Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Avaliação de impactos ambientais em projeto rodoviário urbano: estudo de caso Americana/SP M. P. Silva1, D. S. da Silva2 1Engenheiro Ambiental pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo – UNISAL. 2Engenheira Agrônoma, Dr.ª, Prof.ª do Centro Universitário Salesiano de São Paulo – UNISAL, Dom Bosco, Curso de Engenharia Ambiental. maycon_mhp@yahoo.com.br,denise.silva@am.unisal.br. Resumo - A Avaliação de Impactos Ambientais (AIA) para empreendimentos potencialmente poluidores ou degradadores do meio ambiente é um instrumento previsto na Política Nacional do Meio Ambiente brasileira e na Constituição Federal. O processo de AIA é realizado por meio de estudo prévio de impacto ambiental e visa avaliar a viabilidade ambiental de um determinado empreendimento, contribuindo para o desenvolvimento sustentável nos centros urbanos e industriais. O desenvolvimento brasileiro ocorrido nos últimos anos em múltiplos setores exigiu um acréscimo do modal rodoviário visando à mobilidade tanto da população quanto da produção industrial e agrícola. A construção, ampliação ou manutenção de infraestruturas rodoviárias causam significativos impactos ambientais, tanto negativos quanto positivos, e o levantamento e avaliação dos mesmos se atrelam às exigências legais de estudos prévios de impacto ambiental para sua implantação. Este artigo propõe-se a realizar um diagnóstico ambiental, elencar os principais impactos ambientais, determinar a área de influência e realizar um prognóstico de desenvolvimento regional. Palavras-chaves: Infraestrutura rodoviária; trânsito; diagnóstico ambiental; área de influência. Abstract - The Environmental Impact Assessment (EIA) for projects potentially polluting or degrading the environment is an instrument envisaged in the National Policy on the Environment and the Brazilian Federal Constitution. The EIA process is accomplished through a prior environmental impact study and aims to assess the environmental sustainability of a given development, contributing to sustainable development in urban and industrial centers. The Brazilian development, occurred in recent years in multiple industries, demanded an increase in road transport aiming to mobility of both population and the industrial and agricultural production. The construction, expansion or maintenance of road infrastructure cause significant environmental impacts, both positive and negative, and survey and evaluation which are closely linked to the legal requirements for environmental impact studies prior to their deployment. This article proposes to conduct an environmental diagnosis, list the major environmental impacts, determine the area of influence and make a prediction of regional development. Keywords: road infrastructure, transit, environmental diagnostic, influence area. I. INTRODUÇÃO Em resposta às pressões sociais e ao avanço da consciência ambientalista, os Estados Unidos em 1970 obtiveram a aprovação pelo Congresso da “National Environmental Policy Act – NEPA” uma legislação pioneira que instituiu a avaliação de impacto ambiental (AIA) como importante instrumento de planejamento para aprovação de projetos potencialmente causadores de impactos ambientais, que se transformou em modelo para outros países (SÁNCHEZ, 2004). No Brasil, somente a partir da década de 80 é que efetivamente começou uma maior preocupação com as questões ambientais, devido às pressões exercidas pelos organismos multilaterais de financiamento para grandes projetos, conforme destacado por Omena & Santos (2008), pois nesta época o meio ambiente era visto como um entrave ao crescimento. Para Cunha & Guerra (2001), as atividades humanas ocasionam impactos ambientais quando afetam positivamente ou negativamente o meio ambiente ou alguns de seus elementos. Deste modo, a construção ou ampliação de uma infraestrutura rodoviária implicará na geração de significativos impactos. Uma rodovia é uma obra de engenharia composta por uma ou mais pistas e obras de arte (pontes, viadutos, túneis, acessos), que representa um indicador de desenvolvimento regional, servindo como via de transporte terrestre para pessoas e cargas. (FOGLIATTI; FILIPPO; GOUDARD, 2004). A demanda por novas infraestruturas rodoviárias ou pela ampliação daquelas existentes, em escala urbana e regional, vem aumentando, devido ao crescimento econômico brasileiro. Os impactos gerados por obras rodoviárias iniciam- se na fase de planejamento e estendem-se à fase de implantação (construção) até a fase operacional. No Brasil ainda é incipiente os estudos de impacto ambiental na fase de operação de obras rodoviárias, visto que pouco ou nada é exigido pela legislação, apesar desta fase ter um prazo de duração indeterminado, inclusive quanto à duração dos impactos ambientais (BANDEIRA & FLORIANO, 2004). 2 Segundo Omena & Santos (2008), quando os potenciais impactos decorrentes desse tipo de atividade não são dimensionados adequadamente, pode ocorrer à geração de impactos irreversíveis de natureza física, biótica e/ou antrópica. A correta identificação e dimensionamento dos impactos ambientais é primordial para as proposições das ações de controle, mitigação e/ou compensação de impactos negativos e de potencialização de impactos positivos. Trombulak & Frissell (2000), ressaltam que os empreendimentos rodoviários têm sido, no último século, um dos elementos de maior impacto na modificação do meio ambiente, porque convertem o meio natural em um sistema artificial, agindo com maior intensidade nos distintos processos de desenvolvimento, sendo também à construção de rodovias um dos elementos mais destrutivos do processo de fragmentação de habitats. Este artigo teve como objetivos realizar um diagnóstico ambiental do projeto de melhoramento rodoviário na cidade de Americana, Estado de São Paulo; avaliar os principais impactos ambientais gerados; determinar a área de influência direta e indireta; e projetar um prognóstico dos cenários de sucessão e tendencial do desenvolvimento socioambiental da região abrangida pelo empreendimento. II. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA O primeiro mecanismo legal referente à AIA no Brasil foi a Lei de Zoneamento Industrial nas Áreas Críticas de Poluição (Lei Federal n.° 6.803/80). No ano seguinte, a criação da Lei Federal nº 6938/1981 que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, instituiu em seu Art.9º inc. III, a avaliação de impacto ambiental como instrumento de gestão pública ambiental no Brasil. Posteriormente, a Resolução n.° 001/86 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) determinou os critérios básicos e diretrizes gerais da avaliação de impacto ambiental para o licenciamento de empreendimentos potencialmente poluidores, incluindo em seu Art.2º, inc.I, a necessidade de estudo de impacto ambiental (EIA) e respectivo relatório de impacto ambiental (RIMA) para estradas de rodagem com duas ou mais faixas de rolamento. Finalmente, a Constituição Federal de 1988 estabeleceu em seu Art.225, § 1º, inc. IV, a exigência do estudo prévio de impacto ambiental para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente. A avaliação de impacto ambiental também é abordada na Resolução CONAMA nº 237/1997 que estabelece procedimentos e critérios para licenciamento ambiental, de forma a efetivar a utilização do sistema de licenciamento como instrumento de gestão ambiental, instituído pela Política Nacional do Meio Ambiente; CONAMA nº 009/1990 e nº 010/1990; nas Leis Federais nº 4.771/1965, nº 9.985/2000 e nº 9.314/1996; Decreto Lei nº 227/1967; Decreto Federal nº 3.358/2000; e na Portaria Ministerial nº 23/2000 (BANDEIRA & FLORIANO, 2004). As legislações federais referentes às rodovias são representadas principalmente pela Lei nº 10.233/2001 que dispõe sobre a reestruturação dos transportes aquaviário e terrestre,cria o Conselho Nacional de Integração de Políticas de Transporte, a Agência Nacional de Transportes Terrestres, a Agência Nacional de Transportes Aquaviários e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes e pelo Decreto nº 96.044/1988 que aprova o Regulamento para o Transporte Rodoviário de Produtos Perigosos (BANDEIRA & FLORIANO, 2004). No Brasil, a manutenção, ampliação, construção, fiscalização e elaboração de diretrizes e manuais de estudos técnicos de rodovias são realizadas pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), que é uma autarquia federal vinculada ao Ministério dos Transportes (DNIT, 2006). Fazendo-se uma projeção utilizando a previsão do calendário Maia, de que o mundo acabaria no final de 2012, só na cidade de São Paulo, cerca de quatro milhões e meio de pessoas estariam dentro de automóveis, circulando pela cidade ou paradas, provavelmente, em algum engarrafamento. Apesar do tom jocoso, o trânsito constitui um problema realmente grave em diversas cidades brasileiras, com um intrincado sistema de causa e efeito de difícil solução (CUNHA & GUERRA, 2001). Com o crescimento descontrolado das cidades, o tráfego urbano sobrecarrega as vias locais, alterando o uso do solo ao longo do tempo, fazendo com que o comércio e os serviços substituam as zonas residenciais, existente paralelo às vias. As residências migram para locais distantes, aumentando o tempo de deslocamento entre a residência e os serviços utilizados. Outras vezes os congestionamentos ocorrem pela saturação da capacidade das vias, por problemas geométricos, pela falta de sincronismo e podendo variar entre os dias da semana, feriados e ao longo do dia (TONI, 2004). O congestionamento urbano traz grande impacto sobre a economia de uma cidade, desta forma, tem-se a necessidade de investir no sistema viário para impedir o aumento do índice de periculosidade e reduzir gastos futuros. Segundo SETRANSV (A) (2011), os gastos estimados com o tempo perdido dos motoristas e com o combustível desperdiçado nos congestionamentos, são de aproximadamente R$ 13.850.000,00, por ano, isso não mensurando os gastos com acidentes de trânsito (danos materiais e físicos nos envolvidos), que as estatísticas nem sempre podem mensurar. Ainda segundo SETRANSV (A) (2011), a grande concentração de veículos automotores nas regiões metropolitanas eleva acentuadamente o índice de poluição do ar, pois, são eles os principais emissores, ameaçando à qualidade de vida de seus habitantes. No caso de Americana, a situação agrava-se devido ao total de motocicletas em sua frota, 33.893 unidades (20,94%). Em comparação com os automóveis, as motocicletas emitem 16 vezes mais hidrocarbonetos, 3 três vezes mais monóxido de carbono e uma alta quantidade de outros poluentes do ar (SETRANSV (A), 2011). Ao contrário dos automóveis, os fabricantes de motocicletas até hoje não se preocuparam com a instalação de sistemas de tratamento dos resíduos da combustão, os chamados catalisadores (CETESB, 2012). Segundo o DNIT, de acordo com as características, os projetos rodoviários podem ser classificados em três tipos, descritos a seguir. Projetos de Implantação (Construção) são aqueles que permitem a ligação entre determinados pontos ou cidades, com liberdade para definição do traçado, desde que sejam respeitados os pontos obrigatórios de passagens e evitados aqueles diagnosticados como impróprios durante o desenvolvimento do projeto, devem ser apresentadas alternativas de traçado, determinadas e caracterizadas as áreas de influência do projeto e coletados dados de campo visando levantar informações pertinentes. Os Projetos de Melhoramento são aqueles que permitem a adaptação da rodovia já existente às novas condições de tráfego, podendo sofrer pequenas alterações geométricas, deslocamentos de eixo, alterações de greide, mudanças na secção transversal da estrada e até implantação de uma faixa adicional. Projetos de Restauração consistem na renovação do pavimento existente, quando a vida útil deste estiver esgotada, mantendo-se a mesma categoria da rodovia, sem alterações. Todos estes tipos de projetos rodoviários interferem nos compartimentos ambientais, sejam eles, físicos, bióticos e socioeconômicos, modificando o ambiente construído e natural e gerando impactos ambientais. Segundo a Resolução CONAMA 001/86, previamente à implantação de um empreendimento, o diagnóstico ambiental deverá caracterizar a situação ambiental atual da área de influência, com completa descrição e análise dos recursos ambientais e suas interações, considerando os meios físico, biológico e socioeconômico. Conforme Fogliatti; Filippo; Goudard, (2004), todo empreendimento influencia duas áreas afins, a área direta e a área indireta, ocorrendo em ambas, modificações ambientais permanentes ou temporárias, provocadas pelo empreendimento. A área de influência direta está sujeita aos impactos diretos da atividade, sua delimitação é obtida em função das características físicas, biológicas e socioeconômicas do local e das características da atividade. De acordo com os mesmos autores, a área de influência indireta é aquela ameaçada ou que poderá ser ameaçada pelos impactos ambientais indiretos do empreendimento, abrangendo os ecossistemas, o meio físico e socioeconômico. Existem métodos que permitem a obtenção de resultados satisfatórios para a avaliação dos impactos ambientais. Entretanto, não existe um método padrão utilizado em todos os projetos, devendo ser empregado o mais adequado às características de cada caso em estudo, sendo que a integração dos métodos leva a obtenção de resultados mais condizentes com a realidade, devido ao aproveitamento das vantagens individuais (SÁNCHEZ, 2004). Os métodos de avaliação de impactos ambientais são instrumentos utilizados para coletar, analisar, avaliar, comparar e organizar informações qualitativas e quantitativas sobre os impactos ambientais causados por um determinado projeto ou empreendimento, sendo os mais conhecidos, o Método Espontâneo ou (Ad-Hoc), Lista de Verificações (Checklist), Matrizes, Redes de Interação (Networks), Superposição de Mapas (Overlay Mapping), Modelos de Simulação, Análise Multicritério e o Modelo Fuzzy (SÁNCHEZ, 2004). As obras rodoviárias constituem uma categoria de empreendimento comumente de grande porte que modifica intensamente o desenvolvimento e ordenamento territorial regional, causando significativos impactos ambientais, positivos ou negativos, que podem afetar diretamente ou indiretamente a saúde, a segurança e o bem estar da população, as atividades sociais e econômicas, a biota, as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente e a qualidade dos recursos ambientais (CUNHA & GUERRA, 2001). Segundo Sanchéz (2004), há que se tomar cuidado com o conceito de impacto ambiental, pois, claramente impacto ambiental é o resultado de uma ação ou atividade humana, enquanto que aspecto ambiental é o mecanismo através do qual uma ação (atividade) humana causa impacto ambiental. Um exemplo de relação “atividade-aspecto-impacto ambiental” é construir uma rodovia (atividade), que irá impermeabilizar o solo (aspecto ambiental), reduzindo a disponibilidade hídrica (impacto ambiental). Sanchéz (2004) destaca que os principais impactos ambientais de obras rodoviárias são provenientes das atividades de instalação de canteiro de obras, abertura de caminhos e serviços, supressão de vegetação, utilização de caixas de empréstimo e bota fora, serviços de terraplenagem, implantação de obras de arte corrente e especial, pavimentação e tráfego de máquinas e caminhões. Segundo o mesmo autor, para a elaboração do prognóstico de impacto ambiental deve-se, avaliar e interpretar os prováveis impactos ambientais associados à execução e operação de um empreendimento, considerando as situações prováveis de desenvolvimentoe de evolução socioambiental da região com (cenário de sucessão) e sem (cenário tendencial) a existência do empreendimento, os componentes físicos, naturais e socioeconômicos integrantes das áreas de influência e, principalmente, de seu uso atual. III. METODOLOGIA O referido estudo de impacto ambiental foi realizado na área do entorno do acesso da Avenida Nossa Senhora 4 de Fátima à Rodovia SP-304, no município de Americana, Estado de São Paulo. Este estudo teve como base um projeto de melhoramento rodoviário denominado “Pré-projeto de ampliação do acesso da Avenida Nossa Senhora de Fátima à Rodovia SP-304”, o qual foi elaborado pela Secretaria de Transportes e Sistema Viário de Americana, datado de novembro de 2011 e está disponível na Secretaria de Transporte e Sistema Viário (SETRANSV (B), 2011). Deve-se a escolha do projeto por seu baixo valor de implantação, entretanto, não havia data pré-determinada para sua execução. O presente trabalho não vislumbra avaliar a alternativa de traçado escolhida pela Secretaria de Transportes e Sistema Viário de Americana, e sim, os impactos gerados pelo mesmo. Caracterização da Área de Estudo O município de Americana possui barreiras físicas que adentram seu território, como o Ribeirão Quilombo, a linha férrea, a rodovia Luiz de Queiroz (SP-304) e a rodovia Anhanguera (SP-330), ressaltando a proximidade de 5 km com a rodovia dos Bandeirantes (SP-300). Os municípios de São Paulo e Campinas estão a 129 e 41 km, respectivamente, de Americana, sendo que a proximidade com estes grandes centros atrai grandes empreendimentos industriais para a cidade, o que destaca a posição da cidade como geradora de tecnologia, fortalecendo e confirmando sua vocação industrial (SETRANSV (B), 2011). Americana ocupa a 17ª posição nacional no Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM, 2009), sua densidade demográfica é de 1.597,12 habitantes por km² e sua população é de 212.791 habitantes. O fato do município não possuir grandes áreas para expansão urbana, aliada a uma taxa de crescimento populacional anual de 1,44% (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados - SEADE, 2011), contribuem para a verticalização das residências, intensificação do tráfego em pequenos trechos da cidade, além de congestionamentos, deterioração das vias, aumento do número de acidentes, da emissão de poluentes atmosféricos, da emissão de ruídos veiculares e de inúmeros outros impactos relacionados à ampliação do modal rodoviário. Em 2012 o município de Americana contabilizou uma frota de 161.811 veículos, além da frota flutuante que consiste de veículos de outras cidades que circulam pelas vias do município, a qual é estimada em 30.000 veículos/dia (SETRANSV (A), 2011). O desenvolvimento da cidade às margens das rodovias criaram algumas barreiras, dificultando o acesso rodoviário a alguns bairros e favorecendo que algumas vias fossem utilizadas de forma quase obrigatória, assim, inibindo o desenvolvimento urbano de forma desejável (SETRANSV (B), 2011). A Avenida Nossa Senhora de Fátima é umas das maiores em extensão e volume de tráfego do município de Americana. Ela se inicia no entroncamento da Avenida da Saudade (que dá acesso ao centro da cidade) com a Avenida Antônio Pinto Duarte (principal via de ligação aos bairros, Antônio Zanaga I, Antônio Zanaga II, Praia dos Namorados e Rodovia Anhanguera), terminando na Rodovia Luiz de Queiroz no Km 125 (Figura 1). Figura 1. Caracterização do entorno do projeto. Fonte: Google Maps. Os imóveis situados ao longo da avenida são, em sua maioria, comerciais, bancos, postos de gasolina, bares e lanchonetes, concessionárias de veículos, lojas de móveis entre outros, destacando-se a Escola Técnica Estadual (Polivalente) e o Hospital Municipal “Dr. Waldemar Tebaldi”, que recebem diariamente um grande número de usuários que contribuem para o aumento do fluxo de veículos. A Avenida Nossa Senhora de Fátima possui duas faixas por sentido separadas por canteiro central e tráfego intenso nos dois sentidos com um volume médio de aproximadamente 40.000 veículos (SETRANSV (A), 2011). Próximo ao seu término com a SP-304, a Avenida Nossa Senhora de Fátima cruza um distrito industrial ainda em expansão, que influencia negativamente o trânsito, pois aumenta o fluxo de veículos comerciais e particulares, veículos pesados e de transporte coletivo, gerando engarrafamentos em horários de maior movimentação (picos) e aumentando o número de acidentes (Figura 2). 5 Figura 2. Entrada para a Avenida Nossa Senhora de Fátima, na Rodovia Luiz de Queiroz sentido Piracicaba/Anhanguera, foto registrada no dia 13/05/2012 às 07h35min. Segundo dados da SETRANSV (A), (2011), apenas em 2011 ocorreram 155 acidentes na Avenida Nossa Senhora de Fátima. Os congestionamentos evidenciados em horários de pico traduzem-se em lentidão sobre o viaduto Nossa Senhora de Fátima, na rotatória de acesso e na faixa de rodagem da direita da Rodovia SP-304, sentido Piracicaba-Anhanguera (Figura 3). Figura 3. Rotatória que liga a Avenida Nossa Senhora de Fátima aos acessos da Rodovia Luiz de Queiroz, foto registrada no dia 13/05/12 às 07h30min. Devido às constantes reclamações acerca destes congestionamentos e aos pedidos por parte dos munícipes para melhora no tráfego local, o Setor de Engenharia de Tráfego da Secretaria de Transportes e Sistema Viário do município de Americana realizou várias visitas in loco, que culminaram em estudos técnicos de viabilidade econômica e elaboração de propostas, visando à resolução dos congestionamentos (Figuras 4 e 5). Figura 4. Atual entrada da SP-304 para Avenida Nossa Senhora de Fátima. Fonte: Google Earth. Figura 5. Projeto proposto pelo setor de engenharia de tráfego. Fonte: Google Earth. DIAGNÓSTICO AMBIENTAL, IDENTIFICAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS E ÁREA DE INFLUÊNCIA O diagnóstico ambiental, a identificação dos prováveis aspectos e impactos ambientais, positivos e negativos, nas fases de planejamento, construção e operação de uma obra rodoviária e a caracterização da área de influência do empreendimento foram realizadas com base em pesquisas bibliográficas, realização de visitas in loco e interpretação de imagens de satélite e fotografias. Os meios biótico, físico e socioeconômico 6 foram considerados para o diagnóstico ambiental atual da área avaliada. Foi adotado apenas o critério de impacto positivo ou negativo para identificar e elencar os impactos ambientais, baseando-se nas orientações de FOGLIATTI; FILIPPO; GOUDARD, (2004), SÁNCHEZ, (2006) e nas diretrizes e manuais do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT, 2006). A definição da área de influência do empreendimento foi realizada após a identificação dos os prováveis impactos. IV. RESULTADOS E DISCUSSÕES Considerando a classificação do DNIT, este projeto enquadra-se como melhoramento rodoviário, pois o mesmo adapta o acesso às novas condições de tráfego e altera geometricamente as características da via, sofrendo pequenas alterações geométricas e deslocamento de eixo. DIAGNÓSTICO AMBIENTAL Ao caracterizar o meio biológico verificou-se que o empreendimento está permeado por áreas não vegetadas e vegetadas, incluindo a presença fragmentada de vegetação arbustiva e arbórea, em contrapartida, a vegetação rasteira, como gramíneas em geral são facilmente encontradas espalhadas ao redor da área de projeto. Devido às poucas áreas vegetadas, além das áreas urbanas e industriais presentes no entorno do projeto, a fauna da área avaliada é composta principalmente por pequenos insetos (grilos, baratas e cigarras), além de aracnídeos (escorpiões e aranhas). Alguns roedores (ratos e ratazanas) são encontrados principalmente na área urbana e industrial devido ao grande volumede lixo. Também são encontradas pequenas aves (bem-te- vi, sabiá e pardal) identificadas nas poucas árvores presentes na área, as quais utilizam como abrigo e fonte de alimentação. Em relação ao meio físico, deve-se destacar a presença de um amplo terreno não edificado ao lado do local da obra, que futuramente pode se tornar objeto de especulação imobiliária para a criação de um loteamento (Figura 5). Ao redor do local da obra encontram-se áreas urbanas e industriais, detalhadas a seguir nas figuras 6 e 7. A uma distância aproximada de 600 metros do empreendimento há a presença de nascentes, onde afloram dois pequenos veios d’água que deságuam no Ribeirão Quilombo, este último distante aproximadamente 2000 metros do local do empreendimento. O meio socioeconômico é um dos meios mais problemáticos, pois os impactos identificados influenciam negativamente na qualidade de vida da população, no uso e ocupação territorial, na infraestrutura básica retardando o desenvolvimento local e consequentemente, da própria cidade. AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS Diante dos estudos, pesquisas e da elaboração do diagnóstico ambiental dos meios físico, biótico e socioeconômico, foram identificados 24 prováveis impactos ambientais, positivos ou negativos, associados às fases de planejamento, construção e operação das obras de melhoramento viário do acesso da Rodovia Luiz de Queiroz à Avenida Nossa Senhora de Fátima (Tabelas 1 e 2). Alguns desses prováveis impactos identificados poderão ocorrer em mais de uma das fases do empreendimento. Dos prováveis impactos identificados, nenhum deles terá ocorrência exclusiva na fase de planejamento, no entanto, 8 (33,33%) impactos foram previstos exclusivamente na fase de construção e 3 (12,5%) impactos exclusivos na fase de operação do empreendimento. Os outros 13 (54,16%) prováveis impactos identificados poderão ocorrer em duas ou mais fases do empreendimento. Entre os 24 prováveis impactos identificados, 10 (41,67%) estão relacionados ao meio socioeconômico, outros 10 impactos (41,67%) ao meio físico e 4 (16,66%) ao meio biótico. Destes 24 prováveis impactos ambientais, 8 (33,33%) foram categorizados como de natureza exclusivamente positiva e 16 (66,67%) como exclusivamente de natureza negativa. Considerando às ocorrências de impactos ambientais, a matriz de identificação de impactos positivos (tabela 1) apresenta um total de 15 ocorrências, sendo 11 (73,33%) no meio antrópico, 2 (13,33%) no meio e 2 (13,33%) no meio biótico. Analisando essas ocorrências para as fases do empreendimento temos 2 (13,33%) ocorrências na fase do planejamento, 6 (40%) na fase de construção e 7 (46,66%) na fase de operação. A matriz de identificação de impactos negativos (tabela 2), apresenta 25 ocorrências de impactos ambientais, sendo 9 (36%) no meio antrópico, 12 (48%) no meio físico e 4 (16%) no meio biótico, analisando as ocorrências para as fases do empreendimento temos 2 (8%) na fase de planejamento, 15 (60%) na fase de construção e 8 (32%) na fase de operação. 7 Tabela 1. Matriz de identificação de impactos ambientais positivos, para o projeto de melhoramento rodoviário. Impactos Ambientais Fases do Empreendimento Planejamento Construção Operação C om pa rt im en to s A m bi en ta is ( m ei os ) A nt ró pi co Valorização imobiliária Melhora na qualidade de vida Redução do tempo de viagem Desenvolvimento regional Segurança Viária Redução do trânsito F ís ic o Melhoria na drenagem B ió ti co Melhoria na vegetação Ocorrência de impacto ambiental. 8 Tabela 2. Matriz de identificação de impactos ambientais negativos, para o projeto de melhoramento rodoviário. Impactos Ambientais Fases do Empreendimento Planejamento Construção Operação C om pa rt im en to s am bi en ta is ( m ei os ) A nt ró pi co Alterações econômicas Mudanças das atividades humanas Alteração da saúde humana Desvalorização imobiliária F ís ic o Alteração dos parâmetros do solo Contaminação do solo Mudanças climáticas Poluição atmosférica Desvio do tráfego e bloqueio de ruas Erosão Modificação da drenagem natural Aumento do nível de ruído Descaracterização da paisagem local B ió ti co Perda de espécies vegetais Atropelamento de animais Proliferação de insetos Ocorrência de impacto ambiental. 9 ÁREA DE INFLUÊNCIA Com os principais impactos ambientais elencados, pode-se estimar a área de influência do projeto, considerando-se o provável alcance dos efeitos decorrentes das ações do empreendimento nas suas fases de implantação e operação sobre os sistemas ambientais da região. A Área de Influência Direta (AID) do empreendimento (Figura 6) compreende as áreas dos municípios de Americana e Nova Odessa. No município de Americana a AID refere-se às zonas industriais e mistas, áreas vegetadas e não vegetadas, enquanto, no município de Nova Odessa compreende apenas as áreas vegetadas e não vegetadas. Figura 6. Área de Influência Direta do Empreendimento. A Área de Influência Indireta (AII) do empreendimento (Figura 7) abrange áreas maiores dos municípios de Americana e Nova Odessa. Em Americana as áreas compreendidas são as mesmas abrangidas pela AID, entretanto, para o município de Nova Odessa devido ao aumento da área de influência, além das áreas compreendidas na AID, houve o acréscimo de zonas industriais e mistas. . Figura 7. Área de Influência Indireta do Empreendimento. PROGNÓSTICOS DE IMPACTOS AMBIENTAIS De acordo com os impactos ambientais associados à execução e operação do empreendimento foi possível avaliar duas situações prováveis de desenvolvimento socioambiental da região, considerando-se um cenário tendencial, isto é, sem a existência do empreendimento, e um cenário de sucessão, com a existência do empreendimento. No cenário tendencial o empreendimento estará situado entre uma área industrial, uma área residencial e uma área com perspectiva de urbanização. Assim, devido à alta taxa de desenvolvimento municipal, de crescimento populacional e principalmente, devido ao tráfego intenso, que é alavancado ainda mais pela frota flutuante diária, é plausível que, em curto prazo, os problemas de congestionamento e acidentes agravem- se. Além disso, diversos problemas poderão surgir advindos deste cenário tendencial, como por exemplo, aumento de poluentes na atmosfera, desgaste dos veículos, estresse por parte dos motoristas e usuários da via, aumento do nível de ruído, alterações das propriedades físicas do solo e desvalorização imobiliária. No cenário de sucessão com o término da obra de melhoramento rodoviário, dos 16 impactos ambientais negativos, 15 estão associados às fases de planejamento e/ou construção, entretanto, apenas 8 continuaram na 10 fase de operação, ressaltando que o impacto “mudanças climáticas” é exclusivo à fase de operação, não ocorrendo nas demais fases. Portanto, não ocasionará os impactos elencados anteriormente no cenário tendencial. Vislumbra-se, então, atingir o objetivo principal da obra que é melhorar o trânsito local, a qualidade de vida dos usuários da malha viária e o desenvolvimento ainda mais acelerado da cidade. V. CONCLUSÃO Tendo em vista o rápido crescimento populacional e veicular no município de Americana, os problemas averiguados no acesso da Rodovia Luiz de Queiroz à AvenidaNossa Senhora de Fátima e vice-versa, torna- se evidente a necessidade da realização do melhoramento rodoviário neste local. Considerando os prováveis impactos decorrentes do empreendimento, os impactos positivos identificados no meio socioeconômico promoverão o desenvolvimento regional de forma ordenada e estruturada. Quanto aos meios físico e biótico, ocorrerão 12 impactos negativos e apenas dois positivos. A formulação de medidas mitigatórias e/ou compensatórias são extremamente necessárias para controlar futuras implicações dos impactos negativos. VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BANDEIRA, C.; FLORIANO, E. P. Avaliação de impacto ambiental de rodovias, Caderno Didático nº 8, 1ª ed./ Clarice Bandeira, Eduardo P. Floriano. Santa Rosa, 2004. BRASIL. Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional de Meio Ambiente seus fins e mecanismos de formulação e aplicação. Diário Oficial da União, Brasília, 02 set. 1981. CETESB – Companhia Ambiental do Estado de São Paulo. Disponível em http://www.cetesb.sp.gov.br/ar/Emissão-Veicular/12- Laboratório-de-Emissão-Veicular. Acesso em 20 Maio de 2012. CUNHA, S.B.; GUERRA, A.J.T. (org.). Impactos ambientais urbanos no Brasil. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. 416p. DNIT, 2006. Manual para atividades ambientais rodoviárias. - Rio de Janeiro, 2006. 437 p. (IPR. Pub. 730). DNIT, 2006. Manual de acesso às rodovias federais. Rio de Janeiro, 2006. 69p. (Versão Preliminar). FIRJAN – Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro. Disponível em < http://www.firjan.org.br/ifdm/>. Acesso em 05 de Abril de 2012. FOGLIATTI, M.C.; FILIPPO, S.; GOUDARD, B. Avaliação de impactos ambientais: aplicação aos sistemas de transporte. Rio de Janeiro: Interciência, 2004. 249p. IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Disponível em <http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com _content&view=article&id=8588&catid=4&Itemid=2> . Acesso em 30 de março de 2012. MORAES, S, S.S.M.; SANTOS, E.M. Avaliação de Impactos Ambientais (AIA): instrumento importante na sustentabilidade dos projetos rodoviários. Revista da FARN, Natal, v.3, n.1/2, p. 45 – 58. 2003/jun. 2004. OMENA, M.L.R.D.A.; SANTOS, E.B.D.S. Análise da efetividade da Avaliação de Impactos Ambientais – AIA – da Rodovia SE 100/Sul-Sergipe. Revista Brasileira de Gestão e Desenvolvimento Regional Recebimento, 2008. PREFEITURA MUNICIPAL DE AMERICANA. Secretaria de Transportes e Sistema Viário – SETRANSV(A). Projeto Básico de Concepção para Modernização do Sistema de Trânsito da Cidade de Americana- SP. Americana, 2011, 191p. PREFEITURA MUNICIPAL DE AMERICANA. Secretaria de Transportes e Sistema Viário – SETRANSV(B). Pré-Projeto de Ampliação do Acesso da Avenida Nossa Senhora de Fátima à Rodovia SP- 304. Americana, 2011. SÁNCHEZ, L. E. Avaliação de Impacto Ambiental: Conceitos e Métodos. São Paulo: Oficina do Texto, 2004. 450p. SEADE – Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados. Disponível em <http://www.seade.gov.br/produtos/perfil/perfilMunEst ado.php>. Acesso em 05 de abril de 2012. SIRVINKAS, L. P. Legislação e Direito Ambiental. Editora Rideel, 2011.632p. TONI, J. O Trânsito como Problema de Economia Urbana – O caso de Porto Alegre. II Encontro de Economia Gaúcha, PUCRS e Fundação de Economia e Estatística (FEE), Maio de 2004, Porto Alegre. TROMBULAK, S. C.; FRISSELL, C. A.; Review of ecological effects of roads on terrestrial and aquatic communities. Conservation Biology. [S.l], v. 14, p. 18- 30, 2000. 11
Compartilhar