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Revista de Administração da FATEA - RAF Revista de Administração da Fatea, v. 6, n. 6, p. 93-102, jan./jul., 2013. 93 O Portal da Transparência como Ferramenta para a Cidadania e o Desenvolvimento Área temática: Gestão Pública Autores: Pablo Luiz Martins: mestre em Ciências Contábeis pelo Centro Universitário Álvares Penteado Unifecap e Prof. na Universidade Federal de São João Del Rei/UFSJ E-mail: pablo@ufsj.edu.br Bianca de Souza Véspoli: Universidade Federal de São João Del Rei/UFSJ E-mail: biavespoli@yahoo.com.br RESUMO Nota-se nos dias atuais em nossa sociedade uma notável e irreversível crise no tocante a valores relativos à moral e à ética, onde a descrença generalizada nas instituições, principalmente as públicas, faz com que a sociedade em geral se levante e questione até onde os erros com a coisa pública vão continuar a acontecer de forma descabida e irresponsável. Neste contexto, observa-se que o arcabouço teórico e prático de sua atividade e objetivos em que se assenta o Portal da Transparência do Governo Federal ganha cada vez mais força e incrementos, visto que a importância do tema coincide com a necessidade cada vez maior da sociedade em acompanhar os gastos públicos, e se estão feitos de forma responsável ou não. O objetivo deste estudo foi elucidar o Portal da Transparência do Governo Federal e como ele pode ser usado como ferramenta para a cidadania plena e o desenvolvimento de nosso país. A temática foi estudada a partir de trabalhos do ano de 2008. O estudo desta literatura permitiu evidenciar a importância do Portal da Transparência e seu uso pelos cidadãos. Considerando esses aspectos e no intuito de responder à questão proposta, foram analisados neste trabalho artigos científicos, livros, periódicos e publicações eletrônicas sobre o citado assunto. O método utilizado foi o da pesquisa bibliográfica. A conclusão foi que existe quase que uma unanimidade à respeito da importância do Portal da Transparência e suas implicações para o desenvolvimento e a cidadania. Palavras chave: Portal da Transparência; Cidadania; Desenvolvimento. ABSTRACT It is noted today in our society a remarkable and irreversible crisis with regard to morals and values related to ethics, where the widespread disbelief in institutions, especially public ones, makes the society in general rises and question how far the errors with the public thing will continue to happen so senseless and irresponsible. In this context, it is observed that the theoretical and practical goals in their activity and who sits on the Transparency Portal gaining more strength and increments, since the importance of the topic coincides with the growing need of society to follow public spending, and are made responsibly or not. The aim of this study was to elucidate the Transparency Portal and how it can be used as a tool for full citizenship and the development of our country. The subject was studied from work in 2008. The study of literature has highlighted the importance of Transparency Portal and its use by citizens. Considering these aspects and in order to answer the question posed, were analyzed in this work papers, books, periodicals and electronic publications on the subject cited. The method used was the literature search. The implication was that there is an almost unanimous about the importance of Transparency Portal and its implications for development and citizenship. Keywords: Transparency; Citizenship; Development. mailto:pablo@ufsj.edu.br mailto:biavespoli@yahoo.com.br Revista de Administração da FATEA - RAF Revista de Administração da Fatea, v. 6, n. 6, p. 93-102, jan./jul., 2013. 94 1 INTRODUÇÃO As discussões sobre o Portal da Transparência e sua importância no dia a dia dos cidadãos tornam-se cada vez mais relevantes. Diversos autores justificam a importância deste tema, tais como Carvalho (2002), que afirma que quanto maior a transparência das ações do governo, no sentido de fomentar a informação à sociedade, das ações realizadas, maior será o despertar desta sociedade para a participação social, e afirma que uma sociedade que se apropria das informações tem maior condição de lutar por políticas mais justas. Fernandes (2003) elucida que a participação popular na gestão pública ou na sua fiscalização necessita de relevante conhecimento, onde não perpetue a assimetria informacional, e os resultados sejam mais efetivos e expressem o desejo da sociedade a qual representam. Os cidadãos podem participar da elaboração das ações administrativas e contribuir fiscalizando os atos públicos da administração. Promover a transparência é dar condição de acesso a todas as informações sobre a gestão pública. Uma Administração Pública transparente é aquela que funciona de maneira aberta, sem nada às escondidas, baseada em princípios éticos e democráticos, em função da facilidade que têm os cidadãos em acessar as informações públicas. As informações públicas são todos os documentos, atos oficiais e decisões governamentais referentes à gestão pública que não sejam classificados, nos termos legais, como sigilosos, como a execução orçamentária e os contratos celebrados pelo setor público em suas várias esferas. Transparência é, portanto, o que permite a qualquer cidadão saber onde, como e por que o dinheiro público está sendo gasto. É quando a gestão pública é feita às claras, sem mistérios (BRASIL, 2008). Cabe ressaltar ainda, de acordo com Rodrigues (2011) que o direito à informação, publicidade e transparência também estão inseridos em tratados internacionais assinados pelo Brasil, como por exemplo, no artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos em que “todo o homem tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade, sem interferências, de ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios, independentemente de fronteiras.” Intrinsecamente ligados ao direito à informação, estão o direito à publicidade e transparência que também são constitucionais e estão previstos em seu artigo 37 que assevera: “a administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (...)”. Neste sentido, os portais de transparência pública visam aproximar o cidadão do Estado. De acordo com Rodrigues (2011), esta aproximação possibilita garantir ao cidadão “o acesso às informações financeiras sobre gestão do poder executivo. É em suma a abertura do que sempre se teve como mais sigiloso, as contas públicas, com fito de evitar a malversação do dinheiro público que desde os primórdios fora foco de inúmeras possibilidades de desvios e corrupções”. Dessa forma, é inserido na importância da devida informação para a população de todos os atos do governo é que o Portal da Transparência assume sua importância, sobre seu papel de informador para que se cumpra a cidadania, através da informação ganha, e, por consequência, o desenvolvimento no esteio desta mesma cidadania. Cidadão consciente e informado, cidadão que faz valer seus direitos e cumpre seus deveres. Partindo desse contexto, este trabalho tem como objetivo principal verificar a importância do Portal da Transparência como ferramenta para a cidadania e o desenvolvimento, viabilizando a clareza dos atos públicos e o crescimento de nossa nação em termos democráticos. Revista de Administração da FATEA - RAF Revista de Administração da Fatea, v. 6, n. 6, p. 93-102, jan./jul., 2013. 95 De modo a reunir os elementos para abordar satisfatoriamente o objetivo proposto, este trabalho foi organizado em 6 (seis) tópicos além da introdução. No segundo e terceiro tópicosas referências de autores acerca do tema proposto. No quarto tópico trata-se da metodologia utilizada no trabalho. No quinto são apresentados os resultados e as discussões, no qual o foco recai na análise das variáveis a partir do objetivo proposto. As considerações finais e conclusão são apresentadas no sexto tópico, seguidas de referências bibliográficas. Este trabalho tem como objetivo principal verificar a importância do Portal da Transparência como ferramenta para a cidadania e o desenvolvimento, viabilizando a clareza dos atos públicos e o crescimento de nossa nação em termos democráticos. 2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1. TRANSPARÊNCIA PÚBLICA A participação popular, o controle social e a transparência, segundo Fernandes (2010), são ações que vem tomando vulto na sociedade contemporânea por serem as formas que o cidadão tem de intervir nas tomadas de decisões da Administração Pública de maneira a possibilitar um trabalho mais transparente e eficaz. Para isso é fundamental definir e apresentar os mecanismos de controle social, participação e transparência que se encontram disponíveis ao cidadão para que, de posse desses conhecimentos possa instrumentalizar-se e contribuir para uma sociedade mais justa. É dever de todo ente público informar a população com clareza como gasta o dinheiro e prestar contas dos seus atos. Essas informações devem ser disponibilizadas em uma linguagem que possa ser compreendida por todas as pessoas. Entende-se que o objetivo principal dessas iniciativas, de acordo com Nascimento (2011), ao permitir o livre acesso à infraestrutura de informação governamental, é proporcionar ferramentas para que a cidadania seja exercida de modo mais efetivo. Sob tal premissa, embora um portal de transparência afirme disponibilizar um conjunto extenso e abrangente de informações, também é plausível considerar que as condições de infraestrutura de informação e de interface homem-computador, nas quais um portal web pode ser categorizado, atuem de modo decisivo sobre o livre acesso a tais informações. A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 37, dispõe que “a Administração Pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (...)”. E afirma em seus parágrafos 1º, 2º e 3º: § 1º - A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos. § 2º - A não observância do disposto nos incisos II e III implicará a nulidade do ato e a punição da autoridade responsável, nos termos da lei. § 3º A lei disciplinará as formas de participação do usuário na administração pública direta e indireta, regulando especialmente: I - as reclamações relativas à prestação dos serviços públicos em geral, asseguradas a manutenção de serviços de atendimento ao usuário e a avaliação periódica, externa e interna, da qualidade dos serviços. II - o acesso dos usuários a registros administrativos e a informações sobre atos de governo, observado o disposto no art. 5º, X e XXXIII. III - a disciplina da representação contra o exercício negligente ou abusivo de cargo, emprego ou função na administração pública. (BRASIL, 1988). Revista de Administração da FATEA - RAF Revista de Administração da Fatea, v. 6, n. 6, p. 93-102, jan./jul., 2013. 96 Em conformidade com a Constituição de 1988, segundo Evangelista (2010), o acesso à informação tornou-se um dos insumos básicos ao exercício da cidadania. Dessa premissa extrai-se o direito do cidadão em conhecer, opinar e acompanhar as decisões governamentais para certificar-se de que os recursos postos à disposição do Estado produziram resultados positivos em prol da coletividade – a atuação popular no sentido de defender direitos e interesses coletivos perante a administração pública é intitulado de controle social. Importante registrar que o conceito de transparência pública (Rodrigues, 2011) é muito mais abrangente que o de publicidade, uma vez que o simples ato de tornar público algum documento governamental não implica necessariamente em tornar transparente a ação do governo através desta publicidade, pois que a transparência requer uma linguagem mais acessível, de fácil compreensão para qualquer cidadão, diferentemente da disponibilizada através de documentos públicos com termos arraigados de tecnicidade, como é o caso dos balanços orçamentários e financeiros. Entretanto, o alcance pleno desse direito, no qual o cidadão interfere e fiscaliza as ações governamentais, em praticamente todas as áreas sob a ação e tutela do Estado, requer a contrapartida governamental no sentido de facilitar o acesso aos dados e informações geradas no âmbito público, além de imprimir esforços para transformar o linguajar tecnicista, próprio do setor público, em linguagem compreensível inclusive ao considerado cidadão comum. Segundo Cruz (2012), a transparência tem como objetivo garantir a todos os cidadãos, individualmente, por meio de diversas formas em que costumam se organizar, acesso às informações que explicitam as ações a serem praticadas pelos governantes, as em andamento e as executadas em períodos anteriores, quando prevê ampla divulgação, inclusive por meios eletrônicos e divulgação de audiências públicas, dos planos, diretrizes orçamentárias, orçamentos, relatórios periódicos da execução orçamentária e da gestão fiscal, bem como das prestações de contas e pareceres prévios emitidos pelos tribunais de contas. O fornecimento de informações pelo setor público à sociedade é denominado de princípio da transparência. Desse modo, a questão principal do presente artigo consiste em evidenciara interação entre transparência e controle social, ou seja, se as informações disponibilizadas pelos órgãos e entidades governamentais permitem a instrumentalização do controle social e se o cidadão demonstra interesse e motivação em fazer uso dessas informações, além de identificar possíveis barreiras ao exercício da cidadania. A interação entre controle social e transparência pública pode ser vista como os lados de uma mesma moeda, cujos resultados contribuem para a realimentação das atividades do controle social e ao aprimoramento da cidadania (EVANGELISTA, 2010). A Lei Complementar 131, de 27 de maio de 2009, alterou a redação da Lei de Responsabilidade Fiscal no que se refere à transparência da gestão fiscal, determinando a disponibilização, em tempo real, de informações pormenorizadas sobre a execução orçamentária e financeira da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. De acordo com a LC 131, deve ser divulgado: • Despesa: todos os atos praticados pelas unidades gestoras no decorrer da execução da despesa; • Receita: lançamento e o recebimento de toda a receita das unidades gestoras, inclusive referente a recursos extraordinários. O Portal da Transparência (Rodrigues, 2011) é uma iniciativa da Controladoria Geral da União (CGU) que tem entre seus objetivos o combate à corrupção através da divulgação dos gastos e transferências do Governo Federal. A denúncia dos abusos do cartão corporativo no governo federal ocorrida em 2008, por exemplo, demonstram as possibilidades da utilização das tecnologias da informação e comunicação para o aumento do controle social que um Portal da Transparência pode proporcionar para evitar possíveis irregularidades na utilização dos recursos públicos. Revista de Administração da FATEA - RAF Revista de Administração da Fatea, v. 6, n. 6, p. 93-102, jan./jul., 2013. 97 2.2. PORTALDE TRANSPARÊNCIA PÚBLICA No Brasil, o tema Transparência Pública vem ganhando importância de forma crescente, e consequentemente, as pessoas começam a compreender que têm o direito (e até o dever) de acompanhar, fiscalizar e fazer cobranças dos administradores sobre a correta aplicação dos recursos públicos que pertencem ao conjunto da população. Instrumentos legais implementados nos últimos anos, como a Lei de Responsabilidade Fiscal, a Lei da Transparência e, mais recentemente, a Lei de Acesso à Informação são importantes ferramentas de promoção da cidadania à medida que garantem à população ter conhecimento sobre todas as ações do poder público. O Portal da Transparência é uma iniciativa da Controladoria-Geral da União (CGU), lançada em novembro de 2004, para assegurar a boa e correta aplicação dos recursos públicos. O objetivo é aumentar a transparência da gestão pública, permitindo que o cidadão acompanhe como o dinheiro público está sendo utilizado e ajude a fiscalizar (CGU, 2012). Diante disso, o Governo Brasileiro, por intermédio da Controladoria Geral da União, adotou ações para expandir alcançar transparência na gestão pública. De acordo com a CGU (apud Rodrigues, 2011), foram desenvolvidas as seguintes ações: • criação de um Portal da Transparência, na internet, nos moldes do Portal criado pela CGU; • promover a realização de reuniões abertas ao público; • utilização de formas de consulta à sociedade antes da tomada de decisões como, por exemplo, as audiências públicas; • respeitar as opiniões e decisões tomadas pela população; • elaborar e executar o orçamento público de forma participativa; • divulgar em linguagem simples e compreensível as informações relacionadas à execução orçamentária e financeira, ou seja, demonstrar como o Governo gasta o dinheiro público; • divulgar as ações desenvolvidas pelos diferentes órgãos públicos e seus resultados; • oferecer serviços públicos pela internet, como obtenção de certidões, • consulta a cadastros, marcação de consultas, pagamento de tributos, realização de matrículas escolares, entre outros; realizar licitações eletrônicas (pregões) por meio da internet; • divulgar relação das empresas contratadas e dos contratos celebrados; • adotar transparência total na Administração, fornecendo prontamente todas as informações requeridas pelos cidadãos; e • estabelecer procedimentos visando a melhoria do gerenciamento dos documentos públicos, bem como proporcionar facilidade de acesso futuro dos cidadãos, por meio da implementação de sistemas de informação. Nota-se que foi uma iniciativa louvável a do Governo Federal, pois a partir do ineditismo do portal criado pela União, muitos outros portais, em vários Estados e em vários de seus respectivos Municípios também aderiram e criaram seus Portais da Transparência. Segundo a Revista Veja, em sua edição de 12/11/2009, a cada dia, o cidadão brasileiro ganha mais ferramentas para vigiar os gastos em diferentes esferas públicas. São os portais de transparência mantidos por prefeituras, governos estaduais e órgãos federais. Eles colocam à disposição do público dados como despesas com funcionalismo, investimento em obras e serviços e arrecadação. A partir deles, dizem os especialistas, é possível cruzar dados e descobrir números que apontem eventuais irregularidades no uso do dinheiro público - como superfaturamento Revista de Administração da FATEA - RAF Revista de Administração da Fatea, v. 6, n. 6, p. 93-102, jan./jul., 2013. 98 de projetos e serviços contratados pelo estado. Acima de tudo, a ferramenta eletrônica permite ao cidadão cobrar das autoridades competência e transparência no exercício do cargo. Segundo Cruz (2012), esforços no sentido de introduzir uma efetiva transparência nos atos da administração, com destaque para acompanhamento da elaboração, execução e prestação de contas do orçamento, estão sendo gradativamente implementados no Brasil, inclusive com iniciativas de regulação própria por parte de diversos municípios. Além disso, já estão em vigor dispositivos legais (Lei Complementar nº101/2000, Lei Complementar nº131/2009 e Lei nº9.755/1998) que obrigam as entidades públicas a divulgar relatórios periódicos com os resultados da aplicação dos recursos públicos previstos nos instrumentos orçamentários, cujo objetivo é promover o acompanhamento por parte da sociedade da aplicação dos recursos públicos e responsabilizar os gestores que descumprirem as normas. Considera-se, desta forma, que a transparência fundamenta-se como um dos princípios da governança pública, cujas iniciativas buscam o aperfeiçoamento dos mecanismos para tornar as informações transparentes e, portanto, incluídas como boas práticas de governança. Para Cruz, Silva e Santos (2009) a transparência deve abranger todas as atividades públicas realizadas, ou seja, “de maneira que os cidadãos tenham acesso e compreensão daquilo que os gestores governamentais têm realizado a partir do poder de representação que lhes foi confiado”. Além disso, cabe destacar a transparência fiscal, cuja principal característica é permitir acesso da sociedade às informações de forma clara e transparente, incluindo a execução orçamentária e finanças públicas. Conforme Cruz (2012), a transparência das práticas públicas não significa utilizar da publicidade, mas “é necessário que as informações disponibilizadas sejam capazes de comunicar o real sentido que expressam, de modo a não parecerem enganosas”. 4 METODOLOGIA DA PESQUISA Visto que o objetivo deste trabalho foi demonstrar a importância do Portal da Transparência para o Desenvolvimento e a Cidadania em nosso país, considera-se que esta pesquisa possui caráter exploratório, pois, conforme Gil (1996), as pesquisas exploratórias têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito. A pesquisa bibliográfica, ou de fontes secundárias externas, teve como principais fontes as publicações em livros, teses, monografias, publicações avulsas e internet, utilizadas, no momento inicial, para identificar a relevância da pesquisa e os trabalhos publicados sobre o tema (Malhotra, 2001). 5 RESULTADOS E DISCUSSÕES Após a promulgação da Carta Magna de, acentuou-se no Setor Público uma preocupação consistente e evolutiva no intuito de prestar contas à sociedade sobre as realizações governamentais, tendo por motivo os anseios da sociedade e as exigências da própria legislação, cabendo à CGU o papel de promover os procedimentos de transparência no âmbito do Poder Executivo Federal, sem prejuízo de iniciativas das pastas ministeriais e demais órgãos no sentido de evidenciarem as suas realizações. O Governo brasileiro acredita que a transparência é o melhor antídoto contra corrupção, dado que ela é mais um mecanismo indutor de que os gestores públicos ajam com responsabilidade e permite que a sociedade, com informações, colabore com o controle das Revista de Administração da FATEA - RAF Revista de Administração da Fatea, v. 6, n. 6, p. 93-102, jan./jul., 2013. 99 ações de seus governantes, no intuito de checar se os recursos públicos estão sendo usados como deveriam. Sobre o Portal - O que você encontra no Portal. 1. Informações sobre Transferências de Recursos, para estados, municípios, pessoas jurídicas, e feitas ao exterior, ou diretamente a pessoas físicas. Estão disponíveis dados de todos os recursos federais transferidos da União para estados, municípios e Distrito Federal. Pode-se consultar, por exemplo, quanto foi repassado pelo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) do Ministério da Educação para qualquer município do País ou mesmo quem são os beneficiários doBolsa Família, quanto receberam e em que meses (recursos federais transferidos diretamente ao cidadão). 2. Informações sobre Gastos Diretos do Governo Federal: contratação de obras, serviços e compras governamentais, que podem ser vistas por órgão, por ação governamental ou por favorecidos (empresas privadas ou pessoas físicas). Também detalha as diárias pagas e os gastos feitos em cartões de pagamento do Governo Federal. • Informações diárias sobre a execução orçamentária e financeira das com dados detalhados e diariamente atualizados sobre os atos praticados pelas unidades gestoras do Poder Executivo Federal no decorrer da execução das suas despesas. O cidadão, com o passar do tempo, se conscientiza do seu papel de influir nas políticas públicas e da necessidade de verificar se os impostos que colocou nas mãos do Estado proporcionaram benefícios à coletividade. Assim, não há oposição entre as atividades voltadas à transparência pública e ao exercício do controle social, mas convergência de interesses, o elo comum que promove a interação é a informação, de um lado o governo diz o que fez; e de outro, a sociedade certifica se essas realizações foram efetivadas. Essa interação fortalece e aperfeiçoa o processo de difusão da cidadania e estabelece uma parceria eficaz a partir de um compromisso entre poder público e população capaz de garantir a construção de saídas para a fiscalização dos recursos públicos. O fortalecimento do controle social privilegia a participação popular tanto na formulação quanto na avaliação de políticas públicas, viabilizando cada vez mais a condição do cidadão brasileiro como fiscal da aplicação dos recursos arrecadados pelo Governo. Uma das faces mais visíveis do Governo Eletrônico é a sua presença na web através de portais que tendem a ser classificados, na literatura a respeito, em quatro estágios, sistematizados por documento, segundo Jardim apud Firjan (2007) sobre a “desburocratização eletrônica” nos estados brasileiros: 1º estágio: portais informativos- sites para difusão de informações sobre os mais diversos órgãos e departamentos dos vários níveis de governo 2º. estágio: portais interativos- “estes sites passam também a receber informações e dados por parte dos cidadãos, empresas e outros órgãos. O usuário pode, por exemplo, utilizar a Internet para declarar seu imposto de renda, informar uma mudança de endereço, fazer reclamações e sugestões a diversas repartições, ou, ainda, efetuar o cadastro on-line de sua empresa. Enfim, serviços que antes exigiam uma imensa burocracia são agora disponibilizados pela Web. Neste âmbito, o site governamental passa a ter uma finalidade maior do que a meramente informativa, tornando-se interativo (interaction). À medida que disponibiliza ao usuário serviços on line, permite que ele de fato interaja com o órgão em questão” 3º. estágio: portais transacionais– "são possíveis trocas de valores que podem ser quantificáveis, como pagamentos de contas e impostos, educação à distância, matrículas na rede pública, marcação de consultas médicas, compra de materiais etc. Em outras palavras, além da troca de informações, valores são trocados e serviços anteriormente prestados por um conjunto de funcionários passam a ser realizados diretamente pela Internet.” Revista de Administração da FATEA - RAF Revista de Administração da Fatea, v. 6, n. 6, p. 93-102, jan./jul., 2013. 100 4º. estágio: portais integrativos– “um tipo de portal que não é mais um simples índice de sites, mas uma plataforma de convergência de todos os serviços prestados pelo governo. Os serviços são disponibilizados por funções ou temas, sem seguir a divisão real do Estado em ministérios, departamentos etc. Assim, ao lidar com o governo, cidadãos e empresas não precisam mais se dirigir a inúmeros órgãos diferentes. Em um único portal e com uma única senha, qualificada como assinatura eletrônica, as pessoas conseguem resolver aquilo que precisam. Para tal, a integração entre os diferentes órgãos prestadores de informações e serviços é imprescindível, ou seja, estes devem realizar trocas de suas respectivas bases de dados numa velocidade capaz de garantir o atendimento ao cidadão” Um exemplo de uso do Portal da Transparência do Governo Federal seria a Pesquisa Transferência de Recursos por Função de Governo. A consulta transferência do governo pode ser feita também por função de governo, por exemplo, educação, saúde, saneamento básico, assistência social, dentre outros. No Portal da Transparência do Governo Federal “Função” representa o maior nível de agregação das diversas áreas de despesa que competem ao setor público. Exemplo: Saúde, Educação, Assistência social, etc. (fonte: Manual Técnico de Orçamento). Para saber o total transferido, por exemplo, na Função “Saúde”, para determinado Estado, basta efetuar a consulta na seguinte forma: 1) Na página inicial do Portal, aba “Despesas”, em 'Transferências de Recursos', selecione o exercício que deseja consultar, marque a opção “por Estado/Município” e clique em consultar. 2) Na tela seguinte escolha o Estado de seu interesse, clicando sobre o nome correspondente, em azul 3) Após clicar no Estado escolhido aparecerá uma lista com todos os Municípios. Selecione o Município de interesse à esquerda (cor azul). Como cada tela só mostra uma lista em ordem alfabética com 15 municípios de cada vez, podem ser usadas três formas para achar o Município desejado: a) Para mover a lista com os nomes, use as opções '<<Anterior', 'Próxima >>' ou 'Última>>'; b) Para visualizar uma página específica da lista de municípios, use 'Ir para página';c) Há ainda a opção mais rápida, digite o nome do município dentro da caixa com a frase 'Entre com o texto' na opção 'Pesquisar'. 4) Ao selecionar o município aparecerá uma tela com a função, ação governo federal tela. É possível ordenar alfabeticamente a coluna “Função”, basta clicar na barra verde e selecionar a 1º coluna para ordenar. Navegue até localizar todas as ações relacionadas à função desejada. 5) Outra forma de consulta as Transferências de Recursos por Função de Governo é pela opção : 'Transferências por Ação de Governo'. Selecione o exercício de interesse e clique em 'Efetuar Consultas. CONSIDERAÇÕES FINAIS A importância da efetividade do Portal da Transparência é sinal de que o cidadão torna-se mais cônscio de seus deveres e responsabilidades, pois acompanhando o que o Governo faz, seja no âmbito Federal, Estadual ou Municipal, funda-se ai uma conscientização de cidadania, que leva ao crescimento de qualquer nação, sem ufanismos ou exageros. Nas palavras de Evangelista (2010), o cidadão comum deveria ser incentivado a fiscalizar, em princípio, as atividades governamentais mais próximas de seu raio de convivência: verificar se na escola não faltam professores, se no hospital ou posto de saúde não faltam médicos, se há remédios suficientes na farmácia que os fornece de forma gratuita, se o transporte escolar possui o mínimo de conforto e segurança e assim por diante. Tais ações Revista de Administração da FATEA - RAF Revista de Administração da Fatea, v. 6, n. 6, p. 93-102, jan./jul., 2013. 101 estimulariam o cidadão ao exercício da cidadania, cuja participação tenderia a evoluir de forma natural e gradativa. O uso do portal da transparência é simples e de fácil uso, desde que o usuário possua conhecimentos de mínimos para médios em termos de navegação na web e uso de links para navegação interna nas páginas do site. Isto permite uma maior fiscalização por parte do contribuinte do que esta ocorrendo em termos de gastos do governo e suas destinações. Este é o ponto crucial da questão: quanto maior o poder de fiscalização e o interesse do cidadão em fazer parte e ser participativodo processo de verificação ao quanto os serviços públicos estão sendo bem prestados por seus agentes, maior sua participação na sociedade. A sociedade é capaz de experimentar e distinguir no seu cotidiano tanto o exercício da cidadania como o desrespeito. Conforme argumenta Evangelista (2010) “esta realidade nos permite perceber que tais direitos seguem o modo de vida e os interesses de uma sociedade e vão sendo ampliados, permitindo a identificação do significado e conteúdo da cidadania em uma quase infinita variedade de situações”. Desta forma, qualquer pessoa, integrante de uma sociedade em que se caracteriza o estado democrático, tem o direito ao pleno exercício da cidadania e a possibilidade de garantia do desenvolvimento e a melhoria da dignidade social e econômica, que se caracterizam como direitos fundamentais do ser humano para o acesso ao bem-estar social. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal. CARVALHO. J.M. (2002). Cidadania no Brasil:O longo caminho. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira. CGU – CONTROLADORIA GERAL DA UNIÃO. Portal da Transparência. 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A Transparência dos Portais Brasileiros de Transparência Pública: Um Estudo de Três Casos. Dissertação (mestrado) – UFRJ/ COPPE/ Programa de Revista de Administração da FATEA - RAF Revista de Administração da Fatea, v. 6, n. 6, p. 93-102, jan./jul., 2013. 102 Engenharia de Sistemas e Computação. NAZÁRIO, D.C. (2012). Avaliação da qualidade da informação disponibilizada no Portal da Transparência do Governo Federal. Revista Democracia Digital e Governo Eletrônico, n° 6. RODRIGUES, S.L. (2011). Mídia, Informação e Transparência construindo a Cidadania Contra a Corrupção no Maranhão. Trabalho apresentado no Grupo de Trabalho da II Conferência Sul-Americana e VII Conferência Brasileira de Mídia Cidadã.
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