Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Introdução à Gestão Socioambiental Créditos Centro Universitário Senac São Paulo – Educação Superior a Distância Diretor Regional Luiz Francisco de Assis Salgado Superintendente Universitário e de Desenvolvimento Luiz Carlos Dourado Reitor Sidney Zaganin Latorre Diretor de Graduação Eduardo Mazzaferro Ehlers Diretor de Pós-Graduação e Extensão Daniel Garcia Correa Gerentes de Desenvolvimento Claudio Luiz de Souza Silva Luciana Bon Duarte Roland Anton Zottele Sandra Regina Mattos Abreu de Freitas Coordenadora de Desenvolvimento Tecnologias Aplicadas à Educação Regina Helena Ribeiro Coordenador de Operação Educação a Distância Alcir Vilela Junior Professores Autores Edson Luiz Pizzigatti Corrêa Simone Sartori Revisor Técnico Renato Arnaldo Tagnin Técnica de Desenvolvimento Elizabeth Ribeiro Coordenadoras Pedagógicas Ariádiny Carolina Brasileiro Silva Izabella Saadi Cerutti Leal Reis Nivia Pereira Maseri de Moraes Otacília da Paz Pereira Equipe de Design Educacional Alexsandra Cristiane Santos da Silva Ana Claudia Neif Sanches Yasuraoka Angélica Lúcia Kanô Anny Frida Silva Paula Cristina Yurie Takahashi Diogo Maxwell Santos Felizardo Flaviana Neri Francisco Shoiti Tanaka Gizele Laranjeira de Oliveira Sepulvida Hágara Rosa da Cunha Araújo Janandrea Nelci do Espirito Santo Jackeline Duarte Kodaira João Francisco Correia de Souza Juliana Quitério Lopez Salvaia Jussara Cristina Cubbo Kamila Harumi Sakurai Simões Katya Martinez Almeida Lilian Brito Santos Luciana Marcheze Miguel Mariana Valeria Gulin Melcon Mônica Maria Penalber de Menezes Mônica Rodrigues dos Santos Nathália Barros de Souza Santos Rivia Lima Garcia Sueli Brianezi Carvalho Thiago Martins Navarro Wallace Roberto Bernardo Equipe de Qualidade Ana Paula Pigossi Papalia Josivaldo Petronilo da Silva Katia Aparecida Nascimento Passos Coordenador Multimídia e Audiovisual Ricardo Regis Untem Equipe de Design Audiovisual Adriana Mitsue Matsuda Caio Souza Santos Camila Lazaresko Madrid Carlos Eduardo Toshiaki Kokubo Christian Ratajczyk Puig Danilo Dos Santos Netto Hugo Naoto Takizawa Ferreira Inácio de Assis Bento Nehme Karina de Morais Vaz Bonna Marcela Burgarelli Corrente Marcio Rodrigo dos Reis Renan Ferreira Alves Renata Mendes Ribeiro Thalita de Cassia Mendasoli Gavetti Thamires Lopes de Castro Vandré Luiz dos Santos Victor Giriotas Marçon William Mordoch Equipe de Design Multimídia Alexandre Lemes da Silva Cristiane Marinho de Souza Emília Correa Abreu Fernando Eduardo Castro da Silva Mayra Aoki Aniya Michel Iuiti Navarro Moreno Renan Carlos Nunes De Souza Rodrigo Benites Gonçalves da Silva Wagner Ferri Introdução à Gestão Socioambiental Aula 01 Processos Interativos Homem-Ambiente Objetivos Específicos • Situação global – compreender os principais desafios socioambientais planetários Temas Introdução 1 A interação homem e ambiente 2 Busca de respostas e alternativas para os problemas ambientais Considerações finais Referências Edson Luiz Pizzigatti Corrêa Professor Autor Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Introdução à Gestão Socioambiental 3 Introdução Gerir os recursos socioambientais é um desafio cada vez mais importante nos preceitos do desenvolvimento sustentável. Por esse motivo, é fundamental a compreensão do tema no contexto atual. O objetivo desta aula é trazer um panorama do meio ambiente, falar das mudanças climáticas, como matéria central, e conceituar os aspectos ecológicos e ambientais. Além disso, a interação homem e ambiente, considerando o aumento populacional promovido com o advento da Revolução Industrial e os desafios para o século XXI, serão outros assuntos também abordados aqui. Boa leitura! 1 A interação homem e ambiente A humanidade é parte do complexo conhecido como biosfera – parte do planeta onde há vida. Na biosfera, há uma biodiversidade que possui interações ecológicas1: as diferentes espécies presentes se organizam em ecossistemas, nos quais se relacionam e criam dinâmicas de equilíbrio, que limitam ou promovem o crescimento das diversas populações dentro de uma comunidade2. Essa dinâmica é regida pela disponibilidade de recursos naturais (insumos minerais, vegetais e animais). Os impactos sobre o meio ambiente pela ação antrópica, ou seja, promovido pelo homem, são ampliados com as mudanças tecnológicas e com o aumento da população. Com o advento da Revolução Industrial no final do século XVII gerando mudanças tecnológicas e sociais, e com a invenção da máquina a vapor, a produtividade da mão de obra e o consumo dos recursos ambientais foram ampliados, estimulando o crescimento da população. Este contexto, notadamente a partir do final do século XVII e início do século XVIII, impôs desafios para a manutenção das condições ecológicas nas quais evoluímos como espécie. Em 1798, Thomas Malthus, um economista britânico, escreveu um ensaio criticando o modelo civilizatório. A crítica era alicerçada na ideia de que a produção de alimentos crescia linearmente (progressão aritmética), enquanto a população crescia exponencialmente (escala geométrica), resultando na incapacidade de suprir as necessidades de alimento no futuro, forçando à diminuição da população por escassez. As críticas ao modelo de Malthus consideram que o crescimento na produção de alimentos é influenciado pelo desenvolvimento 1 Essas relações podem ser entre a mesma espécie (intraespecíficas) ou diferentes espécies (interespecíficas). Em ambos os tipos pode haver benefícios (para apenas um ou para os dois organismos que participam) ou prejuízos para um dos participantes. Essas relações evoluíram como estratégias de sobrevivência, criando uma interdependência entre indivíduos de uma mesma espécie, por exemplo, das formigas e abelhas que cooperam entre si para sobreviver em colônias ou, ainda, espécies parasitas que dependem de um hospedeiro para se desenvolver e reproduzir. 2 Em ecologia, comunidade corresponde ao conjunto de indivíduos de diferentes espécies que compõe um ecossistema, interagindo entre si. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Introdução à Gestão Socioambiental 4 da tecnologia, criando saltos de produtividade que rompem com a linearidade do crescimento da produção de alimentos. A má distribuição da renda, gerando uma parcela desfavorecida que não acessa recursos como a alimentação, também é apontada como crítica a essa teoria (MORAN, 2011, p. 56-62). Tabela 1 – Crescimento da população humana até sua estabilização Ano População em bilhões 1804 1 1927 2 1959 3 1974 4 1987 5 1999 6 2011 7 Fonte: ONU (2011). Após a Revolução Industrial, a população humana se eleva a patamares nunca vistos antes, chegando ao número de 1 bilhão de habitantes já no início do século XVIII. Já a partir da segunda metade do século XX, há um aceleramento no crescimento populacional em níveis nunca experimentados pela civilização humana (gráfico 1). Tal crescimento, aliado às mudanças tecnológicas que ampliaram a demanda por energia e a globalização da economia, aumentaram a queima de combustível fóssil. Esses fatores pressionam a disponibilidade de recursos, assim como geram mudanças ambientais, como será descrito adiante. Em 1972, foi publicado o relatório “Os limites do crescimento”, também conhecido como “Relatório Meadows”3, um documento que tratava de problemas que surgiam como gargalos para o desenvolvimento da humanidade. Entre eles, destacava-se a disponibilidade de recursos, como energia, poluição, saneamento, saúde, ambiente, tecnologia e crescimento populacional. O relatório sustentava a ideia de que, se nada fosse feito para deter o rápido crescimento industrial, a escassez de alimentos, o esgotamento dos recursos não renováveis (a exemplo do petróleo) e a deterioração do meio ambiente, o limite para o crescimento da população humana seria alcançado em algum momento nos próximos 100 anos. No mesmo ano, na cidade de Estocolmo, foi realizadaa Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente Humano. No evento, foram considerados aspectos como a qualidade do ambiente humano, destacando o aumento da poluição no planeta e a degradação da natureza como um todo. 3 Dennis L. Meadows chefiou a equipe de pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology, responsáveis pela publicação. Esse grupo participava do chamado Clube de Roma, fundado em 1968, e composto por pessoas ilustres de vários países. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Introdução à Gestão Socioambiental 5 Gráfico 1 – Estimativa e projeção da população por área geográfica, com variante média, 1950-2100 (em bilhões) 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 1,0 0,5 1,5 0 2,0 3,0 2,5 4,5 4,0 3,5 5,0 5,5 A B DC E F Ásia ÁfricaA B América Latina e o Caribe C EuropaD América do NorteE OceaniaF Fonte: ONU (2011). Segundo a Organização das Nações Unidas, a população humana deverá continuar crescendo, chegando a 10 bilhões de pessoas até o final deste século. O rápido crescimento da população mundial é fenômeno recente. Há cerca de 2.000 anos, a população mundial era de cerca de 300 milhões. Foram necessários mais de 1.600 anos para que ela duplicasse para 600 milhões. O rápido crescimento da população mundial teve início em 1950, com reduções de mortalidade nas regiões menos desenvolvidas, o que resultou numa população estimada em 6,1 bilhões no ano de 2000, quase duas vezes e meia a população de 1950. Com o declínio da fecundidade na maior parte do mundo, a taxa de crescimento global da população tem decrescido desde seu pico de 2,0%, observado no quinquênio 1965-1970. (ONU, 2011, p. 2). O consumo dos recursos naturais, a emissão de poluentes e o desflorestamento iniciados no modelo de civilização industrial começaram a se mostrar degradantes ao ambiente. A destruição dos ambientes naturais pela caça, pesca, extração de vegetais e minerais para o abastecimento das indústrias com matérias-primas e energia passaram a afetar as populações de espécies animais e vegetais, desequilibrando as relações ecológicas, além de alterar as condições ambientais. Muitas espécies estão ameaçadas, ou foram levadas à extinção completa devido à sua exploração e/ou à destruição dos seus habitats. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Introdução à Gestão Socioambiental 6 Gráfico 2 – Número de espécies da fauna brasileira extintas e ameaçadas de extinção, segundo as categorias de risco Vulnerável Em perigo Criticamente em perigo Extinta Extinta na natureza 0 50 100 150 200 250 300 350 Fonte: Brasil (2005). Atualmente, a exploração exacerbada dos recursos e a poluição dos compartimentos ambientais (solo, água e ar) evidenciam a limitação dos recursos e as ameaças das mudanças ambientais promovidas pela ação humana. O aumento da temperatura média global, a alteração no regime de chuvas, a desertificação, o derretimento das calotas polares, a acidificação dos mares e a inundação das regiões costeiras são exemplos de desafios previstos para o futuro próximo. Essas alterações no ambiente, segundo estudos do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas − IPCC4, são causas diretas do aquecimento global. Nesse contexto, é inquietante a perspectiva de que “[…] a humanidade, totalmente despreparada por suas tradições humanistas, enfrenta seu maior teste. A aceleração da mudança climática agora em andamento abolirá o meio ambiente familiar e acolhedor ao qual nos adaptamos” (LOVELOCK, 2006, p. 20). Lovelock ainda completa a afirmação considerando que: É quase como se tivéssemos acendido uma lareira para nos aquecermos e não percebêssemos, ao empilharmos o combustível, que o fogo se descontrolou e a mobília se incendiou. Quando isso acontece, sobra pouco tempo para apagar o fogo antes que ele consuma a própria casa. O aquecimento global, como um incêndio, está se acelerando, e quase não resta mais tempo para reação. (LOVELOCK, 2006, p. 20). 2 Busca de respostas e alternativas para os problemas ambientais Lovelock (2006) sustenta a hipótese de que a terra se comporta como um ser vivo, mantendo estáveis as condições climáticas e biogeoquímicas (homeostase), defendendo que as alterações ambientais geradas pelas ações antrópicas provocam respostas (feedbacks) na forma de alterações que podem levar à extinção da espécie humana. 4 A sigla deriva da denominação em inglês: Intergovernmental Panel on Climate Change. É uma organização científico-política, vinculada à ONU e criada em 1988, por iniciativa do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, com a finalidade de sintetizar e divulgar o conhecimento mais avançado sobre as mudanças climáticas, em especial, o aquecimento global, apontando suas causas e efeitos para o meio ambiente e a humanidade, assim como sinalizando ações e alternativas. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Introdução à Gestão Socioambiental 7 O conhecimento científico, o acompanhamento de eventos como desastres ambientais, assim como as demandas da sociedade, têm norteado a elaboração das ações e dos procedimentos relativos à regulamentação do uso dos recursos ambientais em todas as esferas. As demandas de ações e políticas têm se concentrado em diversos temas. O aquecimento global pauta as discussões em escala global, visando aos prognósticos para este século. A emissão de gases de efeito estufa (dióxido de carbono, metano e oxido nitroso são os principais) é fonte das preocupações em relação às mudanças climáticas. Segundo os dados compilados pelo IPCC: As concentrações atmosféricas globais de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso aumentaram bastante em consequência das atividades humanas, desde 1750, e agora ultrapassam em muito os valores pré-industriais, determinados com base em testemunhos de gelo de milhares de anos. Os aumentos globais da concentração de dióxido de carbono se devem principalmente ao uso de combustíveis fósseis e à mudança no uso da terra. Já os aumentos da concentração de metano e óxido nitroso são devidos principalmente à agricultura. (IPCC, 2007, p. 3). As emissões de gases de efeito estufa no Brasil são verificadas em várias atividades humanas. O desmatamento e a atividade agropecuária são as que mais contribuem, seguidos pela produção de energia e pelos processos industriais (gráfico 3). Gráfico 3 – Estimativas das emissões líquidas de origem antrópica de gás carbônico (CO2) por ano, por setor de emissão no Brasil – 1995/2005 1990 1994 2000 2006 0 200 000 400 000 600 000 800 000 1 200 000 1 000 000 1 400 000 1 600 000 1 800 000 Gg B C A EnergiaA Processos industriais B Mudanças no uso da terra e florestas C Nota: Gg = 1000 t - (1) Os dados de emissão de gás carbônico não são representáveis, correspondendo a 24 Gg, 63 Gg, 92 Gg e 110 Gg para 1990, 1994, 2000 e 2006, respectivamente. Tratamento de resíduos (1) D Fonte: Brasil, 2010. São diversas as consequências do incremento nas concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera, relatadas pelo IPCC. Dentre os principais fenômenos climáticos que devemos acompanhar no futuro próximo estão: Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Introdução à Gestão Socioambiental 8 Dias e noites frios em menor quantidade e mais quentes na maior parte das áreas terrestres; Dias e noites quentes mais frequentes e mais quentes na maior parte das áreas terrestres; Surtos de calor/ondas de calor (a frequência aumenta na maior parte das áreas terrestres); Eventos de precipitação extrema (a frequência ou a proporção do total de chuva das precipitações fortes aumenta na maior parte das áreas); A área afetada pelas secas aumenta; A atividade intensa dos ciclones tropicais aumenta e também, a incidência de nível extremamente alto do mar. As implicações econômicas, sociais e ambientais desses fenômenos são impactantes, afetando a produção de alimentos, o aumento da migraçãode populações de áreas de risco, a disseminação de vetores de doenças infecciosas, como a dengue, malária e febre amarela, a diminuição da disponibilidade hídrica etc. Segundo dados compilados pelo IPCC, as temperaturas médias anuais, assim como o nível dos oceanos têm aumentado de forma notória, a partir da segunda metade do século passado (gráfico 4), exigindo ações para sua mitigação. Gráfico 4 – Mudanças na temperatura, no nível do mar e na cobertura de neve do Hemisfério Norte (a) Temperatura média global 14,5 14,0 13,5 40 36 32 (b) Média global do nível do mar Tem peratura (ºC) D ife re nç a de 1 96 1 a 19 90 (m m ) 0,5 0,0 - 0,5 50 - 50 - 100 - 150 4 - 4 1850 1900 1950 Ano 2000 0 0 (º C) (m ilhões de km 2)(m ilh õe s de k m 2) (c) Cobertura de neve do Hemisfério Norte Fonte: IPCC (2007). Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Introdução à Gestão Socioambiental 9 No Brasil, questões como o desmatamento de florestas; a ameaça a biomas, como a mata atlântica e o cerrado; a perda de biodiversidade; a degradação dos solos pela agricultura; a escassez de água; a contaminação hídrica pelos lançamentos de efluentes provenientes de centros urbanos e industriais; e a poluição do ar em grandes centros urbanos são apontados como questões ambientais importantes. Atividades econômicas têm degradado o ambiente, a exemplo da eliminação de grandes áreas de florestas ou outro tipo de formação natural para a exploração agropecuária, do extrativismo desordenado, da ampliação de malha viária, da expansão urbana, dos incêndios, da formação de lagos de hidroelétricas e da mineração de superfície. Tanto espécies animais como vegetais, que dependem da existência das condições iniciais para sua existência, reduzem sua população e podem passar a ser ameaçadas, conforme a sua capacidade de se adaptar às mudanças ambientais (resiliência). Gráfico 5 – Desflorestamento bruto acumulado na Amazônia Legal – 1991-2011 19 91 0 100 000 200 000 300 000 400 000 600 000 500 000 700 000 800 000 Km2 Nota: Para os anos de 1992 a 1994, o incremento anual da área desflorestada foi calculado como a média simples do desflorestamento total do período. (1) As taxas apresentadas são valores estimados baseados na análise de 97 das 214 imagens Landsat que cobrem a Amazônia Legal. 19 93 19 92 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 20 00 19 99 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 07 20 06 20 08 20 09 20 10 20 11 (1 ) Fonte: INPE (2011). Apesar da diminuição da taxa de desflorestamento verificado após 2005, a perda de florestas e outros tipos de formações vegetais causou grande impacto ambiental. Segundo o IBGE: O desflorestamento, além de causar danos à biodiversidade (fragmentação de florestas, extinção de espécies etc.), aos solos e aos recursos hídricos, também contribui para o efeito estufa, especialmente quando associado a queimadas. A destruição de florestas e outras formas de vegetação nativa é responsável por mais de 75% das emissões líquidas de gás carbônico (CO2) para a atmosfera do Brasil, colocando o país entre os dez maiores emissores mundiais de gases de efeito estufa. (IBGE, 2012, p. 54). Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Introdução à Gestão Socioambiental 10 A disposição do esgoto e resíduos, a contaminação com produtos tóxicos provenientes de indústrias e da atividade agropecuária também representam um potencial de contaminação das águas, solo ou ar. Essa contaminação possui potencial de alteração do ambiente, promovendo o envenenamento de espécies animais (incluindo o homem), assim como a degradação de recursos naturais, como também da capacidade do ambiente em disponibilizar esses recursos (a exemplo da poluição das águas dos rios, diminuindo a possibilidade de se obter água potável, a partir deles). O Brasil é hoje o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. Os produtos químicos aplicados nas plantações possuem potencial de contaminação do ambiente (solo, água e ar), dos alimentos produzidos nessas áreas, contaminando os consumidores que se alimentam deles, além dos trabalhadores do campo (LONDRES, 2011). Apenas 2,5 % de toda água do planeta é doce e, desse total, 0,3% está disponível em rios e lagos na superfície (TUNDISI, 2003). Essa pequena proporção de água está sujeita ao clima e à qualidade ambiental. A manutenção da fauna e flora aquática através da proteção da cobertura vegetal do entorno, a conservação das nascentes, o monitoramento da qualidade da água e do lançamento de poluentes são exemplos de aspectos que devem ser considerados na elaboração de políticas públicas, de forma a buscar o uso sustentável da água. Os dados anteriores refletem sobre alguns indícios, colocando a necessidade de entendimento dos problemas ambientais, suas causas e consequências. Explicar o processo pelo qual comprometemos a qualidade ambiental exige um esforço científico que inclua diversos saberes. Nesse sentido, a integração dos conhecimentos das ciências da terra (como geologia, química e meteorologia) com as ciências humanas (sociais e economia) foi considerada na definição de prioridades para as pesquisas sobre o aquecimento global, como forma de inserir a dimensão humana nas ciências ambientais (MORAN, 2011). Entre 1987 e 1990, cerca de 500 cientistas de todo o mundo, integrantes do Programa Internacional de Geosfera e Biosfera (International Geosphere-Biosphere Programme – IGBP) estabeleceram uma agenda de urgência e prioridades para as pesquisas na área ambiental, refletindo essa necessidade. São elas: • Compreensão das mudanças de uso e cobertura da terra; • Compreensão os processos de tomada de decisão; • Criação de instrumentos políticos e instituições necessários para tratar dos problemas relacionados à energia; • Avaliação dos impactos, da vulnerabilidade e da adaptação às mudanças globais; • Compreensão das interações homem-ambiente. (MORAN, 2011, p. 43-44). Pesquisas interdisciplinares que se estabeleceram a partir dessas prioridades têm estudado as condições nas quais as crises ambientais se estabeleceram, indicando incompatibilidades econômicas e sociais com relações diretas ou indiretas. Essas evidências proporcionaram a inserção de diversos mecanismos de regulação política, econômica e social. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Introdução à Gestão Socioambiental 11 Para saber mais sobre o consumo e descarte de produtos, assista ao filme “A História das Coisas” (The Story of Stuff). O link encontra-se disponível na Midiateca desta aula. Considerações finais As questões ambientais se caracterizam pela complexidade, incluindo as dimensões sociais, ambientais e econômicas. Nesse sentido, a produção de conhecimento das ciências ambientais, através de estudos multi e interdisciplinares, tem contribuído na busca de respostas e alternativas para a tomada de decisão na solução de problemas ambientais. No contexto em que vivemos hoje, entender as relações entre ambiente e sociedade, considerando suas implicações econômicas, tende a se impor como objetivo na construção do desenvolvimento sustentável. Referências BRASIL. Ministério da Ciência e Tecnologia. Segunda comunicação nacional do Brasil à convenção-quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. Brasília, DF. Disponível em: <http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/326751.html>. Acesso em: 16 nov. 2015. ______. Ministério do Meio Ambiente. Instrução normativa nº 3, de 2003, nº 5 de 2004 e nº 8 de 2005. 2005. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo. monta&idEstrutura=179&idConteudo=8110&idMenu=8617>. Acesso em: 16 nov. 2015. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Indicadores de desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. Disponível em: <http://ibge.gov.br/documentos/recursos_naturais/ indicadores_desenvolvimento_sustentavel/2012/ids2012.pdf>. Acesso em: 22 ago. 2015. IPCC. Intergovernmental Panel onClimate Change. Mudança do Clima 2007: a base das ciências físicas. Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas. Paris, fev. 2007. Disponível em: <https://www.ipcc.ch/pdf/reports-nonUN-translations/portuguese/ar4-wg1-spm.pdf>. Acesso em: 22 ago. 2015. LONDRES, Flávia. Agrotóxicos no Brasil: um guia para ação em defesa da vida. Rios de Janeiro: Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa, 2011. Disponível em: <http://www4. planalto.gov.br/consea/biblioteca/documentos/agrotoxicos-no-brasil.-um-guia-para-acao-em- defesa-da-vida>. Acesso em: 22 ago. 2015. LOVELOCK, James. A vingança de Gaia. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2006. MORAN, Emílio F. Meio ambiente e ciências sociais: Interações homem-ambiente e sustentabilidade. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2011. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Introdução à Gestão Socioambiental 12 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Mudança do Clima 2007: a base das ciências físicas. Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas. Disponível em: <https://www.ipcc.ch/ pdf/reports-nonUN-translations/portuguese/ar4-wg1-spm.pdf>. Acesso em: 22/08/2015. ______. Relatório sobre a situação da população mundial 2011. Fundo de População das Nações Unidas. Disponível em: <http://www.un.cv/files/PT-SWOP11-WEB.pdf>. Acesso em: 22 ago. 2015. TUNDISI, J. G. Água no século XXI: enfrentando a escassez. São Carlos: RiMa, 2003. Introdução à Gestão Socioambiental Aula 02 Antropoceno Objetivos Específicos • Situação global – compreender os principais desafios socioambientais planetários. Temas Introdução 1 Mudanças climáticas e desafios da humanidade 2 As mudanças climáticas realmente vão ocorrer? Considerações finais Referências Professor Autor Edson Luiz Pizzigatti Corrêa Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Introdução à Gestão Socioambiental 2 Introdução A existência da humanidade pode estar sujeita ao entendimento de um novo paradigma: o enfrentamento das mudanças climáticas. O aquecimento global e as suas consequências desafiam a nossa capacidade em promover mudanças adaptativas. O aumento de fenômenos extremos, como secas prolongadas, tempestades e elevação do nível dos oceanos são alguns dos prognósticos indicados pelo Intergovernmental Panel on Climate Change – IPCC1 (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas). Nos últimos 10 mil anos, a temperatura média do planeta se elevou em cerca de 5°C. Para Paul Crutzen, Prêmio Nobel de Química em 1995, uma elevação equivalente na temperatura média global pode ocorrer em aproximadamente 200 anos, devido à atividade humana após a Revolução Industrial. Crutzen tornou conhecido esse período como Antropoceno, caracterizado como aquele onde houve a maior mudança ambiental planetária causada pela espécie humana. Nesse texto, serão considerados os desafios que a humanidade encontra na busca de deter o aumento da temperatura média global e mitigar as suas consequências, além de entender suas controvérsias e seus desdobramentos. 1 Mudanças climáticas e desafios da humanidade O Holoceno é a época do período Quaternário da era Cenozoica. Iniciou-se há cerca de 11,7 mil anos, no final da última glaciação, e marca um período de temperaturas amenas, o que favoreceu a espécie humana, possibilitando o crescimento da população e povoamento do planeta. Em certo momento, nos últimos 200 anos, a temperatura média planetária assumiu uma tendência de aumento que não cessou até o presente. Para vários cientistas (como Eugene F. Stoermer e Paul Crutzen), a associação com as ações antrópicas inseriu a humanidade como uma força geológica, capaz de alterar as condições planetárias. Para esses cientistas, as mudanças provocadas no clima, com o aumento das concentrações dos gases de efeito estufa na atmosfera, marcam a inserção do Antropoceno, uma nova época geológica, cujo nome deriva do grego anthropo – humano, e ceno – novo. 1 É uma organização científico-política, vinculada a ONU. Criada em 1988 por iniciativa do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, com a finalidade de sintetizar e divulgar o conhecimento mais avançado sobre as mudanças climáticas, em especial o aquecimento global, apontando suas causas e seus efeitos para o meio ambiente e a humanidade, assim como sinalizando ações e alternativas. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Introdução à Gestão Socioambiental 3 Figura 1 – Representação das épocas e períodos da era Cenozoica, com a possível inclusão da nova época chamada de Antropoceno Período Época Era Oligoceno Paleógeno Neógeno 33,9 milhões de anos Quaternário Mioceno Plioceno Pleistoceno Holoceno Antropoceno Cenozoica 23 milhões de anos 5,3 milhões de anos 2,58 milhões de anos 11 mil de anos A partir das implicações de dimensão planetária, uma vez que o advento das mudanças climáticas amplia as possibilidades de extinções e ameaça a própria manutenção da civilização humana, o Antropoceno traz o questionamento das possibilidades das futuras gerações. Vilches, Praia e Gil-Pérez (2008) entendem que a contribuição da possibilidade de se reconhecer o Antropoceno é também reconhecer a humanidade como uma força de mudança. A possibilidade do redirecionamento para uma civilização sustentável ganha força, a partir da oportunidade de mudar comportamentos humanos que levaram a uma situação de emergência planetária. Nesse sentido, a assimilação das questões relacionadas às mudanças climáticas passa pelo entendimento das dimensões que o tema suscita. Na busca deste entendimento, Veiga (2010) relaciona o que ele chama de “controvérsias” relacionadas às mudanças climáticas. Essas “controvérsias” expõem conflitos de interesses econômicos e políticos que aparecem a partir de mudanças propostas. A intenção de alterar o atual cenário alarmante que se relaciona ao aquecimento global, através de medidas que modifiquem relações de consumo de energia ou qualquer outro tipo de valor econômico é uma das motivações. 2 As mudanças climáticas realmente vão ocorrer? Esse questionamento passa a criar um sentido quando se reproduz que há os que rejeitam a existência do fenômeno através dos meios de comunicação de massa, por exemplo. Com essa intenção, há grupos e indivíduos que defendem a improbabilidade da existência das mudanças climáticas, contestando as informações divulgadas pelo IPCC, através da divulgação de dados que tragam indícios contrários. Mesmo que haja uma grande adesão em torno da tese das mudanças climáticas da forma, como o IPCC divulga, a confusão de opiniões gerada junto ao publico leigo, conforme afirma Veiga (2010), dificulta as ações para deter o fenômeno. O problema é que são pouquíssimas pessoas que podem realmente avaliar os argumentos usados pelos dois lados, pois a capacidade de decifrar os complexos modelos da ciência do clima depende de formação altamente especializada. Leigos, apoiando-se em análises objetivas e frias, não têm como formar suas respectivas convicções sobre essa questão. (VEIGA, 2010, p. 54). Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Introdução à Gestão Socioambiental 4 Ainda segundo Veiga (2010), o interesse econômico que envolve a matriz energética tem posição central nessa questão. Uma vez que a produção e o consumo de petróleo, carvão e gás movimentam a economia mundial, a ameaça de regulamentações impostas por nações que se comprometam com o combate às mudanças climáticas pode significar uma ameaça aos interesses dos grupos envolvidos nessas atividades. Para saber mais sobre as mudanças climáticas e conhecer a opinião de estudiosos do clima, leia os textos disponíveis na Midiateca desta aula. Um exemplo da polêmica sobre a existência ou não das mudanças climáticas foi a não assinatura do Protocolo de Quioto pelos Estados Unidos, país com maior emissão per capita de gases de efeito estufa2 e segundo em emissões absolutas (atualmente, o primeiro país em emissões absolutas é a China). A interferência negativana economia foi o argumento usado pelo então presidente George Bush. Americanos descrentes nas mudanças climáticas auxiliaram a sustentar a decisão do presidente. O Protocolo de Quioto é um tratado internacional para a redução das emissões de gases de efeito estufa. Com base nos estudos do IPCC e como consequência das discussões em diversos eventos (dentre elas a Conferência ECO-92, ocorrida no Rio de Janeiro, em 1992), o tratado foi assinado na cidade de Quioto no Japão em 1997, e entrou em vigor em 2005 com duração de dez anos. De forma sumarizada, o Protocolo de Quioto define metas diferenciadas para cada país de redução de emissões de gases do efeito estufa, considerando o seu grau de emissões (quanto maior o grau de emissão maior a meta de redução), considerando o ano de 1990 como referência. O objetivo é impedir que a temperatura média não aumente mais que 2°C até o fim deste século. Em 2012, na Conferência sobre as Mudanças Climáticas em Doha, foi ratificada a prorrogação da validade, até 2020. Canadá, Japão, Rússia e Nova Zelândia não participarão desse segundo período, assim como os Estados Unidos. Veiga (2010) salienta que a resistência em adotar como reais as mudanças climáticas tem perdido espaço para a perspectiva de novos mercados, voltados para a “descarbonização” da economia. Mecanismos de mercado, como instituições que regulem a emissão de gases de efeito estufa e encareçam o uso dos fosseis são apontados, por esse autor, como forma de integração de interesses das elites empresariais às políticas de mitigação3. 2 O Anexo A do Protocolo de Quioto considera como gases de efeito estufa: Dióxido de carbono (CO2), Metano (CH4), Óxido nitroso (N2O), Hidrofluorcarbonos (HFCs), Perfluorcarbonos (PFCs) e Hexafluoreto de enxofre (SF6). 3 Redução ou remediação do impacto ambiental através da ação humana. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Introdução à Gestão Socioambiental 5 2.1 Há tecnologia para conter as mudanças climáticas? As evidências das atividades impactantes na emissão dos gases estufas têm norteado os esforços na busca de alternativas e inovações tecnológicas. A produção e consumo de energia, como as mais evidentes atividades humanas impactantes, tendem a se consolidar como ponto focal na busca de alternativas. Nessa direção, políticas de substituição de lâmpadas incandescente pelas fluorescentes ou pelas de LED (Light Emitting Diode − Diodo Emissor de Luz) fazem bastante sentido. É certo que a busca por mudanças convergentes com a busca da diminuição das emissões e captura de carbono da atmosfera se desdobram com os esforços conjuntos. A questão é: como disseminar esse sentido de urgência na adoção de mudanças? Para Veiga (2010), a persuasão e o engajamento de militantes na adoção das tecnologias, práticas e mudanças comportamentais, com o intuito de diminuir significativamente as emissões, pode tornar evidente a necessidade de se seguir as recomendações dos analistas acerca das ações necessárias. Ele afirma que “[...] mais decisivo do que discutir prioridades da agenda de pesquisas é saber quais são as saídas disponíveis, seus possíveis impactos, e o que pode ser feito para que sejam adotadas” (VEIGA, 2010, p. 61). Portanto, é recomendada a redução de energia fóssil (principalmente carvão e petróleo), com o estímulo do uso de energias renováveis (eólicas, solares, geotérmicas, biomassas e hidrelétricas). A combinação de ações de corte de emissões pela mudança da matriz energética e o “sequestro biológico” (através do fim do desmatamento, do reflorestamento e do manejo racional do solo) poderia permitir que, até 2020, as emissões de carbono se reduzissem em 80% em relação a 2006 (VEIGA, 2010, p. 62). Al Gore, em seu livro “Uma Verdade Inconveniente”, sinaliza como alternativa para conter as mudanças climáticas as recomendações elaboradas por dois professores de Princeton, Stephen Pacala e Robert Sokolow: Uso mais eficiente de eletricidade em sistemas de aquecimento e refrigeração, iluminação, aparelhos domésticos e equipamentos eletrônicos. 01 Eficiência no uso final, ou seja, projetando edifícios e empresas para que utilizem muito menos energia do que usam hoje. 02 Maior eficiência dos veículos, fabricando carros que consomem menos gasolina e colocando nas ruas mais carros híbridos e movidos a células de combustível. 03 Outras melhorias na eficiência dos transportes, como planejar as cidades, tanto grandes como pequenas, com melhores sistemas de transporte público, e fabricar veículos pesados com maior eficiência de combustível. 04 Maior dependência de tecnologias já existentes de energia renovável, tais como o vento e os bicombustíveis. Captura e armazenamento de excesso de carbono emitido pelas usinas elétricas e atividades industriais. 06 05 Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Introdução à Gestão Socioambiental 6 Uso mais eficiente de eletricidade em sistemas de aquecimento e refrigeração, iluminação, aparelhos domésticos e equipamentos eletrônicos. 01 Eficiência no uso final, ou seja, projetando edifícios e empresas para que utilizem muito menos energia do que usam hoje. 02 Maior eficiência dos veículos, fabricando carros que consomem menos gasolina e colocando nas ruas mais carros híbridos e movidos a células de combustível. 03 Outras melhorias na eficiência dos transportes, como planejar as cidades, tanto grandes como pequenas, com melhores sistemas de transporte público, e fabricar veículos pesados com maior eficiência de combustível. 04 Maior dependência de tecnologias já existentes de energia renovável, tais como o vento e os bicombustíveis. Captura e armazenamento de excesso de carbono emitido pelas usinas elétricas e atividades industriais. 06 05 Al Gore diz que, se todas essas medidas fossem adotadas em conjunto, o patamar de emissões de gases do efeito estufa se reduziria a abaixo dos níveis da década de 1970. A superação do uso dos combustíveis fósseis é um desafio que exige, não só da tecnologia disponível, mas também da articulação da pesquisa, a busca de inovações tecnológicas que ampliem a capacidade de descarbonização da matriz energética. (AL GORE, 2006, p. 280-281). É certo que o desenvolvimento tecnológico, norteado pela inovação e os preceitos da sustentabilidade, podem descortinar novas perspectivas que ainda não são claras ou palpáveis, frente ao que se conhece hoje. No entanto, a disposição das pessoas em mudar de comportamento, abdicando de confortos, pode se mostrar como um difícil desafio. Além disso, mudanças de comportamento de consumo sofrem resistências por parte do mercado que se refletem nas ações de propaganda de promoção do consumo. Segundo Jhally ([s.d.]), a propaganda veiculada através dos meios de comunicação de massa está na contramão do caminho que a humanidade deveria começar a seguir. Camuflada de verde e de socialmente justa, a tática utilizada nas publicidades continua reafirmando os mesmos valores nos quais se apoia o mercado: inveja, competição e individualismo; pensamentos ligados a satisfações a curto prazo, prestando um desserviço à humanidade. Assim, conflitos econômicos relacionados aos custos de emissão de gases do efeito estufa podem ser melhor equacionados como forma de estímulo. Ou seja, se o custo de emissão de gases de efeito estufa for maior, a redução do uso dessas fontes de emissão seria estimulada. Essa indagação leva à terceira questão. Vamos a ela. 2.2 Qual o custo do aquecimento global? A emissão do carbono através das atividades humanas não é contabilizada no sistema econômico, desestimulando a sua inibição. Essa constatação foi verificada no Relatório Stern (coordenado por Nicholas Stern), apresentado em 2006. Esse estudo, encomendado pelo governo britânico, teve por objetivo avaliar o impacto das mudanças climáticas na economia mundial nos próximos 50 anos. Dentre as principais conclusões, destaca-se que o investimento de 1% do PIB mundial poderia evitar a perda de até20% do mesmo PIB em 50 anos. A disposição em realizar esse investimento para deter as mudanças climáticas ainda recebeu o incentivo do IPCC, através do documento lançado em Bangcoc, em maio de 2007. Segundo esse documento, a redução de 2°C na estimativa de aquecimento para este século poderia ocorrer se houver o investimento de menos de 3% do PIB mundial de 2030 (implicaria Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Introdução à Gestão Socioambiental 7 a redução de menos de 0,12% na taxa de crescimento médio anual). Essa alternativa suscita questões éticas, relacionadas ao princípio do desenvolvimento sustentável, no que diz respeito à garantia das mesmas condições das gerações futuras em relação às presentes que sofreriam com as restrições a acesso aos recursos (VEIGA, 2010, p. 67). Também há desigualdade entre os diversos países em relação à responsabilidade sobre as emissões no passado e no presente, entendendo que aqueles que aderiram à modernidade precocemente ampliaram o seu passivo de emissões de gases de efeito estufa em relação aos demais. Mesmo assim, países como a China, Índia, Japão, Brasil, Rússia4, por terem grande responsabilidade por emissões no presente, precisam assumir metas de redução de emissões significativas para que aconteçam avanços na política de combate às mudanças climáticas. Dentre as diversas opiniões em relação à forma de encarar a necessidade de investimento no combate às mudanças climáticas, Veiga (2010) salienta os pontos de consenso a esse respeito, afirmando que: Há quase unanimidade sobre uma espécie de “santíssima trindade” da cruzada contra o aquecimento: a) precificar o carbono, mediante taxação, comércio e regulação; b) adotar programas que acelerem o surgimento de tecnologias capazes de descarbonizar as matrizes energéticas; c) informar, educar e persuadir os cidadãos sobre as alterações comportamentais que se impõem. (VEIGA, 2010, p. 70-71). Veiga ainda salienta que, apesar desse entendimento, há uma resistência no esforço conjunto de ações convergentes com essas diretrizes. Também comenta como a taxação da emissão de carbono pode se estabelecer como estratégia para motivar o investimento em inovação na “descarbonização”: Taxar as emissões de carbono poderá ser a maneira mais efetiva de acelerar a adoção de inovações que substituam fontes fósseis, principalmente na produção de energia elétrica e em sistemas de transporte. Mas isso só será benéfico para o crescimento econômico quando as correspondentes tecnologias estiverem prontas para a comercialização. (VEIGA, 2010, p. 72). A conveniência de ações para a coordenação de investimentos na “descarbonização” também depende da vontade políticas dos seus atores. Essa afirmação é considerada a partir da próxima questão. 2.3 Há condições políticas para a implantação das medidas para deter as mudanças climáticas? Para Veiga (2010), as condições políticas necessárias para fazer frente às ameaças das mudanças climáticas estão aquém das expectativas que o panorama atual exige. Sua posição é de que se estabeleça um acordo que combine três eixos. 4 Atualmente, os 10 países que mais emitem gases de efeito, na ordem de grandeza, são: China, Estados Unidos, Índia, Rússia, Japão, Brasil, Alemanha, Canadá, México e Irã, segundo levantamento de 2009 do Centro de Análise de Informações do Dióxido de Carbono (CDIAC, na siga em inglês), entidade do Departamento de Energia norte-americano. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Introdução à Gestão Socioambiental 8 A busca de formas de descarbonização das matrizes energéticas. 01 Metas de redução mais significativas para os 20 principais países emissores, causadores de 90% do estrago, desconsiderando a etapa econômica na qual se encontrem. 02 Imposto mínimo inicial, com acréscimos anuais previamente conhecidos. 03 A adoção das medidas 2 e 3 sugeridas por Veiga requer grande esforço de negociação, buscando mecanismos que compensem assimetrias de poder econômico e de potencial de emissão de gases, adequando as ações necessárias em prazo que não comprometa ainda mais o clima nas próximas décadas. Dificultando esse consenso estão os interesses econômicos contrários à oneração das emissões de gases de efeito estufa, muitas vezes utilizando o discurso negacionista na defesa das atividades poluidoras, como a indústria dos combustíveis fósseis. Veiga (2010) defende essas medidas como forma de impedir que as consequências sombrias do aquecimento global se mostrem em sua forma extrema, revelando efeitos como a falta de água para até 4,4 bilhões de pessoas, queda na produção agrícola nos países pobres, o comprometimento irreversível da floresta amazônica, extinção de até 40% de espécies, o desaparecimento de geleiras, derretimento da placa de gelo da Groenlândia, acelerando a elevação do nível do mar e a liberação do imenso estoque de gás metano5 armazenado sob o permafrost (gelo permanente) siberiano. Para saber mais sobre a liberação de metano pelo degelo do permafrost, acesse os links disponíveis na Midiateca. Veiga (2010) também alerta para distorções criadas por iniciativas como o Protocolo de Quioto, pela omissão das emissões provenientes do consumo, ignorando a existência do comércio internacional, que promove a importação e exportação de emissões. Foram criadas, assim, duas distorções das mais funestas. Por um lado, o incentivo para que sejam consolidados e promovidos os modos de consumo das sociedades mais ricas, por mais influência que eles possam ter no aquecimento global. Por outro, o estímulo para que as atividades produtivas mais intensivas em carbono tendam a migrar para países sem restrições de emissão, um efeito logo cunhado de vazamento de carbono (carbon leakege). (VEIGA, 2010, p. 79). 5 Uma tonelada de metano corresponde a 21 toneladas de CO2 equivalente. Por impactarem com diferentes potenciais no aquecimento do planeta, o “CO2 equivalente” vem sendo usado para contabilizar as emissões de acordo com a fonte e tipo de emissão de gases. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Introdução à Gestão Socioambiental 9 Nessa perspectiva, países como China e Rússia teriam déficit de emissão quando considerado o consumo, pois são grandes exportadores, enquanto os grandes importadores como vários países da União Europeia teriam responsabilidade de emissão aumentada. O “vazamento de carbono” também é uma preocupação adicional em países que possuem indústrias que utilizam energia de forma intensiva que, por consequência, acabam por aumentar a emissão, comprometendo as metas de redução dos países onde estão situadas. A transferência dessas indústrias para países periféricos, com metas menores de redução é a outra distorção a que Veiga (2010) se refere. A adoção de medidas educativas com o intuito de conscientizar e influenciar as mudanças de comportamentos também vem sendo indicada como abordagem para enfrentamento das questões climáticas. Vilches, Praia e Gil-Pérez (2008), inserindo a iminência do Antropoceno como uma nova era geológica, indicam a oportunidade de ruptura de paradigma e a construção do futuro sustentável. Esses autores alertam para a necessidade de uma abordagem que integre todos os problemas ambientais, pautando-se na constatação de que cada problema que se apresenta (contaminação dos solos, rios e mares, esgotamento dos recursos naturais, urbanização acelerada, degradação dos ecossistemas, mudanças do meio físico e seus efeitos), surgem como urgentes e se sucedem, retirando a atenção da causa principal. Vilches, Praia e Gil-Pérez (2008) afirmam que a aparente concorrência entre problemas se traduz em uma mútua neutralização da atenção que atraem, devido ao tratamento isolado que recebem. Sugerem o uso do “macroscópio”, uma forma de enxergar os problemas de forma integrada para que desenvolvam soluções que tratem o conjunto. Como exemplo, podem ser citadas a adoção de práticas como os 3Rs (reduzir, reutilizar e reciclar), utilizaçãode tecnologias que respeitem o meio ambiente e as pessoas, ações educativas e de cidadania, participação social e política buscando a sustentabilidade e avaliação das práticas buscando o seu aperfeiçoamento. Para saber mais sobre os critérios de controle da emissão dos gases e também o que pensa a ONU sobre as mudanças climáticas, acesse os links disponíveis na Midiateca desta aula. Considerações finais Os desafios impostos pela eminência das mudanças climáticas são grandes e complexos. Passam pela dimensão social, cultural, econômica, tecnológica, ética e política. Exigem o engajamento das potências econômicas, assim como a mudança comportamental da civilização humana em torno das causas e consequências do aquecimento global e sua mitigação. Para Crutzen e Schwägerl (2011), a vida humana, na eminência do Antropoceno, tem as necessidades urgentes que passam pelos seguintes compromissos: buscar alternativas ao Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Introdução à Gestão Socioambiental 10 hiperconsumo, uma vez que, para mantermos o estilo de vida ocidental atual precisaríamos de muitos outros planetas para sustentá-lo; ampliar o investimento em ciência e tecnologia, buscando substituir a infraestrutura que consome combustíveis fósseis; tornar a agricultura mais eficiente na produção e conservação dos habitats naturais e desenvolver tecnologias de reciclagem de elementos vitais para a segurança alimentar como o fósforo, elemento chave como fertilizante e; investir na defesa dos recursos ambientais. Para evitar conflitos, será necessário melhorar a gestão e consciência da necessidade de conservação do “sistema de segurança verde” (green security system) – rede formada pelo clima, solo e biodiversidade e adaptar a cultura para sustentação de um “organismo mundial” (word organism), termo cunhado pelo cientista alemão Alexander von Humboldt há 200 anos. Humboldt acreditava que os humanos poderiam crescer em capacidade como parte desse organismo mundial e não a seu custo, buscando o sentido de relação simbiótica6 em vez de escravizar o mundo natural. Referências AL GORE, Albert Arnold. Uma verdade inconveniente. São Paulo: Manole, 2006. CRUTZEN, Paul; SCHWÄGERL, Christian. Living in the Anthropocene: Toward a New Global Ethos. 24 Jan 2011: Opinion. YALE Environment 360 DIGEST. Disponível em: <http://e360.yale. edu/feature/living_in_the_anthropocene_toward_a_new_global_ethos/2363/>. Acesso em: 28 set. 2015. JHALLY, Sut. Advertising at the edge of the apocalypse. Department of Communication University of Massachusetts at Amherst. Amherst, MA 01003. Disponível em: <http://www. sutjhally.com/articles/advertisingattheed/>. Acesso em: 20 out. 2015. VEIGA, José Eli. Sustentabilidade: a legitimação de um novo valor. São Paulo: Editora Senac, 2010. VILCHES, Amparo; PRAIA, João; GIL-PÉREZ, Daniel. O Antropoceno: Entre o risco e a oportunidade, Educação. Temas e Problemas, v. 5, ano 3, p. 41-66. Disponível em <http://www.uv.es/vilches/ Documentos/O%20ANTROPOCENO%202008.pdf>. Acesso em: 28 set. 2015. 6 Relação ecológica interespecífica onde as espécies envolvidas se beneficiam. Introdução à Gestão Socioambiental Aula 03 Limites Planetários Objetivos Específicos • Situação global – compreender os principais desafios socioambientais planetários. Temas Introdução 1 Um planeta para todos 2 Os limites socioambientais Considerações finais Referências Professor Autor Edson Luiz Pizzigatti Corrêa Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Introdução à Gestão Socioambiental 2 Introdução Ao longo dos últimos 200 anos, a população humana se tornou complexa e tecnologicamente avançada, tanto que é possível imaginar que iremos prosperar sem considerar a natureza como fator limitante. O crescimento desproporcional da população das cidades, onde há dependência de ambientes dominados por estruturas artificiais é uma realidade. Nesse contexto, a natureza aparece como algo que desfrutamos nos fins de semana ou quando for conveniente, sem nos preocuparmos com ela em nossa rotina diária. Em outras palavras, a artificialização do ambiente e a alienação em relação ao mundo natural se tornaram muito comuns no meio urbano. Por outro lado, as áreas rurais muitas vezes são vistas como espaços para a conservação da natureza, porém, as áreas que produzem alimentos, fibras e madeira são mais valorizadas do que aquelas áreas alagadas ou de florestas intocadas, tendo o seu valor como depositório dos serviços ambientais e da biodiversidade desprezado. Com essa perspectiva é que a drenagem de pântanos, o desflorestamento e as queimadas ocorrem como exemplos de artifícios usados para a transformação de áreas naturais em áreas com “maior valor” para a sociedade. Neste texto, vamos verificar como essa visão é perigosa, pois ignora o valor dos benefícios da natureza para toda a população do planeta. 1 Um planeta para todos Para entender os parâmetros relacionados aos limites planetários, é interessante verificar quais os benefícios que a natureza proporciona. Por uma perspectiva econômica, os atributos naturais do ambiente são associados a recursos e oportunidade de prover condições para as atividades humanas. Ou seja, o valor das condições ambientais se apresenta no serviço prestado pelo ambiente para a manutenção da existência da sociedade humana. Mesmo que seja uma análise limitada por reduzir o ambiente e a natureza a valores monetários, o argumento econômico auxilia na análise e tomada de decisão a favor da sustentabilidade quando os serviços ambientais, assim como os custos sociais, são considerados. Essa lógica permite a valoração do clima estável, do fornecimento de água, alimentos e outros recursos que só poderiam ser obtidos através de certas condições ambientais e sua estabilidade. Hoje, muitas dessas condições não são consideradas nos custos de produtos e serviços, principalmente por não serem vistos como escassos, a exemplo da água. Em várias regiões metropolitanas pelo mundo, a degradação dos mananciais e o aumento do consumo são fatores que levaram à sua escassez. Os valores vinculados à “produção de água pelo ambiente” foram deixados de fora na tomada de decisão, gerando impactos sobre a sociedade como um todo. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Introdução à Gestão Socioambiental 3 1.1 Serviços ambientais Os interesses inseridos na relação entre produção e consumo de bens e serviços subtraem de nossa percepção grande parte das condições exigidas no provimento dos recursos ambientais consumidos no cotidiano. Não é uma prática corrente a contabilização do custo de recursos ambientais, principalmente aqueles que não possuem tarifação de serviço (fornecimento de água e energia, por exemplo), como a qualidade do ar e a estabilidade climática. Por essa razão, é que em muitos casos a obtenção de serviços e produtos gera custos ambientais que não são computados pelas organizações e, consequentemente, divididos pelo conjunto da sociedade. Um exemplo é a poluição das águas por rejeitos industriais. Quando não há o devido tratamento, os custos de despoluição, do aumento de incidências de doenças vinculadas à poluição hídrica, entre muitos outros prejuízos que possam ser provocados pela perda da oportunidade de se manter mananciais limpos, não são repassados aos preços dos produtos e serviços gerados a partir da atividade poluidora. Esses custos são chamados de externalidades, revelando várias contradições presentes na sociedade. O reconhecimento das externalidades e dos custos dos serviços ambientais nas atividades econômicas pode contribuir na diminuição dos impactos socioambientais (JAMIELSON, 2010, p. 39). Os benefícios que a manutenção do ambiente e dos ecossistemas1 proporciona pode ser vista pelo viés econômico, provendo suporte de recursos (solo, nutrientes, água, oxigênio etc.) para sustentar a vida no planeta. O provisionamento de alimentos, água fresca, energia etc.; a regulação do clima; a purificaçãoda água, o controle de pragas e doenças; além dos meios em que se apoiam os valores culturais vinculados à estética, à espiritualidade, à recreação etc., estabelecem uma gama de serviços prestados, possibilitando a manutenção de condições importantes para a sociedade humana (como segurança, materiais essenciais, saúde e a boa convivência, através da cooperação, respeito mútuo e coesão social) (MILLENNIUM ECOSYSTEM ASSESSMENT, 2005). A figura 1 ilustra diversas possibilidades de serviços ambientais inseridos na relação sociedade-ambiente. A manutenção da capacidade de se conservar esses serviços depende da complexidade biológica, química, das interações físicas e como esses fatores são afetados pelas atividades humanas (MILLENNIUM ECOSYSTEM ASSESSMENT, 2005, p. 6). 1 Conjunto de características físicas, químicas e biológicas de um determinado espaço. Há ecossistemas terrestres e aquáticos. Inclui “[...] todos os organismos de uma determinada área, interagindo com o ambiente físico, de modo que um fluxo de energia leva a uma estrutura trófica claramente definida, à diversidade biótica e aos ciclos materiais” (ODUM, 1971 apud MORAN, 2011, p. 108). Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Introdução à Gestão Socioambiental 4 Figura 1 – Ecossistemas e serviços ambientais prestados Montanha Alimentos Fibras Água fresca Controle da erosão Regulação do clima Recreação e ecoturismo Valores estéticos Valores espirituais Floresta e matas Alimentos Madeira Água fresca Lenha Regulação de inundações Regulação de doenças Sequestro de carbono Regulação climática local Medicamentos Recreação Valores estéticos Valores espirituais Terras secas Alimentos Fibras Lenha Regulação climática local Herança cultural Recreação e ecoturismo Valores espirituais Área urbana (parques e jardins) Regulação da qualidade do ar Regulação da água Herança cultural Recreação Educação Litoral Alimentos Fibras Madeira Combustível Regulação climática Processamento de resíduos Ciclagem de nutrientes Proteção contra tempestades e ondas Recreação e ecoturismo Valores estéticos Ilhas Alimentos Água fresca Recreação e ecoturismo Mar Alimentos Regulação climática Ciclagem de nutrientes Recreação Águas interiores (rios, lagos, pântanos etc.) Água fresca Alimentos Controle da poluição Regulação de inundações Retenção e transporte de sedimentos Regulação de doenças Ciclagem de nutrientes Recreação e ecoturismo Valores estéticos Áreas de cultivo Alimentos Fibras Água fresca Corantes Madeira Regulação de pragas Biocombustíveis Medicamentos Ciclagem de nutrientes Valores estéticos Herança cultural Fonte: Adaptada de Milennium Ecosystem Assessment (2005). 2 Os limites socioambientais A manutenção dos serviços ambientais tem relação direta com a estabilidade do meio ambiente. Com essa premissa, a iminência de mudanças climáticas evidencia a perda da capacidade da manutenção de serviços ambientais. Tal perda suscita a necessidade de se estabelecer limites para a intervenção humana sobre o ambiente para garantir a sua própria resiliência. Com essa premissa, a definição de parâmetros que evidenciam os limites do planeta, mas garantindo o acesso aos recursos necessários para satisfazer os direitos humanos (como água, alimentação entre outros que permitam alcançar uma vida digna). A figura 2 ilustra em uma estrutura os recursos, representando limiares nos quais devem ser manejados de forma a manter a estabilidade do planeta. Raworth (2012) destaca na figura os limiares entre o limite ambiental e o piso social pelo seu formato “Donut”, em que é possível o desenvolvimento de uma sociedade humana sustentável. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Introdução à Gestão Socioambiental 5 Figura 2 – Um espaço seguro e justo para a humanidade desenvolver-se: uma primeira ilustração água saúde alimento renda educação resiliência voz ativa empregosenergia equidade social igualdade de gênero Mudança climática Uso de água doce Ciclos do nitrogênio e fósforo M ud an ça no us o d a te rra Base social O lu gar s eguro e ju sto para a humanidade Limite amb iental máximo Desenvolvimento econômico inclusiv o e s uste ntá vel Pe rd a da b io di ve rs id ad e Acidificação dos oceanos Poluição químicaConcentração de aeros sol a tmo sfé rico De str uiç ão da ca m ad a de o zô ni o Fonte: Rockström et al. (2009). A gestão dos recursos entre os patamares mínimos de acesso aos recursos (base social) e o limite ambiental máximo como o representado na figura 2 é um desafio para ser debatido com urgência, pois já se verifica que a humanidade está longe de viver entre esses limiares. Segundo o documento da Raworth (2012), desigualdades de renda, gênero e poder profundas fazem com que milhões de pessoas estejam vivendo abaixo de cada dimensão da base social. Quase 900 milhões de pessoas enfrentam a fome; 1,4 bilhão vivem com menos de $1.25 por dia; e 2,7 bilhões não têm acesso a instalações limpas para cozinhar. Ao mesmo tempo, o limite ambiental máximo já foi cruzado por pelo menos três das nove dimensões: mudança climática, uso do nitrogênio e perda de biodiversidade. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Introdução à Gestão Socioambiental 6 Os limites planetários para a exploração de seus recursos foi proposto por Rockström et al. (2009). Dentre os nove limites identificados (mudanças climáticas, perda de biodiversidade, destruição da camada de ozônio, uso da água potável, acidificação dos oceanos, mudanças no uso da terra, poluição química, concentração de aerossol atmosférico, ciclo do nitrogênio e do fósforo), sete deles tiveram quantificados seus valores máximos, abaixo dos quais as pesquisas indicaram como uma posição segura para a humanidade. Segundo os autores, ultrapassar esses limites pode ter consequências deletérias ou mesmo catastróficas para a humanidade, significando mudanças abruptas com impacto na capacidade de resiliência da biosfera. As mudanças climáticas, as perdas de biodiversidade e o ciclo do nitrogênio foram indicados pelos autores como fatores nos quais os limites já foram ultrapassados. Segundo Steffen et al. (2015), as mudanças climáticas e a biodiversidade são fatores que devem ser reconhecidos como núcleo das fronteiras planetárias através do qual os outros limites operam. Clima e biodiversidade se relacionam de forma sistêmica ao longo de quatro bilhões de anos e, portanto, alterações além dos limites planetários podem significar o final da época do Holoceno. O clima permite as condições físicas (temperaturas necessárias para a presença da água em estado sólido líquido e gasoso no sistema) para que a biodiversidade se expresse nas diversas regiões do planeta. A diversidade na biosfera fornece resiliência aos ecossistemas, proporcionando capacidade de adaptação às mudanças do ambiente. A biosfera não só interage com os outros limites do planeta, mas também aumenta a capacidade do sistema Terra de persistir sob alteração dos outros limites. A biosfera em sua biodiversidade possibilita a dinâmica de funcionamento e de inovação para persistência da Terra, como um sistema que comporta a vida como a conhecemos, portanto sua integridade é fundamental. O desafio de trazer a humanidade para patamares seguros de utilização de recursos, garantindo a segurança social é complexo, existindo a interdependência entre esses fatores. Nesse sentido, a limitação ao acesso a recursos ambientais pode piorar a pobreza e vice-versa. Raworth (2012) defende que políticas bem formuladas podem promover o equacionamento das questões ambientais e sociais. Quanto à erradicação da pobreza, a autora sugere que a base social pode ser alcançada por todas as pessoas do planeta com poucos recursos adicionais. Ela expressa suas propostas, em relação a variáveis essenciais: • Alimento: Fornecer as calorias adicionais necessárias a 13% da população mundial que enfrenta a fome exigiria apenas 1%do atual abastecimento global de alimentos. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Introdução à Gestão Socioambiental 7 • Energia: Levar a eletricidade a 19% da população mundial que atualmente não tem acesso a ela poderia ser alcançado com menos de 1% de aumento nas emissões globais de CO2. • Renda: Acabar com a pobreza de renda de 21% da população global que vive com menos de US$1.25 por dia exigiria apenas 0.2 por cento da renda global. (RAWORTH, 2012, p. 5). Já em relação ao limite do consumo de recursos naturais, destaca-se que apenas 10% da população mundial mais rica e o modelo de produção de bens e serviços para essa população são responsáveis pela maior pressão de consumo. A autora exemplifica isso em relação a alguns fatores: • Carbono: Cerca de 50% das emissões globais de carbono são geradas por apenas 11% das pessoas; • Renda: 57% da renda global encontram-se nas mãos de apenas 10% das pessoas; • Nitrogênio: 33% do orçamento de nitrogênio sustentável do mundo são utilizados para produzir carne para as pessoas da União Europeia – que são apenas 7% da população mundial (RAWORTH, 2012, p. 5). A busca por esse modelo de desenvolvimento insustentável, por parte da população que passa a ter melhores condições de renda, também incorre em risco em relação ao nível de consumo dos recursos ambientais. Com essa prerrogativa, estima-se que até 2030 a demanda global por água deve aumentar em 30% e a demanda por alimentos e energia em 50% (RAWORTH, 2012, p. 5). O desperdício e a ineficiência no uso dos recursos naturais como a água e alimentos é outro fator que pressiona para cima o consumo dos recursos naturais. A busca da eficiência no uso dos recursos naturais e no atendimento das necessidades humanas, inserindo a justiça social como parâmetro de elaboração de boas políticas deve ser considerada na tomada de decisão a respeito das questões socioambientais deste século. Nesse sentido, baixar o teto ecológico para os mais ricos e poluidores e elevar o piso social dos que ainda não têm o mínimo para a sobrevivência digna é condição para a necessidade de se manter a humanidade dentro dos limites planetários. Considerações finais Conforme apresentado nesta aula, a manutenção das condições ambientais, garantindo a resiliência da espécie humana, é fragilizada pelo aumento da nossa capacidade em modificar as condições ambientais. O reconhecimento do valor dos serviços ambientais e dos limites da exploração dos recursos naturais se torna imprescindível na busca de alternativas às limitações que o planeta impõe. Nessa perspectiva, a relação causa e efeito das ações humanas pode ser visualizada com mais clareza, o que facilita o processo de tomada de decisão. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Introdução à Gestão Socioambiental 8 Referências JAMIELSON, Dale. Ética e meio ambiente: uma introdução. São Paulo: Editora Sena São Paulo, 2010. MILLENNIUM ECOSYSTEM ASSESSMENT. Living Beyond Our Means - Natural Assets and Human Well-Being. Disponível em <http://www.millenniumassessment.org/documents/ document.429.aspx.pdf>. Acesso em: 15 set. 2015. MORAN, Emílio F. Meio ambiente e ciências sociais: Interações homem-ambiente e sustentabilidade. São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2011. RAWORTH, Kate. Um espaço seguro e justo para a humanidade. Texto para Discussão da Oxfam, Fevereiro de 2012. Disponível em <http://www.oxfam.org/sites/www.oxfam.org/files/ dp-a-safe-and-just-space-for-humanity-130212-pt.pdf>. Acesso em: 15 set. 2015. ROCKSTRÖM, J. et al. A safe operating space for humanity. Nature, v. 461, n. 24, p. 472-475, 2009. STEFFEN, Will et al. Planetary boundaries: Guiding human development on a changing planet. Science. Disponível em: <https://www.sciencemag.org/content/347/6223/1259855.full>. Acesso em: 5 out. 2015. Introdução à Gestão Socioambiental Aula 04 Indicadores e Tendências Objetivos Específicos • Situação global – compreender os principais desafios socioambientais planetários. Temas Introdução 1 Indicadores do desenvolvimento sustentável 2 Limitações de uso dos índices de desenvolvimento sustentável Considerações finais Referências Professor Autor Edson Luiz Pizzigatti Corrêa Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Introdução à Gestão Socioambiental 2 Introdução Com a introdução dos conceitos de sustentabilidade nas atividades humanas, tornou-se importante adotar parâmetros que indiquem como os objetivos socioambientais almejados estão sendo ou não alcançados. Redução da pobreza, acesso à renda, saúde, emissões de gases de efeito estufa, biodiversidade, poluição química, entre outros parâmetros, vêm sendo considerados como indicadores de sustentabilidade. No entanto, para efeito de avaliação da efetividade de políticas e práticas que visem ao desenvolvimento sustentável, faz-se necessário a integração desses parâmetros, de forma a compor indicativos unificados que possuam ampla aceitação global. De qualquer forma, a adoção de práticas de caráter socioambiental por parte de indivíduos e organizações necessita de indicadores de desempenho socioambiental, compondo informações para a tomada de decisões, o acompanhamento das atividades e para avaliar a efetividade das ações. Nesta aula, vamos conhecer os indicadores, suas características, aplicações e os parâmetros que esses indicadores representam. 1 Indicadores do desenvolvimento sustentável Para estabelecer o contexto no qual as questões socioambientais se encontram, é importante considerar elementos de quantificação que permitam uma análise em dimensão de tempo e espaço. Em outras palavras, para saber do estado atual e traçar metas de melhoria em critérios socioambientais, faz-se necessário estabelecer parâmetros que expressem de forma clara e que agreguem dados significativos: Os indicadores de sustentabilidade formulados para usuários específicos constituem um sistema de sinais que permite que os países avaliem seu progresso, tanto no que se refere à gestão ambiental, como também ao desenvolvimento sustentável ou ao bem-estar humano e do ecossistema. (COSTA; LUSTOSA, 2007, p. 12). Com esse intuito, o capítulo 40 da Agenda 21, documento elaborado pela Organização das Nações Unidas na ECO-92 (Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento), inclui aspectos relativos à informação para a tomada de decisão nos assuntos relacionados ao desenvolvimento sustentável. O documento indica a necessidade de “informação consistente” e sua publicidade em todos os níveis (local, regional, nacional e internacional) para servir de base nessa tomada de decisão. A Agenda 21 foi elaborada como forma de assegurar a realização dos compromissos assumidos para o século XXI. O documento serviu como base para identificar os problemas prioritários, os recursos e os meios para enfrentá-los, além das metas para o século atual (ONU, p. 7, 1995). Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Introdução à Gestão Socioambiental 3 Os compromissos assumidos e a participação nas ações inerentes à Agenda 21 podem ser verificados no terceiro parágrafo do seu primeiro capítulo: A Agenda 21 está voltada para os problemas prementes de hoje e tem o objetivo, ainda, de preparar o mundo para os desafios do próximo século. Reflete um consenso mundial e um compromisso político no nível mais alto no que diz respeito a desenvolvimento e cooperação ambiental. O êxito de sua execução é responsabilidade, antes de tudo, dos governos. Para concretizá-la, são cruciais as estratégias, os planos, as políticas e os processos nacionais. A cooperação internacional deverá apoiar e complementar tais esforços nacionais. Nesse contexto, o sistema das Nações Unidas tem um papel fundamental a desempenhar. Outras organizações internacionais, regionais e sub-regionais também são convidadas a contribuir para tal esforço. A mais ampla participação pública e o envolvimento ativo das organizações não governamentais e de outros grupostambém devem ser estimulados. (ONU, 1995, p. 11). A Agenda 21 também reforça a importância da participação dos governos nacionais e de organizações não governamentais na elaboração de indicadores que garantam o desenvolvimento sustentável, conforme descrito do parágrafo 6 do capítulo 40 do documento: Os países no plano nacional e as organizações governamentais e não governamentais no plano internacional devem desenvolver o conceito de indicadores do desenvolvimento sustentável a fim de identificar esses indicadores, com o objetivo de promover o uso cada vez maior de alguns desses indicadores nas contas satélites e eventualmente nas contas nacionais. É preciso que o Escritório de Estatística do Secretariado das Nações Unidas procure desenvolver indicadores, aproveitando a experiência crescente a esse respeito. (ONU, 1995, p. 466). Segundo o documento, além do desenvolvimento de indicadores do desenvolvimento sustentável, também é necessária a promoção do seu uso global, aperfeiçoamento da coleta, utilização, avaliação e análise de dados, além de uma estrutura ampla de informação e que atenda às necessidades das culturas tradicionais. Os indicadores podem ser “puros”, quando se utiliza apenas uma variável (concentração de dióxido de carbono na atmosfera, por exemplo), ou “sintéticos”, quando são constituídos da combinação de mais de uma variável (Índice de Desenvolvimento Humano – IDH, por exemplo). 1.1 Por que o PIB não é indicador do desenvolvimento sustentável? Buscar uma representação que sirva de parâmetro para comparação e definição de metas para o desenvolvimento sustentável significa assumir valores e escalas que identifiquem parâmetros Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Introdução à Gestão Socioambiental 4 consistentes sob a ótica da sustentabilidade. Valores numéricos que expressem características coerentes com essa ideia devem ser considerados na seleção dos parâmetros adequados. Para Veiga (2009), os indicadores podem assumir a precificação ou a agregação como característica, enquanto a precificação utiliza o valor monetário para a representação numérica, a agregação pode integrar aspectos físicos (quantidade de água, alimentos, gases de efeito estufa etc.) e monetários. O exemplo de índice monetário bastante difundido é o Produto Interno Bruto (PIB). Esse indicador ficou conhecido após a Segunda Guerra Mundial e é amplamente utilizado, vislumbrando, equivocadamente, o ideal de maiores fluxos monetários proporcionando bem- estar (COSTA; LUSTOSA, 2007). Em outras palavras, a elevação do PIB se tornou a medida de sucesso das políticas que visavam ao desenvolvimento regional ou nacional, pois relacionava o quanto a economia cresceu ou diminuiu em um dado período (PIB anual, mensal etc.), no qual uma determinada ação, ou ações, foram implementadas. Nesse mesmo sentido, o crescimento econômico como medida de sucesso da gestão política, acabou por associar o acúmulo de capital com desenvolvimento. Vale ressaltar que países ou regiões que possuem elevado PIB não, necessariamente, possuem boa distribuição de renda, qualidade de vida e ambiente. O PIB é a soma de valores monetários de bens e serviços finais, produzidos em um determinado local ou região e período. O motivo para refutar o PIB como índice de desenvolvimento sustentável é exposto por Costa e Lustosa (2007), considerando aspectos da atividade econômica que não são incluídos no cálculo: a economia informal, ou não declarada ao fisco, é um dado que não se inclui. A produção de bens e serviços sem valor de mercado, como os serviços domésticos não remunerados, a produção de subsistência destinada ao autoconsumo, os serviços ambientais, a exaustão de recursos naturais não renováveis e as transações de compra e venda, envolvendo a transferência de bens produzidos em períodos anteriores, também ficam de fora do PIB. É comum encontrar nos meios de comunicação análises de desempenho de países, utilizando o PIB como parâmetro. Porém, cabe salientar que o valor absoluto e o valor relativo do PIB são bastante distintos quando se pensa em distribuição de renda. Nesse sentido, o aumento do PIB anual de um país mostra o crescimento econômico absoluto, enquanto o PIB per capita (relativo ao número de habitantes) evita distorções inerentes ao tamanho da população do país. De qualquer forma, sua aplicação como parâmetro de desenvolvimento se limita a expressar apenas uma dimensão. A abordagem de crescimento de riqueza per capita é mais interessante que o crescimento de produto per capita, já que o PIB não inclui a depreciação de muitos ativos, como a degradação de ecossistemas. Assim, o PIB per capita pode crescer ao mesmo tempo em que a riqueza per capita diminui (VEIGA, 2009, p. 423). Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Introdução à Gestão Socioambiental 5 Como foi dito, o PIB não expressa aspectos como a degradação ambiental, assim como a distribuição de renda, diminuindo suas possibilidades de enquadramento como indicativo de bem-estar humano. Veiga (2009) ainda alerta para tentativas de “esverdeamento” do PIB através de práticas de precificação dos serviços e recursos naturais. Essa prática foi sugerida pela ONU através do sistema Integrado de Contas Econômicas e Ambientais (Sicea), logo após a ECO-92. A intenção era estabelecer funções econômicas para o meio ambiente que seria visto como provedor de serviços (monetarizáveis) para o bem-estar social e integração com o PIB. A dificuldade de se monetarizar valores sociais, culturais, biológicos, estéticos e outros não econômicos, além da atribuição subjetiva de valores, estabelece barreiras para essa abordagem (COSTA; LUSTOSA, 2007, p. 6). 1.2 O desenvolvimento de indicadores do desenvolvimento sustentável Com o aumento da percepção em relação aos problemas ambientais, assim como o aumento da assimetria de poder e acesso à riqueza, mesmo em países que apresentavam elevação no PIB, cresceu também o interesse por indicadores mais interessantes para avaliar políticas e ações em relação ao desenvolvimento sustentável. Várias iniciativas foram empreendidas no sentido de propor índices que tivessem ampla aceitação global. Indicadores de desempenho social como o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), criado em 1990 pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), considerando aspectos como educação, longevidade e distribuição de renda, estabelecem uma relação de dimensão não monetária em sua avaliação. Atribuindo valores de 0 a 1, classifica os países em três categorias: 0 a 0,500: Baixo desenvolvimento humano 0,500 a 0,800: Médio desenvolvimento humano Superior a 0,800: Alto desenvolvimento humano De acordo com Costa e Lustosa (2007, p. 10): Por ser um índice sintético, composto por muitas variáveis, o IDH incorpora diversas características. Porém, quando se verificam grandes disparidades sociais, as médias gerais, como o IDH, ou outro índice sintético, mostram-se pouco eficientes na representação do conjunto dos indivíduos, pois tendem a esconder desigualdades marcantes que desviam dessas médias. Ainda segundo os autores (2007), o aperfeiçoamento do IDH, por parte do PNUD, visando ao aperfeiçoamento metodológico; se por um lado expõe as fraquezas do índice, por outro significa um avanço na medição do desenvolvimento social, trazendo benefícios, como a inovação na inserção de valores não econômicos como indicadores. Portanto, um índice que representasse a integração das dimensões econômicas, ambientais e sociais seria útil se adotado globalmente, possibilitando a comparação de desempenho das políticas e ações nas dimensões regionais, nacionais e globais. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Introdução à Gestão Socioambiental 6 As dimensões monetárias e físicas são comumente empregadas para contextualizar diversos aspectos. Os monetários, como o PIB, fornecem valores em moeda, enquanto os físicos expressam grandezas que refletem
Compartilhar