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INSTITUTO FEDERAL DO ESPIRITO SANTO TÉCNICO EM ELETROMECÂNICA 2° PERÍODO BIANCA SOARES MEDEIROS GUILHERME SABINO FAGUNDES TRATAMENTOS TÉRMICOS E TERMOQUÍMICOS CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM (ES) 2020 1 Bianca Soares Medeiros Guilherme Sabino Fagundes TRATAMENTOS TÉRMICOS E TERMOQUÍMICOS Trabalho acadêmico apresentado à disciplina de Tecnologia dos Materiais do curso de tec. em Eletromecânica do IFES – Instituto Federal do Espírito Santo, com requisito para avaliação. Professor: Jeanderson Colodete Sessa Cachoeiro de Itapemirim (ES) 2020 2 1 INTRODUÇÃO Na construção mecânica utiliza-se peças metálicas dentro de determinado requisito. Há casos onde por exemplo é necessário que o metal mude suas propriedades e por isso, passa por tratamentos térmicos e termoquímicos para se obter resultados tais como: resistência mecânica, reduzir a dureza, endurecer, melhorar a tenacidade, etc., de modo torna-lo apto para suportar as condições de serviço que estará sujeito. Neste trabalho vamos falar um pouco sobre como funciona esses processos, seus objetivos, e como alcança-los. 3 2 METODOLOGIA 2.1 Tratamentos Térmicos 2.1.1 O que são tratamentos térmicos e suas finalidades Tratamento térmico pode ser definido como o aquecimento ou resfriamento controlado dos metais feito com a finalidade de alterar suas propriedades físicas e mecânicas, sem alterar a forma do produto final. Os aços são tratados para três finalidades: amolecer (reduzir a dureza e melhora a tenacidade), endurecer (aumentar a resistência mecânica) ou modificar propriedades do material (maximizando a vida útil do aço e outras propriedades). O processo de tratamento térmico do metal serve para: • Remover gases e tensões decorrentes de tratamentos mecânicos a frio ou a quente; • Reduzir a dureza; • Eliminar efeitos de tratamentos térmicos ou mecânicos aos quais o aço tenha sido submetido previamente; • Melhorar a usinabilidade; • Modificar propriedades mecânicas como resistência, ductilidade etc; • Alterar características elétricas e magnéticas; • Ajustar a textura bruta de fusão. 2.1.2 Tipos de tratamentos térmicos ➢ Recozimento Pleno O recozimento pleno consiste no aquecimento do aço a uma temperatura superior à zona crítica (quando este aquecimento é feito a uma temperatura situada dentro da zona crítica, é denominado recozimento intercrítico) seguido por um resfriamento lento (dentro do forno por exemplo). A finalidade deste tratamento é restaurar as propriedades alteradas por um tratamento mecânico ou térmico anterior, ou refinar/homogeneizar estruturas brutas de fusão. Quando o aço é aquecido a uma temperatura superior à temperatura crítica (Ac1), começa a ocorrer a nucleação, e posteriormente o crescimento, de grãos de austenita, modificando a microestrutura anterior do material, qualquer que esta seja. 4 Posteriormente, durante o resfriamento lento a austenita se decompõe numa mistura de ferrita e cementita (perlita) inteiramente nova, isenta de deformação ou qualquer outro resultado de tratamentos mecânicos ou térmicos anteriores. Aquecimento: deve ser uniforme e a temperatura de tratamento deve ser homogênea, para evitar distorções e até fraturas. Temperatura de recozimento: varia em função da composição química: 20 a 50 ºC acima de Ac3 (limite superior da zona crítica) para aços hipoeutetóides. Para aços hipereutetóides: entre Ac1 e Acm para evitar formação de cementita pro-eutetóide fragilizante nos contornos. Tempo de permanência à temperatura (patamar): deve ser suficiente para a formação e homogeneização da austenita, inclusive no centro da peça. Varia em função da espessura da peça, que, quanto maior, precisa de mais tempo. Atmosfera do forno: em fornos de atmosfera oxidante devem ser minimizadas as entradas de ar, para evitar a formação de carepa (óxido), principalmente para peças grandes com longos tempos de tratamento, assim como a descarbonetação, principalmente de peças cementadas (endurecidas superficialmente por tratamentos termoquímicos). Esfriamento lento: deve ser realizado preferencialmente dentro do forno. Se o custo for inaceitável: resfriamento em campânulas isoladas ou imersas/enterradas em materiais isolantes térmicos (vermiculite, cal em pó, areia bem seca, cinzas ou outros meios que assegurem resfriamento bem lento após saída do forno). É importante que a passagem pela faixa de temperaturas em que ocorre a transformação seja bastante lenta para que se forme perlita grossa, perlita esferoidizada e cementita esferoidizada na estrutura do material. Na tabela abaixo é possível obter as temperaturas de austenitização e aços com diferentes teores de carbono. 5 ➢ Esferoidização Os aços de alto carbono % C > 0,8% (p.e aços para rolamento) apresentam uma rede frágil de cementita precipitada nos contornos da perlita. Esta quantidade maior de cementita presente nestes aços torna-os difíceis de usinar. Para melhorar sua usinabilidade faz-se um tratamento de esferoidização. O tratamento é assim chamado porque as partículas de cementita tornam-se esféricas após tempos prolongados de exposição a temperaturas ligeiramente subcríticas. O tratamento produz cementita esferoidal em uma matriz de ferrita, eliminando a presença de perlita e a rede de carbonetos frágeis anteriormente existentes na microestrutura. O tratamento consiste em aquecimento do aço até uma faixa de temperaturas 50ºC abaixo da zona crítica, manutenção prolongada (várias horas) nesta temperatura e resfriamento lento dentro do forno. Os aços de baixo teor de carbono quase nunca são esferoidizados porque são muito moles e deformáveis e empastam a ferramenta, provocando seu aquecimento e desgaste excessivo. ➢ Alívio de tensões Quando soldados os aços, em geral, são submetidos a um ciclo térmico caracterizado por um intenso, e relativamente rápido, aquecimento, seguido por um resfriamento muito rápido. Dependendo de outros fatores, como, por exemplo, sua composição química, esses aços, durante este ciclo térmico, podem sofrer transformação martensítica. A transformação martensítica é adifusional, envolve um rearranjo controlado e limitado de átomos no espaço, e implica numa variação de volume, associada à mudança da estrutura CFC da austenita para a estrutura TCC da martensita. Essa mudança volumétrica brusca pode acarretar a ocorrência de tensões residuais e de distorções, que em casos extremos podem causar o surgimento de trincas, as chamadas trincas de têmpera. O tratamento térmico de alívio de tensões consiste no aquecimento uniforme e controlado de um aço, soldado ou submetido a qualquer processo que gere tensões residuais, a uma temperatura adequada (inferior à temperatura crítica) por um tempo suficiente, seguido por resfriamento, também uniforme e controlado, de modo a relaxar essas tensões sem introduzir alterações microestruturais. 6 A temperatura e tempo de aquecimento dependem de fatores como a composição química do aço, sua microestrutura inicial, o tamanho e a geometria da peça que está sendo tratada. As tensões residuais resultantes da soldagem são reduzidas a um nível pouco inferior ao limite e escoamento do aço à temperatura de tratamento térmico de alívio de tensões. O nível de tensões residuais remanescentes no aço depende da taxa de resfriamento. Resfriamento desigual até a temperatura ambiente pode resultar em tensões adicionais, prejudicando o efeito benéfico do tratamento. As tensões residuais de soldagem começam a ser aliviadas a temperaturas pouco superiores à temperatura ambiente,mas é aconselhável um aquecimento lento até pelo menos 500 ºC para garantir melhores resultados. A temperatura de aquecimento deve ser a mínima compatível com o tipo e as condições da peça, não alterando significativamente sua estrutura interna e suas propriedades mecânicas. O percentual de alívio de tensões internas depende do tipo de aço, basicamente da composição química e do limite de escoamento. O efeito da temperatura de tratamento é muito maior do que o do tempo de manutenção da peça naquela temperatura. Quanto mais próxima da temperatura crítica ou da temperatura de recristalização, mais efetiva é a temperatura de tratamento em remover as tensões residuais, desde que os ciclos de aquecimento e resfriamento sejam adequados. O alívio de tensões afeta outras propriedades dos aços soldados, como a microestrutura, a resistência à tração e a resistência ao impacto. Assim, é necessário selecionar uma temperatura que permita atingir propriedades desejáveis no aço e ao mesmo tempo proporcionando o máximo alívio de tensões possível. Este processo foi inicialmente desenvolvido para juntas soldadas com grandes dimensões, que inviabilizam o tratamento no forno. O metal de cada lado da junta soldada é aquecido entre 175 e 205 ºC, enquanto a junta soldada é mantida em temperatura relativamente baixa. A propagação do calor em cada lado para o centro resulta numa zona de expansão térmica itinerante no metal base e numa tensão trativa recíproca na solda. As duas zonas de compressão são expandidas termicamente, resultando em aumento da tensão trativa na solda além do limite de escoamento. Quando em seguida o metal se resfria e contrai, a tensão cai abaixo do limite de escoamento. 7 Quando o processo é realizado corretamente, obtém-se redução parcial na tensão longitudinal de soldas de topo. Muitos consideram que tensões de solda longitudinais são de fundamental importância, pois atingem valores que podem chegar à ao limite de escoamento em tração. Outros questionam a validade do alívio de tensões em baixa temperatura, alegando que em placas restringidas ambas as tensões longitudinais e transversais se aproximam do limite de escoamento do material. Reduções nas tensões residuais transversais atingem até 60 %, assim como consideráveis reduções podem ser obtidas nas tensões longitudinais, indicando que o tratamento de alívio de tensões em baixa temperatura é um modo relativamente barato de reduzir sensivelmente as tensões de contração em materiais dúcteis. Na maioria dos metais o tratamento de alívio de tensões não modifica as características microestruturais, não substituindo outros tratamentos específicos com essa finalidade, como o revenimento. ➢ Normalização A normalização do aço é feita quando se deseja refinar o grão do material. O aço com grãos grandes tende a apresentar maior heterogeneidade de propriedades e maior fragilidade. O refino de grão garante maior homogeneidade de propriedades, e maior tenacidade. O tratamento térmico de normalização consiste no aquecimento do aço até 60 ºC acima do limite superior da zona crítica (A3 ou Acm), sempre garantindo austenitização total do material. Em seguida é retirado do forno e deixado resfriar ao ar natural. A estrutura resultante é de pequenos grãos de ferrita e perlita fina. Esse tratamento é bem mais barato que o de recozimento pleno, pois o forno pode ser desligado logo após o fim do período de austenitização. A principal diferença entre os tratamentos de recozimento pleno e de normalização é que as peças tratadas em recozimento pleno apresentam dutilidade e usinabilidade homogêneas em todas as regiões, já que a peça toda fica exposta ao ciclo de resfriamento. Já no caso da peça normalizada a velocidade de resfriamento não é uniforme. Seções mais espessas resfriam mais lentamente do que seções mais finas. Como a velocidade de resfriamento é heterogênea, a microestrutura e as propriedades (usinabilidade e conformabilidade) também o são. Caso se deseje usinar a peça nas etapas subseqüentes de fabricação é melhor fazer o recozimento pleno. 8 ➢ Têmpera A realização dos tratamentos de têmpera e revenimento produz a microestrutura de martensita revenida, que proporciona a melhor combinação de resistência mecânica/dureza e tenacidade. A têmpera, produzindo martensita, leva à obtenção de resistência mecânica/dureza bem mais alta do que a obtida por normalização (microestrutra ferrítico-perlítica fina), mas as tensões associadas à transformação martensítica podem causar trincas e distorções no aço temperado e assim, logo após a têmpera o aço deve ser revenido, pois embora a resistência mecânica/dureza caia um pouco, mas não muito, devido à difusão dos átomos de carbono para fora da martensita, assim um pouco empobrecida, as tensões são eliminadas, resultando em considerável ganho de tenacidade, além de evitar trincas e distorções. Temperabilidade Temperabilidade é um conceito importante e consiste na capacidade do aço sofrer transformação martensítica (têmpera) após ser resfriado rapidamente num determinado meio a partir do campo austenítico. Depende muito da composição química: enquanto aços com teores de carbono e de outros elementos de liga relativamente baixos só temperam em água, outros um pouco mais ligados temperam ao ar, enquanto alguns muito ligados (ex.: aços- ferramenta) temperam ao ar. O carbono endurece a martensita, enquanto os demais elementos de liga retardam a transformação difusional em ferrita e cementita, favorecendo a transformação martensítica. Depende também do tamanho de grão austenítico (maior: menos contornos: menor área para nuclear ferrita e cementita: favorece formação de martensita) e da homogeneidade da austenita (mais homogênea: sem carbetos: dificulta a nucleação da ferrita e da cementita). Resfriamento na Têmpera Dois fatores influenciam a velocidade com a qual as diferentes posições na peça resfriam: • Velocidade de extração do calor na superfície da peça: é função do meio de têmpera selecionado. • Transmissão de calor por condução dentro da peça: é influenciada pela geometria da peça: dimensões e forma. Em função disso podem se formar diferentes microestruturas na superfície e no interior da peças. 9 Ensaios de Temperabilidade Existem dois métodos para ensaio de temperabilidade: Grossmann (o mais antigo) e Jominy (mais simples e mais comumente empregado). Ensaio Grossmann: Barras de aço com diferentes diâmetros são temperadas e o perfil de dureza ao longo do diâmetro da barra é medido. A dureza no centro das barras é apresentada num único gráfico, onde o diâmetro crítico (50 HRC ou 50 % de martensita) é determinado para um dado meio de têmpera. Assim, barras com diferentes diâmetros são temperadas e a dureza varia com o meio de têmpera , a posição ao longo do diâmetro e com os diferentes diâmetros. Ensaio Jominy Neste método um único corpo de prova cilíndrico é temperado em uma das extremidades, gerando uma ampla gama de variação de velocidades de resfriamento ao longo da altura do cilindro, resultando em diferentes microestruturas e durezas nestas regiões distintas. Assim, obtém-se diferentes velocidades de resfriamento nas diferentes distâncias da extremidade. ➢ Revenimento Em decorrência da têmpera (transformação martensítica) no aço as tensões residuais são excessivas e a ductilidade e a tenacidade são muito baixas para permitir seu uso na maioria das aplicações, sendo necessária a realização de um tratamento térmico denominado revenimento (ou revenido), que altera a microestrutura e alivia as tensões decorrentes da têmpera, consistindo no aquecimento a temperaturas inferiores a Ac1, com o objetivo de aumentar a ductilidade e a tenacidade e ajustar a resistência mecânica para o nível desejado, além de aliviar tensões. Transformações no RevenimentoA martensita resultante da têmpera é metaestável. O aquecimento abaixo da zona crítica (abaixo de Ac1) favorece a transformação da martensita em fases mais próximas do equilíbrio, eventualmente até ferrita + cementita/carbonetos. Isso leva à redução de dureza/resistência mecânica e ao aumento da ductilidade/tenacidade. Em alguns casos: aços ferramenta: precipitação de carbonetos no revenido aumenta a dureza: endurecimento secundário. 10 O aumento de tenacidade não é linear: numa determinada faixa de temperaturas ocorre redução da tenacidade: fragilização de revenido. Estágios das Transformações no Revenimento • Até cerca de 100 ºC: redistribuição dos átomos de carbono. • 100 a 300 ºC: precipitação de carbonetos. Nos aços de alto C: além dos carbonetos ε também os carbonetos χ. • 200 a 300 ºC: austenita retida em aços de médio e alto carbono se decompõe: precipitação de carbonetos na austenita, reduzindo seu teor de carbono em solução e viabilizando a formação de martensita no resfriamento pós-revenimento. • Acima de cerca de 300 ºC: inicia-se a recuperação e a recristalização da martensita, com a eliminação de discordâncias, combinado com o crescimento e a esferoidização das partículas de cementita, resultando em queda de dureza/resistência mecânica. • Entre 500 e 650 ºC: precipitação de carbetos de elementos de liga (V4C3, Mo2C e etc), aumentando a dureza/resistência mecânica. A maior parte destes processos não pode ser observada em microscópio ótico, que permite apenas verificar o aumento da velocidade de ataque metalográfico à medida que os carbonetos se precipitam, e eventualmente coalescem, se o revenimento for longo. Fragilização no Revenimento Há diversos tipos de fragilização no revenimento, mas dois se destacam. O mais comum (lado esquerdo da figura a seguir) ocorre para um grande número de aços usados em construção mecânica e se caracteriza por uma faixa mais estreita de temperaturas de revenimento (250 a 400 ºC) onde ocorre a fragilização, a qual deve ser evitada. No segundo tipo, que ocorre na faixa de 250 a 570 ºC), recomenda-se revenir acima de 600 ºC. O resfriamento pós-revenido deve ser rápido para minimizar a permanência na faixa de temperaturas de fragilização. Austenita Retida e Duplo Revenimento À medida que aumenta o teor de carbono do aço, diminuem as temperaturas Mi e Mf, aumentando assim a tendência à formação de austenita retida como consequência da têmpera. Durante o revenimento pode ocorrer a precipitação de carbetos na austenita retida, reduzindo o teor de carbono desta, e assim aumentando Mi e Mf. No resfriamento 11 pós-têmpera pode ocorrer a transformação da austenita retida em martensita, exigindo novo revenimento. Duplo Revenimento Recomenda-se o duplo revenimento para aços ferramenta e aços de alto teor de carbono em geral, com o objetivo de garantir tenacidade e estabilidade dimensional. Não é fácil detectar austenita retida. O método mais confiável consiste em analisar o maço por difração de raios X, complementada por ensaios de dureza. Assim é possível detectar frações volumétricas de austenita retida superiores a 5 %. Ataques metalográficos coloridos também podem determinar a presença de austenita retida. ➢ Martêmpera, Austêmpera e Patenteamento Martêmpera A ocorrência simultânea de tensões térmicas associadas ao resfriamento rápido e das tensões causadas pela variação volumétrica associada à transformação martensítica causa trincas e distorções. Quando a temperabilidade é suficiente, é possível realizar a têmpera com um rápido estágio de homogeneização da temperatura da peça antes de atingir Mi: é a martêmpera, onde um banho a cerca de 350 ºC permite igualar a temperatura entre a superfície e o centro da peça com o aço ainda no campo austenítico. Prosseguindo o resfriamento obtém-se martensita com menor risco de trincas e distorções, não dispensando o revenimento. Austêmpera Austêmpera é o tratamento térmico isotérmico realizado em aços para a obtenção de microestrutura bainítica. Como a microestrutura resultante é composta essencialmente por bainita, não exige a realização de revenimento posterior. A austêmpera consiste no resfriamento rápido até o patamar de temperatura de transformação bainítica, o qual é então interrompido, sendo seguido pela manutenção a esta temperatura até a conclusão da transformação bainítica, seguida por resfriamento rápido. Patenteamento Patenteamento é um tratamento térmico realizado em produtos não planos de aços eutetóides, mais especificamente arames e fios, com o objetivo de produzir uma microestrutura de perlita fina. Geralmente é realizado em banhos de sal ou em banhos de chumbo. 12 O patenteamento consiste no resfriamento rápido até a faixa das temperaturas mais baixas de transformação perlítica (pouco acima da transformação bainítica), o qual é então interrompido, sendo seguido pela manutenção a esta temperatura até a conclusão da transformação perlítica, seguida por resfriamento rápido. 2.2 Tratamentos termoquímicos 2.2.1 O que são Os tratamentos termoquímicos têm por objetivo alterar as propriedades superficiais do aço. Em geral materiais extremamente duros têm elevada resistência ao desgaste, porém baixa tenacidade/resistência ao impacto. Por outro lado, materiais menos duros, embora mais tenazes, em geral não apresentam boa resistência ao desgaste. Em peças como engrenagens, deseja-se um núcleo tenaz e uma superfície resistente ao desgaste. Para essa aplicação, aços com baixo teor de carbono são submetidos ao tratamento termoquímico de cementação, que eleva o teor de carbono na superfície, aumentando sua resistência ao desgaste, ao mesmo tempo que preserva a tenacidade do núcleo, mantido com baixo teor de carbono. Meios para realizar o tratamento: são as fontes de C e N. Podem ser sólidos, líquidos e gasosos. Inicialmente a cementação foi desenvolvida em meio sólido, mas esse não é o meio mais eficiente. Na atualidade prefere-se meios líquidos e gasosos para a realização de tratamentos termoquímicos, devido à maior velocidade do processo quando realizado com esses fluidos como meios. 2.2.2 Tipos de tratamentos termoquímicos ➢ Cementação (Carbonetação) Enquanto no núcleo os aços cementados contêm de 0,15 a 0,25 % de carbono, na superfície o teor de carbono pode ser ajustado para valores entre 0,8 e 1 %. A cementação pode ser realizada em meio sólido, líquido ou gasoso, também podendo ser utilizado plasma. O potencial químico do carbono no meio de cementação determina o potencial máximo de carbono que o aço pode atingir e assim o teor de carbono na superfície do material. 13 O processo de difusão dos átomos de carbono na matriz rica em ferro do aço depende de alguns fatores: • Temperatura de tratamento. • Tempo de tratamento (até a saturação). • Composição química do aço, incluindo o teor de carbono. • Potencial químico do carbono na superfície da peça. Cementação Sólida É o processo mais antigo de cementação, que inicialmente envolvia somente o uso de meios de cementação (cementos) sólidos. Entretanto, devido à lentidão da cementação sólida e às dificuldades de controle preciso dos resultados obtidos com esse processo, acabou sendo superado por outros processos, como a cementação gasosa e a cementação líquida. Por estes motivos passou a ter aplicação restrita, embora do ponto de vista microestrutural seja uma base para os demais processos. O tratamento de cementação é realizado acima da zona crítica, no campo austenítico, no qual a solubilidade do carbono no aço é elevada. Embora a fonte de carbono seja sólida, o carbono é transportado pelo gás que se forma em torno da peça, a qual é envolvida pelo meio de carbonetação. A reação CO2 + C = 2CO é crítica para definir o potencial químico do carbono. Os cementos sólidos sãotradicionalmente constituídos por uma mistura de carvão vegetal moído, porém não muito fino, e carbonatos, os quais agem como catalisadores, aumentando a proporção de CO em relação à de CO2. Um cemento tradicional é o de Caron, constituído por 40 % de carbonato de bário e 60 % de carvão vegetal. A cementação sólida é lenta, requerendo algumas horas de permanência acima da zona crítica (900 a 1000 ºC) e durante este tempo ocorre crescimento de grão austenítico. Por esse motivo, após a cementação sólida em caixa é necessário um tratamento térmico que permita refinar o grão, geralmente a normalização.Após a normalização a camada superficial pode ser endurecida por têmpera. Como resultado da cementação e da têmpera, a temperatura de têmpera foi suficiente para temperar a região cementada, devido ao seu alto teor de carbono, porém não modifica muito as propriedades do núcleo da peça, que deste modo preserva sua ductilidade. O interior da peça permanece na região intercrítica com resfriamento lento: perlita e ferrita, a superfície da peça é austenitizada e depois temperada, resultando em martensita. 14 A Dupla Têmpera é um tratamento térmico alternativo à normalização: uma primeira têmpera é realizada a cerca de 900 ºC, e é seguida por um novo tratamento de têmpera, porém em temperatura mais baixa (da ordem de 770 ºC). Deste modo, o núcleo poderá apresentar uma microestrutura mais refinada, obtendo assim melhor tenacidade. O tratamento é completado por um revenimento a 180 ºC para que as tensões sejam aliviadas. Os revenimentos de peças cementadas são obrigatoriamente realizados em baixas temperaturas para afetar o mínimo possível a dureza da camada cementada. A profundidade (espessura da camada cementada) depende do tempo de tratamento: a espessura da camada cementada aumenta com o tempo de cementação. Na cementação sólida é inviável o ajuste do potencial químico do carbono, havendo considerável risco de cementação excessiva, inclusive formação de cementita em rede, que causa trincas na têmpera e no acabamento superficial. Quando os gradientes de teor de carbono são muito altos há risco de lascamento da cama cementada. Cementação Gasosa A cementação gasosa é muito empregada na indústria, porém a limpeza superficial da peça a ser cementada é muito importante. Possibilita o controle do potencial de carbono através do uso de gases que contêm CO, CO2, H2, H2O e CH4. Além do controle do potencial de carbono também é necessário o controle do potencial de oxigênio. Para assegurar uma distribuição adequada de carbono após a cementação é realizado um tratamento de difusão de carbono no campo austenítico. A microestrutura resultante da cementação depende de dois fatores conjugados: variação de velocidade de resfriamento (têmpera) e variação de composição química (difusão de carbono). Assim, há diferentes microestruturas na superfície da peça cementada dependendo da velocidade de resfriamento após a cementação e do teor de carbono. ➢ Cianetação Líquida Tratamentos de cianetação implicam no uso de sais tóxicos no estado líquido, exigindo cuidados especiais de segurança. São realizados mediante a imersão das peças em sais fundidos contendo cianetos (exemplo: NaCN) a temperaturas entre 850 e 900 ºC, havendo dupla absorção, de carbono e nitrogênio. Após tempo adequado as peças cianetadas são temperadas a partir do banho de sais. 15 Em caso de necessidade de temperar novamente uma peça cianetada, esta deve ser aquecida num banho semelhante ao que foi utilizado para a cianetação. ➢ Nitretação O tratamento termoquímico de nitretação é realizado com a difusão do nitrogênio em (relativamente) baixas temperaturas. Como consequência, resulta em menor distorção e em camadas menos espessas do que as que são obtidas por cementação. Como exemplo, num aço 4340 temperado, revenido e nitretado forma-se camada branca de nitreto de alta dureza. A nitretação em geral leva à formação de uma camada rica em compostos (entre eles nitretos) próxima à superfície da peça, a qual é comumente conhecida como “camada branca”. ➢ Nitrocarbonetação Nitrocarbonetação é conhecido como um processo de Nitretação que consiste na adição de uma pequena quantidade de (C) Carbono ao processo de Nitretação com pequeno aumento na temperatura de processo, com o qual se consegue em pouco tempo de tratamento aumentar a camada branca (VS) para espessuras de 10 a 20 µm.É utilizado na indústria com várias finalidades, principalmente para aumentar a resistência à fadiga térmica e à corrosão, assim como melhorar a resistência ao desgaste por atrito (propriedades tribológicas) dos aços usados para matrizes de trabalho a quente. Na Nitrocarbonetação o (N²) Nitrogênio difunde com uma velocidade comparativamente 60 vezes menor na ferrita através da (VS) camada branca para o núcleo da peça, com isto a (Nht) camada de difusão aqui é limitada próximo de 0,10 a 0,20 mm. Há uma camada de nitreto e carboneto (branca) de alta dureza, quando nitrocarbonetação é realizada a 550 ºC por 5 h. 16 3 CONCLUSÃO O desenvolvimento do presente estudo demostrou os processos de tratamento térmicos, assim como os processos termoquímicos. Possibilitando a compreensão de que os aços são de ligas metálicas formadas principalmente por ferro carbono, com porcentagem de carbono entre 0,008 e 2,11%. Percebe-se que tanto nos tratamentos térmicos e termoquímico, a aplicação de calor pode ocasionar a alteração de composição química aço, dependendo da temperatura de aquecimento e de tempo de permanência à temperatura de tratamento em contato com o meio em questão. Os tratamentos térmicos não alteram a composição química do aço, o material começa e termina com a mesma porcentagem de carbono, devido a este fato os aços são submetidos aos tratamentos termoquímico, com a finalidade de alterar sua composição química adicionando carbono ou nitrogênio entre outros elementos, aumentando assim a sua tenacidade à qual e uma consequência do aumento da sua dureza, elevando a sua resistência ao desgaste. Então foi mostrado como é de suma importância o conhecimento técnico desses processos e aplicações, e como eles são importantes na área da mecânica. 17 4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS GERDAU. Tratamento Térmico. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4354027/mod_resource/content/3/Aula%20- %20Tratamentos%20T%C3%A9rmicos.pdf. Acesso em: 23 ago. 2020. TUBONASA. O que é tratamento térmico em metais e quais são suas vantagens? 2019. Disponível em: https://tubonasa.com.br/noticias/tratamento- termico. Acesso em: 23 ago. 2020. INFOMET. Aço: Processos de Fabricação. Disponível em: https://www.infomet.com.br/site/acos-e-ligas-conteudo.php?codAssunto=120. Acesso em: 23 ago. 2020. Metalografia dos Produtos Siderúrgicos Comuns, Hulbertus Colpaert, 4ª edição revista e atualizada por André Luiz V. da Costa e Silva, Editora Blucher, São Paulo, 2008, ISBN 978-85-212-0449-7. Welding Handbook v.1, 7 th edition, American Welding Society (AWS), Miami, 1981, ISBN 0-87171-126-5. Aços e Ligas Especiais, André Luiz V. da Costa e Silva, 2ª edição, Editora Blucher, São Paulo, 2006, ISBN 8521203829 . Aços e Ferros Fundidos, Vicente Chiaverini, 6ª edição, Associação Brasileira de Metais (ABM), São Paulo, 1988.
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