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A DIMENSÃO RELIGIOSA — ANÁLISE E COMPREENSÃO DA EXPERIÊNCIA RELIGIOSA [FILOSOFIA DA RELIGIÃO]
SUMÁRIO
Antes de começar ………………………………………………………………………………………………………………………………… 2
1. O CONCEITO TEÍSTA DE DEUS E O SENTIDO DA EXISTÊNCIA 
Qual o sentido da vida ou da existência? ………………………………………………………………………………………………… 4
Uma resposta religiosa ao problema do sentido da existência ……………………………………….……………………… 5
2. ARGUMENTOS TEÍSTAS SOBRE A EXISTÊNCIA DE DEUS
O argumento cosmológico ………………………………………………………………………………………………..………………… 8
O argumento teleológico …………………………………………………………………………………………………………………… 11
O argumento ontológico …………………………………………………………………………………………………………………… 13
3. RAZÃO E FÉ
O fideísmo de Pascal ………………………………………………………………………………………………………………………… 20
O argumento do mal ………………………………………………………………………………………………………………………… 22
A teodiceia de Leibniz ……………………………………………………………………………………………….……………………… 23
ORGANIZAR IDEIAS …………………………………………………………………………………………………………………………… 25
FICHA FORMATIVA ……………………………………………………………………………………………………………………………… 29
ANTES DE COMEÇAR…
A filosofia da religião é a disciplina da filosofia que examina criticamente a maneira como as pessoas que têm crenças religiosas as justificam. Nesta medida, interessam-lhe temas como: o exame do significado e a justificação das crenças religiosas; os conceitos e princípios centrais das religiões; a racionalidade da crença em Deus; a demonstrabilidade da existência de Deus. Algumas das suas questões fundamentais são: Deus existe? O que é a fé religiosa? Pode a fé religiosa ser explicada racionalmente? O que são os milagres? São provas credíveis da existência de Deus? O seu interesse reside mais na avaliação das razões que são apresentadas a favor e contra as crenças religiosas do que em justificar ou refutar um conjunto particular dessas crenças. A filosofia da religião estuda a religião de um ponto de vista abrangente, daí que não se possa confundir com a teologia, uma disciplina interior à própria religião.
CONCEITOS NUCLEARES
Religião: Dada a dificuldade em definir o conceito de religião, e deixando de parte a raiz etimológica do termo, pode dizer-se que o conceito de religião respeita a um conjunto de crenças e de ritos que compreendem um aspeto objetivo (a presença de uma realidade superior) e um aspeto subjetivo (o reconhecimento dessa realidade). De todo o modo, a religião será sempre uma relação que o ser humano estabelece com uma entidade superior que o transcende.
Transcendência: O conceito de transcendente ou de transcendência tem a sua origem etimológica no termo latino transcendere, que significa «passar para lá», «ultrapassar». Num sentido comum ganha o significado de «superior». Em termos metafísicos remete para algo que está separado do mundo sensível, uma ideia de um princípio ou de um ser radicalmente separado do mundo. O seu oposto é a imanência.
Imanência: Tem origem latina na palavra immanere, que significa «morar em». O conceito de imanência aplicado ao mundo diz que ele não é regulado por um princípio superior, distinto e separado, mas que constitui uma substância autossuficiente. Segundo esta teoria, Deus não está fora e acima do mundo, reside nele.
1. O CONCEITO TEÍSTA DE DEUS E O SENTIDO DA EXISTÊNCIA 
Apesar da enorme multiplicidade de religiões e de atitudes face ao sagrado, a maioria dos filósofos tem tradicionalmente centrado as suas investigações nas três grandes religiões ocidentais – judaísmo, cristianismo e islamismo – e na sua figura primeira e dominante – Deus.
Por crerem na existência de um Deus único, judeus, cristãos e muçulmanos são designados «monoteístas» (do grego mono, «um» + theo, «deus») ou simplesmente teístas. O teísmo afirma Deus como realidade suprema, absoluta e transcendente, um algo que não pode ser inteiramente definido com as palavras de que o ser humano dispõe. Apesar desta dificuldade, o teísta defende serem as seguintes as características ou atributos de Deus:
→ Ser pessoal, carente de corpo. 
→ Único criador e sustentáculo do Universo. 
→ Ser omnipotente (pode tudo; é todo-poderoso, o que faz com que não exista nenhuma ameaça que esteja acima dele). 
→ Ser omnisciente (tudo sabe, podendo ser o garante da justiça, pois não pode ser enganado). 
→ Ser omnipresente (está simultaneamente em toda a parte, pelo que pode garantir uma proteção permanente).
→ Ser perfeitamente livre. 
→ Ser eterno…
Para as religiões ocidentais, a tese central é a existência de Deus, e esta, só por si, justifica a existência do mundo enquanto criação divina.
O teísmo é a doutrina que afirma Deus como realidade suprema, absoluta e transcendente. O teísta entende Deus como criador do universo e de tudo quanto existe. Deus é fundamento da moral, do conhecimento e das leis. É pessoa que, embora transcendente, pode entrar em relação com o ser humano.
Por vezes, confunde-se ateísmo e agnosticismo, mas ser ateu não é o mesmo que ser agnóstico. O quadro seguinte sintetiza as principais diferenças entre estas duas perspetivas.
Tendo clarificado a ideia do Deus teísta e procurado uma aproximação inicial ao conceito de religião, podemos agora avançar para algumas questões filosóficas mais abrangentes. A primeira de que nos ocuparemos é uma das questões últimas e fundamentais, uma vez que dela derivam outros tópicos e questões filosóficas importantes.
Qual o sentido da vida ou da existência?
Perguntar pelo sentido da vida ou existência não é algo que façamos todos os dias. Normalmente esta questão só nos surge quando algo nos corre mal ou quando nos sentimos infelizes. Nessas alturas, demandamos pelo sentido da existência: Quem somos? De onde vimos? Para onde vamos? Qual o nosso lugar no mundo? Qual o sentido das nossas vidas?
Estas questões constituem-se verdadeiramente como problemas filosóficos quando, ainda que felizes, sentimos uma enorme angústia ou uma tremenda inquietude face ao sentido do nosso existir e nos questionamos sobre o nosso lugar no mundo e a importância da felicidade para a nossa vida, procurando uma resposta para o sentido da nossa existência e do nosso lugar no mundo.
Uma resposta religiosa ao problema do sentido da existência
Perguntar pelo sentido da vida é, pois, indagar pela finalidade da existência. Vivemos para quê? Há algum fio condutor na nossa vida ou ela é um emaranhado de acontecimentos sem sentido e sem relação entre si?
Muitas pessoas procuram o sentido da vida na sua essência íntima, isto é, fora do âmbito da religião e das crenças religiosas. Todavia, muitas outras procuram-no tendo precisamente a crença, a fé em Deus, como horizonte de partida.
Baseando-se a religião numa abertura humana ao transcendente e absoluto, o que se espera é que esta abertura conduza à revelação do sentido último, do sentido dos sentidos, ou pelo menos à esperança de que ele exista. Deus configura-se assim como sentido último, como outorgador de sentido para a vida.
Mas as religiões não caem do céu. Tudo o que é autenticamente religioso é resposta humana a questões e perguntas humanas. A especificidade das respostas religiosas reside no facto de estarem relacionadas com Deus.
Todo o texto religioso tem por base uma interpretação humana da realidade, e essa realidade é comum a crentes e não crentes. A diferença entre estas duas atitudes resulta de o crente considerar que a realidade não se esgota no imediato captado pelos sentidos, pressupondo a existência de uma Presença que não se vê em si mesma mas que está implicada no que se vê.
Este olhar sobre a realidade envolvente, sobre a vida e o sobre o seu sentido, distancia de modo claro aquele que acredita daquele que não acredita.
Para o crente, a «hipótese religiosa» é a que melhor esclarece as experiências e questões radicais postas pela realidade e pela existência: a contingência, as perguntas últimas sobre a vida e sobre a morte, a esperança, a exigência ética…
O crente encontra na «hipótese religiosa» a salvação da perdição do tempo e da inevitabilidade da morte, elevando-o à proteção sublime da realidade eterna em Deus.
Consideremos o seguinte texto:TEXTO 1
Afinal, o que somos? Quem somos? Eu sou eu, mas ainda não sou o que serei. Cá está, portanto, a pergunta radical e ineliminável: Então, o que sou e quem sou? E que devo fazer para ser finalmente eu? É assim que a pergunta pelo sentido não é uma questão adjacente, que pode colocar-se ou não. Ela é constitutiva do ser humano enquanto tal (…). Sentido tem a ver com caminho, viagem e direção – nas estradas, por exemplo, encontramos placas em seta a indicar o caminho e a direção para alcançar uma meta, um objetivo, um destino. Qual é então o caminho e o sentido da existência humana? O Homem vem ao mundo por fazer e, quer queira quer não, tem essa tarefa constitutiva: fazer-se a si mesmo. E tanto podemos fazer de nós uma obra de arte como fracassar. Einstein tinha constatado que quem sente a vida vazia de sentido não só é infeliz, como mal consegue sobreviver. O Homem não pode viver sem sentido. Aliás, a existência humana está baseada na convicção do sentido. A sua própria negação ainda o afirma. (…) O que significa que o sentido não está em nós, mas fora. Se estivesse em nós, não se colocaria a questão, pois estaria sempre presente. O sentido está no encontro com o mundo e com os outros: é saindo de si que o Homem vem a si. (…) Por isso, sente a vida como tendo sentido quem vê a sua existência reconhecida. A nossa vida não tem sentido, quando não vale para ninguém. A existência caminha de sentido em sentido – o que vamos realizando. Mas, um dia, somos confrontados com a pergunta: qual é o sentido de todos os sentidos? Este é o núcleo da questão religiosa: o quê ou quem dá sentido último à existência, para que não fique na situação da ponte que não encontra o outro lado, a outra margem? Porque, sem o Sentido último, os caminhos de sentido não vão dar a lado nenhum. «Conhecer Deus» era a maior esperança para João Bénard da Costa, que por isso podia dizer: «Acredito que esta vida não pode acabar aqui: nada faria sentido, para mim, se assim fosse.» 
A. Borges, Deus e o Sentido da Existência, Gradiva, 2011, pp. 173-174.
1. Segundo o autor do texto, qual o núcleo da questão religiosa sobre o sentido? 
2. Como a justifica o autor?
Segundo o texto, o sentido da nossa existência reside fora de nós, ou, como diz o autor, «se estivesse em nós, não se colocaria a questão, pois estaria sempre presente». 
Nesta medida, a resposta da religião à questão do sentido da vida leva-nos a concluir que a vida só tem sentido porque existe Deus, o sentido último. Ao aceitar a existência de Deus, o crente sente o conforto dessa presença e encontra nela a resposta para a sua existência e para as angústias que a finitude transporta, pois «sem o sentido último, os caminhos de sentido não vão dar a lado nenhum».
2. ARGUMENTOS TEÍSTAS SOBRE A EXISTÊNCIA DE DEUS
Abordemos agora uma outra questão fundamental da filosofia da religião.
«Haverá boas razões que mostrem que há ou não Deus?»
Perguntar se Deus existe é o tipo de questão cuja resposta afeta a forma como agimos e como interpretamos o mundo.
A resposta a esta questão assenta tradicionalmente em três argumentos que tentam demonstrar a existência de Deus.
É comum dividir os argumentos teístas da existência de Deus em argumentos a posteriori e a priori. 
→ Os primeiros dependem de princípios que só podem ser conhecidos através da nossa experiência do mundo. 
→ Os segundos supostamente assentam em princípios que podemos conhecer independentemente da nossa experiência do mundo.
Dos três argumentos teístas - argumento cosmológico (ou da primeira causa), argumento teleológico (ou do desígnio) e argumento ontológico -, só este último é completamente a priori.
O argumento cosmológico
O argumento cosmológico é um argumento a posteriori, isto é, depende de pelo menos uma premissa que só pode ser conhecida através da experiência para concluir a existência de Deus. 
A existência deste argumento remonta aos séculos IV e III a.C., a Platão e Aristóteles, mas é no século XIII, com Tomás de Aquino, que apresentou cinco versões/provas – as cinco vias – para demonstrar a existência de Deus, que conhece maior desenvolvimento. Todas as provas tomistas são a posteriori, pois o filósofo parte dos efeitos sensíveis para demonstrar a existência de Deus.
	AS CINCO VIAS DE TOMÁS DE AQUINO PARA DEMONSTRAR A EXISTÊNCIA DE DEUS
	Primeira via
Argumento do
Movimento/Primeiro motor
	É evidente aos nossos sentidos que o movimento existe. Ora, se aquilo que se move é movido por alguma força, por algum motor, não é satisfatório pensar que cada motor de cada movimento seja movido, ele próprio, por outro motor, sendo este, por sua vez, movido por outro motor, que seria movido por outro, e assim indefinidamente ao infinito. O que é razoável é que exista uma origem primeira do fenómeno do movimento, ou seja, um motor que move sem ser movido. Esse primeiro motor imóvel é Deus, criador de todo movimento.
	Segunda via
Argumento cosmológico
ou da primeira causa
	Se todo efeito tem uma causa e cada causa é, por sua vez, o efeito de outra causa, cai-se no mesmo ciclo indefinido e infinito do problema anterior, o que não é satisfatório. É, pois, necessário que haja uma primeira causa (causa eficiente) que por ninguém tenha sido causada, caso contrário não haveria nenhum efeito, uma vez que cada causa pediria uma outra causa numa sequência infinita de causas. A causa primeira das outras causas é uma causa não causada por nenhuma outra. Essa primeira causa é Deus.
	Terceira via
Argumento do contingente/possível
e necessário
	Todos os seres que conhecemos são finitos e contingentes, isto é, são e deixam de ser, pois não têm em si próprios a razão da sua existência. Se todos os seres são finitos e contingentes, em determinado momento deixariam todos de ser e nada existiria, o que é absurdo. Logo, a existência de seres contingentes implica a existência de um ser necessário, um ser que simplesmente é: Deus. 
	Quarta via
Argumento dos graus
de perfeição
	Percebemos claramente que uma coisa é maior ou menor do que outra, ou menos ou mais verdadeira do que outra, o que significa que somos capazes de compreender que os seres finitos têm algum grau de perfeição, mas nenhum deles é a perfeição absoluta ou a causa de todas as perfeições. Esta, no entanto, precisa de existir, uma vez que os seres a possuem em algum grau. Logo, necessariamente, há um ser sumamente perfeito, causa de todas as perfeições: Deus.
	Quinta via
Argumento do governo
do mundo/da finalidade do ser
	A ordem do mundo implica que os seres tendam todos para um fim, não em virtude de um acaso, mas de uma inteligência que os dirige. Logo, é necessário que exista um ser inteligente que ordene a natureza e a encaminhe para a sua finalidade.
As três primeiras vias são versões diferentes do argumento cosmológico. A versão mais utilizada, porém, para explicar este argumento é a segunda via, que decorre da relação causa-efeito observada nas coisas criadas. Tudo o que acontece é determinado por uma causa, que é sempre anterior ao efeito. Todavia, é necessário que haja uma primeira causa – causa eficiente - que por ninguém tenha sido causada, caso contrário a regressão na cadeia de causas seria infinita. 
Se houvesse uma regressão infinita na cadeia de causas, não haveria uma primeira causa, incausada, logo, não poderia haver também um primeiro efeito. 
Se admitirmos a existência de uma cadeia causal sem uma primeira causa, não é possível que existam quaisquer causas e efeitos, o que seria absurdo. Este argumento, por redução ao absurdo, permite a Tomás de Aquino excluir a possibilidade de uma regressão infinita de causas, uma vez que nada pode ser causa de si próprio. Assim, conclui-se, necessariamente, que existe uma primeira causa incausada: Deus. 
Porque é a posteriori, este argumento parte da experiência para provar a existência de Deus: a existência do universo é a sua justificação. A sua existência, a sua complexidade e particularidades sugerem a existência de uma causa não humana. Porém, mesmo que a existênciado universo requeira uma causa primeira incausada, nada garante que esse deus seja, necessariamente, o Deus teísta. Acresce que dizer que Deus é a sua própria causa sugere uma falácia, pois, para ser causa de si próprio, Deus teria de se gerar a si mesmo, e isso só seria possível se Deus já existisse. No entanto, se Deus já existisse não tinha necessidade de se gerar.
Por outro lado, e porque o argumento se sustenta na afirmação de que existe uma cadeia causal que regride infinitamente, o universo não pode ter uma causa primeira, pois, se a tivesse, a cadeia causal já não seria infinita. 
O argumento teleológico
O argumento teleológico, também é conhecido como argumento do desígnio, é um argumento a posteriori, uma vez que parte do facto de no mundo existir ordem e finalidade e pretende daí concluir a existência de Deus. O termo deriva da palavra grega telos, que significa «fim» ou «propósito». Também este argumento conhece mais do que uma versão, mas a ideia central em que assenta é a de que o propósito que nós (aparentemente) detetamos no funcionamento do mundo natural prova a existência de um agente criador e responsável por ele. Na proposta tomista, este argumento corresponde à quinta via: a ordem do mundo implica que os seres tendam todos para um fim, não em virtude de um acaso, mas de uma inteligência que os dirige. Logo, é necessário que exista um ser inteligente que ordene a natureza e a encaminhe para a sua finalidade.
CONCEITO NUCLEAR
Teleológico: Relativo ou dotado de propósito. Um sistema teleológico é composto por partes que funcionam conjuntamente tendo em vista uma finalidade.
Se a observarmos a natureza e o universo, percebemos que todas as coisas, das mais pequenas às maiores, cumprem uma função e se dirigem para um fim. Se as coisas não são dotadas de inteligência, ignoram o fim para que tendem, todavia, se se movimentam em harmonia com as outras coisas e para uma finalidade concreta, é necessário que exista um desígnio que não pode ter sido criado por elas. 
Para explicar que coisas destituídas de conhecimento não podem tender para um fim, a menos que sejam movidas por algo inteligente, Tomás de Aquino recorre ao exemplo da flecha que, se não for atirada pelo arqueiro, não pode rumar para o seu alvo: 
TEXTO 2
Ora, aquilo que não tem conhecimento não tende para um fim, a não ser que seja dirigido por algo que conhece e que é inteligente, como a flecha pelo arqueiro. (…) Ora, o que não se pode alcançar com o poder da sua natureza, é necessário que seja transmitido por um outro: como a flecha é lançada para o alvo pelo arqueiro. Por isso, para falar com exatidão, a criatura racional, que é capaz da vida eterna, é para ela conduzida como que transportada por Deus.
Tomás de Aquino, Suma Teológica, São Paulo: Loyola, 2001, vol. I, 2, 3, C e 23, 1, C.
A finalidade resulta, pois, da ação de um ser inteligente, o qual dirige e determina a finalidade de cada ser. Esse ser é Deus.
O que Tomás de Aquino pretende mostrar com este argumento é que tudo o que existe no mundo se orienta para um fim. No entanto, como é impossível pensar em causas finais sem intencionalidade, é necessário que exista um ser inteligente que tudo governa: Deus.
À semelhança do argumento cosmológico, o argumento teleológico, ainda que possa demonstrar a existência e a necessidade de um ser criador, não prova que ele seja único, como não prova que, existindo, seja o deus teísta. E se Deus existe e governa os fins para que tudo tende, sendo, por definição, omnisciente, omnipotente e sumamente bom, como se explica a existência do mal – catástrofes, sofrimento, crueldade, etc. – e a inação de Deus perante isso?
O argumento ontológico
De uma natureza diferente é o argumento ontológico. É o único a priori e assenta em verdades puramente conceptuais.
O argumento ontológico, cuja versão mais famosa foi apresentada pelo filósofo medieval Sto. Anselmo, tenta demonstrar a existência de Deus a partir da própria definição de Deus como ser supremo.
Eis o argumento.
TEXTO 3
Pois bem, Senhor, tu que dás compreensão à fé, concede-me que eu possa compreender, na medida em que julgares adequado, que existes tal como creio que existes, e que és o que creio que és. Ora, creio que és algo maior do que o qual nada pode ser pensado. Ou poderá ser que uma coisa dessa natureza não existe, dado que «O insensato diz em seu coração: Não há Deus!» [Salmos 14, 1]. Mas certamente que, quando este insensato ouve do que estou a falar, nomeadamente, «algo maior do que o qual nada pode ser pensado», compreende o que ouve, e o que ele compreende está no seu espírito, ainda que não compreenda que isso existe realmente. Pois uma coisa é um objeto existir no espírito, e outra coisa é compreender que um objeto realmente existe. Assim, quando um pintor planeia com antecedência o que vai executar, ele tem-no no seu espírito, mas ainda não pensa que isso existe realmente pois ainda não o executou. Contudo, depois de tê-lo efetivamente pintado, tem-no simultaneamente no seu espírito e compreende que existe porque o fez. Mesmo o insensato, pois, é forçado a concordar que algo maior do que o qual nada pode ser pensado existe no espírito, dado que o compreende quando o ouve, e o que é compreendido está no espírito. (…) Assim, se aquilo maior do que o qual nada pode ser pensado existisse apenas no espírito, este mesmo maior do que o qual nada pode ser pensado seria algo maior do que o qual algo pode ser pensado. Mas isto é obviamente impossível. Logo, não há qualquer dúvida de que aquilo maior do que o qual nada pode ser pensado existe tanto no espírito como na realidade. (…) E tu, Senhor nosso Deus, és esse ser. Existes tão verdadeiramente, Senhor meu Deus, que nem podes sequer ser pensado como se não existisses. (…) Na verdade, tudo o mais que existe, exceto tu, pode ser pensado como não existindo. 
Santo Anselmo, Proslogion, Porto Editora, 1996, p. 23.
1. Como é definido Deus? 
2. Onde se encontra? 
3. Porque não pode existir apenas no espírito?
Sto. Anselmo começa por afirmar que Deus existe nas nossas mentes. Deus existe, então, como ideia nas nossas mentes. No entanto, se existisse apenas nas nossas mentes, poderíamos conceber um ser ainda superior, designadamente um que existisse também na realidade. Por isso, para não entrarmos em contradição, Deus deverá existir, não apenas nas nossas mentes, mas também na realidade.
3. RAZÃO E FÉ
Face aos argumentos tradicionais em defesa da existência de Deus que acabámos de analisar, a maioria dos crentes não se deixaria perturbar pelo facto de eles não contribuírem de forma significativa para a prova da sua existência. A sua crença não depende de tais argumentos e certamente não seria abalada pela sua refutação. 
Acreditar em Deus não é uma questão de razão, mas de fé, e isso é um facto incontestável. Nunca ninguém chegou à fé religiosa a partir de raciocínios filosóficos, de demonstrações racionais ou de provas científicas. O fenómeno da fé tem um caráter pré-reflexivo, o mesmo é dizer que nada tem de irracional ou de não pensado.
	TEÍSMO
	FIDEÍSMO
	Perspetiva que considera Deus criador do universo e de tudo quanto existe. Deus é o fundamento dos valores morais e o princípio supremo das leis naturais e das verdades lógicas. Deus é concebido como absolutamente livre, perfeito, omnipotente, omnisciente, sumamente bom. Apesar de ser, para os teístas, misterioso e infinito, a sua existência pode ser provada através de argumentação racional. Podemos não compreender os desígnios de Deus, mas podemos provar racionalmente a sua existência.
	Perspetiva que considera que acreditar em Deus é dar um salto para lá dos limites e da capacidade de compreensão da razão. Fé e razão são incompatíveis. A fé começa onde a razão acaba. De Deus podemos dar testemunho, mas não provas.
A relação entre razão e fé é uma das problemáticas que mais polémicas gerou entre os filósofos. Todos conhecemos o caso de Galileu e da sua condenação por contrariar, segundo as autoridades eclesiásticas da altura, os princípiosda fé cristã e das verdades reveladas através das suas ideias cosmológicas ou, até mesmo antes dele, a condenação por heresia de Giordano Bruno por defender a teoria heliocêntrica.
As religiões monoteístas supõem a fé: na Revelação, na Ressurreição, no que diz a Bíblia, o Corão ou a Tora.
Os que elevam a fé acima da razão – fideístas – defendem que a fé é um caminho alternativo para a verdade e que, no caso da crença religiosa, é o caminho correto.
O divórcio entre a fé e a razão acentuou-se, no caso do cristianismo, com os primeiros Concílios que estabeleceram o dogma da Trindade.
Santo Agostinho (354-430), um dos Doutores da Igreja, foi dos primeiros a insistir no caráter irredutível e inacessível da fé pela razão. Foi ele quem colocou a questão do livre-arbítrio.
Durante toda a Idade Média, os monoteísmos tentaram introduzir a razão na religião como apoio e confirmação da fé. Uma das figuras que mais se destacou neste propósito foi Tomás de Aquino (1226-1274) que, no século XIII, pretendeu mostrar que os dogmas não são totalmente irracionais, no sentido de não serem totalmente inacessíveis à razão, e tentou demonstrar racionalmente a existência de Deus a partir de evidências sensíveis.
Atentemos nas suas palavras.
TEXTO 4
Apesar de a verdade da fé cristã (…) ultrapassar a capacidade da razão, a verdade que a razão humana tem naturalmente aptidão para conhecer não pode ser oposta à verdade da fé cristã. Pois o que resulta da aptidão natural da razão humana é claramente muitíssimo verdadeiro; tanto que nos é impossível pensar que tais verdades são falsas. Nem é permissível pensar que é falso o que aceitamos por fé, dado que isto está confirmado de um modo claramente divino. Logo, dado que só o falso se opõe ao verdadeiro, como é claramente evidente das suas definições, é impossível que a verdade da fé se oponha aos princípios que a razão humana conhece naturalmente. (…) Daqui obtemos evidentemente a seguinte conclusão: sejam quais forem os argumentos avançados contra as doutrinas da fé, as suas conclusões serão incorretamente derivadas dos primeiros princípios autoevidentes implantados na natureza. Tais conclusões não têm a força da demonstração; ou são argumentos prováveis ou são sofísticos. E, portanto, é possível dar-lhes resposta. 
Tomás de Aquino, Suma Contra os Gentios, Livraria Sulina Editora, cap. VII, 1990.
1. Quais as teses defendidas pelo autor do texto relativamente à relação fé-razão?
Apesar destas tentativas de conciliação entre a razão e a fé, esta, enquanto religião, não pode estabelecer princípios universais e irrefutáveis que substituam aquela. A universalidade axiomática é pertença única da razão.
Durante muito tempo, todas as religiões, com incidência particular para o cristianismo, pretenderam fazer da fé o princípio instituinte de uma cosmovisão segura e indiscutível. Porém, a cosmovisão da ciência não é absoluta; e a da razão também não. Uma e outra resultam de processos evolutivos contínuos e, neste percurso de melhoramento, existem críticas, vacilações, erros, correções, etc. Tal posicionamento não é compatível com a fé.
É certo que basear a crença nos dados da razão não é simples, talvez seja mesmo impossível. Consideremos, por momento, estas possibilidades: 
1. Acreditar em Deus é tão razoável como não acreditar – ambas as posições estão equilibradas. 
2. Não sabemos para que posição pendem os dados. 
3. Por alguma razão, a crença precisa de mais certezas do que as que os dados da razão dão, pelo que devemos ter em conta outras questões.
Os fideístas, que afirmam que acreditar em Deus é ir para lá dos limites e das capacidades da razão, e que consideram que a fé e a razão são incompatíveis, não defendem a primeira possibilidade. Porém, alguns dos seus argumentos apoiam a segunda e a terceira possibilidades. Para eles, embora a razão não determine se devemos ou não acreditar em Deus, isso não significa que não tenhamos razões para acreditar.
Pelo que fica dito, parece ser difícil (para não dizer impossível) conciliar fé e razão. No entanto, a sua dialética pode ser estabelecida através de outras vias que não as religiosas.
Numa conceção laica da humanidade e do mundo, podemos viver uma fé nos valores da fraternidade, do amor, da solidariedade, entre outros, sem qualquer suporte religioso. Contudo, não podemos racionalmente provar que é preciso amar, nem estamos completamente certos de que o amor vencerá.
Não podemos assumir totalmente a fé na razão, no sentido em que a razão não explica nem pode explicar tudo. Mas podemos ter fé nas virtudes racionais relativamente aos delírios e às ilusões.
Face ao desconhecido e ao mistério da aventura humana (que é ela mesma um desconhecido), precisamos tanto da razão como da fé.
Os fideístas, que afirmam que acreditar em Deus é ir para lá dos limites e das capacidades da razão, e que consideram que a fé e a razão são incompatíveis, não defendem a primeira possibilidade. Porém, alguns dos seus argumentos apoiam a segunda e a terceira possibilidades. Para eles, embora a razão não determine se devemos ou não acreditar em Deus, isso não significa que não tenhamos razões para acreditar.
Pelo que fica dito, parece ser difícil (para não dizer impossível) conciliar fé e razão. No entanto, a sua dialética pode ser estabelecida através de outras vias que não as religiosas.
Numa conceção laica da humanidade e do mundo, podemos viver uma fé nos valores da fraternidade, do amor, da solidariedade, entre outros, sem qualquer suporte religioso. Contudo, não podemos racionalmente provar que é preciso amar, nem estamos completamente certos de que o amor vencerá.
Não podemos assumir totalmente a fé na razão, no sentido em que a razão não explica nem pode explicar tudo. Mas podemos ter fé nas virtudes racionais relativamente aos delírios e às ilusões.
Face ao desconhecido e ao mistério da aventura humana (que é ela mesma um desconhecido), precisamos tanto da razão como da fé.
O fideísmo de Pascal
O filósofo francês Blaise Pascal (1623-1662) não pretendeu provar a existência de Deus, já que era um fideísta, logo, defendia que não é pela razão que se chega a Deus, mas pelo “coração”. O seu principal objetivo era despertar do ceticismo e abrir a possibilidade da conversão a Deus. Para o filósofo, a razão é incapaz de alcançar determinadas realidades a que apenas se pode aceder pela fé. Daí que uma das características da razão é, precisamente, o reconhecimento e a aceitação das suas limitações.
São as razões do coração – as que nos dispõem para a fé - que permitem a compreensão de Deus e da existência humana, sendo o coração, por isso, fonte de conhecimento: só pela fé podemos testemunhar a existência de Deus.
Esta perspetiva de que a crença em Deus não pode ser racionalmente justificada, leva Pascal a apostar, isto é, a concluir que, em caso de dúvida, é mais razoável acreditar do que não acreditar na existência de Deus.
TEXTO 5
Examinemos, pois, esse ponto e digamos: ou Deus existe, ou Deus não existe. Mas, para que lado nos inclinamos? A razão nada pode determinar nesse campo. Há um caos infinito que nos separa. Na extremidade dessa distância infinita, joga-se cara (existe) ou coroa (não existe). Que apostareis? Pela razão, não podereis defender nem uma coisa, nem outra.
Não acusem de falsidade os que fizeram uma escolha, pois nada sabeis disso. “não: mas eu acuso-os de o terem feito, não essa escolha, mas uma escolha; porque ambos estão em falta: o justo é não apostar”.
Sim, mas é preciso apostar: e isso não é voluntário; nós somos obrigados a isso; (e apostar que Deus existe, é apostar que Ele não existe). Em qual apostarás? Já não é preciso escolher, vejamos o que menos vos interessa: tendes duas coisas a perder, o verdadeiro e o bem, e duas coisas a utilizar, a vossa razão e a vossa vontade, o vosso conhecimento e a vossa felicidade; e a vossa natureza tem duas coisas a evitar, o erro e a miséria. (…)
Pensemos no ganho e na perda, preferindo a coroa, que é Deus. Estimemos as duas hipóteses: se ganhardes, ganhaistudo; se perderdes, nada perdeis. Apostai, pois, que ele existe, sem hesitar (…). Jogo é jogo: onde não há o infinito e onde não há infinidade de probabilidades de perda contra as de ganho, não há que hesitar, é preciso dar tudo; e, assim, quando se é forçado a jogar, é preciso renunciar à razão. (…)
[Mas] eu sou feito de tal maneira, que não posso crer. Que quereis, pois, que faça?
(…) Aprendei com os que estiveram atados como vós e que apostaram agora toda a sua felicidade; são pessoas que se curaram do mal de que desejais curar-vos. Segui a maneira pela qual começaram: fazendo como se acreditassem, tomando água benta, mandando dizer missas, etc. Naturalmente, isso irá fazer-vos crer.
Blaise Pascal, Pensamentos, 2019, Lisboa: Relógio d’Água.
A aposta de Pascal é um argumento baseado na impossibilidade de emitir qualquer juízo relativamente à existência ou não existência de Deus que tenha a razão como fonte. Pascal não tenta, pois, provar a existência de Deus, pois, segundo o autor, Deus não se pode provar. Por essa razão, considera a crença em Deus uma aposta, ou seja, um ato de fé. Apostar, isto é, arriscar, é a melhor alternativa que nos resta, porque ou Deus existe ou Deus não existe. 
Pascal defende que é vantajoso apostar na existência de Deus, porque, se o fizermos e ele realmente existir, ganhamos em termos sido crentes; se Deus não existir e perdermos a aposta, não perdemos nada. Em contrapartida, se apostarmos na não existência de Deus e ele existir, perdemos tudo. Ou seja, é mais razoável apostar na existência do que na não existência de Deus. 
Várias são as críticas que se podem apontar à aposta de Pascal, desde logo ao facto de o argumento apresentar apenas duas possibilidades: ou Deus existe, ou Deus não existe. Este argumento foi construído tendo como pano de fundo o Deus teísta (omnipotente, omnipresente, omnisciente e sumamente bom) e providente (que intervém no mundo após a sua criação), o que reduz a sua abrangência, não só porque há religiões politeístas, mas também porque nem todas as religiões, mesmo as monoteístas, concebem o seu Deus como providente.
Pascal postula que se não apostarmos na existência de Deus e ele efetivamente existir temos tudo a perder, mas não há como provar que Deus recompensa aqueles que acreditam na sua existência e que castiga os outros, os que não creem. Pode, precisamente, acontecer o contrário: Deus recompensar aqueles que não acreditam na sua existência por ausência de provas e castigar aqueles que acreditam apenas por cálculo oportunista ou ingenuidade.
O argumento do mal 
Entre os argumentos que negam a existência de Deus, o mais invocado contra o teísmo tradicional é o problema do mal. O que este argumento afirma é que um Deus perfeito e sumamente bom não consegue evitar que exista a dor e o sofrimento. Analisemos o argumento.
Primeira argumentação 
No cristianismo e nas outras religiões ocidentais presume-se que Deus seja omnisciente, omnipotente e sumamente bom. Por isso, ou Deus não sabe que existe sofrimento (e aí não é omnisciente, logo, não é Deus), ou então sabe que há sofrimento, mas não consegue pôr-lhe fim (e aí não é omnipotente, logo, não é Deus), ou talvez saiba que há dor e sofrimento e possa pôr-lhes cobro mas decide não o fazer (e aí não é sumamente bom, logo, não é Deus).
→ Contra-argumentação teísta: 
• Negam que um ser perfeitamente bom tenha de escolher prevenir o mal. 
• Recorrem ao conceito de livre-arbítrio. 
• Afirmam que o sofrimento não é causado por Deus, mas pelas pessoas, e Deus deu-lhes a possibilidade de escolherem praticar ou não o mal. 
• Defendem que escolher entre um mundo em que há livre-arbítrio e sofrimento e um mundo em que não há livre-arbítrio nem sofrimento, ou seja, onde vigora um absoluto determinismo, a primeira é a melhor escolha.
Segunda argumentação 
E o que acontece relativamente aos males pelos quais os humanos não são responsáveis, como as catástrofes naturais, as doenças incuráveis, etc.?
→ Contra-argumentação teísta: 
• Estes males naturais dão aos seres humanos a oportunidade, que de outra maneira não teriam, de realizar ações boas e heroicas.
Terceira argumentação 
Que justificação existe para que Deus permita que as crianças sofram?
→ Contra-argumentação teísta: 
• Deus, que nos dá a vida, tem o direito de permitir que haja algum sofrimento para alguns durante um período de tempo, pois sempre existe a compensação na outra vida, o que é um privilégio.
A teodiceia de Leibniz
A problemática do mal sempre mereceu a atenção da humanidade, que a tentou compreender de diversas formas, desde a sua origem até à sua possível manifestação no ser humano nas suas várias formas: finitude, mal físico, violência, etc.
Em 1710, o filósofo alemão Gottfried Leibniz (1646-1716) publicou a obra Ensaios de Teodiceia sobre a bondade de Deus, a liberdade do homem e a origem do mal, inventando a palavra teodiceia a partir de dois termos gregos (theós, "Deus" e díke, "justiça"), que significa, literalmente, "justiça de Deus". Nesse tratado, Leibniz procura responder a duas questões: como justificar o mal no mundo face à infinita bondade e omnipotência de Deus? Se Deus é bom e tudo quanto existe existe segundo a sua vontade, como pode existir o mal no mundo?
As teodiceias partem tríplice postulação de que Deus (teísta) é todo-poderoso, sumamente bom, mas, contudo, o mal existe no mundo. As teodiceias tratam, pois do problema do mal e procuram justificar a bondade de Deus contra as objeções levantadas pela enunciação do problema do mal, ou seja, são tentativas de conciliar a bondade divina com a existência do mal no mundo. 
Para Leibniz, o mundo criado por Deus é o melhor mundo possível, procurando assim garantir que a Deus não falta conhecimento nem poder. Para as coisas existirem como existem, há uma razão, ainda que os seres humanos não consigam entender os desígnios de Deus. Deus tem, argumenta Leibniz, uma razão suficiente para tal, o facto de não a percebermos não quer dizer que ela não exista.
Leibniz classifica o mal em três tipologias: o mal metafísico (a imperfeição do ser criado); o mal físico (o sofrimento) e o mal moral (o pecado). 
O que é criado por Deus é imperfeito e contingente e, por isso, a obra divina inclui o mal metafísico – a imperfeição do ser criado por comparação ao Criador, de onde decorre que no melhor dos mundos possíveis a imperfeição existe, afigurando-se ao ser criado como um mal. Do mal metafísico decorre não apenas o mal que é cometido, como também o mal que é sofrido e, por isso, o desafio maior é justificar o mal moral (pecado) e o mal físico (sofrimento).
Leibniz responde que o mal moral (pecado) e o mal físico (sofrimento) são o resultado de uma limitação originária (mal metafísico), o que explicaria, em parte, por que razão o ser humano os reconhece como mal. No entanto, o bem-estar, por oposição ao sofrimento, do ser criado não é o (único) desígnio de Deus, o seu desígnio é a ordem e a perfeição universais.
Se o livre-arbítrio é a origem do mal moral (pecado), por que razão o Criador dotou a criatura de liberdade? Leibniz justifica a liberdade humana, porque é com ela que o ser criado pode agir e transformar o mundo em que vive. Apesar de poder escolher o mal, o bem que resulta da sua liberdade é um mal menor se comparado com o bem que é o facto de Deus criar um ser dotado de razão. Se a racionalidade pressupõe a liberdade, o melhor mundo possível tem de admitir o mal como necessário, ou seja, Deus não quer o mal, mas permite que o mal aconteça, como condição sem a qual o melhor dos mundos nunca o seria. 
Sobre o mal físico, o sofrimento, Leibniz argumenta que o mal é um castigo que resulta da culpa do pecado, mas que tem uma função importante no melhoramento moral, pois permite, por contraste, não só valorizar o bem, como cumprir uma função na prevenção de um mal maior. Sem o conceito de mal, não poderíamos conceber o bem, nem desejá-lo. Um mal que está ao serviço de um bem maior é um mal menor. Nesse sentido, o mal é justificável.
ORGANIZAR IDEIAS■ O que é a religião?
Em sentido lato, pode dizer-se que a religião é a relação, a união, entre o Eu e uma entidade ou ser sobrenatural. Na religião encontramos uma dimensão privada e mais subjetiva, relacionada com o próprio sentimento religioso e com a fé, e uma dimensão mais pública, marcada pelas cerimónias e rituais da experiência religiosa.
■ Em que consiste a visão teísta de Deus?
O teísmo é a doutrina que afirma Deus como realidade suprema, absoluta e transcendente. O teísta entende Deus como criador do universo e de tudo quanto existe. Deus é fundamento da moral, do conhecimento e das leis. É pessoa que, embora transcendente, pode entrar em relação com o ser humano.
■ Qual o fundamento da resposta da religião ao sentido da vida?
Do ponto de vista da religião, o sentido da vida depende da existência de Deus e da crença numa vida depois da morte que tudo recompensará. Para o crente, esta resposta é a que melhor esclarece as experiências e questões radicais postas pela realidade e pela existência. Deus é o sentido último de todo o sentido. Ele é a razão de todo o sentido.
■ Há argumentos teístas que tentem provar a existência de Deus? 
Sim. Os argumentos teístas tradicionais que tentam provar a existência de Deus são três: o argumento cosmológico (ou da primeira causa), o argumento teleológico (ou do desígnio) e o argumento ontológico. Os dois primeiros são a posteriori e o último é a priori.
■ Em que se baseia a versão tomista do argumento cosmológico? 
Se todo efeito tem uma causa e cada causa é, por sua vez, o efeito de outra causa, cai-se no mesmo ciclo indefinido e infinito do problema anterior, o que não é satisfatório. É, pois, necessário que haja uma primeira causa (causa eficiente) que por ninguém tenha sido causada, caso contrário não haveria nenhum efeito, uma vez que cada causa pediria uma outra causa numa sequência infinita de causas. A causa primeira das outras causas é uma causa não causada por nenhuma outra. Essa primeira causa é Deus.
■ De que forma é criticada a versão tomista do argumento cosmológico? 
O argumento é criticado por defender que tudo tem de ter uma causa e, no entanto, afirmar, simultaneamente, que há algo que não a tem. Por outro lado, é também refutado pelo facto de não ser uma demonstração, já que se é possível ter uma série infinita de causas e efeitos porque não pode esta prolongar-se, retrospetivamente, de forma infinita? Por fim, porque nada prova que essa causa primeira, a existir, seja necessariamente o deus teísta.
■ O que diz a versão tomista do argumento teleológico? 
A ordem do mundo implica que os seres tendam todos para um fim, não em virtude de um acaso, mas de uma inteligência que os dirige. Logo, é necessário que exista um ser inteligente que ordene a natureza e a encaminhe para a sua finalidade.
■ Que críticas são feitas à versão tomista do argumento teleológico? 
À semelhança do argumento cosmológico, o argumento teleológico, ainda que possa demonstrar a existência e a necessidade de um ser criador, não prova que ele seja único, como não prova que, existindo, seja o deus teísta. E se Deus existe e governa os fins para que tudo tende, sendo, por definição, omnisciente, omnipotente e sumamente bom, como se explica a existência do mal – catástrofes, sofrimento, crueldade, etc. – e a inação de Deus perante isso?
■ Em que é o argumento ontológico diferente? 
O argumento ontológico é o único que é a priori, pois assenta em verdades puramente conceptuais, já que tenta demonstrar Deus a partir da sua própria definição como ser supremo, omnisciente, omnipresente e omnipotente. Neste sentido, e a partir da argumentação apresentada por Sto. Anselmo, Deus seria o ser maior do que o qual nada pode ser pensado. E se Deus, com todas as suas características, só existisse no pensamento e não existisse na realidade, então, não seria perfeito, uma vez que a noção de perfeição inclui necessariamente a existência. Logo, conclui, Deus existe necessariamente.
■ Que contra-argumentação é apresentada ao argumento ontológico?
Uma das críticas assenta no facto de, partindo do mesmo pressuposto do argumento, se poder justificar a existência de qualquer outra coisa, por mais absurda que seja. Uma outra crítica afirma que a existência não é uma propriedade de Deus, mas apenas uma possibilidade para que Ele possa ter propriedades, como a de ser omnipotente, por exemplo. Por fim, e na nesta mesma linha, a crítica apresentada por Kant diz que dado que a existência não faz parte da essência, e que o argumento a considera como tal, é dado um salto ilícito da ordem do pensar para a ordem do ser.
■ Em que consiste o teísmo?
O teísmo é considera Deus criador do universo e de tudo quanto existe. Deus é o fundamento dos valores morais e o princípio supremo das leis naturais e das verdades lógicas. Deus é concebido como absolutamente livre, perfeito, omnipotente, omnisciente, sumamente bom. Apesar de ser, para os teístas, misterioso e infinito, a sua existência pode ser provada através de argumentação racional. Podemos não compreender os desígnios de Deus, mas podemos provar racionalmente a sua existência.
■ Em que consiste o fideísmo?
O fideísmo considera que acreditar em Deus é dar um salto para lá dos limites e da capacidade de compreensão da razão. Por contraposição ao teísmo, considera que fé e razão são incompatíveis. A fé começa onde a razão acaba. De Deus podemos dar testemunho, mas não provas.
■ O que separa a razão da fé? 
A fé é a única via para se aceder a Deus. A razão é incompetente para tal fim. Como defendem os fideístas, a fé é um caminho alternativo para a verdade e, no caso da crença religiosa, o único caminho. A fé afirma-se por si própria, sem críticas, o que não acontece com a razão. A razão nunca é absoluta e isenta de erros e críticas.
■ Qual o alcance da “aposta de Pascal”?
A aposta de Pascal é um argumento baseado na impossibilidade de emitir qualquer juízo relativamente à existência ou não existência de Deus que tenha a razão como fonte. Apostar, isto é, arriscar, é a melhor alternativa que nos resta, porque ou Deus existe ou Deus não existe. A conclusão do argumento é a de que vale a pena apostar na existência de Deus, pois, se o fizermos e se Ele efetivamente existir, ganhamos tudo; se Deus existir e não apostarmos nele, temos tudo a perder.
■ Que críticas podem ser feitas à “aposta de Pascal”?
Mesmo admitindo que Deus existe, este tem de ser obrigatoriamente o Deus teísta. Não há como provar que Deus recompensa os que acreditam e que castiga os que não acreditam.
■ Em que consiste o argumento do problema da existência do mal no mundo? 
O argumento do problema da existência do mal no mundo parte da própria definição de Deus como ser sumamente bom, omnipotente e omnisciente para afirmar que um Deus assim definido não evita que exista a dor e o sofrimento. Assim, argumenta-se que: (a) ou Deus não sabe que existe o sofrimento e então não é omnisciente (logo, não é Deus); (b) ou sabe que o sofrimento existe mas não consegue pôr-lhe fim e então não é omnipotente (logo, não é Deus); ou (c) sabe que existe sofrimento mas não quer terminar com ele e então não é sumamente bom (logo, não é Deus). 
■ Que objetivos procura Leibniz alcançar na sua teodiceia?
Leibniz procura, através da resposta a duas questões principais, conciliar Deus com a presença do mal no mundo: como justificar o mal no mundo face à infinita bondade e omnipotência de Deus? Se Deus é bom e tudo quanto existe existe segundo a sua vontade, como pode existir o mal no mundo? 
■ Que argumentos apresenta Leibniz?
Leibniz argumenta que o mundo criado por Deus é imperfeito e contingente, daí que a obra de Deus inclua o mal metafísico (imperfeição do ser criado). Do mal metafísico decorre o mal moral (pecado) e o mal físico (sofrimento). O livre-arbítrio é a origem do mal moral (pecado). O mal físico (sofrimento) surge como castigo decorrente do mal moral e para que possamos valorizar o bem. Pode, ainda, ser um instrumento que visa evitar um mal maior ou obter um maior bem. Deus nãoescolhe o mal. Deus quer, primordialmente, o bem, mas consente (posteriormente) o mal como condição sem a qual o melhor dos mundos nunca o seria. 
FICHA FORMATIVA
GRUPO I
Responda às questões apresentadas.
1. Teísmo e ateísmo são doutrinas antagónicas relativamente à existência:
(A) Do mal. 
(B) Do universo. 
(C) Do livre-arbítrio. 
(D) de Deus.
2. O argumento ontológico pode ser sintetizado nos seguintes termos: 
(A) Deus é o ser sumamente perfeito. Perfeição pressupõe, necessariamente, existência. Logo, Deus existe necessariamente. 
(B) O universo existe. Tudo o que existe foi causado. A série de causas não pode ser infinita. Logo, existe uma causa primeira, Deus. 
(C) Tal como tudo o que foi criado artificialmente pelos seres humanos tem um criador, também as coisas naturais o têm, Deus. 
(D) O mal existe. Um ser sumamente bom não é compatível com a existência do mal. Logo, Deus não é sumamente bom.
3. Uma das objeções colocada ao argumento ontológico é: 
(A) Mesmo que se consiga provar que “o ser maior do que o qual nada pode ser pensado” tem de existir, necessariamente, isso não obriga a que seja o Deus teísta. 
(B) O facto de existir mal no mundo inviabiliza a possibilidade de pensar em Deus como um ser perfeito.
(C) A crença em Deus não pode ser racionalmente justificada. 
(D) A existência não é uma qualidade do objeto, mas tão-somente uma condição de possibilidade para que ela se manifeste.
4. O argumento cosmológico é um argumento:
(A) Independente da experiência. 
(B) Empírico. 
(C) A priori. 
(D) Puramente conceptual.
5. A segunda via de São Tomás mostra que: 
(A) Fé e razão são inconciliáveis. 
(B) A bondade é a via da salvação. 
(C) É impossível provar, de forma conclusiva, que Deus existe. 
(D) A fé em Deus pode ser racionalmente justificada.
6. O teísmo é uma perspetiva em torno da natureza de Deus que considera que: 
(A) Deus é o ser maior do que o qual nada pode ser pensado.
(B) Deus é imanente, pois confunde-se com a natureza. 
(C) Deus é omnipotente, omnisciente, sumamente bom, governa o mundo e revela-se aos seres humanos. 
(D) Deus é omnipotente, mas não providente. 
7. O fideísmo é a doutrina que defende que: 
(A) A fé e a razão são conciliáveis. 
(B) A fidelidade a Deus é aceitar que o mal faz parte da vida. 
(C) É a fé, e não a razão, a via que justifica as crenças religiosas. 
(D) Deus é o ser maior do que o qual nada pode ser pensado.
8. A “aposta de Pascal” é um argumento que procura mostrar que: 
(A) Aquele que aposta na existência de Deus tem tudo a ganhar e pouco ou nada a perder. 
(B) Aquele que não acredita na existência de Deus nunca tem nada a ganhar ou a perder.
(C) Aquele que não acredita na existência de Deus tem tudo a ganhar ou a perder.
(D) Aquele que acredita na existência de Deus tem tudo a ganhar e tudo a perder.
9. Uma das objeções à “aposta de Pascal” é: 
(A) O argumento ser circular e não provar a existência de Deus.
(B) Não haver como provar que Deus recompensa quem acredita e que castiga quem não acredita. 
(C) Nenhum argumento baseado em palpites pode ser considerado válido. 
(D) A conclusão do argumento é meramente provável.
10. Segundo a teodiceia de Leibniz:
(A) Não há inconsistência lógica entre a existência de Deus e a existência do mal, pois o melhor mundo possível é aquele em que o bem triunfa sobre o mal.
(B) O mal metafísico é responsabilidade de Deus, pelo que o ser humano não pode ser responsabilizado pelos seus atos.
(C) Se no melhor dos mundos possíveis existe mal moral, Deus não pode ser considerado sumamente bom.
(D) É impossível provar, de forma conclusiva, que Deus existe.
GRUPO II
1. Exponha, sucintamente, a versão tomista do argumento cosmológico.
2. Leia o texto com atenção.
Porém, se atento mais cuidadosamente, torna-se manifesto que a existência pode separar-se tanto da essência de Deus como da essência de um triângulo que a soma dos seus três ângulos é igual a dois ângulos retos ou da ideia de monte a ideia de vale: de tal modo que não repugna mais pensar um Deus (isto é, um ente sumamente perfeito) a que falta a existência (isto é, a que falta alguma perfeição) do que pensar um monte a que falta o vale. 
René Descartes, Meditações sobre a Filosofia Primeira (5.ª Meditação), Almedina, 1976, p. 187.
2.1. Tendo em conta os três argumentos teístas que tentam demonstrar a existência de Deus: 
a) Identifique o argumento subjacente ao texto. 
b) Apresente as críticas que lhe são feitas.
3. Se o mal existe, então Deus não é um ser sumamente bom, omnipotente e omnisciente. Como comentaria um teísta esta afirmação?
4. Explique o que são teodiceias e o objetivo a que se propõem.
GRUPO III
1. Leia o texto seguinte.
O argumento do apostador, derivado da obra do filósofo e matemático Blaise Pascal (1623-1662), habitualmente conhecido como aposta de Pascal, é muito diferente dos outros. O seu objetivo não é proporcionar uma demonstração, mas antes mostrar que um apostador sensato deveria «apostar» na existência de Deus.
Nigel Warburton, Elementos Básicos de Filosofia, Gradiva, 2007, pp. 57-59.
1.1. Explique o argumento de Pascal.
 
2. Leia o excerto seguinte.
O mundo contém, pois, muito mal. Um deus omnipotente poderia ter evitado este mal — e sem dúvida que um deus sumamente bom e omnipotente o teria feito. Mas então, por que razão existe este mal? Não será a sua existência um forte indício contra a existência de Deus? Sê-lo-ia, sem dúvida — a menos que possamos construir o que é conhecido por teodiceia, uma explicação da razão pela qual Deus terá permitido que o mal ocorresse.
Richard Swinburne, Será que Deus existe?, 1998, Gradiva, p. 109.
2.1. Se Deus podia ter evitado o mal, porque não o fez? Como responderia Leibniz a esta questão?
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