo), e partem para uma “viagem” pela maior cidade do Brasil, onde moram, mas que não conhecem totalmente. Durante três dias, o projeto Móbile na Metrópole leva 160 adolescentes do 2º ano do Ensino Médio a explorar espaços que dificilmente visita- riamporcontaprópriaoucomsuas famílias. Sãooitogrupos de 20 alunos, em média, que percorrem itinerários dife- rentes, mas que pernoitam em um mesmo hotel no centro da cidade, que é o ponto de encontro da turma. “A ideia do projeto é possibilitar experiências distintas e o conheci- mento de lugares e pessoas de um contexto ao qual normal- mente os alunos não teriam acesso. Queremos promover a interação desses meninos e meninas com os espaços e as pessoas que ali estão”, explica Fepa Teixeira, professor de Filosofia e coordenador doMóbile naMetrópole. Os desafios começam pelo uso do transporte coletivo, uma novidade para boa parte dos estudantes do colégio. São eles que decidem qual meio de transporte utilizar, o que os coloca como sujeitos desde o primeiro momento da intensa jornada. “Isso lhes possibilita vivenciar a cidade de uma maneira diferente, sem que simplesmente sejam guiados, dentro de um ônibus fretado com um monitor mostrando os pontos turísticos. A nossa proposta é que esses jovens sejam ativos durante todo o Estudo do Meio, e por isso eles primeiro têm de pensar na locomoção”, diz Teixeira. Dessa maneira, os alunos aprendem a pesquisar e, ao mesmo tempo, têm papel de criadores do processo, porque vivenciamas experiências. Antes da “viagem”, na escola, os adolescentes são divididos em quartetos, às vezes, quintetos. Já em campo, os membros dos grupos traba- lham separadamente para que todos possam comparti- lhar suas experiências posteriormente com os colegas. “Cada grupo alimenta seu blog com posts sobre as vivên- cias para compartilhar conhecimentos e experiências vividos. Por meio de contas no Instagram, os alunos uti- lizam a hashtag ‘#MNM’ para publicar suas fotos”, explica Wilton Ormundo, diretor do Ensino Médio da Móbile. O projeto, que dura o ano todo e envolve os pro- fessores da área de Humanas, é finalizado com um Tour ajuda alunos a conhecer diferentes formas de morar, consumir e viver na capital paulista DE APRENDER E DE PRODUZIDO POR minidocumentário autoral, de cerca de 8 minutos, por meio do qual cada grupo apresenta um tema relacionado ao Estudo doMeio. Assim que a “viagem” acaba, começa o processo de produção, com a apresentação de um video- argumento, no qual os alunos contextualizam seu projeto e sua pretensão com o trabalho final. No ano passado, houve uma mostra de 11 minidocu- mentários no Cine Belas Artes, em um evento aberto à comunidade. A escola disponibilizou um link para uma votação on-line após as apresentações, e o vencedor levou um prêmio em reconhecimento ao bom trabalho. PONTOS DE DIVERSIDADE Ao longo das etapas que compõem o projeto, os alunos passampormuitas experiências. Emanos anteriores, eles chegaram a um ponto que lhes é conhecido: o Shopping JK Iguatemi. Mas, antes, percorreram importantes ende- reços comerciais da capital paulista: a Rua 25 de Março, a Oscar Freire, o Brás. Com isso, puderamperceber as carac- terísticas de cada centro comercial, como os diferentes perfis de consumidores e os diversos preços dos pro- dutos. Outro ponto de visitação foi o coletivo São Mateus emMovimento, que fica em São Mateus (zona leste de São Paulo), considerado uma das maiores galerias abertas de grafite do mundo. Choveu demais nesse dia e os alunos não tinham como sair da comunidade a pé. Foram, porém, surpreendidos com a hospitalidade dos moradores da comunidade. “A gente precisava ir até o metrô, que não era perto, e os moradores não pensaram duas vezes em nos oferecer uma carona. Os alunos ficarammuito felizes com essa relação de acolhimento e confiança partindo de pessoas desconhecidas”, conta Teixeira. CAINDO NA REAL Talvez a parte mais difícil do projeto tenha sido enfrentar a resistência dos alunos no ano inaugural. Era 2013 e, até então, os alunos do 2º ano do Ensino Médio faziam um Estudo do Meio tra- dicional, hospedados em um hotel com quadra e piscina, um programa que os adolescentes aguardavam ansiosa- mente. Por isso, quando os professores informaram no auditório da escola que a tal “viagem” seria na própria cidade de São Paulo, tiveram de lidar com a explícita reprovação do grupo. Liderando o coro, estava Fernanda Lopes de Alcantara Gil, na época com 15 anos. Ela organizou um “ESSA ‘VIAGEM’ MUDOU A MINHA VIDA PORQUE ME ENSINOU QUE ÀS VEZES VOCÊ ACHA QUE ESTÁ ENXERGANDO O MUNDO, MAS NÃO ESTÁ VENDO UM PALMO À SUA FRENTE” FERNANDA LOPES DE ALCANTARA GIL, 19 ANOS, ESTUDANTE DE DIREITO DA FGV-SP abaixo-assinado, reclamou com todos os professores, coor- denadores e diretores e, como última tentativa, apelou para os pais. Eles, no entanto, não foram solidários emandaram a menina para o Estudo do Meio como ele havia sido pro- gramado, postura que ela não cansa de agradecer. “Foi uma imersão na cidade e eu mudei muito. Eu me arrependi de tudo que fiz para bloquear essa vivência, que foi uma das melhores experiências da minha vida. Conheci uma rea- lidade totalmente diferente da minha”, diz Fernanda, hoje com 19 anos, estudante de Direito da FGV-SP. Houve também resistência por parte dos pais, a maioria por temer pela segurança dos seus filhos. Foi o caso da enge- nheiraquímicaAnaCristinaCasteloBranco,55,mãedeThais, 20, e André, 17, ambos ex-alunos daMóbile. “Foi umaproposta que me preocupou na época, mas, depois que a Thais parti- cipou da vivência, fiz questão de dizer que eu estava errada, que minha preocupação com segurança não fazia omenor sentido e que esse pro- jeto é um sucesso”, lembra. “O Móbile na Metrópole faz com que os alunos viven- ciem sua cidade, se apropriem dela, que- brem preconceitos. Isso só os engran- dece como cidadãos, sujeitos pensantes e críticos. Oolhar dosmeusfilhosmudou completamente. Eles começaram a enxergar que São Paulo não é apenas o bairro onde eles vivem.” Saiba mais em www.escolamobile.com.br Os alunos passearam por diversas ruas do centro de São Paulo e regiões da periferia FIG. - BM Unidades de conservação ambiental no Espírito Santo e arquipélago na Bahia ainda são ameaçados pelo mar de lama que correu no Rio Doce POR GIULIANA VIGGIANO as consequências ao meio ambiente causa- das pelo rompimento da Barragem do Fundão, na cidade de Mariana (MG), ainda não chegaram ao fim. Para medir o impac- to do crime ambiental, que ocorreu em novembro de 2015, o Instituto Chico Mendes (ICMBio) realiza um monito- ramento supervisionado por cientistas. E as notícias não são nada animadoras: as unidades de conservação ambiental Comboios e Costa das Algas, bem como o Refúgio de Vida Silvestre de Santa Cruz, que ficam no Espírito Santo, fo- ram afetados pelo mar de lama que per- correu a extensão do Rio Doce. De acordo comMarcelo Marcelino, di- retor de pesquisa do ICMBio, o monitora- mento acontece desde 2016 a fim de reu- nir informações capazes de fundamentar uma ação ação judicial contra a Samarco, empresa responsável pela administração da barragem. O rompimento da constru- ção, que acumulava resíduos da extração de minério de ferro, liberou 62 milhões de metros cúbicos de lama — o suficien- te para encher 24 mil piscinas olímpicas. O monitoramento é realizado em parce- ria com a diretoria de Pesquisa, Avaliação e Monitoramento da Biodiversidade (Dibio) e professores das universidades federais do Espírito Santo (Ufes) e de Rio Grande (Furg), além da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. arquipélago ameaçado Projeções feitas pelos pesquisadores indicam que o próximo alvo dos res- quícios do mar de lama que invadiu o Rio Doce é o Arquipélago de Abrolhos, localizado no litoral da Bahia. Heitor Evangelista, geocientista e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), afirma que a situação é preocu- pante, já que o arquipélago abriga for- mações de corais que reúnem diferentes espécies de animais e plantas. De acordo com o especialista, os com- postos de ferro, zinco, cádmio, arsênio e outros metais pesados provenientes do Rio Doce já foram detectados no li- toral da Bahia. “Quando os dejetos che- garam a Abrolhos ainda não havia ne- nhum material de pesquisa concreto”, ressalta. Para divulgar a extensão do impacto, o professor criou uma página no Facebook, a Abrolhos Sky Watch. Com o auxí lio de Evangelista, o ICMBio também analisará essa re- gião a partir de agora. “As superfícies de corais são organismos extremamen- te sensíveis, que demoraram anos para se adaptar às condições de luminosi- dade e mineralogia daquele ambiente”, destaca o professor da Uerj. AQUI NÃO, AQUECIMENTO GLOBAL Corais encontrados na Amazônia em 2016 estariam imunes às alterações climáticas POR NATHALIA FABRO NO ENCONTRO DO RIO Amazonas com o Oceano Atlântico, no norte do Brasil, está localizado um novo tipo de bioma que traz esperan- ças para a preservação de animais aquáticos. Os Corais da Amazônia, cuja existência foi confirmada em 2016, são uma aposta para proteger Extensão do impacto do crime ambiental é monitorada por cientistas A Tragédiapara nãoesquecer diferentes espécies dos efeitos das mudanças climáticas. Em janeiro deste ano, uma expe- dição em submarino foi promovi- da pelo Greenpeace para explorar a região e registrar as primeiras imagens do ecossistema. Os pesquisadores da ONG encontra- ram esponjas, rodolitos (nome dado a uma espécie dealga) e peixes que vivem em locais com profundidade de 30 a 185metros. Justamente por ser um território de água turva e pouca luz solar, os cientistas acreditam que o bioma esteja imune aos efeitos do aquecimento global, o que ajudará a preservar formas de vida ameaçadas de desaparecer em outras partes do planeta. P. 14 08.2017 313AMAmazoniaINTERNET.indd 14 17/07/2017 13:02:44 DE OLHO... Google, Facebook e Twitter se uniram para exigir do governo norte- -americano maior transparência em relação aos pedidos de vigilância de usuários suspeitos de terrorismo ... EM TUDO Umcomunicado da organização Wikileaks afirmou que a CIA, agência de inteligência dos Estados Unidos, é capaz de espionar qualquer equipamento conectado à internet F IG .- B M FIG.- BM FREUD ROBÓTICO Com base em um chat online, oWoeBot oferece assistência psicológica a pacientes PORJ. V. OS ALGORITMOS SÃO a verdadeira chave para entender a mente humana? Os desenvolvedores do robô te- rapeutaWoeBot acreditam que sim. O sistema virtual é capaz de analisar o estado mental do paciente baseando-se apenas nas palavras e emojis utiliza- dos pelo usuário em um chat. OWoeBot recomenda vídeos, propõe jogos e “conversa” durante 24 horas por dia, iden- tificando as questões que fazem o usuário se sentir mal. O custo mensal do serviço é de R$ 128. Os criadores alertam, no entanto, que oWoeBot ainda não é capaz de subs- tituir um psicólogo “real”. Abaixo, conheça outros robôs com sistemas sensíveis. A INTERNET PODE SER POLICIADA? Para combater ações terroristas, o governo do Reino Unido deseja investigar redes sociais POR JULIO VIANA OSTRÊSATAQUESTERRORISTAS que ocorreram no Reino Unido nos primeiros meses deste ano levaram o gabinete da primeira- -ministra Theresa May a propor uma medida drástica contra as organizações extremistas. O governo deseja instituir uma lei para obrigar empresas de tecno- logia, como o Facebook e aApple, a fornecer informações sobre as mensagens criptografadas troca- das em suas redes sociais. May afirma que vasculhar os dados de alguns usuários ajudaria a barrar a disseminação de pro- paganda online promovida pelo Estado Islâmico, organização ter- rorista que recruta jovens euro- peus para realizar os ataques. A proposta de lei é criticada por especialistas. “Quando se abre uma brecha na tecnologia, nada garante que quem a utili- zará serão os agentes de polícia. Na verdade, o que ocorre é que se cria uma vulnerabilidade arti- ficial no sistema”, afirma Carlos Affonso, professor da Faculdade de Direito da Uerj e diretor do Instituto de Tecnologia e Socie- dade do Rio (ITS Rio). “Se o Reino Unido permitir o acessoàsmensagens, oquegaran- tequeumgovernoautoritário não utilize esse precedente para con- trolar seus cidadãos?”, questiona Affonso.Alémdisso, deacordocom oprofessor, amedida será inútil, já que os criminosos migrarão para uma plataforma ainda mais difícil de ser acessada pela polícia. KARIM O robô da startup norte-americana X2AI foi criado especialmente para conversar com refugiados sírios. XIAOICE Desenvolvido pela Microsoft, ficou popular na China ao oferecer suporte emocional a pessoas solitárias. ELLIE É capaz de associar expressões fa- ciais a sentimentos. Foi fabricada por pesquisadores nos Estados Unidos. P. 1508.2017 313AMAmazoniaINTERNET.indd 15 17/07/2017 13:02:46 LU- NE- TA OESPAÇOÉLOGOALI PORANDRÉJORGEDEOLIVEIRA FIG. - BM (1) Em massas solares (2) Em anos-luz SUA FUSÃO NOS DÁ ONDAS Fusão de buracos negros está por trás das três ondas gravitacionais detectadas até o momento — o que falta agora é ouvir coisas diferentes Nossas crianças vão à ISS Estudantes de escolas públicas brasileiras farão experimento que deve ser lançado à Estação Espacial Internacional em 2018 TODASAS ESTRELAS do Universo juntas não emitiriamaenergiaque foi liberadaquandoum buraco negro se fundiu com outro há 3 bilhões de anos. Na época, ondulações gravitacionais propagaram-se pelo espaço-tempo: é o que ocorre quando corpos pesados sofrem acele- ração.Asmarolas foramdetectadasem janeiro e anunciadas em junho pelo observatório Ligo, nos EUA. Foi a terceira vez que isso aconteceu. “Essadetecçãoé similaràsprecedentes”, diz o físico Riccardo Sturani, da UFRN. Ele coordena um dos grupos brasileiros que colaboram com o Ligo. Dos três sinais, o último foi o que veio de mais longe. Mais uma vez, a teoria da relati- vidade de Einstein explicou tudo direitinho. Mas a terceira onda também trouxe novidades: o giro (spin) de cada buraco estava desalinhado — indício de que não nasceram juntos, mas se trombaram. “Bu- racos negros que se encontram têm spin em qualquer direção, já os que se formam de estrelas binárias são alinhados com a ro- tação orbital”, explica Sturani. Nós escutamos buracos negros pois eles cantam comoPavarottis. “Têm voz de tenores”, diz Odylio Aguiar, astrofísico do Inpe que coordena o outro grupo brasilei- ro. Comoo Ligo serámais sensível em 2020, a tendência é de que o número de detecções aumente. “Aguardamosansiosamenteade- tecção de estrelas de nêutron”, diz Aguiar. Densas, quandose fundemFonte: Ligo 1 (GW150914) 14/9/2015 62 1,3 bilhão Massa pós-fusão(1) Distância da Terra(2) Data da detecção 3 (GW170104) 4/1/2017 49 3 bilhões Massa pós-fusão(1) Distância da Terra(2) Data da detecção 2 (GW151226) 26/12/2015 21 1,4 bilhão Massa pós-fusão(1) Distância da Terra(2) Data da detecção ONDAS GRAVITACIONAIS O trio de detecções ou caem em um buraco negro, es- sas estrelas emitem não só ondas gravitacionais mas também raios X e gama. Do estudo comparativo podesurgiraexplicaçãodamatéria escuraouatéateoriadagravitação quântica—quedeveexplicaragra- vidade no nível das partículas. Dias após o anúncio do Ligo, a Agência Espacial Europeia cravou para 2034 o lançamento do Lisa, primeiro observatório espacial de ondasgravitacionais, queestudará buracos negros supermassivos. Do espaço, é possível prever as fusões com antecedência: Ligo e Lisa vão ser como uma dupla sertaneja. “Esses eventos serão programados”, dizAguiar.Aí ficará fácil: basta apontar todos os teles- cópios para obter dados a rodo. DESDEQUEOASTRONAUTAMar- cosPontes fezexperimentosnaEs- tação Espacial Internacional (ISS) em 2006, não tivemos pesquisas brasileirasemórbita.Mas issodeve mudar: um experimento nacional será elaborado nos próximos me- sespara ser lançadoentremarçoe junhode2018.Omais interessante é que a concepção será de adoles- centes de 15 anos. Parceria entre o projeto Garatéa, organizador da missão lunarbrasileira, e o colégio Dante Alighieri, a participação no programa SSEP mobilizará 150 estudantesda redepública deSão Paulo. Em gruposmistos com 300 alunos do Dante, eles serão trei- nados por pesquisadores e, até o fim do ano, uma das mais de 60 propostas de experimento de mi- crogravidade será escolhida. É preciso captarUS$ 24mil da ini- ciativa privada. “Batemos à porta eperguntamossenãoqueremado- tarumacriançadoensinopúblico”, diz o diretor Lucas Fonseca, que pensa até emdarviagens àNasa e templanosousadosparaoanoque vem. “Estamos costurando uma parceriacomaOlimpíadaBrasileira deAstronomiaeAstronáuticapara chegar a 1milhão de alunos.” P. 16 08.2017 313AMLuneta.indd 16 17/07/2017 15:20:38 SEM DÚVIDA FIG. - BM Projeto utópico da primeira nação espacial anuncia que colocará em órbita um nanossatélite com milhares de dados de seus “cidadãos” MORADACELESTIAL dos deuses nórdicos serviu como inspiração para a criação de Asgardia, primeiro projeto de nação espacial. Nos próximos meses, milhares de terráqueos serão lançados ao espaço—mas só virtualmente, na forma de arquivos em um satélite. Falamos com Lena De Winne, CEO da ONG Asgardia. ASGARDIALANÇAEMBREVESUAPRIMEIRAPRESENÇA CONCRETANOESPAÇO.OQUEOSATÉLITEREPRESENTA? Levaremos, pela primeira vez e de graça, os dados de nossos cidadãos para fora daTerra. É um simbolismo da democracia no espaço e marca o início deAsgardia como nação espacial. OQUEEXATAMENTEGANHARÍAMOSCONSTRUINDOE MANTENDOUMANAÇÃONAÓRBITADENOSSOPLANETA? Assegurar ouso pacífico do espaço, proteger aTerra de perigos cósmicos e criar uma base espacial de conhecimento científico. Contar com essa plataforma é algo crucial para acompanhar a expansão da humanidade para fora do planeta. Nocéutem estado-nação Asteroides podem trazer à Terra uma nova forma de ser vivo? Bruno Pimentel, via Facebook Live OLHODOTOUROPAIRA SOBREALUACRESCENTE Olhe para o Leste às 2h: Aldebarã, estrela mais brilhante da conste- lação de Touro, surge próxima à Lua. Em Roraima, ela estará oculta pelo disco lunar até 2h30, quando poderá ser vista aparecendo. 16 EUAAGRACIADOSCOMUM BELÍSSIMOECLIPSESOLAR Primeiro eclipse total do Sol em 38 anos cruza os Estados Unidos de ponta a ponta pela manhã. Por aqui, terá visibilidade parcial em alguns estados das regiões Nor- te e Nordeste, das 16h30 às 17h20. 21 AGENDA - 6 13 20 27 2 9 16 23 30 - 7 14 21 28 3 10 17 24 31 1 8 15 22 29 4 11 18 25 - 5 12 19 26 - ssd s t q q Agosto de 2017 VOCÊSTÊMALGUMAESTIMATIVADEQUANDOAONU IRÁ RECONHECEROFICIALMENTEOESTADODEASGARDIA? Oplano inicial é se firmar como nação, não como estado. ConformeAsgardia for desenvolvendo atividades benéficas a toda a humanidade, terá maior reconhecimento dos outros estados e, consequentemente, acabará se tornando um. A Talvez amesma per- gunta tenha inquietado Anaxágoras, filósofo naturalista da GréciaAntiga que criou a hipótese da panspermia cósmica, afirmando que avida pegaria carona emasteroides ou come- tas. Experimentos científicos mostramque certosmicróbios são tão fortes que sobreviveriam ao serem ejetados de umplaneta e reentrarem emoutro, alémde resistirem àviagem interpla- netária. Mas calma lá: isso não prova que existambichinhos alienígenas entre nós. “Apesarde ser umprocesso possível, ainda não encontramos exemplos de organismos extraterrestres que tenham chegado pormeios de dispersão pelo espaço”, diz o astrobiólogoDouglas Galante. R: As notícias espaciais da semana são discutidas em transmissão ao vivo via Facebook. Assista e capriche nas perguntas: você pode sair na revista. O engenheiro Lucas Fonseca participa do programa no dia 28/7 para falar sobre o experimento educacional de alunos brasileiros na ISS. Não perca! SEXTAS,ÀS 17H, NA FANPAGE DAGALILEU LUNETA LIVE UMTRIÂNGULOROUBAA CENAAOCAIRDANOITE A lua crescente, o planeta Júpiter e a estrela Spica aparecem no Oeste em uma interessante formação triangular logo após o pôr do Sol. Só não demore a observar: o trio ficará por ali até por volta de 21h. 25 P. 1708.2017 313AMLuneta.indd 17 17/07/2017 15:20:40 * ADILSON DE OLIVEIRA é professor de Física da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e fundador do Laboratório Aberto de Interatividade (LAbI), voltado para o desenvolvimento demetodolo- gias para divulgação científica. QUANDO ERA PEQUENO, eu achava muito estranho os relógios nãomarca- remasmesmas horas emtodo omun- do. Como era possível ser duas horas da tarde em cidades comoSãoPaulo e duas horas da manhã no Japão? As horas não são as mesmas em todoogloboporque elas sãomarcadas em funçãodos fusos horários. Conven- cionou-se usar como referência o fuso que passa em Greenwich, próximo de Londres. A partir dele, a cada 15° se deslocando para leste ou oeste adi- ciona-se ou subtrai-se uma hora. Em Brasília, temostrêshoras amais doque em Greenwich. Em partes das regiões Norte eCentro-Oeste doBrasil e no es- tadodoAcre, éprecisoacrescentaruma e duas horas amais, respectivamente, em relação aohorário deBrasília.Mas, afinal de contas, o que é o tempo? Donossopontodevista, essa noção variadepessoaparapessoa,dependen- doda idadeoudomomentodavidaem que se está. Na infância, achamos que elepassadevagar.Algumas crianças re- clamam da demora para chegar o ani- versário,mas, quandoestãode castigo, os minutos parecem uma eternidade. Aoatingirmosa fasedaadolescência e, posteriormente, como adultos, nossos compromissos aumentam. Com isso, temos o sentimento de que o tempo passa cada vezmais rápido. A noção cotidiana do tempo não está ligada apenas ao nosso íntimo— o tempo psicológico —, mas também à cultura e à sociedade que nos cerca. Por vivermos em uma era na qual as comunicações são instantâneas, essa sensação se torna mais acentuada. Do ponto de vista da física, o tempo pode ser definido de maneira “operacional”, ou seja, com base em grandezas mensuráveis. Podemos defini-lo como o parâmetro que descreve a mudança de um sistema a partir de um determinado estado. Os relógios utilizam repetições pe- riódicas de um fenômeno para me- dir a passagem do tempo, que podem ser o movimento de um pêndulo ou oscilações de um cristal de quartzo, por exemplo. Nos computadores, são circuitos osciladores que fazem amarcação a partir de mudanças pe- riódicas das tensões em seus dispo- sitivos. Os relógios atômicos medem a frequência da radiação emitida por determinados átomos, como o Césio 133. Relógios desse tipo atrasam ape- nas 1 segundo em 1 milhão de anos. No início do século 20, o conceito de tempo, principalmente na física, mudou radicalmente. Para explicar as novas descobertas e ideias — como o fato de que a luz sempre viaja names- mavelocidade (300mil km/s) indepen- dentemente de quem a esteja obser- vando —, Albert Einstein introduziu a ideia de que tempo e espaço não são coisas distintas e formam uma unida- de: o espaço-tempo. Einsteinmostrou que o tempo depende da velocidade comaqual nosmovemos. Quantomais próximos estamos da velocidade da luz, mais devagar ele flui. Imagine uma viagem para um pla- neta distante, a dezenas de anos-luz da Terra (um ano-luz tem quase 10 trilhões de quilômetros). Considere ainda que essa viagem seja feita com umavelocidade bempróxima à da luz. Na volta, o viajante vai perceber que, para as pessoas que ficaram na Terra, passaram-se dezenas de anos, mas para ele foram apenas alguns meses. Embora ainda não possamos em- preendermissões como essa, o efeito é verificado em experimentos reali- zados nos aceleradores de partículas, nos quais prótons e elétrons sofrem a dilatação temporal ao se moverem próximos da velocidade da luz. O físico alemão também mostrou que, quanto mais intensa for a gravi- dade,mais lentamente o tempopassa. Esse fato é usado para corrigir os re- lógios atômicos nos satélites de GPS. Eles determinam a posição dos obje- tos marcando as diferenças de tempo dos sinais que chegam até eles. Como estão distantes da superfície daTerra, sentem uma gravidademenor. Se não fossem considerados os efeitos rela- tivísticos, eles errariam a localização dos objetos emmais de 15 quilômetros. De fato, o tempo é um tema fasci- nante e é inegável que tenhaprofundas conexões com nosso cotidiano e com a própria natureza. Ainda precisamos aprender a lidar comesse conceito tão presente emnossasvidas e, assim, en- tender os seus profundos mistérios. O físico Albert Einstein mostrou que o tempo, conceito tão presente em nossas vidas, não é igual em todo o Universo e que ele depende da velocidade com que nos movemos OTEMPO ESEUS MISTÉRIOS Segundo Einstein, quanto mais próximos estamos da velocidade da luz, mais devagar o tempo flui 19 CONEXÕES CÓSMICAS PORADILSONDEOLIVEIRA* 313ConexoesCosmicas.indd 19 17/07/2017 13:55:06 ~ P A S S A D O ~ Águas internacionais Região costeira do norte da TUNÍSIA MALTA LAMPEDUSA LÍBIA ITÁLIA Trípoli 2014 2015 2016 MÁQUINA DO TEMPO ASES DA GUERRA Dos aviões que cruzaram os céus durante as batalhas da Segunda Guerra Mundial às armas que destruirão mísseis na velocidade da luz, conheça o passado, presente e futu- ro dos aviões de combate POR THIAGO TANJI PORGIULIANAVIGGIANO CARTO- GRÁFICO A cada ano, pessoas que buscam refúgio na Europa são resgatadas mais perto do litoral — mas isso não é necessariamente bom Tão perto, tão longe SUPERMARINE SPITFIRE (REINO UNIDO) Lançado durante a década de 1930, o avião tornou-se uma das principais armas do Reino Unido para combater as incursões aéreas promovidas pelas forças nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Com velocidademáxima de 595 quilômetros por hora, carregava metralhadoras e canhões. MIG-25 (UNIÃO SOVIÉTICA) Com capacidade de quebrar a barreira do som e atingir velocidade de 3,4 mil quilômetros por hora, o caça da União Soviética começou a ser utilizado na década de 1970 e era equipado com mísseis para combates no céu. O peso máximo da nave era de 36,7 mil quilos. NO ÚLTIMO ANO, o resgate da maior parte dos refugiados ocorreu em regiões mais próximas do litoral da Líbia, uma das principais rotas de fuga para a Europa, em relação aos anos anteriores. De acordo com a Agência Europeia da Guarda de Frontei- ras e Costeira, a Frontex, isso acontece porque as condições das pessoas que buscam uma nova vida em solo europeu ficaram ainda piores. As embarcações, por exemplo, estão ainda mais superlotadas e precárias. “Migrantes e refugiados são incentivados pelas histórias de sucesso da- queles que conseguiram fazer a travessia”, afirma a Frontex em documento oficial. P.20 08.2017 313AMCartograficoAVIOES.indd 20 17/07/2017 13:17:48 ~ P R E S E N T E ~ ~ F U T U R O ~ a do norte da África Delimitação das águas internacionais Resgates realizados em 2014 Resgates realizados em 2015 Resgates realizados em 2016 Região onde ocorreram resgates Principais pontos de desembarque Locais de partida dos refugiados GRÉCIA M A R M E D I T E R R Â N E O Benghazi SAAB GRIPEN NG (SUÉCIA) O avião de combate é resistente a di- ferentes condições climáticas e possui sensores e radares que oferecem diversas informações, como um sistema de alerta de aproximação de mísseis inimigos. Pode atacar alvos no ar e em superfície. A Força Aérea Brasileira encomendou 36 unidades. TRANSFORMER (REINO UNIDO) Pesquisadores da empresa britânica BAE Systems divulgaram suas ideias para o avião de combate do futuro: operadas sem a necessidade de um piloto humano, as aeronaves seriam equipadas com armas que disparariam na velocidade da luz para destruir mísseis inimigos. TRANSA PRÉ- -HISTÓRICA Homo sapiens acasalou com neandertais há 219 mil anos PORG. V. A HISTÓRIA DA EVOLUÇÃO do humano moderno ganhou mais um capítulo: a análise do DNAmitocondrial do osso de um neandertal encontra- do na Alemanha indica que o Homo sapiens provavelmente procriou com espécies humanas extintas há mais de 200 mil anos. Até então, acreditava- -se que nossos ancestrais só teriam chegado à Europa há aproximadamente 60 mil anos. Com mais de 99% do DNA semelhante ao dos humanos modernos, os neandertais fo- ram extintos há cerca de 29 mil anos. De acordo com os cien- tistas, os donos das ossadas se separaram dos demais nean- dertais e se juntaram ao Homo sapiens em algum momento en- tre 316 mil e 219 mil anos atrás. Pesquisas recentes indicam que a concorrência dos neandertais com os humanos foi a principal causa da extinção da espécie. A partir de agora, os pesqui- sadores investigarão outros vestígios do contato entre humanos modernos e neander- tais, como o compartilhamento de diferentes hábitos culturais. QUAL IDEOLOGIA? Orientação política dos brasileiros em 2017 Direita23% 9% Centro-direita 26% Centro 9% Centro-esquerda 19% Esquerda 14% Não sabe Fonte:Datafolha Fonte: ACNUR P.2108.2017 313AMCartograficoAVIOES.indd 21 17/07/2017 13:17:50 ara turbinar sua tv: similar ao Chromecast, do Google, o Wireless Display Adapter cria pontos wi-fi em televi- sões tradicionais. À venda por R$ 349, o dispositivo fabricado pela Microsoft é fácil de instalar e é capaz de espelhar o que aparece na tela de celulares, ta- blets e PCs com Windows. Um diferencial em relação ao Chro- mecast é que o aparelho possibilita transmitir qualquer imagem para as te- levisões — como a tela inicial do smar- tphone — sem restringir o uso a aplicati- vos oficiais, como a Netflix e o YouTube. Além disso, por conta do Wi--Fi Direct, é possível utilizar o equipamento sem estar conectado à internet. A imagem mostrada na televisão não perde qualidade. O raio de alcance de sete metros também garante conforto para quem está usando o computador ou telefone longe da TV. Ao fazer uma pausa, porém, há necessidade de pare- ar novamente com o equipamento. Um ponto importante — e desvantajo- so para a maior parte dos usuários — é que o Wireless Display Adapter só faz transmissões com dispositivos que ro- dam o Windows 10 ou o Windows 8.1. Já o Chromecast tem suporte para Android e iOS. Mesmo assim, o acessório é uma boa opção para quem não quer gastar muito e deseja melhorar sua TV. P FICHA TÉCNICA PREÇO:R$ 349 ESPECIFICAÇÕES: Com saída HDMI e dimensão de 12 centímetros, o aparelho tem raio de alcance de sete metros e funciona em dispositivos que utilizamWindows SmartTVsem pesarnobolso Com tecnologia sem fio, dispositivo da Microsoft exibe filmes e fotos do celular para a sua televisão POR CAROLINA OCHSENDORF P.22 08.2017 TECNOLOGIADESCOMPLICADA 313AMtechtudo.indd 22 17/07/2017 19:13:42 @techtudo_oficial /techtudo @TechTudo FIG. - BM APLICATIVOS SÓ PARA MAIORES Conheça serviços online que prometem facilitar os deveres da vida adulta POR NICOLLY VIMERCATE SE VOCÊ COLECIONA POTES DE PLÁSTICO, adora uma promoção de produtos de lim- peza ou fica muito feliz ao ver boletos pa- gos... parabéns, você provavelmente chegou à vida adulta. No Brasil, mais de 50% dos jovens começam a viver sem um “responsá- vel” a partir dos 23 anos de idade, no caso das mulheres, e dos 26, para os homens, de acordo com o censo 2010 do IBGE. Para ajudar quem está passando por essa fase de transição e precisa aprender a se virar sozinho, selecionamos alguns aplica- tivos grátis e disponíveis para smartphones que rodamAndroid ou iPhone. Afinal, adulto gosta mesmo é de praticidade! PAGARBOLETOS Como Papelada fica fácil deixar boletos em dia. Basta tirar foto do boleto e ele alerta sobre a data de pagamento, além de ler o código de barras e abrir direto no aplicativo do seu banco. ACHARDESCONTOS Uma promoção é sempre bem-vinda. O Cuponeria tem códigos de desconto para uti- lizar em lojas físicas e online. Já oMéliuz é um app de cashback: você recebe de volta parte do dinheiro que gastou. UBERMAISBARATO Uber, Cabify ou 99 Pop — qual app utili- zar na hora da pressa? O mais barato, claro! O VAH compara apli- cativos de transporte disponíveis no local e mostra o preço da corrida e o tempo de embarque. MALHAREMCASA Além do peso da responsabilidade, adulto sente... dores. Para cuidar da saúde e fugir do sedentarismo, oBTFIT traz aulas completas emvídeo. É só dar play emalhar sem sair de casa. RACHARACONTA Ser adulto e indepen- dente não significa que você faz tudo sozinho, certo? Então, na hora de dividir despesas com os amigos, como emumaviagem ou nos gastos da república, o Conta Coletiva pode ser uma ferramenta útil. COZINHAR Chegar em casa e achar comida pronta é coisa de adolescente. Adulto precisa saber se virar na cozinha. OReceitas de Culináriamostra diferentes opções de pratos com passo a passo completo. FIG. - EB O iOS juntará a tela de bloqueio com a tela de notificações. No sistema Android, pontos na lateral dos atalhos de aplicativos indicarão ao usuário a quantidade de novidades que o aguarda. As fotos feitas com o iOS 11 ocuparãomenos espaço no armazenamento do celular. OAndroid 8 aposta em segurança, com um antivírus de fábrica e um CTRL C + CTRLV inteligente. A voz da Siri, assistente virtual do iPhone, ficará menos robótica. Além disso, ela também saberá fazer traduções. Já a câmera no Android 8 será capaz de identificar lojas e paisagens famosas. Espera-se que a Apple libere o novo iOS a partir de setembro. Os iPhones 5, 5C e modelos anteriores não serão compatíveis com o novo sistema. Já o novo Android aparecerá no mercado somente em 2018. LANÇAMENTO INTELIGÊNCIA RECURSOS NOTIFICAÇÕES MUDANÇAS NO SISTEMA Saiba das novidades que chegarão como iOS 11 e comoAndroid 8 PORALINE BATISTA FIG. - EB P.2308.2017 313AMtechtudo.indd 23 17/07/2017 19:13:47 O CAMINHO ATÉ AQUI Nomês de aniversário da GALILEU, descubra como é feita uma página derevista — PORRENATA CARDOSO udo começa, claro, pelo papel, que é obtido da madeira limpa e lavada. Os pedaços da madei- ra são levados a um digestor, onde são cozidos em temperaturas em torno de 160°C. Nessa etapa, obtém-se uma pasta marrom que é espalhada em uma super- fície plana para depois passar por vários cilindros aquecidos, onde será prensada até atingir a espessura desejada. Existem vários tipos de papel, porém os mais utilizados na produção de revistas são o offset e o Lightweight Coated Paper (LWC). Muito usado para impressões em grande escala, o offset é um papel encorpa- do, tem textura fosca e resiste mais à ação da umidade. A revista que você lê agora, por exemplo, tem a capa e o primeiro caderno (páginas 3, 4, 5, 6, 71, 72, 73 e 74) impres- sos em offset e as outras páginas em LWU (isso mesmo, um outro tipo de papel). A saga da impressão da GALILEU co- meça com o recebimento dos arquivos em PDF da redação. Assim que eles chegam, são analisados pelo setor de pré-impressão, que ordena as páginas. Depois, é feita a gra- vação das chapas com feixes de laser. Cada chapa leva, em média, seis minutos para ser gravada. A máquina tem ainda um for- no acoplado, onde o papel passa para que a tinta seque mais rápido. Após a impres- são, todos os elementos são levados para a grampeadeira e, por fim, passam por uma esteira e por uma guilhotina automática que faz o corte no formato desta página que você está lendo agora. T Fontes: Adriano Tadeu Carnielli, gerente de operações da Editora Globo; Prof. Dr. Claudio Luis Crescente Frankenberg — professor de Engenharia Química da PUCRS; e Daniel Andriotti, da Celulose Riograndense. Foto: Tomás Arthuzzi LIGNINA Macromolécula que também in- terfere na colo- ração — quanto mais escuro o papel, maior a quantidade de lignina na sua composição. CLORO DIÓXIDODE CLORO OXIGÊNIO OZÔNIO HIPOCLORITO DE SÓDIO Cl2 ClO2 NaClO (C31H34O11)n CELULOSE Polímero que também é encontrado no algodão e, conse- quentemente, usado com frequência na indústria têxtil. (C6H10O5)nC 6 H 1 O 8 Cl 8 Cl 1 O 8 O 8 Cl 6 Na 1 O 8 03 C 6 H 1 O 8 02 24 Há dois tipos de papel na GALILEU: o offset e o LWU ELEMENTAR PÁGINADEREVISTA 313Elementar.indd 24 17/07/2017 13:24:53 DOSSIÊ CULTURAMAKER DESIGN FERNANDA DIDINI REPORTAGEM THIAGO TANJI FOTOS TOMÁS ARTHUZZI Desenvolver empresas inovadoras, promover mudanças no ensino, gerar transformação social: a culturamaker ganha força no Brasil para impulsionar uma nova revolução tecnológica equipados com motores, fios, engrenagens e uma varie- dade de engenhocas, inventores de todas as idades ocuparam a Casa Branca em 2014 para a rea- lização de uma feira que reúne pessoas interessadas em criar e compartilhar projetos tecnoló- gicos. Entusiasta da utilização de impressoras 3D, cortadoras a laser e softwares de código li- vre para modelagem de peças, o então presidente norte-ame- ricano Barack Obama afirmou que apoiar o movimento maker era essencial para fomentar uma nova revolução industrial. Assim como o ex-líder dos Es- tados Unidos, milhares de pes- soas ao redor do mundo apos- tam em uma nova maneira de conceber suas ideias. Saem de cena as grandes linhas de pro- dução industriais e são introdu- zidas máquinas baratas, capazes de fabricar diferentes itens e que são operadas de maneira simples. “O movimento maker começou nos hacker spaces, que juntam a ideia do ‘faça você mesmo’ com o conceito do código aberto”, afir- ma Rafael Câmera, um dos sócios do PandoraLab, que fornece tu- toriais em português e comer- cializa kits para a fabricação de produtos. Para colocar a mão na massa, são desenvolvidos proje- tos em cooperação, e as desco- bertas são registradas para que outras pessoas possam ter acesso e aprimorar os produtos. “Há um pouco da cultura punk, de não ter muitas regras: a pes- soa se habilita e se torna mais in- dependente”, diz Mauricio Jabur, especialista em computação físi- ca. Com o furor do espírito punk, makers brasileiros apresentam projetos em diferentes áreas do conhecimento e mostram que vieram para revolucionar. M Ã O S À O B R A ! 25 313DOSSIEculturamaker.indd 25 17/07/2017 20:24:43 A INVASÃO HACKER CHEGOU À FÁBRICA gilidade, cooperação, democratiza- ção — palavras incorporadas ao vo- cabulário dos makers e que ajudam a entender as possibilidades dessa nova ma- neira de desenvolver produtos: graças ao au- mento da circulação de informações por con- ta da revolução digital e ao barateamento de maquinário (veja alguns desses equipamentos no quadro da página ao lado), tirar as ideias do papel nunca foi tão acessível. Se ao longo dos séculos 19 e 20 a fabricação de mercadorias dependia de uma rígida cadeia produtiva e de segredos industriais para proteger a proprie- dade intelectual, os makers propõem a criação de projetos em espaços abertos e com intera- ção constante entre os inventores. Com tantas possibilidades para a inova- ção, os conceitos do movimento maker ga- nharam os corredores de grupos econômi- cos tradicionais. “As empresas precisam desenvolver produtos com maior agilida- de, mas essas mercadorias ficam cada vez menos tempo no mercado”, afirma Ricardo Cavallini, fundador da plataforma Makers, que realiza projetos para educação e inovação. “Há a necessidade de uma A Conceitos do movimentomaker são utilizados por grandes empresas na hora de desenvolver novos negócios O renascimento do Cinturão Enferrujado Criação de empresas ligadas à inovação resgata regiões dos Estados Unidos em que ocorreram fechamentos de fábricas Com a adoção das políticas neoliberais do presidente Ronald Reagan, na década de 1980, milhares de postos de trabalho da indústria norte-americanamigraram para países onde amão de obra eramais barata, deixando parques industriais abandonados e um exército de desempregados. Apelidada de “Cinturão Enferrujado”, a zona das antigas cidades fabris dos Estados Unidos ganhou umnovo fôlego graças ao surgimento de negócios ligados à culturamaker: na cidade de Pittsburgh, localizada na região nordeste do país, espaços abertos para desenvolvimento de projetos tecnológicos e pesquisas de engenharia robótica realizadas nas universidades locais fizeram dinamizar o setor econômico e expandir as oportunidades de empregos.Fontes: Asbai e WAO 40 58.074 éonúmero de FabLabs emoperação no Brasil projetos divulgados no Kickstarter em2016 US$ 4 BILHÕES 135MILHÕES DE PESSOAS Até2025,negócioscom as impressoras 3Dalcançarão 57%da população dos Estados Unidos se consideramaker: MAKERS mudança de cultura, para que a empresa fique mais apta a fazer inovação de manei- ra aberta e compartilhada.” Para demonstrar que o desenvolvimento de produtos pode ser feito com maior colabora- ção, aWeFab desenvolve projetos para introdu- zir a culturamaker nas empresas. “Realizamos workshops para trazer o espírito de colabora- ção e mostrar como diferentes áreas de gran- des empresas podem participar desse pro- cesso”, diz Heloisa Neves, uma das sócias da iniciativa —Natura e L’Oréal são algumas das companhias que solicitaram consultorias. Até grandes montadoras automotivas re- correram às tecnologias abertas para pro- mover mudanças na linha de montagem: a francesa Renault utiliza impressoras 3D para desenvolver protótipos de peças, em um pro- cesso que diminui o tempo de fabricação e re- duz os custos finais na área de pesquisa e de- senvolvimento. “O universo maker é poderoso quando se apoia na indústria”, diz Neves. 26 313DOSSIEculturamaker.indd 26 17/07/2017 20:24:46 FERRAMENTAS PARA A INOVAÇÃO Itens básicos do movimentomaker IMPRESSORA 3D Fabrica produtos tridi- mensionais, desenvolvi- dos em softwares de cria- ção. É capaz de imprimir em diferentes materiais, como plástico e metal. Equipamentos básicos custam cerca de R$ 2mil. MICROCOMPUTADOR As placas Rapsberry Pi e Arduino permitem reali- zar projetos de robótica e automação de maneira acessível aousuário. O Arduino custa pouco mais de R$ 100. CORTADORAA LASER Amáquina corta com precisão diferentes mate- riais, como papel, tecido e madeira. Opera a partir das informações forneci- das por um software. FRESADORA CNC Realiza o corte demate- riais. Fresadorasmaiores são capazes de produzir di- ferentes tipos de produtos, comomóveis demadeira. CAIXADEFERRAMENTAS Nem só de tecnologia vivemosmakers: é neces- sário utilizar ferramentas como alicate, serra,marte- lo e chave de fenda. QUEM DISSE QUEAS IMPRESSORAS 3D servem apenas para imprimir copos e chaveiros de plástico? Inspirados pelas inovações nomercado de produtos personalizados, os fundadores da BioArchitects utilizaram os conceitos do movimentomaker na indústriamédica. “O benefício da impressora 3D é a customização emmassa: hoje, conseguimos desenvolver próteses a um customuito baixo”, destaca Felipe Marques, um dos sócios da empresa, criada em 2013. Ao fabricar próteses de titânio de ossos do crânio, os empreendedores esbarraram em problemas burocráticos: como o Brasil ainda não reconhece produtosmédicos customizados, eles tiveram de abrir uma filial nos Estados Unidos. “Antes era necessário uma fábrica, uma equipe, um galpão industrial, mas com a tecnologia 3D você não precisa disso: pode produzir em um escritório ou até em casa”, dizMarques. Além das próteses, a BioArchitects produz biomodelos para quemédicos realizem treinamentos para cirurgias. “Pego a imagem de uma tomografia do coração, por exemplo, faço a reconstrução 3D e imprimo com todas as características”, revela o empreendedor. A consistência domaterial é semelhante à do órgão humano e omédico pode utilizar instrumentos cirúrgicos reais durante o treino. BRASILEIROS DESENVOLVEMPRÓTESES PERSONALIZADAS EMODELOS DE ÓRGÃOS ÓRGÃOPARA IMPRIMIR Treinamentos de cirurgias já são realizados com modelos produzidos em impressoras 3D 27 313DOSSIEculturamaker.indd 27 17/07/2017 20:24:48 Especialistas apostam em ferramentas tecnológicas para revolucionar o ensino a crianças e jovens EDUCAÇÃO NA PRÁTICA De acordo com dados da Fundação Lemann, mesmo estudantes de es- colas de elite do Brasil apresentam um desempenho emMatemática inferior ao de alunos dos 35 países que compõem a Organi- zação para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Para especialistas em educação, a dificuldade dos brasileiros em en- tender conceitos apresentados em sala de aula D DO PROTÓTIPO AO DIPLOMA Laboratóriomaker é instalado em faculdade CRIADO EM 2001 NO MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), o FabLab foi idealizado para ser um laboratório aberto para a comunidade e equipado com diferentes máquinas maker. Desde então, diver- sos FabLabs foram mon- tados ao redor do mundo: no Brasil, há 40 laborató- rios espalhados pelo país. Em 2014, o Insper abriu um FabLab para seu curso de Engenharia. “Os estudantes trabalham comprojetos e a didática é associada à cria- çãodeprojetos para contex- tualizar a parte teórica das aulas”, conta Rodrigo Arru- da, professor da instituição. PROVADO BIMESTRE: CONSTRUIR UM SABRE DE LUZ. Fundada em2015, a Escola de Inventor iniciou suas atividades oferecendo cursos de robótica para crianças, que aprendiamo desenvolvimento de programação e a fabricação elétrica emecânica dos robôs. Com o sucesso das oficinas, os sócios da instituição, localizada em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, planejam criar uma escola regular para estudantes do Ensino Fundamental. “Estamos montando uma equipe multidisciplinar, com engenheiros, arquitetos e psicológos, para desenvolver conteúdos que serão utilizados por pedagogos INSTITUIÇÃOQUE OFERECE CURSOS DE ROBÓTICAPARACRIANÇAS PRETENDETORNAR-SE UMAESCOLAFORMALCOMTÉCNICASMAKER ESCOLAMÃONAMASSA seria resolvida com o estudo prático. “A forma- ção de professores ainda vive em um sistema de reprodução que não tem permitido avanços em práticas inovadoras”, afirma LucianoMeira, professor da Universidade Federal de Pernam- buco (UFPE) e sócio-fundador da Joy Street, empresa que desenvolve games educacionais no formato de e-sports para ensinar conteúdos abordados na prova do Enem. “Ao colocar qua- 1.161 emtodos os continentes domundo FabLabs 28 313DOSSIEculturamaker.indd 28 17/07/2017 20:24:54 BATALHA DOS ROBÔS Mais de 124mil estudantes de escolas públicas e privadas participam da edição 2017 da Olimpíada Brasileira de Robótica CONSTRUIR UM ROBÔ PARA O RESGATE DE vítimas que não pode ser operado por contro- le remoto e deve ter capacidade de reconhecer obstáculos e percorrer um circuito. Esse é um dos desafios da Olimpíada Brasileira de Robóti- ca, que neste ano acontecerá em novembro na cidade de Curitiba, no Paraná. Nesta edição, 124.361 estudantes dos ensinos Fundamental e Médio se inscreveram na competição, que é di- vidida entre as modalidades teórica e prática. “As escolas e os professores perceberam como o ensino da robótica ajuda amelhorar aspectos pes- soais e de aprendizado”, afirma Rafael Aroca, pro- fessor da Universidade Federal de São Carlos (UFS- Car) e coordenador da Olimpíada. “Os professores ensinamMatemática, Física, Inglês, Geografia, e isso se torna um elementomotivador para aprender um assunto e resolver o problema do robô.” As equipes de estudantes podem utilizar qualquermaterial, de blocos de Lego a materiais recicláveis, e são pre- miadas pela dedicação e criatividade no projeto. ESPÍRITO OLÍMPICO Equilíbrio da presença de mulheres e homens é destaque na competição dos estudantes como métodos ativos de aprendizagem e ensino de ciência aplicada”, afirma João Guilherme Camargo, coordenador da escola. A experiência com os cursos que já são ministrados anima os fundadores: ao ensinar a construir um sabre de luz, por exemplo, os professores transmitem conceitos dos circuitos elétricos emparalelo. “As crianças têm uma relação mais profunda com a aprendizagem ao construir conhecimento por meio de um objeto”, diz Camargo. “Há o fortalecimento do trabalho de equipe e a tolerância ao fracasso: mesmo que um projeto dê errado, isso pode ser o estopim para que se possa melhorar em uma nova etapa.” tro crianças em uma bancada resolvendo pro- blemas interessantes, você está construindo uma premissa de inovação”, diz Meira. “Uma série de estudos demonstra que professores em locais improváveis e com recursos ape- nas suficientes são capazes de formar equipes de robóti- ca e dar vez à inventividade dos estudantes.” Gênero Escola Equipes por região MULHERES PÚBLICA PARTICULAR HOMENS 46% 54% 58% 42% NORTE 212 NORDESTE 1.401 CENTRO-OESTE 299 SUL 418 SUDESTE 1.031 29 313DOSSIEculturamaker.indd 29 17/07/2017 20:25:06 PROJETOSÀVENDA Ideias que fizeram sucesso em sites de financiamento BLAZE Uma empresa britânica desenvolveu um dispositi- vo de LED que possibilita aos automóveis observar a presença de ciclistas. O projeto arrecadou 55mil libras — o equivalente a mais de R$ 230mil. PEBBLE 2 Projeto mais bem-suce- dido no site Kickstarter em 2016, o smartwatch Pebble 2, que realiza o monitoramento de ativi- dades físicas, arrecadou quase US$ 13 milhões. FIDGET CUBE Um brinquedo para adul- tos estressados: em cada face do cubo há um “dis- positivo de relaxamento”, como rolar uma engre- nagem de metal, clicar em botões ou apertar um interruptor. Aparente- mente inútil? Diga isso para os US$ 6,4 milhões que a empresa recebeu dos financiadores. ONAGOFLY O drone, que arrecadou mais de US$ 3,5 milhões no site Indiegogo, pesa 140 gramas e produz fotos e vídeos em alta definição. Com conexão wi-fi, o aparelho possi- bilita a sincronização de fotos com o smartphone e possui navegação GPS para localização. Ao conhecer um FabLab em uma viagem ao Peru, em 2011, o professor Alex Garcia se in- teressou pelas possibilidades do movimento maker na educação. Servidor da Prefeitura de Guaru- lhos, município da Grande São Paulo, ele desenvolveu oficinas para estudantes de escolas públicas utilizando impressoras 3D e cortadoras — em um dos projetos, ensinava conceitosde geometria ao utilizar canudinhos de plástico conectados a papel recortado. Com o sucesso da iniciativa, a prefeitura convidou Garcia para administrar um curso para os servidores do munícipio: nas atividades, os funcionários deveriam identificar problemas e propor soluções para a cidade envolvendo a ideia de inovação aberta. Em grupo, fa- bricaram protótipos com as ferramentas disponíveis, como os softwares de criação para impressão 3D. De acordo com Arthur Sinnhofer, diretor do Departa- mento de Modernização Administrativa de Guarulhos, o projeto de um balcão de atendimento acessível para servi- dores cadeirantes já será colocado em prática pela prefei- tura. A iniciativa foi proposta por um grupo de funcioná- rios que trabalham em diferentes secretarias da cidade. A Prefeitura de Guarulhos, em São Paulo, oferece cursos a servidores em laboratóriomaker NOVIDADES PARA A GESTÃO As impressoras 3D evoluíram e fabricam produtos com maior qualidade 30 313DOSSIEculturamaker.indd 30 17/07/2017 20:25:09 Acriatividade transforma PROFESSORADE ESCOLAMUNICIPAL ENCORAJAESTUDANTES AREALIZAREMPROJETOS COMSUAS FAMÍLIAS FABRICAR UM HAND SPINNER utilizando tampinhas de garrafas PET foi uma das tarefas realizadas por estudantes da Escola Municipal Ary Parreiras Alm, localizada na zona sul de São Paulo. A cultura de inovação despontou graças ao trabalho da professora Débora Garofalo, queministra aulas de infor- mática: em 2015, ela liderou um projeto que desafiava os alunos a utilizarem sucata para a fabricação de brinquedos. Colocar a mão na massa e coletar materiais encontrados nos arredores da escola logo superou a resistência inicial ao projeto: ao longo dosmeses, estudantes do primeiro ao nono ano cons- truíram carrinhos com rolos de papel higiênico que semovimentavam como esvaziar de umbalão, além de barquinhosmovidos a pilha. De acordo coma professora, alunos que apresentavamnotas ruins emau comportamento descobriram suas potencialidades e se engajaram nos projetos. Além disso, familiares também participaram da iniciativa, coletando as matérias-primas juntamente com as crianças e os jovens, doando ferramentas e dando ideias para a fabricação dos brinquedos. CULTURAMAKER SEMBARREIRAS Instalado na cidade de Santarém (PA), laboratório é aberto para jovens que moram em comunidades da região A INOVAÇÃO É CAPAZ DE SUPERAR OS limites geográficos. Localizada à margem do Rio Tapajós, naAmazônia, a cidade paraense de Santa- rém foi escolhida pela ONG Saúde e Alegria para a instalação do LabMocorongo, um espaço com ferra- mentasmaker destinado aos jovens que vivem na região. A iniciativa também atende as 70 comuni- dades que formam a Reserva Extrativista Tapajós Arapiuns — para chegar a algumas dessas locali- dades são necessárias horas de viagens de barco. “O espaço tornou-se um local para a inovação cidadã: temos uma equipe voltada à área de em- preendedorismo que avalia como um aplicativo ou um negócio poderá resolver os problemas da região”, ressalta Caroline Pilletti, coordenadora do projeto. O LabMocorongo também promove ofici- nas para estimular a culturamaker entre aqueles que ainda não conhecem omovimento — em um dos desafios, jovens precisam fabricar um barco movido a bateria para atravessar uma piscina. Para superar os obstáculos de logística, os coor- denadores da Saúde eAlegria planejammontar um laboratóriomaker no centro da reserva. “Com isso, os jovens pensariam em soluções interessantes para as comunidades com baixo custo”, diz Pilletti. PENSAR, CRIAR, APOIAR, MUDAR quipamentos para a fa- bricação de produtos fi- carammais baratos nos últimos anos, mas isso não sig- nifica que eles tenham se torna- do acessíveis para a maior par- te da população. “Os ambientes dedicados à apropriação de tec- nologias ainda seguem ocupados pelo estereótipo dos engenheiros brancos, homens, sendo um ni- cho que achamos pouco diverso”, afirma Gabriela Agustini, uma das criadoras do Olabi. Fundada em 2014 na cidade do Rio de Ja- neiro, a organização realiza proje- tos de empoderamento e impacto social utilizando as ferramentas do movimento maker. Entre outras iniciativas, o Ola- bi realizou uma rodada de pro- gramação destinada a mulheres E Espaçomaker no Rio de Janeiro realiza projetos de transformação social negras, promoveu cursos para crianças sobre investigação de genoma de frutas na comunidade do Cantagalo e ofereceu cursos de eletrônica e robótica para jovens do Complexo da Maré. “Fomos inseridos no mundo tecnológi- co a partir do consumo e pensa- mos pouco em possibilidades de criação”, diz Agustini. “E se não ampliarmos uma diversidade de pontos de vista, teremos sempre ferramentas mediadas por uma única visão do mundo.” Mas, apesar de utilizar re- cursos tecnológicos na realiza- ção de projetos, a organização acredita que é necessário esti- mular técnicas e repertórios já usados pelas pessoas. “Aquilo que é mais novo não necessaria- mente será a melhor ferramen- ta para resolver um problema”, destaca a criadora do Olabi. Em uma oficina para modelagem de roupas, por exemplo, os coor- denadores do curso mostravam como os padrões do bordado e do crochê eram semelhantes à modelagem em três dimensões. E, a partir das técnicas do cro- chê, apresentavam os compo- nentes da fabricação digital. “A tecnologia por si só não resolve os problemas: pelo con- trário, ela pode produzir conse- quências totalmente antagôni- cas”, diz Agustini. “Por isso, o nosso foco é melhorar a quali- dade de vida estabelecendo ini- ciativas para promover sistemas mais justos e diversos.” 31 313DOSSIEculturamaker.indd 31 17/07/2017 20:25:11 cidade de São Paulo conta com uma rede de FabLabs públicos em operação desde o final de 2015, instalados por iniciativa da admi- nistração municipal. Desde a inaugura- ção da primeira unidade do projeto, no bairro de Cidade Tiradentes, outros 11 espaços já estão disponíveis em diferen- tes partes da metrópole, como em um Centro Educacional Unificado (CEU) lo- calizado em Heliópolis, a maior comuni- dade da capital paulista. Chamada de FabLab Livre, a rede paulistana de unidades públicas oferece cursos para que a comunidade aprenda a operar os equipamentos do laborató- rio e entenda as técnicas para o desen- A volvimento de novos produtos e ideias.Além disso, é possível inscrever proje- tos e fabricar protótipos com o auxílio de especialistas — que ajudam na ope- ração do maquinário, como cortadoras a laser e impressoras 3D. Os demais FabLabs localizados em di- ferentes estados brasileiros também es- tão abertos ao público — para pertencer à rede criada no MIT, uma das premissas desses espaços é oferecer oportunidades para que a comunidade possa participar e conhecer o movimento maker. No site fablabs.io é possível encontrar informações sobre o funcionamento das unidades para que você possa, finalmente, tirar as ideias da gaveta e colocar a mão na massa. HISTÓRIA Lançado em 2005 na Itália, o Arduino tem o objetivo de fornecer uma plataforma de prototi- pagem e ensino a baixo custo, democratizando o acesso à tecnologia. PC EMMINIATURA Para operar como um microcomputador, a placa utiliza um contro- lador desenvolvido pela empresa Atmel. VERSATILIDADE Alémde se conectar a sen- sores e outrosmódulos, há uma saídaUSB para realizar a programação e omonitoramento da placa emum computador. LIBERDADE Aplataforma de progra- mação doArduino utiliza código livre, em que não existem restrições de pro- priedade e há comparti- lhamento de informações. AJUDINHA Para quem não tem ex- periência com progra- mação, sites como o PandoraLab disponibili- zam tutoriais e um passo a passo para configurar e utilizar o Arduino. MIL E UMA IDEIAS Entre as iniciativas como Arduino que fizeram suces- so estão um robô equipado com sensores que desvia de obstáculos e um sistema de irrigação automático. Manual do Arduino CONHEÇAAPLACAQUE UTILIZA CÓDIGO LIVRE PARAFUNCIONAR E OFERECE DIFERENTES
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