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1 1 UNIDADE 1. Bases conceituais, perspectiva histórica e desafios a serem alcançados OBJETIVOS DA UNIDADE • Apreender o processo histórico do desenvolvimento das políticas de saúde no Brasil; Apreender o processo histórico do desenvolvimento das políticas de saúde no Brasil; • Analisar o conceito de saúde e sua evolução ao longo do tempo, bem como compreender a diferença entre prevenção, promoção e educação em saúde; Analisar o conceito de saúde e sua evolução ao longo do tempo, bem como compreender a diferença entre prevenção, promoção e educação em saúde; Identificar os principais elementos da formação do campo da saúde coletiva e as ações da fisioterapia nessa área; Identificar os principais elementos da formação do campo da saúde coletiva e as ações da fisioterapia nessa área; • Contextualizar os determinantes e condicionantes de saúde com o processo saúde-doença. Contextualizar os determinantes e condicionantes de saúde com o processo saúde-doença. • – Introdução a conceitos básicos. // História das politicas públicas de saúde no Brasil // Educação em saúde: da prevenção à promoção // Níveis de prevenção 2 Processo saúde-doença / O conceito ampliado de saúde2 // Saúde pública versus saúde coletiva // Saúde como direito // Fisioterapia na saúde coletiva Determinantes e condicionantes de saúde – // Classificação dos determinantes de saúde // Determinantes sociais da saúde Introdução de alguns conceitos básicos Estas transformações foram e são essenciais para que seja possível enfrentar os desafios que surgem continuamente e que acompanham o crescimento populacional e o desenvolvimento do país. É importante ressaltar que a definição de saúde, um termo que inicialmente configurava-se como sinônimo da ausência de doença, passou a ser mais ampla, levando também em consideração aspectos relacionados ao bem estar físico, psíquico e social de cada indivíduo. Um dos grandes marcos na história da construção política da saúde pública brasileira foi a criação do Sistema Único de Saúde, o SUS, em 1988. O SUS é um sistema reconhecido internacionalmente como um dos programas de saúde pública mais completos a nível global, uma vez que suas diretrizes asseguram o acesso a saúde a todos os cidadãos (princípio da universalidade), nos diferentes níveis de atenção e complexidade (princípio da integralidade). Embora o SUS tenha ampliado o acesso à saúde, muitos problemas ainda persistem, e um dos desafios enfrentados atualmente pelo país é o de desenvolver programas de intervenção em saúde que sejam sensíveis e efetivos no que tange à realidade das diversas categorias populacionais. É importante ressaltar que o Brasil possui um vasto território, fortemente marcado por contrastes econômicos e pela presença de grande desigualdade social. Frente às características, deficiências e necessidades da saúde brasileira, destaca-se o desenvolvimento dos programas em saúde coletiva. Para melhor compreensão da situação atual do sistema de saúde vigente, assim como dos programas de saúde coletiva, é necessário retroceder e levar em consideração as mudanças que ocorreram na maneira da sociedade pensar e conceituar o 3 processo saúde-doença. Para isso, é importante revisitar alguns aspectos significativos e que remetem à época do Brasil colonial. HISTÓRIA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE NO BRASIL 3 As políticas de saúde no Brasil foram desenvolvidas em consonância com o momento histórico e a situação econômica do país. Durante o período colonial, os cuidados com a saúde, de modo geral, eram muito limitados, e quando alguém necessitava de assistência, esta restringia-se à indivíduos sem formação profissional específica, como curandeiros que utilizavam ervas, crenças religiosas e técnicas empíricas como forma de tratamento. Foi somente em 1808, com a vinda da família real, que as primeiras mudanças nesse sentido começaram a ocorrer. A chegada da família real ao Brasil suscitou a necessidade da implantação de uma estrutura sanitária básica, capaz de atender a corte que se instalava no Rio de Janeiro. A falta de saneamento representava um risco à saúde e vida da família real, uma vez que as más condições sanitárias da cidade propiciavam o desenvolvimento e o contágio de pestes e doenças graves, como a malária e a varíola, por exemplo. Foi no mesmo ano da chegada da família real que instituiu-se a primeira faculdade de medicina do Brasil; fato este que contribuiu para que a medicina empírica fosse lentamente substituída por uma medicina baseada na ciência. Todavia, apesar do crescente número de profissionais da área médica que o país ganhava, o acesso à saúde nessa época se restringia à parcela da população que possuía condições financeiras superiores. Os demais contavam apenas com filantropia e hospitais de caridade, mantidos na maioria das vezes pela Igreja. É importante ressaltar que a assistência relacionada à saúde nessa época restringia-se ao tratamento de doenças. Não havia, até então, programas de saúde coletiva, campanhas de educação em saúde para conscientizar a população sobre a prática de hábitos saudáveis e, tampouco, ações de promoção à saúde e de prevenção de doenças. Esse fato pode ser explicado pelo conceito simplista vigente nessa época, que definia saúde como a mera ausência de doença, sem levar em consideração aspectos psíquicos, sociais, culturais e econômicos, conforme afirma Lopes em seu livro Políticas de saúde pública, de 2017. EDUCAÇÃO EM SAÚDE: DA PREVENÇÃO À PROMOÇÃO A chamada Revolta da Vacina (Figura 1) é considerada um marco de transição entre uma medicina exclusivamente curativa para a implementação de uma 4 medicina preocupada em garantir a saúde da população como um todo 4 Figura 1. Manifestação de 1904 decorrente do movimento da Revolta da Vacina. Fonte: Wikimedia. Acesso em: 10/03/2020. O termo "prevenção" pode ser entendido como uma ação prévia que tem como objetivo impedir o desenvolvimento e evolução de determinada doença. Uma das primeiras ações de caráter preventivo no Brasil foi a vacinação em massa da população contra a varíola, em 1904. O responsável por coordenar essa ação foi o médico Oswaldo Cruz, que, embora tenha tido boas intenções ao propor a imunização da população, não foi bem visto pela sociedade na época. Um dos motivos para isto foi o fato de que nenhuma campanha educativa sobre os benefícios da vacinação foi realizada, o que culminou em um grande movimento popular: a Revolta da Vacina. Oswaldo Cruz criou também o serviço de profilaxia da febre amarela, além da inspetoria de isolamento e desinfecção de residências. Todas essas medidas preventivas foram impostas sob um caráter bastante autoritário, fazendo com que 5 as campanhas de saúde se equiparassem a campanhas militares, uma vez que fazia-se uso da força e do encarceramento para obrigar a população a aderir às medidas. Ademais, a ausência de um programa de educação em saúde limitou os resultados positivos dessas ações, visto que o círculo vicioso de hábitos da população não foi modificado. Dessa forma, as residências voltaram a apresentar más condições sanitárias pouco tempo após a desinfecção. 5 Figura 2. Imunização infantil, exemplo de ação preventiva. Fonte: Shutterstock. Acesso: 10/03/2020. Posto isso, os programas de educação em saúde constituem-se como um conjunto de práticas de ensino e aprendizagem que têm como finalidade promover mudanças comportamentais, além de incentivar a aderência de hábitos e atitudes saudáveis. Ambos são considerados pré-requisitos necessários tanto para a prevenção de doenças quanto para a promoção da saúde individual e coletiva. 6 Figura 3. Ação de educação e promoção da saúde com um grupo de gestantes. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 10/03/2020. Assim sendo, a promoção da saúde é definida como o conjunto de condutas que permeiam a transformação das condições de vida e trabalho associadas aos problemas de saúde subjacentes. Deste modo,pode-se inferir que as ações de educação, promoção de saúde e prevenção de doença caminham juntas e se complementam. Para elucidar de forma mais contundente a diferença existente entre promoção de saúde e prevenção de doenças, observe atentamente a Tabela 7 Tabela 1. Diferenças entre prevenção de doenças e promoção de saúde. Fonte: NICOLICH; ROCHA, 2017, p. 29. (Adaptado). Um aspecto importante da promoção da saúde é que esta segue o princípio da responsabilização múltipla, enfatizando uma abordagem ativa e intersetorial que envolve ações do Estado, do sistema de saúde e da população, cujo foco é relativo aos determinantes de saúde e ao fomento do bem-estar e melhora da qualidade de vida. NÍVEIS DE PREVENÇÃO Agora que o significado de prevenção foi elucidado, é pertinente apresentar os níveis de prev Agora que o significado de prevenção foi elucidado, é pertinente apresentar os níveis de prevenção existentes. As ações de prevenção podem ser classificadas em três níveis diferentes: primário, secundário e terciário. A fim de elucidar esse sistema de classificação, observe atentamente a Figura 4. 8 Figura 4. Aspectos e variáveis envolvidas nos diferentes níveis de prevenção. Fonte: JUNKES, 2018, p. 81. (Adaptado). A prevenção primária representa o conjunto de ações que visa evitar determinada doença na população ao remover fatores causais. Ou seja, esse tipo de prevenção objetiva reduzir a incidência da doença. Nesse nível, atua- se no período pré-patogênico, o período das relações entre o ambiente e o que é suscetível, até que se chegue a uma condição favorável. São exemplos de prevenção primária: Vacinação; Tratamento da água para consumo; Medidas de desinfecção e desinfestação; Ações de educação e promoção em saúde. A prevenção secundária compreende o conjunto de medidas que objetivam identificar e corrigir o mais precocemente possível qualquer desvio da normalidade, de modo a colocar o indivíduo imediatamente em situação saudável. Ou seja, esse tipo de prevenção tem como objetivo a diminuição da prevalência da doença. Esse nível é colocado em prática no caso de doenças infecciosas, por exemplo, uma vez que estas são doenças que podem ser curadas. Todavia, este nível de prevenção não é viável na Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), por exemplo, posto que esta é uma doença que ainda não 9 possui cura. O foco da prevenção secundária é no período patogênico, que é o período que inicia-se com a interação hospedeiro-agente, no começo das alterações fisiopatológicas no indivíduo. Um exemplo da atuação profissional deste nível de prevenção é a realização de inquéritos para a descoberta precoce de pacientes com tuberculose em determinada comunidade assistida. Já a prevenção terciária representa as ações que visam reduzir incapacidades, a fim de permitir uma rápida melhora e melhor reintegração do indivíduo à sociedade, aproveitando suas capacidades remanescentes. É um nível de prevenção que também atua no período patogênico. Como exemplo, é possível citar a reintegração de um trabalhador que sofreu um acidente em sua empresa. Isso ocorreria caso, em decorrência do acidente, esse trabalhador não mais pudesse exercer o mesmo tipo de atividade devido a suas condições de saúde. Posto isso, é importante esclarecer os conceitos de incidência e prevalência empregados nas definições dos níveis de prevenção. Incidência é a fração ou proporção de um grupo de pessoas inicialmente livres do desfecho de interesse e que o desenvolvem durante determinado período de tempo. A incidência se refere, então, a novos casos de uma doença que ocorre em uma população a principio livre da mesma ou a novos desfechos, como sintomas ou complicações em pacientes com a doença que inicialmente não experenciavam esse problema. A prevalência é a proporção de um grupo de pessoas que possui determinada condição ou desfecho clínico em um dado ponto no tempo. Ela é medida através do levantamento de uma população definida, na qual se averigua quem tem ou não a condição de interesse. 10 Pergunta: Desde sua criação em 1988, o SUS vem passando por inúmeras transformações e readequações para atender aos seus princípios básicos. Considerando as políticas de saúde, o que se pode afirmar? Escolha a alternativa correta. No Brasil, o direito à saúde é condicionado à contribuição da previdência social. O Brasil é reconhecido internacionalmente por sua política de saúde pública. No Brasil, saúde é atualmente sinônimo de ausência de doença. Muito bem, a resposta está correta! A saúde, um direito garantido a toda população, é compreendida como algo que considera diversos fatores e não apenas a ausência de doença. O SUS, embora tenha problemas, é considerado um dos maiores e mais completos programas de saúde pública no mundo, pois engloba cuidados em todos os níveis de saúde. Processo saúde-doença As discussões sobre o processo saúde-doença sempre estiveram presentes na vida humana, e cada era da civilização explica a existência dessa relação de acordo com o momento histórico vivido e os recursos tecnológicos e científicos disponíveis à época Ao longo dos séculos, os conceitos de saúde e doença foram permeados de diversos significados, atribuídos à relação que o homem mantinha com o ambiente, a natureza, o corpo, o espirito e a religião. Entre as teorias desenvolvidas para explicar a relação do homem com seus conceitos de saúde, destacam-se três: 1) Mágica: Relaciona o desencadeamento de doenças ao misticismo, demônios, castigos de deuses e prática de magia. Praticamente todos os acontecimentos que o homem não podia explicar em virtude de suas limitações técnico-científicas eram atribuídos a fenômenos sobrenaturais. Curandeiros, sacerdotes e indivíduos tidos como bruxos eram figuras consideradas importantes em casos de adoecimento e morte. Já a saúde era 11 entendida como uma condição natural da vida, o que significa que não havia motivo para ser elucidada, e a ideia prevalecente era a de que a saúde era algo que ocorria espontaneamente. Figura 5. Representação do tratamento de doenças na era mágica. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 11/03/2020. 2)Ingênua: Considera que a saúde, a doença e a morte devem ser aceitas pela população, uma vez que estas são inerentes e fazem parte do ciclo vital (Figura 6). Dentro dessa ideologia, os aspectos sociais, psíquicos e culturais eram considerados apartados dos fatores envolvidos no processo saúde- doença. 12 Figura 6. Representação da crença do processo saúde doença sob a perspectiva ingênua. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 11/03/2020. 3)Crítica: Caracteriza-se como um novo modo de pensar, no qual surgem dúvidas e críticas sobre os conceitos de saúde e doença. Diferentes profissionais e estudiosos passam a refletir a respeito do processo saúde- doença até estabelecer um modelo de causa e efeito. Esse modelo passa a relacionar agentes etiológicos, condições de trabalho e hábitos de vida com a presença de saúde e o desencadeamento de doenças. Dentro desse contexto de multicausalidade, segmenta-se o adoecimento em dois momentos: a pré-patogênese (momento prévio ao desenvolvimento da doença) e a patogênese (momento que a doença já está estabelecida). Com essa divisão, começa-se a designar estratégias voltadas à prevenção de doenças. Conhecendo essas três teorias, fica evidente que saúde e doença não são termos designados por um conceito imutável, estando as definições sujeitas a constantes readequações e mudanças. Deve-se enfatizar que, mesmo nos dias de hoje, há 13 certa dificuldade no meio cientifico em definir com exatidão as ideias de saúde e doença, uma vez que o que é considerado normal para um indivíduo pode não ser para outro.A doença, nesse caso, pode ser considerada uma condição que provoca distúrbios das funções físicas e mentais e que pode ser causada por fatores exógenos, externos ao organismo, ou endógenos, internos ao próprio organismo. Desde que o processosaúde-doença passou a ser rastreado estatisticamente, os ambientes de assistência à saúde também passaram a atuar como locais de elaboração de conhecimento e ensino, contribuindo na identificação de indicadores de saúde. A doença, nesse caso, pode ser considerada uma condição que provoca distúrbios das funções físicas e mentais e que pode ser causada por fatores exógenos, externos ao ambiente, ou endógenos, internos ao próprio organismo. Desde que o processo saúde-doença passou a ser rastreado estatisticamente, os ambientes de assistência à saúde também passaram a atuar como locais de elaboração de conhecimento e ensino, contribuindo na identificação de indicadores de saúde. O CONCEITO AMPLIADO DE SAÚDE Há muito tempo que o conceito de saúde tem sido pauta de amplos debates entre especialistas de diversas áreas de atuação profissional. Levando em consideração a complexidade desse tema, a Organização Mundial de Saúde (OMS) elaborou em 1946 o chamado conceito ampliado de saúde, que afirma que saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doenças e enfermidades. Desta forma, é possível compreender que o conceito ampliado de saúde leva em consideração a integração de diferentes aspectos da vida e da sociedade, como economia, lazer, educação, segurança e trabalho. Observe o Diagrama 1, a fim de obter uma contextualização mais adequada desse conceito. 14 Diagrama 1. Aspectos integrados ao bem-estar e saúde que abarcam o conceito ampliado de saúde. Fonte: JUNKES, 2018, p. 13. (Adaptado). O bem-estar físico: relaciona-se à ideia de que não há a saúde de apenas um órgão ou sistema do corpo, mas sim de um todo, de modo integral; O bem-estar social: refere-se aos ajustes das exigências do meio, principalmente das condições socioeconômicas, local de moradia, distribuição de renda e oportunidades oferecidas a cada pessoa; 15 O bem-estar mental: relacionado a um estado de equilíbrio, entendimento e tolerância consigo mesmo e com os outros. Relaciona-se a saber lidar e conduzir as diferentes emoções. Embora a definição da OMS seja aceita e utilizada como parâmetro pelos sistemas de saúde em praticamente todo o mundo, ela vem sofrendo críticas de muitos pesquisadores nos últimos anos. O argumento utilizado pelos críticos é que esse conceito de saúde é utópico e inatingível, uma vez que alguns creem que o ser humano jamais será um ser completo em todos os aspectos e sentidos da vida. A compreensão dos conceitos e definições do processo saúde- doença é fundamental para todos os profissionais da área da saúde, e seu domínio possibilita uma atuação mais efetiva e ativa frente aos pacientes e a comunidade. Posto isso, para prosseguirmos nessa jornada de construção do conhecimento, é imprescindível que estejam claras a definição e diferenciação dos termos saúde pública e saúde coletiva. Saúde pública e saúde coletiva são áreas frequentemente concebidas como sinônimos. Todavia, elas possuem algumas distinções. Assim sendo, a saúde pública pode ser entendida como o conjunto de ações exercidas pelo governo em prol do bem estar físico, mental e social da população, configurando-se como um direito constitucional que engloba as mais diversas áreas e níveis de atenção à saúde. Já a saúde coletiva é uma ciência que engloba aspectos sociais e biomédicos através de diversas perspectivas organizacionais. É, também, uma área de atuação profissional que faz parte dos programas de saúde pública. Paim e Almeida Filho afirmam que: Enquanto campo de conhecimento, a saúde coletiva contribui com o estudo do fenômeno saúde/doença em populações. Enquanto processo social investiga a produção e distribuição das doenças na sociedade, analisando as práticas de saúde (processo de trabalho) na sua articulação com as demais práticas sociais, procurando compreender as formas com que a sociedade identifica suas necessidades e problemas de saúde, buscando sua explicação e se organizando para enfrentá-los (1998, p. 309). 16 A saúde coletiva busca ampliar a compreensão da população sobre a saúde, acrescentando analises sociológicas, antropológicas e históricas. A sua criação parte das ações de um movimento sanitarista e tem como propósito auxiliar no reconhecimento de variáveis econômicas, ambientais e sociais que possam ocasionar o desenvolvimento de doenças. O movimento sanitarista que propiciou a criação da saúde coletiva teve início na década de 1970. A filosofia desse movimento preconizava a saúde não como um problema a ser solucionado pelos então serviços médicos, mas sim como uma questão política e social. Desde seu surgimento, a saúde coletiva envolve-se com questões políticas, sociais e ideológicas, trazendo repercussões para a saúde como um todo em sua delimitação, e identificando meios que possibilitem tornar a saúde coletiva um campo cada vez mais aberto a novos paradigmas diante das necessidades de saúde, democratização da vida social e direitos humanos. As diretrizes dos programas de saúde coletiva enfatizam a importância da comunicação e da atuação conjunta de equipes interdisciplinares e multiprofissionais, sendo estas compostas por médicos, fisioterapeutas, assistentes sociais, psicólogos, biólogos, enfermeiros, dentistas, entre outros. Entre os instrumentos utilizados pelos programas de saúde coletiva, destaca-se o uso da epidemiologia social, que possibilita conhecer o perfil dos problemas de saúde e das doenças apresentadas em determinada população assistida. O emprego da epidemiologia permite a criação de indicadores de saúde que, por sua vez, possuem dados referentes a condições sanitárias e socioeconômicas que otimizam o desenvolvimento de intervenções e de medidas de prevenção e promoção a saúde coletiva. 17 Deve-se ficar explícito que toda saúde pública é coletiva, mas nem toda saúde coletiva é pública, posto que no Brasil a saúde é considerada livre à iniciativa privada. Ao ter que atuar por meio do Sistema Único de Saúde, a saúde coletiva encontra muitos desafios, e o principal deles é conseguir oferecer um serviço eficiente em um sistema no qual o usuário corresponde à totalidade dos brasileiros. SAÚDE COMO DIREITO 18 A mudança conceitual do processo saúde-doença pela população brasileira é um dos fatores que contribuiu para que o governo implementasse políticas públicas de saúde mais abrangentes, não se restringindo unicamente ao tratamento e à cura de doenças. No Brasil, o acesso à saúde foi por muitos anos limitado à parcela da população que detinha condições financeiras para contratar assistência particular, e posteriormente àqueles que contribuíam com a previdência social, em sua maioria trabalhadores com carteira assinada. Essa realidade começou a mudar somente a partir de 1988, com a aprovação da nova Constituição da República Federativa do Brasil, vigente até os dias atuais, que considera a saúde como um direito de toda a população, independentemente de qualquer condição e fator externo. A seção II, art. 196, capítulo I da constituição da republica federativa afirma que: A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação (BRASIL, 1988, p.1). DICA O fisioterapeuta, como um profissional da saúde pública e privada, deve ter pleno conhecimento dos direitos assegurados pela Constituição à saúde da população. Para conhecer na íntegra os postulados da Constituição 19 relacionados à saúde, verifique os artigos 196 a 200 da Seção II, disponíveis no link a seguir. Além de ter explicitado o direito do acesso à saúde, a Constituição de 1988 enfatizou o dever e a responsabilidade do estado de promover a mesma, além de proteger a sociedade contra as doenças. FISIOTERAPIA NA SAÚDE COLETIVA No Brasil, a fisioterapia é uma profissão historicamente conhecidacomo reabilitadora, fato relacionado ao modelo de saúde assistencial que era ofertado no início da profissão em nosso país por volta de 1960. Nesta época, a fisioterapia possuía um caráter exclusivamente reabilitador, não preocupando-se em atuar na educação do paciente em relação aos seus hábitos de vida, na promoção de sua saúde e na prevenção de possíveis disfunções e doenças. Este fato era corroborado pela própria legislação vigente, uma vez que o Decreto- Lei 938/69, que reconhecia a fisioterapia como profissão de nível superior, enfatizava em seu 3º artigo que: “é atividade privativa do fisioterapeuta executar métodos e técnicas fisioterápicas com a finalidade de restaurar, desenvolver e conservar a capacidade física do paciente (DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, 1969)”. Essa perspectiva começou a mudar somente em 1978, com a reformulação da legislação que regulamentava a fisioterapia. Esta passou a afirmar que compete também ao fisioterapeuta planejar, programar, ordenar, coordenar, executar e supervisionar métodos e técnicas que visem promover a saúde e prevenir doenças. Com a nova legislação, a fisioterapia foi lentamente ganhando espaço, deixando de atuar exclusivamente na reabilitação de pacientes doentes para começar a intervir junto à população saudável, aplicando estratégias para a manutenção da saúde e melhora da qualidade de vida. 20 Figura 7. Fisioterapia geriátrica em saúde coletiva — programa voltado à prevenção de alterações posturais. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 12/03/2020. A atuação do fisioterapeuta dentro dos programas de saúde coletiva se intensificou, sobretudo, a partir dos anos 2000, momento em que a fisioterapia começou a atuar em áreas de planejamento e gestão, educação, assistência e pesquisa em saúde coletiva. Entre as funções desempenhadas pela fisioterapia na saúde coletiva, pode-se destacar (BISPO JUNIOR, 2010; LEMOS, 2015): • A identificação dos problemas prevalecentes na comunidade assistida; A elaboração de ações de educação em saúde; A implementação de práticas que melhorem a qualidade de vida da população; O estimulo de hábitos saudáveis na comunidade; O desenvolvimento de estratégias de minimização dos riscos à saúde; 21 A criação de medidas que visem reduzir a desigualdade e a exclusão social. O cuidado ao paciente em domicílio é outra importante atuação do fisioterapeuta na saúde coletiva, uma vez que esta ação possibilita a aproximação do profissional com o ambiente de convívio familiar do paciente, permitindo a este conhecer a realidade que cada indivíduo assistido experiencia. Como consequência, o atendimento se torna mais eficaz. EXEMPLIFICANDO São algumas das atribuições do fisioterapeuta nos programas de saúde coletiva: a criação de grupos de orientações a gestantes sobre a importância da prática de atividade física; ações de blitz de correção postural na comunidade assistida; reuniões com pais de crianças que apresentam atrasos no desenvolvimento motor, a fim de ensinar métodos de estimulação; encontros de idosos para a realização de atividades psicomotoras; atenção à saúde dos cuidadores no ambiente familiar; além da promoção de palestras de educação em saúde no ambiente escolar, visando orientar os alunos sobre princípios ergonômicos fundamentais. É evidente que a fisioterapia em saúde coletiva amplia a atuação profissional para além da reabilitação, permitindo intervenções no controle de riscos e de danos. O Diagrama 2 representa esse modelo de trabalho, que engloba a reabilitação ao mesmo tempo que maximiza as possibilidades de atuação. 22 Diagrama 2. Modelo de fisioterapia coletiva sob o controle de riscos e danos. Fonte: BISPO JUNIOR, 2010, p. 1631 . (Adaptado). Enquanto que a fisioterapia reabilitadora foca principalmente no controle de danos, a fisioterapia coletiva foca também na atuação no controle de riscos, ou seja, no controle de aspectos que podem favorecer o desenvolvimento de determinada doença. O momento da intervenção é o ponto chave para se estabelecer o tipo de controle. No manejo de danos, a ação acontece no momento em que a disfunção já está estabelecida e, frequentemente, em condições avançadas. No gerenciamento de riscos, a medida é efetuada antes da disfunção ocorrer, ou seja, previamente ao surgimento de limitações e sequelas. No tocante ao paciente, no manejo de danos a ação é voltada para os que já se encontram adoecidos; ao passo que, no controle de riscos, a intervenção é voltada tanto para pacientes doentes quanto para aqueles que estão saudáveis, mas com risco significativo de adoecer. Trabalhar em saúde coletiva no Brasil não é uma tarefa simples, principalmente se levarmos em consideração sua vultosa dimensão territorial, a inoperância das políticas socioeconômicas e o déficit de profissionais da área da saúde, principalmente em regiões afastadas, onde a população mais carente reside. Cabe a cada fisioterapeuta dedicar-se ao máximo, dentro dos princípios éticos, no desempenho de suas atribuições para que a promoção e recuperação da saúde sejam expandidas cada vez mais até aqueles que necessitam. 23 O ser humano sempre teve maneiras de entender e explicar o desenvolvimento das doenças e sua relação com a vida e a morte. Com o passar do tempo e a evolução da sociedade, diferentes teorias a esse respeito foram elaboradas. Tendo isto em mente, relacione cada teoria com seus respectivos princípios. O critico modelo de causa e efeito O magico. Crença sobre natural O ingênuo inerente ao ciclo da vida A teoria mágica relaciona o desencadeamento de doenças a crenças sobrenaturais; a ingênua considera saúde, doença e morte fatores inerentes ao ciclo vital; e a crítica estabelece um modelo de causa e efeito, associando diferentes aspectos da vida à manutenção da saúde e ao desencadeamento de doenças. Determinantes e condicionantes de saúde 24 Os determinantes e condicionantes de saúde são definidos pelo 3º artigo da Lei número 8.080/90, conhecida como Lei Orgânica da Saúde. Esta lei afirma que: Os níveis de saúde expressam a organização social e econômica do País, tendo a saúde como determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, a atividade física, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais (BRASIL, 1990). Portanto, os determinantes de saúde podem ser definidos como os fatores que influenciam diretamente a saúde de forma positiva ou negativa, podendo estes ser modificados por decisões e escolhas dos envolvidos ou por condições externas a eles. Os condicionantes de saúde, por sua vez, instituem limites a determinadas circunstâncias e representam condições que não são passíveis de modificações, por serem intrínsecas ao indivíduo em questão. EXEMPLIFICANDO Um exemplo clássico de condicionante de saúde é a gravidez, uma vez que apenas pessoas do sexo feminino podem engravidar. 25 Consequentemente, o sexo é um fator condicionante para a ocorrência da gestação entre os seres humanos. Para entender melhor a diferença entre determinantes e condicionantes de saúde, observe os exemplos expostos na Tabela 2. Tabela 2. Determinantes e condicionantes de saúde. Fonte: JUNKES, 2018, p. 49. (Adaptado). Os determinantes de saúde abrangem, portanto, tanto aspectos que são de controle próprio, como os hábitos de vida, quanto aspectos que são condicionados ao ambiente, meio social e políticas públicas. É importante enfatizar que as ações de promoção da saúde têm como um de seus objetivos a educação da população, posto que, através da educação em saúde, é possível modificar os determinantes da saúde em favor da qualidade de vida. 26 CLASSIFICAÇÃO DOS DETERMINANTES DE SAÚDE Comumente, os determinantes de saúde são divididos em categorias que variam em número e são designadas pela presença de características semelhantes. É importante ressaltar que o agrupamento dos determinantesfavorece seu entendimento e compreensão. Na literatura, as classificações mais frequentes dividem os determinantes em: econômicos, ambientais, biológicos, sociais e de estilo de vida. Para entender melhor esse sistema de categorização, observe a seguir alguns exemplos que fazem parte de cada grupo, conforme atestado por Carrapato et al. em seu artigo "Determinante da saúde no Brasil: a procura da equidade na saúde", de 2017: Economicos Tipo de habitação, renda e ocupação desempenhada. Também pode relacionar-se à manutenção de hábitos saudáveis. Ambientais Gestão de resíduos, poluição, preservação da natureza e política energética. Biológicos Sexo, idade e fatores genéticos. Estilo de vida Alimentação, atividade física, tabagismo e comportamento sexual Sociais Cultura, educação e lazer. Essas cinco categorias influenciam a saúde de diferentes modos. A seguir, aprofundaremos o conhecimento sobre os determinantes sociais, visto que estes estão mais comumente associados à saúde coletiva, além de serem vastamente discutidos na literatura. DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE 27 Acredita-se que a origem das discussões relativas aos determinantes sociais da saúde estejam relacionadas à mudança de paradigmas do processo saúde- doença, em que o papel do governo e da população sobre a saúde foi reformulado. Instituiu-se, então, um modelo de determinantes sociais que foca, sobretudo, nas condições de trabalho e vida da sociedade moderna. Esse modelo sugere alterações politicas, sociais e econômicas como pontos-chave para que se possa proporcionar condições de saúde ideais à sociedade. Entre as propostas defendidas estão a melhoria da infraestrutura das cidades, do transporte público, da distribuição de renda e do acesso equitativo à saúde. Em termos práticos, esse modelo tem como objetivo correlacionar determinantes sociais e saúde. Todavia, este é um árduo e complexo desafio. Agora, observe estes dois aspectos, responsáveis por tornar o modelo supracitado um desafio laborioso: Os fatores econômicos, políticos e sociais podem afetar de modo distinto a condição de saúde de uma população, não seguindo um único padrão Não é completamente elucidada a diferença entre os determinantes sociais de saúde de indivíduos e de grupos, posto que aspectos relevantes para a saúde individual podem não esclarecer as diferenças existentes entre os grupos de uma população. Sendo assim, é possível questionar-se de que forma os determinantes sociais influenciam a saúde. Bem, para esta questão não existe uma única resposta, mas 28 sim um conjunto de diferentes abordagens explicativas, uma vez que estabelecer com exatidão a influência que cada determinante tem sobre a saúde é extremamente complexo. Segundo Rocha, em seu livro Manual de saúde pública e saúde coletiva no Brasil, de 2012, e Bassinello, em Saúde coletiva, de 2014, as principais abordagens descritas na literatura são: Aspectos físico-materiais: essa abordagem afirma que as diferenças de renda da população condicionam a saúde, visto que envolvem fatores econômicos e políticos que ocasionam a carência de recursos individuais e a falta de investimentos em saneamento básico, educação, moradia, entre outros; Fatores psicossociais: foca nas concepções psicobiológicas e na desigualdade social, atestando que a saúde é afetada pelas tensões ocasionadas por situações de desigualdade social; Enfoques multiníveis e ecossociais: abordam fatores sociais, biológicos, individuais e grupais sob uma visão ecológica, dinâmica e histórica; Relações entre saúde, desigualdade e a associação entre indivíduos e grupos de pessoas: aborda a presença da confiança e solidariedade entre a sociedade. Afirma que as populações com maior coesão social e maior índice de igualdade são as mais saudáveis. Muitos autores criaram esquemas para ilustrar as relações entre os determinantes de saúde, e o mais aceito e empregado no meio cientifico é o modelo de diferentes camadas, desenvolvido por Dahlgren e Whitehead. 29 Figura 8. Modelo de Dahlgren e Whitehead: influência em camadas. Fonte: ROCHA, 2012, p. 41. (Adaptado). Este modelo é designado da seguinte forma: • 1A primeira camada, entendida como o centro do modelo, representa o indivíduo e seus condicionantes de saúde; A primeira camada, entendida como o centro do modelo, representa o indivíduo e seus condicionantes de saúde; • 2A segunda camada engloba aspectos comportamentais e hábitos de vida individuais; A segunda camada engloba aspectos comportamentais e hábitos de vida individuais; • 3A terceira camada compreende as redes comunitárias e de apoio social; A terceira camada compreende as redes comunitárias e de apoio social; • 4A quarta camada apresenta aspectos relacionados às condições de trabalho e vida, o alcance de serviços fundamentais e a alimentação; 30 A quarta camada apresenta aspectos relacionados às condições de trabalho e vida, o alcance de serviços fundamentais e a alimentação; • 5A quinta e última camada inclui macrodeterminantes, como fatores culturais, condições econômicas e ambientais. Os aspectos dessa camada exercem muita influencia sob as anteriores. A quinta e última camada inclui macrodeterminantes, como fatores culturais, condições econômicas e ambientais. Os aspectos dessa camada exercem muita influencia sob as anteriores. É indiscutível a forte influência que os determinantes sociais exercem nas condições de saúde da sociedade. Segundo Geib, em seu artigo "Determinantes sociais da saúde do idoso", de 2012, “a equidade requer ação sobre os determinantes sociais da saúde na perspectiva do curso da vida, com ações multissetoriais em todas as etapas do ciclo vital, já que o estado de saúde individual é um marcador de suas posições sociais no passado” (p. 131). • As circunstâncias em que um indivíduo nasce, vive, trabalha e envelhece estão diretamente relacionadas à manutenção da sua saúde ao longo da vida. Conhecer esses aspectos e compreender os determinantes sociais aqui discutidos permite ao profissional da área da saúde desenvolver estratégias de intervenção mais adequadas aos diferentes perfis de pacientes. As políticas públicas de promoção da saúde têm como objetivo promover a qualidade de vida e reduzir a vulnerabilidade e os riscos à saúde relacionados aos seus determinantes e condicionantes. De acordo com o que foi estudado sobre determinantes e condicionantes, pode-se afirmar que: • Ambos podem ser modificados por fatores externos e por escolhas dos envolvidos. Condicionantes de saúde são fatores que impõem limites, como idade e sexo. Os determinantes podem influenciar a saúde positivamente e/ou negativamente. 31 • que são características intrínsecas do ser humano, como o sexo e a idade. • Os determinantes de saúde são condições passíveis de modificação, que podem influenciar a vida tanto de modo positivo quanto negativo. Já os condicionantes são considerados limitadores não modificáveis, posto. SINTETIZANDO Nesta unidade você aprendeu que o conceito de saúde, além de não ser único, é mutável e extremamente relacionado ao momento histórico vivido. Assim sendo, pode-se afirmar que é de acordo com o modo que a sociedade compreende a saúde e a doença que os cuidados de atenção são determinados. Foi a evolução do entendimento do processo saúde-doença que possibilitou o estabelecimento do conceito ampliado de saúde, o qual vai além da ausência de doença, considerando o ser humano e a vida de uma forma mais integrada. Vimos também que a saúde coletiva é uma área de conhecimento interdisciplinar e de atuação multiprofissional; englobando aspectos sociais e biomédicos e reconhecendo a doença como uma consequência da interação de determinantes e condicionantes de saúde. As diretrizes dos programas de saúde coletiva enfatizam a importância de a equipe profissional conhecer o perfil epidemiológico da comunidade assistida, a fim de que o desenvolvimento demedidas de prevenção, promoção e educação em saúde sejam mais sensíveis e eficazes às necessidades apresentadas. Unidade 2 O SUS: evolução, organização e legislação Nesta unidade você verá: // políticas de saúde no Brasil // Sistema Único de Saúde – SUS // pacto pela Vida, em Defesa do SUS e de Gestão OBJETIVOS DA UNIDADE • Conhecer a política e os programas de saúde no Brasil republicano; Conhecer a política e os programas de saúde no Brasil republicano; 32 Relacionar a trajetória das políticas de saúde no Brasil com o modelo de saúde vigente; • • Especificar o contexto em que o Sistema Único de Saúde foi criado; Compreender os princípios do SUS, bem como seus objetivos e conceitos teóricos; • Reconhecer os objetivos e áreas prioritárias do Pacto pela Saúde; Contextualizar a organização dos pactos nas três esferas em que se organizam. • Politrica de saude no Brasil. // Programas de saúde no Brasil República // Influência da Reforma Sanitária e da VIII Conferência Nacional de Saúde na criação do SUS Sitema único de saude - SUS Princípios doutrinários e organizacionais // Financiamento do SUS Pacto pela vida, em defesa do sus e gestão // A organização dos pactos nos âmbitos federais, estaduais e municipais // Ações estratégicas e prioritárias Políticas de saúde no Brasil 33 Durante o período colonial, as políticas de saúde pública no Brasil eram praticamente inexistentes. Todavia, com a Proclamação da República em 1889, o país passou por uma série de mudanças estruturais, e a então recente abolição da horrenda escravatura fez com que a demanda por mão de obra braçal aumentasse, incitando a imigração em massa, sobretudo de europeus. CONTEXTUALIZANDO As políticas de saúde pública no Brasil funcionaram, sobretudo, no formato de campanhas, até por volta de 1930, fase que ficou conhecida como campanhista. O sistema dessa época era parcialmente voltado para questões de saúde que afetavam a população, mas essencialmente motivado por conveniências de ordem econômica. Entre os avanços desse período, há a criação de escolas de enfermagem, laboratórios públicos direcionados para a pesquisa e centros de saúde. A saúde individual continuou semelhante à do período imperial: médicos para os que podiam pagar e métodos empíricos/caridade para os demais. Nessa época, a varíola e a febre amarela eram epidemias que assolavam o país. Não é exagero afirmar que a disseminação dessas doenças ameaçava o sistema econômico, uma vez que era considerado um risco biológico comprar e receber produtos provenientes do Brasil. Como uma tentativa de solucionar o problema da disseminação em massa das doenças, além de prevenir a ocorrência de epidemias, foram criados o Departamento Nacional de Saúde, que posteriormente 34 evoluiria para o Ministério da Saúde, e o Instituto de Pesquisa Para a Saúde Pública Manguinhos. Ambos tiveram como seu principal idealizador o médico sanitarista Oswaldo Cruz. Os imigrantes trouxeram consigo novos ideais políticos e sociais, principalmente no que diz respeito à importância da união como forma de assegurar benefícios fundamentais à vida, como o direito ao acesso à saúde, por exemplo. Essa ideologia propiciou o surgimento de greves, bem como a associação entre as categorias de trabalhadores que objetivavam gerar fundos monetários mútuos, que funcionavam por meio do pagamento de um percentual mensal do salário recebido. Esses fundos asseguravam ao trabalhador e sua família o acesso ao atendimento médico quando necessário. É relevante mencionar que as regras referentes a esses fundos eram estipuladas em reuniões pelos próprios contribuintes, sem qualquer influência governamental. PROGRAMAS DE SAÚDE NO BRASIL REPÚBLICA A Lei Eloy Chaves, aprovada em 1923, pode ser considerada um precedente dos fundos mútuos dos trabalhadores, uma vez que determinava a formação das Caixas de Aposentadoria e Pensão (ou CAPs), que também tinham como princípio a contribuição financeira mensal de empregados de determinadas empresas, como as marítimas, ferroviárias e portuárias. Todavia, ela inovava ao incluir também os empregadores como contribuintes (MACHADO et al., 2013). O objetivo da CAPs era a constituição de um montante conjunto que garantisse, entre outras coisas, que os trabalhadores tivessem acesso à saúde. Vale ressaltar que o Estado apenas fiscalizava a lei, mas não participava ativamente dos fundos. Posto isso, a Lei Eloy Chaves é considerada por muitos historiadores como o “embrião” da Previdência Social no país. Durante o governo do presidente Getúlio Vargas, que foi extensivamente apelidado de “pai dos pobres” graças ao seu modelo político populista, foram criados os Institutos de Aposentadoria e Pensão (ou IAPs). Nesse novo modelo, os fundos deixaram de ser vinculados a empresas e passaram a relacionar-se a determinadas categorias profissionais, como os bancários e comerciários. Além disso, o governo começou a também contribuir financeiramente para os fundos de saúde; logo, a administração destes ficou sob responsabilidade do Estado, fato que culminou na perda da tomada de decisões por parte dos trabalhadores. 35 Um marco importante do IAP é que os fundos arrecadados por ele deixaram de financiar somente a saúde dos contribuintes: os recursos angariados também eram utilizados para custear obras públicas, como a construção de estradas, e patrocinar empréstimos para empresas privadas de saúde que possuíam a intenção de edificar hospitais pelo país. Desde o mandato de Getúlio Vargas até o golpe de Estado, o Brasil passou por um período denominado de desenvolvimentista, em que o propósito era desenvolver e modernizar as cidades. Em 1953, cria-se o Ministério da Saúde, mas sua atuação era limitada em relação à deliberação de medidas e decisões. A medicina privada e estrangeira conquistou maior espaço e atenção na saúde, administrando e construindo mais hospitais pelo país, equipados com verbas públicas. Após o golpe militar de 1964, muitos direitos individuais da população foram suspensos. A assistência à saúde - que já era precária – piorou, e a oferta de empréstimos chamados de “fundos perdidos” cresceu vertiginosamente para que a edificação de mais hospitais privados fosse possível. O Estado acabava pagando a conta duas vezes: ao emprestar a verba e, posteriormente, ao custear a assistência prestada à sociedade. As diretrizes dos IAP foram alteradas e este foi unificado com o Instituto Nacional de Previdência Social (ou INPS), órgão conhecido e lembrado até os dias de hoje por suas famosas e gigantescas filas. O INPS assim como o IAP prestava assistência à saúde individual, mas somente incluía os trabalhadores com Carteira de Trabalho assinada. Autônomos, trabalhadores informais e rurais não eram englobados pelo programa, dependendo, assim, de seus próprios recursos financeiros, filantropia ou caridade. 36 Nos anos seguintes, o INPS foi dividido em dois segmentos: o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (ou INAMPS), encarregado do atendimento hospitalar e ambulatorial, e o Instituto Nacional de Previdência Social (ou INSS). Agora que os programas de saúde que antecederam o SUS foram apresentados, observe o Diagrama 1 e analise atenciosamente as características que os diferenciam. 37 Diagrama 1. Características dos programas de saúde: CAPs, IAPs, INPS e INAMPS. Fonte: WINTER, 2015, p. 27.(Adaptado). Alguns atribuem ao governo militar a responsabilidade por um momento de “milagre econômico”; todavia, é fundamental ressaltar que as grandes obras construídas nessa época, visando a modernização e desenvolvimento do país, foram majoritariamente financiadas por verbas que deveriam ser destinadas à saúde e à Previdência Social. Como nesse período o número de contribuintes era bem maior do que o de beneficiários, os recursos foram constantemente remanejados para outras áreas em vez de serem investidos e guardados, fato que correlaciona-se com a criseda Previdência Social enfrentada atualmente. O vigoroso êxodo rural ocorrido no regime militar exacerbou a já delicada situação das grandes cidades, uma vez que este fato, associado à inflação sem controle, os baixos salários e a disponibilidade de saúde para uma minoria, propiciou o crescimento da pobreza e a instauração de epidemias como a de meningite, em 1974, responsável por sequelar e matar inúmeras pessoas. Ademais, a censura instituída, própria desse período, proibiu que fossem divulgadas notícias sobre a crise de saúde enfrentada, e profissionais que procuravam advertir a população sobre esse cenário eram ameaçados e perseguidos pelo então governo, conforme assevera Greice Bassinello em seu livro Saúde coletiva, de 2014. O Diagrama 2 representa uma linha do tempo que contempla os principais programas de saúde do Brasil. Observe sua evolução histórica até chegar ao SUS. 38 Diagrama 2. Evolução dos programas de saúde. Fonte: WINTER, 2015, p. 35. (Adaptado). INFLUÊNCIA DA REFORMA SANITÁRIA E DA VIII CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE NA CRIAÇÃO DO SUS No ano de 1975 entrou em atuação o Sistema Nacional de Saúde, fomentando as funções da previdência de prestar atendimento médico individual de caráter 39 curativo e atribuindo às secretarias de saúde municipais e estaduais, juntamente com o Ministério da Saúde, a incumbência de realizar ações preventivas no país. Nesse período, surgiu o Movimento da Reforma Sanitária, que almejava que a democracia mudasse a política de saúde vigente. Esse movimento era formado por representantes de sindicatos, profissionais da área da saúde, pesquisadores, gestores e opositores políticos, como afirma Juan Rocha em seu livro Manual de saúde pública e saúde coletiva no Brasil, de 2012. O Movimento da Reforma Sanitária, em conjunto com outros grupos sociais, lutava para implementar um sistema de saúde com participação ativa da comunidade, no qual os serviços fossem regionalizados, atendessem a toda a população e a atenção primária se tornasse o primeiro acesso. Surpreendentemente, essa proposta foi aceita praticamente em sua totalidade durante a VIII Conferência Nacional de Saúde do ano de 1986. O foco da VIII Conferência Nacional de Saúde era debater o direito à saúde, além do sistema de saúde vigente e seus modelos de financiamento. Entre representantes de grupos sociais, políticos e a população em geral, ressalta-se que foi a primeira edição da conferência aberta ao público. A Constituição da República Federativa de 1988 acatou os principais pontos da proposta, disponibilizando, pela primeira vez na história, uma seção destinada unicamente à saúde. Figura 1. VIII Conferência Nacional de Saúde. Fonte: Conselho Nacional de Saúde, 2019. Acesso em: 19/02/2020. 40 As políticas de saúde pública foram reformuladas a partir da expedição da nova Constituição, estabelecendo-se assim um novo programa, o Sistema Único de Saúde (ou SUS), que ampliou os níveis de atenção à saúde e rompeu com o modelo excludente que condicionava o acesso à saúde à contribuição na Previdência Social (MACHADO et al., 2013). A legislação determinou que as medidas de saúde passassem a ser unificadas, ou seja, as ações curativas, reabilitadoras, preventivas e de promoção à saúde tornaram-se atribuições do Ministério da Saúde, isentando a Previdência Social da responsabilidade sobre estas. Sistema Único de Saúde – SUS O primeiro passo para começar a desvendar o SUS é compreender que um sistema é o agrupamento de diversos componentes relacionados, os quais agem mutuamente para executar determinada tarefa. No SUS, o sistema tem como objetivo propiciar cuidados à saúde da sociedade por meio de ações curativas, preventivas, reabilitadoras, educativas e promotoras. A próxima etapa é assimilar porque o sistema é “único”: o SUS é assim chamado devido ao fato de seguir as mesmas diretrizes e princípios por todo o país. O SUS pode ser definido como um novo preceito organizacional e político voltado para a reorganização da saúde pública. Ademais, ele não é considerado um sucessor do INAMPS, mas sim um novo programa, completamente diferente, que marca na história a conquista do direito universal à saúde, já mencionado na Declaração dos Direitos Humanos. Os principais fundamentos do SUS foram decididos durante a VIII Conferência Nacional de Saúde e seu estabelecimento se deu por meio da Constituição Federal da República de 1988. A implementação do SUS é considerada a maior ação de inclusão social da história brasileira, sendo um símbolo da política positiva de engajamento do governo para com os direitos da população. Com o SUS, a saúde passou a ser um direito de todos e uma obrigação do Estado, algo até então inédito, visto que os programas anteriores possuíam um caráter centralizador, restrito e excludente. Basicamente, as únicas medidas de caráter universal antecessoras ao SUS, não condicionadas a outros fatores, foram as campanhas de vacinação promovidas pelo Ministério da Saúde. Todavia, deve ficar claro que a ideologia do SUS é muito mais do que apenas oferecer atendimento médico e hospitalar para que a população o acesse quando necessário: seu propósito é também atuar antes disso, diminuindo os casos de infecções, doenças e sequelas ocasionadas. Assim, o SUS não é apenas um serviço ou uma mera instituição pública, mas um amplo sistema que engloba um conjunto de unidades e ações que se relacionam na busca de um mesmo objetivo. 41 Todos os usuários do SUS possuem o Cartão Nacional de Saúde (CNS), também chamado de cartão SUS, evidenciado na Figura 2. Esse cartão funciona como um documento de identificação e possui uma sequência de números únicos. Um dos principais objetivos do CNS é registrar o histórico do paciente na rede pública, como, por exemplo, a ocorrência de internações e as últimas medicações prescritas. O cartão não tem custo e pode ser solicitado até mesmo pela internet. 42 Figura 2. Cartão Nacional de Saúde. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 06/03/2020. Internacionalmente, o SUS é considerado um dos maiores e mais complexo sistema de saúde do mundo, no que tange à sua cobertura e população atendida. Entre os programas do SUS que são considerados modelos a serem seguidos, destacam-se as campanhas de vacinação, o programa de tratamento do HIV, o Sistema Nacional de Transplantes, o fornecimento de remédios para o manejo de doenças crônicas não transmissíveis, os hemocentros e o programa Saúde da Família. É importante observar também que a Constituição Federal estabeleceu o SUS em 1988, mas sua regulamentação se deu pela Lei Orgânica da Saúde n. 8.080/90, segundo Greice Bassinello em seu livro Saúde coletiva, de 2014. A legislação que rege o SUS, de modo geral, compreende os artigos 196 a 200 da Constituição, as Normas Operacionais Básicas (NOB), a Lei Orgânica da Saúde n. 8.080/1990 e o Decreto regulamentador n. 7.508/2011. Posto isso, pode-se afirmar que o fisioterapeuta, como um profissional atuante no SUS, deve ter conhecimento sobre as leis normalizadoras da saúde no Brasil. Agora, observe o que os artigos 196 a 200 da Constituição afirmam sobre a saúde: • Artigo 196: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de 43 doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”; Artigo 197: “São de relevância pública as ações e servisos de saúde, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado”; Artigo 198: “As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único”; Artigo 199: “A assistência à saúde é livre à iniciativa privada”; Artigo 200: “Ao Sistema Único de Saúde compete,além de outras atribuições, nos termos da lei: controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde e participar da produção de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos, hemoderivados e outros insumos; executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador; ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde; participar da formulação da política e da execução das ações de saneamento básico; incrementar em sua área de atuação o desenvolvimento científico e tecnológico; fiscalizar e inspecionar alimentos, compreendido o controle de seu teor nutricional, bem como bebidas e águas para consumo humano; participar do controle e fiscalização da produção, transporte, guarda e utilização de substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos; colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho”. PRINCÍPIOS DOUTRINÁRIOS E ORGANIZACIONAIS Todos os programas sociais precisam de normas para que se assegure o seu bom desempenho, e com o SUS não poderia ser diferente. O Sistema Único de Saúde possui uma série de princípios e diretrizes que o acompanham desde sua criação e sua essência é tudo o que o programa garante à sociedade, direcionando o seu funcionamento e gestão. Para conhecer os princípios do SUS, observe atentamente o Diagrama 3, notando a divisão aplicada entre princípios doutrinários, também chamados de ideológicos, e organizacionais. 44 Diagrama 3. Princípios ideológicos e organizacionais do SUS. Fonte: ARRUDA, 2017, p. 61. (Adaptado). Agora, observe com atenção as informações sobre cada princípio (FIGUEIREDO, 2012; NICOLICH; ROCHA, 2017): Universalidade: estabelece o acesso à saúde por meio do SUS a todos os cidadãos, sem restrições e condicionantes; Equidade: leva em consideração as diferenças individuais e regionais, oferecendo 45 mais para aqueles que mais precisam. Equidade não deve ser confundida com igualdade, uma vez que esta busca propiciar condições para que todos tenham as mesmas oportunidades, podendo, em virtude disto, canalizar mais atenção a determinado grupo de pessoas. Para entender melhor a diferença entre igualdade e equidade, observe a analogia da Figura 3. Quando a igualdade é priorizada, todas as peças de xadrez recebem a mesma quantidade de moedas, independentemente de sua altura. Já quando considera-se o princípio da equidade, a quantidade de moedas distribuídas é equivalente à altura de cada peça, de modo que, no final, todas atinjam o mesmo nível; Figura 3. Analogia à diferença conceitual de igualdade e equidade. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 06/03/2020. • • Integralidade: considera o paciente como um todo indivisível e todas as suas necessidades devem ser atendidas por ações de saúde; Hierarquização: organiza em níveis os serviços que têm como objetivo atender as diferentes necessidades de saúde da população. Os serviços devem funcionar em níveis de complexidade crescente e o acesso inicial ao sistema deve ser através do nível primário de atenção, somente os casos mais complexos deverão ser encaminhados para níveis secundários e 46 terciários. Observe o Quadro 1 para compreender melhor a diferença entre os níveis de atenção à saúde; • Quadro 1. Níveis de atenção à saúde. Fonte: MOREIRA et al., p. 82. (Adaptado). • Participação popular/social: refere-se à democratização das decisões a respeito da saúde pública, principalmente através da participação da sociedade no SUS. É a garantia de que o povo estará envolvido na formulação das políticas de saúde. Essa participação acontece a partir dos conselhos de saúde, que são grupos deliberativos constituídos por representantes de toda a população, com uma estrutura estabelecida por um número igual de pessoas que representam tanto os usuários quanto o Estado e seus respectivos funcionários da saúde e parceiros do setor privado; e das conferências de saúde, que são encontros entre diversos representantes sociais, que reúnem-se para avaliar o cenário da saúde e indicar suas diretrizes políticas. As conferências nacionais acontecem no intervalo de tempo de quatro anos, e têm como característica sua descentralização e seu fomento nas conferências estaduais e municipais; Descentralização: trata da distribuição das responsabilidades e poder sobre a saúde nas três esferas do governo, visando assim um trabalho mais efetivo e com maior controle e fiscalização por parte da população. Esse princípio parte da ideologia de que quanto mais próxima do fato a decisão for tomada, mais chance haverá de acerto. Com esse postulado, os municípios passaram a ser considerados gestores e administradores da oferta dos serviços de saúde do SUS, ou seja, responsáveis por determinar as políticas de saúde locais de acordo com sua realidade; Regionalização: define que os serviços de saúde devem funcionar dentro de um território bem delimitado e com a definição da população a ser 47 assistida, ou seja, os serviços de saúde de determinado local têm que oferecer todas as modalidades de assistência. No caso da ausência de algum serviço, deve-se estabelecer consórcios intermunicipais ou mesmo interestaduais; Resolubilidade: afirma que os serviços de saúde precisam estar capacitados para enfrentar e resolver situações até o nível de sua competência; Complementariedade do setor privado: declara que quando a saúde pública não for suficiente, é permitida e necessária a contratação de serviços privados. Cada esfera do governo é responsável por desenvolver, executar, coordenar e avaliar os programas de saúde, sendo obrigação do âmbito federal, o Ministério da Saúde; do âmbito estadual, a Secretaria de Estado da Saúde; e do âmbito Municipal, a Secretaria Municipal de Saúde. Os princípios do SUS garantem a maioria dos direitos à saúde contemplados pela Constituição de 1988. Todavia, esses princípios só começaram a ser realmente colocados em prática após a aprovação das Leis Orgânicas da Saúde. 48 FINANCIAMENTO DO SUS O financiamento do SUS é tripartite, ou seja, atribuído a três âmbitos do governo: federal, estadual e municipal, através da afiliação de orçamento da seguridade social. A Lei Complementar n. 141 de 2012 é responsável por definir os percentuais de investimento financeiro no SUS por cada setor e, segundo esta lei, os municípios têm obrigação de aplicar pelo menos 15% da sua arrecadação anual de impostos em medidas de saúde pública, ao passo que os estados, 12% do seu recolhimento. A União é um caso especial, uma vez que sua contribuição é variável e equivale ao montante despendido anteriormente adicionado do percentual alusivo à variação do Produto Interno Bruto (PIB) do ano anterior ao da lei orçamentária anual. Todavia, no caso de variação negativa, o valor não poderá ser reduzido. A União repassa recursos monetários a estados e municípios e os estados transferem recursos aos municípios. Para compreender melhor o repasse de verbas entre as três esferas governamentais, observe o Diagrama 4. 49 Diagrama 4. O caminho das verbas da saúde. Fonte: JUNKES, 2018, p. 103. (Adaptado). A transferência dos recursos financeiros entre as esferas governamentais acontece por meio dos fundos nacionais de saúde, os quais realizam a gestão e estabelecem o patrimônio da saúde em unidades orçamentárias e administradoras. Além das contribuições sociais arrecadadas pelos três âmbitos do governo, o SUS é financiado também a partir dos seguintes tributos, segundo afirmam Nicolich e Rocha em seu livro Sistema Único de Saúde, de 2017: MUNICÍPIOS ESTADOS • Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU); 50 • Imposto sobre Transmissão de Bens Intervivos (ITBI); • Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS); • Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF); • Imposto Territorial Rural (ITR). Sabendo a origem dos recursos da saúde pública, resta saber onde eles são aplicados. Os destinos das verbas da saúde sãoinúmeros e, para facilitar seu entendimento, é possível classificá-los em seis categorias, a saber: • Vigilância em saúde; Gestão do SUS; Atenção Básica; Atenção de média e alta complexidade; Redes de serviços à saúde; Assistência farmacêutica. A referência para fiscalização, acompanhamento e controle da aplicação dos recursos vinculados em ações e serviços públicos de saúde é o Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Saúde do Ministério da Saúde (SIOPS), desenvolvido para ser uma fonte de fácil acesso a todos aqueles que queiram visualizar os gastos públicos. Um importante ponto discutido sobre o financiamento do SUS é o vínculo entre os meios públicos e privados, uma vez que parte das verbas públicas é transferida para a rede privada. Segundo dados de 2018 do Banco Mundial, o gasto anual do Brasil em saúde é de aproximadamente 8% do PIB, sendo que apenas 3,8% deste é destinado ao setor público. Logo, mais da metade deste valor (4,4%) corresponde a gastos no setor privado de saúde, o oposto de países desenvolvidos que possuem programas semelhantes ao nosso, como a Suécia (SALDIVA, VERAS 2018; OPAS, 2019). O percentual total investido em saúde no Brasil é muito semelhante aos de outros países que também dispõem de acesso universal à saúde. Comparando os dados dos últimos anos, é possível inferir que os problemas enfrentados pelo SUS não são apenas relacionados à falta de investimento financeiro, mas também uma questão de má administração e distribuição dos recursos no país. 51 Pacto pela Vida, em Defesa do SUS e de Gestão Desde sua criação, o SUS demonstra adversidades no que diz respeito à sua prestação de serviços; na tentativa de transpor alguns dos problemas de saúde pública, foi realizado no ano de 2006 um acordo entre o Ministério da Saúde, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde e o Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde para o estabelecimento de um pacto de responsabilidades administrativas e de atenção à saúde denominado de Pacto pela Saúde. A criação deste pacto teve como principal objetivo a solução de situações consideradas prioritárias na saúde pública. Todos os anos o Pacto pela Saúde deve ser revisto, de modo a exaltar as carências de saúde da sociedade e, consequentemente, atualizar a lista de prioridades. As portarias número 399 e 699 de 2006 regulamentam o Pacto pela Saúde, que representa uma medida de descentralização e organização de um sistema hierarquizado e regionalizado de condutas do SUS. Objetivando uma melhor estruturação e elucidação das prioridades do Pacto pela Saúde, este foi dividido em três segmentos (Diagrama 5), a saber: Pacto pela Vida, Pacto em Defesa do SUS e Pacto pela Gestão do SUS. Diagrama 5. Segmentos do Pacto pela Saúde. Fonte: ARRUDA, 2017. p. 90. (Adaptado). 52 A ORGANIZAÇÃO DOS PACTOS NOS ÂMBITOS FEDERAIS, ESTADUAIS E MUNICIPAIS Os gestores dos três âmbitos do governo são responsáveis por garantir o acesso à saúde para toda a sociedade. Agora, torna-se necessário analisar as responsabilidades individuais dos governos municipais, estaduais e federais na gestão do SUS (BRASIL, 2005): Municípios • Gerenciar e executar os serviços públicos de saúde; • Celebrar contratos e convênios com entidades prestadoras de serviços privados de saúde, bem como avaliar a sua execução; • Participar do planejamento, programação e organização do SUS em articulação com o gestor estadual; • Executar serviços de vigilância epidemiológica, sanitária, de alimentação e nutrição, de saneamento básico e de saúde do trabalhador; • Gerir laboratórios públicos de saúde e hemocentros; • Celebrar contratos e convênios com entidades prestadoras de serviços privados de saúde, assim como controlar e avaliar sua execução; • Participar do financiamento e garantir o fornecimento de medicamentos básicos. Estados • Acompanhar, controlar e avaliar as redes assistenciais do SUS; • Prestar apoio técnico e financeiro aos municípios; • Executar diretamente ações e serviços de saúde na rede própria; • Gerir sistemas públicos de alta complexidade de referência estadual e regional; • Acompanhar, avaliar e divulgar os seus indicadores de morbidade e mortalidade; • Participar do financiamento da assistência farmacêutica básica e adquirir e distribuir os medicamentos de alto custo em parceria com o Governo Federal; • Coordenar e, em caráter complementar, executar ações e serviços de vigilância epidemiológica, vigilância sanitária, alimentação e nutrição e saúde do trabalhador; 53 • Implementar o Sistema Nacional de Sangue, Componentes e Derivados juntamente com a União e municípios; • Coordenar a rede estadual de laboratórios de saúde pública e hemocentros. Governo Federal • Prestar cooperação técnica e financeira aos estados, municípios e Distrito Federal; • Controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde; • Formular, avaliar e apoiar políticas nacionais no campo da saúde; • Definir e coordenar os sistemas de redes integradas de alta complexidade da rede de laboratórios de saúde pública, vigilância sanitária e epidemiológica; • Estabelecer normas e executar a vigilância sanitária de portos, aeroportos e fronteiras em parceria com estados e municípios; • Participar do financiamento da assistência farmacêutica básica e adquirir e distribuir para os estados medicamentos de alto custo; • Implementar o Sistema Nacional de Sangue, Componentes e Derivados juntamente com estados e municípios; • Elaborar normas para regular as relações entre o SUS e os serviços privados contratados de assistência à saúde. • Auditar, acompanhar, controlar e avaliar as ações e os serviços de saúde, respeitadas as competências estaduais e municipais. Em relação à responsabilidade sanitária: ESTADOS • Coordenar e acompanhar, no âmbito estadual, a pactuação; • Apoiar os municípios para que estes assumam integralmente sua responsabilidade de gestor pleno da atenção à saúde; • Fazer reconhecimento das necessidades da população no âmbito estadual e cooperar técnica e financeiramente com os municípios; • Desenvolver, a partir da identificação das necessidades, um processo de regulação, planejamento, programação, monitoramento e avaliação; • Apoiar técnica, política e financeiramente a gestão da Atenção Básica nos municípios, fazendo um reconhecimento das iniquidades, oportunidades e recursos; • Apoiar técnica e financeiramente os municípios para que executem com qualidade as ações básicas de vigilância em saúde; • Promover a estruturação da assistência farmacêutica; • Assumir, quando necessário, transitoriamente, a execução das ações de Vigilância em Saúde no município, comprometendo-se em cooperar para 54 que o município assuma, no menor prazo possível, sua responsabilidade plena; • Supervisionar as ações de prevenção e controle da vigilância em saúde, coordenando aquelas que exigem ação articulada e simultânea entre os municípios; • Acompanhar e avaliar a Atenção Básica no âmbito do seu território; • Apoiar financeiramente os municípios para que garantam a estrutura física necessária para a realização das ações de atenção básica; • Considerar e valorizar as práticas e saberes populares na organização e implementação das ações e serviços de saúde; • Manter atualizado o cadastro de estabelecimentos de interesse da vigilância sanitária; • Proceder investigação, complementar ou conjunta, com os municípios em situação de risco sanitário; • Monitorar a água de consumo humano; • Realizar notificação, investigação e busca ativa de casos inusitados notificados, surtos e óbitos; • Realizar ações de controle químico e biológico de vetores e eliminação de criadouros; • Realizar registro, captura, apreensão e eliminação de animais que apresentem riscos para a saúde humana. • Municípios • Executar e fazer a gestão das ações de Atenção Básica, incluindo as ações de promoção e proteção; • Organizar o acessoa serviços de saúde resolutivos e de qualidade na Atenção Básica, viabilizando o planejamento, a programação e a atenção à saúde descentralizados; • Garantir a integralidade das ações de saúde prestadas de forma interdisciplinar, por meio da abordagem integral e contínua do indivíduo no seu contexto familiar, social e do trabalho; • Identificar as necessidades da população de seu território, fazer um reconhecimento das iniquidades, oportunidades e recursos; • Desenvolver, a partir da identificação das necessidades, um processo de regulação, planejamento, programação, monitoramento e avaliação; • Definir a responsabilidade sanitária de cada serviço e equipe; • Promover a equidade na atenção à saúde; • Garantir a estrutura física necessária para a realização das ações de atenção básica; • Promover a estruturação da assistência farmacêutica; 55 • Desenvolver ações educativas que possam interferir no processo de saúde- doença da população e na melhoria da qualidade de vida; • Assumir a gestão e execução das ações de Vigilância em Saúde realizadas no âmbito local, compreendendo as ações de vigilância epidemiológica, sanitária e ambiental; • Assumir a gestão e execução das ações do Programa Nacional de Imunização; • Assumir a execução das ações de vigilância para as doenças transmitidas por vetores; • Notificar doenças de notificação compulsória, surtos e agravos inusitados; • Realizar imunização de animais contra a raiva; • Valorizar as práticas e saberes populares na organização e implementação das ações e serviços de saúde; • Gerir laboratórios de saúde pública de âmbito municipal; • Monitorar a água de consumo humano e contaminantes com importância em saúde pública União • Coordenar e acompanhar, no âmbito nacional, a pactuação; • Apoiar os estados e municípios para que assumam integralmente sua responsabilidade de gestor pleno da atenção à saúde; • Prestar cooperação técnica e financeira aos estados e aos municípios para o aperfeiçoamento da sua atuação institucional na gestão da Atenção Básica; • Exercer de forma pactuada as funções de normalização e de coordenação no que se refere à gestão nacional da Atenção Básica no SUS; • Fazer o reconhecimento das necessidades da população para o âmbito nacional; • Desenvolver um processo de regulação, planejamento, programação, monitoramento e avaliação no seu âmbito, considerando a identificação de necessidades; • Promover a estruturação da assistência farmacêutica; • Definir e pactuar as diretrizes para a organização das ações e serviços de média e alta complexidade; • Coordenar, nacionalmente, as ações de prevenção e controle da vigilância em saúde, que exigem ação articulada e simultânea entre os estados e municípios; • Considerar e valorizar as práticas e saberes populares na organização e implementação das ações e serviços de saúde; • Proceder investigação complementar ou conjunta com os demais gestores do SUS em situação de risco sanitário; 56 • Executar e coordenar as ações de vigilância em saúde, compreendendo as ações de média e alta complexidade, de acordo com as pactuações e normas vigentes; • Realizar inquéritos de fatores de risco. AÇÕES ESTRATÉGICAS E PRIORITÁRIAS O Pacto pela Vida é composto por uma série de compromissos sanitários e sociais, provenientes da observação da conjuntura da saúde do país e das prioridades deliberadas pelas três esferas do governo – federal, estadual e municipal. Fazem parte das ações estratégicas e prioritárias do Pacto pela Vida (BRASIL, 2006; LEMOS, 2015; NICOLICH; ROCHA, 2017): Saude do idoso Promoção do envelhecimento ativo e saudável; atenção integral à saúde; implantação de serviços de atenção domiciliar; acolhimento preferencial em unidades de saúde; fomento à participação social; educação permanente dos profissionais de saúde em geriatria; apoio a estudos e pesquisas sobre o envelhecimento; criação da caderneta de saúde da pessoa idosa, possibilitando um melhor acompanhamento por parte dos profissionais de saúde e melhora da assistência farmacêutica. Controle do câncer de colo do útero e de mama Contribuir para reduzir ao máximo as morbidades e a mortalidade por câncer de colo do útero e de mama; aumentar a cobertura do exame preventivo do câncer do colo de útero e do exame de mamografia, realizando-se punção em 100% dos casos e incentivar a realização da cirurgia de alta frequência para a retirada de lesões do colo uterino. Redução da mortalidade infantil e materna Reduzir a mortalidade neonatal; diminuir o número de óbitos por pneumonias e doenças diarreicas; qualificar os profissionais da saúde na atenção às doenças mais prevalentes; desenvolver comitês de vigilância do óbito; garantir o acesso a medicamentos para o tratamento dos quadros hipertensivos no parto. Fortalecer a capacidade de resposta às doenças emergentes e endêmicas Enfatizar o controle da dengue, hanseníase, tuberculose, malária, hepatite, AIDS e influenza; implantar um plano de contingência com ações de vigilância, prevenção e controle; criar unidades sentinelas e melhorar o sistema de informação sobre estas doenças. 57 Promoção da saúde Enfatizar a adoção de hábitos saudáveis na população; internalizar a responsabilidade individual da prática de atividade física regular e de alimentação saudável e combater o tabagismo Fortalecimento da Atenção Básica Desenvolver ações de qualificação dos profissionais da Atenção Básica; ampliar, consolidar e qualificar o Programa de Saúde da Família (PSF) como modelo de Atenção Básica à Saúde nos municípios e garantir infraestrutura necessária ao funcionamento das Unidades Básicas de Saúde (UBS) Saúde mental Ampliar a cobertura de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS); contemplar com o Programa de Volta para Casa, voltado para os pacientes de longa permanência em hospitais psiquiátricos. Fortalecimento da capacidade de resposta do sistema de saúde às pessoas com deficiência Implementar programas estaduais de reabilitação para o atendimento de pacientes com deficiência auditiva. Atenção integral às pessoas em situação ou risco de violência Desenvolver programas de proteção às vítimas de violência doméstica e sexual; aumentar a cobertura da ficha de notificação e investigação de casos de violência. Cuidados com a saúde bucal Prevenir o desencadeamento de doenças bucais e educar a população sobre os cuidados com a higiene da boca Saúde do homem Promover a saúde integral do homem. Observe na Figura 5 um exemplo real de campanha que promove os cuidados com a saúde masculina. O Pacto em Defesa do SUS engloba medidas articuladas pelos governos federais, estaduais e municipais para o fortalecimento do SUS como política pública e a 58 consolidação da reforma sanitária. A prioridade desse pacto é implementar um projeto permanente de mobilização social com a finalidade de: • Evidenciar a saúde como um direito de cidadania e o SUS como um programa público universal que assegura esses direitos; Propiciar o incremento de recursos orçamentários e financeiros para a saúde; Controlar o orçamento do SUS, constituído pelos orçamentos das três esferas de governo, elucidando o compromisso de cada uma; Apoiar a mobilização social pela promoção e desenvolvimento da cidadania; Facilitar o acesso à Carta dos Direitos dos Usuários do SUS. A carta dos Direitos dos Usuários do SUS foi elaborada em 2006 pelas três esferas do governo e pelo Conselho Nacional de Saúde. Sua publicação foi um marco importante, uma vez que possibilitou um maior entendimento sobre o sistema de saúde público. O Pacto pela Gestão determina as obrigações de cada âmbito federado, de modo a minimizar as competências adversárias e elucidar as funções de cada um, colaborando, assim, para o fomento da gestão conjunta e solidária do SUS. Esse pacto se fundamenta nos princípios organizacionais do SUS e suas prioridades são duas, a saber: Definir de forma inequívoca a responsabilidade sanitária
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