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(Descrição da imagem) O layout da primeira página do texto é composto por triângulos em verde, 
amarelo, laranja e ocre ocupando a parte superior da página como uma moldura. Alguns deles estão com a 
ponta para baixo. Abaixo, o logo do Uniafro onde as letras UNI estão em verde e AFRO, em ocre. Acima 
e abaixo da palavra UNIAFRO, em verde, lê-se: Curso de Aperfeiçoamento e Política de Promoção da 
Igualdade Racial na Escola. À esquerda da palavra UNIAFRO, 8 triângulos encaixam-se em dois grupos 
sobrepostos. Em cada grupo, quatro triângulos alternam suas pontas para cima e para baixo, 
encaixando-se. Nas demais páginas, apenas o logo da Uniafro aparece no rodapé esquerdo. 
(Fim da descrição) 
 
 
A Presença das Africanidades no Cotidiano como Forma de se Pensar 
a Construção da Igualdade Racial 
 
Tanise Müller Ramos 
Doutora em Educação pelo PPPGEDU/FACED/UFRGS, na Linha de Pesquisa intitulada “Estudos 
Culturais em Educação”. Professora dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental no Colégio de Aplicação 
da UFRGS em Porto Alegre. 
 
Há mais de dez anos, a educação brasileira conta com a Lei N​o 10.639, a qual 
tornou obrigatório o ensino da “História e Cultura Africana e Afro-Brasileira” nas 
escolas públicas e particulares, nos níveis de ensino Fundamental e Médio. Como 
professora da Educação Básica, penso que essa lei traz à escola a necessidade de se 
pensar propostas de construção da igualdade racial na sociedade brasileira. 
Quero dizer com isso que a Lei N​o 10.639, aliada ao Estatuto da Criança e do 
Adolescente (1990) e à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996), 
juntamente com outras legislações pertinentes, como é o caso da Lei N​o 11.645/2008, a 
qual ampliou a Lei N​o 10.639 ao tornar obrigatório o ensino da “História e Cultura 
Afro-Brasileira e Indígena”, abriu o caminho para a discussão a respeito da escola 
enquanto um espaço social que também deve se ocupar por combater o racismo. Escola 
na qual, através de variadas práticas pedagógicas e curriculares, temos a possibilidade 
de construir a igualdade racial entre os sujeitos que compõem a comunidade escolar. 
Enquanto professora em exercício em sala de aula e como pesquisadora 
envolvida na produção de trabalhos sobre essas e outras questões, tenho refletido sobre 
a necessidade e sobre a relevância da Lei N​o 10.639 para o Brasil do século XXI. Tal lei 
nos leva a pensar sobre a necessidade de se implementar propostas que sejam capazes 
de construir a igualdade racial nas diferentes esferas sociais, dentre elas, a escola, um 
dos espaços onde o racismo está presente. 
Com vistas à construção da igualdade racial, considero a importância que vem 
sendo dada, cada vez mais, ao conceito de “africanidades brasileiras”. A pesquisadora 
Petronilha B. Silva (2005) esclarece tal conceito ao referir que “africanidades 
brasileiras” por um lado se referem aos “modos de ser, de viver, de organizar suas lutas, 
próprios dos negros brasileiros, e de outro lado, às marcas da cultura africana que, 
independentemente da origem étnica de cada brasileiro, fazem parte do seu dia a dia” (p. 
155). Africanidades dizem respeito, portanto, à influência africana nas manifestações 
culturais no Brasil, constituindo-se em valores, formas de vida, de trabalho, eventos, 
dados e demais processos empreendidos pelos descendentes de africanos e incorporados 
pela sociedade brasileira em seus diferentes grupos étnicos e raciais. Segundo a autora 
 
As Africanidades Brasileiras vêm sendo elaboradas há quase 
cinco séculos, na medida em que os africanos escravizados e 
seus descendentes, ao participar da construção da nação 
brasileira, vão deixando nos outros grupos étnicos com que 
convivem suas influências e, ao mesmo tempo, recebem e 
incorporam as destes. Portanto, estudar as Africanidades 
Brasileiras significa tomar conhecimento, observar, analisar um 
jeito peculiar de ver a vida, o mundo, o trabalho, de conviver e 
de lutar pela dignidade própria, bem como pela de todos 
descendentes de africanos, mais ainda de todos que a sociedade 
marginaliza. Significa também conhecer e compreender os 
trabalhos e criatividade dos africanos e de seus descendentes no 
Brasil, e de situar tais produções na construção da nação 
brasileira. (SILVA, op.cit., p. 156). 
 
 
Pensando no contexto escolar, a autora afirma que as africanidades brasileiras 
estariam compondo hoje uma pedagogia antirracista, por possibilitarem que os 
currículos escolares “permitam aprender e respeitar as expressões culturais negras que, 
juntamente com outras de diferentes raízes étnicas, compõem a história e a vida de 
nosso país” (ibidem, p. 157). Desse modo, as africanidades poderiam ser reconhecidas 
como peça-chave para a promoção da igualdade racial na escola, por subsidiarem ações 
pedagógicas potentes para se criar uma ambiência multirracial no espaço da sala de 
aula. 
Da mesma forma, proponho considerar a presença das africanidades no cotidiano 
como forma de se pensar a construção da igualdade racial em tantas outras instâncias, 
para além da escola. As africanidades fazem parte de nosso dia-a-dia enquanto 
brasileiros, como podemos perceber nas marcas culturais africanas presentes nas artes, 
na música, na culinária, no vocabulário, enfim, no modo de ser e de viver dos brasileiros 
independentemente de suas origens étnicas. O que precisamos, portanto, é de 
reconhecimento desses elementos, principalmente quando pensamos em formas de se 
construir a igualdade entre os diferentes componentes étnicos e raciais que compõem a 
sociedade brasileira. 
No caso da educação, temos uma lei que torna obrigatório este reconhecimento, 
como já referi a lei 10.639/2003. Para pensar sobre a necessidade de uma lei que torne 
obrigatório o ensino de história e cultura africana e afro-brasileira, menciono um texto 
muito provocativo, intitulado “As leis 10.639/03 e 11.465/08 se fazem necessárias?” 
(2008), o qual foi escrito pela já referida professora e pesquisadora negra Petronilha 
Silva, juntamente com os pesquisadores Evaldo Ribeiro Oliveira e Danilo de Souza 
Morais. A partir deste texto, podemos compreender que leis como essa se fazem 
necessárias para todos os brasileiros, a partir da constatação de que, em primeiro lugar, 
estamos vivendo em um cenário em que uma grande parcela da população 
autodeclarou-se “negra”, “parda” e “indígena” no último censo do IBGE, 
correspondendo a um total de mais de 50% dos brasileiros. 
Portanto, parece-nos que valorizar a história e cultura negra, tanto na escola 
como fora dela, é antes de mais nada reconhecer a ancestralidade étnica, racial e cultural 
que nos compõe enquanto brasileiros. Significa identificarmo-nos como negros e, talvez 
 
assim, superarmos (ou revertermos) a situação de preconceito e desigualdade infringida 
historicamente a certos valores, saberes e modos de ser e viver no Brasil. Significa, em 
outras palavras, pensar (ou sentir) de outro modo, reconhecendo que “os jeitos de ser e 
viver e as visões de mundo de raízes indígenas e africanas continuam vigorosos, assim 
como os deorigens asiáticas e europeias” (SILVA; OLIVEIRA; MORAIS, 2008, p. 33). 
Talvez estejamos vivendo um tempo de reconhecer que nós mesmos somos compostos 
por diversidades de pertencimentos de ordem étnica e racial, o que justifica um trabalho 
da sociedade com vistas à construção da igualdade racial. 
Nesse sentido, através da Lei N​o 10.639 podemos pensar na importante demanda 
trazida para os professores dos diferentes contextos escolares brasileiros: a de se 
construir uma ​ambiência para a igualdade racial na escola​ . Isso significa que a escola 
precisa estar provida de repertórios capazes de darem visibilidade, de modo afirmativo, 
a todas as raças e etnias possíveis. Em outras palavras, a escola vem sendo demandada 
para a criação de ações pedagógicas capazes de destacar a diversidade em sua 
perspectiva etnicorracial, o que exige a visibilidade do negro e da história e cultura 
africana e afro-brasileira através de vários artefatos (brinquedos, livros, filmes) e 
discursos, que vão cada vez mais ocupando o cotidiano escolar (RAMOS; 
KAERCHER, 2012). 
O que essa discussão sobre a escola pode nos ajudar a pensar a sociedade como 
um todo? Acontece que estou afirmando sobre a importância das africanidades no 
contexto escolar como forma de se combater o racismo, pela questão da visibilidade que 
é dada à história e cultura africana e afro-brasileira. Do mesmo modo, creio ser possível 
pensar o reconhecimento das africanidades em todas as demais instâncias sociais como 
forma de se valorizar as culturas negras em nosso cenário cultural, o que estaria 
contribuindo para a construção da igualdade racial em nossa sociedade. 
É importante destacar que a construção da igualdade racial também está prevista 
em lei, através dos pressupostos trazidos pelo Estatuto da Igualdade Racial (Lei 
12.288/2010). Segundo o documento, a construção da igualdade racial pressupõe a 
“efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, 
coletivos e difusos e o combate à discriminação e às demais formas de intolerância 
étnica” (BRASIL, 2010). Sendo assim, devemos estar atentos para as situações em que 
 
tal igualdade é desrespeitada, o que pode estar acontecendo nas mais variadas instâncias 
sociais. 
Para citar apenas um exemplo, podemos tomar as produções de televisão para 
análise. Em filmes e novelas, a ausência de personagens negros invisibiliza a 
participação negra na construção de nossa cultura. Já o destaque para os negros em 
lugares de “vilões” e funções subalternas nessas produções impossibilita pensar o negro 
como protagonista, diferentemente do que aconteceu em nossa história, quando a 
população negra foi uma das grandes autoras de nossa base cultural. Assim, embora as 
africanidades estejam presentes em nosso cotidiano, elas necessitam de reconhecimento 
no interior dos diferentes setores sociais, a fim de combater a desigualdade que tantas 
vezes é produzida. No exemplo citado, essa desigualdade poderia ser vista nos 
personagens, em que protagonistas e “heróis” aparecem representados como pessoas 
brancas, enquanto negros estão ausentes ou, quando aparecem, enxergamos essas 
pessoas em lugares de “vilões” e coadjuvantes. Estamos, assim, diante de uma questão 
de desigualdade, a qual precisamos contrapor. 
É importante destacar que o Estatuto da Igualdade Racial define a desigualdade 
como “toda situação injustificada de diferenciação de acesso e fruição de bens, serviços 
e oportunidades, nas esferas pública e privada, em virtude de raça, cor, descendência ou 
origem nacional ou étnica”, o que nos leva a pensar sobre a inadequação de programas 
de televisão, como acima analisei, e também de tantas outras situações com as quais nos 
deparamos diariamente. 
Voltando a pensar no contexto escolar, percebo que professores preocupados 
com tais questões já vêm constatando essa situação em suas salas de aula. Quando as 
salas de aula encontram-se desprovidas de repertórios nos quais o negro e a história e 
cultura africana e afro-brasileira sejam visibilizados, deparamo-nos com diálogos como 
o seguinte, extraído de um contexto de uma sala de aula de alunos dos Anos Iniciais do 
Ensino Fundamental de uma escola pública situada em Porto Alegre: 
 
Professora: O que vocês sabem sobre a África? 
Aluna 1.: Ah, é um lugar muito bonito, que tem muitos bichos, como leão, elefante e girafa. 
Professora: E não tem pessoas lá na África? 
Aluna 1.: Deve ter um moço que fica por lá para dar comida aos animais... 
Aluno 2: Esse moço é um ​cowboy​ [começando a desenhar o ​cowboy​ ]. 
 
Professora: Mas, tem casas e escolas? 
Aluno 3: Não tem nada lá, nem ​shopping​ e nem escada rolante. Só floresta. 
Professora: E onde vivem as pessoas? 
Aluno 3: Deve ser em casas tipo de índio... 
 
Podemos perceber que a ausência de elementos africanos e afro-brasileiros na 
sala de aula produz o desconhecimento, o silenciamento e, ainda, a negativização da 
história e cultura negra por parte de alunos e professores/as. Nesse caso, podemos 
observar como a produção de uma igualdade racial na escola passa pelo reconhecimento 
das africanidades (os elementos africanos que estão presentes em nosso cotidiano). 
São várias as cenas de sala de aula que nos levam a essa reflexão: 
historicamente, a escola não tem incluído as africanidades, os elementos da história e 
cultura negra africana, o que tem gerado o desconhecimento, a invisibilidade, o silêncio 
e o preconceito. Sobre isso, segue outro relato surgido no mesmo grupo citado: 
 
A professora estava mostrando a seus alunos um livro que 
continha imagens de crianças africanas, a maioria negra. Era o 
início de um projeto de sala de aula, onde a professora começou 
a desenvolver ações a partir de artefatos que visibilizassem as 
africanidades (livros, filmes, bonecos). Os alunos, em geral, 
consideraram que aquelas crianças do livro eram “estranhas”, 
por causa do cabelo, da roupa e do modo como viviam. Outros 
alunos nomearam as crianças africanas de “diferentes”. Um dos 
meninos chamou a atenção da turma ao repetir insistentemente 
que aquelas crianças eram “muito feias”. 
 
O que as cenas citadas acabam por denunciar é o quanto o preconceito está 
presente no cotidiano escolar. Professores, gestores e demais profissionais envolvidos 
com o trabalho pedagógico têm, por um lado, a possibilidade de continuar silenciando a 
respeito, fortalecendo, assim, concepções discriminatórias e racistas. Por outro lado, têm 
a oportunidade de se sentirem desafiados a dar início a um movimento de 
ressignificação, em que os espaços, tempos e linguagens historicamente privilegiadas na 
escola se veem questionadas e indagadas, abrindo a possibilidade de criação de novos 
currículos, cada vez mais atentos e sensíveis às diversidades presentes nas salas de aula, 
dentre as quais figuram os negros, os indígenas, os deficientes, os homossexuais, as 
mulheres, os idosos... 
 
Da mesma forma, outras instâncias sociais precisam reconhecer e valorizar as 
africanidades, pois deste modo será possível pensar em uma sociedade marcada pela 
igualdade racial.Isto diz respeito ao reconhecimento da cultura africana como 
componente da cultura brasileira, criando espaço de visibilidade nas artes, na mídia, no 
mercado de trabalho, dentre outros setores. 
Desta forma, penso que as identidades negras, homossexuais, deficientes, 
ameríndias, dentre tantas que tradicionalmente eram tratadas pela escola como “outras”, 
“desviantes”, “anormais”, hoje encontram a possibilidade de serem produzidas de modo 
afirmativo na relação com os outros em meio às relações sociais. As africanidades se 
inserem nesse trabalho, ao permitirem o questionamento dos padrões que se instalaram 
em nossa sociedade, tais como a valorização das culturas europeias em detrimento das 
culturas africanas e indígenas enquanto constituidoras de nossa base cultural. 
Pude experenciar alguns projetos de sala de aula, engajados ao atendimento da 
obrigatoriedade trazida pela Lei N​o 10.639 e pude perceber, enquanto professora, a 
mudança de posicionamento por parte dos alunos, no que tange às suas concepções de 
mundo, às suas falas e às suas atitudes. Após intensos trabalhos pedagógicos em que as 
africanidades foram consideradas para a construção da igualdade racial na escola, pude 
observar cenas como a seguinte: 
 
Retomando as concepções de algumas crianças, que 
manifestaram anteriormente que os negros africanos eram 
pessoas “feias”, a professora mostrou novamente algumas 
imagens de crianças africanas. Os alunos posicionaram-se 
dizendo que antes estavam “errados”, pois aquelas pessoas não 
eram “feias”, mas sim “diferentes”, porque usam roupas 
diferentes, moram em casas diferentes, possuem uma família 
diferente. Outros manifestaram ainda que todo brasileiro é 
“meio africano”, pois muitos africanos foram trazidos para o 
Brasil. Dito isso, vários alunos começaram a falar sobre seus 
parentes negros. 
 
Este exemplo demonstra como as africanidades são capazes de visibilizar de 
modo afirmativo a história e cultura negra, produzindo novas concepções e visões de 
mundo, em que os sujeitos terminam por se identificar enquanto afrodescendentes. 
Assim, a Lei N​o 10.639 pode ser pensada como uma ação para a igualdade racial nas 
 
escolas, pois um de seus efeitos foi a institucionalização do reconhecimento das 
diversidades no espaço escolar, ao mesmo tempo em que incitou as ações para a 
garantia de que todos os alunos tenham condições de acesso, permanência e sucesso 
escolar. 
Reconhecer as diversidades, desse modo, implica descolonizar o que 
historicamente fora erigido na escola: os saberes considerados válidos, os ajustes 
espaço-temporais, a filosofia, as concepções, as metas e objetivos, a epistemologia do 
conhecimento, dentre outros. Implica, assim, sentir e ver de outros modos, o que me 
levanta suspeitas acerca do preparo – ou da disposição – da escola moderna ocidental 
para iniciar esse trabalho. Daí a importância de uma formação de professores/as em que 
se possa discutir sobre as questões aqui apresentadas e para que se possa pensar sobre a 
implementação de ações capazes de reconhecer a Lei N​o​ 10.639. 
Da mesma forma, penso que uma educação para a igualdade racial consiste em 
uma possibilidade de se produzir um olhar caleidoscópico sobre nossa cultura, 
reconhecendo e valorizando diferentes formas de conhecer, sentir e viver. É o caso de 
reconhecer nas relações sociais também os modos de ver, sentir e conhecer 
afro-brasileiros, produzindo nos sujeitos uma identificação com tais diversidades. À 
sociedade brasileira do século XXI parece caber, portanto, a produção de outras 
linguagens, que implicam em menos fala e mais escuta. Digo “menos fala” porque 
precisamos criar espaços para que o diálogo entre as diversidades aconteça, no qual a 
escuta do outro, os conflitos e os avanços acontecerão. É demanda da sociedade do 
século XXI ampliar as formas de diálogo e modos de ver o mundo. 
Mais uma cena de sala de aula nos leva a pensar sobre a necessidade de que 
aconteça a ampliação das possibilidades de diálogo e das formas de ver o mundo em 
nossa sociedade: 
 
Após meses de trabalho com diferentes artefatos em que as 
africanidades se faziam presentes (livros, bonecos, imagens, 
músicas etc.), em um momento de brinquedo, em que a turma 
interagia com bonecos negros e brancos, uma menina loira de 
olhos claros disse em meio à brincadeira: “Olhem para mim, sou 
branca. Mas meu bisavô era negro. Minha cor não quer dizer 
nada. Sou pretinha também”. 
 
 
A fala dessa criança demonstra que o racismo pode ser combatido por meio da 
valorização das africanidades em nosso cotidiano. Reconhecer as africanidades em sala 
de aula significa, portanto, criar canais de visibilidade para a história e cultura negra. 
Significa indagar a vida cotidiana, desapegando-se dos esquemas únicos europeus com 
os quais estamos habituados a enxergar o mundo. Acredito que estamos diante da 
oportunidade de fazer do reconhecimento da diferença uma forma de ciência, como 
afirma Geertz (1986, p. 82): “[...] imaginar a diferença (o que não significa, é claro, 
inventá-la, mas torná-la evidente) continua a ser uma ciência da qual todos precisamos”. 
Isso remete à necessidade de repensarmos, também, o que foi colocado como 
conhecimento válido dentro e fora da escola. 
Para respaldar ainda mais essa discussão, refere o Estatuto da Igualdade Racial 
que o combate à desigualdade precisa 
 
garantir a igualdade de oportunidades, reconhecendo a todo 
cidadão brasileiro, independentemente da etnia ou da cor da 
pele, o direito à participação na comunidade, especialmente nas 
atividades políticas, econômicas, empresariais, educacionais, 
culturais e esportivas, defendendo sua dignidade e seus valores 
religiosos e culturais (BRASIL, 2010). 
 
Isso significa criar canais de visibilidade para as africanidades nas diferentes 
atividades presentes na sociedade, buscando a igualdade de oportunidades. Tal ação diz 
respeito à escola e a todos os demais setores sociais, pois parece que a nós cabe o papel 
de assumir um novo posicionamento, que seja mais sensível à diversidade. Temos muito 
o que ouvir e contemplar com as africanidades, a fim de constituir concepções e ações 
sociais mais pertinentes para a construção da igualdade racial em nossas relações sociais 
dentro e fora da escola. 
 
Referências 
 
BRASIL. ​História e Cultura Afro-Brasileira​ . ​Lei Federal n°10.639/2003​ . 
______. ​Estatuto da Igualdade Racial​ .​, Lei Federal nº 12.288/2010. 
 
GEERTZ, Clifford. ​Nova luz sobre a Antropologia​ . Trad. de Vera Ribeiro. Rio de 
Janeiro: Zahar, 1986. 
SILVA, Petronilha Beatriz Gonçalves e. Aprendizagem e ensino de africanidades 
brasileiras. In: MUNANGA, Kabengele. ​Superando o racismo na escola​ . 2. ed. Brasília: 
Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e 
Diversidade, 2005. (p.155-172). 
SILVA, Petronilha Beatriz Gonçalves e; OLIVEIRA, Evaldo; MORAIS, Danilo. As leis 
10.639/03 e 11.645/08 se fazem necessárias? ​Presente​ : Revista da Educação, Ano XVI, 
n. 63, dez. 2008, p. 32-33. 
RAMOS, Tanise Müller; KARCHER, Gládis Elise Pereirada Silva. Educação para a 
diversidade na perspectiva etnicorracial: desafios para a construção de uma prática 
pedagógica antirracista na escola contemporânea. In: KAERCHER, Nestor André; 
TONINI, Ivaine Maria (orgs.). ​Curso de Aperfeiçoamento Produção de Material 
Didático para a Diversidade. 2. Ed. Porto Alegre: Evangraf; Universidade Federal do 
Rio Grande do Sul.

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