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Direito Administrativo - Prof. Evandro Borges 4. Atos Administrativos Introdução A Administração Pública manifesta-se através de atos administrativos, atos esses que dispõem de certas características e gozam de determinadas prerrogativas que a colocam em posição de superioridade em relação ao particular. Assim, é importante conhecer a fundo as peculiaridades e os fundamentos legitimadores dos atos administrativos, para que a necessária superioridade do Mandamus Público se dê, dentro dos limites legais de um Estado Democrático de Direito, movido unicamente pelos interesses públicos e não como manifestação autoritária e gratuita da força estatal (que aí deixa de ser legítima, para tornar-se arbitrária). 4.1 Conceito Ato Administrativo é toda manifestação unilateral de vontade da Administração Pública, objetivando: adquirir, resguardar, transferir, modificar, extinguir e declarar direitos ou impor obrigação aos administrados e a si própria. 4.2 Características • Presença da Administração Pública • Sujeição ao regime jurídico de direito público • Sujeição ao controle interno e externo 4.3 Requisitos (elementos essenciais) do Ato Administrativo Além dos requisitos de validade indispensáveis aos atos jurídicos de uma forma geral (agente capaz, objeto lícito e forma prescrita e não defesa em lei), destacamos aqui também os requisitos específicos do ato administrativo, que podem ser memorizados por meio da forma ff. com: Finalidade Forma Competência Objeto Motivo Finalidade: é o objetivo do ato, que deve estar em conformidade com a vontade da lei e com a realização do interesse público, sob pena de configurar-se desvio de finalidade, ensejando a anulação do ato. Forma: é a maneira pela qual o ato se exterioriza. Como regra, o ato administrativo exige forma escrita. Competência: é o poder atribuído, por meio de lei, ao agente ou órgão público para o desempenho específico de suas funções. Importante frisar que a competência pode ser delegada ou avocada. Direito Administrativo - Prof. Evandro Borges Objeto: é aquilo que o ato determina, ou seja, o ato que cria, modifica, resguarda ou extingue na ordem jurídica. Ex.: a construção de uma escola ou de um hospital público. Motivo: é a indicação de fato e de direito que enseja a edição do ato administrativo (fato em virtude do qual agiu a administração). Em regra, a motivação é obrigatória, sendo dispensada apenas em casos especiais. A vinculação do agente público à veracidade dos motivos alegados recebe o nome de Teoria dos motivos determinantes,, segundo a qual o motivo sempre deve ser verdadeiro, sob pena de anulação do ato (ainda que tal ato não tivesse motivação obrigatória). Saiba disto! Delegação de competência é o meio pelo qual o superior hierárquico (delegante) transfere atribuições suas ao subordinado (delegado), não podendo ser objeto de delegação: a edição de atos de caráter normativo; a decisão de recursos administrativos; além das matérias de competência exclusiva do órgão ou autoridade. Avocação é o fenômeno inverso da delegação, em que a autoridade superior chama para si o poder de decisão acerca de assuntos de competência do subordinado. 4.4 Atributos do Ato Administrativo Para fácil assimilação, podemos memorizar a palavra PAI. Presunção de Legalidade Autoexecutoriedade Imperatividade Presunção de Legitimidade (veracidade e legalidade): presume-se que todos os atos administrativos sejam verdadeiros e praticados conforme a lei. Trata-se de presunção relativa - juris tantun, pois admite prova em contrário. Autoexecutoriedade: a administração pode executar diretamente seus atos e compelir o administrado ao cumprimento de suas determinações, independentemente de ordem judicial, inclusive com uso de força, se necessário. Imperatividade: a administração pode impor unilateralmente e coercitivamente as suas determinações, válidas desde que dentro da lei. 4.5 Classificação dos Atos Administrativos 4.5.1 Quanto ao regramento (ou quanto ao grau de liberdade) Atos vinculados: são atos cuja prática é compulsória na forma disciplinada por lei, não dando margem alguma para liberdade decisória. A administração os edita sem qualquer avaliação subjetiva. Atos discricionários: são aqueles que, embora regulados em lei, permitem ao gestor certa margem de liberdade ao serem editados, ou seja, são praticados ou não, conforme Direito Administrativo - Prof. Evandro Borges a avaliação subjetiva (juízo de valor) que o gestor faz quanto à conveniência, oportunidade e necessidade de sua prática (Mérito Administrativo). Saiba disto! Mérito Administrativo é a valoração (análise pessoal e intransferível) que o gestor faz, no caso em concreto, sobre a conveniência, oportunidade e necessidade do ato a ser editado. A análise de mérito só é possível nos atos discricionários. Assim: o ato vinculado só apresenta o aspecto da legalidade; já o ato discricionário apresenta tanto o aspecto da legalidade como o de mérito. O aspecto da legalidade pode ser revisto pelo judiciário, o mérito não! 4.5.2 Quanto aos destinatários Atos Gerais: são aqueles editados sem um destinatário específico, ou seja, são dirigidos a destinatários indeterminados, geram efeitos em abstrato. Ex.: edital de Concurso Público. Atos Individuais: são aqueles editados com destinatário específico (pessoas determinadas), gerando efeito no caso concreto. Ex.: permissão para uso de bem público. 4.5.3 Quanto ao alcance (ou quanto aos efeitos sob terceiros) Atos Internos: são aqueles que geram efeitos apenas no âmbito dos órgãos e agentes da Administração Pública e não produzem efeitos para terceiros. Ex.: pareceres; memorandos. Atos Externos: são aqueles que produzem efeitos para além da Administração Pública, alcançando terceiros. Ex.: permissão de uso; desapropriação. 4.5.4 Quanto ao objeto (ou quanto às prerrogativas da Administração) Atos de Império: São aqueles praticados sob o regime de prerrogativas públicas. A administração de forma unilateral impõe sua vontade sobre os administrados (princípio da supremacia dos interesses públicos). Ex: Interdição de estabelecimento comercial por irregularidades sanitárias. Atos de Gestão: são praticados sem o uso das prerrogativas administrativas (praticados sob regime de direito privado). Obs.: para muitos autores, não são atos administrativos propriamente ditos, mas atos da Administração. Ex.: contratos de locação em que a Administração é locatária. Atos de Expediente: são aqueles destinados ao desenvolvimento rotineiro das atividades administrativas, sem caráter vinculante e sem forma especial. Ex.: despachos. Direito Administrativo - Prof. Evandro Borges 4.5.5 Quanto à Formação (ou quanto à composição da vontade) Atos Simples: são aqueles que decorrem da manifestação de vontade de um único órgão (singular ou colegiado). Ex.: nomeação feita pelo Presidente da República. Atos Complexos: são aqueles que decorrem da conjugação de vontades de mais de um órgão administrativo. As vontades são simultâneas e homogêneas e se unem para formar um único ato. Ex.: portaria interministerial. Atos Compostos: são aqueles que decorrem da manifestação de vontade de mais de um órgão, mas de forma sequencial. Ex.: nomeação do Procurador-Geral da República. 4.5.6 Quanto aos efeitos (ou quanto ao conteúdo) Atos Constitutivos: são os que criam, modificam ou extinguem um direito ou uma situação jurídica individual para seu destinatário em relação à Administração. Ex.: licenças, nomeações. Atos Declaratórios: são os que visama preservar direitos, afirmando a preexistência de uma situação de fato ou de direito. Ex.: homologação; anulação. 4.5.7 Quanto à eficácia Atos Válidos: são os que contêm todos os requisitos necessários à sua eficácia. Atos Nulos: são os que nascem afetados de vícios insanáveis, por ausência ou defeito substancial em seus elementos constitutivos. Não produzem efeitos jurídicos válidos. 4.6. Espécies de atos administrativos Normativos: contêm comando geral visando à concreta aplicação da lei. Detalha melhor o que a lei previamente estabeleceu. Ex.: decretos, regulamentos. Ordinários: visam a disciplinar o funcionamento da administração e a conduta funcional de seus agentes. Ex.: instruções normativas, circulares, ordens de serviço. Negociais: declara a vontade da administração para concretizar negócios com particulares, nas condições previamente impostas pela Administração Pública. Ex.: autorização, permissão de uso, concessão de serviço. Enunciativos: todos aqueles que a administração se limita a certificar ou atestar um fato, ou então a emitir uma opinião acerca de um determinado tema. Ex.: certidão, emissão de atestado, parecer. Direito Administrativo - Prof. Evandro Borges Punitivos: os que contêm sanção imposta pelo poder público em razão de infração funcional. Imposta de forma unilateral. Ex.: suspensão de servidor. Atos atípicos (atos da administração): são os atos de direito privado praticados pela administração, não envolvem os poderes/prerrogativas estatais e fica o poder público no mesmo nível do particular, como nos atos regidos pelo direito civil ou comercial, ou seja, regidos pelo direito privado e não pelo público (há forte corrente que entende que a administração nunca fica realmente no mesmo nível das demais pessoas, mesmo nos atos de direito privado). 4.7 Formas de Atos Administrativos Decreto: é a forma pela qual são expedidos os atos de competência privativa ou exclusiva do Chefe do Executivo. Tem a função de promover a fiel execução da lei. Portaria: é a forma pela qual a autoridade de nível inferior ao Chefe do Executivo fixa normas gerais para disciplinar conduta de seus subordinados. Alvará: é a forma pela qual são expedidas as licenças e autorizações. Estas são conteúdo, ao passo que o Alvará é forma. Ofício: é a forma pela qual são expedidas comunicações administrativas externas entre autoridades ou entre autoridades e particulares. Memorando: é a forma pela qual são expedidas comunicações administrativas internas entre setores de um mesmo órgão ou entre servidores de uma mesma repartição. Parecer: é a forma pela qual os órgãos consultivos firmam manifestações opinativas a cerca de questões que lhes são postas a exame. Não vincula a autoridade. Ordem de serviço: é a forma pela qual as autoridades firmam determinações para que as pessoas realizem atividades a que estão obrigadas. Despacho: é a forma pela qual são firmadas decisões por autoridades em requerimentos, papéis, expedientes, processo e outros. Despacho normativo é aquele firmado em caso concreto com uma extensão do decidido para todos os casos análogos. 4.8 Convalidação dos Atos Administrativos Convalidação (ou saneamento) é o meio pelo qual é suprimido o vício existente em um ato ilegal, com efeitos retroativos à data em que este foi praticado. Os atos nulos (eivados de nulidade absoluta) não podem ser convalidados. Quanto aos atos anuláveis (aqueles que possuem uma nulidade relativa), surgem dois posicionamentos: • Teoria Monista (seguida por Hely Lopes Meirelles) entende que todo o ato administrativo que afronta a lei é nulo, não havendo hipótese de convalidação; • Teoria Dualista (que tem como precursor José Cretella Júnior) entende que os atos administrativos que afrontam a lei podem ser nulos ou anuláveis, sendo estes passíveis de convalidação quando não gerarem lesão ao interesse público. Direito Administrativo - Prof. Evandro Borges A Lei nº 9.784/99 (Lei do Processo Administrativo Federal) albergou a teoria dualista ao estabelecer, em seu art. 55, que “em decisão na qual se evidencie não acarretarem lesão ao interesse público nem prejuízo a terceiros, os atos que apresentarem defeitos sanáveis poderão ser convalidados pela própria Administração". 4.9 Extinção dos Atos Administrativos Anulação (ou Invalidação): ocorre por questões de ilegalidade do ato, podendo ser feita pela própria Administração (controle interno) ou pelo Poder Judiciário. A anulação do ato opera efeitos retroativos (ex tunc). Revogação: ocorre quando o ato for legal, porém inconveniente e/ou inoportuno para a Administração. Podemos dizer que, quando o ato foi editado, atendia aos anseios da Administração e da sociedade, mas, com o passar dos anos, tornou-se obsoleto, sem serventia, desatualizado, portanto deverá ser revogado. A revogação somente pode ser realizada pela própria Administração, operando efeitos não retroativos (ex nunc). Cassação: é o desfazimento do ato quando o seu beneficiário descumpre os requisitos que permitem a manutenção do ato e seus efeitos. Ex.: cassação da licença para funcionamento de hotel por haver se convertido em casa de tolerância. Contraposição: implica edição de dois atos administrativos em tempos diferentes, e o segundo ato, em razão de seu conteúdo ou competência, retira automaticamente o primeiro do ordenamento. Ex.: uma exoneração de servidor que tem efeitos contrapostos aos da nomeação. Caducidade (ou decadência): ocorre quando a norma jurídica que sustentava o ato administrativo foi revogada ou alterada. O ato sem base legal deixa de gerar efeitos. Ex.: um parque de diversões que tem de ir para outro lugar face à nova lei de zoneamento. Saiba disto! Diferenças essenciais entre ANULAÇÃO e REVOGAÇÃO Forma de extinção Motivo Competência Efeitos ANULAÇÃO Ilegalidade • A própria Administração (autotutela) • O Poder Judiciário ex tunc (retroage a data do ato anulado) REVOGAÇÃO Inconveniência ou inoportunidade • Apenas a própria Administração (pois envolve análise de mérito) ex nunc (não retroage) Conclusão Os atos jurídicos, de uma forma geral, resultam da manifestação de vontade das partes, obedecidos certos requisitos de validade (agente capaz; objeto lícito; e forma prescrita ou não proibida em lei). Já o ato administrativo (espécie do gênero ato jurídico) reveste-se, complementarmente, de Características; Requisitos; e Atributos próprios que, em razão Direito Administrativo - Prof. Evandro Borges da supremacia do interesse público, culminam por colocar a Administração em posição de superioridade em relação ao particular, sendo que tal desequilíbrio em favor do Poder Público é justamente o que distingue o ato administrativo dos atos jurídicos privados. Dica de Leitura MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Ato Administrativo e Direito dos Administrados. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1981. Referências REALE, Miguel. Revogação e anulamento do ato administrativo. Rio de Janeiro: Forense, 1980. JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de Direito Administrativo. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
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