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2 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 Adam Ana Maria Daniel Elaine Felipe Flávia Gustavo Jean Karl Leandro Gabiru Lili Ludmila Malu Márcio Maria Dadão Jansen Fernando Juruna Max Renata Ricardo Sunshine Veronika Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 3 Ari Junior Josimar Paulo Pepé Antônio Zé 4 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 Índice 1Inflorescências maiores são mais atrativas? Relação entre tamanho da inflorescência e freqüência de visitação em Isertia hyp.............. 6 2 Avaliação do efeito de borda em um fragmento de mata de terra firme da Amazônia Central utilizando índices de mortalidade de plan............. 8 3 Seleção de habitats por larvas de Progomphus sp. (Odonata: Gomphidae) no igarapé da Dimona, Manaus, AM................................................. 10 4 Controle da estrutura de colônias de formigas Azteca alfari (Hymenoptera, Formicidae) pela mirmecófita Cecropia purpurascens ................... 12 5 Existe um “efeito tronco” para a comunidade de aranhas?...................................................................................................................................... 14 6 Um estudo da distribuição espacial, deslocamento individual e atividade diária da borboleta Heliconius erato (Nymphalidae, Heliconiinae).... 16 7 Biomassa de madeira morta em áreas de floresta preservada e com extração seletiva Amazônia Central............................................................. 18 8 Danos e mortalidade em árvores em floresta manejada e não-manejadas na Amazônia Central............................................................................ 19 9 Influência do corte seletivo de madeira na abundância de folhiço aéreo e artrópodes associados.......................................................................... 21 10 Os efeitos da extração seletiva de madeira sobre a densidade e a altura de plântulas de espécies lenhosas na Amazônia Central...................... 23 11 Salticídeos (Araneae, Salticidae) são mais frequentes em ambientes abertos?..................................................................................................... 24 12Espécies de Odonata como indicadores de efeitos da extração madeireira seletiva: comparação entre dois igarapés na área................ 25 13 Comparación de la abundancia y diversidad de arañas habitamtes del suelo en una area de extracción selectiva de madera y una are............. 26 14 A extração de madeira pode determinar a ocorrência de Cecropia sciadophylla e Vismia cf. cayennensis em bordas de mata na F.................. 29 15 Homenagem à Marchantaria: As comunidades são organizadas ao acaso?.......................................................................................................... 30 16 Ocorrência de hemi-parasitismo por Psittacanthus falcifrons (Loranthaceae) em espécies arbóreas de várzea na Amazônia Central ............. 31 17 Avaliação da Estrutura de Guildas Alimentares de Arthropoda em Folhas Secas de Cecropia membranacea (Cecropiaceae) ..................... 33 18 Relações entre o número de folhas e o número de flores de Pistia stratiotes (Araceae) numa área de várzea na Amazônia Central................... 34 19 Efeito do período de inundação sobre a Riqueza de Espécies Arbóreas de uma Área de Várzea na Amazônia Central..................................... 36 20 Abundância e riqueza de espécies de aranhas em dois microhabitats em área inundada de mata de várzea........................................................ 38 21 Relação entre artrópodos e folhas secas de Cecropia sp. na várzea do rio Solimões.................................................................................. 39 22 Estratégias reprodutivas em dois morfotipos de Pistia stratiotes........................................................................................................................... 41 23 Considerações sobre a arquitetura dos frutos do Macucu, Aldina latifolia (Leguminosae; Papilionoideae)........................................................ 42 24 Influência das inundações sobre a reprodução da seringueira Hevea spruceana (Euphorbiaceae) em uma área de igapó do rio Negro............. 43 25 Testando a hipótese de Coley e Aide : Folhas vermelhas sofrem menos herbivoria do que as folhas verdes?..................................................... 45 26 Levantamento florístico em uma área de igapó em Anavilhanas: borda versus interior...................................................................................... 46 27 Herbivoria em folhas de várias espécies de plantas de um igapó da Amazônia Central: existe vantagem em ser vermelha?.............................. 48 28 Riqueza e variação de tamanho de propágulos na margem e interior de Igapó na Amazônia Central.................................................................. 49 29 Intensidade de herbivoria em diferentes estratos de plantas alagadas: uma comparação entre dois tipos de amostragem................................... 50 30 Um teste da hipótese da disponibilidade de recursos (HDR) nas interações herbívoro-planta............................................................................. 52 31 Larvas de formigas-leão (Myrmeleontidae, Neuroptera) famintas aumentam o esforço de captura?................................................................... 53 32 Seleção de habitat por invertebrados aquáticos fragmentadores em um igarapé da Amazônia Central............................................................... 55 33 Morfologia foliar e herbivoria: mecanismo de engano para herbívoros?.............................................................................................................. 56 34 Defesas estruturais e taxa de herbívoria em espécies de Melastomatáceas........................................................................................................... 58 35 Efeito do tamanho de domácea e número de formigas como proteção contra herbivoria em plantas de Maieta guianensis - Melastomat........ 59 36 Liteiras suspensas na palmeira Oenocarpus bacaba (Palmae): um teste da teoria de biogeografia de ilhas......................................................... 61 37 Taxa de herbivoria em Miconia phanerostila (Melastomataceae) em diferentes ambientes lumínicos na Reserva do Km 41, Manaus (AM).... 63 38 O tamanho de clareiras naturais determina a abundância de espécies pioneiras na Amazônia Central?.............................................................. 64 39 Efeito de borda na relação entre Miconia phanerostila (Melastomataceae) e formigas ....................................................................................... 66 40 Mortalidade de formigas por fungos Ascomycetes em um gradiente campinarana-platô, em uma área de terra firme da Amazônia Central.... 67 41 Estudio comparativo de la herbivoría en pteridofitas y angiospermas.................................................................................................................. 69 42 Composição, riqueza e abundância de palmeiras em áreas de platô e baixio em uma floresta de terra firme da Amazônia Central.................. 70 43 Comparação da riqueza de lianas entre uma área de platô e uma campinarana na Amazônia Central............................................................... 72 44 Invertebrados predam larvas de anuros seletivamente?......................................................................................................................................... 74 45 Padrão de trilhas do tatu Dasypus novemcinctus (Mammalia: Xenarthra: Dasypodidae) na Amazônica Central................................................ 75 46 Abundância de anuros de folhiço em áreas de baixio e platô na Amazônia Central............................................................................................. 77 47 Influência do arranjo espacial da planta hospedeira na diversidade de insetos herbívoros...................................................................................79 48 Danos foliares induzem recrutamento de formigas habitantes de domáceas em Hirtella myrmecophylla (Chrysobalanac.................................. 81 49 Impacto predatório de formigas sobre herbívoros não mutualistas em Mimosa guilandinae var. spruceana (Leguminosae: .............................. 84 50 Distribuição espacial de algumas plantas de igarapé: há partição de recursos?.................................................................................................... 87 51 Induzindo formigas cortadeiras (Atta cephalotes) a rejeitar plantas hospedeiras palatáveis: modificação do comportamen.............................. 89 52 A influência das clareiras sobre a abundância e riqueza da comunidade de plântulas de palmeiras (Arecaceae) na Amazônia Central............. 92 53 Abundância e riqueza da ictiofauna em trechos de um igarapé na Reserva do km 41,Manaus, AM.................................................................... 94 54 Gremios alimenticios en una comunidad de murciélagos de sotobosque de la Amazonía Central....................................................................... 96 55 Remoção diferencial de sementes de Astrocaryum acaule (Arecaceae) por pequenos mamíferos em clareiras e sub-bosque ............................ 98 56 Quão longe devemos ir? Influência da escala de amostragem na riqueza e composição de espécies de formigas epigéicas............................ 100 57 Avaliação do comportamento de escolha de cores por borboletas ..................................................................................................................... 102 58Padrões de remoção de sementes enterradas de tucumã (Astrocarium aculeatum, Arecaceae) em uma floresta de terra firme da...................... 104 59 Distribución espacial y abundancia de Aequidens pallidus (Cichlidae) en un sistema de igarapés de una floresta en la Amazonía Central..... 107 60 O papel do ambiente físico na distribuição espacial de plantas mirmecófitas em uma floresta na Amazônia Central....................................... 109 61 Diversidade e similaridade de protistas do solo no platô e campinarana da Reserva do KM 41, Amazonia Central........................................ 113 62 Categorias funcionais de alimentação de macroinvertebrados em igarapés da Reserva do km 41, Amazônia Central...................................... 115 63 Área específica da folha como indicador de estratégias ecofisiológicas em espécies pioneiras em áreas abertas na Amazônia Central........... 117 64 Mecánismos de defensa utilizados por las plantas de tres compartimentos geomorfológicos de la Amazônia Central ..................................... 119 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 5 6 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 Inflorescências maiores são mais atrativas? Relação entre tamanho da inflorescência e freqüência de visitação em Isertia hypoleuca Benth. (Rubiaceae) Flávia Monteiro Coelho, Maria Cecilia Vega, Max Hidalgo, Renata Durães e Ricardo Machado Darigo Introdução A polinização é um dos principais processos de reprodução das angiospermas e pode ocorrer de forma abiótica ou biótica. A polinização abiótica pode ocorrer através do vento e da gravidade, e a biótica através de insetos, aves, morcegos e outros animais, na qual a planta oferece algum tipo de recompensa aos visitantes, em geral pólen e/ou néctar (Morato 1993). Processos coevolutivos podem resultar em relações estreitas entre algumas espécies de plantas e seus polinizadores, por exemplo, entre abelhas e orquídeas ou vespas e figueiras (Morato 1993). As diferentes flores, em razão dos seus conjuntos de características, como coloração, presença de cheiro, tamanho, formato da corola e outras são agrupadas em síndromes de polinização, que indicam o tipo de polinizador para cada planta. Muitos desses caracteres florais agem simultaneamente na atração dos polinizadores (Proctor & Yeo 1973 apud Scogin 1983). Algumas delas funcionam como atrativos a longa distância, e outras apenas são evidentes a pequenas distâncias, dependendo da capacidade sensorial dos polinizadores. De modo geral, os caracteres ligados à visão atuam a maiores distâncias que aqueles ligados ao olfato o quimiorrecepção (Scogin 1983). Flores ocorrendo isoladas ou agrupadas podem atrair de maneira diferente os polinizadores, sendo as flores agrupadas consideradas mais atrativas (Faegri & Pijl 1966 apud Lima et. al. 2000), o que pode estar relacionado ao aspecto atrativo ou também à disponibilidade de recurso em um mesmo local (Zimmerman1988). Outro fator relevante na atratividade de polinizadores seria o número de flores presentes na planta capazes de disponibilizar recursos para os polinizadores. Isertia hypoleuca Benth.é uma espécie arbórea da família Rubiaceae que apresenta inflorescências cimosas com flores hermafroditas, tubulares, de cor vermelha, sem cheiro evidente, com néctar adocicado e antese diurna, (Ribeiro et al. 1999; Nee 1995), características associadas à síndrome de ornitofilia (Stiles 1976). O objetivo deste trabalho foi testar a hipótese de que inflorescências mais vistosas, isto é aquelas que apresentam maior quantidade de flores, são capazes de atrair um maior número de visitantes florais. Material e Métodos O estudo foi desenvolvido em julho de 2002, em uma região de floresta de terra firme na Amazônia Central, localizada na Fazenda Dimona (2º20’S-60º06’W), 90 km ao norte de Manaus (AM). Um indivíduo adulto de Isertia hypoleuca Benth. em período de floração e localizado em uma área de capoeira foi utilizado como árvore focal. A copa da árvore foi dividida em três zonas, e cada uma destas foi observada por uma dupla de pesquisadores entre 6:00 e 10:00h. Deste modo, todas as inflorescências puderam ser observadas simultaneamente. Para cada uma das inflorescências presentes na árvore, foram determinados o número total de flores, número de flores maduras (flores completamente desenvolvidas, abertas ou não) e flores recém-abertas. Flores recém-abertas podem ser facilmente identificadas devido à sua coloração viva e o aspecto firme das pétalas. Cada visitante floral observado foi identificado, e foram registrados o horário e o número de visitas efetivas por inflorescência. Visitas efetivas foram consideradas aquelas em que o visitante pousou na corola da flor. Ao final do período de observação, inflorescências foram coletadas para medição e exame em laboratório. Regressões lineares simples foram utilizadas para investigar a relação entre o número de visitas e o número total de flores, flores maduras e recém-abertas. Resultados Observamos 64 inflorescências, que apresentaram em média 32 flores. O comprimento da corola nas flores estudadas variou entre 72 e 73,95 mm, o que indica uma polinização por beija- flores. Os principais visitantes florais observados foram himenópteros (abelhas e vespas, 73,3%), seguidos por beija- flores (Phaetornis sp., Florisuga mellifera e uma espécie não identificada, 20,6%) e pequena proporção de lepidópteros (borboletas, 6,1%) (Fig. 1). Observamos 131 visitas efetivas. Ocorreram dois períodos de maior freqüência de visitas, compreendidos entre 6:00-7:30h e 8:30-9:00h, o segundo pico coincidindo com um período de aumento da luminosidade e temperatura (Fig. 2). Os Hymenoptera, representados principalmente por vespas, visitaram uma maior quantidade de flores em diferentes inflorescências permanecendo por mais tempo na planta. Os beija-flores, apresentaram visitas mais rápidas e na maioria das vezes exploraram poucas inflorescências. Já os Lepidoptera, apresentaram uma menor freqüência de visitas, o que nos impossibilita de comentar sobre seu comportamento frente às inflorescências. Não foi observado um maior número de visitas em inflorescências com maior número total de flores (R2 = 0,020; p = 0,267; n = 64) ou maior número de flores abertas (R2 = 0,009; p = 0,457; n = 64). A relação entre o número de flores maduras e o número de visitas foi significativa (R2 = 0,099; p = 0,011;n = 64), mas esta relação foi altamente dirigida por apenas um ponto e desaparece quando este é retirado (R2 = 0,010; p = 0,426) (Fig. 4). Inflorescências com mais flores recém-abertas atraíram mais visitantes (R2 = 0,351; p = 0,001; n = 64) (Fig. 5). Outros artrópodes foram observados dentro de flores examinadas em laboratório: um díptero adulto, uma larva não identificada de inseto, e vários coleópteros adultos de uma 3), o que foi observado nos resultados do teste t que avaliaram os ����������������� ����������������� ����������������� ����������������� ����������������� ����������������� ����������������� ����������������� ����������������� ����������������� 0 20 40 60 80 100 Lep idoptera Trochilidae Hym enoptera Vis itantes P ro po rç ão d e vi si ta s (% ) n = 8 n = 96 n = 27 Fig. 1 – Frequência de visitas efetivas em inflorescências de Isertia hypoleuca Benth. em diferentes intervalos de tempo de observação. Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 7 estados das plantas em relação às classes de abundância de ácaros (c2 =67,8,gl= 6, p<0,001). Discussão Padrões florais têm influência sobre a atração de visitantes relacionada a exploração de recursos. Forças seletivas favorecerão aquelas características que maximizam a eficiência de transferência de pólen (Dobkiin 1984). Os resultados deste estudo indicam que visitantes florais em Isertia hypoleuca Benth.são atraídos primariamente por flores recém- abertas enquanto flores não disponíveis para visitas (flores fechadas) ou que oferecem baixa recompensa (flores velhas) não influenciam as taxas de visitação. É possível que a pilosidade amarela na corola de flores recém-abertas atuem como sinalizadores para visitantes florais, indicando a disponibilidade do recurso. A estratégia da planta em abrir apenas um pequeno número de flores diariamente pode assegurar um período mais longo de exposição a polinizadores, minimizando a perda de pólen e a autopolinização. Espécies de árvores tropicais têm em geral sistemas reprodutivos que favorecem a reprodução cruzada, como floração maciça na população mas seqüencial em cada indivíduo (Bawa 1974; Opler & Bawa 1978). Apesar de suas características ornitófilas, os principais visitantes de flores de Isertia. hypoleuca Benth. foram himenópteros. É importante levarmos em consideração o fato de que uma de nossas amostras foi extremamente visitada por indivíduos da ordem Hymenoptera, o que fez com que a média do número de visitantes por inflorescência fosse aumentada o que , consequentemente, provocou um desvio na reta representativa dos dados; por isso essa inflorescência não foi levada em consideração. Um grande número de beija-flores foi observado em um indivíduo de ingá (Inga sp.) florido ao lado da árvore focal. É possível que a grande disponibilidade de flores de ingá faça com que estas sejam um recurso mais recompensador que as inflorescências de I. hypoleuca Benth., que apresentavam apenas algumas flores abertas. É possível também, que o comprimento da corola de I. hypoleuca Benth. limite as espécies de beija- flores capazes de alcançar os depósitos de néctar em sua base. Outras espécies de rubiáceas, com flores brancas, amarelas ou azuis e odor agradável são polinizadas principalmente por mariposas, borboletas e abelhas (Ribeiro et al. 1999). Ácaros vivem em flores de Heliconia, onde se alimentam de néctar, copulam e se reproduzem, movem-se livremente pelas inflorescências e são também transportados em cavidades nasais de beija-flores (Colwell 1973, 1979 apud Dobkin 1984), podendo potencialmente servir como polinizadores (Dobkin 1984). Em Isertia hypoleuca Benth., foram observados indivíduos em amplexo e com variados padrões de tamanho e coloração, indicando que os ácaros se reproduzem nas flores. Flores fechadas não apresentaram ácaros, mas todas as flores recém-abertas examinadas continham grande quantidade, indicando que a colonização das flores se dá logo após a antese. Finalmente, flores demasiadamente velhas não apresentaram ácaros, sugerindo que estes migram para flores novas quando os recursos florais começam a se exaurir. Concluímos que o número de flores recém-abertas na inflorescência de Isertia hypoleuca Benth. é um fator relevante para a atração de visitantes florais, independente do número to- tal de flores presentes nas inflorescências. Referências Bibliográficas Bawa, K. S. 1974. Breeding systems of tree species of a lowland tropical community. Evolution 28:85-92. Opler, P. A., & K. S. Bawa.1978. Sex ratios in tropical forest tree. Evolution 32:812-821. 0 10 20 30 6:00- 6:30 6:30- 7:00 7:00- 7:30 7:30- 8:00 8:00- 8:30 8:30- 9:00 9:00- 9:30 9:30- 10:00 Horário % v is ita s ef et iv as 33 12 9 19 25 6 2 25 Fig. 2 – Frequência de visitantes observados em inflorescências de Isertia hypoleuca Benth. (tamanhos amostrais mostrados acima das barras). ��������� ��������� ��������� ��������� ��������� ��������� ��������� ������� ������ ������ ������ ������ ������ ������ ������ �������� �������� �������� ������� ������� ������� ������� 0 20 40 60 80 100 1 2 3 4 Estág io flora l Fl or es ( % ) ���� 0���� 1-50 >50 Classes de abundância: (n = 13) (n = 15) (n = 22) (n = 18) Fig. 3 – Abundância de ácaros em flores de Isertia hypoleuca Benth. em progressivos estágios de maturação. 1 – flores maduras fechadas, 2 – flores recém-abertas, 3 – flores abertas velhas com estames ainda firmes, 4 – flores abertas velhas com estames ressequidos (c2 =67,8,gl= 6, p<0,001). 0 10 20 30 40 Número de flores maduras 0 5 10 15 20 25 To ta l d e vi si ta s ef et iv as 55 555 3 33 4444 333 3 33 44 2 22244 Fig. 4 – Relação entre número de flores maduras e total de visitas efetivas em inflorescências de Isertia hypoleuca.Benth. 0 1 2 3 4 5 6 7 Número de flores recém-abertas 0 5 10 15 20 25 To ta l d e vi si ta nt es e fe tiv os 21212121212121212121212121212121212121212177 77 44 777 4 2 2 3 33 3 2 2 33 2 3 2 332 2 4 Fig. 5 – Relação entre número de flores recém-abertas e total de visitas efetivas em inflorescências de Isertia hypoleuca. 8 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 Dobkin, D. S. 1984. Flowering pattern of long lived Heliconia inflorescences: implications for visiting and resident nectarivores. Oecologia 64: 245-254. Feisinger, P. & Colwell, R. K. 1978. Community organization among neotropical nectar-feeding birds. American Zoologist 18:779-795. Lima, A. C., Jaimes A. A., Guilherme F. A. & Lima, R. C., 2000. Polinização de Dioclea sp (Leguminosae- Papilionoideae) em igapó do rio Negro: Disponibilidade de recursos e frequências de vizitas. Relatório apresentado no curso Ecologia da floresta Amazônica. Morato, E. 1993. Efeitos da fragmentação florestal sobre vespas e abelhas solitárias em uma área da Amazônia Central. Tese apresentada à Universidade Federal de Viçosa. Nee, M. 1995. Flora preliminar do projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF). New York Botanical Garden e INPA/ Smithsonian (PDBFF). Ribeiro, J. L et al. 1999. Flora da reserva Ducke. Página 625 in INPA- DFID. Scogin, R.,1983. Visible floral pigments and pollinators. Pp: 160-172. In: Jones E. C. and J. R. Little. Handbook of Experimental Pollination Biology. Van Nostrand Reinhold Inc. New York. Stiles, F. G. 1976. Taste preferences, color preferences, and flower choice in hummingbirds. Condor 78:10-26. Zimmerman M. 1988. Nectar Production, flowering phenol- ogy, and strategies for pollination. Pp: 157-178. In: Doust J. L.& L. L. Doust. Plant Reproductive Ecology. Oxford University Press, New York. Orientador Michael J. G. Hopkins Avaliação do efeito de borda em um fragmento de mata de terra firme da Amazônia Central utilizando índices de mortalidade de plantas lenhosas >10 centímetros de diâmetro Ludmila Pugliese de Siqueira, Maria Luisa Jorge, Verónica Cepeda, Adam Kaveh Bahrami, Marcio Uehara-Prado Introdução A demanda de área e recursos para o desenvolvimentode atividades econômicas gera a conversão de florestas tropicais contínuas em fragmentadas. Essa conversão resulta na perda de habitats e isolamento dos remanescentes. Todo esse processo causa a extinção de espécies nas áreas afetadas (Laurance & Bierregaard 1997). Uma das principais conseqüências da fragmentação é a formação de bordas, com características físicas e biológicas distintas daquelas encontradas no interior do fragmento. Vários estudos mostram, por exemplo, que fluxo de vento, incidência de luz, temperatura, umidade, taxa de decomposição, riqueza de espécies e interações bióticas variam de acordo com o gradiente borda-interior (e,g. Murcia 1995; Laurance et al. 2002). Em função das árvores serem os prinicipais produtores primários e por oferecem estrutura física e habitat para todos os outros organismos, processos envolvendo o nascimento e mortalidade de árvores condicionam a dinâmica da floresta. Um índice para quantificar essa dinâmica é a massa de madeira morta grossa (Coarse Woody Debris) (Franklin et al. 1987; Van Der Meer & Bongers 1996; Mesquita et al. 1999). Desta forma, pretendemos utilizar o índice de madeira morta para caracterizar o efeito de borda em um fragamento de 100 hectares numa mata de terra firme na Amazônia Central. Nosso estudo está baseado nas seguintes hipóteses: 1. O número de árvores mortas reduz conforme o gradiente borda-interior, porque a borda é um ambiente com condições mais extremas; 2. A massa de árvores mortas (a) aumenta ou (b) permanece constante no gradiente borda-interior (Fig. 1). M as sa d e M ad ei ra M or ta G ro ss a Distância da Borda A B M as sa d e M ad ei ra M or ta G ro ss a Distância da Borda A B Fig. 1: Curva esperada para massa total de madeira morta grossa. A = situação em que há efeito de borda. B = situação em que a área basal é compensada pelo número de indivíduos. A segunda hipótese se baseia na relação entre o número de indivíduos e a área basal: N = Número de Indivíduos; M = Massa / indivíduos i = Interior do Fragmento; b = Borda do Fragmento, sendo massa = área basal de árvores mortas em pé ou intersecção do transecto, para pedaços caídos) Se houver um grande número de indivíduos com área basal reduzida na borda, este número pode igualar a área basal total obtida no interior do fragmento. Esta área, é resultante de um menor número de indivíduos, porém com maior área basal. No outro caso, a área basal no interior ultrapassa os valores do somatório obtido na borda (Fig. 1). Σ Nb * Mb = Σ Ni * Mi Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 9 Material e Métodos Estudamos em um fragmento de 100 hectares da Fazenda Dimona, do Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (INPA/Smithsonian), a 70 Km a norte de Manaus, AM (02o30’ S, 60o W) (Gentry 1990). A temperatura média em Manaus é de 26,7o C e médias mensais flutuam na faixa de 2o C (Gentry 1990). Os meses mais chuvosos são março e abril (~ 300 mm cada). A estação seca se distribui entre os meses de julho a setembro sendo que cada um recebe menos de 100 mm de precipitação. As florestas desta região possuem altura média do dossel de 30 a 37m, com árvores emergentes de 45 a 50m, podendo atingir 55m. As quatro famílias vegetais mais abundantes são Burseraceae, Leguminosae, Lecythidaceae e Sapotaceae. A precipitação média anual em Manaus é de 2186 mm, com variação de 1900 a 2400 mm (N = 30) (Gentry 1990). O fragmento selecionado já apresentava um sistema de trilhas em grade (Fig. 2), perpendiculares às suas bordas. Selecionamos duas trilhas a 400 m da borda. Em cada uma delas caminhamos 500 m desde a borda até o interior do fragmento. Realizamos dois tipos de medidas: 1) Recenceamos todas as árvores mortas em pé com altura igual ou maior que 130 cm e diâmetro igual ou maior que 5 cm numa faixa de cinco metros dos dois lados da trilha; 2) Estabelecemos transectos de 30 m perpendiculares às trilhas. Em cada transecto contamos pedaços de madeira morta com diâmetro igual ou maior que 10 cm que o cruzavam. Para pedaços pertencentes a um mesmo indivíduo, os diâmetros eram somados. 0 200 400 400 200 00 200 400 400 200 00 200 400 400 200 0 Fig. 2. Diagrama esquemático da área de estudo, indicando os transectos de levantamento de madeira morta grossa em pé (·-·-·-) e caída (·····) em duas trilhas a 400 metros da borda do fragmento. Distância entre trilhas em metros. As variáveis dependentes foram número de indivíduos, diâmetro e área basal em função da distância da borda. Para os indivíduos em pé agrupamos os dados de número de indivíduos e área basal em classes de 100 m. Realizamos análises de regressão linear para o diâmetro e correlação de Spearman para o número de indivíduos e área basal por causa do tamanho amostral reduzido. Resultados Recenseamos 73 indivíduos mortos em pé e 42 pedaços de madeira mortas caídas. Com relação à variação no número de indivíduos, os resultados apresentaram uma tendência a diminuição no número de madeiras mortas grossas em pé e caídas em função da distância da borda (Fig. 3), sendo essa um pouco mais forte para as madeiras no solo (Correlação de Spearman: madeiras em pé: N=10, R = -0,150; madeiras caídas: N=12, R = -0,436). No entanto, as correlações não foram significativas em nenhum dos dois casos (madeiras em pé: p>0,25; madeiras caídas: 0,05<p<0,1). Em relação aos diâmetros, as madeiras mortas em pé apresentaram tendência a um pequeno aumento em função da distância da borda (Fig. 4). Já as árvores grandes caídas no solo não aumentam em diâmetro quanto mais próximo do interior. Não há tendência entre número de madeira morta caída e a distância da borda (Fig. 4) (Regressão linear: madeiras em pé: N=73, R2 = 0,026, p=0,169; madeiras caídas: N=42, R2 = 0,001, p=0,835). Como a área basal é uma função quadrática do diâmetro, as tendências foram muito semelhantes, mas um pouco mais acentuadas. No entanto, mais uma vez, não houve significância nos resultados (Correlação de Spearman: madeiras em pé: N=10, R = 0,271, p>0,1; madeiras caídas: N=12, R = -0,452, 0,05<p<0,1). 0 2 4 6 8 10 12 0-100 100-200 200-300 300-400 400-500 Classe de Distância (m) N o. d e m ad ei ra s m or ta s gr os sa s em p é Fig. 3 . Número de madeiras mortas grossas em pé em função da distância da borda, no fragmento de 100 hectares da Fazenda Dimona, Manaus, AM (losangos sólidos: trilha dos 400 m; quadrados abertos: trilha dos 600 m). 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 Distância (m) D iâ m et ro d as m ad ei ra s m or ta s gr os sa s em p é (m ) Fig. 4. Diâmetro das madeiras mortas grossas caídas em função da distância da borda, no fragmento de 100 hectares da Fazenda Dimona, Manaus, AM. Discussão Estudos sobre o efeito de borda demonstram que a mortalidade de árvores adultas aumento conforme o gradiente borda interior, com efeitos profundos na estrutura, dinâmica e função do ecossistema (Murcia 1995; Laurance et al. 2002). Com relação à estrutura, pode-se afirmar que a mortalidade de árvores na comunidade gera heterogeneidade de habitats, e conseqüente aumento na diversidade de recursos. Espera-se ainda que a mortalidade de ávores adultas resulte em um processo de sucessão, no qual espécies pioneiras iniciam a colonização, sendo posteriormente substituídas por espécies de crescimento 10 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 mais lento. O aumento na taxa de mortalidade de árvores é um componente importante dos ciclos de nutrientes e de carbono, uma vez que o organismo deixa de retirar nutrientes do solo e acumular carbono e passa a liberá-los para o solo e para a atmosfera. É possível que o constraste entre borda e interior tenha sido amenizado nos anos subseqüentes à fragmentação, dado que, árvores mortas caídas no solo representam eventos mais antigos do que árvores mortas em pé. Entretanto, é dificil determinar se tal efeito resulta deuma maior penetração do efeito da borda para o interior ou, se a própria heterogenidade do fragmento esteja suavizando as diferenças esperadas. Nossos dados de madeira morta, em concordância com a literatura, indicam que a borda é uma unidade verdadeira com uma estrutura e dinâmica diferente do que a do interior e da floresta contínua, como por exemplo com relação a composição de espécies e taxas de recrutamento. Esse efeito traz conseqüências para o funcionamento do fragmento, com provável perda dos serviços do ecossistema, além da extinção local de espécies. Nossos resultados, ainda que não significativos, indicam que mesmo depois de 18 anos de fragmentação ainda é possível observar o efeito de borda sobre o número de árvores que morrem. Encontramos mais árvores mortas próximas à borda, o que poderia criar ambientes mais perturbados, favorecendo o estabelecimento de espécies pioneiras. Finalmente, poderíamos esperar que indivíduos caídos representam eventos de mortalidade mais antigos. Nossos resultados sugerem que o contraste entre borda e interior sobre o número de árvores mortas diminuiu desde o início da fragmentação. Isto pode decorrer de uma atenuação ou expansão do efeito de borda. Nossos dados não permitem este tipo de avaliação, porém Laurance et al. (2002) afirmaram que o efeito de borda sobre a mortalidade de árvores adultas pode chegar a 300 metro da borda, corroborando a idéia de expansão da borda no fragmento por nós estudado. Este estudo indica, portanto, a importância de não somente determinar o efeito de borda para diferentes processos e organismos, como também avaliar a expansão ou atenuação desse efeito ao longo do tempo. Agradecimentos Agradecemos ao Sr. Ocírio (Juruna) pela ajuda no campo e ao Sr. Lô Borges e o seu girassol pela inspiração. Referências Bibliográficas Franklin, J.F; Shugart, H.H. & Harmon M.E. (1987) Tree death as an ecological process. Bioscience, 37, 550-556. Gentry, A.H. (1990) Four Neotropical Rainforests. Yale Universisty Press, New Haven e Londres. 627p. Laurance, W.F. & Bierregaard, R.O. (1997) Tropical Forest Remnants: ecology, management and conservation of fragmented communities, The University of Chicago Press, Chicago. 616p. Laurance, W.F.; Lovejoy, T.E.; Vasconcelos, H.L.; Bruna,E.M.; Didham, R.K.; Stouffer, P.C.; Gascon, C.; Bierregaard, R.O.; Laurance, S.G.& Sampaio, E. (2002) Ecosystem decay of Amazonian forest fragments: a 22- year investigation. Consevation Biology, 16, 605-618. Mesquita, R.C.G.; Delamonica, P. & Laurance, W.F. (1999) Effect of surrounding vegetation on edge-related tree mortality in Amazonian forest fragments, Biological Conservation, 91, 129-134. Murcia,C. (1995) Edge effects in fragmented forests: implications for conservation, Trends in Ecology and Evolution, 10, 58-62. Van Der Meer, P.J. & Bongers, F. (1996) Patterns of tree-fall and branch-fall in a tropical rain forest in French Guiana, Journal of Ecology, 84 19-29. Orientador David Clark Seleção de habitats por larvas de Progomphus sp. (Odonata: Gomphidae) no igarapé da Dimona, Manaus, AM. Ana Maria Pes, Daniel R. Scheibler, Jean C. Santos, Leandro M. Sousa & Lily Arias Introdução Insetos aquáticos devem selecionar microhabitats em função da disponibilidade de algum recurso, como locais de maior oxigenação da água, disponibilidade de alimento, abrigo contra predadores ou locais mais adequados para captura de presas (Allan 1995). Outros fatores ambientais também podem afetar a distribuição destes organismos, como a velocidade e a profundidade da água e o tipo de substrato. Além disso, a disponibilidade de alimento pode, também, controlar a própria ocorrência e abundância das espécies (Hynes 1970 apud Kikuchi & Uieda 1998). Gomphidae é um grupo de Odonata amplamente distribuído, encontrado ao longo das margens de rios, lagos e lagoas. Os adultos têm freqüentemente entre 5 e 8 cm de comprimento, coloração escura e manchas amareladas ou esverdeadas no tórax e abdômen (Borror & DeLong 1988). As larvas são fossoriais e predadoras, apresentando comportamento de espreita para capturar presas (Merrit & Cummins 1984). Esta família apresenta adaptações morfológicas para se enterrar, principalmente para capturar presas, sendo que o uso de microhabitats por esses organismos pode ser um fator determinante para o uso de recursos entre as espécies (De Marco Jr & Latine 1998). Dentro dessa família encontra-se o gênero Progomphus, cujas larvas são quase que exclusivamente de águas correntes (Carvalho & Nessimian 1998) e possivelmente encontram-se distribuídos localmente de acordo com algumas características bióticas e abióticas. O escopo do presente estudo foi determinar se existe seleção de habitat em larvas de Progomphus sp. no igarapé da Dimona, Manaus, AM. Para tal, testamos os efeitos da correnteza, da profundidade e do tipo de substrato na distribuição das larvas desta espécie, pois estas poderiam ser mais abundantes quanto menor a correnteza e a profundidade, fatores estes que influenciam o tipo de substrato. Material e Métodos O estudo foi realizado num igarapé de segunda ordem da Fazenda Dimona (02o20’19’’S e 60o06’09’’W), localizado no município de Manaus, Amazonas, em julho de 2002. O curso d’água em questão faz parte da bacia de drenagem do rio Cuieiras, e situa-se em um corredor entre fragmentos florestais. As coletas foram realizadas em 41 pontos ao longo de um trecho de 200 m no igarapé. Amostramos três tipos de substratos (areia, areia com folhiço e areia com sedimentos) com o auxílio de uma peneira plástica (18 cm de diâmetro e malha de 1 mm). Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 11 O mesmo coletor buscou padronizar cada amostragem controlando a mesma quantidade de material retirado pela peneira. Estimamos a profundidade com o auxílio de uma trena e a correnteza foi mensurada soltando-se uma laranja e cronometrando o intervalo de tempo necessário para que esta percorresse um espaço de um metro. Para ambas, obtiveram-se as médias de 3 medidas para cada ponto de amostragem. Após a coleta, as larvas foram identificadas e posteriormente devolvidas ao igarapé de origem. A relação entre a abundância relativa de Progomphus sp. e o tipo de substrato foi testada por meio de uma ANOVA de um fator e a ocorrência de larvas em função da profundidade e da correnteza por meio de regressão logística. Resultados A profundidade do igarapé estudado variou entre 4,7 e 60 cm e a correnteza superficial entre 0 a 0,5 m/s. Foram coletadas 41 larvas de Progomphus sp. nos três tipos de ambiente: oito na areia, 15 na areia com folhiço e 18 na areia com sedimento. A abundância de larvas foi diferente para os três microhabi- tats (F = 4,719; gl = 2; p = 0,015) (Fig. 1). As larvas foram menos abundantes na areia em relação aos outros ambientes (F = 7,615; gl = 1; p = 0,009), sendo que a probabilidade de ocorrência de larvas de Progomphus sp. foi três vezes maior nos locais onde ocorre o sedimento ou folhiço do que na areia. No entanto, não houve diferença na abundância de larvas entre os locais com sedimento e com folhiço (F = 2,307; gl = 1; p = 0,137). Tipo de Substrato 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 2,4 2,8 Areia Areia+folhiço Areia+sedimento In di ví du os /A m os tra s N=9 N=14 N=18 Fig. 1. Abundância de larvas de Progomphus sp. em função do tipo de substrato em um trecho de igarapé da fazenda Dimona, Manaus, AM. Os pontos representam as médias e as barras o erro padrão da média. Foi ainda observado que a presença de larvas diminuiu consideravelmente com o aumento da velocidade da corrente (x2 = 4,295; gl = 1; p = 0,028) (Fig. 2), assim como em relação à profundidade da água (x2 = 11,78; gl = 1; p < 0,001) (Fig. 3). Correnteza (m/s) Pr op or çã o de a m os tra s co m Pr og om ph us s p. 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 Fig. 2. Proporção de amostras com presença de Progomphus sp. de acordo com a correnteza em um trecho de igarapé da fazenda Dimona, Manaus, AM. Os pontosrepresentam as médias e as barras o erro padrão da média. N=16 N=2 N=12 N=10 N=1 Profundidade (cm) Pr op or çã o de a m os tra s co m P ro go m ph us s p. 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 0 1 2 3 4 5 60 605040302010 Profundidade (cm) N=11 N=8 N=19 N=2 N=1 Fig. 3. Proporção de amostras com presença de Progomphus sp. de acordo com a profundidade em um trecho de igarapé da fazenda Dimona, Manaus, AM. Os pontos representam as médias e as barras o erro padrão da média. Discussão Em ambientes lóticos, diversos fatores atuam na morfologia e composição do substrato, entre eles, a correnteza e a profundidade. Segundo Whitton (1975 apud Kikuchi & Uieda 1998), a velocidade da corrente pode agir sobre a natureza do substrato e, deste modo, atuar indiretamente sobre a composição das comunidades de macroinvertebrados. Além disso, a disponibilidade de alimento pode controlar a ocorrência e abundância de espécies, as quais estão presentes em locais com maior disponibilidade de alimento (Hynes 1970 apud Kikuchi & Uieda 1998). Em sistemas lóticos, a dinâmica da corrente determina a deposição do substrato, como areias mais grossas nas áreas de maior correnteza e deposição de folhas e sedimento fino em áreas de baixa velocidade. O acúmulo de matéria orgânica nesses locais permite que outros invertebrados, de hábitos fragmentadores e detritívoros, se estabeleçam nestes locais. Walker (1987 apud Cleto Filho & Walker 2000) estudou a colonização de serrapilheira submersa em cursos d’água de terra firme na Amazônia e observou que os substratos de folhas fo- ram colonizadas rapidamente por macroinvertebrados bentônicos. Em outro trabalho, a mesma autora (Walker 1998) cita que larvas de Anisoptera são importantes predadores de Chironomidae na Amazônia central. Sabendo-se que larvas de Chironomidae são presas potenciais para as larvas de Progomphus sp. e estão presentes em áreas com acúmulo de matéria orgânica no substrato (folhiço, sedimento, etc.), podemos concluir que tal fator pode ser funda- mental para seleção de um determinado microhabitat nesta espécie. Agradecimentos Ao Dr. Paulo De Marco Jr. pela orientação e apoio no desenvolvimento do trabalho, ao Dr. Jansen Zuanon pelas sugestões nas amostragens, ao Fernando Mendonça pelo auxílio na separação do material de coleta e aos colegas de curso pelos momentos de discussão e descontração. Referências Bibliográficas Allan, J.D. 1995. Streams ecology. Structure and function of running waters. Chapman & Hall, London, 388p. Borror, D.J. & DeLong, D.M. 1988. Introdução ao estudos dos insetos. Edgard Blücher, São Paulo, 653p. Cleto Filho, S.E.N. & Walker, I. 2000. Efeitos da ocupação urbana sobre a macrofauna de invertebrados aquáticos em um igarapé da cidade de Manaus/AM, Amazônia Central. Acta Amazonica, 31(1)69-89. De Marco Jr. P. & Latini, A.O. 1998. Estrutura de guildas e riqueza de espécies em uma comunidade de larvas de 12 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 Anisoptera (Odonata). (p.113-128). In: Nessimian, J.L. & Carvalho. E. A.L. (eds). Ecologia de insetos aquáticos. Série Oecologia Brasiliensis, vol. V. PPGE-UFRJ. Rio Janeiro. Carvalho, A.L. E. & Nessimian, J.L. 1998. Odonatas do Estado do Rio de Janeiro, Brasil: hábitats e hábitos de larvas. (p.113-128). In: Nessimian, J.L. & Carvalho. E. A.L. (eds). Ecologia de insetos aquáticos. Série Oecologia Brasiliensis, vol. V. PPGE-UFRJ. Rio Janeiro. Kikuchi, R.M. & Uieda, V. 1998. Composição da comunidade de invertebrados de um ambiente lótico e sua variação espacial e temporal.(p. 157-173). In: Nessimian, J.L. & Carvalho. E. A.L. (eds). Ecologia de insetos aquáticos. Série Oecologia Brasiliensis, vol. V. PPGE-UFRJ. Rio Janeiro. Merritt, R.W. & Cummins, K.W. 1984. An introdution to the aquatic insects of North America. 2 ed., Kendall/Hunt, Dubuque, 722p. Walker, I. 1998. Population dynamics of Chironomidae (Diptera) in the central amazonian blackwater river Tarumã-Mirim (Amazonas, Brasil).(p. 225-252). In: Nessimian, J.L. & Carvalho. E. A.L. (eds). Ecologia de insetos aquáticos. Série Oecologia Brasiliensis, vol. V. PPGE-UFRJ. Rio Janeiro. Orientador Paulo De Marco Jr Controle da estrutura de colônias de formigas Azteca alfari (Hymenoptera, Formicidae) pela mirmecófita Cecropia purpurascens (Cecropiacea) Elaine Maria Lucas Gonsales, Felipe Pimentel Lopes de Melo, Gustavo Quevedo Romero, Karl Mokross e Sunshine Menezes Introdução Os herbívoros podem afetar diretamente a aptidão das plantas por meio do consumo de folhas e sementes e indiretamente através de interações com polinizadores e dispersores de sementes. Como contra adaptação, as plantas desenvolveram uma variedade de defesas químicas e físicas contra herbívoros (Begon et al. 1990). Várias plantas tropicais evoluíram mutualismos com formigas, onde formigas especializadas produzem abrigo e/ou alimento para formigas que, por sua vez, combatem herbívoros (Hölldobler & Wilson 1990). Nas florestas neotropicais, espécies de plantas do gênero Cecropia freqüentemente abrigam formigas especializadas do gênero Azteca. Estas plantas fornecem abrigo (domáceas) e alimento (corpúsculos de Müller) para as formigas (Janzen 1973). Em troca, estes predadores ajudam a manter suas plantas hospedeiras livres de trepadeiras e a reduzir o ataque de insetos herbívoros (Janzen 1967 apud Janzen 1973). Segundo Fonseca (1999), o crescimento da colônia de formigas que vivem em domáceas é freqüentemente limitado pelo espaço disponível para nidificação. Este trabalho teve como objetivo avaliar usando correlação 1) quais características da planta Cecropia purpurascens afetam o tamanho das colônias de Azteca alfari, 2) se a taxa de herbivoria diminui em função do número de formigas e 3) como estas formigas estão organizadas das plantas. Material e Métodos O presente trabalho foi desenvolvido na capoeira margeando a estrada de acesso ao acampamento do Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais da Fazenda Dimona (2º 20’ S; 60º 6’ W), Manaus (AM) em julho de 2002. Foram coletadas e medidas oito plantas sub-adultas de Ce- cropia purpurascens variando de 0,3 a 7 m de altura, sem ramificações laterais. Cada árvore foi cortada próximo ao chão e colocada sobre um lençol branco, onde foi aberta e as formigas operárias foram contadas e mortas para evitar recontagens. Altura total, número de entrenós (que são ocos), biomassa total de folhas, diâmetro a 10 cm do chão e percentual médio de área foliar removida (herbivoria) foram estimados para cada planta. A biomassa (peso fresco) de folhas foi medida logo após a coleta da planta usando um dinamômetro Pesola com capacidade de 600 g. A biomassa foi usada como um índice de atividade fotossintética possivelmente relacionada à quantidade de recurso (corpúsculos müllerianos) disponíveis às formigas. Estas variáveis foram correlacionadas com o número de formigas por meio de regressão múltipla. Os caules de cada planta foram inspecionados para investigar como as formigas estão organizadas dentro da planta. Resultados As plantas amostradas variaram em altura de 0,33 a 6,82 m, o número de entrenós de 4 a 83 e a biomassa das folhas de 43 a 3510 g. De acordo com as análises de regressão múltipla, plantas maiores e com maior número de entrenós tiveram maior número de formigas (Fig. 1A, Tab. 1). Em contraste, não houve relação significativa entre biomassa das folhas das plantas e número de formigas (Fig. 1B, Tab. 1). Também, nenhuma relação positiva existiu entre diâmetro da base do tronco e número de formigas numa planta (Tab. 1). A porcentagem média da área foliar removida não correlacionou com o número de formigas (Fig. 2, t = 0,32; P = 0,760). Ovos e pupas da formiga A. alfari se localizaram no interior dos troncos, principalmente na parte superior dos entrenós, próximos aos nós. Acúmulos de material escuro em torno de 1 centímetro de diâmetro e 1 milímetro de espessura existiam nas paredes internas dos caules. Este material consistia de partes de formigas mortas (pernas, cápsulascefálicas) e misturado em material amorfo que talvez represente fezes e outros dejetos em decomposição. Estes depósitos foram considerados como lixeiras onde as operárias depositam dejetos gerados pela colônia. Discussão Os resultados mostraram claramente que o tamanho de Ce- cropia purpurascens está estatisticamente relacionado ao tamanho da colônia de Azteca alfari, e que outras características da planta, como diâmetro do tronco e biomassa das folhas pareceram não afetar o tamanho destas colônias. Fonseca (1999) verificou que o espaço oferecido por várias espécies de plantas mirmecófitas correlacionou positivamente com o tamanho das colônias das formigas ocupantes. Além disso, assim como no presente estudo, Fonseca (1999) verificou que a maior parte das plantas desocupadas foram árvores jovens. A ausência de uma relação entre biomassa de folhas e número de formigas pode ser devido ao tamanho amostral reduzido. A falta de uma relação entre tamanho da colônia e dano foliar pode ter a mesma causa. Em Cecropia pachystachya na Bahia a taxa Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 13 A) R2 = 0,5559 0 500 1000 1500 2000 2500 0 200 400 600 800 Altura da planta (cm) N o. d e fo rm ig as B) R2 = 0,1216 0 500 1000 1500 2000 2500 0 1000 2000 3000 4000 Biomassa foliar (g) N o. d e fo rm ig as Fig. 1. Relação entre número de formigas e altura da planta (A), e biomassa foliar (B) Tab. 1. Analises de regressão múltipla entre variáveis independentes e o número de formigas A. alfari. Efeito Erro Padrão Teste t P Constante 176,17 0,14 0,897 Altura (m) 2,37 6,69 0,007 Biomassa (g) 0,29 0,65 0,508 Diâmetro da Base (mm) 238,34 -2,20 0,113 Segmentos (no.) 18,83 -3,82 0,032 R2 = 0,0168 0 5 10 15 20 25 30 0 500 1000 1500 2000 2500 No. de formigas % m éd ia d a bi om as sa re m ov id a Fig. 2. Relação entre número de formigas A. alfari e dano foliar atribuída à hervbivoria em C. purpurascens Fig. 3. Vista transversal do tronco superior de Cecropia purpurascens mostrando os triquílios contendo corpúsculos müllerianos nas bases dos pecíolos, uma entrada ao entrenó oco usado como domácea pelas formigas e a sua localização dentro de um ninho de Azteca alfari. 14 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 de herbivoria correlaciona negativamente com o tamanho das colônias de Azteca muelleri. (Rocha & Bergallo 1992). Na amostra do presente trabalho, a planta mais alta apresentava danos por pica-paus. Estas aves predam formigas e podem ter afetado o tamanho da colônia, interferido na análise de regressão. Junto às colônias de cada planta foram observadas várias lixeiras. Em geral, formigas tiram carcaças das presas e formigas mortas do espaço físico do ninho (Hölldobler & Wilson 1990). Parece que A. alfari está acumulando matéria orgânica no inte- rior da planta. Estas lixeiras podem ser digestores que produzem e liberam amônia e CO2 e podem estar sendo absorvidos pela planta. Se isto for confirmado, será mais uma característica mutualística desta interação simbiótica entre plantas e formigas. Literatura Citada Begon, M., J. L. Harper e C. R. Touwsend. 1990. Ecology. Blackwell Scientific Publications, Boston. Hölldobler, B. e E. O. Wilson 1990. The ants. Belknap Press, Cambridge, Massachusetts. Janzen, D. H. 1967. Interaction of the bull’s-horn acacia (Acacia cornigera L.) with an ant inhabitant (Pseudomyrmex ferruginea F. Smith) in eastern Mexico. Univ. Kans. Sci. Bull. 47:315-558. Janzen, D. H. 1973. Dissolution of mutualism between Cecropia and its Azteca ants. Biotropica 5:15-28. Laurence, W. 2001. The hiper-diverse flora of the Central Amazon: an overview. Pages Pp. 47-53 In R. O. Bierregaard Jr., C. Gascon, T. E. Lovejoy e R. Mesquita. Lessons from Amazonia. The ecology and conservation of a fragmented forest. Yale Univ. Press, New Haven, Conn. Fonseca, C. R. 1999. Amazonian ant-plant interactions and the nesting space limitation hypotesis. J. Trop. Ecol. 15:807- 825. Rocha, C. F. D. and H. G. Bergallo. 1992. Bigger ant colonies reduce herbivory and herbivore residence time on leaves of an ant-plant: Azteca muelleri vs. Coelomera ruficornis on Cecropia pachystachya. Oecologia 91:249-252. Grupo 4 – Projeto de equipe 1 Elaine Maria Lucas Gonsales, Departamento de Ecologia, Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo, CP 05508- 900, São Paulo-SP, Brasil. Felipe Pimentel Lopes de Melo, Universidad Federal de Pernambuco Gustavo Quevedo Romero. Depto. de Zoologia, IB, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), CP 6109, CEP 13083-970 Karl Mokross, Departamento de Ecologia, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, CP: 478, 67899-000, Manaus-AM, Brasil. Sunshine Menezes, Departamento de Oceanografia, Universidade de Rhode Island, Narragansett, RI 02882 EUA Orientador Woody Benson Flávia Monteiro Coelho, Maria Cecilia Vega, Max Hidalgo, Renata Durães e Ricardo Machado Darigo Introdução Modificações nas condições ambientais influenciam os padrões de ocorrência e abundância de muitos organismos de vida curta nos trópicos (Vollrath 1986 apud Venticinque 1995). Muitos estudos têm demonstrado que a estrutura física do ambiente influencia a distribuição e diversidade de aranhas em diferentes habitats. Dentre outros fatores que influenciam a ocorrência e distruibuição dos grupos de aranhas estão a disponibilidade de presas, densidade de predadores e condições microclimáticas. Muitas aranhas constróem teias para a captura de presas que dependem freqüentemente de características estruturais do habitat (Riechert & Gillespie 1986, apud Uetz 1991). O tipo de substrato e a densidade de plantas suporte são de grande importância para o estabelecimento das teias, e podem ter influência marcante nas taxas de crescimento e mortalidade (Uetz 1991). Estas teias podem apresentar diferentes padrões estruturais, que geralmente não são alterados durante o desenvolvimento do indivíduo, podendo ser utilizados na identificação taxonômica de várias famílias ou gêneros (Eberhard 1990). A presença de troncos de árvores em habitats florestais pode favorecer o estabelecimento de teias disponibilizando diferentes microhabitats. Ao se comparar abundância de teias localizadas perto de troncos de árvores em pé (vivas), troncos caídos e solo sem troncos, uma primeira hipótese é de que troncos são importantes superfícies de fixação para as teias de vários grupos de aranhas tecedoras (Hipótese do suporte). Neste caso, espera- se que haja mais teias perto de troncos (em pé ou caídos) do que no solo. Uma segunda hipótese é de que troncos de árvores caídas forneceriam um microhabitat mais úmido devido à retenção da água e redução de ervapotranspiração (Hipótese da umidade). Neste caso, espera-se uma maior abundância de teias perto de troncos caídos em relação a troncos em pé ou chão. Uma terceira hipótese é de que a copa de árvores vivas fornecem proteção contra danos físicos como chuva e queda de galhos de outras árvores para as teias (Hipótese da proteção), esperando- se que mais teias ocorram associadas com troncos em pé em relação a troncos caídos ou solo. Os objetivos do nosso estudo foram: (a) testar a existência de um “efeito tronco” para aranhas; (b) caso o “efeito tronco” seja detectado, avaliar qual(ais) dentre as três hipóteses (suporte, umidade e proteção) apresentadas poderiam ser responsáveis por este. A eliminação das três hipóteses indicaria que outros fatores (p. ex., predação, disponibilidade de presas), não avaliados, poderiam ser responsáveis por tal efeito. Material e Métodos Realizamos o presente trabalho na área da empresa Mil Madeireira Itacoatiara Ltda., no município de Itacoatiara (AM, 02o43’-03o04’ S e 58o31’-58o57’ W). O estudo foi conduzido em uma área de mata de terra firme onde foi empregado corte seletivo de madeira há seis anos. Utilizamos parcelas de 0,5 X 0,5 metros com altura de 30 cm estabelecidas em áreas de solo sem troncos, adjacentes a troncos caídos e troncos em pé observados a partir daestrada,. conforme percorríamos a área de manejo. Apenas troncos com no mínimo 30 cm de diâmetro foram incluídos no estudo. Para possibilitar a visualização das teias, polvilhamos amido de milho sobre as parcelas. Identificamos então as teias ao menor nível taxonômico possível e as contamos. Posteriormente, Existe um “efeito tronco” para a comunidade de aranhas? Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 15 dividimos as parcelas contendo troncos em duas subparcelas de 0,5 X 0,25 e altura 30 cm, uma localizada mais perto do tronco (PT) e outra mais distante (DT). As teias foram contadas separadamente em cada uma destas subparcelas. Este procedimento foi tomado para se avaliar mais detalhadamente a hipótese suporte, uma vez que, se esta hipótese for correta, espera-se maior abundância de teias nas parcelas mais próximas do tronco. Também observamos as teias encostadas nos troncos nas parcelas perto do tronco (PT) para determinarmos em quais dos grupos taxonômicos o fator suporte determina ou não a existência do “efeito tronco”. Testamos as diferenças em abundância de teias em cada um dos três habitats para os grupos taxonômicos identificados, e também para cada um dos grupos mais abundantes, separadamente. Posteriormente, testamos diferenças na abundância de teias nas subparcelas próximas e distantes de troncos, e ainda para aquelas encostadas nos troncos. Para tanto, utilizamos testes de Qui-quadrado, pois como as variáveis são de contagem, avaliamos que refletem melhor a ocorrência do que propriamente uma quantificação. Além disso, este é um teste adequado e poderoso para comparação de freqüências observadas e esperadas (Zar 1984; Williams 1993). Resultados Amostramos 50 parcelas de solo, 51 de troncos em pé e 47 de troncos caídos, onde encontramos um total de 792 teias pertencentes a 18 grupos taxonômicos diferentes (Tab. 1). Os grupos mais abundantes foram Anapidae, Linyphiidae, Mysmena sp., Theridiosomatidae, Pholcidae e Olgunius sp. Considerando a abundância total de teias, encontramos que as parcelas com troncos em pé (N=334) e caídos (N=290) apresentaram mais teias que parcelas de solo (N=168) (Ç2 = 56.6, gl = 2, p < 0.001, N = 792), indicando a existência de um “efeito tronco”. Entretanto, não verificamos diferença entre os habitats de tronco caído e em pé (Ç2 = 0.552, gl = 1, p > 0.05, N = 624). Ao testarmos o “efeito tronco” para os grupos mais abundantes separadamente, observamos um maior número de teias em parcelas com troncos para Anapidae, Linyphiidae, Theridiosomatidae e Pholcidae, mas não para Mysmena sp. e Olgunius sp. (Tab. 2). Para nenhum dos quatro grupos que mostraram “efeito tronco” houve diferença em abundância en- tre parcelas com troncos em pé e troncos deitados (Tab. 3). A abundância de teias não diferiu entre subparcelas mais próximas ou mais distantes dos troncos quando todos os grupos taxonômicos foram considerados (÷2 = 3.45, gl = 1, p > 0.05). Dentre os seis grupos mais abundantes, apenas para Lyniphidae e Pholcidae esta diferença foi significativa (Tab. 4). Ocorreram mais teias de Lyniphidae na parcela mais distante do tronco (PT: N = 22; DT: N = 39), enquanto mais teias de Pholcidae foram registradas na parcela adjacente ao tronco (PT: N = 33; DT: N = 9). Quando analisamos a abundância de teias encostadas nos troncos, verificamos que para determinados grupos existe um número diferente de indivíduos nesse espaço que o esperado. Isso foi significativo tanto para os grupos Mysmena sp e Pholcidae, que apresentaram um maior número de indivíduos que o esperado, como para Dipluridae e Chrysometa sp., que apresentaram um menor. Entretanto o número de amostras para os dois últimos grupos foi muito baixo, o que não nos permite considerá-las separadamente. Tab. 1. Abundância de teias de aranhas e ocorrência (em parênteses) registradas em parcelas de solo sem troncos, com troncos em pé ou troncos caídos em uma área de mata de terra firme próxima a Manaus, em julho/2002. Grupo Parcelas Total Taxonômico Solo Troncos em pé Troncos caídos Anapidae 37 (20) 88 (29) 74 (34) 199 Linyphidae 22 (15) 52 (27) 40 (15) 114 Mysmena sp. 23 (10) 35 (18) 39 (15) 097 Theridiosomatidae 17 (10) 32 (12) 40 (18) 089 Pholcidae 09 (06) 44 (16) 31 (10) 084 Olgunius sp. 24 (16) 24 (16) 35 (18) 083 Theridiidae 21 (10) 30 (10) 09 (05) 060 Micrathena sp. 04 (04) 07 (05) 06 (04) 017 Chrysometa sp. 04 (02) 06 (04) 04 (03) 014 Sp 2 00 (00) 02 (01) 06 (03) 008 Dipluridae 00 (00) 04 (02) 02 (02) 006 Spilasma sp. 04 (04) 02 (01) 00 (00) 006 Uloborus sp. 03 (03) 01 (01) 01 (01) 005 Sp 1 00 (00) 01 (01) 03 (00) 004 Eustala sp. 00 (00) 01 (01) 00 (00) 001 Cyclosa sp. 00 (00) 04 (04) 00 (00) 001 Ctenydae 00 (00) 01 (01) 00 (00) 001 Total 168 334 290 792 Tab. 2. Comparação entre abundância de teias para os grupos taxonômicos mais abundantes de aranhas entre parcelas sem tronco, com troncos em pé ou troncos caídos. Grupo Taxonômico N χ21 P Anapidae 199 20.9 <0.001 Linyphiidae 114 11.6 <0.01 Mysmena sp. 97 5.2 >0.05 Theridiosomatidae 89 10.6 <0.01 Pholcidae 84 21.8 <0.001 Olgunius sp. 83 4.2 >0.05 Tab. 3. Comparação entre abundância de teias para quatro grupos taxonômicos de aranhas apresentando “efeito tronco”, entre parcelas com troncos em pé ou troncos caídos. Grupo Taxonômico N χ21 P Anapidae 162 1.5 >0.05 Lyniphiidae 92 1.8 >0.05 Theridiosomatidae 72 1.7 >0.05 Pholcidae 75 1.3 >0.05 Tab. 4. Comparação entre abundância de teias entre subparcelas mais próximas ou mais distantes de troncos para os grupos taxonômicos de aranhas mais abundantes. Grupo Taxonômico N χ2 P Anapidae 72 3,5 >0.05 Linyphiidae 61 4,7 <0.05 Mysmena sp. 36 0,0 >0.05 Theridiosomatidae 36 1,0 >0.05 Pholcidae 42 13,7 <0.05 Olgunius sp. 32 1,1 >0.05 16 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 Tab. 5. Comparação entre abundância de teias encostadas nos troncos para os grupos taxonômicos de aranhas em parcelas com troncos em pé ou troncos caídos. Grupo Taxonômico N χ2 p Mysmena sp. 19 12,8 < 0,01 Pholcidae 19 12,8 < 0,01 Anapidae 14 3,5 > 0,05 Theridiosomatidae 11 0,7 > 0,05 Linyphidae 10 1,1 > 0,05 Olgunius sp. 10 1,1 > 0,05 Theridiidae 08 0,0 > 0,05 Dipluridae 02 5,0 < 0,05 Chrysometa sp. 01 6,7 < 0,01 Total dos grupos 94 23,8 < 0,01 Discussão Nossos resultados mostraram a presença de um “efeito tronco” no estabelecimento de teias por aranhas, sobretudo para os grupos Anapidae, Linyphidae, Theridiosomatidae e Pholcidae. Toppa et al. (1998) encontraram mais teias de Mysmena sp. e Chrysometa sp. perto de troncos deitados, suportando também a idéia de que existe um “efeito tronco” no estabelecimento de teias de aranhas tecedoras. Por outro lado, nesse estudo, esses grupos não apresentaram um “efeito tronco”. As observações feitas indicam que aranhas selecionam sítios com troncos para a construção de teias, e os resultados corroboram a hipótese de que o fator suporte seja importante para a ocorrência dos grupos taxonômicos. Como não encontramos diferenças entre troncos caídos e em pé podemos considerar que também não deve existir um efeito da umidade e da proteção contra danos. Caso a umidade fosse importante esperaríamos que troncos caídos apresentassem um maior número de teias por grupo taxonômico. E se a proteção contra danos fosse importante os troncos em pé apresentariamm um maior número de teias por grupo taxonômico, devido ao fato de que a copa dessas árvores reduziriam o impacto da chuva e queda de galhos, por exemplo. De acordo com os resultados das subparcelas pudemos verificar que para Pholcidae o suporte é um fator importante, visto que a maioria das teias desse grupo localizaram-se nos 25cm próximos do tronco. Teias de Lyniphidae foram registradas nas subparcelas mais distantes do tronco, o que deve estar relacionado com a estrutura plana horizontal. Para as demais espécies, outros fatores devem estar influenciando a distribuição. Neste estudo, as três hipóteses levantadas foram avaliadas indiretamente. Deste modo, é importante considerarque a preferência de aranhas por sítios com troncos possa se dever a outros fatores não avaliados, como disponibilidade de presas, susceptibilidade à predação e/ou, outros fatores relacionados com o microhabitat. É possível, por exemplo, que troncos forneçam um ambiente sombreado que dificultaria a visualização das teias por presas ou predadores. De acordo com a análise sobre os grupos que têm maior tendência a fixarem suas teias aos troncos das árvores podemos verificar que os indivíduos de Pholcidae devem apresentar um forte “efeito tronco,” uma vez que a necessidade de suportes adequados é suprida junto aos troncos. Já Mysmena sp., apesar de não mostrar o mesmo efeito, quando ocorrem próximos aos troncos, têm grande tendência a encostarem suas teias, por outros motivos que não suporte. Concluímos que o “efeito tronco” é variável entre grupos taxonômicos de aranhas. Enquanto uma grande parte deles parece apresentar preferência por sítios perto de troncos, este não é um padrão geral. Mais importante, as causas pelas quais aranhas podem selecionar sítios perto de troncos para o estabelecimento de teias também parecem variar entre grupos. Assim, diferentes espécies podem responder diferentemente à presença e natureza de troncos, dependendo, por exemplo, da forma e arranjo de suas teias, tipo de presas consumidas e estratégias de forrageamento e fuga de predadores. Referências Bibliográficas Eberhard W. G. 1990. Function and Phylogeny of Spider Webs. Annual Review of Ecology and Systematics, 21: 341-372. Toppa, R. H.; Pacheco, S; Castilho, C. V.; Sá, F. N. e Sawaya, R. J. 1998. Os troncos caídos afetam a presença de aranhas tecedoras de teias do sub-bosque? Pp 33-34. In: Scariot, A. e E. Venticinque. Ecologia da Floresta Amazônica. Uetz,G.W. 1991. Habitat structure and spider foraging Pp.325-348. In: Bell, S.S., E.D. McCoy and H.R. Muchinsky (eds.) Habitat structure: The physical arrange- ment of objects in space. Champman and Hall. London. Venticinque, E. M. 1995. Dinâmica populacional de Anelosimus eximius (Simom, 1891) (Aranae: Theridiidae) em mozáicos ambientais na Amazônia central. Dissertação apresentada ao Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista do campus de Botucatu. Um estudo da distribuição espacial, deslocamento individual e atividade diária da borboleta Heliconius erato (Nymphalidae, Heliconiinae) Ludmila Pugliese de Siqueira, Maria Luisa Jorge, Verónica Cepeda, Adam Kaveh Bahrami, Marcio Uehara-Prado Introdução O gênero Heliconius (Heliconiinae, Nymphalidae), com cerca de 45 espécies, se distribui do México à Argentina. As lagartas se alimentam de folhas de Passifloraceae e as borboletas adultas, de néctar e pólen. As fêmeas utilizam aminoácidos obtidos de pólen na produção de ovos. Os adultos ocorrem em habitats florestais e voam ao longo de suas bordas, trilhas e clareiras. Estes podem sobreviver du- rante vários meses utilizando em uma área de vida com algumas centenas de metros de diâmetro. Indivíduos de Heliconius erato espécie possuem área de vida inferior a 500 m de diâmetro e formam agregações permanentes de oito a dez indivíduos para dormir, denominadas dormitórios. O vôo é lento e conspícuo, tornando altamente visível sua vistosa coloração (DeVries 1983). A coloração conspícua e distintiva está relacionada com sua impalatabilidade, que aparentemente resulta da acumulação de glicosídeos cianogênicos presentes nas plantas das quais se alimentam. Em vários casos, espécies não palatáveis convergem Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 17 para un mesmo padrão de coloração (mimetismo Mülleriano), tornando-o mais facilmente reconhecível pelo predador (Futuyma 1986, Begon et al. 1990). Heliconius erato é uma das espécies mais comum do gênero. Apresenta diversas sub-espécies geográficas que variam fortemente em padrão de coloração. As asas apresentam manchas ou bandas que podem ser vermelhas, amarelas ou ambas, em um fundo preto. Nos locais onde diferentes sub-espécies se encontram formam-se zonas de hibridização. A região de Itacoatiara (AM) é uma zona de hibridização entre as sub- espécies H. erato hydara (que se estende a leste, nas regiões de várzea do Baixo Amazonas e que apresenta uma banda trans- versal pós-medial vermelha em cada asa anterior) e H. erato amalfreda (grupo típico das florestas de interior da região ao norte de Manaus e que possui manchas amarelas pequenas na região pós-medial da asa anterior e uma faixa longitudinal vermelha na parte basal da asa). Em nosso estudo, investigamos padrões de atividade diária e distribuição espacial de uma população dessa espécie, com o intuito de inferir fatores que podem afetar orçamento de atividades e padrão de distribuição espacial ao longo de um transecto de aproximadamente 1,7 Km. Material e Métodos Realizamos nosso estudo na região de extração de madeira da Empresa Madeireira Mil Ltda, que se localiza no município da Itacoatiara, AM, na altura do Km 227 da rodovia AM-010 (Manaus-Itacoatiara). Nosso transecto se localizava na borda de uma estrada permanente do compartimento B, onde houve extração seletiva de madeira há seis anos. O transecto estudado apresento 1,66 Km de extensão. Capturamos quase todos os indivíduos avistados na borda da estrada, com a ajuda de uma rede entomológica, durante os dias 12 (0830 - 1600) e 13 (0900 - 1200) de julho de 2002. Para cada indivíduo capturado, identificamos sexo (pela observação da parte distal do abdômen) medimos o comprimento da asa (medindo com uma régua a distância entre a inserção da asa anterior e sua parte mais distal), registramos o padrão de cor da asa (para identificar as duas sub-espécies), o local e a hora. Como estimativa da idade dos indivíduos, usamos um índice subjetivo de desgaste alar, com a condição da asa expressa em cinco categorias, variando de A (recém-emergida) a E (muito velha) (modificado de Brown 1981). Finalmente, marcamos a borboleta com tinta acrílica ou caneta de retro-projetor (para ser visível a alguns metros de distância, visando evitar recapturas desnecessárias que poderiam interferir no comportamento) e soltamos no local da captura. Pontos de captura e recaptura fo- ram mapeados com ajuda de GPS (sistema de posicionamento global) e fitas coloridas coloridas de posição conhecida. Percorremos a borda da mata diversas vezes ao longo dos períodos de observação a fim de localizar indivíduos marcados. Para cada indivíduo marcado que era localizado, registramos dados de comportamento e atividade até que esse entrasse novamente na mata. Resultados Nos dois dias de estudo capturamos 22 indivíduos de H. erato, sendo 14 machos e 8 fêmeas (Tab. 1). Apesar do excesso de machos na amostra a razão sexual não foi significativamente de 1:1 (c2 = 1,64, P < 0.5, gl = 1). A maioria dos indivíduos foram das classes de desgaste B e C (nova e intermediária, respectivamente) e não encontramos nenhum indivíduo nas categorias recém-emergida (A) e muito velha (E). Das 22 borboletas, cinco possuiam fenótipos com maior expressão de genes característicos da sub-espécie hydara e 17 com mais genes da sub-espécies amalfreda. Nenhuma borboleta apresentava um fenótipo hydara “puro”. O comprimento da asa anterior variou entre 33 e 45 mm e não diferiu significativamente entre machos e fêmeas (t = 0.597, P > 0.5, gl = 18 n=20). Estimamos o deslocamento dos indivíduos a partir da distância linear na estrada. Calculamos a área de atividade de todos os indivíduos observados pelo menos duas vezes nos dois dias de estudo. A distância máxima de deslocamento observada por indivíduo variou entre três e 177 m para as fêmeas e seis a 145 m para os machos (Tab. 2). A distribuição temporal de atividades (orçamento de tempo) apresentou um padrão evidente. No início da manhã, antes de iniciarmos as observações padronizadas, borboletas foram vis- tas pousadas em folhas ensolaradas, com asas abertas, aparentemente termoregulando. Entre oito e dez da manhã, os animais estavam principalmente voando e buscando alimentos (Fig. 1).Nesse período, observamos borboletas se alimentando de flores de Spermacoce acimifolia (Rubiaceae) e Gurania bignoniaceae (Cucurbitaceae). Entre dez e 12 horas, houve uma diminuição do tempo dispendido alimentando-se. Só observamos fêmeas em busca de plantas hospedeira entre dez e doze horas. Depois das doze horas os indivíduos observados permaneceram a maior parte do tempo pousados na face adaxial das folhas, escondidas na vegetação, a menos de dois metros de altura. Tab. 1. Dados gerais sobre indivíduos de Heliconius erato capturados durante os dias 12 e 13 de julho de 2002 na área da Madereira Mil, Itaquatiara, AM. Macho Fêmea Total No. de indivíduos 14 8 22 Tamanho médio da asa (X ± DP) 38,4 ± 3,04 39,2 ± 2,80 38,7 ± 2,91 Idade Recém-emergida Nova Intermediária Velha muito velha 0 9 6 0 0 0 4 1 2 0 0 13 7 2 0 Fenótipo amalfreda hydara 11 3 6 2 17 5 Tab. 2. Deslocamento de indivíduos marcados de Heliconius erato capturados durante os dias 12 e 13 de julho de 2002 na área da Madereira Mil, Itaquatiara, AM. Amplitudo de deslocamento3 Código de indivíduo Sex o1 Fenótip o2 No de observações 1o Dia 2o Dia Máximo 2 F A 4 3 • 3 3 M A 2 6 • 6 4 Rosinha M H 5 10 • 10 5 MA M A 3 • 66 66 Q F A 2 • • 122 GPS F A 3 • 50 177 6 Glória F H 4 * 54 54 1 Xis M H 4 120 50 145 2L Normal M A 3 86 • 86 3L Paralela F H 3 • 165 165 1 – F = Fêmea, M = Macho 2 – A = amalfreda, H = hydara 3 – Deslocamento máximo dentro de um dia, ou entre os dois dias (* = indivíduo observado mais de uma vez no mesmo local; · = apenas uma observação). ��������� ��������� 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% 8:00-10:00 10:00-12:00 12:00-14:00 14:00-16:00 Horário O rç am en to d e A tiv id ad e n=7 T=20,10 n=13 T=72,55 n=2 T=15,05 n=4 T=133,20 Fig. 1. Proporção de tempo dispendido por tipo de atividade das atividades de Heliconius erato ao longo do dia (branco: parada; cinza: voando; preto: procurando alimento ou se alimentando; hachurado: voando próximo a planta hospedeira; T=tempo total em minutos). Indivíduos capturados durante os dias 12 e 13 de julho de 2002 na área da Madereira Mil, Itaquatiara, AM. 18 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 Discussão Estudos de campo com populações de borboleta apresentam razão sexual desviada para machos. No entanto, populações criadas em laboratório não apresentam tal desvio (W. Benson com. pess.). Especula-se que isto se deva a uma série de razões, como mortalidade diferencial de fêmeas ou diferença de capturabilidade. Em nosso estudo, não encontramos um excesso significativo de machos. Isso pode significar que os efeitos acima citados não ocorrem nesta população. No entanto devemos interpretar os resultados com cautela uma vez que temos um pequeno tamanho amostral (n=22). Quanto ao deslocamento, também não encontramos diferenças entre os sexos. Machos e fêmeas mostraram deslocamentos máximos entre 150 e 200m. Esses valores concordam com resultados encontrados em outros estudos (W. Benson com. pess.), a despeito do pequeno número de recapturas e do fato de que as borboletas passaram a maior parte do tempo no interior da mata, onde não foi possível seguí-las. A presença de borboletas depende da ocorrência de locais adequados para oviposição e disponibilidade de alimento. Embora os indivíduos de H. erato tenham se distribuído em locais contendo ambos os recursos, nossa amostragem teve apenas uma dimensão (a estrada) e os recursos de H. erato podem ocorrer em diferentes proporções no interior da mata, fator que não quantificamos e que poderia modificar o padrão que encontramos. O aumento de temperatura a partir das doze horas, o esgotamento de recursos florais e possibilidade de fêmeas receptivas já terem acasalado podem ter contribuído para que as borboletas diminuíssem sua atividade no período da tarde. No entanto, indivíduos de H. erato se mantêm ativos durante a tarde no sudeste brasileiro (Uehara-Prado com. pess.). Por conseguinte, acreditamos que este padrão seja restrito a sub- espécies amazônicas, que enfrentam um estresse térmico mais acentuado. O registro de maior número de indivíduos no período da manhã pode ter sido decorrente da nossa metodologia de amostragem, que consistiu em observar a borboleta até que esta não estivesse mais à vista. Assim, pela manhã, os animais estavam mais ativos e entravam na mata mais rapidamente, quando reiniciávamos as buscas por outros indivíduos. À tarde, as poucas borboletas observadas permaneceram por muito tempo paradas, e acabamos por amostrar menos indivíduos. Acreditamos que neste caso, teria sido mais apropriado delimitar um tempo fixo para a coleta de dados das atividades. Nossos resultados demonstraram que machos e fêmeas se deslocam a distâncias semelhantes ao longo das margens da estrada na área de estudo. Ainda, capturamos borboletas quase exclusivamente em três áreas distintas, separadas por distâncias de no mínimo 400m. Estes resultados sugerem que H. erato pode apresentar populações semi-isoladas, que manifestam sinais de deriva genética. Agradecimentos Agradecemos ao Dr. W. W. Benson pela orientação e ao Paulo de Marco pelo empréstimo do computador. Referências Bibliográficas Begon, M., J. L. Harper e C.L. Townsend. 1990. Ecology: Individuals, Populations and Communities. 2a. ed. Blackwell Scientific Publications. Massachusetts, 945p. Brown, K. S. 1981. The biology of Heliconius and related genera. Annual Review of Entomology. 26:427-456. Futuyma, D. 1986. Evolutionary Biology. Sinauer Associates. Massachusetts, 600p. DeVries, P.J. 1983. Heliconius hecale (Hecale) Pp. 730-731 in Janzen, D.H. Costa Rican Natural History. University of Chicago Press, Chicago. 816 p. Orientação Woody Benson Biomassa de madeira morta em áreas de floresta preservada e com extração seletiva Amazônia Central Ana Maria Pes, Daniel R. Scheibler, Jean C. Santos, Leandro M. Sousa & Lily Arias Introdução A floresta amazônica tem passado por um crescente processo de alteração em função da ação antrópica. Estudos recentes do INPE indicam que 15% da floresta amazônica já foi desmatada (www.inpe.gov.br). Uma das alternativas para diminuir o impacto sobre este ecossistema é o manejo sustentável, como a extração seletiva de madeira; porém, ainda há muita controvérsia sobre os reais impactos deste tipo de exploração (Chambers et al. 2001). Fatores abióticos e processos biológicos e ecológicos da floresta, como entrada de luz, temperatura, vento, composição florística e faunística, biomassa e taxas de mortalidade poderiam ser alteradas pela extração seletiva (David Clark comunicação pessoal). As alterações decorrentes da retirada de madeira da floresta permanente representa uma alteração ambiental brusca para muitas espécies, impossibilitando e dificultando os processos de adaptação às novas condições e resultando eventualmente em maiores taxas de mortalidade para certas espécies. O objetivo deste estudo foi comparar uma parcela de floresta com extração seletiva de madeira com uma área não alterada quanto à biomassa de madeira morta, segundo a hipótese de que na área de extração seletiva, devido à maior mortalidade de plantas, ocorresse uma maior biomassa de madeira morta, tanto em pé quanto no chão. Material e Métodos A área de estudo localiza-se na Mil Madereira, Itacoatiara, AM, uma área cujo plano de manejo prevê a extração seletiva de madeira, que ocorre em parcelas fixas. Inicialmente foi estabelecido três transectos em cada uma das seguintes áreas: floresta com extração seletiva de madeira ocorrida há 6 anos e floresta em área de preservação permanente. Foram estabelecidos transectos de 100 m, dispostos perpendicularmente em relação às estradas usadas para o transporte de madeira. Os transectos foram distanciados em 100 m entre si, e para minimizar o efeito de borda, os mesmos iniciavam-se sempre a uma distância de 50 m a partir da estrada. Para avaliar a biomassa de madeira morta, calculou-se a área basal de troncos mortos para duas situações. Na primeira, mediu- se
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