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Informativo 985-STF (13/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 
 
Informativo comentado: 
 Informativo 985-STF 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
 
ÍNDICE 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 
▪ A decisão do Relator que INADMITE o ingresso do amicus curiae é recorrível? 
▪ Pessoa física não pode ser amicus curiae em ação de controle concentrado de constitucionalidade. 
 
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS 
▪ Lei estadual pode determinar que faculdades particulares devolvam o valor da matrícula em caso de desistência do 
curso ou pedido de transferência, realizados antes do início das aulas. 
 
SEGURIDADE SOCIAL 
▪ O Bolsa Família é um programa de transferência direta de renda, voltado a famílias de todo o País, de modo a fazer 
frente a situação de pobreza e vulnerabilidade; logo, não se pode fazer restrição em relação à região ou ao Estado 
do beneficiário. 
 
ÍNDIOS 
▪ STF determina que governo federal adote medidas para conter o avanço da Covid-19 entre indígenas. 
 
MINISTÉRIO PÚBLICO 
▪ É inconstitucional dispositivo da Constituição Estadual que afirme ser obrigatória a presença de um membro do MP 
nas comissões de concursos públicos da Administração Pública estadual. 
▪ Conflito de atribuições envolvendo MPE e MPF deve ser dirimido pelo CNMP. 
 
DEFENSORIA PÚBLICA 
▪ Dever do Poder Executivo de efetuar os repasses de duodécimo na forma do art. 168 da CF/88. 
 
ADVOCACIA PÚBLICA 
▪ É constitucional lei que preveja o pagamento de honorários de sucumbência aos advogados públicos; no entanto, a 
somatória do subsídio com os honorários não pode ultrapassar mensalmente o teto remuneratório, ou seja, o 
subsídio dos Ministros do STF. 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
CONCURSO PÚBLICO 
▪ É inconstitucional lei que preveja a integração, no quadro do Tribunal de Contas, de servidores que estejam à 
disposição daquela Corte. 
 
SERVIDOR PÚBLICO 
▪ Se o servidor público recebe remuneração (ou aposentadoria) mais pensão, a soma dos dois valores não pode 
ultrapassar o teto. 
 
 
 
 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 985-STF (13/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 2 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
SUSPENSÃO DO PROCESSO 
▪ Não há, no momento, decisão do Comitê de Direitos Humanos da ONU impedimento o prosseguimento das ações 
penais que tramitam no Brasil contra o ex-Presidente Lula. 
 
NULIDADES 
▪ STF determinou o desentranhamento do termo de colaboração premiada de Antônio Palocci do processo penal que 
tramita contra Lula, cuja juntada aos autos teria sido promovida indevidamente, de ofício, pelo ex-Juiz Sérgio Moro. 
 
HABEAS CORPUS 
▪ Cabimento de habeas corpus para tratar de questões processuais quando a liberdade do paciente estive ameaçada, 
ainda que indiretamente. 
▪ Não cabe HC contra decisão monocrática de Ministro do STF. 
 
EXECUÇÃO PENAL 
▪ Não é necessária a realização de PAD para aplicação de falta grave, desde que haja audiência de justificação 
realizada com a participação da defesa e do MP. 
 
DIREITO TRIBUTÁRIO 
IMUNIDADE TRIBUTÁRIA 
▪ Incide a imunidade tributária recíproca (art. 150, VI, “a”, da Constituição Federal), no caso de contrato de alienação 
fiduciária em que pessoa jurídica de direito público figure como devedora. 
 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
 
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 
A decisão do Relator que INADMITE o ingresso do amicus curiae é recorrível? 
Pessoa física não pode ser amicus curiae em ação de controle concentrado de constitucionalidade 
 
Tema polêmico! 
É recorrível a decisão denegatória de ingresso no feito como amicus curiae. 
É possível a impugnação recursal por parte de terceiro, quando denegada sua participação na 
qualidade de amicus curiae. 
STF. Plenário. ADI 3396 AgR/DF, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 6/8/2020 (Info 985). 
Vale ressaltar que existem decisões em sentido contrário e que o tema não está pacificado. Nesse sentido: 
Tanto a decisão do Relator que ADMITE como a que INADMITE o ingresso do amicus curiae é 
irrecorrível (STF. Plenário. RE 602584 AgR/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz 
Fux, julgado em 17/10/2018. Info 920). 
 
A pessoa física não tem representatividade adequada para intervir na qualidade de amigo da 
Corte em ação direta. 
STF. Plenário. ADI 3396 AgR/DF, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 6/8/2020 (Info 985). 
 
Conceito e finalidade 
Amicus curiae é alguém que, mesmo sem ser parte, em razão de sua representatividade, é chamado ou se 
oferece para intervir em processo relevante com o objetivo de apresentar ao Tribunal a sua opinião sobre 
o debate que está sendo travado nos autos, fazendo com que a discussão seja amplificada e o órgão 
julgador possa ter mais elementos para decidir de forma legítima. 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 985-STF (13/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 3 
 
Nomenclatura 
Amicus curiae, em uma tradução literal do latim, significa “amigo da corte” ou “amigo do tribunal”. Obs.: 
amici curiae é o plural de amicus curiae. 
 
Origem 
Alguns autores afirmam que esta figura surgiu no direito processual penal inglês, enquanto outros 
identificam uma origem mais remota, lembrando que havia figura assemelhada no direito romano 
(Marcelo Novelino). 
 
Natureza jurídica 
A maioria da doutrina defende que o amicus curiae seria uma forma de intervenção anômala de terceiros. 
Para o Min. Luiz Fux, no entanto, o amigo da Corte não é parte nem terceiro, mas apenas agente 
colaborador. 
 
Previsão legal 
O CPC 2015 passou a disciplinar expressamente a figura do amicus curiae. 
 
Quem pode ser amicus curiae? 
Pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade especializada, com representatividade adequada. 
++ (PGM Belo Horizonte 2017 – adaptada) O ingresso como amicus curiae em ADI depende da 
demonstração da pertinência temática entre os objetivos estatutários da entidade requerente e o 
conteúdo material da norma questionada. (certo) 
++ (DPE/PR 2017 FCC) A intervenção de amicus curiae é admitida em qualquer processo, desde que se 
trate de causa relevante, de tema específico ou que tenha repercussão social, e exige representação 
adequada, a qual não pressupõe concordância unânime daqueles a quem representa. (certo) 
 
Pessoa natural (pessoa física) pode ser amicus curiae? 
O art. 138 do CPC afirma que SIM. 
No entanto, o STF entende que, no caso de ação direta de inconstitucionalidade, não se admite o ingresso 
de pessoa natural como amicus curiae. 
A pessoa física não tem representatividade adequada para intervir na qualidade de amigo da Corte em 
ação direta. 
STF. Plenário. ADI 3396 AgR/DF, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 6/8/2020 (Info 985). 
 
Mas e o art. 138 do CPC/2015, que fala em “pessoa natural”? 
Segundo o entendimento que prevalece no STF, o art. 138 do CPC/2015 não se aplica para ações de 
controle concentrado de constitucionalidade. Nesse sentido: 
(...) 2. O Supremo Tribunal Federal tem firme o entendimento de que as entidades que participam dos 
processos na condição de amicus curiae têm como papel instruir os autos com informações relevantes ou 
dados técnicos, não possuindo, entretanto, legitimidade para a interposição de recursos, inclusive 
embargos de declaração. Precedentes. 
3. Ainda que a disciplina prevista no novo Código de Processo Civil a respeito do amicus curiae permita a 
oposição de embargos de declaração pelo interveniente (CPC/2015, art. 138, §1º), a regra não é aplicável 
em sede de ações de controle concentrado de constitucionalidade. (...) 
STF. Plenário. ADI 4389 ED-AgR, Rel. Roberto Barroso, julgado em 14/08/2019. 
 
 
 
 Informativocomentado 
 
 
 
Informativo 985-STF (13/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 4 
Cabe recurso contra a decisão do Relator que ADMITE o ingresso do amicus curiae? 
NÃO. O art. 138 do CPC/2015 expressamente prevê que se trata de decisão irrecorrível: 
Art. 138. O juiz ou o relator, considerando a relevância da matéria, a especificidade do tema objeto 
da demanda ou a repercussão social da controvérsia, poderá, por decisão irrecorrível, de ofício ou 
a requerimento das partes ou de quem pretenda manifestar-se, solicitar ou admitir a participação 
de pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade especializada, com representatividade adequada, 
no prazo de 15 (quinze) dias de sua intimação. 
 
E da decisão que inadmite? Cabe recurso contra a decisão do Relator que INADMITE o ingresso do amicus 
curiae? 
O STF, em julgado notificado no Info 985, decidiu que SIM. 
É recorrível a decisão denegatória de ingresso no feito como amicus curiae. 
É possível a impugnação recursal por parte de terceiro, quando denegada sua participação na qualidade 
de amicus curiae. 
STF. Plenário. ADI 3396 AgR/DF, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 6/8/2020 (Info 985). 
 
Essa posição é pacífica? 
NÃO. Explico. Em 17/10/2018, o Plenário do STF decidiu que: 
Tanto a decisão do Relator que ADMITE como a que INADMITE o ingresso do amicus curiae é irrecorrível. 
STF. Plenário. RE 602584 AgR/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado em 
17/10/2018 (Info 920). 
 
Neste novo julgado (ADI 3396 AgR/DF), a decisão foi tomada por uma apertada maioria: 
• 5 Ministros votaram pela recorribilidade: Celso de Mello, Rosa Weber, Marco Aurélio, Gilmar Mendes e 
Ricardo Lewandowski. 
• 4 Ministros votaram pela irrecorribilidade: Luiz Fux, Dias Toffoli, Edson Fachin e Cármen Lúcia. 
 
Os Ministros Alexandre de Moraes e Roberto Barroso não votaram. 
O Ministro Celso de Mello (relator) esclareceu que se posicionou, no caso concreto, pelo conhecimento 
do recurso, pois ele foi interposto em 2011 e, nessa época, havia precedentes que admitiam o cabimento 
do recurso. Logo, o Ministro Celso de Mello afirmou que votou baseado na realidade daquela época. Vale 
ressaltar, no entanto, que o Ministro explicou que, atualmente, o Plenário do STF tem entendido que é 
irrecorrível a decisão do relator que admite ou inadmite o ingresso de amicus curiae em processos de 
controle concentrado. De igual modo, que o colegiado tem considerado inaplicável o art. 138 do CPC/2015 
aos processos do controle concentrado de constitucionalidade. 
Isso significa que o entendimento atual do Ministro Celso de Mello é o de a decisão que inadmite o amicus 
é irrecorrível. Assim, particularmente, penso que a maioria dos Ministros, se chamada novamente a se 
manifestar, irá afirmar que a decisão que admite ou inadmite amicus curiae é irrecorrível. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 985-STF (13/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 5 
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS 
Lei estadual pode determinar que faculdades particulares devolvam o valor da matrícula em 
caso de desistência do curso ou pedido de transferência, realizados antes do início das aulas 
 
É constitucional lei estadual que estabeleça que as instituições de ensino superior privada são 
obrigadas a devolver o valor da taxa de matrícula, podendo reter, no máximo, 5% da quantia, 
caso o aluno, antes do início das aulas, desista do curso ou solicite transferência. 
STF. Plenário. ADI 5951, Rel. Cármen Lúcia, julgado em 16/06/2020 (Info 985 – clipping). 
 
A situação concreta foi a seguinte: 
O Estado de Minas Gerais editou a Lei nº 22.915/2018, dispondo sobre a devolução de taxa de matrícula 
pelas instituições de ensino superior privadas. Confira o texto da referida Lei estadual: 
Art. 1º Fica a instituição de ensino superior privada localizada no Estado obrigada a devolver o 
valor da taxa de matrícula, no prazo de dez dias contados da solicitação de devolução, ao aluno 
que, antes do início das aulas, desistir do curso ou solicitar transferência. 
Parágrafo único. A instituição poderá descontar até 5% (cinco por cento) do valor da matrícula a 
ser devolvido para cobrir os gastos administrativos dela decorrentes, desde que comprovados com 
a apresentação de planilha de custos. 
Art. 2º O descumprimento do disposto nesta lei sujeitará o infrator às penalidades previstas no 
art. 56 da Lei federal nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. 
Art. 3º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação. 
 
A Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (Confenen) ajuizou ação direta de 
inconstitucionalidade contra a Lei afirmando que ela teria violado a competência da União para legislar 
sobre direito civil (contratos), afrontando o art. 22, I, da CF/88. 
A autora afirmou que a Lei federal nº 9.870/99 dispõe sobre anuidades escolares, de forma que a União já 
exerceu a competência para regulamentação de serviços educacionais prestados por entidades privadas. 
 
Essa lei estadual viola a Constituição Federal? 
NÃO. 
A lei impugnada trata sobre proteção ao consumidor, matéria que é de competência legislativa 
concorrente, nos termos dos incisos V e VIII do art. 24 da Constituição Federal: 
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: 
(...) 
V - produção e consumo; 
(...) 
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor 
artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico; 
 
Além disso, é também de competência concorrente legislar sobre educação (art. 24, IX, da CF/88). 
Nesse contexto, a Lei nº 22.915/2018, de Minas Gerais, é fruto do legítimo exercício da competência 
concorrente do Estado-membro para legislar sobre defesa do consumidor e educação. 
A legislação relacionada com a prestação de serviços educacionais não é meramente de direito civil, de 
competência da União, mas envolve, também, relações de consumo e temas ligados diretamente à 
educação, de competência concorrente dos Estados (art. 24, V e IX). 
 Informativo 
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Informativo 985-STF (13/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 6 
Ao estabelecer regras protetivas dos estudantes mais amplas do que as federais, o Estado atuou dentro 
da área de sua competência concorrente. Seu objetivo foi o de conferir proteção jurídica aos estudantes 
contra situações de abuso e de enriquecimento sem causa por faculdades particulares. 
Essa previsão se harmoniza com o art. 51, IV, do Código de Defesa do Consumidor, que prevê como nulas 
as cláusulas contratuais que “estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o 
consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade”. 
Vale ressaltar, por fim, que a referida Lei estadual não viola em nada a Lei federal nº 9.870/99. 
 
Em suma: 
É constitucional lei estadual que estabeleça que as instituições de ensino superior privada são obrigadas 
a devolver o valor da taxa de matrícula, podendo reter, no máximo, 5% da quantia, caso o aluno, antes 
do início das aulas, desista do curso ou solicite transferência. 
STF. Plenário. ADI 5951, Rel. Cármen Lúcia, julgado em 16/06/2020 (Info 985). 
 
Tema correlato: 
(...) 1. Lei fluminense que proíbe a cobrança pelos estabelecimentos de ensino sediados no Estado do Rio 
de Janeiro, por provas de segunda-chamada, provas finais ou equivalentes, não podendo os estudantes 
ser impedidos de fazer provas, testes, exames ou outras formas de avaliação, por falta de pagamento 
prévio. 
2. Ao estabelecer regras protetivas dos estudantes mais amplas do que as federais, quanto à cobrança por 
provas de segunda chamada ou finais, o Estado do Rio de Janeiro atuoudentro da área de sua competência 
concorrente para legislar sobre direito do consumidor e educação (art. 24, inciso V e IX). 
3. Do ponto de vista da constitucionalidade material, não é desproporcional ou desarrazoada norma que 
impede que o aluno seja financeiramente sobrecarregado por seu desempenho acadêmico ou pela 
impossibilidade de realizar a prova na data agendada. 
4. Ação direta julgada improcedente. 
STF. Plenário. ADI 3874, Rel. Roberto Barroso, julgado em 23/08/2019. 
 
 
SEGURIDADE SOCIAL 
O Bolsa Família é um programa de transferência direta de renda, voltado a famílias de todo o 
País, de modo a fazer frente a situação de pobreza e vulnerabilidade; logo, não se pode fazer 
restrição em relação à região ou ao Estado do beneficiário 
 
Os Estados da Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte 
ajuizaram ação cível originária, em face da União, com pedido de tutela provisória, 
questionando a redução de recursos do Programa Bolsa Família destinados à Região Nordeste. 
O Min. Marco Aurélio (relator) deferiu medida cautelar determinando que: 
a) a União disponibilize dados que justifiquem a concentração de cortes de benefícios do 
Programa Bolsa Família na Região Nordeste, bem assim dispense aos inscritos nos Estados 
autores tratamento isonômico em relação aos beneficiários dos demais entes da Federação. 
b) não haja cortes no Programa enquanto perdurar o estado de calamidade pública; 
c) a liberação de recursos para novas inscrições seja uniforme considerados os Estados da 
Federação. 
O Plenário do STF referendou a medida cautelar concedida. 
STF. Plenário. ACO 3359 Ref-MC/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 5/8/2020 (Info 985). 
 
 Informativo 
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Informativo 985-STF (13/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 7 
A situação concreta foi a seguinte: 
Os Estados da Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte ajuizaram ação 
cível originária, em face da União, com pedido de tutela provisória, questionando a redução de recursos 
do Programa Bolsa Família destinados à Região Nordeste. 
Os Estados alegaram que a diminuição dos recursos retira a efetividade do programa, que visa minimizar 
os efeitos da pobreza com assistência social, saúde e segurança, e promove um desequilíbrio entre os 
entes da federação, pois o Nordeste é uma das regiões mais atingidas pela mudança. 
O tratamento não isonômico, a seu ver, desvirtua a finalidade do programa e desestabiliza o próprio pacto 
federativo, em razão da a inobservância de previsão constitucional sobre o combate das desigualdades 
regionais e sociais. 
Outro argumento apresentado é que o Bolsa Família tem grande relevância social e econômica nesses 
Estados. Eles sustentam que a ausência da concessão de novos benefícios às famílias já inscritas – de 
maneira distinta em relação às demais regiões do país – implica aumento significativo da demanda social 
sem justificativa plausível da União sobre os dados divulgados até o momento. 
Por essas razões, pediram a concessão de liminar para determinar à União que apresente dados e 
justificativas para a concentração de cortes de novos benefícios do Programa Bolsa Família na Região 
Nordeste e, ainda, que sejam observados a legislação, os objetivos constitucionais, os índices do IBGE e a 
isonomia entre os entes da federação em relação aos beneficiários do programa. 
Ao final, solicitaram que o STF determinasse que a União indicasse os critérios aplicados e o eventual 
cronograma de concessão dos benefícios do programa, contemplando de forma isonômica e equânime 
todos os brasileiros que necessitam do benefício. 
 
Essa ação é de competência originária do STF? 
SIM, considerando que cumpriu os dois requisitos exigidos para se enquadrar na hipótese do art. 102, I, 
“f”, da Constituição Federal: 
- foi proposta por Estado-membro contra a União; e 
- envolve conflito apto a causar risco à estabilidade do pacto federativo. 
 
Veja a redação do dispositivo: 
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, 
cabendo-lhe: 
I - processar e julgar, originariamente: 
(...) 
f) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns e 
outros, inclusive as respectivas entidades da administração indireta; 
 
Decisão monocrática deferindo parcialmente 
O Min. Marco Aurélio (relator) deferiu medida cautelar determinando que: 
a) a União disponibilize dados que justifiquem a concentração de cortes de benefícios do Programa Bolsa 
Família na Região Nordeste, bem assim dispense aos inscritos nos Estados autores tratamento isonômico 
em relação aos beneficiários dos demais entes da Federação. 
b) não haja cortes no Programa enquanto perdurar o estado de calamidade pública; 
c) a liberação de recursos para novas inscrições seja uniforme considerados os Estados da Federação. 
 
Referendo da cautelar 
O Plenário do STF referendou a medida cautelar deferida pelo Ministro Relator. 
O “Bolsa Família” é um programa de transferência direta de renda, voltado a famílias de todo o País, de 
modo a fazer frente a situação de pobreza e vulnerabilidade. 
 Informativo 
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Informativo 985-STF (13/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 8 
O benefício está previsto no art. 2º, I a IV, da Lei nº 10.836/2004 e não apresenta qualquer restrição 
atinente a região ou Estado. 
Não se pode valorar (medir) a extrema pobreza conforme a unidade da Federação, devendo haver 
isonomia no tratamento, tendo em conta que são objetivos da República Federativa do Brasil erradicar 
a pobreza e reduzir as desigualdades sociais, a teor dos arts. 3º, II e III, 19, III, 203 e 204 da CF/88, bem 
como da Lei nº 10.836/2004. 
Não se pode conceber comportamento discriminatório da União em virtude do local de residência de 
brasileiros em idêntica condição. 
A diferença numérica demonstrada pelos autores na Inicial demonstra que existe um desequilíbrio tanto 
na concessão de novos benefícios quanto na liberação dos recursos para aqueles já inscritos na Região 
Nordeste. 
STF. Plenário. ACO 3359 Ref-MC/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 5/8/2020 (Info 985). 
 
 
ÍNDIOS 
STF determina que governo federal adote medidas 
para conter o avanço da Covid-19 entre indígenas 
 
Covid-19 
A associação “Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e seis partidos políticos 
ajuizaram arguição de descumprimento de preceito fundamental alegando que o Poder Público 
estava falhando na proteção dos povos indígenas com relação à pandemia da Covid-19. 
Os autores apontaram uma série de atos comissivos e omissivos do Poder Público que, 
segundo eles, estavam causando alto risco de contágio e de extermínio dos povos indígenas. 
Os requerentes apontaram que tais atos violam a dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da 
CF/88), o direito à vida (art. 5º, caput) e o direito à saúde (arts. 6º e 196), além do direito de 
tais povos a viverem em seu território, de acordo com suas culturas e tradições (art. 231). 
Na ação, os autores pedem a realização de diversas medidas necessárias para a proteção dos 
povos indígenas. 
O Min. Roberto Barroso (relator) deferiu parcialmente a medida cautelar para que a União 
implemente, em resumo, as seguintes providências: 
Quanto aos povos indígenas em isolamento ou povos indígenas de recente contato: 
1. Criação de barreiras sanitárias, que impeçam o ingresso de terceiros em seus territórios; 
2. Criação de Sala de Situação, para gestão de ações de combate à pandemia quanto aos Povos 
Indígenas em Isolamento e de Contato Recente. 
Quanto aos povos indígenas em geral: 
1. Inclusão de medida emergencial de contenção e isolamento dosinvasores em relação às 
comunidades indígenas ou providência alternativa, apta a evitar o contato. 
2. Imediata extensão dos serviços do Subsistema Indígena de Saúde. 
3. Elaboração e monitoramento de um Plano de Enfrentamento da COVID-19 para os Povos 
Indígenas Brasileiros pela União. 
O Plenário do STF referendou a medida cautelar concedida. 
STF. Plenário. ADPF 709 Ref-MC/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 3 e 5/8/2020 (Info 985). 
 
 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 985-STF (13/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 9 
A situação concreta foi a seguinte: 
No dia 01/07/2020, a associação “Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e seis partidos políticos 
ajuizaram arguição de descumprimento de preceito fundamental alegando que o Poder Público estava 
falhando na proteção dos povos indígenas com relação à pandemia da Covid-19. 
Os autores apontaram uma série de atos comissivos e omissivos do Poder Público que, segundo eles, 
estavam causando alto risco de contágio e de extermínio dos povos indígenas. 
Os requerentes apontaram que tais atos violam a dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF/88), o 
direito à vida (art. 5º, caput) e o direito à saúde (arts. 6º e 196), além do direito de tais povos a viverem 
em seu território, de acordo com suas culturas e tradições (art. 231). 
Na ação, os autores pedem a realização de diversas medidas necessárias para a proteção dos povos 
indígenas. 
 
Decisão monocrática deferindo parcialmente a cautelar 
No dia 08/07/2020, o Min. Roberto Barroso (relator) deferiu parcialmente a medida cautelar. 
Vou resumir abaixo as principais medidas deferidas: 
 
Quanto aos povos indígenas em isolamento ou povos indígenas de recente contato: 
1. Criação de barreiras sanitárias, que impeçam o ingresso de terceiros em seus territórios; 
2. Criação de Sala de Situação, para gestão de ações de combate à pandemia quanto aos Povos Indígenas 
em Isolamento e de Contato Recente. 
 
Quanto aos povos indígenas em geral: 
1. Inclusão de medida emergencial de contenção e isolamento dos invasores em relação às comunidades 
indígenas ou providência alternativa, apta a evitar o contato. 
2. Imediata extensão dos serviços do Subsistema Indígena de Saúde. 
3. Elaboração e monitoramento de um Plano de Enfrentamento da COVID-19 para os Povos Indígenas 
Brasileiros pela União. 
 
A implementação das cautelares não prejudica que se dê continuidade a todas as ações de saúde já em 
curso e planejadas em favor das comunidades indígenas, que não devem ser interrompidas. 
 
Referendo da cautelar 
Nos dias 03 e 05/08/2020, o Plenário do STF se reuniu e referendou (aprovou) a medida cautelar que havia 
sido deferida monocraticamente pelo Relator. 
Reconheceu-se a presença dos requisitos autorizadores da concessão parcial da cautelar, ressaltando-se 
a existência de indícios de expansão acelerada do contágio pelo Covid-19 nas comunidades indígenas e a 
insuficiência das ações promovidas pela União para sua contenção. 
STF. Plenário. ADPF 709 Ref-MC/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 3 e 5/8/2020 (Info 985). 
 
Diretrizes 
A decisão do Min. Relator se baseou em três diretrizes: 
1) os princípios da precaução e da prevenção, no que respeita à proteção à vida e à saúde; 
2) a necessidade de diálogo institucional entre o Judiciário e o Poder Executivo, em matéria de políticas 
públicas decorrentes da Constituição Federal; e 
3) a imprescindibilidade de diálogo intercultural, em toda questão que envolva os direitos de povos 
indígenas. 
 
 
 
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1) Princípios da precaução e da prevenção 
O STF manifestou preocupação com o risco de extinção de etnias se a doença se espalhar de forma 
descontrolada. 
O objetivo da medida, portanto, é o de salvar o maior número de vidas possível e de preservar essas etnias. 
Com base nos princípios da precaução e da prevenção, o relator reconheceu, também, a verossimilhança 
do direito à criação de uma Sala de Situação e perigo na demora. 
A criação dessa Sala de Situação para a gestão da epidemia, no que respeita a povos indígenas e de recente 
contato, é prevista em norma federal expedida pelo Ministério da Saúde (Portaria Conjunta 4.094/2018, 
do Ministério da Saúde e da Fundação Nacional do Índio - FUNAI). Portanto, não há que se falar em 
interferência do Judiciário sobre Políticas Públicas, mas em mera implementação judicial de norma federal 
que não está sendo observada pelo Poder Executivo. 
 
2) Diálogo institucional 
A concretização das políticas públicas necessárias depende diretamente da atuação do Ministério da 
Saúde e das Forças Armadas. 
O Min. Relator registrou, no ponto, que as Forças Armadas já vêm atuando nesse sentido, mediante a 
entrega de cestas básicas, suprimentos e materiais de saúde a diversas comunidades indígenas, e, em 
parceria com o Ministério da Saúde, por meio de atenção médica a tais povos. 
As medidas requeridas implicam a mobilização de múltiplas instituições e agentes, com expertise técnica 
e experiência em suas respectivas áreas de atuação. Demandam a tomada de posição sobre temas a 
respeito dos quais as capacidades institucionais do Supremo Tribunal Federal podem ser limitadas. 
Portanto, é imprescindível que se estabeleça uma interlocução entre os distintos órgãos do Poder 
Executivo e o Poder Judiciário, para que se busque, tanto quanto possível, uma solução consensual para 
o problema sob exame. 
 
3) Diálogo intercultural 
Cada comunidade possui particularidades, circunstâncias e cultura próprias. É preciso permitir que esses 
povos expressem suas necessidades e auxiliar o Estado na busca de soluções cabíveis. 
Por essa razão, toda e qualquer decisão que envolva povos indígenas deve assegurar também um diálogo 
intercultural. Existe, inclusive, tratado de direito internacional ratificado e internalizado pelo Brasil que 
determina que decisões acerca da proteção da vida, da saúde e do meio ambiente que envolvam povos 
indígenas devem necessariamente ser tomadas com a sua participação (Convenção 169, da Organização 
Internacional do Trabalho - OIT). 
 
Criação de barreiras sanitárias 
No que respeita ao pedido de criação de barreiras sanitárias formulado em favor dos povos indígenas em 
isolamento ou de contato recente, considerou que a opção pelo não contato decorre de direito desses 
povos à autodeterminação e constitui uma forma de preservar a sua identidade cultural e as suas próprias 
organizações, usos, costumes e tradições. Por isso, o ingresso de qualquer membro exógeno à 
comunidade, sem a sua autorização, constitui um ilícito. 
Tais povos têm direito ao isolamento e o Estado tem o dever de assegurá-lo. 
Ademais, na atual situação, com uma pandemia em curso, os povos em isolamento e de contato recente 
são os mais expostos ao risco de contágio e de extinção. Isso decorre das condições de vulnerabilidade 
imunológica e sociocultural. De acordo com diretrizes internacionais da Organização das Nações Unidas 
(ONU) e da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), a medida protetiva mais eficaz a ser 
tomada em favor de tais povos é assegurar-lhes o isolamento da sociedade envolvente, por meio de 
barreiras ou cordões sanitários que impeçam — inclusive com o uso da força, se necessário — o acesso de 
estranhos às suas terras. 
 
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Perigo na demora 
O Tribunal reconheceu a presença de perigo na demora, dado quehá risco iminente de contágio, caso não 
se criem mecanismos de contenção do ingresso nessas terras. Afirmou que os recursos materiais e de 
pessoal a serem utilizados nas barreiras, sua localização, os protocolos sanitários a serem empregados 
pelos agentes do Estado e demais especificações devem ser determinados pela União, por meio da 
elaboração de um plano, ouvidos os membros integrantes da Sala de Situação. 
 
Pedido para retirada de invasores das terras indígenas 
Um dos pedidos formulados pelos autores era para a retirada de invasores das terras indígenas indicadas. 
Esse pedido não foi deferido na cautelar. A maioria votou com o Relator pela elaboração de um plano de 
desintrusão para que, posteriormente, ocorra a retirada dos invasores. 
O Relator afirmou que havia verossimilhança do direito alegado. A presença desses grupos em terras 
indígenas constitui violação do direito de tais povos ao seu território, à sua cultura e ameaça à sua vida e 
saúde. Essas invasões se deram para o cometimento de crimes, como o desmatamento, a extração ilegal 
de madeira e o garimpo ilegal. A remoção, portanto, é medida imperativa, imprescindível e dever da 
União, sendo inaceitável a inação do governo federal em relação a esse fato. 
No entanto, o Ministro afirmou que essa situação não é nova e não guarda relação com a pandemia. Trata-
se de problema social gravíssimo, que ocorre em diversas terras indígenas e unidades de conservação, de 
difícil resolução, dado o grande contingente de pessoas (mais de 20.000 invasores em apenas uma das 
áreas) e o elevado risco de conflito armado. Não há como equacionar e solucionar esse problema nos 
limites de uma medida cautelar. 
Porém, a União deve se organizar para enfrentar o problema, que só faz crescer, e formular um plano de 
desintrusão. Acrescentou que cria risco de contágio o ingresso de pessoas estranhas às comunidades 
indígenas, inclusive de equipes médicas do Ministério da Saúde e das Forças Armadas. Há, portanto, 
considerável periculum in mora inverso na determinação da retirada como postulada, já que implicaria o 
ingresso de forças militares e policiais em terra indígena, com risco de conflito armado durante a pandemia 
e, por conseguinte, poderia agravar a ameaça já existente à vida de tais povos. 
Assim, julgou recomendável que se considere, por ora, medida emergencial de contenção e isolamento 
dos invasores em relação às comunidades indígenas ou providência alternativa apta a evitar o contato. 
 
Votos vencidos 
Vencidos, parcialmente, o Ministro Edson Fachin, que deferia a liminar em maior amplitude, e o Ministro 
Ricardo Lewandowski, que acompanhava o relator, mas estabelecia prazos. 
 
 
MINISTÉRIO PÚBLICO 
É inconstitucional dispositivo da Constituição Estadual que afirme ser obrigatória a presença de 
um membro do MP nas comissões de concursos públicos da Administração Pública estadual 
 
A Constituição Estadual não pode determinar que membro do Ministério Público participe de 
banca de concurso público relacionado com cargos externos aos quadros da instituição. 
Essa não é uma atribuição compatível com as finalidades constitucionais do Ministério 
Público. 
Assim, não pode o ato impugnado exigir a participação do Ministério Público nas bancas de 
concursos para os cargos e empregos públicos do Estado. 
STF. Plenário. ADI 3841, Rel. Gilmar Mendes, julgado em 16/06/2020 (Info 985 – clipping). 
 
 
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A situação concreta foi a seguinte: 
A Constituição do Estado do Rio Grande do Norte afirmou que seria obrigatória a participação de um 
membro do Ministério Público nos concursos da administração pública estadual. Veja a regra: 
Art. 26 (...) 
§ 6º Na composição de comissão de concurso público, para investidura em cargo ou emprego na 
administração direta ou indireta do Estado, exceto para ingresso na Magistratura, é obrigatória, 
sob pena de nulidade, a inclusão de um (1) membro do Ministério Público e de um (1) 
representante eleito, por voto direto e secreto, pelos servidores do órgão para o qual é feito o 
concurso. 
 
Essa previsão é constitucional? 
NÃO. 
A Constituição Estadual não pode determinar que membro do Ministério Público participe de banca de 
concurso público voltado à seleção de servidores para cargos externos aos quadros do Parquet. 
Essa não é uma atribuição compatível com as finalidades constitucionais do Ministério Público. 
Assim, não pode o ato impugnado exigir a participação do Ministério Público nas bancas de concursos 
para os cargos e empregos públicos do Estado. 
STF. Plenário. ADI 3841, Rel. Gilmar Mendes, julgado em 16/06/2020 (Info 985 – clipping). 
 
 
MINISTÉRIO PÚBLICO 
Conflito de atribuições envolvendo MPE e MPF deve ser dirimido pelo CNMP 
 
Atenção! Ministério Público 
Compete ao CNMP dirimir conflitos de atribuições entre membros do MPF e de Ministérios 
Públicos estaduais. 
STF. Plenário. ACO 843/SP, Rel. para acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado em 05/06/2020. 
STF. Plenário. Pet 4891, Rel. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Alexandre de Moraes, julgado em 
16/06/2020 (Info 985 – clipping). 
 
Conflito de competência 
Quando dois órgãos jurisdicionais divergem sobre quem deverá julgar uma causa, dizemos que existe, 
neste caso, um conflito de competência. 
Obs: o CPP denomina esse fenômeno de “conflito de jurisdição” (arts. 113 a 117), expressão, contudo, 
bastante criticada pela doutrina e jurisprudência porque a jurisdição no Brasil é uma só, sendo exercida 
por qualquer juiz e Tribunal. O que se divide é a competência, que cada juízo possui a sua. 
 
Exemplo de conflito de competência 
Foi instaurado inquérito policial, que estava “tramitando” na Justiça Estadual, com o objetivo de apurar 
determinado crime. 
Ao final do procedimento, o Promotor de Justiça requereu a declinação da competência para a Justiça 
Federal, entendendo que estava presente a hipótese do art. 109, IV, da CF/88. 
O Juiz de Direito concordou com o pedido e remeteu os autos para a Justiça Federal. 
O Juiz Federal deu vista ao Procurador da República, que entendeu em sentido contrário ao Promotor de 
Justiça e afirmou que não havia interesse direto e específico da União que justificasse o feito ser de 
competência federal. 
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O Juiz Federal concordou com o Procurador da República e suscitou conflito de competência. 
Este conflito deverá ser dirimido pelo Superior Tribunal de Justiça, nos termos do art. 105, I, "d", da CF/88: 
Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: 
I - processar e julgar, originariamente: 
d) os conflitos de competência entre quaisquer tribunais, ressalvado o disposto no art. 102, I, "o", 
bem como entre tribunal e juízes a ele não vinculados e entre juízes vinculados a tribunais 
diversos; 
 
Conflito de atribuições 
No exemplo acima, os membros do Ministério Público discordaram entre si. No entanto, essa discordância 
não ficou limitada a eles e foi também encampada pelos juízes. Logo, em última análise, tivemos um 
conflito de competência, ou seja, um conflito negativo entre dois órgãos jurisdicionais. 
Algumas vezes, no entanto, os membros do Ministério Público instauram investigações que tramitam no 
âmbito da própria instituição. Neste caso, em regra, tais procedimentos não são levados ao Poder 
Judiciário, salvo no momento em que irá ser oferecida a denúncia ou se for necessária alguma medida que 
dependa de autorização judicial (ex: interceptação telefônica). 
A regra geral, no entanto, é que os procedimentos de investigação conduzidos diretamente pelo MP 
tramitem exclusivamenteno âmbito interno da Instituição. 
Ex: um Promotor de Justiça instaurou, no MPE, procedimento de investigação para apurar crimes 
relacionados com um cartel mantido por donos de postos de combustíveis. Ocorre que o Procurador da 
República também deflagrou, no âmbito do MPF, um procedimento investigatório para apurar 
exatamente o mesmo fato. Temos, então, dois membros diferentes do Ministério Público investigando o 
mesmo fato. Vale ressaltar que nenhum deles formulou qualquer pedido judicial, de sorte que o Poder 
Judiciário não foi provocado e os procedimentos tramitam apenas internamente. 
 
Neste caso, indaga-se: se dois membros do Ministério Público divergem sobre quem deverá atuar em 
uma investigação, como isso é chamado? Teremos aqui também um conflito de competência? 
NÃO. Neste caso, teremos um CONFLITO DE ATRIBUIÇÕES. 
“O conflito de atribuições não se confunde com o conflito de competência. Cuidando-se de ato de natureza 
jurisdicional, o conflito será de competência; tratando-se de controvérsia entre órgãos do Ministério 
Público sobre ato que caiba a um deles praticar, ter-se-á um conflito de atribuições.” (LIMA, Renato 
Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 8ª ed., Salvador: Juspodivm, 2020, p. 1239). 
 
Obs: mais uma vez, chamo atenção para o fato de que só existe conflito de atribuições se a divergência 
ficar restrita aos membros do Ministério Público. Se os juízes encamparem as teses dos membros do MP, 
aí eles estarão discordando entre si e teremos, no caso, um "falso conflito de atribuições" (expressão 
cunhada por Guilherme de Souza Nucci). Diz-se que há um falso conflito de atribuições porque, na 
verdade, o que temos é um conflito entre dois juízes, ou seja, um conflito de competência. 
 
Conflito de atribuições pode se dar tanto em matéria criminal como cível 
Apesar de os exemplos acima fornecidos envolverem a investigação de crimes, é importante esclarecer 
que o conflito de atribuições poderá ocorrer também em apuração de infrações cíveis, como o caso de 
improbidade, meio ambiente, consumidor e outros direitos difusos e coletivos. 
Ex: um Promotor de Justiça e um Procurador da República divergem quanto à atribuição para a condução 
de inquérito civil que investiga suposto superfaturamento na construção de conjuntos habitacionais com 
recursos financeiros liberados pela Caixa Econômica Federal e oriundos do Fundo de Garantia do Tempo 
de Serviço (FGTS). A Procuradoria da República no Paraná entendeu que esta atribuição seria do Promotor 
de Justiça, mas o MPE discordou e considerou que a apuração seria do MPF, já que envolvia recursos 
oriundos da CEF (STF ACO 924). 
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Caso haja um conflito de atribuições entre membros do Ministério Público, quem irá decidir qual dos 
dois órgãos irá atuar? 
Depende. Podemos identificar quatro situações diferentes: 
 
SITUAÇÃO 1 
Se o conflito se dá entre Promotores de Justiça do Ministério Público de um mesmo Estado (ex: 
Promotor de Justiça de Iranduba/AM e Promotor de Justiça de Manaus/AM): 
Neste caso, a divergência será dirimida pelo respectivo Procurador-Geral de Justiça. Veja: 
 
Lei nº 8.625/93 
Art. 10. Compete ao Procurador-Geral de Justiça: 
X - dirimir conflitos de atribuições entre membros do Ministério Público, designando quem deva 
oficiar no feito; 
 
SITUAÇÃO 2 
Se o conflito se dá entre Procuradores da República (ex: um Procurador da República que oficia em 
Manaus/AM e um Procurador da República que atua em Boa Vista/RR): 
Nesta hipótese, o conflito será resolvido pela Câmara de Coordenação e Revisão (órgão colegiado do MPF), 
havendo possibilidade de recurso para o Procurador-Geral da República. Confira: 
 
LC 75/93 
Art. 62. Compete às Câmaras de Coordenação e Revisão: 
VII - decidir os conflitos de atribuições entre os órgãos do Ministério Público Federal. 
 
Art. 49. São atribuições do Procurador-Geral da República, como Chefe do Ministério Público 
Federal: 
VIII - decidir, em grau de recurso, os conflitos de atribuições entre órgãos do Ministério Público 
Federal; 
 
SITUAÇÃO 3 
Se o conflito se dá entre integrantes de ramos diferentes do Ministério Público da União (ex: um 
Procurador da República e um Procurador do Trabalho): 
O conflito será resolvido pelo Procurador-Geral da República: 
 
LC 75/93 
Art. 26. São atribuições do Procurador-Geral da República, como Chefe do Ministério Público da 
União: 
VII - dirimir conflitos de atribuição entre integrantes de ramos diferentes do Ministério Público da 
União; 
 
SITUAÇÃO 4 
Se o conflito se dá entre Promotores de Justiça de Estados diferentes (ex: Promotor de Justiça do 
Amazonas e Promotor de Justiça do Acre)? Se o conflito se dá entre um Promotor de Justiça e um 
Procurador da República (ex: Promotor de Justiça do Amazonas e Procurador da República que oficia 
em Manaus/AM)? 
 
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Posição adotada até 2016: STF 
Afirmava que este conflito de atribuições deveria ser dirimido pelo próprio STF. 
O Ministério Público é um órgão. Seus membros também são órgãos. Um Promotor de Justiça é um órgão 
estadual. Um Procurador da República é um órgão da União. 
Se dois Promotores de Justiça de Estados diferentes estavam divergindo sobre a atuação em uma causa, 
o que nós tínhamos era uma divergência entre dois órgãos de Estados diferentes. 
Se um Promotor de Justiça e um Procurador da República discordavam sobre quem deveria atuar no caso, 
o que nós tínhamos era uma dissonância entre um órgão estadual e um órgão federal. 
Logo, nestas duas situações, quem deveria resolver este conflito seria o STF, conforme previsto no art. 
102, I, “f”, da CF/88: 
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, 
cabendo-lhe: 
I - processar e julgar, originariamente: 
f) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns e 
outros, inclusive as respectivas entidades da administração indireta; 
 
Posição adotada de 2016 até junho de 2020: PGR 
Neste período, o STF passou a decidir que a competência para dirimir estes conflitos de atribuição seria 
do Procurador-Geral da República: 
Compete ao PGR, na condição de órgão nacional do Ministério Público, dirimir conflitos de atribuições 
entre membros do MPF e de Ministérios Públicos estaduais. 
STF. Plenário. ACO 924/PR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 19/5/2016 (Info 826). 
 
Posição atual: CNMP 
O STF mudou novamente de posição e agora entende que: 
Compete ao CNMP dirimir conflitos de atribuições entre membros do MPF e de Ministérios Públicos 
estaduais. 
STF. Plenário. ACO 843/SP, Rel. para acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado em 05/06/2020. 
STF. Plenário. Pet 4891, Rel. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Alexandre de Moraes, julgado em 
16/06/2020 (Info 985 – clipping). 
 
Essa nova posição representa o acolhimento, pelo STF, de uma tese institucional defendida pelos 
Ministérios Públicos estaduais que não concordavam com o entendimento de que a competência para 
dirimir esse conflito seria do PGR. 
A nova posição foi capitaneada pelo Min. Alexandre de Moraes, que apresentou os seguintes argumentos: 
“Discordo, entretanto, do encaminhamento do conflito de atribuição para o Procurador-Geral da 
República, enquanto autoridade competente, pois é parte interessada na solução da demanda 
administrativa, uma vez que acumula a Chefia do Ministério Público da União com a chefia de um de 
seus ramos, o Ministério Público Federal, nos termos da LC 75/1993. 
(...) 
(...) constitucionalmente, o Ministério Público abrange duas grandes Instituições,sem que haja qualquer 
relação de hierarquia e subordinação entre elas (STF, RE 593.727/MG – Red. p/Acórdão Min. GILMAR 
MENDES): (a) Ministério Público da União, que compreende os ramos: Federal, do Trabalho, Militar e do 
Distrito Federal e Territórios; (b) Ministério Público dos Estados. 
Não há, portanto, hierarquia entre o Ministério Público da União ou qualquer de seus ramos específicos e 
os Ministérios Públicos estaduais (...) 
Com tal premissa, não parece ser mais adequado que, presente conflito de atribuição entre integrantes 
do Ministério Público Estadual e do Ministério Público Federal, o impasse acabe sendo resolvido 
monocraticamente por quem exerce a chefia de um deles, no caso o Procurador-Geral da República. 
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Informativo 985-STF (13/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 16 
(...) 
A interpretação sistemática da Constituição Federal, após a edição da EC 45/2004, aponta como mais 
razoável e compatível com a própria estrutura orgânica da Instituição reconhecer no Conselho Nacional 
do Ministério Público a necessária atribuição para solucionar os conflitos de atribuição entre seus diversos 
ramos, pois, constitucionalmente, tem a missão precípua de realizar o controle de atuação administrativa 
e financeira do Ministério Público. 
Assim, no âmbito interno e administrativo, não tendo vinculação direta com qualquer dos ramos dos 
Ministérios Públicos dos entes federativos, mas sendo por eles composto, o CNMP possui isenção 
suficiente para definir, segundo as normas em que se estrutura a instituição, qual agente do Ministério 
Público tem aptidão para a condução de determinado inquérito civil, inclusive porque, nos termos do § 2º 
do art. 130-A, é sua competência o controle da atuação administrativa do Ministério Público e do 
cumprimento dos deveres funcionais de seus membros, cabendo-lhe, inclusive, zelar pela autonomia 
funcional e administrativa do Ministério Público, bem como pela legalidade dos atos administrativos 
praticados por membros ou órgãos do Ministério Público da União e dos Estados, entre eles, aqueles atos 
que deram ensejo ao conflito de atribuições. 
A interpretação sistemática dos preceitos constitucionais da Instituição, portanto, aponta a competência 
do Conselho Nacional do Ministério Público para dirimir essa modalidade de conflito de atribuição com 
fundamento no artigo 130-A, § 2º, e incisos I e II, da Constituição Federal. 
Com amparo nesses preceitos constitucionais, estaria o referido órgão colegiado, ao dirimir o conflito de 
atribuição, exercendo o controle da atuação administrativa do Ministério Público e, ao mesmo tempo, 
zelando pela autonomia funcional e independência da instituição. 
A solução de conflitos de atribuições entre ramos diversos dos Ministérios Públicos pelo CNMP é a mais 
adequada, pois reforça o mandamento constitucional que lhe atribuiu o controle da legalidade das ações 
administrativas dos membros e órgãos dos diversos ramos ministeriais, sem ingressar ou ferir a 
independência funcional.” 
 
Entendimento vale tanto para conflitos entre MPE e MPF como também para conflitos entre Promotores 
de Estados diferentes 
Vale ressaltar que o caso apreciado pelo STF dizia respeito a um conflito de atribuições entre um 
Procurador da República e um Promotor de Justiça. No entanto, pelos debates entre os Ministros, 
percebe-se que a solução adotada vale também para os conflitos envolvendo Promotores de Justiça de 
Estados-membros diferentes. 
Se dois Promotores de Justiça de Estados diferentes divergirem quanto à atuação em um caso, este 
conflito de atribuições será dirimido pelo CNMP. 
 
Resumindo: 
QUEM DECIDE O CONFLITO DE ATRIBUIÇÕES ENTRE MEMBROS DO MINISTÉRIO PÚBLICO? 
SITUAÇÃO QUEM IRÁ DIRIMIR 
MPE do Estado 1 x MPE do Estado 1 Procurador-Geral de Justiça do Estado 1 
MPF x MPF CCR, com recurso ao PGR 
MPU (ramo 1) x MPU (ramo 2) Procurador-Geral da República 
MPE x MPF CNMP 
MPE do Estado 1 x MPE do Estado 2 CNMP 
 
Inexistência de vinculação para o Poder Judiciário 
Vale, por fim, uma observação. O Poder Judiciário não fica vinculado à decisão do CNMP. 
Assim, suponhamos que, em um conflito de atribuições, o CNMP afirme que a atribuição para investigar e 
denunciar o réu é do Procurador da República. 
Diante disso, o Procurador da República oferece denúncia na Justiça Federal. O Juiz Federal estará livre 
para reapreciar o tema e poderá entender que a competência não é da Justiça Federal, declinando a 
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Informativo 985-STF (13/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 17 
competência para a Justiça Estadual. Caso o Juiz de Direito concorde, seguirá no processamento do feito. 
Se discordar, deverá suscitar conflito de competência a ser dirimido pelo STJ (art. 105, I, “d”, da CF/88). 
O certo é que a decisão do CNMP produz efeitos vinculantes apenas interna corporis, sendo uma decisão 
de cunho administrativo, não vinculando os juízos que irão apreciar a causa. 
 
 
DEFENSORIA PÚBLICA 
Dever do Poder Executivo de efetuar os repasses de duodécimo na forma do art. 168 da CF/88 
 
Atenção! Defensoria Pública 
O Governador do Estado é obrigado a efetuar o repasse, sob a forma de duodécimos e até o dia 
20 de cada mês, da integralidade dos recursos orçamentários destinados à Defensoria Pública 
estadual pela Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para o exercício financeiro, inclusive 
quanto às parcelas já vencidas, assim também em relação a eventuais créditos adicionais 
destinados à instituição. 
STF. Plenário. ADPF 384 Ref-MC/MG, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 6/8/2020 (Info 985). 
 
É dever constitucional do Poder Executivo o repasse, sob a forma de duodécimos e até o dia 20 
de cada mês (art. 168 da CRFB/88), da integralidade dos recursos orçamentários destinados 
a outros Poderes e órgãos constitucionalmente autônomos, como o Ministério Público e a 
Defensoria Pública, conforme previsão da respectiva Lei Orçamentária Anual. 
STF. Plenário. ADPF 339/PI, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 18/5/2016 (Info 826). 
 
Imagine a seguinte situação adaptada: 
A lei orçamentária anual do Estado de Minas Gerais foi aprovada e nela previsto o orçamento da 
Defensoria Pública. 
Ocorre que o Poder Executivo estadual não estava cumprindo seu dever de repassar os recursos 
correspondentes às dotações orçamentárias da Defensoria Pública em duodécimos mensais. 
Diante disso, a ANADEP ajuizou arguição de descumprimento de preceito fundamental pedindo que o 
Poder Executivo estadual fosse obrigado a efetuar os repasses. 
 
O STF acolheu o pedido feito na ADPF? 
SIM. 
O Governador do Estado é obrigado a efetuar o repasse, sob a forma de duodécimos e até o dia 20 de 
cada mês, da integralidade dos recursos orçamentários destinados à Defensoria Pública estadual pela 
Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para o exercício financeiro, inclusive quanto às parcelas já 
vencidas, assim também em relação a eventuais créditos adicionais destinados à instituição. 
STF. Plenário. ADPF 384 Ref-MC/MG, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 6/8/2020 (Info 985). 
 
A Defensoria Pública goza de autonomia funcional e administrativa, bem como da prerrogativa de 
formular a sua proposta orçamentária (art. 134, § 2º, da CF/88). 
 
O repasse de recursos correspondentes, destinados à Defensoria Pública, ao Judiciário, ao Legislativo e ao 
Ministério Público, sob a forma de duodécimos, é imposição constitucional, devendo ser efetuada até o 
dia 20 de cada mês, conforme previsto no art. 168 da CF/88: 
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Art. 168. Os recursos correspondentes às dotações orçamentárias, compreendidos os créditos 
suplementares e especiais, destinados aos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, do 
Ministério Público e da Defensoria Pública, ser-lhes-ão entregues até o dia 20 de cada mês, em 
duodécimos, na forma da lei complementar a que se refere o art. 165, § 9º. 
 
O repasse de duodécimos destinados ao Poder Público, quando retidos pelo Governo, constitui prática 
indevida de flagrante violação aos preceitos fundamentais da Constituição. 
 
No caso concreto, o instrumento processual utilizado (ADPF) foi correto? 
SIM. Em caso de descumprimento do dever previsto no art. 168 da CF/88, a jurisprudência do STF entende 
que cabe a impetração de mandado de segurança. No entanto, o MS só poderia ser manejado pelo 
Defensor Público-Geral enquanto titular da Instituição (STF MS 21291 AgR-QO), e não pela ANADEP, que 
não tem legitimidade para o writ, considerando que nenhum direito líquido e certo da associação está 
sendo violado. 
Assim, como a ANADEP não pode impetrar MS, resta apenas o ajuizamento da ADPF, sendo preenchido, 
portanto, o requisito da subsidiariedade (art. 4º, § 1º, da Lei nº 9.882/99). 
 
Leading case 
Confira a ementa de um caso muito semelhante a esse envolvendo o Estado do Piauí. Se você estuda para 
concursos da Defensoria Pública, este julgado é importantíssimo: 
(...) 1. Às Defensorias Públicas Estaduais são asseguradas autonomia funcional e administrativa, bem como 
a prerrogativa de formulação de sua própria proposta orçamentária (art. 134, § 2º, da CRFB/88), por força 
da Constituição da República, após a Emenda Constitucional nº 45/2004. 
2. O repasse dos recursos correspondentes destinados à Defensoria Pública, ao Poder Judiciário, ao Poder 
Legislativo e ao Ministério Público sob a forma de duodécimos e até o dia 20 de cada mês (art. 168 da 
CRFB/88) é imposição constitucional; atuando o Executivo apenas como órgão arrecadador dos recursos 
orçamentários, os quais, todavia, a ele não pertencem. 
3. O repasse dos duodécimos das verbas orçamentárias destinadas ao Poder Legislativo, ao Poder 
Judiciário, ao Ministério Público e à Defensoria Pública quando retidos pelo Governado do Estado constitui 
prática indevida em flagrante violação aos preceitos fundamentais esculpidos na CRFB/88. (...) 
4. O princípio da subsidiariedade, ínsito ao cabimento da ADPF, resta atendido diante da inexistência, para 
a Associação autora, de outro instrumento processual igualmente eficaz ao atendimento célere da tutela 
constitucional pretendida. (...) 
5. A Associação Nacional de Defensores Públicos é parte legítima a provocar a fiscalização abstrata de 
constitucionalidade (art. 103, IX, da CRFB/88). (...) 
6. Arguição por descumprimento de preceito fundamental julgada procedente, para fixar a seguinte tese: 
“É dever constitucional do Poder Executivo o repasse, sob a forma de duodécimos e até o dia 20 de cada 
mês (art. 168 da CRFB/88), da integralidade dos recursos orçamentários destinados a outros Poderes e 
órgãos constitucionalmente autônomos, como o Ministério Público e a Defensoria Pública, conforme 
previsão da respectiva Lei Orçamentária Anual.” 
STF. Plenário. ADPF 339, Rel. Luiz Fux, julgado em 18/05/2016. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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ADVOCACIA PÚBLICA 
É constitucional lei que preveja o pagamento de honorários de sucumbência aos advogados 
públicos; no entanto, a somatória do subsídio com os honorários não pode ultrapassar 
mensalmente o teto remuneratório, ou seja, o subsídio dos Ministros do STF 
 
Importante!!! 
A percepção de honorários de sucumbência pelos advogados públicos não representa ofensa 
à determinação constitucional de remuneração exclusiva mediante subsídio (arts. 39, § 4º, e 
135 da CF/88). 
O art. 39, § 4º, da Constituição Federal, não constitui vedação absoluta de pagamento de outras 
verbas além do subsídio. 
Os advogados públicos podem receber honorários sucumbenciais, mas, como eles recebem os 
valores em função do exercício do cargo, esse recebimento precisa se sujeitar ao regime 
jurídico de direito público. 
Por essa razão, mesmo sendo compatível com o regime de subsídio, sobretudo quando 
estruturado como um modelo de remuneração por performance, com vistas à eficiência do 
serviço público, a possibilidade de advogados públicos perceberem verbas honorárias 
sucumbenciais não afasta a incidência do teto remuneratório estabelecido pelo art. 37, XI, da 
Constituição Federal. 
STF. Plenário. ADI 6053, Rel. Marco Aurélio, Rel. p/ Acórdão: Alexandre de Moraes, julgado em 
22/06/2020 (Info 985 – clipping). 
 
O entendimento acima vale tanto para os advogados públicos federais como também para os 
Procuradores do Estado, do DF e do Município. Nesse sentido: 
É constitucional o pagamento de honorários sucumbenciais aos advogados públicos, 
observando-se, porém, o limite remuneratório previsto no art. 37, XI, da Constituição. 
STF. Plenário. ADI 6159 e ADI 6162, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 25/08/2020. 
 
O julgamento a seguir explicado trata sobre o pagamento de honorários advocatícios sucumbenciais a 
advogados públicos. 
O STF analisou a constitucionalidade de três dispositivos/diplomas legais: 
• o art. 23 da Lei nº 8.906/94 (Estatuto da OAB): 
Art. 23. Os honorários incluídos na condenação, por arbitramento ou sucumbência, pertencem ao 
advogado, tendo este direito autônomo para executar a sentença nesta parte, podendo requerer 
que o precatório, quando necessário, seja expedido em seu favor. (Vide ADI 6053) 
 
• o art. 85, § 19 da Lei nº 13.105/2015 (CPC): 
Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor. 
(...) 
§ 19. Os advogados públicos perceberão honorários de sucumbência, nos termos da lei. 
 
• arts. 27 e 29 a 36 da Lei nº 13.327/2016. 
 
Como a Lei nº 13.327/2016 é muito relevante para entender o julgado, vou fazer abaixo um breve resumo 
do que ela trata. 
 
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NOÇÕES GERAIS SOBRE OS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DA LEI 13.327/2016 
O que prevê a Lei nº 13.327/2016? 
A Lei nº 13.327/2016 prevê, dentre outros assuntos, que os honorários advocatícios de sucumbência das 
causas em que forem parte a União, suas autarquias e fundações pertencem aos ocupantes dos cargos de: 
I - Advogado da União; 
II - Procurador da Fazenda Nacional; 
III - Procurador Federal; 
IV - Procurador do Banco Central do Brasil; 
V - dos quadros suplementares em extinção previstos no art. 46 da MP n.º 2.229-43/2001 (antigos cargos 
que faziam a assistência jurídica da União, suas autarquias e fundações antes da AGU/Procuradoria 
Federal e que estão atualmente extintos, havendo, contudo, pessoas que foram aposentadas neles). 
 
Em outras palavras, quando a União, suas autarquias e fundações vencerem causas judiciais e a parte 
contrária for condenada a pagar honorários advocatícios de sucumbência, tais valores serão rateados 
entre os ocupantes dos cargos acima listados. 
 
Veja o que diz a Lei nº 13.327/2016: 
Art. 29. Os honorários advocatícios de sucumbência das causas em que forem parte a União, as 
autarquias e as fundações públicas federais pertencem originariamente aos ocupantes dos cargos 
de que trata este Capítulo. 
 
Quando se fala em honorários de sucumbência, isso abrange quais verbas? 
Para os fins da Lei nº 13.327/2016, os honorários advocatícios de sucumbência incluem: 
I - o total do produto dos honorários de sucumbência recebidos nas ações judiciais em que forem parte a 
União, as autarquiase as fundações públicas federais; 
II - até 75% do produto do encargo legal acrescido aos débitos inscritos na dívida ativa da União, previsto 
no art. 1º do Decreto-Lei nº 1.025/69; 
III - o total do produto do encargo legal acrescido aos créditos das autarquias e das fundações públicas 
federais inscritos na dívida ativa da União, nos termos do § 1º do art. 37-A da Lei nº 10.522/2002. 
 
Esses são os valores que serão destinados aos advogados públicos federais acima listados. 
 
Os aposentados também receberão? 
SIM. 
 
Qual é o critério de cálculo dos valores? 
Os valores dos honorários devidos serão calculados da seguinte forma: 
• No caso dos servidores ativos: os honorários serão pagos de acordo com o tempo de efetivo exercício 
no cargo; 
• No caso dos servidores aposentados: o cálculo será feito com base no tempo de aposentadoria. 
 
O rateio deverá ser feito nas seguintes proporções: 
I - para os ativos, 50% de uma cota-parte após o primeiro ano de efetivo exercício, crescente na proporção 
de 25 pontos percentuais após completar cada um dos 2 (dois) anos seguintes; 
II - para os inativos, 100% de uma cota-parte durante o primeiro ano de aposentadoria, decrescente à 
proporção de 7 (sete) pontos percentuais a cada um dos 9 anos seguintes, mantendo-se o percentual fixo 
e permanente até a data de cessação da aposentadoria. 
 
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Quem não terá direito aos honorários? 
Não entrarão no rateio dos honorários: 
a) pensionistas; 
b) aqueles em licença para tratar de interesses particulares; 
c) aqueles em licença para acompanhar cônjuge ou companheiro; 
d) aqueles em licença para atividade política; 
e) aqueles em afastamento para exercer mandato eletivo; 
f) aqueles cedidos ou requisitados para entidade ou órgão estranho à administração pública federal direta, 
autárquica ou fundacional. 
 
Administração dos honorários 
Os honorários advocatícios serão administrados, normatizados e fiscalizados pelo “Conselho Curador dos 
Honorários Advocatícios” (CCHA), órgão vinculado à Advocacia-Geral da União, composto por 1 
representante de cada uma das carreiras acima mencionadas (um AGU, um Procurador Federal, um PFN 
etc.). 
 
Gestão e distribuição dos honorários 
O CCHA deverá contratar uma instituição financeira oficial que ficará responsável por gerir, processar e 
distribuir os honorários advocatícios entre os membros das carreiras. 
Vale ressaltar que os honorários advocatícios nem passarão pela conta única do Tesouro Nacional. Eles 
serão diretamente creditados na conta bancária gerida pela instituição financeira contratada (art. 35) e de 
lá seguirão para as contas dos respectivos profissionais. 
 
O valor dos honorários integra o subsídio recebido pelo advogado público federal? 
NÃO. Os honorários não integram o subsídio e não servirão como base de cálculo para adicional, 
gratificação ou qualquer outra vantagem pecuniária (art. 29, parágrafo único). 
 
Não haverá pagamento de contribuição previdenciária sobre os valores recebidos a título de honorários 
Os honorários não integrarão a base de cálculo, compulsória ou facultativa, da contribuição previdenciária 
(art. 32). 
 
Haverá pagamento de imposto de renda sobre os valores recebidos a título de honorários? 
SIM. A Lei determina, inclusive, que os valores correspondentes ao imposto sobre a renda devido em razão do 
recebimento dos honorários deverão ser retidos na fonte pela instituição financeira oficial que ficará 
responsável por gerir, processar e distribuir os honorários entre os advogados públicos federais (art. 34, § 7º). 
 
ANÁLISE DA ADI 6053 (HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DOS ADVOGADOS PÚBLICOS FEDERAIS) 
ADI 6053 
Em 20/12/2018, a então Procuradora-Geral da República, Raquel Dodge, ajuizou ação direta de 
inconstitucionalidade para questionar os dispositivos que garantem a advogados públicos o recebimento 
de honorários de sucumbência. 
A ação teve por objeto o art. 23 do Estatuto da OAB, o art. 85, § 19, do CPC/2015 e os arts. 27 e 29 a 36 
da Lei nº 13.327/2016, que preveem o pagamento dos honorários pelos ocupantes dos cargos de 
advogado da União e de procuradores da Fazenda Nacional, Federal e do Banco Central. 
Segundo a PGR, os honorários sucumbenciais são uma espécie de contraprestação devida ao advogado 
em razão dos serviços prestados por ele no processo. Tais verbas equivalem a vencimentos e subsídios e 
tiveram reconhecido o seu caráter alimentar. No entanto, de acordo com a então PGR, os advogados 
públicos não têm despesas com imóvel, telefone, água, luz, impostos e outros encargos. “É a 
Administração Pública que arca todo o suporte físico e de pessoal necessário ao desempenho de suas 
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atribuições”. Além disso, os advogados públicos já são remunerados pela integralidade dos serviços 
prestados por meio de subsídios. 
Outro argumento apresentado é que, até a edição da Lei nº 13.327/2016, essas verbas eram carreadas 
totalmente à conta da União e se incorporavam ao seu patrimônio. 
Para a autora da ação, a percepção de honorários advocatícios seria incompatível com o regime de 
subsídios e o regime estatutário a que os advogados públicos estão sujeitos e ofenderia os princípios 
republicano, da impessoalidade e da supremacia do interesse público. 
 
O pedido formulado na ADI foi acolhido pelo STF? 
Parcialmente. 
O STF afirmou que: 
- é constitucional o pagamento de honorários de sucumbência aos advogados públicos; 
- no entanto, é necessário respeitar o teto remuneratório, ou seja, a somatória do subsídio com os 
honorários recebidos mensalmente não pode ultrapassar o subsídio dos Ministros do STF, conforme o que 
dispõe o art. 37, XI, da Constituição Federal. 
 
Ex: vamos supor, hipoteticamente, que o teto remuneratório está em R$ 40 mil. Imaginemos que o 
subsídio do Procurador Federal seja R$ 34 mil. No mês de outubro, a divisão dos honorários devidos aos 
advogados públicos federais rendeu R$ 10 mil para cada membro. Esse Procurador Federal, que já recebe 
mensalmente R$ 34 mil, só terá direito a R$ 6 mil de honorários porque, se recebesse acima disso, 
ultrapassaria o teto. 
 
Vamos verificar abaixo um resumo dos argumentos invocados pelo Min. Alexandre de Moraes (relator 
para o acórdão, considerando que o Relator originário – Min. Marco Aurélio – ficou vencido). 
 
Regime de subsídios 
Era comum na Administração Pública que determinados servidores recebessem, como remuneração, uma 
parcela fixa, que era acrescida de várias gratificações, adicionais, abonos etc. Assim, o servidor recebia seu 
vencimento e mais uma série de “penduricalhos”. Isso fazia com que a remuneração dos servidores 
acabasse crescendo desordenadamente, sem que a Administração Pública tivesse um controle efetivo 
sobre isso. 
Para corrigir essa situação, a EC 19/98 inseriu o § 4º ao art. 39 da CF/88 criando o sistema de “subsídio”. 
Em que consiste isso? O legislador afirmou que determinadas carreiras de servidores deveriam receber 
sua remuneração por meio de “parcela única” mensal, sendo “vedado o acréscimo de qualquer 
gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória”. 
Desse modo, após a edição da EC 19/98, o subsídio passou a reunir, sob um único título genuinamente 
remuneratório, todos e quaisquer valores pagos aos servidores como contraprestação pelo trabalho 
executado no desempenho normal de suas funções. 
Segundo explicou o Min. Luiz Fux, o objetivo da criação do regime de subsídio foi o de 
“criar um padrão confiável de correspondência entre o que é atribuído e o que é efetivamente 
pago peloexercício do cargo público. 
Assim, se elimina prática corriqueira na Administração Pública, em que aumentos salariais são 
concedidos de maneira artificiosa, na forma de benefícios adicionais, instituídos mediante 
alíquotas de incidências caprichosas, confusas e sucessivas, cuja aplicação frequentemente 
conduz a excessos ilegítimos.” 
 
Quais categorias recebem por subsídio? 
Segundo o § 4º do art. 39 são remunerados exclusivamente por subsídio: 
a) os membros de Poder (Presidente, Governador, Prefeito, parlamentares, magistrados); 
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b) os detentores de mandato eletivo; 
c) os Ministros de Estado; 
d) os Secretários Estaduais e Municipais. 
 
Além disso, existem alguns dispositivos esparsos da CF/88 que exigem o regime de subsídio para as 
seguintes carreiras: 
a) membros do Ministério Público (art. 128, § 5º, I, “c”); 
b) membros da Defensoria Pública (art. 135); 
c) membros da Advocacia Pública (art. 135); 
d) Ministros do TCU (art. 73, § 3º); 
e) servidores policiais (art. 144, § 9º). 
 
As carreiras acima listadas devem obrigatoriamente receber por meio de subsídio. A lei não pode estipular 
forma diferente, sob pena de ser inconstitucional. 
 
Além desses, outros servidores também podem receber por subsídio? 
SIM. O § 8º do art. 39 afirma que a remuneração de todos os servidores públicos que são organizados em 
carreira poderá ser fixada por meio do regime de subsídio. 
Assim, com base nessa previsão do § 8º, a lei poderá prever o regime de subsídio para outros servidores 
públicos além dos que foram acima listados. 
O conceito de subsídio não se aplica, portanto, unicamente aos agentes políticos, como ocorria 
anteriormente, comportando extensão a todas as categorias de servidores organizadas em carreira, nos 
termos do art. 39, § 8º, da CF/88. 
 
Advogados públicos e subsídio 
Os advogados públicos são remunerados por subsídio. Isso decorre do art. 39, § 4º e do art. 135 da CF/88: 
Art. 39 (...) 
§ 4º O membro de Poder, o detentor de mandato eletivo, os Ministros de Estado e os Secretários 
Estaduais e Municipais serão remunerados exclusivamente por subsídio fixado em parcela única, 
vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação 
ou outra espécie remuneratória, obedecido, em qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI. 
 
Art. 135. Os servidores integrantes das carreiras disciplinadas nas Seções II e III deste Capítulo 
serão remunerados na forma do art. 39, § 4º. 
 
Honorários sucumbenciais pagos aos advogados públicos possuem natureza remuneratória (e não 
indenizatória) 
Os honorários advocatícios sucumbenciais devidos aos advogados públicos, devidamente previstos em lei, 
ostentam caráter remuneratório e de contraprestação de serviços realizados no curso do processo. Assim, 
esses honorários devem ser considerados como parcela remuneratória devida em razão do serviço 
prestado. Isso significa que esses honorários recebem tratamento equivalente aos vencimentos e 
subsídios, sendo, inclusive, reconhecido o seu caráter alimentar. 
 
Mas os honorários sucumbenciais são pagos pelo particular que perdeu a causa contra o Poder Público. 
Em outras palavras, quem paga não é a União, mas sim a parte que litigava contra a Fazenda Pública. 
Mesmo assim, devem ser considerados como remuneração? 
SIM. O fato de os honorários sucumbenciais não serem devidos por alguém que se tenha beneficiado dos 
respectivos serviços profissionais do advogado público não é suficiente para, por si só, descaracterizar essa 
natureza remuneratória. Não é por outro motivo, aliás, que tais verbas são fixadas entre percentuais 
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limitadores de um mínimo e de um máximo, moduláveis precisamente em razão de determinados 
qualificativos imputáveis ao serviço objeto da contraprestação. 
É o que se pode constatar do § 2º do art. 85 do CPC/2015, que regulamenta, em termos gerais, a percepção 
dos honorários de sucumbência pelos profissionais da advocacia: 
Art. 85 (...) 
§ 2º Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez e o máximo de vinte porcento sobre o 
valor da condenação, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o 
valor atualizado da causa, atendidos: 
I – o grau de zelo do profissional; 
II – o lugar da prestação do serviço; 
III – a natureza e a importância da causa; 
IV – o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço. 
 
Honorários aos advogados públicos e princípio da eficiência 
O pagamento de honorários de sucumbência aos advogados públicos está relacionado ao princípio da 
eficiência (art. 37, caput, da CF/88), considerando que esse servidor irá receber de acordo com a natureza 
e a qualidade dos serviços efetivamente prestados por ele. 
Trata-se daquilo que se chama de “remuneração por performance”, modelo este, inclusive, reconhecido 
como uma boa prática pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE. 
Quanto mais exitosa a atuação dos advogados públicos, mais se beneficia a Fazenda Pública e, por 
consequência, toda a coletividade. 
 
Vimos que os advogados públicos recebem por meio de subsídio; a remuneração por subsídio prevê o 
pagamento de “parcela única” ao agente público, vedado o acréscimo de qualquer “outra espécie 
remuneratória”. O recebimento de honorários advocatícios (verba remuneratória) viola o regime de 
subsídio, afrontando o art. 39, § 4º c/c o art. 135, da CF/88? 
NÃO. Ao contrário do que uma leitura isolada do art. 39, § 4º, da Constituição Federal pudesse sugerir, o 
conceito de “parcela única” previsto nesse dispositivo constitucional proíbe apenas o acréscimo 
injustificável de espécies remuneratórias ordinárias, devidas em decorrência do trabalho normal do 
servidor submetido a regime de subsídio. 
O art. 39, § 4º não impede a percepção de outras verbas pecuniárias que tenham fundamento diverso, a 
exemplo das verbas honorárias sucumbenciais. Isso porque os honorários estão fundados em outra causa, 
ou seja, no fato objetivo do resultado da demanda. 
Assim, o art. 39, § 4º, da Constituição Federal não constitui vedação absoluta de pagamento de outras 
verbas além do subsídio (STF. Plenário. ADI 4941/AL, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o ac. Min. Luiz 
Fux, julgado 14/8/2019). 
 
Constituição proibiu o recebimento de honorários quando quis fazê-lo 
Nas hipóteses em que a Constituição Federal pretendeu vedar o recebimento de honorários em razão de 
alguma incompatibilidade relevante, proibiu-o expressamente, como no caso dos membros da 
Magistratura (art. 95, parágrafo único, II, da CF/88) e do Ministério Público (art. 128, § 5º, II, “a”, da CF/88). 
No caso da advocacia pública, não há essa proibição. 
 
Irredutibilidade dos vencimentos 
O pedido da PGR, de mera supressão da verba sucumbencial dos advogados públicos, sem qualquer 
estabelecimento de uma regra de transição e de compensação remuneratória para a parcela única do 
subsídio, acarretaria inconstitucional redutibilidade nos vencimentos finais dos procuradores. 
 
 
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Submissão ao teto 
Os advogados públicos podem receber honorários sucumbenciais, mas, como eles recebem os valores em 
função do exercício do cargo, esse recebimento precisa se sujeitar ao regime jurídico de direito público. 
Por essa razão, mesmo sendo compatível com o regime

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