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Renato Ribeiro de Almeida Direito Eleitoral Sumário 03 CAPÍTULO 2 – Como funciona a justiça eleitoral? .............................................................05 Introdução ....................................................................................................................05 2.1 Funções da Justiça Eleitoral e divisão geográfica .........................................................05 2.1.1 Função administrativa ......................................................................................06 2.1.2 Função jurisdicional .........................................................................................07 2.1.3 Função normativa ............................................................................................07 2.1.4 Função consultiva ............................................................................................08 2.2 Órgãos da Justiça Eleitoral: juízes, juntas eleitorais e Tribunal Regional Eleitoral .............09 2.2.1 Os Juízes e as juntas eleitorais .........................................................................09 2.2.2 Os Tribunais Regionais Eleitorais .......................................................................11 2.3 Tribunal Superior Eleitoral .........................................................................................12 2.4 Ministério Público Eleitoral ........................................................................................14 2.4.1 Promotor Eleitoral ............................................................................................14 2.4.2 Procurador Regional Eleitoral ............................................................................15 2.4.3 Procurador Geral Eleitoral ................................................................................16 Síntese ..........................................................................................................................17 Referências Bibliográficas ................................................................................................18 Capítulo 2 05 Introdução A demanda pelo controle dos processos eleitorais e seus efeitos fez surgir uma jurisdição es- pecializada e independente para as questões eleitorais. Foi com a promulgação do primeiro Código Eleitoral Brasileiro que foi instituída a Justiça Eleitoral como instituição independente, cuja funcionalidade visava exclusivamente o controle e a organização das eleições, bem como a resolução dos conflitos surgidos a partir delas. Já em 1934 ela foi constitucionalizada, prevista como órgão do Poder Judiciário com competência privativa. Mas você conseguiria responder qual é a natureza jurídica da Justiça Eleitoral? A Justiça Eleitoral é de natureza federal, sendo mantida pela União. Assim, seus servidores são federais e o orçamento é aprovado pelo Congresso Nacional. Além disso, ela não apresenta corpo próprio de juízes, uma vez que atuam magistrados de diversos tribunais, como Supremo Tribunal Federal, Superior Tribunal de Justiça, Justiça Comum Estadual, Justiça Comum Federal e Ordem dos Advogados do Brasil. Podemos, então, perceber a presença do princípio cooperativo no federalismo. Os membros da Justiça Eleitoral são investidos no cargo sempre de forma temporária, com um prazo mínimo de dois anos, podendo este ser renovado apenas uma vez para o período seguinte. Mas será que a Justiça Eleitoral é confiável? Apesar de apresentar pontos fracos, assim como as demais instituições, a Justiça Eleitoral como Justiça Especializada é responsável por um alto nível de confiabilidade nos resultados dos pro- cessos eleitorais, o que caminha no sentido de atingir maior eficácia social das normas de Direito Eleitoral. 2.1 Funções da Justiça Eleitoral e divisão geográfica A Justiça Eleitoral desempenha diversas funções: administrativa, jurisdicional, normativa e con- sultiva. Portanto, não cabe a ela apenas a resolução de conflitos, mas também a administração de todo o processo eleitoral. Sua divisão territorial, com relação as competências dentro dos estados, é delimitada por co- marcas ou zonas eleitorais, ou seja, espaços geograficamente demarcados. Dessa forma, como a atividade administrativa é de atribuição de um Cartório Eleitoral, o qual centraliza e coordena os eleitores domiciliados em determinada zona, cada área está sob jurisdição de um juiz eleitoral designado pelo Tribunal de Justiça. Geralmente, a zona coincide com a comarca, mas há casos em que a comarca abrange mais de uma zona, variando de tamanho, sendo parte de um mu- nicípio, um município inteiro ou mais de um município, dependendo da quantidade de eleitores no espaço delimitado. Como funciona a justiça eleitoral? 06 Laureate- International Universities Direito Eleitoral Além disso, a zona ainda se divide em seções eleitorais. É o local onde os eleitores estão inscritos e comparecem para votar no dia das eleições. Como explica Gomes (2016), a seção é a menor unidade na divisão judiciária eleitoral. As zonas e seções são criadas e extintas antes mesmo das eleições pelo Tribunal Regional Eleitoral, a fim de facilitar a votação e a totalização final dos votos. Nesse contexto, o cartório eleitoral é o responsável por gerenciar e coordenar determinada zona eleitoral, bem como os respectivos eleitores domiciliados na localidade em questão. Também é o cartório que seleciona e treina os mesários que trabalharão no pleito seguinte. Por fim, há a circunscrição. Isto é, a divisão territorial que tem em vista a realização do pleito em si. Ela determina o corpo eleitoral, que é dividido pelos cargos em disputa. Para as eleições mu- nicipais, a circunscrição corresponde ao município; nas eleições gerais, para os cargos de Depu- tado Estadual e Federal, Senador e Governador, a circunscrição é o estado de domicílio eleitoral do eleitor; já para a eleição do cargo da Presidência a circunscrição é todo o território nacional. 2.1.1 Função administrativa A função administrativa é consistente na organização e na administração do processo eleitoral. Sua principal prerrogativa é o poder de polícia. No desempenho dessa função, o juiz eleitoral deve atuar independentemente de provocação de uma parte para exercer seu poder de polícia, diferentemente do que dispõe o princípio processual da demanda. Ademais, ela independe de lide para ser resolvida. O poder de polícia é disciplinado no artigo 41 da Lei das Eleições, em seu parágrafo segundo, determinando que “[...] o poder de polícia se restringe às providências necessárias para inibir práticas ilegais”, sendo vedada a censura prévia. Ela representa, portanto, a faculdade que o Estado/Administração Pública tem de intervir na ordem pública para que determinados compor- tamentos sejam realizados. A Justiça Eleitoral também organiza publicações acerca de temas relacionados ao Direito Eleitoral. Na Revista Eletrônica EJE, na edição de agosto e setembro de 2011, foi apresentado um artigo que faz uma breve revisão histórica da Justiça Eleitoral brasileira e sua evolução. Ele pode ser encontrado no seguinte link: <http:// bibliotecadigital.tse.jus.br/xmlui/bitstream/handle/bdtse/1290/eleicoes_uso_urna_ pardo.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. VOCÊ QUER LER? A Justiça Eleitoral também exerce atividades que garantem a celeridade e a organização do processo eleitoral, por meio, por exemplo, da expedição de títulos, da transferência de domicílio eleitoral, da designação de local de votação, da nomeação de quem compõe a Junta Eleitoral e a Mesa Receptora, entre outras atribuições. 07 2.1.2 Função jurisdicional A função jurisdicional, por sua vez, é a resolução de conflitos no seu sentido mais estrito. A fina- lidade da jurisdição, afinal, é fazer atuar o Direito nos casos concretos, para pacificação social, no que se refere ao processo eleitoral. Nessa função, é imperante o princípio da demanda, con- forme estabelecido no Código de Processo Civil. Na Justiça Eleitoral, o casoconcreto pode ter origem em procedimento administrativo que acarreta em conflito judicial. Figura 1 – A Justiça Eleitoral brasileira é especializada e responsável pelo grau de confiabilidade no processo eleitoral brasileiro. Essa função é fundamental para o bom desempenho da democracia. Fonte: Chodyra Mike, Shutterstock, 2017. Para o exercício da função jurisdicional, devem ser preenchidas as condições da ação, bem como todos os requisitos necessários para o andamento de um processo. Pressupõe-se, portanto, que estejam presentes: interesse processual, legitimidade da parte, possibilidade jurídica do pedido, jurisdição, citação válida, capacidade processual e postulatória, competência do juiz, ausência de litispendência e coisa julgada. 2.1.3 Função normativa A função normativa é o que diferencia a Justiça Eleitoral dos outros ramos do Direito. De acordo com o artigo 23, parágrafo IX do Código Eleitoral, compete privativamente ao Tribunal Superior Eleitoral a expedição de instruções normativas necessárias à realização e garantia das eleições. Essas instruções são vinculadas em forma de resolução, a qual pode ser entendida como o ato normativo originado de um órgão colegiado para regulamentar matéria de sua competência. A função da resolução é criar condições para a fiel execução da legislação eleitoral vigente: Até o dia 5 de março do ano da eleição, o Tribunal Superior Eleitoral, atendendo ao caráter regulamentar e sem restringir direitos ou estabelecer sanções distintas das previstas nesta Lei, poderá expedir todas as instruções necessárias para sua fiel execução, ouvidos, previamente, em audiência pública, os delegados ou representantes dos partidos políticos (BRASIL, Código Eleitoral, art. 105). 08 Laureate- International Universities Direito Eleitoral As resoluções possuem força de lei, ou seja, eficácia. No entanto, não possuem a mesma natu- reza de uma norma, sendo fontes de Direito Eleitoral. Elas são importantes para a operacionali- zação do Direito Eleitoral e das eleições. Para a elaboração das resoluções é necessária a realização prévia de uma audiência pública, em que devem ser ouvidos os representantes dos partidos políticos que participarão do pleito ao qual se diz respeito na normativa em questão. 2.1.4 Função consultiva A peculiaridade da importância dos interesses referentes às eleições trouxe à Justiça Eleitoral ou- tra função: a consultiva. Ela está prevista no artigo 23, parágrafo XII, e no artigo 30, parágrafo VIII do Código Eleitoral, tendo como objetivo prevenir conflitos que poderiam afetar a legitimi- dade, ou, até mesmo, a regularidade, do pleito. Por meio do exercício da função consultiva, é possível obter o posicionamento a respeito de uma situação hipotética específica. Veja com atenção o caso a seguir, que trata de um exemplo do exercício da função consultiva. CASO O partido político PX conseguiu eleger seu candidato, Ricardo Silva, à Prefeito da cidade Céu Bonito nas eleições de 2008. Em 2012, Ricardo ganhou a novamente o cargo, reelegendo-se. Porém, em 2013, surgiu um escândalo de corrupção, no qual foram levantados um superfatura- mento na compra de ambulâncias e desvio de recursos da construção de um hospital municipal. Foi solicitado, então, o processo de impeachment, e, em janeiro de 2014, Ricardo foi afastado do cargo. O candidato planejava, em 2013, canalizar seu apoio e construir um novo candida- to, José Pereira, para o pleito de 2016, como seu sucessor. Contudo, com a interrupção de seu mandato, ele ficou determinado a concorrer às eleições seguintes, pois alegava precisar terminar o serviço iniciado. É sabido que não é possível mais de uma reeleição consecutiva, mas o partido PX e Ricardo Silva acreditam que, como o mandato foi interrompido, haveria essa possibilidade. Para não tomarem uma decisão precipitada, eles resolveram recorrer à função consultiva do TRE em 2014, formu- lando o pedido de forma hipotética, para criar a estratégia política para 2016. O Tribunal Regional Eleitoral conheceu a consulta, mas a resposta foi negativa, considerando na decisão que a hipótese seria uma violação à vedação constitucional no que diz respeito a um terceiro mandato, uma vez que, ainda que tenha sido afastado do cargo, o prefeito ocupou seu lugar por determinado tempo, não podendo disputar de outra eleição novamente, para o mesmo cargo, em sequência. Vale destacar que a função consultiva é de atribuição do Tribunal Superior Eleitoral e dos Tribu- nais Regionais Eleitorais. As consultas podem ser solicitadas por autoridade de jurisdição federal, órgão nacional de partido político, autoridade pública e partido político. Além disso, elas devem ser formuladas em tese, de maneira hipotética, sem especificação de situação, pessoa ou local. As respostas não possuem caráter vinculante, mas orientam os demais órgãos da Justiça Eleitoral. Finalizado o estudo das funções, passaremos agora a uma análise dos órgãos que compõe a Justiça Eleitoral. 09 2.2 Órgãos da Justiça Eleitoral: juízes, juntas eleitorais e Tribunal Regional Eleitoral A Justiça Eleitoral se organiza similarmente às demais justiças brasileiras. Ela possui primeira e segunda instância, além de um tribunal superior próprio, como ocorre, por exemplo, na Justiça do Trabalho. Os órgãos da Justiça Eleitoral estão elencados no artigo 118, parágrafos I a IV da Constituição Federal, sendo eles: Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Tribunais Regionais Eleitorais (TREs), Juízes Eleitorais e juntas eleitorais. Rui Barbosa de Oliveira foi jurista, político, diplomata, escritor e orador, sendo conside- rado um dos intelectuais mais brilhantes do seu tempo. Ele também foi um dos organi- zadores da República e coautor da constituição da Primeira República. Atuou na defesa do federalismo, do abolicionismo e na promoção dos direitos e garantias individuais. Rui também redigiu uma das primeiras formas de legislação eleitoral, ainda incipiente, chamada Lei Saraiva. Para saber mais, acesse o link: <http://www.academia.org.br/ academicos/rui-barbosa/biografia>. VOCÊ O CONHECE? O TSE será tratado no próximo tópico, de forma independente, em que nos ateremos aos demais órgãos da Justiça Eleitoral. 2.2.1 Os Juízes e as juntas eleitorais Os juízes eleitorais atuam na primeira instância da Justiça Eleitoral e devem ser de Direito, conforme estabelecido pela Constituição Federal e na Lei Orgânica da Magistratura Nacional. Portanto, são juízes de carreira designados para o ofício eleitoral. Apesar de uma divergência entre juízes federais e estaduais quanto à interpretação do conceito “juiz de direito”, hoje, a pri- meira instância da Justiça Eleitoral é exercida exclusivamente por magistrados da Justiça Comum Estadual. Esses magistrados são designados para o ofício pelo Tribunal Regional Eleitoral, havendo só um juiz em determinada comarca, o qual acumulará também as funções eleitorais. Da designação, o magistrado servirá por dois anos, podendo haver recondução. Além disso, vale ressaltar que a competência dos juízes eleitorais é prevista no artigo 35 do Código Eleitoral. Já as juntas eleitorais são de caráter provisório, constituídos para cada período eleitoral. Elas são compostas por um juiz eleitoral, que preside a junta; e por dois ou quatro cidadãos de ido- neidade notória, nomeados pelo presidente do Tribunal Regional Eleitoral por indicação do juiz eleitoral. A constituição das juntas deve ser feita dois meses (60 dias) antes do pleito, e tem competência para apurar as eleições nas zonas eleitorais sob sua jurisdição no prazo de 10 dias; quando houver algum impedimento à realização da votação pelo sistema eletrônico, resolver as questões decorrentes dos trabalhos de contagem e apuração; remeter os boletins da apuração de cada seção; e expedir o diploma aos eleitos em cargos municipais. https://pt.wikipedia.org/wiki/Direito https://pt.wikipedia.org/wiki/Pol%C3%ADtico https://pt.wikipedia.org/wiki/Diplomacia https://pt.wikipedia.org/wiki/Literaturahttps://pt.wikipedia.org/wiki/Orat%C3%B3ria https://pt.wikipedia.org/wiki/Rep%C3%BAblica_Federativa_do_Brasil https://pt.wikipedia.org/wiki/Rep%C3%BAblica_Velha https://pt.wikipedia.org/wiki/Federalismo https://pt.wikipedia.org/wiki/Abolicionismo https://pt.wikipedia.org/wiki/Lei_Saraiva 10 Laureate- International Universities Direito Eleitoral Figura 2 – A urna eletrônica foi implementada no Brasil pela Lei n. 9.504/97, garantindo maior segurança dos votos por meio de um sistema sofisticado Fonte: Lucasmello, Shutterstock, 2017. A informatização do sistema de votação, implementada pela Lei n. 9.504/97, reduziu os tra- balhos e a importância das juntas, já que a própria máquina faz a apuração e totalização dos votos. Com o término da votação, os boletins são impressos em cinco vias obrigatórias e em até quinze vias opcionais. A urna eletrônica contabiliza somente o voto em si do eleitor, pois os mecanismos de segurança não permitem que seja feita uma verificação quanto aos candidatos que foram votados pela população, em respeito à Constituição Federal, que determina o sigilo do voto. Além disso, o terminal possui três sinais visuais que informam o mesário se o local está disponível para o eleitor registrado, se este já completou o voto e se a urna eletrônica está ligada à corrente elétrica ou à bateria interna. Para saber mais sobre o assunto, acesse o link: <http://www.tse.jus.br/eleicoes/urna-eletronica>. VOCÊ SABIA? De forma geral, as juntas são extintas após o término da apuração dos votos, com exceção das eleições municipais, nas quais permanecem em funcionamento até a diplomação dos eleitos. Passada essa análise da primeira instância, o próximo subtópico tratará dos Tribunais Regionais Eleitorais. 11 2.2.2 Os Tribunais Regionais Eleitorais O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) é a segunda instância da Justiça Eleitoral. Há um TRE em cada estado da Federação e no Distrito Federal, sendo que a jurisdição de cada Tribunal corresponde ao território de seu respectivo estado. Suas competências estão dispostas nos artigos 29 e 30 do Código Eleitoral, e são divididas em dois tipos: jurisdicionais e administrativas, conforme funções explicadas anteriormente. O artigo 29 estabelece que compete aos Tribunais Regionais processar e julgar, entre outras hi- póteses, os registros e cancelamentos dos diretórios estaduais e municipais dos partidos políticos, bem como de candidaturas de cargos estaduais e federais, conflitos de jurisdição, suspeição e impedimento de membros do Ministério Público Regional Eleitoral, membros das juntas, crimes eleitorais cometidos pelos juízes eleitorais, habeas corpus ou mandado de segurança. Além dis- so, em matéria eleitoral, também vale ressaltar as reclamações relativas às obrigações impostas por lei aos partidos políticos, quanto a sua contabilidade e apuração da origem dos seus re- cursos, pedidos de desaforamento (retirada de um processo de um foro e envio para outro) etc. O mesmo artigo ainda estabelece que cabe aos TREs o julgamento de recursos interpostos das decisões dos juízes e juntas eleitorais; e das decisões dos juízes eleitorais que concederem ou denegarem habeas corpus ou mandado de segurança. O parágrafo único do artigo 29 do Código Eleitoral também menciona que são irrecorríveis as decisões do TRE, a menos em casos do artigo 276, que, por sua vez, foi recepcionado pela Constituição no artigo 121. Em seu parágrafo quarto, o artigo dispõe a responsabilidade quanto ao recurso do Tribunal Superior Eleitoral quando: I - forem proferidas contra disposição expressa desta Constituição ou de lei; II - ocorrer divergência na interpretação de lei entre dois ou mais tribunais eleitorais; III - versarem sobre inelegibilidade ou expedição de diplomas nas eleições federais ou estaduais; IV - anularem diplomas ou decretarem a perda de mandatos eletivos federais ou estaduais; V - denegarem habeas corpus, mandado de segurança, habeas data ou mandado de injunção. Já o artigo 30 cita as competências privativas dos Tribunais Regionais Eleitorais. Entre elas, temos questões administrativas, como a elaboração de regimento interno e a organização da Secreta- ria e Corregedoria; concessão de licença e férias; afastamento do exercício dos cargos de seus membros; e questões referentes às eleições, como fixação de data das eleições de Governador e Vice-Governador, deputados estaduais, prefeitos, vice-prefeitos, vereadores e juízes de paz, quan- do não estiver previamente determinada por disposição constitucional ou legal; constituição e designação das juntas eleitorais, zonas e seções, apuração dos resultados parciais enviados pelas juntas eleitorais, os resultados finais das eleições de Governador e Vice-Governador de membros do Congresso Nacional e expedição dos respectivos diplomas; resposta às consultas feitas, re- quisição de funcionários para o melhor funcionamento do pleito, supressão de mapas parciais. Já de acordo com o artigo 120 da Constituição Federal, a composição do TRE é de sete mem- bros, sendo a seleção feita da seguinte forma: dois juízes dentre os desembargadores do Tribunal de Justiça; de dois juízes, dentre juízes de direito, escolhidos pelo Tribunal de Justiça; II - de um juiz do Tribunal Regional Federal com sede na Capital do Estado ou no Distrito Federal, ou, não havendo, de juiz federal, escolhido, em qualquer caso, pelo Tribunal Regional Federal respectivo; III - por nomeação, pelo Presidente da República, de dois juízes dentre seis advogados de notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo Tribunal de Justiça. 12 Laureate- International Universities Direito Eleitoral Vale destacar que o Presidente e o Vice-Presidente do TRE são selecionados entre os desembar- gadores estaduais, e, geralmente, a Corregedoria Eleitoral é atribuída ao Vice-Presidente por regulamento. Os membros do TRE gozam das plenas garantias no exercício de suas funções e são inamovíveis (cargo permanente), contudo, não usufruem da vitaliciedade (garantia de permanecer no cargo até a idade para aposentadoria compulsória, presente na carreira da magistratura). Além disso, eles permanecem por um mandato de dois anos, permitida a recondução uma vez consecutiva. VOCÊ QUER VER? O conhecimento de sistemas do Direito costuma ser restrito aos seus profissionais, o que, muitas vezes, apresenta-se como um problema, já que os cidadãos não sabem como funcionam as estruturas que organizam a sociedade em que estão inseridos. Especialmente no âmbito eleitoral, tendo em vista o princípio da soberania popular, é de fundamental importância que todos estejam por dentro de como funciona seu sistema. É por isso que a Justiça Eleitoral apresenta propagandas explicativas. Neste <IT>link<IT> <https://www.youtube.com/watch?v=KFHU8rrZK6w> você encontrará um vídeo explicativo dos órgãos da Justiça Eleitoral. Vale a pena conferir. Quanto à forma de deliberação do TRE, ela se dá em sessão pública, por maioria de votos, con- forme disposto no artigo 28 do Código Eleitoral. O artigo 97, por sua vez, estabelece hipóteses nas quais a deliberação deve ocorrer por maio- ria absoluta, como é o caso de declaração de inconstitucionalidade de lei ou de ato do Poder Público. Em relação ao quórum, basta a presença da maioria dos membros, com exceção das decisões sobre ações que importem cassação de registro, anulação geral de eleições ou perda de diplomas, para as quais devem estar presentes todos os membros do Tribunal. 2.3 Tribunal Superior Eleitoral O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é o principal e mais alto órgão da Justiça Eleitoral, cuja juris- dição se estende por todo o território nacional. Sua competência está disciplinada nos artigos 22 e 23 do Código Eleitoral. O artigo 22 trata da competência do Tribunal Superior Eleitoral, enquanto que o artigo 23 trata de suas competências privativas. Ambos apresentam estrutura similar aos artigos 29 e 30, refe- rentes aos TREs, devendo ser estudados em sua íntegrapara melhor compreensão da matéria. É também de competência do TSE julgar os recursos interpostos das decisões dos Tribunais Regio- nais Eleitorais nos termos do artigo 276, inclusive os que forem referentes à matéria administra- tiva. O parágrafo único desse artigo estabelece que as decisões do TSE são irrecorríveis, exceto nos casos disciplinados no artigo 281. Sua composição está disciplinada no artigo 119 da Constituição Federal e dispõe que o TSE deverá ser composto de, no mínimo, sete membros, selecionados da seguinte forma: 13 três juízes dentre os Ministros do Supremo Tribunal Federal; dois juízes dentre os Ministros do Superior Tribunal de Justiça; II - por nomeação do Presidente da República, dois juízes dentre seis advogados de notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo Supremo Tribunal Federal. Parágrafo único. O Tribunal Superior Eleitoral elegerá seu Presidente e Vice-Presidente dentre os Ministros do Supremo Tribunal Federal e o Corregedor Eleitoral dentre os Ministros do Superior Tribunal de Justiça. É dado como inusitado que não haja espaço para membro do Ministério Público nem no TRE, nem no TSE, uma vez que a lógica implantada na composição dos demais tribunais é a de reser- va de um quinto (conhecido como quinto constitucional) das vagas para profissionais egressos da Advocacia e do Ministério Público. O quinto constitucional reserva 20% dos assentos existentes nos tribunais aos advo- gados e membros do Ministério Público. Isto é, uma de cada cinco vagas nas Cortes é reservada para profissionais que não realizam concurso público de provas e títulos. No entanto, isso não se aplica à condição de juízes de primeiro grau, em início da carreira, mas, sim, já como desembargadores ou ministros, que são degraus mais altos da magistratura. Para saber mais, acesse: <http://www.ibrajus.org.br/revista/artigo. asp?idArtigo=76>. VOCÊ SABIA? Os membros do TSE, bem como do TRE, gozam de plenas garantias no exercício de suas funções e são inamovíveis, além de não serem vitalícios. Também possuem mandatos de dois anos, per- mitida a recondução por uma vez consecutiva. Desde 2002, a Justiça Eleitoral organiza uma coletânea dos principais julgados do Tribunal Superior Eleitoral por assunto. Essa lista é disponibilizada de forma eletrônica, sendo que sua última atualização foi em 2014. É de fundamental importância o estudo desses julgados para que possamos entender os mais de 50 anos de funcionamento desse órgão, bem como seu comportamento na modulação de nossa recente democra- cia. Leia mais sobre o assunto acessando o link: <http://temasselecionados.tse.jus.br/ apresentacao/arquivos/copy2_of_MapadaColetneaatualizadoem10914.pdf>. VOCÊ QUER LER? Além disso, as deliberações feitas no Tribunal Superior Eleitoral são por maioria de votos, em sessão pública, com quase todos os membros presentes. Contudo, assim como nos Tribunais Regionais, todos os membros devem estar presentes para deliberações quanto a interpretação de constitucionalidade de lei eleitoral, cassação de registro de partidos políticos ou quaisquer recursos que acarretem anulação geral das eleições ou perda de diplomas. As decisões do TSE são irrecorríveis, com exceção apenas daquelas que contrariam a Constitui- ção Federal, deneguem habeas corpus ou mandado de segurança. Dessa forma, os atos ema- nados deverão ter cumprimento imediato pelos tribunais e juízes inferiores. O não cumprimento destes pode causar a reclamação perante o TSE, pela parte interessada ou pelo Ministério Públi- co, conforme consta no artigo 988, parágrafo II do Código de Processo Civil. 14 Laureate- International Universities Direito Eleitoral 2.4 Ministério Público Eleitoral O Ministério Público é essencial à função jurisdicional do Estado, em defesa da ordem jurídica, da democracia e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. Essa estrutura é uma inovação da Constituição Federal de 1988, sendo organizado de forma simétrica ao Poder Judiciário. Para o Direito Eleitoral, é de extrema importância a atuação do Ministério Público, uma vez que ele se coloca para que a vontade popular não seja prejudicada, fiscalizando o processo eleitoral. O Ministério possui legitimidade para a mesma atuação dos partidos e candidatos, já que, en- quanto eles possuem interesses unilaterais no processo eleitoral, o Ministério Público se coloca como defensor da ordem e do regime democrático. Sendo assim, seus princípios envolvem uni- dade, indivisibilidade e independência funcional. Seus membros também gozam das mesmas prerrogativas da magistratura, ou seja, irredutibilida- de de subsídios, inamovibilidade e vitaliciedade. O Ministério Público da União engloba o Ministério Público Federal (MPF), o Ministério Público do Trabalho (MPT), o Ministério Público Militar (MPM) e o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. Ele tem autonomia funcional assegurada, bem como ad- ministrativa e financeira. Ademais, as carreiras dos membros dos diferentes ramos são independentes entre si. Assim, para ser membro do MPF, é necessário prestar concurso público para o MPF, e não para o MPT. Quanto a carreira técnico-administrativa, ela é única para todo o MPU, uma vez que o candidato presta concurso público para o MPU e pode ser lotado em qualquer um dos ramos. VOCÊ SABIA? As funções do Ministério Público estão estabelecidas no artigo 129 da Constituição Federal, e as funções eleitorais foram atribuídas ao Ministério Público Federal. Pelo princípio da cooperação do Direito Eleitoral, a atuação do Ministério Público Federal é exclusiva na segunda instância, contudo, na primeira cabe ao Ministério Público Estadual também exercer as funções. A seguir, veremos como se dá a organização do Ministério Público Eleitoral nas diferentes ins- tâncias. 2.4.1 Promotor Eleitoral O Ministério Público Estadual, em primeira instância, tem legitimidade para oficiar em todos os processos e procedimentos em que seja contemplada matéria eleitoral. Incumbe ao promotor eleitoral acompanhar os alistamentos e os pedidos de transferências de títulos, instaurar e acom- panhar os processos de aplicação de multas, promover suas respectivas execuções, acompanhar a fiscalização da Justiça Eleitoral de primeira instância na prestação de contas dos partidos e campanhas, etc. No período preparatório para o pleito, o promotor também deve fiscalizar o exercício das pro- pagandas, acompanhar o processo de nomeação de mesários e auxiliares, acompanhar a no- meação das juntas e tomar todas as providências cabíveis para garantir que as eleições ocorram de maneira legítima. 15 Sendo assim, o promotor eleitoral atua na primeira instância, diante de cada zona e junta eleito- ral. O fato da atuação do Ministério Público Estadual ocorrer sobre matéria de natureza federal, que é a eleitoral, expressa a presença do princípio da cooperação. A designação do promotor eleitoral é feita pelo Procurador Regional Eleitoral (membro do Mi- nistério Público Federal), geralmente após indicação do Procurador-Geral de Justiça, chefe do Ministério Público Estadual. Essa designação é própria para mandato de dois anos, sem pos- sibilidade de prorrogação, com exceção de quando não há outro promotor na comarca a ser designado. 2.4.2 Procurador Regional Eleitoral O procurador regional eleitoral tem o poder de gerir o Ministério Público Eleitoral. Há um Pro- curador Regional Eleitoral (PRE) lotado perante cada Tribunal Regional Eleitoral. É importante destacar que os Procuradores Regionais da República (PRRs) atuam nos Tribunais Regionais Fe- derais (TRFs), enquanto que os Procuradores da República atuam na Justiça Eleitoral (primeira instância). Ocorre que não há um Tribunal Regional Federal por estado, já que no Brasil temos apenas cinco, que são: • 1ª Região: com sede em Brasília, compreende as seções do Acre, Amapá, Amazonas, Bahia, Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso, Pará, Piauí, Rondônia,Roraima e Tocantins. • 2ª Região - com sede no Rio de Janeiro, compreende as seções do Rio de Janeiro e Espírito Santo. • 3ª Região - com sede em São Paulo, compreende as seções de São Paulo e Mato Grosso do Sul. • 4ª Região - com sede em Porto Alegre, compreende as seções do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. • 5ª Região - com sede em Recife, compreende as seções judiciárias de Alagoas, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe. Dessa forma, nos estados em que há Tribunais Regionais Federais, o Procurador Regional Eleito- ral será nomeado entre os Procuradores Regionais da República, enquanto que nos demais será nomeado um Procurador da República vitalício. O Procurador Regional Eleitoral possui mandato de dois anos, cabendo uma recondução. 16 Laureate- International Universities Direito Eleitoral Figura 3 – Há um Tribunal Regional Eleitoral (com um respectivo Procurador Regional Eleitoral lotado) em cada estado da Federação Fonte: Denis Cristo, Shutterstock, 2017. Entre as funções do Procurador Regional Eleitoral, podemos citar a direção das atividades do Ministério Público Eleitoral no estado e a ação nas causas de competência do TRE. Os eventuais atos que importem ameaça ou privação da liberdade de ir e vir devem ser discutidos perante o Tribunal Superior Eleitoral, pois é deste a competência para apreciar habeas corpus contra ato do Procurador Regional Eleitoral. Acima desses, temos o chefe do Ministério Público Eleitoral, o Procurador Geral Eleitoral, que será descrito no próximo subtópico. 2.4.3 Procurador Geral Eleitoral O Procurador Geral Eleitoral (PGE), por sua vez, é o próprio Procurador Geral da República (PGR), com mandato de dois anos, o que correspondente ao mandato dos juízes do TSE e TER, porém, pode ser reconduzido mais de uma vez. Ele também deve designar o Vice-Procurador Geral Eleitoral do seu quadro de Subprocuradores Gerais da República. Ele é nomeado pelo Presidente da República (o qual costuma escolher um entre os três candida- tos apontados em lista tríplice após votação interna do Ministério Público Federal), e aprovado por maioria absoluta do Senado em arguição pública. Compete ao PGE exercer as funções do Ministério Público nas causas de competência do Tribunal Superior Eleitoral. Em seu rol de incumbências, há funções como a coordenação das atividades do Ministério Pú- blico Eleitoral em todo o território nacional, designação dos Procuradores Regionais Eleitorais em cada estado e no Distrito Federal, acompanhamento dos procedimentos do corregedor-geral eleitoral, entre outros. Destaca-se ainda que o Procurador Geral Eleitoral deve participar de todas as sessões do Tribu- nal Superior Eleitoral, apresentando um posicionamento. Com todo o exposto neste capítulo, podemos concluir, portanto, que o Ministério Público Elei- toral cumpre um papel fundamental no funcionamento da Justiça Eleitoral, que, por sua vez, assegura o bom funcionamento da nossa democracia e sistema eleitoral. 17 SínteseSíntese Concluímos aqui o funcionamento da Justiça Eleitoral brasileira, com seus principais órgãos e atores. Agora você já sabe como funciona o sistema que zela pelo procedimento eleitoral e, por consequência, pela manutenção da nossa democracia. Neste capítulo, você teve a oportunidade de: • compreender a divisão territorial a que está submetida a organização da Justiça Eleitoral; • aprender que a Justiça Eleitoral possui quatro funções, sendo elas administrativa, jurisdicional, normativa e consultiva; • entender para que servem as juntas eleitorais e o porquê de a importância ter sido esvaziada nas últimas duas décadas; • aprender o que são e o que fazem os juízes eleitorais, os Tribunais Regionais Eleitorais e o Tribunal Superior Eleitoral; • conhecer o que é o que faz o Ministério Público Eleitoral, seus promotores, Procuradores Regionais Eleitorais e Procurador-Geral Eleitoral, a partir de uma compreensão das funções do Ministério Público como um todo. , 18 Laureate- International Universities Referências ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Biografia de Rui Barbosa. Rio de Janeiro, s.d. Disponível em: <http://www.academia.org.br/academicos/rui-barbosa/biografia>. Acesso em: 03/10/2017. AGRA, Walber de Moura. 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Introdução 2.1 Funções da Justiça Eleitoral e divisão geográfica 2.1.1 Função administrativa 2.1.2 Função jurisdicional 2.1.3 Função normativa 2.1.4 Função consultiva 2.2 Órgãos da Justiça Eleitoral: juízes, juntas eleitorais e Tribunal Regional Eleitoral 2.2.1 Os Juízes e as juntas eleitorais 2.2.2 Os Tribunais Regionais Eleitorais 2.3 Tribunal Superior Eleitoral 2.4 Ministério Público Eleitoral 2.4.1 Promotor Eleitoral 2.4.2 Procurador Regional Eleitoral 2.4.3 Procurador Geral Eleitoral Síntese Bibliográficas art29ib art29id art29ie art29if art29ig. art30v art30viii
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