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1 DIREITO FINANCEIRO Por Angelus Maia PRECATÓRIOS 2 Sumário 1 - INTRODUÇÃO...........................................................................................................................................3 1.1. Honorários advocatícios.....................................................................................................................4 1.2. Obrigações de pequeno valor.............................................................................................................5 1.3. Litisconsórcio ativo e ações coletivas.................................................................................................7 1.4 Débitos da Administração Indireta......................................................................................................7 1.5. Execução de parte incontroversa da dívida........................................................................................9 2 - EC 62/2009 e EC 94/2016.........................................................................................................................9 3 – A EC 99/2017.........................................................................................................................................23 DISPOSITIVOS PARA CICLO DE LEGISLAÇÃO.................................................................................................29 BIBLIOGRAFIA UTILIZADA............................................................................................................................29 3 ATUALIZADO EM 22/02/2019 1 PRECATÓRIOS 1 - INTRODUÇÃO De modo sintético, pode-se dizer que o precatório judicial é o instrumento através do qual se cobra um débito do Poder Público (pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal, Estaduais, Distrital e Municipais), conforme o art. 100 da CF/88, em virtude de sentença judiciária. Para Humberto Theodoro Júnior, o CPC prevê “... um procedimento especial para as execuções por quantia certa contra a Fazenda Pública, o qual não tem a natureza própria de execução forçada, visto que se faz sem penhora e arrematação, vale dizer, sem expropriação ou transferência forçada de bens. Realiza-se por meio de simples requisição de pagamento, feita entre o Poder Judiciário e Poder Executivo, conforme dispõem os arts. 730 e 731 do Código de Processo Civil/73”. De acordo com o § 5.º do art. 100 da CF/88, antigo § 1.º, renumerado pela EC n. 62/2009, é obrigatória a inclusão, no orçamento das entidades de direito público, de verba necessária ao pagamento de seus débitos oriundos de sentenças transitadas em julgado, constantes de precatórios judiciários, apresentados até 1.º de julho, fazendo-se o pagamento até o final do exercício seguinte, quando terão seus valores atualizados monetariamente. A Súmula Vinculante 17/2009-STF pacificou o tema ao estabelecer que, “durante o período previsto no § 1.º do art. 100 da Constituição (atual § 5.º), não incidem juros de mora sobre os precatórios que nele sejam pagos”. *#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: Incidem os juros da mora no período compreendido entre a data da realização dos cálculos e a da requisição de pequeno valor (RPV) ou do precatório. STF. Plenário. RE 579431/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 19/4/2017 (repercussão geral) (Info 861). *#NÃOCONFUNDIR: Cuidado para não confundir com a SV 17: Durante o período previsto no parágrafo 1º (obs: atual § 5º) do artigo 100 da Constituição, não incidem juros de mora sobre os precatórios que nele sejam pagos. O período de que trata este RE 579431/RS é anterior à requisição do precatório, ou seja, anterior ao interregno tratado pela SV 17. 1 As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal aberto de diálogo (setordematerialciclos@gmail.com) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e equívocos, porventura identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado contenha o título do material e o número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal não se destina a tirar dúvidas jurídicas acerca do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o aluno reporte à equipe quaisquer dos eventos anteriormente citados. 4 * #OLHAOGANCHO: A cessão de crédito de precatório não tem o condão de alterar a base de cálculo e a alíquota do Imposto de Renda, que deve considerar a origem do crédito e o próprio sujeito passivo originariamente favorecido pelo precatório. STJ. 1ª Turma.REsp 1.405.296-AL, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 19/09/2017(Info 612). STJ. 2ª Turma. RMS 42.409/RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 06/10/2015. 1.1. Honorários advocatícios A SV 47 (DJE de 02.06.2015), estabelece que “os honorários advocatícios incluídos na condenação ou destacados do montante principal devido ao credor consubstanciam verba de natureza alimentar cuja satisfação ocorrerá com a expedição de precatório ou requisição de pequeno valor, observada ordem especial restrita aos créditos dessa natureza”. * #SELIGANADIVERGÊNCIA: Imagine que 30 pessoas, em litisconsórcio ativo facultativo, propuseram uma ação ordinária contra determinada autarquia estadual. Desse modo, 30 pessoas que poderiam litigar individualmente contra a ré decidiram se unir e contratar um só advogado para propor a ação conjuntamente. A ação foi julgada procedente, condenando a entidade a pagar "XX" reais ao grupo de 30 pessoas. Na mesma sentença, a autarquia foi condenada a pagar R$ 600 mil reais de honorários advocatícios sucumbenciais ao advogado dos autores que trabalhou no processo. O advogado dos autores, quando for cobrar seus honorários advocatícios, terá que executar o valor total (R$ 600 mil) ou poderá dividir a cobrança de acordo com a fração que cabia a cada um dos clientes (ex: eram 30 autores na ação; logo, ele poderá ingressar com 30 execuções cobrando R$ 20 mil em cada)? SIM. É legítima a execução de honorários sucumbenciais proporcional à respectiva fração de cada um dos substituídos processuais em "ação coletiva" contra a Fazenda Pública (STF. 1ª Turma. RE 919269 AgR/RS, RE 913544 AgR/RS e RE 913568 AgR/RS, Rel. Min. Edson Fachin, julgados em 15/12/2015. Info 812). NÃO. Não é possível fracionar o crédito de honorários advocatícios em litisconsórcio ativo facultativo simples em execução contra a Fazenda Pública por frustrar o regime do precatório (STF. 2ª Turma. RE 1038035 AgR/RS, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Dias Toffoli, julgado em 7/11/2017. Info 884). É a corrente que prevalece. STF. 2ª Turma. RE 1038035 AgR/RS, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Dias Toffoli, julgado em 7/11/2017 (Info 884). *#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STF #ENTENDIMENTORECENTE: Não é possível fracionar o crédito de honorários advocatícios em litisconsórcio ativo facultativo simples em execução contra a Fazenda Pública por frustrar o regime do precatório. A quantia devida a título de honorários advocatícios é uma só, fixada de forma global, pois se trata de um único processo, e, portanto, consiste em título a ser executado de forma 5 una e indivisível. STF. Plenário. RE 919269 ED-EDv/RS, ARE 930251 AgR-ED-EDv/RS, ARE 797499 AgR-EDv/RS, RE 919793 AgR-ED-EDv/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 7/2/2019 (Info 929). * O cessionário de honorários advocatícios tem legitimidade para se habilitar no crédito consignado em precatório desde que comprovada a validade do ato de cessão por escritura pública e seja discriminado o valor devido a título de verba honorária no próprio requisitório, não preenchendo esse último requisito a simples apresentação de planilha de cálculo final elaborada pelo Tribunal de Justiça. STJ. Corte Especial. EREsp 1.127.228-RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 21/6/2017 (Info 607). #RESUMINDO: Requisitos para queo cessionário possa se habilitar no crédito consignado no precatório: 1) Deve-se comprovar a validade do ato de cessão dos honorários advocatícios sucumbenciais, o que deve ser realizado por escritura pública; e 2) Deve estar discriminado no precatório o valor devido a título da respectiva verba advocatícia. Preenchidos estes dois requisitos, deve-se reconhecer a legitimidade do cessionário para se habilitar no crédito consignado no precatório. 1.2. Obrigações de pequeno valor Nos termos do art. 100, § 3.º, da CF/88, a obrigatoriedade da expedição de precatório para o pagamento das dívidas públicas não se aplica aos pagamentos de obrigações definidas em leis como de pequeno valor que as Fazendas referidas devam fazer em virtude de sentença judicial transitada em julgado, sendo, contudo, vedada a expedição de precatórios complementares ou suplementares de valor pago, bem como o fracionamento, repartição ou quebra do valor da execução para fins de enquadramento de parcela do total a montante que seria considerado como de “pequeno valor”. A conceituação de “pequeno valor”, por leis próprias poderão ser fixados valores distintos às entidades de direito público, segundo as diferentes capacidades econômicas, sendo o mínimo igual ao valor do maior benefício do regime geral de previdência social; 40 SM para Estados e DF e 30 SM para Municípios. STF entendeu que essa definição de “pequeno valor” “... tem caráter transitório e abre margem para que as entidades de direito público (...) disponham livremente sobre a matéria, de acordo com sua capacidade orçamentária. * #IMPORTANTE: Os Estados-membros podem editar leis reduzindo a quantia considerada como de pequeno valor, para fins de RPV, prevista no art. 87 do ADCT da CF/88. É lícito aos entes federados fixar o valor máximo para essa especial modalidade de pagamento, desde que se obedeça ao princípio constitucional da proporcionalidade. Ex: Rondônia editou lei estadual prevendo que, naquele Estado, as obrigações consideradas como de pequeno valor para fins de RPV seriam aquelas de até 10 salários-mínimos. Assim, a 6 referida Lei reduziu de 40 para 10 salários-mínimos o crédito decorrente de sentença judicial transitada em julgado a ser pago por meio de RPV. O STF entendeu que essa redução foi constitucional. STF. Plenário. ADI 4332/RO, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 7/2/2018 (Info 890) #CAIUNAPROVA #PROCURADORIAS #IMPORTANTE Na 2ª Fase da Procuradoria do Estado do Maranhão, elaborada pela FCC, o tema foi cobrado da seguinte forma: O Governador de determinado Estado da federação, considerando as dificuldades de índole orçamentário-financeira que o ente vem enfrentando, pretende reduzir o teto para pagamento de requisições de pequeno valor, que atualmente é de 40 salários mínimos. Pretende, ademais, que o novo patamar seja aplicável a todos os pagamentos que vierem a ser realizados pela Fazenda Estadual a partir de então. Por fim, a intenção é de que o teto seja aplicável inclusive para fins de pagamento de débitos de natureza alimentícia considerados de pequeno valor, os quais, no entanto, seriam pagos com preferência sobre todos os demais. Diante disso, responda, justificadamente, a luz da Constituição da República e da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal: De que maneira seria possível instrumentalizar a pretensão governamental? Quais as condicionantes a serem observadas para que seja compatível com a disciplina constitucional da matéria? Espelho de Resposta: Abordagem Esperada Pontuação a. O Estado possui competência para fixar, por lei própria, de acordo com sua capacidade econômica, o patamar para pagamento das obrigações consideradas de pequeno valor (CRFB, art. 100, § 4º). 3,00 b. Poderá, inclusive, à luz de sua capacidade econômica, pautando-se pela razoabilidade, fixar o valor em patamar abaixo de 40 salários-mínimos (art. 87, I, do ADCT), desde que não seja inferior ao valor do maior benefício do regime geral de previdência social. 3,00 c. O novo teto não poderá atingir as requisições que decorram de sentenças transitadas em julgado ou cujas execuções tenham sido iniciadas anteriormente à entrada em vigor da lei, em observância ao princípio da segurança jurídica (CRFB, art. 5o, XXXVI). 4,00 d. O novo teto aplica-se a todos os débitos futuros da Fazenda estadual, inclusive os de natureza alimentícia. Em matéria de preferências no pagamento de débitos da Fazenda, à luz do disposto na Constituição, com a interpretação fixada pelo STF, possuem preferência, em relação aos próprios débitos de natureza alimentícia em geral, os débitos de natureza alimentícia cujos titulares tenham 60 anos de idade ou mais ou que sejam portadores de doença grave, enquanto pendente o pagamento (CRFB, art. 100, § § 1º e 2º; ADI 4425), 5,00 7 devendo ser justificada sua aplicabilidade ou não ao pagamento de requisições de pequeno valor. TOTAL 15 1.3. Litisconsórcio ativo e ações coletivas Em uma demanda em que haja litisconsórcio ativo, a dispensa do precatório decorrerá do valor devido a cada litisconsorte, e não do valor global da demanda. Quanto às ações coletivas, o STF e TST trilham no mesmo caminho, no sentido de que o fracionamento só é possível no caso de litisconsórcio ativo, não se permitindo em caso de ação coletiva intentada por legitimado extraordinário ou substituto processual, já que não é possível considerar o valor individual de cada beneficiário da decisão. 1.4 Débitos da Administração Indireta Anotou José dos Santos Carvalho Filho que “o sistema do precatório é aplicável apenas à Fazenda Pública (art. 100, CF), e no sentido desta evidentemente não se incluem pessoas administrativas de direito privado, como as empresas públicas e sociedades de economia mista. Dentro da ideia de “Fazenda Pública”, o autor insere, naturalmente, “as demais entidades administrativas com tal qualificação, como é o caso das autarquias e das fundações públicas de natureza autárquica. Contudo, o Supremo Tribunal Federal esposou entendimento divergente ao de José dos Santos Carvalho Filho, conforme julgado abaixo. #IMPORTANTE #PROCURADORIAS #DIZERODIREITO #AJUDAMARCINHO PRECATÓRIO É possível aplicar o regime de precatórios às sociedades de economia mista? Importante!!! Atenção! Advocacia Pública! As sociedades de economia mista prestadoras de serviço público de atuação própria do Estado e de natureza não concorrencial submetem-se ao regime de precatório. O caso concreto no qual o STF decidiu isso envolvia uma sociedade de economia mista prestadora de serviços de abastecimento de água e saneamento que prestava serviço público primário e em regime de exclusividade. O STF entendeu que a atuação desta sociedade de economia mista correspondia à própria atuação do Estado, já que ela não tinha objetivo de lucro e o capital social era majoritariamente estatal. Logo, diante disso, o STF reconheceu que ela teria direito ao processamento da execução por meio de precatório. STF. 2ª Turma. RE 852302 AgR/AL, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 15/12/2015 (Info 812). Quem tem o privilégio de pagar por meio de precatório? A quem se aplica o regime dos precatórios? As 8 Fazendas Públicas Federal, Estaduais, Distrital e Municipais. Essa expressão abrange: União, Estados, DF e Municípios (administração direta); Autarquias (*com exceção dos Conselhos Profissionais); Fundações; Empresas públicas prestadoras de serviço público (ex: Correios); Sociedades de economia mista prestadoras de serviço público de atuação própria do Estado e de natureza não concorrencial. #FUNDAMENTOS: Segundo o STF, para que a sociedade de economia mista goze dos privilégios da Fazenda Pública, é necessário que ela não atue em regime de concorrência com outras empresas e quenão tenha objetivo de lucro. Confira: (...) Os privilégios da Fazenda Pública são inextensíveis às sociedades de economia mista que executam atividades em regime de concorrência ou que tenham como objetivo distribuir lucros aos seus acionistas. Portanto, a empresa Centrais Elétricas do Norte do Brasil S.A. - Eletronorte não pode se beneficiar do sistema de pagamento por precatório de dívidas decorrentes de decisões judiciais (art. 100 da Constituição). (...) (STF. Plenário. RE 599628, Rel. Min. Ayres Britto, Relator p/ Acórdão Min. Joaquim Barbosa, julgado em 25/05/2011). *#IMPORTANTE: Os pagamentos devidos, em razão de pronunciamento judicial, pelos Conselhos de Fiscalização (exs: CREA, CRM, COREN, CRO) não se submetem ao regime de precatórios. STF. Plenário. RE 938837/SP, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgado em 19/4/2017 (repercussão geral) (Info 861). Apesar de os Conselhos de Fiscalização Profissional serem considerados autarquias especiais, eles não participam do orçamento público, não recebem aporte do Poder Central nem se confundem com a Fazenda Pública. Por essa razão, não se submetem ao regime de precatórios. Os conselhos de fiscalização profissional têm autonomia financeira e orçamentária. Portanto, sua dívida é autônoma em relação ao Poder Público. Desse modo, inserir esse pagamento no sistema de precatório transferiria para a União a condição de devedora do Conselho de Fiscalização. * As empresas públicas e sociedades de economia mista não têm direito à prerrogativa de execução via precatório. STF. 1ª Turma. RE 851711 AgR/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 12/12/2017 (Info 888). Em regra, as empresas estatais estão submetidas ao regime das pessoas jurídicas de direito privado (execução comum). No entanto, é possível sim aplicar o regime de precatórios para empresas públicas e sociedades de economia mista que prestem serviços públicos e que não concorram com a iniciativa privada. Assim, é aplicável o regime dos precatórios às empresas públicas e sociedades de economia mista prestadoras de serviço público próprio do Estado e de natureza não concorrencial. STF. 1ª Turma. RE 627242 AgR, Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. p/ Acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 02/05/2017. STF. Plenário. ADPF 387/PI, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 23/3/2017 (Info 858) 9 1.5. Execução de parte incontroversa da dívida Em verdade, não é dado ao exequente utilizar-se, intencional e simultaneamente, dos dois mecanismos de satisfação de seu crédito: o precatório para uma parte da dívida e a RPV para a outra parte, conforme já vimos acima. Essa situação, porém, não ocorre no caso de execução de parte incontroversa da dívida. Em outras palavras, quando a impugnação ou os embargos forem parciais, a execução prosseguirá quanto à parte não embargada. Em tal situação, não está havendo fracionamento vedado no § 8º do art. 100 da CF/88, eis que não se trata de intenção do exequente de repartir o valor para receber uma parte por RPV e a outra, por precatório (STJ, REsp 714.235). 2 - EC 62/2009 e EC 94/2016 (Conforme extraído do Dizer o Direito) A EC 62/2009 alterou o art. 100 da CF/88 e o art. 97 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) da CF/88 prevendo inúmeras mudanças no regime dos precatórios. As modificações impostas pela EC 62/2009 dificultaram o recebimento dos precatórios pelos credores e tornaram ainda mais vantajosa a situação da Fazenda Pública. Por esta razão, a alteração ficou conhecida, jocosamente, como “Emenda do Calote”. 2.1. ADI Foram propostas quatro ações diretas de inconstitucionalidade contra esta previsão: • ADI 4357/DF – Conselho Federal da OAB e Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB); • ADI 4425/DF – Confederação Nacional das Indústrias – CNI; • ADI 4400/DF – Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra); • ADI 4372/DF – Associação dos Magistrados Estaduais (Anamages). 2.3. Inconstitucionalidade formal A CF/88 determina que a proposta de emenda constitucional seja discutida e votada, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos de votação, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, 3/5 dos votos dos respectivos membros (§ 2º do art. 60). No Senado, a EC 62/2009 foi votada e aprovada, em dois turnos de votação. No entanto, estes dois turnos aconteceram no mesmo dia, ao longo de duas sessões legislativas ocorridas com menos de 1h de intervalo entre ambas. A “estratégia” utilizada pelos parlamentares foi a seguinte: após votar a PEC em 1º turno, o Presidente da Casa encerrou a sessão legislativa e, na mesma noite, após alguns minutos, abriu uma nova sessão legislativa e votou a proposta em 2º turno. Diante disso, os autores da ADI alegavam que houve violação à regra do § 2º do art. 60 da CF/88. O STF concordou com a tese? 10 • NÃO. Neste ponto, prevaleceu o voto do Min. Luiz Fux. O Ministro afirmou que a exigência constitucional de dois turnos de votação existe para assegurar a reflexão profunda e a maturação das ideias antes da modificação de documento jurídico com vocação de perenidade (a CF). No entanto, a partir dessa finalidade abstrata, não é possível se extrair a exigência de que é imprescindível a existência de interstício mínimo entre os turnos. Em outras palavras, a CF/88 não exigiu um tempo mínimo entre as duas votações. • O constituinte, quando quis, exigiu expressamente intervalo mínimo, conforme se pode observar, em dois casos: para criação de lei orgânica municipal (art. 29, caput, da CF/88) e da Lei Orgânica do DF (art. 32, caput, CF/88). No caso de aprovação de EC, o Texto Constitucional não fez esta mesma exigência. Houve, portanto, um silêncio eloquente do texto constitucional. • Assim, para o Ministro, quando o § 2º do art. 60 fala em dois turnos, ele está apenas exigindo a realização de duas etapas de discussão. • No caso da EC 62/2009, esta regra foi cumprida porque as votações ocorreram em duas sessões distintas. Vale ressaltar que existe uma norma no Regimento Interno do Senado determinando o intervalo de 5 dias úteis entre os turnos de votação, mas o STF entendeu que a sua inobservância está sujeita apenas ao controle feito pelo próprio Congresso e não do Poder Judiciário. 2.4. Caput e § 1º do art. 100 da CF/88 O regime de precatórios é tratado pelo art. 100 da CF, assim como pelo art. 78 do ADCT. No caput do art. 100 consta a regra geral dos precatórios, ou seja, os pagamentos devidos pela Fazenda Pública em decorrência de condenação judicial devem ser realizados na ordem cronológica de apresentação dos precatórios. Existe, então, uma espécie de “fila” para pagamento dos precatórios: Art. 100. Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal, Estaduais, Distrital e Municipais, em virtude de sentença judiciária, far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica de apresentação dos precatórios e à conta dos créditos respectivos, proibida a designação de casos ou de pessoas nas dotações orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para este fim. (Redação dada pela EC 62/09) Obs: não há qualquer inconstitucionalidade no caput do art. 100 da CF, que permanece válido e eficaz. No § 1º do art. 100 é previsto que os débitos de natureza alimentícia gozam de preferência no recebimento dos precatórios. É como se existisse uma espécie de “fila preferencial”: § 1º Os débitos de natureza alimentícia compreendem aqueles decorrentes de salários, vencimentos, proventos, pensões e suas complementações, benefícios previdenciários e indenizações por morte ou por invalidez, fundadas em responsabilidade civil, em virtude de sentença judicial transitada em julgado, e serão pagos com preferência sobre todos os demais débitos, exceto sobre aqueles referidos no § 2º deste artigo. (Redaçãodada pela EC 62/09). Obs: não há qualquer inconstitucionalidade no § 1º do art. 100 da CF, que permanece válido e eficaz. 2.5. § 2º do art. 100 da CF/88, conforme EC 94/16 § 2º Os débitos de natureza alimentícia cujos titulares, originários ou por sucessão hereditária, tenham 60 (sessenta) anos de idade, ou sejam portadores de doença grave, ou pessoas com deficiência, assim definidos 11 na forma da lei, serão pagos com preferência sobre todos os demais débitos, até o valor equivalente ao triplo fixado em lei para os fins do disposto no § 3º deste artigo, admitido o fracionamento para essa finalidade, sendo que o restante será pago na ordem cronológica de apresentação do precatório. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 94, de 2016) - NOVA REDAÇÃO DO §2º. O que mudou? Aponta-se que se estendeu o direito à fila preferencial aos que conseguiram o precatório via sucessão hereditária. Incluiu-se as pessoas com deficiência. Firmou-se, em sede constitucional, a posição adotada pelo STF no julgamento das ADIs, pelo que a idade pode ser atingida tanto na data da expedição do precatório quanto por quem já estava aguardando e completou os 60 anos. Recapitulando: Os débitos da Fazenda Pública devem ser pagos por meio do sistema de precatórios. Quem é pago em 1º lugar: créditos alimentares de idosos. Portadores de doenças graves e pessoas com deficiência. Quem é pago em 2º lugar: créditos alimentares de pessoas que não sejam idosas, portadoras de doenças graves ou pessoas com deficiência. Quem é pago em 3º lugar: créditos não alimentares. Obs.1: a superprioridade para créditos alimentares de idosos, portadores de doenças graves e pessoas com deficiência possui um limite de valor previsto no § 2º do art. 100. Assim, se o valor a receber pelo idoso, doente grave ou PcD for muito alto, parte dele será paga com superpreferência e o restante será quitado na ordem cronológica de apresentação do precatório. Esta limitação de valor foi considerada constitucional pelo STF. Obs.2: dentro de cada uma dessas “filas”, os débitos devem ser pagos conforme a ordem cronológica em que os precatórios forem sendo apresentados. Obs.3: os débitos de natureza alimentícia são aqueles decorrentes de salários, vencimentos, proventos, pensões e suas complementações, benefícios previdenciários e indenizações por morte ou por invalidez, fundadas em responsabilidade civil. Obs. 4: em que momento é analisada esta idade de 60 anos para que a pessoa passe a ter a superpreferência? Entre o dia em que o precatório é expedido e a data em que ele é efetivamente pago, são passados alguns anos. Desse modo, é comum que a pessoa não seja idosa no instante em que o precatório é expedido, mas como o processo de pagamento é tão demorado, ela acaba completando mais de 60 anos de idade durante a espera. Diante disso, na redação anterior a EC 94/2016, o STF tinha declarado inconstitucional a expressão “na data de expedição do precatório” constante no antigo § 2º do art. 100 da CF/88 foi declarada INCONSTITUCIONAL. O STF entendeu que esta limitação até a data da expedição do precatório violaria o 12 princípio da igualdade e que esta superpreferência deveria ser estendida a todos os credores que completassem 60 anos de idade enquanto estivessem aguardando o pagamento do precatório de natureza alimentícia. No mais, a EC 94/16 acolheu a decisão do STF, conforme já mencionado acima. #JURISPRUDÊNCIA STJ 2015: A limitação de valor para o direito de preferência previsto no art. 100, § 2º, da CF aplica-se para cada precatório de natureza alimentar, e não para a totalidade dos precatórios alimentares de titularidade de um mesmo credor preferencial, ainda que apresentados no mesmo exercício financeiro e perante o mesmo devedor. A CF/88 não proibiu que a pessoa maior de 60 anos ou doente grave participasse da listagem de credor superpreferencial do § 2º por mais de uma vez. Ela só proibiu que o precatório recebido fosse maior do que 3x o valor da RPV. Logo, não cabe ao intérprete criar novas restrições não previstas no texto constitucional. STJ. 1ª Turma. RMS 46.155-RO, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 22/9/2015 (Info 570) 2.6. §§ 9º e 10 do art. 100 da CF/88 Segundo o § 10 do art. 100, antes de expedir o precatório, o Tribunal solicitará à Fazenda Pública devedora que informe se existem débitos líquidos e certos, inscritos ou não em dívida ativa e constituídos contra o exequente. Em outras palavras, o Tribunal indagará à Fazenda se o beneficiário original do precatório possui débitos com o Poder Público. Ex.: determinada sentença transitou em julgado condenando o Estado do Amazonas a pagar 500 mil reais a João. Antes de expedir o precatório, o Tribunal deveria indagar à Fazenda Pública amazonense se João devia algum valor líquido e certo ao Estado do Amazonas. Veja: § 10. Antes da expedição dos precatórios, o Tribunal solicitará à Fazenda Pública devedora, para resposta em até 30 (trinta) dias, sob pena de perda do direito de abatimento, informação sobre os débitos que preencham as condições estabelecidas no § 9º, para os fins nele previstos. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 62/09). Se existissem débitos, estes seriam abatidos do valor a ser pago pela Fazenda Pública. Assim, o § 9º previa uma compensação entre o que era devido pela Fazenda e o que era devido pelo exequente. Voltando ao nosso exemplo, João tinha a receber 500 mil reais, mas possuía uma dívida de 100 mil com a Fazenda estadual. Logo, haveria uma compensação e o precatório seria expedido no valor de 400 mil. Veja o que diz o § 9º: § 9º No momento da expedição dos precatórios, independentemente de regulamentação, deles deverá ser abatido, a título de compensação, valor correspondente aos débitos líquidos e certos, inscritos ou não em dívida ativa e constituídos contra o credor original pela Fazenda Pública devedora, incluídas parcelas vincendas de parcelamentos, ressalvados aqueles cuja execução esteja suspensa em virtude de contestação administrativa ou judicial. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 62/09). O STF entendeu que os §§ 9º e 10 do art. 100 são INCONSTITUCIONAIS. 13 Para o Supremo, este regime de compensação obrigatória trazido pelos §§ 9º e 10, ao estabelecer uma enorme superioridade processual à Fazenda Pública, viola a garantia do devido processo legal, do contraditório, da ampla defesa, da coisa julgada, da isonomia e afeta o princípio da separação dos Poderes. 2.7. § 12 do art. 100 da CF/88 Como já vimos, entre o dia em que o precatório é expedido e a data em que ele é efetivamente pago, são passados alguns anos. Durante este período, obviamente, se a quantia devida não for atualizada, haverá uma desvalorização do valor real do crédito em virtude da inflação. Com o objetivo de evitar essa perda, o § 5º do art. 100 determina que o valor do precatório deve ser atualizado monetariamente quando for pago. Como é calculado o valor da correção monetária e dos juros de mora no caso de atraso no pagamento do precatório? A EC n. º 62/09 trouxe uma nova forma de cálculo prevista no § 12 do art. 100: § 12. A partir da promulgação desta Emenda Constitucional, a atualização (obs.: correção monetária) de valores de requisitórios, após sua expedição, até o efetivo pagamento, independentemente de sua natureza, será feita pelo índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança, e, para fins de compensação da mora (obs2: juros de mora), incidirão juros simples no mesmo percentual de juros incidentes sobre a caderneta de poupança, ficando excluída a incidência de juros compensatórios. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 62/09) Desse modo, o § 12 determinava que a correção monetária e os juros de mora, no caso de precatórios pagos com atraso, deveriam adotar os índices e percentuaisaplicáveis às cadernetas de poupança. Regra semelhante está prevista no art. 1ºF da Lei n. º 9.494/97: Art. 1º-F. Nas condenações impostas à Fazenda Pública, independentemente de sua natureza e para fins de atualização monetária, remuneração do capital e compensação da mora, haverá a incidência uma única vez, até o efetivo pagamento, dos índices oficiais de remuneração básica e juros aplicados à caderneta de poupança. (Redação dada pela Lei nº 11.960/09) O § 12 do art. 100, inserido pela EC 62/09, também foi questionado. O que decidiu a Corte? O STF declarou a inconstitucionalidade da expressão “índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança”, constante do § 12 do art. 100 da CF. Para os Ministros, o índice oficial da poupança não consegue evitar a perda de poder aquisitivo da moeda. Este índice é fixado ex ante, ou seja, previamente, a partir de critérios técnicos não relacionados com a inflação considerada no período. Todo índice definido ex ante é incapaz de refletir a real flutuação de preços apurada no período em referência. Dessa maneira, como este índice (da poupança) não consegue manter o valor real da condenação, ele afronta à garantia da coisa julgada, tendo em vista que o valor real do crédito previsto na condenação judicial não será o valor real que o credor irá receber efetivamente quando o precatório for pago (este valor terá sido corroído pela inflação). 14 A finalidade da correção monetária consiste em deixar a parte na mesma situação econômica que se encontrava antes. Nesse sentido, o direito à correção monetária é um reflexo imediato da proteção da propriedade. Vale ressaltar, ainda, que o Poder Público tem seus créditos corrigidos pela taxa SELIC, cujo valor supera, em muito, o rendimento da poupança, o que reforça o argumento de que a previsão do § 12 viola a isonomia. Como vimos acima, o art. 1º-F. da Lei n. º 9.494/97, com redação dada pelo art. 5º da Lei n. º 11.960/2009, também previa que, nas condenações impostas à Fazenda Pública, os índices a serem aplicados eram os da caderneta de poupança. Logo, com a declaração de inconstitucionalidade do § 12 do art. 100 da CF, o STF também declarou inconstitucional, por arrastamento (ou seja, por consequência lógica), o art. 5º da Lei n. º 11.960/2009, que deu a redação atual ao art. 1º-F. da Lei n. º 9.494/97. O STF também declarou a inconstitucionalidade da expressão “independentemente de sua natureza”, presente no § 12 do art. 100 da CF, com o objetivo de deixar claro que, para os precatórios de natureza tributária se aplicam os mesmos juros de mora incidentes sobre o crédito tributário. Assim, para o STF, aos precatórios de natureza tributária devem ser aplicados os mesmos juros de mora que incidem sobre todo e qualquer crédito tributário. *#OUSESABER: Na data de 19/04/17, o STF finalizou o julgamento do RE 579.431, que tratava sobre a incidência de juros de mora nos casos de RPV e precatório. Em 10/11/09 o STF publicou a Súmula Vinculante nº. 17 que diz assim: “Durante o período previsto no parágrafo 1º (atual §5º) do artigo 100 da Constituição, não incidem juros de mora sobre os precatórios que nele sejam pagos.” Ocorre que em 09/12/09, a EC n.º 62/09 trouxe várias alterações sobre o tema, inclusive deslocando o conteúdo do acima citado § 1º do art. 100 da CF para o § 5º. Como principal novidade, a EC nº. 62/09 acrescentou o §12 ao citado art. 100, vejamos: "§ 12. A partir da promulgação desta Emenda Constitucional, a atualização de valores de requisitórios, após sua expedição, até o efetivo pagamento, independentemente de sua natureza, será feita pelo índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança, e, para fins de compensação da mora, incidirão juros simples no mesmo percentual de juros incidentes sobre a caderneta de poupança, ficando excluída a incidência de juros compensatórios." #DIZERODIREITO #AJUDAMARCINHO: A SV 17 foi editada em 29/10/2009 e continua sendo atualmente aplicada pelo STF. Nesse sentido: RE 577465 AgR-ED-ED-EDv-AgR, Rel. Min. Rosa Weber, Tribunal Pleno, julgado em 23/09/2016. Contudo, tem crescido entre os Ministros a ideia de que esta súmula foi superada pelo § 12 do art. 100 da CF/88, acrescentado pela EC 62, de 10/12/2009, ou seja, posteriormente à edição do enunciado. Para muitos Ministros, o § 12 determina a incidência de juros moratórios independentemente do período. Confira a redação do dispositivo: § 12. A partir da promulgação desta Emenda Constitucional, a atualização de valores de requisitórios, após sua expedição, até o efetivo pagamento, independentemente de sua natureza, será feita pelo índice oficial 15 de remuneração básica da caderneta de poupança, e, para fins de compensação da mora, incidirão juros simples no mesmo percentual de juros incidentes sobre a caderneta de poupança, ficando excluída a incidência de juros compensatórios. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 62, de 2009). Em provas de concurso, a SV 17 continua válida, devendo ser assinalada como correta. Somente se manifeste sobre esta crítica ao enunciado caso você seja expressamente indagado acerca disso, como no caso de uma prova oral, por exemplo. 2.8. § 15 do art. 100 da CF/88 O grande problema e a vergonha deste país no que tange aos precatórios diz respeito aos Estados e Municípios. Existem Estados e Municípios que não pagam precatórios vencidos há mais de 20 anos. Tais dívidas se acumulam a cada dia e, se alguns Estados fossem obrigados a pagar tudo o que devem de precatórios, isso seria muito superior ao orçamento anual. Na União e suas entidades a situação não é tão deficitária e os precatórios não apresentam este quadro absurdo de atraso. Pensando nisso, a EC n. º 62/09 acrescentou o § 15 ao art. 100, afirmando que o legislador infraconstitucional poderia criar um regime especial para pagamento de precatórios de Estados/DF e dos Municípios, estabelecendo uma vinculação entre a forma e prazo de pagamentos com a receita corrente líquida desses entes. Veja a redação do dispositivo: § 15. Sem prejuízo do disposto neste artigo, lei complementar a esta Constituição Federal poderá estabelecer regime especial para pagamento de crédito de precatórios de Estados, Distrito Federal e Municípios, dispondo sobre vinculações à receita corrente líquida e forma e prazo de liquidação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 62, de 2009). O objetivo era que este regime especial previsse uma forma dos Estados/DF e Municípios irem reduzindo esta dívida de precatórios sem que o orçamento dos entes ficasse inviabilizado. A EC n. º 62/09 incluiu ainda o art. 97 ao ADCT prevendo um regime especial de pagamento dos precatórios enquanto não fosse editada a lei complementar. Confira: Art. 97. Até que seja editada a lei complementar de que trata o § 15 do art. 100 da Constituição Federal, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios que, na data de publicação desta Emenda Constitucional, estejam em mora na quitação de precatórios vencidos, relativos às suas administrações direta e indireta, inclusive os emitidos durante o período de vigência do regime especial instituído por este artigo, farão esses pagamentos de acordo com as normas a seguir estabelecidas, sendo inaplicável o disposto no art. 100 desta Constituição Federal, exceto em seus §§ 2º, 3º, 9º, 10, 11, 12, 13 e 14, e sem prejuízo dos acordos de juízos conciliatórios já formalizados na data de promulgação desta Emenda Constitucional. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 62/2009) O regime especial instituído pelo art. 97 do ADCT prevê uma série de vantagens aos Estados e Municípios, sendo permitido que tais entes realizem uma espécie de “leilão de precatórios” no qual os 16 credores de precatórios competem entre si oferecendo deságios (“descontos”) em relação aos valores que têm para receber. Aqueles que oferecemmaiores descontos irão receber antes do que os demais. Assim, o regime especial excepcionou a regra do art. 100 da CF/88 de que os precatórios deveriam ser pagos na ordem cronológica de apresentação. Logo, se alguém estivesse esperando há 20 anos, por exemplo, para receber seu precatório, já seria afetado por este novo regime e, para aumentar suas chances de conseguir “logo” seu crédito, deveria conceder um bom “desconto” ao ente público. Leonardo da Cunha afirmou, com razão, que a EC n. º 62/09 previu uma espécie de “moratória” ou “concordata” para os Estados/DF e Municípios (DIDIER JR., Fredie;et. al. Curso de Direito Processual Civil. Salvador: Juspodivm, 2013, p. 764). Daí a alcunha dada, de forma justa, por sinal, de “emenda do calote”. Não vamos dar mais detalhes sobre como era este regime especial pelo fato de que ele perdeu importância, uma vez que foi considerado inconstitucional pelo STF. O Supremo declarou inconstitucionais o § 15 do art. 100 da CF/88 e todo o art. 97 do ADCT. Com a EC n.º 62/09, o Poder Público reconheceu que descumpriu, durante anos, as ordens judiciais de pagamento em desfavor do erário. Admitiu, ainda, que existem inúmeras dívidas pendentes, as quais se propõe a pagar, mas de forma limitada a um pequeno percentual de sua receita. Por fim, fica claro que, com o comportamento inadimplente do Poder Público e com o novo regime instituído, o objetivo foi forçar os titulares de precatórios a participarem dos leilões, concedendo “descontos” ao erário em relação a valores que são devidos por força de decisão judicial transitada em julgado. O STF concluiu que a EC n.º 62/09, ao prever este “calote”, feriu os valores do Estado de Direito, do devido processo legal, do livre e eficaz acesso ao Poder Judiciário e da razoável duração do processo. Além disso, mencionou-se a violação ao princípio da moralidade administrativa, da impessoalidade e da igualdade. Afirmou-se que, para a maioria dos entes federados, não falta dinheiro para o adimplemento dos precatórios, mas sim compromisso dos governantes quanto ao cumprimento de decisões judiciais. Nesse contexto, observou-se que o pagamento de precatórios não se contraporia, de forma inconciliável, à prestação de serviços públicos. Além disso, arrematou-se que configuraria atentado à razoabilidade e à proporcionalidade impor aos credores a sobrecarga de novo alongamento temporal dos créditos que têm para receber. A decisão do STF foi tomada por maioria de votos. #RESUMINDO #AJUDAMARCINHO Dispositivos declarados integralmente inconstitucionais: • § 9º do art. 100 da CF/88 • § 10 do art. 100 da CF/88 • § 15 do art. 100 da CF/88 • Art. 97 (e parágrafos) do ADCT • Art. 1º-F. da Lei n.º 9.494/97 17 Dispositivos declarados parcialmente inconstitucionais: • § 2º do art. 100 da CF/88, mas tal inconstitucionalidade foi sanada com a nova redação da EC 94/16. • § 12 do art. 100 da CF/88 Quanto ao § 12 do art. 100, foram declaradas inconstitucionais as seguintes expressões: • “Índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança” • “Independentemente de sua natureza” Os demais dispositivos permanecem válidos e eficazes. #NOVOS ARTIGOS - EC 94/16 § 17. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios aferirão mensalmente, em base anual, o comprometimento de suas respectivas receitas correntes líquidas com o pagamento de precatórios e obrigações de pequeno valor. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 94, de 2016) § 18. Entende-se como receita corrente líquida, para os fins de que trata o § 17, o somatório das receitas tributárias, patrimoniais, industriais, agropecuárias, de contribuições e de serviços, de transferências correntes e outras receitas correntes, incluindo as oriundas do § 1º do art. 20 da Constituição Federal, verificado no período compreendido pelo segundo mês imediatamente anterior ao de referência e os 11 (onze) meses precedentes, excluídas as duplicidades, e deduzidas: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 94, de 2016) I - na União, as parcelas entregues aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios por determinação constitucional; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 94, de 2016) II - nos Estados, as parcelas entregues aos Municípios por determinação constitucional; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 94, de 2016) III - na União, nos Estados, no Distrito Federal e nos Municípios, a contribuição dos servidores para custeio de seu sistema de previdência e assistência social e as receitas provenientes da compensação financeira referida no § 9º do art. 201 da Constituição Federal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 94, de 2016) § 19. Caso o montante total de débitos decorrentes de condenações judiciais em precatórios e obrigações de pequeno valor, em período de 12 (doze) meses, ultrapasse a média do comprometimento percentual da receita corrente líquida nos 5 (cinco) anos imediatamente anteriores, a parcela que exceder esse percentual poderá ser financiada, excetuada dos limites de endividamento de que tratam os incisos VI e VII do art. 52 da Constituição Federal e de quaisquer outros limites de endividamento previstos, não se aplicando a esse financiamento a vedação de vinculação de receita prevista no inciso IV do art. 167 da Constituição Federal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 94, de 2016) § 20. Caso haja precatório com valor superior a 15% (quinze por cento) do montante dos precatórios apresentados nos termos do § 5º deste artigo, 15% (quinze por cento) do valor deste precatório serão pagos até o final do exercício seguinte e o restante em parcelas iguais nos cinco exercícios subsequentes, acrescidas 18 de juros de mora e correção monetária, ou mediante acordos diretos, perante Juízos Auxiliares de Conciliação de Precatórios, com redução máxima de 40% (quarenta por cento) do valor do crédito atualizado, desde que em relação ao crédito não penda recurso ou defesa judicial e que sejam observados os requisitos definidos na regulamentação editada pelo ente federado. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 94, de 2016) *@BOMNODIREITO - COMENTÁRIOS SOBRE A EC 94/16 O assunto “precatórios” é sempre espinhoso e árduo de se enfrentar. Desde o final da década de 1990, o texto constitucional passou por uma série de emendas que alteraram profundamente o regime dos precatórios, agregando-lhes cada vez mais complexidade, sobretudo com a previsão de regras permanentes, de um lado, e disposições provisórias no ADCT, de outro (EC 20/1998, EC 30/2000, EC 37/2002, EC 62/2009 e, por fim, EC 94/2016), além de vários questionamentos dessas regras em controle concentrado no STF. A disciplina constitucional dos precatórios está prevista, hoje, basicamente no art. 100 do corpo permanente da CRFB/1988 – o qual, além do caput, possui mais 20 parágrafos – e nos arts. 101 a 105 do ADCT, esses últimos incluídos pela EC 94/2016, referente ao regime especial. Há, ainda, o art. 97 do ADCT (com 18 parágrafos), trazido pela EC 62/2009, o qual, embora não formalmente revogado, foi declarado inconstitucional em vários pontos pelo STF. Tendo em vista a extensão da disciplina e os diversos desdobramentos legislativos e jurisprudenciais acerca da matéria, o foco da presente análise serão as principais inovações da EC 94/2016 no art. 100 da CRFB/1988 (corpo permamente), de forma objetiva, já pressupondo um prévio conhecimento do candidato a respeito da matéria em geral, a fim de evitar longas digressões. A primeira alteração encontra-se no § 2º do art. 100. Esse dispositivo, na redação da EC 62/2009, previa que débitos de natureza alimentícia cujos titulares fossem idosos ou portadores de doença grave, até o valor equivalente ao triplo daquele definido em lei como de pequeno valor, deveriam ser pagos pelo Poder Público com preferência sobre todos os demais débitos, admitido o fracionamento paraessa finalidade, pago o restante na ordem cronológica de apresentação do precatório. É como se aqueles credores entrassem numa espécie de fila paralela e preferencial, a fim fosse satisfeita com maior rapidez a importância dos respectivos créditos, tendo em vista a situação de evidente necessidade e vulnerabilidade daqueles credores. Por exemplo, se o valor do crédito fosse de 10 (dez) vezes o limite do RPV, 3 (três) poderiam ser pagos nessa ordem preferencial, e os outros 7 (sete) seguiriam normalmente na ordem cronológica dos precatórios independente de qualquer privilégio. Nesse ponto, a EC 62/2009 avançou em 2 (dois) aspectos, visto que: a) além da previsão de preferência genérica para os titulares de créditos alimentícios, passou a prever também uma subcategoria de credores “superprivilegiados”, a saber, os idosos (maiores de 60 anos) e portadores de doenças graves, na forma da lei, titulares de créditos dessa natureza; b) passou a admitir também a possibilidade de fracionar o 19 valor do precatório desses credores “superprivilegiados”, nas condições supra mencionadas (antes esse credor deveria esperar o pagamento inteiro de uma só vez, certamente com maior morosidade). Tudo isso foi mantido pela EC 94/2016, a qual avançou ainda em relação ao seguinte ponto: ao lado dos idosos e portadores de doenças graves, inseriram-se nessa categoria de credores “superprivilegiados” os portadores de deficiência, na forma da lei. Trata-se de importante avanço social, que vai ao encontro das diretrizes estabelecidas no Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146/2015) e de tratado internacional ratificado pelo Brasil sobre o tema (Decreto 6.949/2009). Além dessa alteração, a EC 94/2016 incluiu os §§17 a 20 no texto do art. 100 do corpo permanente da CRFB/1988, que podem ser divididos e compreendidos em 2 (duas) partes: a) necessidade de aferição mensal do comprometimento da receita corrente líquida dos entes federados decorrente do pagamento dos precatórios (§§17 e 18); b) medidas excepcionais para contornar dificuldades encontradas pelos entes públicos na quitação dos precatórios (§§ 19 e 20). Assim, no tocante à primeira parte, o § 17 do art. 100 determinou que TODOS os entes federados, INCLUSIVE A UNIÃO, devem aferir mensalmente, em base anual, o comprometimento de suas respectivas receitas correntes líquidas com o pagamento de precatórios e obrigações de pequeno valor. Para esse fim, o § 18 trouxe a definição de “receita corrente líquida”, muito semelhante àquelas já previstas no art. 2º, IV, da LC 101/2000 (Responsabilidade Fiscal) e art. 97, § 3º, do ADCT. Basicamente, considera-se receita corrente líquida o somatório de todas as receitas tributárias, patrimoniais, industriais, agropecuárias, de contribuições e de serviços, transferências correntes e outras receitas correntes, inclusive royalties de petróleo, deduzidos: a) os valores entregues por um ente aos demais por determinação constitucional; b) a contribuição dos servidores para custeio de seu sistema de previdência e assistência social e as receitas provenientes da compensação financeira entre regimes previdenciários. De outro lado, no tocante à segunda parte, o § 19 do art. 100 prevê a possibilidade de financiamento especial em favor do ente público acima dos limites constitucionais e legais de endividamento, se o objetivo do empréstimo for a aplicação dos recursos no pagamento de precatórios. Em suma, a cada período de 12 (doze) meses, o ente deve verificar se não ultrapassou a média de valores gastos para esse fim (pagamento de precatórios) nos 5 (cinco) anos anteriores. Por exemplo, de março de 2011 a fevereiro de 2016, a média mensal de gasto com precatórios do Município X foi de 1,5% (um vírgula cinco por cento) da receita corrente líquida. Em fevereiro e março de 2017, percebeu-se que foi necessário empenhar 2,5% (dois vírgula cinco por cento), percentual que deve perdurar ao longo do ano. Portanto, o Município X está autorizado a contrair empréstimos relativos à diferença verificada – no caso, 1% (um por cento) ao mês – a fim de saldar tempestivamente seus débitos de precatórios. 20 Por fim, o § 20 prevê uma segunda possibilidade de fracionamento de precatório, além daquela já prevista no § 2º do art. 100 (esta já analisada anteriormente), qual seja, para precatório de altíssimo valor, considerado como tal aquele de valor superior a 15% (quinze por cento) do montante dos precatórios apresentados de 02 de julho de um ano até 1º de julho do ano seguinte. Nesse caso, previu-se que 15% (quinze por cento) do valor deste “superprecatório” será pago até o final do exercício seguinte e o restante em parcelas iguais nos cinco exercícios subsequentes, acrescidas de juros de mora e correção monetária, ou mediante acordos diretos, perante Juízos Auxiliares de Conciliação de Precatórios, com redução máxima de 40% (quarenta por cento) do valor do crédito atualizado, desde que em relação ao crédito não penda recurso ou defesa judicial e que sejam observados os requisitos definidos na regulamentação editada pelo ente federado. Esse fracionamento é medida relevante, visto que evita a demora que naturalmente ocorreria para pagar por inteiro um precatório de altíssimo valor, propiciando o recebimento imediato, pelo titular do crédito, de 15% (quinze por cento) do valor total, bem como o recebimento gradual das demais importâncias parciais, isto é, de mais 15% (quinze por cento) a cada ano. *3 – A EC 99/2017i #DIZERODIREITO A EC 99/2017 altera os arts. 101, 102, 103 e 105 do ADCT da CF/88 com o objetivo de “instituir novo regime especial de pagamento de precatórios” dificultando, mais uma vez, o recebimento dos créditos. Vale ressaltar que esses mesmos dispositivos agora alterados foram inseridos há menos de um ano na CF/88 pela EC 94/2016. Veja o quadro comparativo com as mudanças operadas pela EC 99/2017. CAPUT DO ART. 101 Redação anterior Redação dada pela EC 99/2017 Art. 101. Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios que, em 25 de março de 2015, estiverem em mora com o pagamento de seus precatórios quitarão até 31 de dezembro de 2020 seus débitos vencidos e os que vencerão dentro desse período, depositando, mensalmente, em conta especial do Tribunal de Justiça local, sob única e exclusiva administração desse, 1/12 (um doze avos) do valor calculado percentualmente sobre as respectivas Art. 101. Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios que, em 25 de março de 2015, se encontravam em mora no pagamento de seus precatórios quitarão, até 31 de dezembro de 2024, seus débitos vencidos e os que vencerão dentro desse período, atualizados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E), ou por outro índice que venha a substituí-lo, depositando mensalmente em conta especial do Tribunal de Justiça local, sob 21 receitas correntes líquidas, apuradas no segundo mês anterior ao mês de pagamento, em percentual suficiente para a quitação de seus débitos e, ainda que variável, nunca inferior, em cada exercício, à média do comprometimento percentual da receita corrente líquida no período de 2012 a 2014, em conformidade com plano de pagamento a ser anualmente apresentado ao Tribunal de Justiça local. única e exclusiva administração deste, 1/12 (um doze avos) do valor calculado percentualmente sobre suas receitas correntes líquidas apuradas no segundo mês anterior ao mês de pagamento, em percentual suficiente para a quitação de seus débitos e, ainda que variável, nunca inferior, em cada exercício, ao percentual praticado na data da entrada em vigor do regime especial a que se refere este artigo, em conformidade com plano de pagamento a ser anualmente apresentado ao Tribunalde Justiça local. § 2º DO ART. 101 Redação anterior Redação dada pela EC 99/2017 Art. 101. (...) § 2º O débito de precatórios poderá ser pago mediante a utilização de recursos orçamentários próprios e dos seguintes instrumentos: I - até 75% (setenta e cinco por cento) do montante dos depósitos judiciais e dos depósitos administrativos em dinheiro referentes a processos judiciais ou administrativos, tributários ou não tributários, nos quais o Estado, o Distrito Federal ou os Municípios, ou suas autarquias, fundações e empresas estatais dependentes, sejam parte; Art. 101 (...) § 2º O débito de precatórios será pago com recursos orçamentários próprios provenientes das fontes de receita corrente líquida referidas no § 1º deste artigo e, adicionalmente, poderão ser utilizados recursos dos seguintes instrumentos: I - até 75% (setenta e cinco por cento) dos depósitos judiciais e dos depósitos administrativos em dinheiro referentes a processos judiciais ou administrativos, tributários ou não tributários, nos quais sejam parte os Estados, o Distrito Federal ou os Municípios, e as respectivas autarquias, fundações e empresas estatais dependentes, mediante a instituição de fundo garantidor em montante equivalente a 1/3 (um terço) dos recursos levantados, 22 II - até 20% (vinte por cento) dos demais depósitos judiciais da localidade, sob jurisdição do respectivo Tribunal de Justiça, excetuados os destinados à quitação de créditos de natureza alimentícia, mediante instituição de fundo garantidor composto pela parcela restante dos depósitos judiciais, destinando-se: (...) b) no caso dos Estados, 50% (cinquenta por cento) desses recursos ao próprio Estado e 50% (cinquenta por cento) a seus Municípios; constituído pela parcela restante dos depósitos judiciais e remunerado pela taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic) para títulos federais, nunca inferior aos índices e critérios aplicados aos depósitos levantados; II - até 30% (trinta por cento) dos demais depósitos judiciais da localidade sob jurisdição do respectivo Tribunal de Justiça, mediante a instituição de fundo garantidor em montante equivalente aos recursos levantados, constituído pela parcela restante dos depósitos judiciais e remunerado pela taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic) para títulos federais, nunca inferior aos índices e critérios aplicados aos depósitos levantados, destinando-se: (...) b) no caso dos Estados, 50% (cinquenta por cento) desses recursos ao próprio Estado e 50% (cinquenta por cento) aos respectivos Municípios, conforme a circunscrição judiciária onde estão depositados os recursos, e, se houver mais de um Município na mesma circunscrição judiciária, os recursos serão rateados entre os Municípios concorrentes, proporcionalmente às respectivas populações, utilizado como referência o último levantamento censitário ou a mais recente estimativa populacional da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e 23 III - contratação de empréstimo, excetuado dos limites de endividamento de que tratam os incisos VI e VII do art. 52 da Constituição Federal e de quaisquer outros limites de endividamento previstos, não se aplicando a esse empréstimo a vedação de vinculação de receita prevista no inciso IV do art. 167 da Constituição Federal. Não havia inciso IV. Estatística (IBGE); III - empréstimos, excetuados para esse fim os limites de endividamento de que tratam os incisos VI e VII do caput do art. 52 da Constituição Federal e quaisquer outros limites de endividamento previstos em lei, não se aplicando a esses empréstimos a vedação de vinculação de receita prevista no inciso IV do caput do art. 167 da Constituição Federal; IV - a totalidade dos depósitos em precatórios e requisições diretas de pagamento de obrigações de pequeno valor efetuados até 31 de dezembro de 2009 e ainda não levantados, com o cancelamento dos respectivos requisitórios e a baixa das obrigações, assegurada a revalidação dos requisitórios pelos juízos dos processos perante os Tribunais, a requerimento dos credores e após a oitiva da entidade devedora, mantidas a posição de ordem cronológica original e a remuneração de todo o período. NOVO § 3º DO ART. 101 Antes da EC 99/2017 não havia § 3º no art. 101 do ADCT. Veja a redação do dispositivo que foi inserido: Art. 101. (...) § 3º Os recursos adicionais previstos nos incisos I, II e IV do § 2º deste artigo serão transferidos diretamente pela instituição financeira depositária para a conta especial referida no caput deste artigo, sob única e exclusiva administração do Tribunal de Justiça local, e essa transferência deverá ser realizada em até sessenta dias contados a partir da entrada em vigor deste parágrafo, sob pena de responsabilização pessoal do dirigente da instituição financeira por improbidade. 24 NOVO § 4º DO ART. 101 Antes da EC 99/2017 não havia § 4º no art. 101 do ADCT. Veja a redação do dispositivo que foi inserido: Art. 101. (...) § 4º No prazo de até seis meses contados da entrada em vigor do regime especial a que se refere este artigo, a União, diretamente, ou por intermédio das instituições financeiras oficiais sob seu controle, disponibilizará aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, bem como às respectivas autarquias, fundações e empresas estatais dependentes, linha de crédito especial para pagamento dos precatórios submetidos ao regime especial de pagamento de que trata este artigo, observadas as seguintes condições: I - no financiamento dos saldos remanescentes de precatórios a pagar a que se refere este parágrafo serão adotados os índices e critérios de atualização que incidem sobre o pagamento de precatórios, nos termos do § 12 do art. 100 da Constituição Federal; II - o financiamento dos saldos remanescentes de precatórios a pagar a que se refere este parágrafo será feito em parcelas mensais suficientes à satisfação da dívida assim constituída; III - o valor de cada parcela a que se refere o inciso II deste parágrafo será calculado percentualmente sobre a receita corrente líquida, respectivamente, do Estado, do Distrito Federal e do Município, no segundo mês anterior ao pagamento, em percentual equivalente à média do comprometimento percentual mensal de 2012 até o final do período referido no caput deste artigo, considerados para esse fim somente os recursos próprios de cada ente da Federação aplicados no pagamento de precatórios; IV - nos empréstimos a que se refere este parágrafo não se aplicam os limites de endividamento de que tratam os incisos VI e VII do caput do art. 52 da Constituição Federal e quaisquer outros limites de endividamento previstos em lei. NOVO § 2º INSERIDO AO ART. 102 Antes da EC 99/2017 não havia § 2º no art. 102 do ADCT. Veja a redação do dispositivo que foi inserido: Importante Art. 102 (...) § 2º Na vigência do regime especial previsto no art. 101 deste Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, as preferências relativas à idade, ao estado de saúde e à deficiência serão atendidas até o valor equivalente ao quíntuplo fixado em lei para os fins do disposto no § 3º do art. 100 da Constituição Federal, admitido o fracionamento para essa finalidade, e o restante será pago em ordem cronológica de apresentação do precatório. NOVO PARÁGRAFO ÚNICO INSERIDO AO ART. 103 Antes da EC 99/2017 não havia parágrafo único no art. 103 do ADCT. Veja a redação do dispositivo que foi inserido: 25 Importante Art. 103 (...) Parágrafo único. Na vigência do regime especial previsto no art. 101deste Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, ficam vedadas desapropriações pelos Estados, pelo Distrito Federal e pelos Municípios, cujos estoques de precatórios ainda pendentes de pagamento, incluídos os precatórios a pagar de suas entidades da administração indireta, sejam superiores a 70% (setenta por cento) das respectivas receitas correntes líquidas, excetuadas as desapropriações para fins de necessidade pública nas áreas de saúde, educação, segurança pública, transporte público, saneamento básico e habitação de interesse social. NOVOS §§ 2º e § 3º INSERIDOS AO ART. 105 Antes da EC 99/2017 não havia §§ 2º e 3º no art. 105 do ADCT. Veja a redação dos dispositivos inseridos: Art. 105. (...) § 2º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios regulamentarão nas respectivas leis o disposto no caput deste artigo em até cento e vinte dias a partir de 1º de janeiro de 2018. § 3º Decorrido o prazo estabelecido no § 2º deste artigo sem a regulamentação nele prevista, ficam os credores de precatórios autorizados a exercer a faculdade a que se refere o caput deste artigo. DISPOSITIVOS PARA CICLO DE LEGISLAÇÃO DIPLOMA DISPOSITIVOS CONSTITUIÇÃO FEDERAL Artigo 100. ADCT Artigos 100 a 105. BIBLIOGRAFIA UTILIZADA - Fusão de: Apontamentos do Dizer o Direito + Manual de Direito Financeiro (Harrison Leite) + Manual de Direito Processual Civil (Daniel Amorim Assumpção Neves). i Conteúdo extraído do Site Dizer o Direito 1 - INTRODUÇÃO 1.1. Honorários advocatícios 1.2. Obrigações de pequeno valor 1.3. Litisconsórcio ativo e ações coletivas 1.4 Débitos da Administração Indireta 1.5. Execução de parte incontroversa da dívida 2 - EC 62/2009 e EC 94/2016 *3 – A EC 99/2017 #DIZERODIREITO DISPOSITIVOS PARA CICLO DE LEGISLAÇÃO BIBLIOGRAFIA UTILIZADA
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